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domingo, janeiro 21, 2024

QUAL O MELHOR DEUS? - AS RELIGIÕES ABRAAMICAS CONTRA A GRANDEZA DE DEUS - PARTE 9 DE 11

 

AS RELIGIÕES ABRAÂMICAS CONTRA A GRANDEZA DE DEUS

Voltando a questão da visão da propriedade de deus, a posição judaica sobre esse tema seria irrelevante se não tivesse sido estendida para a teologia cristão, como explicarei a seguir. O judeus são menos que um traço na estatística, conforme eu mostrei no início, o que eles criaram para eles mesmo não faria a menor diferença ao mundo. Mas essa visão fechada deles fez diferença, porque foi a partir dela que surgiu o cristianismo e essa corrente influencia 55% da humanidade e o cristianismo é proselitista.

Dessa forma, para chegarmos a origem do problema que estou tratando aqui, temos que descobrir como os judeus chegaram a essa posição da propriedade de deus.

Depois de tanto texto, vale relembrar o que eu chamo de propriedade de deus. A bíblia reflete uma visão personalizada de deus. Ela inicia descrevendo deus como o supremo que criador de tudo, do universo inteiro da terra e da humanidade e todos o seres que aqui habitam, mas, esse deus supremo, se dirige diretamente a este povo específico, os judeus, dizendo que entre tudo o que ele criou eles eram os escolhidos dele.

Essa escolha faz deles especiais em detrimento ao resto da humanidade.

Esse deus passa então a se dirigir a eles e orientar os passos deles em um rumo planejado a uma coisa boa, mas, que em troca, exigia deles adoração única a ele, o verdadeiro deus, o cara.

Assim, o deus supremo que criou tudo e todos, o senhor dos céus e da existência dirige os judeus contra o resto da humanidade ou apesar do resto da humanidade. As demais pessoas e povos passam a ser opositores que precisam ser superados e vencidos, pelo preferidos, sem uma razão específica.

O deus supremo vira um “coach” dos judeus, com sucessivos profetas. Mas um deus com poderes finitos e limitados. Ele não consegue mudar nada sozinho, não estala o dedo, pisca os olhos ou torce o nariz para realizar nada. Em determinados momento cria pragas, manda anjos que matam milhares de inimigos, derruba muralhas, mas, em outros precisa que os judeus façam o trabalho sujo e depende 100% da boa vontade dos judeus fazerem as coisas.

Ele tem que convencer os judeus a fazer o que ele quer e muitas vezes os judeus não concordam e fazem o que acham certo e não o que deus disse.

Ele também se preocupa em mandar matar 1 homem que não cumpriu o sábado, recrimina outro porque errou nas instruções de oferendas e é o tempo todo contrariado pelo povo judeu, que apesar de tudo o que ele faz continua deixando ele para lá. Esse deus supremo parece demonstrar um poder limitado, sempre para punir.

Posso estar exagerando um pouco, mas, uma leitura literária da bíblia, do AT, com sinceridade, mostra 2 coisas. A primeira é um deus pessoal, dedicado aos judeus. Supremo na definição deles, mas, pessoal e restrito na dedicação aos judeus. De outro lado, para mim, a descrição do AT, não mostra um deus supremo. Mais uma vez, a leitura literária, me mostra um Djinn, tipo o que sai da garrafa, faz desejos, tem reações humanas, quer ser bajulado, etc. Me mostra um deus sem o domínio do todo de fato e inicialmente muito ocupado com os judeus, mas, depois enjoa e se afasta um pouco.

Lembro que o relato da Torat é absolutamente tardio e mitológico. Se você esquecer o Genesis, não sei se pelo resto do relato você identificaria um deus supremo ou um deus menor. Pense nisso.

Mas, o ponto aqui é que os judeus definiram em seu livro sagrado, a Torat que virou a Bíblia, um deus que lhes é pessoal e assim se afasta do que qualquer pessoa com um pouco de bom senso poderia fazer de um deus supremo, um deus de todos e de tudo.

