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domingo, julho 28, 2013

As cerimonias de Nascimento Yorùbá Parte 2 de 3 A cerimonia de nome

As cerimonias de Nascimento Yorùbá

Parte 2 de 3

A cerimonia de nome

Introdução

Algumas pessoas, tipicamente acadêmicos, me questionam as vezes sobre as fontes que uso para os textos que escrevo. Eu entendo que muitos deles estudam alguma coisa lendo livros de outros. Muitos são compiladores e pouquíssimos, como Verger por exemplo fazem qualquer pesquisa de campo ou vivenciam qualquer coisa sobre a qual escrevem. Eu acho que tem um tal princípio que não podem, ou não devem, se envolver com o pesquisado.
Em religião isso é muito curioso porque não estamos tratando de ciência e sim de fé e também do supernatural. Além disso estamos tratando das mesmas coisas repetidas por diversos, enfim, é o mesmo assunto. Mas, eu tenho sempre o cuidado de citar autores quando faço transcrições literais. Faço isso porque não acho nada mais brilhante a dizer do que aquela pessoa já disse. Na maior parte das vezes o que escrevo vem de mim mesmo influenciado pelas “N” coisas que leio.
Sou cuidadoso com fontes. É muito fácil inventar coisas nesta religião.
A cerimônia a seguir foi descrita por Ayo Salami. Não encontrei esta descrição em nenhum outro lugar.

Cerimonia de Nome

A cerimônia de nome é um evento basicamente social. É a apresentação para a sociedade da criança que nasceu. A família apresentará a criança e seus nomes. Uma criança Yorùbá pode ter até 3 nomes. O nome de deus, o nome do oráculo e o seu nome civil.
O nome de deus é dado em função de situações ligados ao nascimento. É muito aplicável quando se trata de crianças que nasceram em condições não normais, com dificuldades no nascimento, etc. Imagino que os Yorùbá sempre tenham uma boa frase que se comprime em um nome para caracterizar ao nascimento de qualquer criança.
O segundo nome é escolhido pelo Bàbáláwo através do Odù que foi riscado. É uma questão muito subjetiva. O Bàbáláwo supõe alguma coisa e submete a Ifá. O terceiro nome é o nome civil.
É uma cerimônia bem simples. A parte litúrgica envolve alimentar a boca da criança com uma série de alimentos importantes. Este é o ritual importante. Para as pessoas convidadas será oferecida uma refeição baseada em uma comida votiva.
A questão da data e cerimônia é bastante confusa nas referências. Quando eu vejo essas referências sempre levo em consideração que quem escreve pode não saber de fato tudo sobre o que escreve ou não quer dizer. Eu vou dizer aqui o que considero ser o razoável.
A cerimônia para determinar o Odù, chamada de Ikoxéwaiye ou Éxéntaye ou Ikoxedaye deve ser feita entre o terceiro e o oitavo dia após o nascimento. Após esta cerimônia até um período de até 3 meses após o nascimento deve ser feita a cerimônia de nome e a de Imori. A cerimônia de Imori pode ser feita junta com a primeira cerimônia.
A cerimônia de nome assume maior importância para os meninos do que para as meninas. O primeiro motivo é que o menino não troca de nome. A menina vai trocar de nome quando se casar. Além disso a menina deixa a casa dos pais e vai viver com a família do noivo, as pessoas entendem que as meninas deixam a família e se transferem para outra família, por esta razão tudo para os meninos tem mais importância, ele permanece na família.
Esta cerimônia, socialmente falando, mostra para a comunidade que a linhagem da família se preserva através do nascimento de uma nova criança, um presente de Olodumare.
O segundo simbolismo é a alimentação da boca. Eles entendem que após saciada a boca rezará pelo bem de quem a alimentou. Dessa maneira a primeira coisa que fazemos é alimentar a boca da criança.
Em relação a ser feito alimento para ser oferecido à comunidade isto tem relação com Oxun, que segundo Ayo Salami, no Odù Oxéotuwa, criou a ideia de cozinhar para visitantes no dia do nome. Isto foi na cerimônia de nome do filho de Oxun, Oxéotuwa. Ela se ofereceu para cozinhar para todos os Orixá como um sinal de boas vindas para eles, buscando assim a bênçãos deles para o seu filho. Mais uma vez, se você alimenta uma pessoa esta pessoa depois de saciada irá agradecê-lo por isso. Deve ser feita uma comida votiva, uma comida de Oxun.
A Cerimônia de nome é uma cerimônia pública e social. Os seguintes elementos devem ser reunidos:
  • Mel
  • Sal
  • Pimenta da costa (atare)
  • Azeite (dende ou oliva)
  • Agua
  • Dinheiro
  • Doces
  • Obì
  • Gin
  • Orogbo
De cada elemento deste deve ser reunido apenas uma pequena quantidade. Todos esses materiais devem ser colocados em um prato ou bandeja e cobertos. Serão colocados na frente do moderador ou sacerdote.
A agenda é a seguinte:
  • Iwure Ibere (preces de abertura)
  • Prece para cada elemento sendo colocado na boca da criança
  • A explicação do Odù da cerimônia Ikoxéwaye com o nome escolhido nessa cerimônia.
  • O nome civil da criança
  • As preces de conclusão
  • A festa
A cerimônia inicia com o moderador explicando a todos os presentes o motivo deles estarem ali, como toda a liturgia Yorùbá inicia. Logo a seguir ele fará as preces de abertura e poderá cantar versos de Ifá que tenham a finalidade de abençoar e proteger a criança.
Cada um dos alimentos que estão no prato será então colocado na boca da criança, junto com uma reza específica para cada um deles, no tradicional estilo Yorùbá que também temos no Candomblé.
Esta colocação de alimentos na boca da criança é simbólica. Uma pequena porção do alimente deve ser colocada na boca da criança, não é necessário que ela coma ou engula.
A cerimônia segue conforme a agenda estabelecida e se conclui com a confraternização de todos com a comida servida.


