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segunda-feira, outubro 31, 2011

A importancia que devemos dar às liturgias

A importancia que devemos dar às liturgias


Uma das questões mais importantes e mais renegadas pelas pessoas que desejam participar de Ifá ou do Candomblé é a questão da importância da seleção de quem faz ou onde se faz as liturgias. Escolhas erradas vão trazer consequencias para o resto da vida daquela pessoa.

Mas para não trazer confusão ao tema vou tentar abordar isso de forma estruturada.

O primeiro elemento que todos devem ter atenção é a questão da religião iniciática. Existem religiões que não exigem iniciações, basta você entrar no tempo e rezar e sair a hora que quiser. Muitas religiões são assim. A religião católica é uma misto. Claro que você pode entrar na igreja a hora em que quiser, mas para participar da religião você passa por iniciações. A religião católica é iniciática. O islamismo, outra religião da mesma raiz e do mesmo Deus, tem uma pratica comum e uma iniciática. Os sufistas representam a parte profundamente mistica da religião.

No caso das religiões africanas que conhecemos elas são iniciáticas, assim, existem liturgias que são feitas para a pessoa iniciar sua participação. Essa liturgias visam a estabelecer ligações da pessoa com as divindades e também com a casa em que elas participam. Tudo isso é feito através de um sacerdote de maneira que a pessoa estará ligado à divindade ou a casa através de um sacerdote ou iniciador.

Este é o primeiro aspecto a ser observado. Ifa e Candomblé são religiões iniciáticas. Esta é a realidade de hoje. A pessoa não pode usar o mesmo modelo mental que usa para o catolicismo no qual todo mundo se batiza e depois faz da vida o que quer. Não se sente ligado a nada e a ninguém. Apenas acha que cumpriu uma obrigação social.

Essas religiões africanas não são assim, você não entra e sai como quiser sem que isso tenha consequencias para você. A coisa é muito séria.

As pessoas tomam a decisão de se iniciar por diversos motivos, nenhum deles os corretos ou nenhum deles no momento correto. Acho que no fundo existe uma vaidade muito grande, porque só isso explica uma pessoa decidir de iniciar com uma pessoa, em uma casa ou em uma religião que mal conheceu.

Mas do lado do sacerdote também existe muita imposição. O participante é empurrado para uma iniciação.

No meu pensamento, isso deveria ser diferente. As casas deveriam ter formatos para permitir a participação de pessoas com diversos níveis de envolvimento. A pessoa deveria poder ser um membro da casa com privilégios distintos. O formato hoje é muito restritivo e a pessoa pu é cliente ou é filho de santo, sendo abian (noviço, não iniciado) uma condição temporária que rapidamente deve ser mudada.

A existência da condição "cliente" é péssima. Nenhuma religião merece isso e somente tendo muita cara de pau você consegue achar que é normal um babalorixá chamar pessoas de clientes dele.

Os simpatizantes deveriam ser em grande número e incentivados. Eles deveriam ter acesso a atividades da casa, públicas que não fossem apenas festas e Xirês. Eles deveriam ter informação e ter contato com os Orixás.

Hoje em dia assistir a um Xire é ótimo, o axé esta em movimento, mas, poucos entendem o que esta ocorrendo lá. Poucos compreendem o formato, as musicas e as danças.

O status de uma pessoa na religião deveria evoluir com sua participação. Cada degrau deveria ser natural e ninguém tem que ser motivado a trocar de degrau. A cada degrau corresponderia um nível de envolvimento om a religião e com a casa.


Hoje já existem alguns tipos de iniciação. A feitura de Orixá é a mais definitiva e profunda, mas outras liturgias podem ser feitas sem gerar um vínculo tão extremo como a feitura. Isso pode ir de uma lavagem de contas a um bori e ainda com variações incrementais, assentamentos, sem que se faça uma feitura.

Mas tenham cuidado, ao se envolver com o Candomblé você será levado a uma iniciação e muitas pessoas nem entendem o que isso significa.

Cada tipo de liturgia determina o tipo de ligação que a pessoa estabelece com a religião. Como eu citei a feitura é a mais radical delas e NUNCA deve ser a primeira opção de ninguém. Uma pessoa deve passar por outros tipos de liturgia antes de decidir fazer uma feitura. Uma feitura é uma violência se feita para uma pessoa que nunca fez nada antes. Ninguém deveria sair da rua pisar em um terreiro e decidir ou ser decidido a fazer uma feitura.

A vida religiosa deve ser uma evolução. A pessoa deve frequentar uma casa, se envolver com a religião, aprender o que ela tem a transmitir, sentir que aquilo muda a vida dela e naturalmente dar um ou outro passo em algum tipo de iniciação. Os passos devem sempre ser pequenos e cuidadosos. A pessoa inteligente deve preservar a capacidade de se mover de lugares caso não goste da casa ou das pessoas da casa que decidiu frequentar.

A primeira coisa que se busca em uma religião é conforto e orientação. Você busca uma forma de ver a vida. Para isso é preciso informação, orientação e ternura. Todo mundo quer ser bem tratado.

O que menos se encontra em uma casa de Candomblé é informação, educação e ternura. O que mais se encontra é arrogancia, ignorância e pedantismo. Assim pense bem antes de entrar em um "quartel do mal". A religião é ótima e os Orixás são puro amor. Mas a natureza humana é a mesma e alguma coisas são exacerbadas ali dentro, assim, avalie bem se o ambiente que você esta frequentando faz bem para você.
Não bastam os Orixás. Eles estão em todo o lugar. Avalie as pessoas, a educação delas e o respeito ao próximo que elas demonstram. Essa tem que ser a primeira avaliação.