Lembro a todos que, em termos de religião, não existe nenhuma garantia de nada e não tem nada sagrado, porque a religião, os textos e a teologia são processos humanos, o que é sagrado é deus. O AT mostra basicamente, no pentateuco, as instruções de deus para o povo deles e, esse, sem dúvida, é o livro mais importante deles. Mas a religião judaica não está contida nesse livro e é estruturada com muito mais livros e relatos dependendo da corrente ou seita judaica.

Muitos, hoje, acreditam na versão de que a bíblia é um livro antigo escrito pelos próprios personagens, que mostra a história como ela ocorreu de verdade. Existem arqueólogos que andam com a bíblia debaixo do braço para demonstrar através de supostas descobertas que a bíblia é um relato verídico e não apenas mitos.

Atenção, essa é uma preocupação que somente judeus e cristãos têm. As demais religiões não estão preocupadas se seus relatos são reais ou mitológicos.

Aqui temos, então, a primeira peça deste jogo. Para eles e para muitos, a bíblia é documento, é a história como ela ocorreu. Essas pessoas não conseguem separar o que é história de teologia. Contudo a realidade é que a bíblia é um relato teológico e mitológico, com personagens misturados com pessoas, mitos com história. Os judeus e também os cristãos, se consideram diferentes das demais religiões por causa disso, eles são melhores porque não tem um livro de mitos simbólicos e fantásticos como as outras religiões, eles têm a bíblia e também o próprio deus que foi até eles.

A verdade, contudo, é outra. A Torat não foi escrita pelos nomeados autores dos livros. Moisés nunca escreveu nada, nem Salomão, nem Davi. Esses 2 últimos, apesar de sua importância não têm registros históricos de existência. A Torat foi escrita no século V AEC e, assim, é absolutamente recente considerando os 6.000 anos de história que ela deveria retratar. Nenhum dos personagens originais escreveu nada. Todos os personagens eram analfabetos e não tinham acesso à escrita. Papel era inexistente. Papiro era caríssimo e a tinta mais cara ainda. Escrever e ler era um luxo de ricos e de reis, saber ler não tinha utilidade.

O AT é uma produção literária milimetricamente desenhada posteriormente. A bíblia, na verdade, é composta de mitos teológicos misturados ou romantizados com história e com mitos vindos de outros povos. É um livro importante, mas, não é história e ali não está a palavra de deus.

A bíblia não é diferente dos livros sagrados de outras religiões e os livros vedas são mais antigos e mais originais.

O meu objetivo aqui ao fazer essas afirmações é nivelar as coisas. O judaísmo e o cristianismo não são diferentes de outras religiões. O livro sagrado deles não é diferente de outras religiões.

Em relação ao monoteísmo, apesar do que está escrito na bíblia falar outra coisa, os judeus continuaram sendo politeístas, mais provavelmente henoteístas ou no final monolatristas por milhares de ano, somente se convertendo ao monoteísmo no exílio Babilônico. Nesse exílio, finalmente em torno do século V e IV AEC, eles escreveram a Torat, que contou a versão que interessava a eles. Acreditem, eles resumiram 6.000 anos de história só de lembranças e da criatividade dos escribas.

Sobre definições de religiões, nenhuma é exatamente igual a outra, mas, existem alguns termos para facilitar o entendimento geral. Assim, Henoteísmo é quando a religião acredita em um deus supremo que merece o culto, mas, podem ter outras divindades menores que também podem merecer o culto, mas, o culto é dedicado ao deus supremo como regra. A monolatria é como no Henoteísmo com um deus supremo e outras divindades, mas, apenas o deus supremo pode ter culto, não sendo admitido culto a nenhuma outra divindade menor. O monoteísmo deveria ser quando a religião apenas admite a existência de uma única divindade.

O politeísmo é muito raro de existir, foi abandonado com a evolução da humanidade, valeria um capítulo todo para comentar sobre a razão disso. No politeísmo não tem nenhum deus supremo, todos os deus são supremos com poderes e influências delimitados mas totalmente independentes. Nas demais classificações um deus supremo é responsável por tudo.

Outra questão a explicar, para nivelar conhecimento é essa questão de porque religiões tem várias divindades. Vou ser breve, mas, é um assunto que merece um capítulo.

