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segunda-feira, janeiro 22, 2024

QUAL O MELHOR DEUS? - A DEMONIZAÇÃO DAS OUTRAS RELIGIÕES - PARTE 10 DE 11

 

A DEMONIZAÇÃO DAS OUTRAS RELIGIÕES

Como eles podem justificar esse modelo de vida única, inferno eterno e salvação pela igreja se têm ao lado uma religião que eles reconheceriam ser do mesmo deus supremo e o entendimento delas for outro?

Não podem.

Essas outras manifestações têm que ser cultos a falsos deuses ou ao diabo que enganam a pessoa com uma falsa teologia e uma falsa esperança para afastá-los da salvação e os condenarem ao inferno eterno, que é o objetivo do diabo.

Igualmente, se na visão deles, se você não for a deus você não será salvo e o único deus o de verdade é o deles, porque o próprio deus anunciou assim.

Desta maneira, como uma consequência da teologia diabólica, as demais religiões o condenam ao inferno porque o afastam da igreja e se o afastam da igreja o afastam do deus de verdade e assim são, na verdade, obras do diabo.

As demais religiões, Ifá entre eles, reconhecem a importância do deus supremo e o distanciam naturalmente das pessoas. Ele está presente, ele existe e é reconhecido, mas, ele cuida do todo da existência, a vida emana dele, o equilíbrio emana dele, é ele que mantêm tudo funcionando. A presença do deus supremo junto a nós é humanizada, assume sim, de fato, uma face humana nas divindades que o representam junto a nós. O deus supremo se faz representar junto a nós de forma humana para que nós nos reconheçamos nele. Em Ifá o deus supremo não tem forma, mas, suas divindades, ministros, têm.

O que isso tem de errado ou de menor? Criticamente, ao meu ver, nada, pelo contrário é muito mais razoável do que esperar que o deus supremo cuide individualmente de nós.

Mas os judeus e cristãos não reconhecem divindades. Apesar deles reconhecerem, no próprio AT que deus se manifestava através de anjos, eles não reconhecem divindades. Apesar dos católicos terem um culto com anjos e santos, eles não reconhecem divindades nas outras religiões. Apesar de Jesus ter sido um semi-deus, eles não consideram que outras religiões entendem que temos divindades representando deus junto a nós e que representar deus não os torna deuses..

Apesar de em Ifá e na religião de Orixá (Òrìṣà) nós termos contato e experiência real com divindades que representam deus e delas só emana o bem, eles não acreditam no nosso bom senso e juízo.

Apesar de na Umbanda termos contato com espíritos menores, ex-vivos, que trabalham pelo bem e a caridade, tratando os problemas e ajudando e salvando vidas em nome de deus, eles continuam a achar que não temos bom juízo e que milhares de pessoas são enganadas.

O mundo real mostra que milhões de pessoas acreditam, veem e sentem manifestações de um supernatural que é diferente da teoria da bíblia, mas, isso não importa. Não interessa o nosso conhecimento, não interessa a nossa experiência, não importa nós falarmos que aquilo é divino, não importa deus fazer pequenos e grandes milagres na nossa vida.

Nós não importamos.

O que importa é o que está escrito no livro que eles veneram e adoram como um deus e que foi escrito por pessoas. O que importa são regras antigas e que a realidade atual o que vivemos na pele, mostra que não têm razão e que ou alguém se enganou ou eram coisas que tiveram um contexto naquele tempo, mas que mudaram.

Para pessoas que se dizem religiosas essas pessoas não tem nenhuma fé humana.

Não somos 55% da população da terra, mas, somos milhões de pessoas que presenciam essa atuação de deus e mesmo assim, somos pessoas enganadas na visão deles.

Na visão deles que rezam para o silêncio e cuja resposta a suas preces é apenas a fé e o silêncio, nós somos os tolos.

Nesse contexto, qualquer outra religião passa a ter que ser uma obra do diabo. A teologia, humana, que eles inventaram leva a isso. Lembro a todos que a natureza humana é falha e assim toda obra humana é sujeita a erro. Qualquer teologia é uma obra humana, já expliquei isso e assim pode estar toda ou parcialmente errada. Deus é sagrado, mas, as obras humanas podem falhar em algum grau.

Contrariar a teologia cristã não é contrariar a deus.

Enquanto a teologia de induístas, Orixaístas, budistas, shenistas, xintoistas e outras são diferentes entre si mas podem conviver perfeitamente uma ao lado da outra, a religião cristã não tem como conviver com elas, não com a teologia que têm.

Desta forma sejam os judeus como os cristãos, cada um a seu modo, inventaram essa tese insana de propriedade de deus, que lhe é conveniente, mas que despreza a grandeza de deus.

É nesse ponto que as demais religiões do mundo, obras do mesmo deus supremo, assim como a religiosidade natural das pessoas, passa ser um elemento de oposição que dever ser combatido e eliminado. Não só porque não podem ser criações de deus, uma vez que deus em pessoa foi até eles, como, também, porque sendo obras de deus não podiam ter teses teológicas diferentes das deles, que não obrigam a pessoa a se submeter a religião.

Essas demais religiões têm que se tornar obra do diabo, de demônios de falsos deuses ou deuses fracos e estranhos.

Essa parte menos nobre que eu citei é criação teológica humana, sem nenhuma base em cristo. Mas isso gera um pacote que obriga as pessoas a serem religiosas e da religião certa, a deles. A religião deixa de ser uma opção e passa a ser uma imposição ou se é religioso ou se sofre no inferno pelo resto da existência. Além disso, traz para a humanidade a questão escatológica do apocalipse eminente. É o império do medo.

Mais uma vez, cada um que viva como quer, se você gosta disso seja cristão. Mas, não é tão simples. Para esse modelo funcionar não pode ter outro modelo falando diferente. As demais religiões, que não falam isso não podem ser coisas de deus. Não pode ter outra religião, ligada ao mesmo deus com uma teologia diferente.

Temos a raiz dessa intolerância. Como eu desenvolvi, o problema não é eles acharem que o próprio deus apareceu para eles. O problema é a teologia que eles construíram por conta deles, em concílios que incorpora dogmas que tornam a existência de outros dogmas inaceitáveis.

Como vai funcionar a teologia católica se tem uma religião do lado, ligada ao mesmo deus, que cultua o mesmo deus e que diz que não tem inferno? Que você vive várias vidas? Que o mundo não vai acabar um dia?

Se eles aceitam que a religião do lado fala com o mesmo deus e não tem essas coisas as pessoas vão para essas religiões. Dessa maneira deus só pode ser o deles e os demais têm que ser demônios.

Qual o modelo que separa todo o tipo de anjo (são vários) e santos e seus milagres das divindades das demais religiões? O que precisa fazer um Orixá (Òrìṣà) para ser um diabo?

Qual a sua capacidade de julgar o trabalho de deus através de outra religião? Para você falar que é o diabo na outra religião você tem que entender e mostrar porque é o diabo. Por que não é deus. O que naquela religião e naquela manifestação relaciona o que você vê com o diabo, lembrando que o conceito de diabo é apenas cristão. O diabo é uma invenção cristão medieval, não existe na bíblia.

Explicar que o diabo é medieval e que não está na bíblia é algo que quem discorda pode buscar esclarecer com facilidade, fora a própria bíblia existem pessoas que analisam isso em detalhes através de literatura. Este é um tema interessante porque é uma certeza de muitos, base teológica de vários e assim dá um grande prazer de enfrentar, mas, não dá para fazer aqui. Fica essa dica, o diabo, assim como o apocalipse é uma invenção medieval. Toda essa cultura angelical também, o que as pessoas falam de anjos está em literatura apócrifa e foram coisas que os judeus aprenderam no exílio da Babilônia, isto é, aprenderam com outros povos.

Encerrando esse texto, quero ressaltar 2 coisas. A primeira é que esta foi a razão de eu ter iniciado longamente sobre a discussão da grandeza de deus. Sem esse conceito fica impossível chegar até aqui. A posição judaica e cristã são uma ofensa a grandeza de deus.

A segunda é que a teologia católica tomou rumos absolutamente humanos através do concílios, a teologia foi definida ali, por pessoas e essas decisões foram referendadas pela afirmação de que aquelas pessoas todas faziam aquilo inspiradas por deus. Os católicos têm razão ao dizer que sejam católicos primeiros e depois abram a bíblia, uma coisa não tem a ver com a outra.

Mas o problema da intolerância com as demais religiões tem origem de fato na visão do deus pessoal, particular. Isso obriga que as demais estejam erradas se forem diferentes. O que os católicos fizeram depois foi amplificar isso e materializar de uma forma que os judeus não fazem. Os judeus acham que estão certos, mas, para os católicos os outros tem que estar errados.

Assim para encerrar esse longo texto para um assunto tão simples, não temos um melhor deus a escolher. Se você crê em um deus supremo se sua religião crê em um deus supremo, você já escolheu o deus certo, o único.

Os cristãos têm um problema teológico particular para resolver.



domingo, janeiro 21, 2024

QUAL O MELHOR DEUS? - AS RELIGIÕES ABRAAMICAS CONTRA A GRANDEZA DE DEUS - PARTE 9 DE 11

 

AS RELIGIÕES ABRAÂMICAS CONTRA A GRANDEZA DE DEUS

Voltando a questão da visão da propriedade de deus, a posição judaica sobre esse tema seria irrelevante se não tivesse sido estendida para a teologia cristão, como explicarei a seguir. O judeus são menos que um traço na estatística, conforme eu mostrei no início, o que eles criaram para eles mesmo não faria a menor diferença ao mundo. Mas essa visão fechada deles fez diferença, porque foi a partir dela que surgiu o cristianismo e essa corrente influencia 55% da humanidade e o cristianismo é proselitista.

Dessa forma, para chegarmos a origem do problema que estou tratando aqui, temos que descobrir como os judeus chegaram a essa posição da propriedade de deus.