A SEGUIR A CERIMONIA DE IMORI

quarta-feira, julho 24, 2013

Cerimonias que envolvem o nascimento na religião Yorùbá Parte 1 de 3

Cerimonias que envolvem o nascimento na religião Yorùbá 

Parte 1 de 3


Introdução

Em postagem anterior eu comentei o que está sendo feito errado em termos de Odù de Nascimento no Brasil, seja por Babalorixás que sem ter o conhecimento adequado adotaram um processo fantasioso de determinar esse Odù, como também por Bàbáláwo inescrupulosos que tem por obrigação saber o que é o certo de também adotam um processo fantasioso de determinar Odù de nascimento e até orixá (Òrìṣà) de pessoas adultas.

No texto anterior expliquei porque não é da forma como dizem, nesse aqui eu vou quebrar o galho de um monte de gente e dizer como se faz isso. Um dia esse BLOG vai ser indicado como de utilidade pública do Candomblé e Ifá...



O contexto religioso

A religião Yorùbá carece no aspecto litúrgico de cerimônias bem elaboradas para alguns momentos seculares importantes. Estas cerimônias existem em boa quantidade no catolicismo e isso faz com que essa religião arrebanhe muitos adeptos por conta disso. Faz também que ela seja considerada a religião de verdade enquanto as demais apenas arremedos (seitas, cultos, etc..)

Quem abre mão de batizar um filho quando nasce em uma igreja? Que mulher abre mão, com facilidade, do sonho de entrar de noiva em uma bela igreja?

As pessoas podem considerar essas cerimônias como sociais, mas, dentro do contexto religioso em geral e da igreja católica, estes são ritos litúrgicos importantes e que requerem que outros ritos sejam feitos antes, como os cursos de doutrina, a primeira comunhão, a crisma, confissão, etc.

As pessoas que se submetem a esse conjunto de liturgias devem se considerar como membros desta igreja. Além disso o Batismo e o casamento são por si só liturgias importantes e partes de uma religião completamente iniciática.