O que diferencia, principalmente, o politeísmo do henoteísmo e monolatria é a qualidade das relações e não a quantidade de divindades. Ter um deus supremos significa que existe uma hierarquia. As divindades adicionais a esse deus supremo são emanações desse deus supremo,, ministros que o representam e possuem parte de seus poderes supremos. As divindades não substituem o deus supremo, apenas o humanizam e o tornam onipresente.

Várias religiões se enquadram nessas categorias de henoteísmo e monolatria, mas, na de monoteísmo existe apenas uma, o judaísmo. Classificar o cristianismo como monoteísmo é absolutamente questionável, é um henoteísmo ou no máximo uma monolatria.

O conceito de onisciência e onipresença do deus judaico é apenas deles mesmos. Nenhuma outra religião tem isso e acredite nisso quem quiser.

Voltando aos judeus, não é verdade que eles eram os únicos monoteístas ou monolatristas. Já haviam no mesmo período da história, várias iniciativas no sentido de estabelecer monolatria, henoteísmos e até monoteísmos em vários povos. Deus se movimentava, ao redor, com várias iniciativas, mas esbarrava no amadurecimento da própria população que resistia a ideia de um deus único. A ideia de que todo mundo era politeísta e só eles eram diferente é basicamente criatividade dos judeus.

O Zoroastrismo ou o Masdeísmo e depois o mitraísmo eram religiões que se desenvolveram mais ao oriente, não eram étnicas, possuíam muita similaridades até litúrgicas entre si e com o judaismo e, sem dúvida, eram outras apostas de deus para a humanidade. Não eram politeístas, ficando entre monolatrias e henoteísmos. Essas eram correntes mais orientais, mas haviam outras iniciativas mais antigas na própria região.

Ninguém pode afirmar nada sobre a história antiga, o trabalho histórico é baseado em investigação, busca de evidência e construção de modelos a partir disso. Essas evidências levam as pessoas a encontrar inúmeras similaridades teológicas e rituais do judaísmo com essas religiões, cultos egípcios, sumérios e caananitas. Tem pessoas que dizem que, como a bíblia judaica foi escrita tardiamente, na falta de lembranças ela pode ter intencionalmente sido feita usando mitos e ritos dessas religiões.

Claro que existe outra possibilidade, que também acho muito plausível, como estamos lidando com o mesmo deus supremo é natural que as religiões sejam similares ou tenham coincidências. Muitos críticos de religiões esquecem que todas as religiões se comunicam através do mesmo deus e não porque, necessariamente, copiam coisa uma das outras.

Estou citando isso tudo superficialmente para dizer que esta tese de que os judeus sejam escolhidos e que deus os escolheu é uma versão deles para eles mesmos.

Sob o ponto de vista de um deus supremo, isso faz sentido?

Sim, uma vez que vocês aceitem que, como relatei, o deus supremo levava a religião a muitos povos, eles foram um desses povos.

Mas, não, para aqueles que pensam que isso foi feito só para eles, visto que isso é uma estupidez.

A visão judaica é absolutamente obtusa no aspecto de definir deus como sua propriedade e espelho humano deles mesmos, com reações emocionais pequenas que permeiam o AT. Nisso, Bento de Espinoza que era judeu, foi definitivo ao apontar a falta de visão da grandeza de deus e sofreu por causa disso.

A teologia cristã, na minha visão, tem 2 momentos distintos.

O primeiro é o helênico, com a formação do que seria depois o NT, uma colcha de retalhos de tudo. Os novos cristãos, todos helênicos, não ligados a influência judaica de Jerusalém se viram obrigados a construir os mitos de Jesus, porque a população exigia mais informações, detalhes e uma história completa e não relatos parciais. Eles estavam habituados com a mitologia grega, com mitos bem construídos e com muito significado e simbologia. A mensagem do Cristo era forte mas precisava-se estabelecer sua divindade através da história.

Nesse momento é evidente a influência helênica nos mitos, com repetições de construções dos mitos gregos. Mas essa criação era independente dos judeus e do AT, a preocupação era apenas de estabelecer Jesus como o novo deus ou, mais certamente como um semi-deus. Os elementos do NT foram criados para convencer o povo romano e helenizado de que Jesus era um deus melhor do que eles já tinham. Não existe entendimento sério do cristianismo que despreze a construção helênica do novo testamento, que é absolutamente independente do AT.