Depois de tanto texto, vale relembrar o que eu chamo de propriedade de deus. A bíblia reflete uma visão personalizada de deus. Ela inicia descrevendo deus como o supremo que criador de tudo, do universo inteiro da terra e da humanidade e todos o seres que aqui habitam, mas, esse deus supremo, se dirige diretamente a este povo específico, os judeus, dizendo que entre tudo o que ele criou eles eram os escolhidos dele.

Essa escolha faz deles especiais em detrimento ao resto da humanidade.

Esse deus passa então a se dirigir a eles e orientar os passos deles em um rumo planejado a uma coisa boa, mas, que em troca, exigia deles adoração única a ele, o verdadeiro deus, o cara.

Assim, o deus supremo que criou tudo e todos, o senhor dos céus e da existência dirige os judeus contra o resto da humanidade ou apesar do resto da humanidade. As demais pessoas e povos passam a ser opositores que precisam ser superados e vencidos, pelo preferidos, sem uma razão específica.

O deus supremo vira um “coach” dos judeus, com sucessivos profetas. Mas um deus com poderes finitos e limitados. Ele não consegue mudar nada sozinho, não estala o dedo, pisca os olhos ou torce o nariz para realizar nada. Em determinados momento cria pragas, manda anjos que matam milhares de inimigos, derruba muralhas, mas, em outros precisa que os judeus façam o trabalho sujo e depende 100% da boa vontade dos judeus fazerem as coisas.

Ele tem que convencer os judeus a fazer o que ele quer e muitas vezes os judeus não concordam e fazem o que acham certo e não o que deus disse.

Ele também se preocupa em mandar matar 1 homem que não cumpriu o sábado, recrimina outro porque errou nas instruções de oferendas e é o tempo todo contrariado pelo povo judeu, que apesar de tudo o que ele faz continua deixando ele para lá. Esse deus supremo parece demonstrar um poder limitado, sempre para punir.

Posso estar exagerando um pouco, mas, uma leitura literária da bíblia, do AT, com sinceridade, mostra 2 coisas. A primeira é um deus pessoal, dedicado aos judeus. Supremo na definição deles, mas, pessoal e restrito na dedicação aos judeus. De outro lado, para mim, a descrição do AT, não mostra um deus supremo. Mais uma vez, a leitura literária, me mostra um Djinn, tipo o que sai da garrafa, faz desejos, tem reações humanas, quer ser bajulado, etc. Me mostra um deus sem o domínio do todo de fato e inicialmente muito ocupado com os judeus, mas, depois enjoa e se afasta um pouco.

Lembro que o relato da Torat é absolutamente tardio e mitológico. Se você esquecer o Genesis, não sei se pelo resto do relato você identificaria um deus supremo ou um deus menor. Pense nisso.

Mas, o ponto aqui é que os judeus definiram em seu livro sagrado, a Torat que virou a Bíblia, um deus que lhes é pessoal e assim se afasta do que qualquer pessoa com um pouco de bom senso poderia fazer de um deus supremo, um deus de todos e de tudo.

Lembro a todos que, em termos de religião, não existe nenhuma garantia de nada e não tem nada sagrado, porque a religião, os textos e a teologia são processos humanos, o que é sagrado é deus. O AT mostra basicamente, no pentateuco, as instruções de deus para o povo deles e, esse, sem dúvida, é o livro mais importante deles. Mas a religião judaica não está contida nesse livro e é estruturada com muito mais livros e relatos dependendo da corrente ou seita judaica.

Muitos, hoje, acreditam na versão de que a bíblia é um livro antigo escrito pelos próprios personagens, que mostra a história como ela ocorreu de verdade. Existem arqueólogos que andam com a bíblia debaixo do braço para demonstrar através de supostas descobertas que a bíblia é um relato verídico e não apenas mitos.

Atenção, essa é uma preocupação que somente judeus e cristãos têm. As demais religiões não estão preocupadas se seus relatos são reais ou mitológicos.

Aqui temos, então, a primeira peça deste jogo. Para eles e para muitos, a bíblia é documento, é a história como ela ocorreu. Essas pessoas não conseguem separar o que é história de teologia. Contudo a realidade é que a bíblia é um relato teológico e mitológico, com personagens misturados com pessoas, mitos com história. Os judeus e também os cristãos, se consideram diferentes das demais religiões por causa disso, eles são melhores porque não tem um livro de mitos simbólicos e fantásticos como as outras religiões, eles têm a bíblia e também o próprio deus que foi até eles.

A verdade, contudo, é outra. A Torat não foi escrita pelos nomeados autores dos livros. Moisés nunca escreveu nada, nem Salomão, nem Davi. Esses 2 últimos, apesar de sua importância não têm registros históricos de existência. A Torat foi escrita no século V AEC e, assim, é absolutamente recente considerando os 6.000 anos de história que ela deveria retratar. Nenhum dos personagens originais escreveu nada. Todos os personagens eram analfabetos e não tinham acesso à escrita. Papel era inexistente. Papiro era caríssimo e a tinta mais cara ainda. Escrever e ler era um luxo de ricos e de reis, saber ler não tinha utilidade.

O AT é uma produção literária milimetricamente desenhada posteriormente. A bíblia, na verdade, é composta de mitos teológicos misturados ou romantizados com história e com mitos vindos de outros povos. É um livro importante, mas, não é história e ali não está a palavra de deus.

A bíblia não é diferente dos livros sagrados de outras religiões e os livros vedas são mais antigos e mais originais.

O meu objetivo aqui ao fazer essas afirmações é nivelar as coisas. O judaísmo e o cristianismo não são diferentes de outras religiões. O livro sagrado deles não é diferente de outras religiões.

Em relação ao monoteísmo, apesar do que está escrito na bíblia falar outra coisa, os judeus continuaram sendo politeístas, mais provavelmente henoteístas ou no final monolatristas por milhares de ano, somente se convertendo ao monoteísmo no exílio Babilônico. Nesse exílio, finalmente em torno do século V e IV AEC, eles escreveram a Torat, que contou a versão que interessava a eles. Acreditem, eles resumiram 6.000 anos de história só de lembranças e da criatividade dos escribas.

Sobre definições de religiões, nenhuma é exatamente igual a outra, mas, existem alguns termos para facilitar o entendimento geral. Assim, Henoteísmo é quando a religião acredita em um deus supremo que merece o culto, mas, podem ter outras divindades menores que também podem merecer o culto, mas, o culto é dedicado ao deus supremo como regra. A monolatria é como no Henoteísmo com um deus supremo e outras divindades, mas, apenas o deus supremo pode ter culto, não sendo admitido culto a nenhuma outra divindade menor. O monoteísmo deveria ser quando a religião apenas admite a existência de uma única divindade.

O politeísmo é muito raro de existir, foi abandonado com a evolução da humanidade, valeria um capítulo todo para comentar sobre a razão disso. No politeísmo não tem nenhum deus supremo, todos os deus são supremos com poderes e influências delimitados mas totalmente independentes. Nas demais classificações um deus supremo é responsável por tudo.

Outra questão a explicar, para nivelar conhecimento é essa questão de porque religiões tem várias divindades. Vou ser breve, mas, é um assunto que merece um capítulo.

O que diferencia, principalmente, o politeísmo do henoteísmo e monolatria é a qualidade das relações e não a quantidade de divindades. Ter um deus supremos significa que existe uma hierarquia. As divindades adicionais a esse deus supremo são emanações desse deus supremo,, ministros que o representam e possuem parte de seus poderes supremos. As divindades não substituem o deus supremo, apenas o humanizam e o tornam onipresente.

Várias religiões se enquadram nessas categorias de henoteísmo e monolatria, mas, na de monoteísmo existe apenas uma, o judaísmo. Classificar o cristianismo como monoteísmo é absolutamente questionável, é um henoteísmo ou no máximo uma monolatria.

O conceito de onisciência e onipresença do deus judaico é apenas deles mesmos. Nenhuma outra religião tem isso e acredite nisso quem quiser.

Voltando aos judeus, não é verdade que eles eram os únicos monoteístas ou monolatristas. Já haviam no mesmo período da história, várias iniciativas no sentido de estabelecer monolatria, henoteísmos e até monoteísmos em vários povos. Deus se movimentava, ao redor, com várias iniciativas, mas esbarrava no amadurecimento da própria população que resistia a ideia de um deus único. A ideia de que todo mundo era politeísta e só eles eram diferente é basicamente criatividade dos judeus.

O Zoroastrismo ou o Masdeísmo e depois o mitraísmo eram religiões que se desenvolveram mais ao oriente, não eram étnicas, possuíam muita similaridades até litúrgicas entre si e com o judaismo e, sem dúvida, eram outras apostas de deus para a humanidade. Não eram politeístas, ficando entre monolatrias e henoteísmos. Essas eram correntes mais orientais, mas haviam outras iniciativas mais antigas na própria região.

Ninguém pode afirmar nada sobre a história antiga, o trabalho histórico é baseado em investigação, busca de evidência e construção de modelos a partir disso. Essas evidências levam as pessoas a encontrar inúmeras similaridades teológicas e rituais do judaísmo com essas religiões, cultos egípcios, sumérios e caananitas. Tem pessoas que dizem que, como a bíblia judaica foi escrita tardiamente, na falta de lembranças ela pode ter intencionalmente sido feita usando mitos e ritos dessas religiões.

Claro que existe outra possibilidade, que também acho muito plausível, como estamos lidando com o mesmo deus supremo é natural que as religiões sejam similares ou tenham coincidências. Muitos críticos de religiões esquecem que todas as religiões se comunicam através do mesmo deus e não porque, necessariamente, copiam coisa uma das outras.

Estou citando isso tudo superficialmente para dizer que esta tese de que os judeus sejam escolhidos e que deus os escolheu é uma versão deles para eles mesmos.