A Igreja católica é iniciática, assim como o Candomblé e Ifá. Você não pode simplesmente fazer parte dela. Claro que pode entrar em uma igreja, afinal a porta está sempre aberta. Mas tudo ali é iniciático. Você é iniciado dentro dela e o batismo é a primeira cerimônia. A primeira água que cai na sua cabeça determina tudo. A grande diferença é que as cerimônias do Candomblé são sempre grandes e muito internas, o catolicismo conseguiu depois de muitos séculos chegar a um formato padrão de missa e de liturgias que se integram facilmente com a sociedade onde ela existe e as pessoas se submetem a isso sem perceber o que estão fazendo.

Apesar de serem ritos iniciáticos importantes, tão importantes quando os do Candomblé, as pessoas aceitam isso com facilidade. Todos aceitam com facilidade beber o sangue de cristo quando o padre, liturgicamente transforma o sangue em vinho. Todos aceitam com facilidade comer a carne do sacrifício quando o padre transforma a hóstia no corpo do cristo, o sacrifício primordial que evita todos os demais.

Não perceberam isso? Não se lembram que naquele momento estão bebendo sangue e carne de sacrifício?

Se você não acredita nisso então, o que o padre esta fazendo lá? O que o padre fez por 30 a 45 minutos de missa e rezas? O ponto culminante de uma missa é ele transformar o vinho no sangue e a hóstia no corpo do cristo. Se você não acredita nisso não tem fé na sua religião e nem sabe onde está.

Pois bem, superada esta questão, a de que toda missa envolve um sacrifício e seu consumo, volto ao tema que o Candomblé carece dessas cerimônias litúrgicas-sociais. O casamento que fazem no Candomblé é uma invenção de pais de santo brasileiros. Não guarda qualquer referência com a matriz religiosa Yoruba, onde o casamento é uma festa eminentemente civil com algumas pequenas cerimônias ou simbolismos religiosos.

O objetivo deste texto não é falar de missas ou de casamentos, estes serviram apenas para estabelecer o contexto social e religioso.

A mais importante cerimônia dentro da religião, junto com o rito de passagem da morte, o axexê, sem dúvida é o batizado, ou melhor, o seu equivalente Yorùbá que é a cerimônia de nome.

Os Yorùbá dão muita importância a essa cerimônia isso por alguns motivos. O primeiro é porque nessa cerimônia marca o nascimento, a entrada da pessoa no àiyé. Esse é o principal simbolismo. Como parte disso será determinado o Odù de nascimento da criança e esse Odù é muito importante para orientar a vida da criança e também resolver coisas imediatas ligadas a sua sobrevivência.

Em seguida temos a questão da ancestralidade. Os Yorùbá e sua religião acreditam que vivemos em reencarnações sucessivas e assim somos sempre, ou quase sempre a reencarnação de um ancestre. Nesta cerimônia determinamos essa origem.

Existem também a questão do orixá (Òrìṣà). Podemos nesta cerimônia em especial determinar o orixá (Òrìṣà) da criança. Por fim existe a importante questão do nome religioso que se adiciona ao nome cível. Dessa forma a cerimônia de nome, equivalente ao batizado católico é muito importante.

Para aqueles que acreditam nesta religião e a seguem, esta deve ser a primeira cerimônia que o recém-nascido se submete. Jamais leve uma criança em uma Igreja católica ou evangélica, por imposição de partes de sua família ou do cônjuge, sem antes fazer os ritos adequados de sua religião.

Eu considero questionável uma criança ser batizada em mais de uma religião. Batizado é uma vez só. Quem fez o primeiro é quem fez o que vale, não existem 2 apresentações para deus. Mas as pessoas tem seus motivos para não assumir a religião que tem e podem até mesmo não terem entendimento do quão tolo é batizar uma criança em 2 religiões.

Sendo a religião católica iniciática ao passar pelo batismo você iniciará a criança nesta religião. Como depois disso ir em outra? Ela já foi iniciada.

É claro que a cerimônia de nome que eu vou explicar aqui não existe no Candomblé. Se o Candomblé se preocupasse em ser uma religião mais ampla, saindo de guetos étnicos, como tem ocorrido nos últimos anos, o sacerdote da casa já deveria ter buscado uma alternativa para isso, que não fosse copiar o formato que os católicos já fazem.