Essa base helênica se consolida, bem posteriormente, com Agostinho de Ipona e Tomas de Aquino que trouxeram formalmente Platão para a teologia, lembrando que o modelo cristão inicial focava somente em jesus e não na religião judaica.

A epopeia cristã para formação da religião, o contexto da época, as dificuldades com as religiões existentes é, por si só, uma capítulo muito interessante da história, totalmente desvinculado de Jerusalém e da origem judaica, com desafios próprios. O efeito disso que gerou o amontoado de documentos do NT e também criou teologias não existentes ainda é bastante interessante para entender como iniciou esse processo de construção teológico cristão.

Retomando a minha visão sobre a teologia cristã, o segundo momento, já com a igreja católica organizada, entra a influência judaica, porque era necessário montar a religião completa. É nesse ponto que eles herdam e inserem esse entendimento, sem sentido, de propriedade e escolha de deus.

Os primeiros cristãos helênicos não estavam preocupados com isso.

A discussão do AT ocorreu entre os séculos IV a V, sendo definidos no concílio de Florença e reconfirmados no concílio de trento. Cabe chamar a atenção de que esse cristianismo já estruturava sucessivos movimentos organizados, até aproximadamente o século III ou IV EC, para se desvincular da teologia judaica, criando uma teologia própria.

Com a igreja romana, o modelo cristão para uma religião, volta a trazer a origem judaica. Uma das primeiras ações políticas-teológicas foi transformar o Cristo no próprio deus, o que nunca tinha sido antes. No primeiro concílio de Niceia, eles estabelecem a tese da co-substância. Essa foi uma discussão pesada e baixa na igreja porque havia a tese ariana que não concordava com isso. Foram os concílios que definiram a teologia católica. Os concílios, na minha visão, eram principalmente políticos e não teológicos. O primeiro deles, o de Nicéia já iniciou com a decisão de transformar cristo no próprio deus, não houve discussão teológica, houve apenas expurgo dos opositores.

Mas por que essa questão do cristo-deus eram tão importante para ter sido o primeiro debate teológico? Porque com o cristo-deus, eles continuam a usar o AT mas se libertam das 12 tribos e passam a ter um deus só deles, um deus para chamar de seu. Eles passam a se equivaler aos judeus sem pertencer as 12 tribos e ao povo dito como escolhido no AT.

Lembro, mais uma vez, que o cristianismo foi construído inicialmente apenas sobre o cristo, sobre sua existência, obra, palavras e principalmente ressurreição. Isso foi o suficiente para criar a religião.

Mas a igreja precisava de uma cosmogonia completa, sem isso não seria uma religião de fato, ai recorreram a origem judaica de jesus que traz junto a Torat.

Mas a Torat define uma teologia que os judeus fizeram para eles mesmos, como já expliquei e coloca eles, os judeus, no centro de tudo. Os judeus e não os gentios eram o povo escolhido por deus. Assim, para ter a Torat e sua cosmogonia eles precisam tirar os judeus do papel que eles deram para eles mesmos, de povo escolhido.

Foi nesse sentido que jesus precisava virar o próprio deus e o argumento da co-substância foi o que eles usaram.

Além dessa questão de terem que substituir o deus que estava no AT e que escolheu apenas os judeus, existe também a questão do monoteísmo.

Os cristão, como os judeus se consideravam monoteístas e desta maneira superior as demais religiões da terra. Superior porque eles foram escolhidos e se dirigiam ao próprio deus superior, o chefe de tudo, assim eles eram especiais, não tinha intermediários ou subalternos entre eles e deus, na verdade “o” deus.

Jesus entra nesse contexto religioso como sendo um semi-deus. Foi assim que os helenos aceitaram ele. Jesus era equivalente a outros deuses que os helenos já cultuavam, equivalente mas superior. Jesus era uma mistura de deus e homem, um semi-deus, que veio de deus mas nasceu humano, isso era a definição grega de um semi-deus.

Considerando que era necessário manter essa definição de monoteísmo, equivalente aos judeus, porque senão o cristianismo seria (como é de fato) um henoteísmo, era imperativo unificar Jesus e o próprio deus, assim, independente da lógica e do bom senso gritarem o oposto, Jesus e deus passam a ser um só, via o concílio de Nicéia.