Sob o ponto de vista de um deus supremo, isso faz sentido?

Sim, uma vez que vocês aceitem que, como relatei, o deus supremo levava a religião a muitos povos, eles foram um desses povos.

Mas, não, para aqueles que pensam que isso foi feito só para eles, visto que isso é uma estupidez.

A visão judaica é absolutamente obtusa no aspecto de definir deus como sua propriedade e espelho humano deles mesmos, com reações emocionais pequenas que permeiam o AT. Nisso, Bento de Espinoza que era judeu, foi definitivo ao apontar a falta de visão da grandeza de deus e sofreu por causa disso.

A teologia cristã, na minha visão, tem 2 momentos distintos.

O primeiro é o helênico, com a formação do que seria depois o NT, uma colcha de retalhos de tudo. Os novos cristãos, todos helênicos, não ligados a influência judaica de Jerusalém se viram obrigados a construir os mitos de Jesus, porque a população exigia mais informações, detalhes e uma história completa e não relatos parciais. Eles estavam habituados com a mitologia grega, com mitos bem construídos e com muito significado e simbologia. A mensagem do Cristo era forte mas precisava-se estabelecer sua divindade através da história.

Nesse momento é evidente a influência helênica nos mitos, com repetições de construções dos mitos gregos. Mas essa criação era independente dos judeus e do AT, a preocupação era apenas de estabelecer Jesus como o novo deus ou, mais certamente como um semi-deus. Os elementos do NT foram criados para convencer o povo romano e helenizado de que Jesus era um deus melhor do que eles já tinham. Não existe entendimento sério do cristianismo que despreze a construção helênica do novo testamento, que é absolutamente independente do AT.

Essa base helênica se consolida, bem posteriormente, com Agostinho de Ipona e Tomas de Aquino que trouxeram formalmente Platão para a teologia, lembrando que o modelo cristão inicial focava somente em jesus e não na religião judaica.

A epopeia cristã para formação da religião, o contexto da época, as dificuldades com as religiões existentes é, por si só, uma capítulo muito interessante da história, totalmente desvinculado de Jerusalém e da origem judaica, com desafios próprios. O efeito disso que gerou o amontoado de documentos do NT e também criou teologias não existentes ainda é bastante interessante para entender como iniciou esse processo de construção teológico cristão.

Retomando a minha visão sobre a teologia cristã, o segundo momento, já com a igreja católica organizada, entra a influência judaica, porque era necessário montar a religião completa. É nesse ponto que eles herdam e inserem esse entendimento, sem sentido, de propriedade e escolha de deus.

Os primeiros cristãos helênicos não estavam preocupados com isso.

A discussão do AT ocorreu entre os séculos IV a V, sendo definidos no concílio de Florença e reconfirmados no concílio de trento. Cabe chamar a atenção de que esse cristianismo já estruturava sucessivos movimentos organizados, até aproximadamente o século III ou IV EC, para se desvincular da teologia judaica, criando uma teologia própria.

Com a igreja romana, o modelo cristão para uma religião, volta a trazer a origem judaica. Uma das primeiras ações políticas-teológicas foi transformar o Cristo no próprio deus, o que nunca tinha sido antes. No primeiro concílio de Niceia, eles estabelecem a tese da co-substância. Essa foi uma discussão pesada e baixa na igreja porque havia a tese ariana que não concordava com isso. Foram os concílios que definiram a teologia católica. Os concílios, na minha visão, eram principalmente políticos e não teológicos. O primeiro deles, o de Nicéia já iniciou com a decisão de transformar cristo no próprio deus, não houve discussão teológica, houve apenas expurgo dos opositores.

Mas por que essa questão do cristo-deus eram tão importante para ter sido o primeiro debate teológico? Porque com o cristo-deus, eles continuam a usar o AT mas se libertam das 12 tribos e passam a ter um deus só deles, um deus para chamar de seu. Eles passam a se equivaler aos judeus sem pertencer as 12 tribos e ao povo dito como escolhido no AT.

Lembro, mais uma vez, que o cristianismo foi construído inicialmente apenas sobre o cristo, sobre sua existência, obra, palavras e principalmente ressurreição. Isso foi o suficiente para criar a religião.

Mas a igreja precisava de uma cosmogonia completa, sem isso não seria uma religião de fato, ai recorreram a origem judaica de jesus que traz junto a Torat.

Mas a Torat define uma teologia que os judeus fizeram para eles mesmos, como já expliquei e coloca eles, os judeus, no centro de tudo. Os judeus e não os gentios eram o povo escolhido por deus. Assim, para ter a Torat e sua cosmogonia eles precisam tirar os judeus do papel que eles deram para eles mesmos, de povo escolhido.

Foi nesse sentido que jesus precisava virar o próprio deus e o argumento da co-substância foi o que eles usaram.

Além dessa questão de terem que substituir o deus que estava no AT e que escolheu apenas os judeus, existe também a questão do monoteísmo.

Os cristão, como os judeus se consideravam monoteístas e desta maneira superior as demais religiões da terra. Superior porque eles foram escolhidos e se dirigiam ao próprio deus superior, o chefe de tudo, assim eles eram especiais, não tinha intermediários ou subalternos entre eles e deus, na verdade “o” deus.

Jesus entra nesse contexto religioso como sendo um semi-deus. Foi assim que os helenos aceitaram ele. Jesus era equivalente a outros deuses que os helenos já cultuavam, equivalente mas superior. Jesus era uma mistura de deus e homem, um semi-deus, que veio de deus mas nasceu humano, isso era a definição grega de um semi-deus.

Considerando que era necessário manter essa definição de monoteísmo, equivalente aos judeus, porque senão o cristianismo seria (como é de fato) um henoteísmo, era imperativo unificar Jesus e o próprio deus, assim, independente da lógica e do bom senso gritarem o oposto, Jesus e deus passam a ser um só, via o concílio de Nicéia.

O Jesus-deus mantinha o culto a Jesus mas não o estabelecia como um sub-deus ou um semi-deus, como deveria ser, mas, como o próprio deus, mantendo assim, porque eles queriam a denominação de monoteísmo. Assim você poderia se dirigir a deus e a Jesus também e ainda falar que é um monoteísmo.

Essa discussão teológica tem que ser feita se distanciando das auto-definições que os cristãos fizeram para si mesmo através dos concílios. Apesar de toda a subjetividade envolvida, não tem lógica que sobreviva a ter que discutir isso com a hermenêutica tirada do rabo do diabo que nasceu dos concílios.

Jesus foi entendido como um semi-deus pelos primeiros cristãos, os helenos. O cristianismo, com sua trindade, Maria, Santos e Anjos é estruturado como um henoteísmo ou monolatria e não como um monoteísmo.

Voltando ao Jesus-deus, ao criarem essa definição, que foi necessária por esses 2 motivos que eu apresentei, os cristãos passam a adotar a mesma versão do deus pessoal e menor dos judeus. Veja no caso do Jesus-deus, ele veio fisicamente até nós e assim é de fato pessoal.

Mais uma vez, deus perde sua grandeza. Como deus veio pessoalmente até eles, como o cristo, então, igualmente, só eles tem razão e só eles sabem o que é certo. Segundo eles mesmos, nas demais religiões o próprio deus não vem até nós, só na deles. Ou seja, eles inventam do fundo do anus, essa tese maluca que não vem de nenhum profeta e desta forma não veio de deus e, com isso, se veem obrigados a desprezar as demais religiões, ignorando assim, sem nenhum pudor a grandeza de deus.

Essa manobra teológica resolve a questão que eles tinham com os judeus e o AT, mas, cria um monte de complexidades teológicas e coloca o cristianismo contra o resto da humanidade.

Aliás repetindo o modelo judaico, que nos relatos do AT eram eles contra o resto do mundo também. Existe assim um problema teológico de base na religião que estabelece o conflito como caminho.

Essa visão de cristo ser deus é algo absolutamente humano e discricionário, aliás como toda a teologia conciliar. Não existe nenhuma base profética nisso, eles apenas decidiram baseados em argumentos convenientes e sinuosos que era isso.

Cabe observar que o AT é baseado em profetas. Assim, a história é construída sempre com essa ligação com deus através dos profetas e escolhidos por deus, existe, literariamente a mão de deus conduzindo a história.

A partir de cristo isso se perde. O NT não é feito por profetas e muito menos os livros são de autoria de profetas. Eles apenas são feitos por pessoas. Igualmente as decisões teológicas conciliares e sinodais são tomadas por homens. Para resolver isso eles criam o conceito de inspiração divina, assim o papa é inspirado por deus e os bispos no concílio, todos, são igualmente inspirados em seus pensamentos e decisões.

Na minha visão, não tenho nada a me opor a esta tese do cristo-deus, se eles entendem que foi assim, ótimo. O que eu estou repetindo incessantemente aqui é que, apesar dos católicos terem inventado isso, o bom senso mostra que a grandeza de deus jamais se limitaria a essa única ação ou mesmo a essa ação.

Uma avaliação teológica mais responsável e menos política deveria ter pesado a falta do senso do que eles estavam fazendo ao definir isso para substituir os judeus, o quanto isso complicaria, como ocorreu, a teologia deles. Além disso, como relatou Espinoza, isso traz a absoluta falta de reconhecimento da grandeza de deus.

Mas os cristãos foram além, como era fácil, bastava se reunirem e eles, da cabeça deles, criaram teologias muito convenientes, como o pecado original, a vida única, o medo do pecado, o diabo, o inferno, o apocalipse e a necessidade imperativa de ser salvo por deus senão você vai para o inferno.

Eles substituíram o sentimento espontâneo de pertencer a uma religião por este ser o caminho para se tornar uma pessoa melhor, viver melhor em sociedade e harmonizar sua vida com as orientações de deus para ter suas bençãos, para um outro no qual você tinha que estar na religião pela obrigação de ser salvo, o medo do inferno. Além disso, os protestantes principalmente, substituíram a busca do bom caráter e a auto-crítica pela muleta de que seus erros são causados pelo diabo.