Quando uma religião copia o formato da outra para uma liturgia ou processo ela se coloca como uma religião menor e coloca também a outra como uma religião maior, superior.

Mas vamos esquecer essas críticas que não acrescentam muito, não tem muita graça bater em morto. O fato é que não existe um processo adequado no Candomblé. Isso ocorre pelo desconhecimento do que deve ser feito, do seu simbolismo, como também devido a ausência do culto primordial para fazê-lo que é o culto de Ifá.

Mesmo na Nigéria onde as religiões dominantes são o cristianismo e o islamismo, pessoas de religiões diferentes como os muçulmanos procuram os Babaláwo para fazerem a cerimônia de nome ou pelo menos o primeiro passo que é a entrada da criança no mundo.

Com a vinda de Ifá e também com o maior conhecimento teológico da religião Yorùbá a gente passa a ter acesso e conhecimento de liturgias importantes da religião que não foram refletidas antes no Candomblé mas que podem agora ser incorporadas. É necessário, claro, uma integração ecumênica entre os cultos para que o Babaláwo junto com o Babalorixá (Bàbálórìṣà) conduzam essas cerimônias sem prejuízo para o Egbé do terreiro. O Babaláwo não pertence a comunidade do terreiro, via religião ele se integra no ecumenismo que se faz necessário.

Esta cerimônia tem um significado tão importante e uma utilidade tão grande que se isso for bem adotado e praticado poderia substituir o desejo de o batizado católico ser a primeira cerimônia a ser procurada pelas pessoas.

Claro que além de encontrar quem saiba fazê-la, que é muito simples, o mais importante é encontrar uma pessoa com bons valores e ética para que esta pessoa saiba fazer isso sem induzir a quem o procura a alguma coisa e sem violar outras crenças e valores importante do consulente.

Sem dúvida a capacidade de análise e interpretação do Babaláwo é o fator mais relevante para que o consulente obtenha desse processo um suporte importante para a vida da criança. Essas pessoas que apenas decoram tratados e repetem explicações e são confusas teologicamente, pouco podemo contribuir em um momento tão importante da vida de um recém-nascido.

Mesmo na Nigéria, terra dos Babaláwo existem os Babaláwo e os babalawo. Tem aqueles que sabem interpretar e aqueles que servem para passar ebó.



Pisando no mundo - ikoxéwaye



A primeira cerimônia que se faz tem o significado de fazer a criança pisar pela primeira vez no mundo. Ela é feita com o recém-nascido, a partir do terceiro dia até no máximo o oitavo dia. Esta deve ser a primeira vez que o recém-nascido coloca os seus pés no àiyé. Assim ele pisará no mundo.

Não preciso lembrar que o reencarnacionismo é um dos pilares da religião Yorùbá. A religião acredita que todos queremos viver no àiyé, porque aqui vivemos com nossa família e temos acesso a todos os prazeres e mistérios do mundo. Eu deduzo que a vida no Órun (ọ̀run) deve ser bastante desinteressante porque o motivo alegado para a reencarnação é apenas que queremos viver juntos no àiyé. Claro que em cada vida teremos objetivos pessoais diferente e também objetivos que podem ser passador por Olódùmarè, mas, vivemos porque gostamos de viver.

Por essa razão é muito importante as pessoas se casarem e terem filhos. Casar e ter filhos é considerado o curso de vida natural pela religião Yorùbá e talvez mais do que isso, o curso necessário. Para as mulheres não ter filhos não é considerada uma coisa boa e nenhuma delas quer isso para si. As mulheres precisam ter filhos para que os ancestres possam reencarnar, por isso se cobram e são cobradas.

Esta religião, como muitas outras estabelece a família como um núcleo importante e a capacidade de gerar filhos como um fator primordial, permitindo a continuidade da linhagem de descendência.

Um dos problemas que mais aparece em Ifá é a preocupação das mulheres em ter filhos, ou seja, resolver o problema de infertilidade e também o de sustentação da vida de crianças, para evitar a mortalidade infantil.