O Jesus-deus mantinha o culto a Jesus mas não o estabelecia como um sub-deus ou um semi-deus, como deveria ser, mas, como o próprio deus, mantendo assim, porque eles queriam a denominação de monoteísmo. Assim você poderia se dirigir a deus e a Jesus também e ainda falar que é um monoteísmo.

Essa discussão teológica tem que ser feita se distanciando das auto-definições que os cristãos fizeram para si mesmo através dos concílios. Apesar de toda a subjetividade envolvida, não tem lógica que sobreviva a ter que discutir isso com a hermenêutica tirada do rabo do diabo que nasceu dos concílios.

Jesus foi entendido como um semi-deus pelos primeiros cristãos, os helenos. O cristianismo, com sua trindade, Maria, Santos e Anjos é estruturado como um henoteísmo ou monolatria e não como um monoteísmo.

Voltando ao Jesus-deus, ao criarem essa definição, que foi necessária por esses 2 motivos que eu apresentei, os cristãos passam a adotar a mesma versão do deus pessoal e menor dos judeus. Veja no caso do Jesus-deus, ele veio fisicamente até nós e assim é de fato pessoal.

Mais uma vez, deus perde sua grandeza. Como deus veio pessoalmente até eles, como o cristo, então, igualmente, só eles tem razão e só eles sabem o que é certo. Segundo eles mesmos, nas demais religiões o próprio deus não vem até nós, só na deles. Ou seja, eles inventam do fundo do anus, essa tese maluca que não vem de nenhum profeta e desta forma não veio de deus e, com isso, se veem obrigados a desprezar as demais religiões, ignorando assim, sem nenhum pudor a grandeza de deus.

Essa manobra teológica resolve a questão que eles tinham com os judeus e o AT, mas, cria um monte de complexidades teológicas e coloca o cristianismo contra o resto da humanidade.

Aliás repetindo o modelo judaico, que nos relatos do AT eram eles contra o resto do mundo também. Existe assim um problema teológico de base na religião que estabelece o conflito como caminho.

Essa visão de cristo ser deus é algo absolutamente humano e discricionário, aliás como toda a teologia conciliar. Não existe nenhuma base profética nisso, eles apenas decidiram baseados em argumentos convenientes e sinuosos que era isso.

Cabe observar que o AT é baseado em profetas. Assim, a história é construída sempre com essa ligação com deus através dos profetas e escolhidos por deus, existe, literariamente a mão de deus conduzindo a história.

A partir de cristo isso se perde. O NT não é feito por profetas e muito menos os livros são de autoria de profetas. Eles apenas são feitos por pessoas. Igualmente as decisões teológicas conciliares e sinodais são tomadas por homens. Para resolver isso eles criam o conceito de inspiração divina, assim o papa é inspirado por deus e os bispos no concílio, todos, são igualmente inspirados em seus pensamentos e decisões.

Na minha visão, não tenho nada a me opor a esta tese do cristo-deus, se eles entendem que foi assim, ótimo. O que eu estou repetindo incessantemente aqui é que, apesar dos católicos terem inventado isso, o bom senso mostra que a grandeza de deus jamais se limitaria a essa única ação ou mesmo a essa ação.

Uma avaliação teológica mais responsável e menos política deveria ter pesado a falta do senso do que eles estavam fazendo ao definir isso para substituir os judeus, o quanto isso complicaria, como ocorreu, a teologia deles. Além disso, como relatou Espinoza, isso traz a absoluta falta de reconhecimento da grandeza de deus.

Mas os cristãos foram além, como era fácil, bastava se reunirem e eles, da cabeça deles, criaram teologias muito convenientes, como o pecado original, a vida única, o medo do pecado, o diabo, o inferno, o apocalipse e a necessidade imperativa de ser salvo por deus senão você vai para o inferno.

Eles substituíram o sentimento espontâneo de pertencer a uma religião por este ser o caminho para se tornar uma pessoa melhor, viver melhor em sociedade e harmonizar sua vida com as orientações de deus para ter suas bençãos, para um outro no qual você tinha que estar na religião pela obrigação de ser salvo, o medo do inferno. Além disso, os protestantes principalmente, substituíram a busca do bom caráter e a auto-crítica pela muleta de que seus erros são causados pelo diabo.