Inclusive a teologia do diabo e inferno que conhecemos hoje é uma invenção medieval. Não está no AT da bíblia. No NT o diabo assim como o inferno eterno é criação do livro do apocalipse que nem deveria estar na bíblia devido a ser um relato feito por João, o visionário, para criticar o império romano. Nada que está no AT nos remete ao personagem e atuação do diabo medieval. O nome Lúcifer era um nome comum. A igreja tem um Santo chamado São Lúcifer que viveu, na Sardenha, no século IV. Os luciferianos, seus seguidores que se opunham aos arianos, permaneceram após sua morte e foram liderados por outro santo, São Gregório de Elvira. A razão de eu explicar isso é para mostrar que essa invenção de diabo, lúcifer e inferno eterno é criação tardia da igreja, teologia inventada. O satã que está no AT, nada tem a ver com o diabo medieval.

Os protestantes, baseados em pessoas com formação insuficiente ou deficiente como Lutero e Calvino, inventaram coisas piores, como a dupla predestinação que condena pessoas ao inferno eterno (que já é uma invenção) por nascimento. Deus decide fazer pessoas que independente do que sejam ou façam vão para o inferno. Os protestantes conseguiram piorar muito a teologia católica.

Protestantes principalmente, mas também católicos passam a usar a colcha de retalhos que é o NT e também (mas, menos) o AT para a partir de pequenas frases ou parágrafos criar interpretações malucas e gerar a teologia que eles queriam. As cartas de Paulo, cuja a minoria foi escrita pelo próprio, mais o livro do apocalipse cuja introdução no cânone é absolutamente política e sem sentido são as principais bases para essa teologia maluca e conveniente que hoje se baseia o cristianismo.

Observe que foi essa teologia que trouxe para o foco da religião a dualidade bem e mal, com a criação do diabo e do inferno, que são absolutamente artificiais, como o destino dos não fiéis. Assim a opção pela igreja e cristo passou a ser obrigação, o mundo passou a ser nessa visão um palco da luta entre o bem e o mal.

Observe que essa dualidade bem e mal era o foco de outras religiões orientais próximas aos cristianismo, como o zoroastrismo, o mitraísmo e o maniqueísmo. Não podemos dizer que bem versus o mal não seja uma dualidade teológica presente em várias religiões. Até mesmo em Ifá é assim a dualidade é parte do entendimento do mundo e do seu componente energético, o axé (àṣẹ).

Mas trata-se de uma luta interior. Como eu descrevi antes, somos a própria balança, de um lado temos o livre arbítrio e de outro a religião e cabe a nós manter esse equilíbrio. O mal é resultado de nossas escolhas pelo lado do livre arbítrio.

O que o cristianismo medieval fez foi elevar esse conflito para a arena exterior, retirou de nós o mal porque deus não pode ser mau e como somos criados a sua semelhança não podemos ter alguma coisa que ele também não tenha, assim o mal não pode pertencer a deus e nem a nós. Neste contexto o diabo é necessário porque é ele que justifica o mal, um elemento externo, maligno que traz para nós temporariamente o mal.

Assim bem x mal, passou a se tratar uma disputa divina com a igreja sendo a necessária para nos livrar.

A disputa do bem x mal, um conflito interno humano baseado no livre arbítrio, comum a todas as religiões, no cristianismo saiu a arena interior da pessoa. O diabo é o responsável, sua alma está condenada desde o nascimento e a igreja é a salvação obrigatória.

Com pouca inteligência você olha para isso e vê que se trata de uma corrente de consequências naturalmente amarradas, que tem origem em dogmas teológicos artificiais. A escolha errada do dogma gera toda sinuosa e confusa teologia consequente.

Uma teologia conveniente, sem dúvida, porque nesse contexto de pecado original, diabo, uma única vida e inferno eterno a igreja passa a ser essencial.

Voltando ao nosso início, isso é um castelo de cartas teológico.

Se você tira disso o deus pessoal e dedicado que traz o único certo, você desmonta a teologia consequente. Porque outras religiões não tem esse modelo teológico, oferecem uma vida muito mais natural e harmoniosa com o deus supremo.



sábado, janeiro 20, 2024

QUAL O MELHOR DEUS? - A RELIGIÃO E A DIVERSIDADE - PARTE 8 DE 11

A RELIGIÃO E A DIVERSIDADE HUMANA

Após eu ter passada essa visão de religião frente ao deus supremo, cabem alguns comentários sobre o que existe de errado com os cristãos que não veem isso da mesma forma e que são quem incomodam mais outras religiões.

Não vou ficar aqui falando de erros, porque, como eu disse, isso é infinito, mas, tudo isso neste texto, iniciou com a questão de qual deus escolher e a causa principal disso é a abordagem cristã para o tema que diz que somente eles cultuam o deus de verdade. Não se trata apenas da minha opinião, a história mostra isso.

Um dia desses, vi um padre famoso em uma entrevista respondendo a uma pergunta sobre isso, sobre a grandeza de deus e de que outras religiões poderiam levar ao mesmo deus. A pergunta tinha endereço certo, justamente o fato de os cristãos acharem que são os únicos certos e todos os demais errados. A resposta dele muito honesta, dizendo que tinha a esperança que depois que ele ou todos morressem e ao chegarem no céu descobrissem exatamente isso, que era o mesmo deus para todos. Gostei muito da resposta, considerando o contexto que ele está inserido. Contudo logo depois vi um teólogo católico, também conhecido, criticando-o, duramente, por contrariar os dogmas católicos que impedem essa posição. A posição do padre me pareceu muito razoável e equilibrada, apenas manifestando através de sua esperança uma resposta conciliatória, mas o teólogo considerou-a inaceitável, uma heresia, porque a resposta não repetia, automaticamente, um dogma basilar da igreja que sustenta o castelinho de cartas da teologia deles.

Assim a questão, que tratei aqui, está acima da honestidade intelectual, tratam-se de dogmas que devem ser defendidos a ferro e fogo.

O que vou abordar aqui, superficialmente, são algumas questões teológicas que levam o teólogo católico dogmático mediano a se posicionar como faz.

A pedra que está na base desse tema, como falei o tempo todo aqui, é o da propriedade de deus.

Atenção, vou iniciar minha explicação falando longamente dos judeus porque o problema desta questão inicia com eles mas o tema não está ligado especialmente a eles.

Como já citei, em vários momentos, os judeus escreveram que o deus supremo, o criador de tudo e todos, foi diretamente a eles, os escolheu em detrimento a todos os demais habitantes da terra em volta deles. Só eles eram bons e só eles mereciam sua atenção. Estou resumindo e traduzindo muito, mas, no fundo é esta a questão.

O mais curioso é todo mundo, até hoje, olhar para isso e achar normal. É evidente que, como eu fiz até agora aqui, que isso não faz o menor sentido, seja histórico como religioso.

Eles, os judeus, se consideram os eleitos, isso está na bíblia. No pensamento deles, como deus em pessoa foi até eles, fez aliança com eles e ensinou tudo a eles, o que eles sabem veio de deus e, assim, é a verdade absoluta. A religião que eles praticam é a única correta e qualquer outra que não seja a deles não tem validade, porque deus passou para eles daquela maneira e se tem alguém que pensa ou faz diferente é porque não foi deus quem explicou.

Mais uma vez estou simplificando muito mas é esse o caldo que sai disso.

Claro que já ouvi alguns rabinos se referenciando com respeito a outras religiões, mas, é uma posição contida, apenas educada, porque, no fundo o que vale é o que eu disse de eles serem os certos.

Sobre o judaísmo, Eu reconheço a mão de deus na construção da religião deles e respeito-os como uma religião ligada ao deus supremo. Vou mais além, o conteúdo teológico, as questões metafísicas, o entendimento exotérico, os valores e ética são muito bem estruturados. Na minha visão, considerando a visão da corrente cabalista (judeus têm muitas teologias), o entendimento que eles promovem da nossa relação com deus, do supernatural e entre nós mesmos é bastante boa, melhor até que a do que a dos católicos.

Por outro lado, a importância deles para a humanidade, na minha visão, se restringe apenas a terem servido de base para o cristianismo, porque, esta sim, foi uma religião que deus, junto com um estupendo trabalho de fé humana, usou para mudar uma parte do mundo ou ele todo.

Como todos sabem, a visão judaica da religião, não possibilita o proselitismo ou o missionarismo. Não existe a menor possibilidade de espalhar essa religião pelo mundo porque eles são um grupo étnico fechado que não aceita estranhos e não está interessado em divulgar a palavra de deus para outros povos. Eles gostam de se orgulhar com o que escreveram para eles mesmos, mas os não judeus jamais serão iguais aos judeus.

Se o fenômeno religioso é uma obra de deus e uma inspiração necessária para a humanidade, como expliquei até agora, a gente pode ver isso de 2 maneiras e prestem atenção no que vou dizer para entender esse capítulo.

Como falei a religião nasce de dentro da gente e é uma inspiração divina que abrange toda a humanidade. Algumas pessoas em especial, por motivos que poderíamos especular, mas não importam aqui, se dedicam especialmente a isso e se transformam em sacerdotes, teólogos e profetas. Criam religiões, seitas ou as promovem e espalham. Ninguém as obriga a serem isso, é algo que nasce com elas.

No caso dos judeus é evidente a ação de deus ao criar esta religião e após uns 6.000 anos de contínuo esforço moldou esse povo a valores e ética. Assim, foi um bom resultado, mas, contido nessa população. Sob o ponto de vista do deus supremo, ponto para ele, objetivo atingido. O fato deles terem desenvolvido essa visão restrita do deus supremo, como único e para eles, não é relevante para os não judeus.