Quando uma criança nasce o espírito que veio do Órun (ọ̀run) inicia um processo de se habituar com o àiyé e assumir sua posição naquele corpo. Nos primeiros dias ainda existe uma ligação muito forte com o Órun (ọ̀run). O espírito que renasce ainda guarda as lembranças do Órun (ọ̀run) porque aquele espírito acabou de vir o Órun (ọ̀run). Ele ainda está no processo de vir. Esta é a razão desta cerimônia ser feita tão cedo.

Podemos entender isso como o que ocorre em uma viagem de férias, por exemplo, ou quando você muda de emprego. Nos primeiros dias você ainda guarda muita ligação com o que deixou. Você leva alguns dias para se afastar daquelas lembranças e se focar na sua nova vida. Com o passar do tempo você se liga no seu destino e na vida neste destino e se esqueça da sua origem.

Quando saímos de férias do trabalho também é assim. Nos primeiros dias ainda ficamos preocupados com o que deixamos, mas depois esquecemos e passamos apenas a viver nossas férias.

O recém-nascido deve ser trazido ao Babaláwo ou ele deverá ir até sua casa, entre o terceiro e o oitavo dia após o nascimento. Será feita uma divinização com Ifá para a criança e na esteira de Ifá estarão apenas a criança e a mãe.

Esta cerimônia de pisar dentro do mundo, chama-se “Ikóxewaye”. A divinização é feita com o nascer do sol, nas primeiras horas da manhã, porque é presumido que nestas horas a alma da criança (ori inu) estará mais atenta.

É feito o posicionamento normal de uma consulta tradicional a Ifá com o Babaláwo de frente para o leste. A mãe fica na esteira à frente do Babaláwo junto com a criança.

Dois Obì serão sacrificados para o Ori da criança, fazendo-se todas as rezas necessárias para isso. Após eles serem sacrificados serão jogados no meio do Opon Ifá, para confirmar que o Ori da criança aceita os Obì e a cerimônia que vai se realizar. Se não houver aceitação se deve investigar o motivo e eventualmente suspender a cerimônia.

Os motivos para isso podem ser desde o Babaláwo não ter se preparado adequadamente para o que vai fazer como também o Ori da criança não estar o aceitando para este trabalho. Se isto ocorre, ou se troca o Babaláwo ou se marca outro dia. A investigação da resposta indicará o que deve ser feito. Dessa maneira nunca deixe a cerimônia para o último dia, faça o mais cedo possível. Também não tenha pressa, procure bem antes a pessoa certa e acredite no que o oráculo responde.

O Obì deve ser tocado no Ori, na testa, atrás do pescoço e na sola dos 2 pés antes de ser aberto e jogado.

Com a permissão para realizar a cerimônia, o Babaláwo deve pegar a criança descalça e tocar os pés dela no chão. Depois disso a criança deve tocar os pés no centro do Opon Ifá. O Opon ifá é considerado uma representação do próprio mundo, do próprio universo e o portal entre o aiye e o orun. Ao pisar no centro do chão e depois no centro do Opon a criança estará então pela primeira vez pisando e entrando no próprio mundo.

Esta cerimônia deve ser feita junto ao chão e não em andares superiores de prédios. Se não é possível fazer junto ao chão, é indicado que seja levada terra para que a criança pisa em terra real antes de pisar no opon. Se a cerimônia estiver sendo feita no andar térreo então isso não é necessário.

A criança deve ainda, pelas mãos do Babaláwo, pisar nos Ikin que estarão no Ajere, no Opele e também nos Ìbò. Todos os instrumentos que forem ser usados deverão ser tocados pelos pés da criança.

A criança é devolvida aos cuidados da mãe e antes de ser iniciar a consulta deve ser feita uma louvação aos Orixá e todos os 16 Odù Meji devem ser rezados. Os Ikin devem ser tocados na testa da criança e deve ser feita a divinização tradicional, determinando o Odù principal, os 2 testemunhos, os estados de Iré ou Ayewo e sua origem.

Deve ser rezado o Odù principal que foi determinado.