Inclusive a teologia do diabo e inferno que conhecemos hoje é uma invenção medieval. Não está no AT da bíblia. No NT o diabo assim como o inferno eterno é criação do livro do apocalipse que nem deveria estar na bíblia devido a ser um relato feito por João, o visionário, para criticar o império romano. Nada que está no AT nos remete ao personagem e atuação do diabo medieval. O nome Lúcifer era um nome comum. A igreja tem um Santo chamado São Lúcifer que viveu, na Sardenha, no século IV. Os luciferianos, seus seguidores que se opunham aos arianos, permaneceram após sua morte e foram liderados por outro santo, São Gregório de Elvira. A razão de eu explicar isso é para mostrar que essa invenção de diabo, lúcifer e inferno eterno é criação tardia da igreja, teologia inventada. O satã que está no AT, nada tem a ver com o diabo medieval.

Os protestantes, baseados em pessoas com formação insuficiente ou deficiente como Lutero e Calvino, inventaram coisas piores, como a dupla predestinação que condena pessoas ao inferno eterno (que já é uma invenção) por nascimento. Deus decide fazer pessoas que independente do que sejam ou façam vão para o inferno. Os protestantes conseguiram piorar muito a teologia católica.

Protestantes principalmente, mas também católicos passam a usar a colcha de retalhos que é o NT e também (mas, menos) o AT para a partir de pequenas frases ou parágrafos criar interpretações malucas e gerar a teologia que eles queriam. As cartas de Paulo, cuja a minoria foi escrita pelo próprio, mais o livro do apocalipse cuja introdução no cânone é absolutamente política e sem sentido são as principais bases para essa teologia maluca e conveniente que hoje se baseia o cristianismo.

Observe que foi essa teologia que trouxe para o foco da religião a dualidade bem e mal, com a criação do diabo e do inferno, que são absolutamente artificiais, como o destino dos não fiéis. Assim a opção pela igreja e cristo passou a ser obrigação, o mundo passou a ser nessa visão um palco da luta entre o bem e o mal.

Observe que essa dualidade bem e mal era o foco de outras religiões orientais próximas aos cristianismo, como o zoroastrismo, o mitraísmo e o maniqueísmo. Não podemos dizer que bem versus o mal não seja uma dualidade teológica presente em várias religiões. Até mesmo em Ifá é assim a dualidade é parte do entendimento do mundo e do seu componente energético, o axé (àṣẹ).

Mas trata-se de uma luta interior. Como eu descrevi antes, somos a própria balança, de um lado temos o livre arbítrio e de outro a religião e cabe a nós manter esse equilíbrio. O mal é resultado de nossas escolhas pelo lado do livre arbítrio.

O que o cristianismo medieval fez foi elevar esse conflito para a arena exterior, retirou de nós o mal porque deus não pode ser mau e como somos criados a sua semelhança não podemos ter alguma coisa que ele também não tenha, assim o mal não pode pertencer a deus e nem a nós. Neste contexto o diabo é necessário porque é ele que justifica o mal, um elemento externo, maligno que traz para nós temporariamente o mal.

Assim bem x mal, passou a se tratar uma disputa divina com a igreja sendo a necessária para nos livrar.

A disputa do bem x mal, um conflito interno humano baseado no livre arbítrio, comum a todas as religiões, no cristianismo saiu a arena interior da pessoa. O diabo é o responsável, sua alma está condenada desde o nascimento e a igreja é a salvação obrigatória.

Com pouca inteligência você olha para isso e vê que se trata de uma corrente de consequências naturalmente amarradas, que tem origem em dogmas teológicos artificiais. A escolha errada do dogma gera toda sinuosa e confusa teologia consequente.

Uma teologia conveniente, sem dúvida, porque nesse contexto de pecado original, diabo, uma única vida e inferno eterno a igreja passa a ser essencial.

Voltando ao nosso início, isso é um castelo de cartas teológico.

Se você tira disso o deus pessoal e dedicado que traz o único certo, você desmonta a teologia consequente. Porque outras religiões não tem esse modelo teológico, oferecem uma vida muito mais natural e harmoniosa com o deus supremo.



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