Essa é então uma forma de ver isso, foi uma semente que floresceu no jardim de deus. Mas só deu uma árvore e não um pomar, não cobriu a terra. Essa semente única não permite a deus atingir todas as pessoas na humanidade.

Mas a grandeza de um deus supremo nos impede de achar que essa foi a única iniciativa dele, essa foi mais uma.

Mas, ter uma semente que possa se multiplicar para todo o lugar era o plano de deus? Era o que ele queria de fato? Se ao invés uma única religião obrigando a todos a terem o mesmo pensamento e até impondo uma cultura única, como fazem os muçulmanos, é o que deus pretendia? Ou o melhor era ter muitas religiões cada uma cobrindo regiões mais contidas com povos e culturas mais homogêneas, com diferenças, mas, remetendo ao entendimento do mesmo deus supremo e nos fazendo nos relacionar de forma ética?

Se olharmos que a civilização grega saiu do nada e criou toda a base filosófica que usamos até hoje, incluindo o sistema de governo, que isso foi espalhado no mundo por Alexandre, que depois vieram os Romanos se sincretizaram com eles e conquistaram a maior parte do mundo e que foi em cima dessa abertura, da unificação romana e da filosofia helena que o cristianismo se espalhou, a gente pode achar que, sim, parece um trabalho bem planejado e de longo prazo que deus fez.

Não sabemos, assim como não sabemos nada de deus.

Mas, com bom senso, podemos dizer que desde que cada religião atinga o seu objetivo de nos fazer pessoas melhores e de vivermos melhor uns com os outros, não faz diferença termos um única ou termos centenas.

Ter muitas religiões permite que diversidade humana permaneça como diversidade humana. Pessoas podem manter suas culturas e teias sociais próprias, sem que coloquemos todos no mesmo liquidificador.

Para a religião, importa o que ela faz com as pessoas e não a forma como faz isso. Se algumas entendem o deus supremo como 1 ou como 2 ou 3 partes, como os indus e os católicos, isso não tem nenhuma relevância.

O que temos de pior hoje em dia, na minha opinião, é o que representa o islamismo que além de impor uma visão única de teologia ela impõe às pessoas uma visão cultural e social, as pessoas nessa religião tem que viver como eles definem que vivam.

Assim, o islamismo, representa a forma mais negativa desse modelo de impor um deus único e uma religião única a humanidade. Eles são proselitistas e tem como dever uma “guerra” santa de se espalhar pelo mundo.

Voltem a pensar no que eu disse, qual o problema de termos várias religiões e ela chamarem deus de um nome diferente? Se elas se referem ao mesmo deus supremo e tem no seu corpo o mesmo objetivo, a meu ver, nenhum.

 

sexta-feira, janeiro 19, 2024

QUAL O MELHOR DEUS? - A RELIGIÃO E A GRANDEZA DE DEUS - PARTE 7 DE 11

 

A RELIGIÃO E A GRANDEZA DE DEUS

Mas veja, trazer complexidade não é o objetivo. Eu tive que falar isso tudo para poder dizer algo bem simples, que a religião não determina a existência de deus e, assim, pode existir mais de uma religião para nos ligar a deus, porque o deus supremo é divino e as religiões, todas elas, são obras humanas inspiradas por ele. O que muda nelas é a forma que as pessoas entendem deus.

Eu odeio pessoas desonestas que associam conclusões convenientes desconectadas das afirmações, como muitos teólogos e bacharéis de filósofia que eu assisto, alguns bem famosos e populares fazem, assim tome cuidado com essa técnica de enganar pessoas.

Assim eu falei as coisas na sequência:

1) religião não determina a existência de deus – Isso já expliquei, a religião é uma expressão humana de deus. Não é deus que cria a religião, são as pessoas que criam para poderem transmitir o que entendem de deus.

2) Não pode existir apenas 1 religião para nos ligar a deus – Claro, se religião é uma criação humana então muitas pessoas podem concebê-las. Deus sendo supremo e influente a todos, em todo o mundo e não apenas em um lugar, vai gerar o mesmo processo em muitas pessoas. Claro que nem todas vão querer criar uma religião nova, mas não existe possibilidade de alguém ter o direito de dizer que só ele tem a de verdade.

3) Como as religiões são criações humanas e são inspiradas por deus, podemos ter mais de uma religião inspirada pelo mesmo deus e naturalmente serão diferentes. A forma como cada pessoa entende e decide formatar esse entendimento é humano e, assim, distinto. Ninguém tem como afirmar que possui a melhor interpretação.

A base de tudo é a existência de deus. Isso é o início comum a todas as religiões.

A seguir, são as palavras de deus para nós, mas, essa transcrição é humana e tem 2 partes. Uma são os profetas e outra é a transcrição do que eles falaram, que é feita por outra pessoa, ambos, processos humanos.

Por fim, a interpretação dessas transcrições, que é a teologia, também é humana, como já expliquei.

Não tem nenhuma ideologia no que eu estou falando até aqui. Estou apenas descrevendo como as coisas são feitas.

Por essa razão é absolutamente normal que o mesmo deus supremo se manifeste ao redor do mundo através de religiões diferentes.

Esse mesmo deus, supremo, inspirará pessoas diferentes em muitos lugares e pessoas diferentes entenderão essa manifestação de maneira distinta, formatando seu entendimento baseado na visão pessoal.

Mesmo ateus ou céticos, que não acreditam em deus, entendem esse argumento de que, se existe um deus e ele é supremo, isso se dará dessa maneira, de forma isonômica. A influência, atenção, do deus supremo, o criador de tudo, que gera o fenômeno da fé e da religião não pode ser direcionada. Ela tem que ocorrer na humanidade inteira da mesma forma ao mesmo tempo.

Se o livre arbítrio é um dogma comum, deus não pode ter certeza de onde sua semente religiosa vai prosperar. Deus sabe que a religião é um componente basilar no modelo humano, como já expliquei e precisa que ela floresça e assim espalha isso pela humanidade.

Pensando de forma racional, uma dúvida honesta é por que deus precisa da religião? Por que somos obrigados a adorar e amar um deus que é supremo? Essas questão é importante e define a própria existência de deus.

A minha resposta honesta é que deus não precisa ser amado. Ele não exige adoração e veneração. Qualquer religião que diga que deus necessita disso estará espelhando um deus humano, aquele que é reflexo de você mesmo ou estará espelhando um falso deus, um não-deus.

Tem gente que diz que somos criados a semelhança de deus, assim, se temos vaidade e ego, deus também não teria? Parece-me pouco razoável. Mas, essa afirmação de sermos imagem e semelhança é apenas uma afirmação humana, o que sabemos é que somos uma criação de deus, uma criação plena.

Para não estender esse tema interessante aqui, o que eu penso é que, como já citei, a religião é um dos braços da balança da vida e o outro é o livre arbítrio. A equação da vida humana não fecha sem isso. Não pode haver livre arbítrio sem a religião, seria condenar as almas ao fim, não porque nascemos mal ou condenados, mas porque temos que ter uma ética que diz o que é o correto.

Você não pode dar a capacidade de tudo de um lado sem o que equilibra isso de outro. A religião, com seus valores e ética supra-humanos é o que nos mantêm inteiros como humanidade. Nós somos a balança e cabe a nós, de nossa iniciativa, buscar as virtudes, porque essa busca faz parte do livre arbítrio.

Esse é o modelo que encontro em Ifá e para mim faz todo o sentido.

Não estamos sozinhos nessa vida, o deus supremo através de suas emanações nos assiste, com limites e o que temos que dar para deus, em troca, é a virtude o bom caráter. No mundo que eu vejo através da religião existe espaço para o bem e o mal, o mal não é permanente e ateus não vão ser condenados ao inferno.

Dessa maneira esse é o sentido de existirem religiões e isso também justifica deus, porque é equilíbrio demais para ser apenas coincidência.

Mas deus atua no mundo todo. É como a gravidade. Todos vivemos no mesmo mundo e sofremos as mesmas leis naturais. Essas leis naturais não fazem distinção de pessoas.

Se todos entendem que existe um deus e ele é supremo e criador, como já tratamos, então toda a humanidade é sua obra e ele a influencia e atua da mesma maneira em todo o mundo e para todas as pessoas. As regras tem que ser as mesmas para todos. Não podem existir pessoas piores para deus.

Como já expliquei que a religião é uma criação humana inspirada por deus, as religiões serão criadas no mundo todo da mesma maneira e todas remetem ao mesmo deus supremo.

E porque todas remetem ao mesmo deus? Porque se elas reconhecem a existência de um mesmo deus supremo, esse só poder ser um, não podemos ter 2 deuses supremos. E nesse ponto você tem que encaixar toda a explicação que fiz sobre a estruturação de uma religião. Aquilo tudo não pode remeter a deuses supremos diferentes, pode derivar em formas de entender e estruturar diferentes.

Nas observe que, apesar do processo que eu citei ser humano e deus influenciar a todos, como eu disse que é natural de se esperar não se criam milhares de religiões. Não basta uma pessoa decidir criar uma religião, tem que haver um ou mais profeta, as comprovações da fé nisso, a transcrição, a teologia e o convencimento de muitas pessoas em torno disso para convencer outras pessoas.

Mas, sendo a religião uma obra humana ela não poderia se referenciar a um deus falso, um espirito humano ou um demônio qualquer se passando por deus ou apenas ser inventada pela cabeça de alguém?

Tudo isso é possível. Mas qual a consistência disso? Como isso se sustenta?

Tratar do erro humano é infinito, vamos ficar aqui um dia inteiro ou mais, apenas falando de coisas erradas ou coisas que podem dar errado. Esse foi caminho fácil que os cristãos adotaram porque não reconhecem a grandeza de deus.

Religiões e cultos são criados e acabam no mundo todo como consequência dessa origem errada. Mas nem sempre funciona assim tão simples ou rápido, temos atualmente uma religião grande, que exerce influência ruim entre as pessoas e que tem uma origem muito torta, mas, que permanece crescendo.