O Babaláwo deverá interpretar o conjunto de Odù no sentido de um Odù de nascimento e não de uma consulta comum, dando explicações sobre a anergia que cerca a criança, que dificuldades ou facilidades ela pode esperar, que atenções ela deverá ter.

Existem casos de Odù que indicam envolvimento com Abiku, Egbé Orun, Ajé e egungun que devem ser explorados e entendidos para que sejam feitas a melhores recomendações. Mas nem sempre existem essas situações delicadas. Para poder fazer essas explicações e interpretações o Babaláwo deve ter um conhecimento consistente da teologia da religião para que ele possa entender com o que está lidando e com as mensagens do oráculo.

Observem é muito diferente a abordagem de um Babaláwo que sabe tratados e faz recomendações imediatas, indicando e passando ebós para um outro que tenha o entendimento da religião e dos significados da religião. É necessário muito bom senso e cuidado na interpretação de um Odù de nascimento. Mesmo na Nigéria existem sacerdotes e sacerdotes, quanto mais aqui no Brasil com todo o tipo de gente que finge ser o que não, que finge ter o conhecimento que não tem e que está acostumado a misturar ao mesmo tempo candomblé, Ifá, umbanda, kardecismos, cristianismo como se tudo isso fosse a mesma coisa.

Em função do Odù poderá ser escolhido um nome religioso para esta criança. Esta escolha depende muito do conhecimento de Yorùbá do Babaláwo porque ele terá que ser capaz de com as informações que tem de construir um nome a partir de uma combinação de palavras ou frase. A intuição do Babaláwo também será muito importante. O nome escolhido é submetido ao ori da criança, através do oráculo, até que se encontre um nome que seja aceito.

O Babaláwo pode adicionar outros detalhes nesta cerimonia que julgar adequados, sem exageros e sempre respeitando a posição, origem ou formação do consulente.

No fim da consulta, já com o ebó determinado, o Babaláwo ira pegar um pouco do Iyerosun colocar nas mãos da mãe da criança que esfregará suas mãos e colocar ela mesma um pouco do pó na sua língua.

O restante do pó deve ser guardado e dado para a mãe da criança guardar para usar em momentos de necessidade da criança.



Continua... A seguir a cerimônia do nome

domingo, julho 21, 2013

Odù de Nascimento Como se determina o Odù de Nascimento


Odù de Nascimento

Como se determina o Odù de Nascimento


O candomblé desenvolveu um hábito sem sentido de determinar Odù através de número. É uma prática sem nenhuma razão e que virou verdade apenas porque uma legião de pessoas, Babalorixás e Iyalorixás, que não entendo Ifá e não sabendo o que é um Odù, encontraram, ingenuamente, nessa numerologia uma forma de expressar o que não sabiam.

Sim, na ausência de conhecimento e na falta de condições de buscar conhecimento se agarraram a uma coisa sem propósito (mais bem simples), que é traduzir um Odù através de uma operação aritmética. Isso é muito conveniente, porque substitui conhecimento e aprendizado por algo que qualquer criança pode fazer. As pessoas em vez de aprenderem de fato, substituíram conhecimento por invenção.

Claro que havia dificuldade para aprender, o conhecimento não era facilmente disponível e essa aritmética assim como outras explicações bobas sobre Odù acabaram surgindo e foi dado crédito a elas. Crédito demais.

Como todos passaram a adotar isso, essa aritmética idiota virou uma verdade. Sim, se todos repetem a mesma mentira, aquela mentira vira verdade no contexto daquelas pessoas. Foi isso o que ocorreu no Candomblé com essa questão de Odù.

Eu sempre comento esse assunto e vou continuar comentando porque isso tem que acabar.
Com a vinda de Ifá para o Brasil através de Cubanos e Nigerianos os brasileiros tiveram mais facilidade para aprender e entender o que é de fato Ifá e Odù. Viram a prática, viram como é o oráculo de fato e como são os processos de trabalhar com Odù. 

A primeira coisa que a gente entende é o quanto é boba a conta de determinar Odù através de números e principalmente da data de nascimento das pessoas. Gente, eu aprendi no Candomblé assim e já fiz centenas de cruzinhas com os tais 4 Odù. Mas, quando aprendi primeiro Yorùbá e depois Ifá, entendi que aquela aritmética não tem o menor sentido.