Assim, o respeito a grandeza de deus tem que nos fazer reconhecer que pessoas ao redor do mundo criaram formas e interpretações distintas do mesmo deus. Podemos não gostar por entender que estamos certos e por isso mesmo não temos que nos submeter a essas visões, mas, se cremos em um deus supremo temos que aceitar que todas tenham o mesmo objetivo que nós.

Vejam o meu caso, entendo que Ifá define muito bem deus e uma boa religião, acho que é coerente, com racionalidade, fé e demonstração da manifestação inequívoca de deus. Mas quem garante que estou certo e que não seja um pouco um muito diferente?

Ninguém. Assim o que é importante é a fé em deus e o efeito disso em nossa vida. É isso que se tira quando se espreme uma religião.

Finalmente, é nesse sentido que digo que não faz nenhum sentido a questão de qual deus devemos escolher. Não estaremos escolhendo deus, estaremos escolhendo a criação humana para nos ligarmos a esse deus. Deus sempre será deus, se estamos nos referindo, claro, ao deus supremo.

quinta-feira, janeiro 18, 2024

QUAL O MELHOR DEUS? - RELIGIÃO E TEOLOGIA SÃO OBRAS HUMANAS - PARTE 6 DE 11

 

RELIGIÃO E TEOLOGIA SÃO APENAS OBRAS HUMANA

Depois de abordar a questão de quem de fato falou com deus ou não falou e como essas obras foram elaboradas, a próxima questão é:

RELIGIÃO NÃO É DEUS E DEUS NÃO É A RELIGIÃO.

As pessoas que creem em deus mas não aceitam uma religião tem alguma razão.

Religião é uma organização humana, criada por humanos e formatada por humanos para:

  • Transmitir e interpretar o significado da palavra de deus para as pessoas

  • Essa interpretação tem como objetivo, nos dar um conhecimento sobre o que é a vida e nosso objetivo nela, sem contudo tirar de nós a oportunidade de viver uma vida nova a cada renascer.

  • Também tem como objetivo nos fazer pessoas melhores em relação a sociedade e as demais pessoas.
    Ela nos faz ser pessoas gentis, generosas e comunitárias, assim, deus nos motiva a ser sempre nossa melhor versão.

  • Trazer conhecimento de como podemos recorrer a ele e ao supernatural que ele criou para obter ajuda e superar dificuldades, sem interferir com nosso livre arbítrio (de ser bom ou mal) ou com o nosso esforço sincero em superar nossas dificuldades.

Esses objetivos são os que permeiam as religiões no mundo. São objetivos bons e justos que justificam a necessidade das religiões.

Religiões são necessárias e importantes. Elas são, de fato, nossa ligação com deus. Não existe ligação com deus sem uma religião e você vai entender por quê.

Só que a base da religião é a palavra manifesta de deus e foi sobre isso o que falamos primeiro. A religião se constrói em torno disso. É necessário existir a manifestação de deus primeiro, para depois se estruturar a religião baseada na teologia. Isso parece simples mas nem sempre é assim e é por isso que as vezes surgem e desaparecem religiões.

Mas a palavra é apenas o início. A religião se manifesta de fato na vida das pessoas através do que chamamos de teologia, que é a interpretação desta palavra que foi capturada e documentada por nós, homens. Apesar da importância que estou dando para a teologia porque ela é a transmissão da palavra de deus e do seu significado para a humanidade, a religião somente se manifesta com as pessoas percebendo a presença de deus na vida delas, a mão de deus.

Mas sem teologia não tem religião. Sem a palavra de deus não tem teologia e sem religião não tem deus na nossa vida.

Nesse momento, os que estão prestando atenção no que falo vão pular na cadeira, mas, vejam o que eu disse: sem religião não tem deus NA NOSSA VIDA.

Porque a religião é aquilo que tem como objetivo direcionar nosso comportamento, nossos atos e nossas ações como humanidade. Ter uma religião significa que você, de fato, acredita em deus e se dispõe a fazer o que ele orienta para você ser a pessoa que ele deseja.

Não vejo como coerente as pessoas que creem em deus mas não se sujeitam a nenhuma religião. Eu uso a palavra “sujeitar” intencionalmente, a religião traz um código de valores, ética e moral próprio.

Religião é feita para a relação entre humanos e não para nossa relação com deus.

Na verdade, também traz informações e orientações para a relação com deus, mas, essas orientações têm que ser a coisa mais simples da religião. Na minha visão, não podemos ter religiões honestas cujo foco seja a relação e submissão humana à relação com deus.

Mas, temos que crer em deus e aceitar as orientações ou regras, chame do que quiser, que ele nos dá para a nossa relação entre humanos e o mundo.

Como eu disse, religião não define deus, mas, define o que ele espera de você.

Assim, temos uma sequência obrigatória. Você tem que crer em deus, crer que ele se comunica com a gente através de sua palavra manifesta e, dentro de uma religião, entender através da interpretação dessa palavra o que deus espera de você nessa vida.

Nessa cadeia a única coisa divina é deus. Todos os demais elementos são humanos e não se consegue ter fé em deus sem, primeiro, ter a fé humana. Aliás isso foi uma coisa que eu aprendi rápido, pessoas que não tem fé religiosa é porque também não tem fé humana, os ateus, na minha observação prática são assim. Eles não acreditam no que as pessoas dizem, elas só acreditam nelas mesmas e nas coisas que consideram evidentes e factuais. O problema delas não e com deus é com as pessoas.

Avalie, se não tenho razão, por você mesmo. Se conhecer um ateu declarado, veja se alguém contar qualquer coisa que fuja do normal ou do esperado por ele, se ele vai acreditar. Mesmo se a pessoa que contar for uma pessoa confiável, mesmo que a história tenha detalhes o ateu jamais vai acreditar na outra pessoa. Mais ainda, como eu disse eles só acreditam neles mesmos, para qualquer coisa. A questão não tem a ver com deus e sim com a ausência de fé em tudo que não sejam eles.

Pessoas assim, que não tem fé humana não terão fé religiosa. Para acreditar em deus você tem que primeiro acreditar nas pessoas também.

Apesar de toda a fé envolvida na religião, você não pode perder o entendimento que, sejam as palavras como também a teologia, a interpretação dessas palavras, são atos humanos. Os homens interpretam as palavras de deus, que chegaram a eles de alguma forma e criam a religião para as transmiti-las para as demais pessoas.

A teologia é sempre a interpretação humana dessas palavras e é, assim também, uma criação humana derivada da nossa inteligência. Por isso poderemos ter, dependendo do povo, da época e do local, teologias melhores ou piores baseadas nas mesmas palavras sagradas.

Por essa razão, tenha muito cuidado com pessoas que falam em nome de uma religião e que explicam religiões. Essas pessoas que traduzem o significado das palavras de deus, em qualquer religião ou seja, lidam com os textos sagrados, fazem um processo humana de análise, interpretação e entendimento. Não existe nada de sagrado em teologia, é apenas uma visão humana.

Teologia é necessária? Sim. É absoluta? Não. Sempre poderão existir variações desse entendimento. No fim, teologia sempre será uma proposta ou uma tese religiosa.

Entenderam esse processo humana de gerar uma religião?

Vou dar um exemplo fácil de ser entendido:

Jesus não criou nenhuma religião. Ele nasceu judeu e morreu judeu. Ele nomeou 12 apóstolos para transmitir suas palavras e nenhum deles criou uma religião, todos foram mártires e eles também eram judeus.

A religião foi criada por pessoas que acreditaram em pessoas. A religião cristã foi fundamentada no Jesus mitológico, o teológico e não somente no Jesus histórico. Depois de iniciado o processo tomou rumo próprio. Muita teologia e textos do NT foram feitos por pessoas que jamais tiveram contato com Jesus. Elas escreveram sobre o mito. O primeiro entendimento teológico cristão mais organizado surge no século 2.

A teologia sobre a qual se fundamenta a igreja católica foi criada por homens através dos concílios. Os religiosos de alta hierarquia se reuniam em concílios que duravam meses ou até anos e definiam a teologia católica.

100% do que você entende que é a religião católica é baseada em teologia criada nesse processo e não necessariamente está na bíblia. Se você é católico ou protestante saiba que as coisas que você acredita que é a religião ou que deus ou Jesus disse são, na verdade, apenas criações humanas. Nada disso está na Bíblia.

O novo testamento é uma obra literária, criada sob medida, tardiamente aos fatos para estabelecer uma linha histórica e narrativa. Nenhum daqueles livros foi escrito pelas pessoas a quem lhes são dadas a autoria. Essa é uma área de estudo muito interessante e você se surpreenderia com o que pessoas tem a relatar sobre isso.

Não consigo abordar e explicar o pouco que sei sobre isso aqui e agora, mas, se você se interessar vai ter muito o que pesquisar.

O que estou explicando nesse momento é o processo humana envolvido na religião.

A religião cristã foi virtualmente moldada pelo que dizem que Paulo escreveu, basta ver a relevância dele no novo testamento e nas referências teológica. O NT são os evangelhos, as epístolas de paulo e o apocalipse de João. É por isso que eu digo que a teologia católica é apocalíptica.

Contudo Saulo de tarso, que não era um dos 12 discípulos e nunca conheceu jesus. Ele, supostamente, aprendeu sobre jesus através de discípulos de discípulos – Ananias e Gamaliel. Mas nada do que está no livro de Atos dos Apóstolos é confiável, existem 2 Paulos, o histórico e o mitológico. O de algumas das cartas, umas 6 é o histórico e o dos Atos é apenas mitológico. Ele entendeu que foi escolhido por deus e saiu pregando para os não judeus, criando igrejas e criando uma teologia nova através do seu entendimento. Sem dúvida fez um trabalho muito importante, tão ou mais do que os dos apóstolos judeus originais. Além disso ele foi mais um que se declarou profeta de deus. Ele dizia que deus inspirava o que ele falava. Só que ele não fez profecias ele saiu criando teologia do nada. Mas atenção, o livro atos dos apóstolos é uma obra teológica, nada ali é histórico.

Agostinho de Ipona foi outro que criou teologia unindo a religião com a filosofia grega. Ele criou teologia do nada para justificar o que precisa, como o pecado original. Ele é um exemplo da geração de teologia para explicar teses. Tomas de Aquino idem, esses 2 foram muito importantes na definição da teologia católica, mas, a teologia de fato nasceu nos concílios, não nasceu nem de deus e nem de jesus.

Mas a real teologia católica nasceu dos concílios. Foram os concílios que definiram cada milímetro da teologia católica. A Bíblia tem muito pouca relevância nisso. A teologia católica é a convergência da base bíblica do NT com a filosofia grega.

Por essa razão é que eu já ouvi de teólogos católicos que você primeiro tem que ser católico e depois você ler a bíblia. A religião deve nascer de dentro de você, do coração dando assim um aspecto muito sentimental a isso.

Isso não deixa de ser bonito, eu gosto disso, mas, racionalmente tenho essas explicações. Você não vai encontrar na bíblia a teologia católica, assim ler e decorar a bíblia é um exercício inútil. Os católicos se desprenderam da teologia judaica baseada no AT. Provavelmente os teólogos católicos sabem muito bem da origem dos livros no AT e do NT, principalmente deste último, assim não veem sentido em se fixar neles buscando ali a palavra de deus.

ISSO TUDO FICOU COMPLEXO?

quarta-feira, janeiro 17, 2024

QUAL O MELHOR DEUS? - QUEM SÃO OS PROFETAS? - PARTE 5 DE 11

 QUEM SÃO OS PROFETAS?

Existem dezenas ou centenas de textos que as pessoas que escreveram como textos teológicos e mensagens de deus. Deus é muito ativo, não parou de trabalhar como supõe os cristãos cessacionistas.

No caso do cristianismo muita coisa foi escrita, seja pela oportunidade como pela motivação divina. Até hoje, toneladas de livros teológicos são produzidos. Devemos supor que essas pessoas foram instadas ou inspiradas a fazer isso, não inventando isso da cabeça delas. Contudo, no caso cristão, poucos foram incluídos no cânone ou mesmp são classificados como apócrifos. O critério de montar o cânone do AT ou do NT foi exclusivamente humano. Essa é uma história que um dia eu falo.

A verdade de ser um profeta de deus ou não, está em cima de um fio muito fino. Profetas não eram pessoas que brilhavam no escuro.

Muitos desses autores são anônimos, creio que maioria, mas, existem pessoas que se auto-declararam profetas. Eu pesquisei a origem de algumas pessoas que se declararam profetas e criaram ou contribuíram para uma religião. Vocês se assustariam com os fatos. Veja Mohamed do islã, ele tinha pesadelos, não conseguia dormir e falou isso com uma pessoa. Essa pessoa disse para ele que isso ocorria porque ele era um profeta de deus. Ele acreditou nisso e passou a adotar, por conta dele essa versão. Ninguém o elegeu profeta, ele se auto-declarou. Nunca fez nenhuma profecia que se realizou e nunca fez nenhum milagre para demonstrar a sua ligação com deus.

Veja o caso de Paulo, ele se auto-declarou apóstolo. Mas ele nunca conheceu jesus, não foi um dos 12 escolhidos, ele disse que um anjo falava as coisas para ele e que Jesus “aparecia” para ele. Claro que existiu o Paulo histórico e o mitológico, mas o histórico saiu divulgando no mundo grego a divindade Jesus, criando teologia que estabelecendo a igreja cristã. Na teologia cristã, os pontos mais basilares não vieram do pentateuco, vieram dos escritos de Paulo, do Apocalipse e principalmente da cultura grega que moldou os mitos e os evangelhos. Essa é mais uma história longa que não dá para contar aqui.

Em comum nessas 2 histórias e em dezenas que existem na bíblia ou fora dela, é que ninguém falou ou viu deus, exceto essas pessoas que declararam isso.

Parem para pensar um pouco. Deus só se manifesta para muitos em uma passagem do AT, quando Moisés recebe os mandamentos. No NT supostamente quando Jesus é batizado.

Em todo o relato bíblico apenas os profetas é que se comunicam com deus. Só elas tinham esse contato, deus ou seus anjos, apenas se comunica com 1 pessoa e essa pessoa convence as demais.

Tudo depende das pessoas acreditarem neles e nenhuma dessas pessoas pode afirmar que foi o próprio deus. Como julgar o que é verdadeiro se o processo é o mesmo para todos os profetas independente do tempo?

Ellen white se dizia profeta de deus e o que ela falou e escreveu foi aceito e adotado apenas pelos adventistas. Os demais cristãos questionam e zombam dela ser uma profetiza.

Alan kardec não falava com deus, mas com espíritos que falavam em nome de deus. Qual a diferença entre falar com anjos ou espíritos, como no passado alguém diferenciava isso? Allan kardec criou o espiritismo como uma extensão do cristianismo, baseado no NT e é inegável o bem que isso trouxe a humanidade.

Qual a diferença entre Saulo de tarso, Ellen white e Alan kardec, entre outros? Apenas quem acreditou neles. Até hoje muitas pessoas já se declararam como profetas e quase sempre são refutadas por outras.

Nesse ponto vocês podem estar se perguntando, onde quero chegar?

No mesmo ponto, a religião é uma obra humana. E ninguém pode afirmar que o deus supremo falou de fato com qualquer pessoa. Como já disse, o modelo judeus de que o próprio deus supremo falou com eles e protegeu eles só entra na cabeça de pessoas que tem preguiça.

Esse longo bloco foi apenas para destacar isso, ninguém pode afirmar que tratou com o deus supremo. Pode falar que falou com uma divindade, um mensageiro, um anjo mas não se pode provar que se trata com o deus supremo. Aliás, anjos existem para isso, para serem mensageiros.

Pelo que eu disse até aqui já está claro para mim que eu posso dizer que o modelo que temos em Ifá no qual Olódùmarè é um deus supremo e que cuida, somente ele de toda a existência e que esse deus supremo não exige culto e estabelece divindades para o representar junto a humanidade, como seus ministros, com poderes para isso e baseado em suas regras é um modelo absolutamente racional, razoável e adequado para ter um deus supremo.

O modelo cristão de que o deus supremo falou com alguém e que essas palavras estão registradas na bíblia como foram ditas, não faz nenhum sentido teológico e histórico.

terça-feira, janeiro 16, 2024

QUAL O MELHOR DEUS? - QUEM FALOU COM DEUS DE VERDADE - PARTE 4 DE 11

 

QUEM FALOU COM DEUS DE VERDADE?

Apesar dos relatos usados na bíblia serem amplamente aceitos, hoje, por metade a população mundial e esses relatos mostrarem uma relação de exclusividade e intimidade de deus com o povo judeu, como se fossem únicos e especiais, não muda isso ser apenas a forma como os próprios judeus entenderam e escreveram para si mesmos, convenientemente, o que eles entenderam que foram as palavras de deus.

Foram eles, homens hebreus, que escreveram aquilo ali, do jeito que melhor lhes convinha. Deus não mandou nada escrito já pronto para eles e muito menos se preocupou em fazer edição posterior.

Deus não enviou um fax ou um manuscrito com as palavras dele.

Eu não questiono as palavras de deus que estão em qualquer religião, elas tem significado e objetivo. O que estou lembrando a todos é que foram homens as transcreveram, redigiram, estenderam ou até mesmo inventaram parte daquilo ou tudo aquilo. Se a inspiração ou vontade de escrever aquilo foi divina, a elaboração é totalmente humana.

Tudo o que está na Torat foi transcrito, editado e selecionado para publicação, por homens, ao longo de muitos anos. Não existe certeza da autoria dos textos e muito menos de uma única autoria para os grandes relatos. A cópia de originais foi obra de muitas pessoas que tinham a capacidade de ajustar, ampliar ou reduzir os relatos. Não existe nem mesmo uma real cronologia. Não existe a certeza de que os livros que estão no antigo testamento foram escritos naquela ordem, o que se tem certeza é de que não foram escritos naqueles tempos originais.

Existem enormes indícios que uma parte ou uma grande parte é repetição criativa de mitos sumérios. Existe uma grande certeza de que o genesis, por exemplo, foi escrito tardiamente, depois ou durante o exílio da babilônia para acomodar a teologia e não o contrário.

Vejam, não é o objetivo aqui avançar nessa crítica sobre a bíblia, não quero mudar o foco da discussão e quem quiser saber sobre isso procure a bibliografia e até canais no youtube que se dedicam a esse análise. Vou passar ao largo deste tema, apenas para fazer algumas afirmações simples. Estou tratando aqui da autoria das palavras escritas de deus.

E por quê? Porque, como eu disse, a base da religião, o primeiro elemento, são as palavras sacras e no caso dos judeus e cristãos eles usam essas palavras como sendo verdadeiras expressões de deus, como a história real e tratam a mesma coisa fas demais como mitologia, estorinhas. Mas, o fato é que a bíblia também é mitologia.

Antes de achar que as palavras da bíblia são sagradas e vindas de deus, aprenda que < 1% dos judeus da época sabiam escrever. Escrever era especializado, feitos por escribas que eram poucos e caros. O material para escrever era muito caro e raro.

Não havia interesse nas pessoas aprenderem a ler ou escrever. Isso era “ciência de foguetes”. Não havia papel ou tinta, isso, quando havia era absurdamente caro. Assim ninguém de fato aprendia a ler e escrever, documentos eram coisas da elite.