Então, a primeira informação para quem quer aprender: NÃO se determina Odù através de números. A segunda informação: não existe relação entre Odù e números.

Em Ifá, que é o oráculo original, não se usam números, apenas símbolos gráficos. Sem dúvida Odù envolve alguma complexidade. Não é um significado simples, é um contexto, com um significado complexo, mas, não é complicado, entretanto não vamos tratar desse significado aqui, apenas da forma como se apresenta.

Em Ifá, um Odù se traduz por uma marca gráfica, composta por 2 colunas. Cada coluna tem 4 elementos e esses elementos podem ser 1 traço vertical sozinho ( I ) ou 2 traços juntos ( II ). No total, 8 elementos gráficos em 2 colunas lado a lado formam um Odù.

Essa é a representação de um Odù.

Não existe dentro de Ifá, seja com o ikin ou com o Opele nenhuma correspondência de número com Odù. Não existe nenhuma forma de se determinar um Odù através de um número. O Odù nasce, sempre, como uma marca gráfica composta. Se existe um número associado a Odù, estes seriam 1 e 2, usados para contar os ikins...  e estariam associados a todos os Odù, mas isso apenas para criar as marcas gráficas.

Sob o ponto de vista da sociedade Yorùbá, não existe aritmética decimal. Números são substantivos, palavras.

Em nenhum momento, qualquer Odù, é associado e um número.
 
Essa relação foi inventada fora de Ifá, fora da religião Yorùbá, provavelmente no novo mundo (ilação minha). Isso é apenas uma prática de numerologia. Eu não tenho como entrar no mérito ou não dos que acreditam ou praticam numerologia, pelo contrário, existe uma mística sobre números enquanto símbolos. Mas no que diz respeito à religião Yorùbá isso não ocorre.
Os números são palavras, substantivos e a aritmética é coisa de árabes. 

Em algum momento da história alguém associou uma coisa a outra, tenho quase certeza que isso é bem recente e está ligado ao uso dos búzios uma vez que em Ifá não existe como se associar número a Odù. Por isso que eu digo que deve ter surgido no novo mundo. Aqui nas tradições da diáspora, os jogos de búzios são muito populares.

No jogo de búzios sim, por acaso, os números são associados aos Odù devido a quantidade de búzios aberto definir o Odù. Contudo, isso é assim por acaso. Qualquer ligação entre búzios abertos e Odùs poderia ser feita. Não existe nenhuma obrigatoriedade de associar determinada quantidade de búzios abertos com um Odù. Isto é uma convenção arbitrada.

Lamento dar essa má notícia. Mas não seja mais idiota em acreditar nisso. Porque ai não é mais falta de informação e sim burrice mesmo.

Não existe na religião Yoruba ou mesmo na cultura Yoruba qualquer operação que se faça com data de nascimento.

A evolução desta bobagem, associar Odù a um número, culminou com a elaboração de uma cruz onde são feitos Odùs para a pessoa. Isso virou regra junto aos Babalorixás e Iyalorixás, infelizmente e depois de forma geral dentro do Candomblé.

Mas esses Odùs fajutos não determinam o Odù de nascimento da pessoa.

Este processo é fajuto. Não de nenhuma atenção a isso e não dê atenção em quem diz para você Odù baseado em data de nascimento. Canso de ver isso em programas de rádios, pessoas nitidamente desinformadas.

Mas, para continuar, ou piorar, a marmotagem, aparecem uns Babalawo dizendo que determinam o Odù de nascimento das pessoas. Isso também é bobagem. Não acredite em idiotice só porque muda quem fala, porque no caso destes é muito grave porque ele tem obrigação de saber.

Não caia também nessa conversa só porque o cara diz que é Babalawo. Não acredite que ele vai dizer o seu Odù de nascimento e muito menos dizer qual o seu Orixá. São outros enganadores, do mesmo tipo que fazem isso com Búzios e dizem que são Babalorixás.