As histórias eram registradas na forma de canções e versos porque eram fáceis de serem decorados e, desta forma, tudo muito resumido.

Não existe nenhuma possibilidade dos personagens originais terem escrito ou mesmo pedido para escrever qualquer coisa, seja sua história ou sejam aquelas frases. Apesar de toda a incerteza que envolve a recuperação da história, a maior certeza é que os livros foram todos escritos muito tardiamente por pessoas especializadas em escrever que, assim, criaram as palavras, frases e narrativas baseada em histórias conhecidas oralmente.

Para o caso real do antigo testamento, os personagens originais, os profetas, se de fato existiram e não são apenas mitos, jamais escreveram ou registraram o seu contato com deus. Isso seria impossível para eles. Em um momento muito tardio um escriba faria isso, usando suas próprias expressões para relatar algo que estava na memória do povo. Além disso usando uma linguagem primitiva, com pouca capacidade de expressão. Um desses escribas inclusive escreveu por sua conta mesmo um dos livros do antigo testamento, afinal qual qual a diferença entre ele escrever o que falavam e o que ele achava que deveria ser?

Assim nem Moisés, nem Davi, nem salomão ou qualquer rei ou profeta escreveu nada, quiçá existe certeza da existência desses personagens.

O conteúdo dos livros da bíblia, no máximo, existia oralmente. Por isso que, ao longo dos muitos séculos, o povo judeu perdia o seu “fio da meada” e se afastava do monoteísmo de adonai. Os judeus só foram reconhecer esse problema no exílio da babilônia quando eles tomaram contato com a grande civilização da época, outras culturas e bibliotecas.

O exílio da Babilônia foi muito importante para os judeus. Foi ruim mas foi bom. Eles decidiram se converter ao monoteísmo e enriqueceram seu conhecimento do supernatural com o contato com outros povos, adicionando complexidade e profundidade.

Lá na babilônia eles decidiram duas coisas importantes. A primeira foi escrever os seus livros sagrados. Assim a Torat é uma construção muito tardia de tudo, um romance mitológico disfarçado de história.

A segunda decidiram eles mesmos serem monoteístas. Mas isso foi apenas em torno do século V AEC. Até essa época eles ainda tinham vários deuses, Adonai era, supostamente, apenas um desses deuses, mas, na Torat escrita ele virou o único desde o início, retratando, possivelmente, uma história que somente existiu na Torat e não no mundo real.

As palavras que estão ali, as frases e té mesmo o sentido foi escrito por profissionais em escrever. Os livros eram copiados manualmente e assim o que não mudou entre uma cópia e outra? Análises mostram que vários textos tiveram mais de um autor e foram escritos em momentos diferentes, isso é feito analisando o estilo literário e situações e locais narrados.

O que é certo é que quem viveu aquilo não escreveu nada e quem escreveu não viveu e esta é a razão de eu afirmar que quem escreveu não foi deus e assim isso não é sagrado.

Existem livros religiosos muito mais antigos do que a Torat. Os mitos sumérios e Ugaritianos antecederam a própria organização dos judeus e os indianos também antecederam-nos em vários séculos. Sem querer complicar muito, a própria unidade dos hebreus e as 12 tribos são coisas que surgem na Torat escrita.

Dessa forma, o que é sagrado em uma religião é a fé em deus. Deus é sagrado, suas manifestações são sagradas. Um livro humano não é sagrado por si só.

Vejam que eu não estou desvalorizando esta religião, estou dizendo que o livro bíblico não pode ser sagrado e adorado porque ele é humano. A fé é em deus, este é o sagrado. O livro, como eu outras religiões, documenta a religião. Eu lamento se tem pessoas que adoram a bíblia como sagrada e as palavras da bíblia como a representação das próprias palavras de deus.

Os demais povos no mundo todo, certamente, passaram pelo mesmo processo junto a deus, retratando cada um deles o entendimento do que deus significava e transmitia para eles em mensagens e visões que vieram da oralidade para a escrita em momentos diferentes.

Ninguém pode afirmar que o próprio deus supremo escreveu alguma coisa. O fato nisso é que ele não escreveu nada. O que podemos entender pelos relatos bíblicos é que, no máximo, um intermediário de deus com a humanidade, anjos por exemplo (cujo significado da palavra é mensageiro), falaram ou sugestionaram humanos a algum entendimento.

Lembro a todos que essa coisa de dizer que qualquer texto sagrado, a bíblia por exemplo, é uma obra de deus ou que aquelas são suas palavras, é figurativo, tudo aquilo foi escrito por homens, da forma como eles quiseram escrever ou como entenderam.

Esse papo de que as pessoas escreveram aquilo inspiradas por deus e por esta razão aquilo vira sagrado é argumento para os ingênuos. Eu sou religioso e tenho fé religiosa em deus mas não sou burro. É claro que houve orientação e inspiração para as pessoas agirem, as pessoas não criam essas histórias do nada elas viveram aquilo. Mas, vocês acham que deus incorporou na pessoa? Ou passou um fax? Ou um anjo possuiu a pessoa e escreveu aquelas palavras exatas?

Atenção, não estou tirando a credibilidade de textos religiosos, estou dizendo que 1) ocorreu no mundo todo e a bíblia é como todos os demais; 2) ainda assim é uma obra humana.

Não foi deus que escreveu aquilo, foram homens que escreveram, com o jeito humano de pensar, entender e escrever. As pessoas que escreveram não estavam em contato com deus.

Os cristãos aceitam com enorme facilidade relatos bíblicos de pessoas influenciadas por anjos para fazer as coisas ou receber as palavras de deus, mas, quando outras religiões relatam fenômenos similares com as divindades que essas religiões entendem, eles dizem que é o diabo.

Assim, parem de usar ou aceitar o argumento de que se está escrito na bíblia, do jeito tal, é porque é sagrado e vindo de deus. Parem de se fixar em pessoas que ficam fazendo interpretações de frases exatas e procurando se tem ou não artigo antes da palavra, se é um substantivo ou adjetivo. Parem de se preocupar como estava escrito em hebraico ou grego ou latim. Pessoas escreveram isso tudo.

E COMO É ISSO EM IFÁ?

Os nossos textos sagrados são os versos de ifá. Eles representam a mensagem de deus para nós na forma de versos que contam histórias e usam as mesmas estruturas de parábolas e metáforas. Além dos versos existem mitos e cantigas que representam a tradição oral. A origem disso é indeterminada, mas existem com formatos bem definidos.

O objetivo desse corpo literário é o mesmo de toda religião, trazer informação, valor e ética. Mostrar por exemplos como proceder. É esse corpo literário que é usado pelos Bàbáláwo para orientar e responder e orientar às pessoas que os buscam por orientação.

Como no judaísmo, existe o texto sagrado e a tradição oral que traz mais informações e detalhes sobre o que está nos versos. Observe que a expressão tradição oral não significa que isso foi apenas falado oralmente sem ser escrito, significa que é uma tradição de conhecimento que existe no povo ao lado dos versos e que define a visão metafísica.

Como os yorùbá não tinham escrita até o século XIX, tudo deles era oral e por isso mesmo muito mais falho do que o normal. Muito se perdeu e muito foi mudado ou se deteriorou. Muita riqueza literária se perdeu. Existem diversas fontes de versos de ifá e não existe uma compilação única.

Não se sabe a autoria e possivelmente são muitos autores. Entendemos que é inspirado por deus, porque ali tem muito conhecimento e muita consistência para ter sido uma obra do acaso.

Nossos versos e a tradição oral são obras humanas, resultado do entendimento humano. Deus não passou nenhum fax. Não se sabe a origem ou quem relatou isso inicialmente. O que sabemos é que era uma tradição 100% oral que foi transformada em textos a partir do século XIX e mais fortemente no próprio século XX.

Apesar disso as palavras são consideradas sagradas e pronunciar frases e nomes tem força de axé (àṣẹ) (energia). Isso é em Ifá e é em qualquer religião, nada diferente, inclusive na católica onde orações fortes são feitas em latin.

A forma como foram documentados os versos, exige do Bàbáláwo inteligência e critério. Repetir o que recebe sem pensar a respeito é o caminho do erro. O entendimento é fruto da interpretação simbólica do corpo literário. Não tem interpretação pronta. Além disso, devido a essa origem incerta e não documentada, não se aceita qualquer versão de nada. O fato de alguém apresentar um mito ou um verso não torna aquilo verdade, porque o Bàbáláwo tem que saber a natureza do que estpa lidando e a facilidade que existe em inventar coisas. Assim ser Bàbáláwo, o sacerdote de Ifá, é muito mais complexo do que muitos imaginam.

Sabendo esse contexto só idiotas repetem histórias de Ifá sem antes pensar e analisar o que ouviu, porque contexto é tudo.

Bom, voltando a questão desse bloco o processo de gerar texto sacro é o mesmo, alguém, um humano faz isso através de inspiração, sonhos, vidência e qualquer outro processo supernatural. Esta pessoa, apenas, vai receber isso e falar para as demais que foi deus que falou aquilo para ela e que ela jura que não inventou nada.

Mas atenção, qualquer pessoa pode escrever algo dizendo que está sendo inspirado por deus. Eu posso dizer isso agora também. Posso dizer que minhas palavras são inspiradas por deus.

Quem pode me contrariar?

Qual foi o critério que escolheu os textos que estão na bíblia? Qual critério de aceitar um profeta?

O HUMANO!

Assim como Jesus, além de suas ideias inspiradoras tinha que mostrar poder curando pessoas ou renascendo após a morte para que as pessoas acreditassem que eram mais do que as ideias dele mas também palavras e ideias de deus, o que torna profecias e profetas como aceitos é similar. Não bastam boas e inspiradoras palavras. Algo mais tem que tornar o profeta confiável.

Mas no fim, repito, será um critério humano que vai fazer isso ser aceito, as profecias e os profetas não vem com selo de qualidade de deus.