A determinação do Odù de nascimento de uma pessoa SOMENTE pode ser feita entre o terceiro e o oitavo dia de nascimento. Ela é realizada por um Bàbáláwo. Não pode ser realizada depois disso. 

Assim, somente neste período pode ser saber o Odù de nascimento. Quem não fez isso neste período nunca mais saberá o Odù de nascimento. Quem quiser saber o Odù de nascimento do seu filho que procure um Bàbáláwo neste período. Depois disso não é mais possível.
Existem 2 cerimônias importantes que um recém-nascido deve passar através de Ifá que visam determinar o Odù de nascimento e também a ascendência daquela criança (se pelo lado da mãe ou do pai), seus orixá (Òrìṣà).

E mais, nunca vi essa cerimônia em Tratado cubano de Ifá. Minha opinião é que os Cubanos desconhecem isso, assim, como desconheciam fazer Bori, tiveram que aprender a fazer aqui no Candomblé, de forma bem torta, pagando para receberem  Bori e prestando atenção em tudo para depois copiar.

Eu vou explicar essas cerimônias de nome aqui no blog na próxima postagem.

Nesta primeira postagem eu quero apenas voltar ao assunto para dizer que Odù de nascimento Não é determinado pela data de nascimento. Também não será determinado quando a pessoa já esta adulta.

Isso é feito por Babalorixás sem conhecimento (no caso do Odù por data de nascimento) e por Babalawo fajuto, no caso de determinar por Ifá o Odù de nascimento de pessoas adultas.

Na próxima postagem vou explicar as cerimônias que são feitas


Não deixe de comprar o livro "Oráculos Yoruba: dos Búzios ao Obì"  na Amazon.com.br

terça-feira, julho 16, 2013

Oráculos Yorùbá: dos búzios ao Obì

Finalmente publicado o meu livro, na loja Kindle da www.amazon.com.br

Procurem por este título:

Oráculos Yorùbá: dos búzios ao Obì

Pode também ser comprado em qualquer loja Kindle da Amazon.

Você não precisa ter um kindle para ler. Basta baixar o leitor de Kindle em software e APP que está disponível para Windows, Mac, iPads e Androids.


Para fazer perguntas e pedir explicações adicionais podem usar a comunidade: Ifá - blog.orunmila-ifa   Que pode ser procurada eu acessada a partir do meu perfil do G+ - Procurem por Marcos Arino


Sobre o livro, ele é o resultado de anos de pratica contínua e de pesquisa sobre o assunto dentro da religião. Não é um livro teórico e não é um copy and paste de outros livros. Todo material é inédito. Explica com detalhes como se usam os principais oráculos litúrgicos. 





Todo o material é original, mas, como estamos lidando com o mesmo oráculo e técnica muita coisa vai parecer com outras fontes, de fato é impossível ser completamente original. Mas podem ter certeza de que tive o cuidado de que este livro tivesse tudo o que os demais não tem. Espero que seja considerado uma obra completa.
 

Tem explicações, diagramas e fotos. Me perdoem pela diagramação meio amadora, mas, trabalhar com o formato de eBooks não é fácil. Muito complicado, nada fica como você planeja,

Pertence a uma série de livros. O próximo será sobre o eerindinlogun através de Ifá.
 

Quem quiser aprender a usar os oráculos vai ter no livro, na minha opinião o melhor material disponível. Os demais vão poder ter a oportunidade de falar de mim.

quinta-feira, julho 11, 2013

Oráculos Yoruba


Os que acompanham o BLOG me perdoem pela ausência mas, o tempo é elástico porém restrito. Estou investindo o que eu tenho para publicar o Livro Oráculos Yoruba: dos búzios a Obi

Será publicado em formato de eBook, através da Amazon.com.br para leitores Kindle.

Ele havia sido preparado para formato impresso e a reformatação esta se mostrando um trabalho hercúleo e cansativo, com bastante tentativa e erro devido a existência de fotos e ilustrações. Como eu já havia estudado antes o kindle é bom para texto...  o resto da bastante trabalho.

Acredito que mais uns dias termino e publico.