A seguir vem a questão do axé. O que ser recebe em uma casa além do que já falei é axé. Axé é a energia de vida que esta em tudo que nos rodeia e em todo o ser vivo. Em uma casa temos a oportunidade de equilibrar o axé e de recebermos o axé que necessitamos para compensar o que perdemos.

O fato de estarmos na casa participando de liturgias e Xires já nos permite isso. Claro que uma casa para preservar o seu Axé a proteger seus membros estabelece algumas barreiras para entrantes e não é qualquer pessoa que poderá participar de suas liturgias. Para você se habilitar deverá então dar os passos de iniciação.

Essa exigência é natural, as casa querem pessoas que se comprometam com ela e que estebeleçam uma frequencia contínua. Fora o Xirê, no qual todos podem participar, as demais liturgias serão restritas aos membros da casa.

Através dos passos iniciáticos você deverá estabelecer os vínculos com a casa e assim poder participar das liturgias de louvação a orixás mais profundas.

Nesse momento começa as suas grandes preocupações. 

No meu modo de ver, como já disse,  deveriam existir passos menores de iniciação e uma hierarquização de participação em liturgias baseado nesses passos. Isso não ocorre. Os babalorixás só pensam em si mesmos. Com passos menores a pessoa terá tempo para se acostumar a casa, as pessoas, as regras e à própria religião e seu estilo de vida.

Sim a religião vai implicar na mudança do estilo de vida da pessoa.

Essa é a primeira parte desse texto. Eu espero que as pessoas entendam que o Candomblé é uma religião iniciática e que elas devem tomar muuuito cuidado com iniciações. Tudo deve ser muito devagar e lento. E elas tem que estar atento ao ambiente e a pratica da religião que decidiram participar.

Iniciações e liturgias não são coisas bobas. Estamos lidando com o super-natural. Iniciações e liturgias geram ligações da pessoa com a casa e com o iniciador. Esqueçam a parte do Orixá. O grande problema é a ligação que é feita com a casa. Uma vez que passa por essas liturgias suas energias e sua vida passa a ser influenciada pela casa e pelo iniciador. Ignorar isso é a primeira bobagem que as pessoas fazem.

Tomem muito cuidado, as pessoas acham que  tudo é simples e artificial  não é. Essa ligação pode te ajudar como também pode te afundar. Ninguém esta acima disso e não ha força que vai impedir essa ligação depois de feita.

Pessoas gastam muito tempo e dinheiro desfazendo ligações que fizeram e se arrependeram. Isso é como uma tatuagem. Dolorosa de fazer e quase impossível de desfazer.

A segunda parte do texto é para aqueles que já conhecem algo de liturgias.

No mundo real as pessoas são levadas muito rápido a fazer um Bori que é uma liturgia muito bonita e profunda, não gera vínculo e traz um bem muito grande a pessoas sendo muito indicada para todos.

O problema é que o Bori é uma liturgia muito séria. Se uma pessoa tem um desequilíbrio de axé, existe muita coisa para se fazer antes. Em Ifá é assim. Muita coisa é feita antes de se indicar um Bori e este fica como ultimo caso para os casos mais sérios.

No Candomblé, vira e mexe o Babalorixá logo quer fazer um Bori. Claro, ele cobra caro por isso. Tudo é pago no Candomblé, o comercio esta na frente de tudo e Bori é algo valorizado e caro. Uma vergonha.

Tanto no Bori como em outras cerimonias, mas, muito forte no caso do Bori existe um problema muito sério que é a exposição que a pessoa tem. Claro que na feitura é muito maior, mas no Bori já é muito sério.

Um Bori é uma injeção de Axé na veia, bem radical e forte, mas para isso ocorrer a pessoa tem que baixar todas as suas defesas. Assim é como se a pessoa no Bori desativasse o seu sistema imunológico espiritual para que possa receber o axé. Se a pessoa que estiver fazendo o Bori, ou a casa ou mesmo as pessoas que estão presentes no Bori não estiverem muito bem preparadas e "limpas" essa pessoa com a sua cabeça no chão ao invés de receber coisas boas, axé, vai receber negatividade.

Além disso intencionalmente a pessoa que dá o Bori pode incluir elementos de ligação com ele e com a casa que não deveriam ser incluidos.

Muita gente sai de um Bori muito bem, outros desandam sua vida.

Dessa maneira muito cuidado com o que fazem. Toda liturgia é muito séria. Você pode estragar a sua vida se ligando a uma casa e a uma pessoa ruim ou se ligar a uma pessoa boa e quando decidir sair daquele lugar conhecer o lado negativo dessa pessoa.

Uma feitura é algo muito mais pesado e sério. è uma liturgia completamente intrusiva na sua vida e vai te afetar profundamente. O seu nível de exposição é muito grande. Sua vida literalmente pode desabar.

Sim, os Babalorixás são todos iguais. Raros, muito raros são os diferentes. A maior parte te enche de atenção enquanto você é um cliente interno. Quando decide sair por qualquer motivo aquilo vira uma ferida no ego dela e você vai pagar os seus pecados para se livrar dele.

Dependendo do tipo de iniciação você nunca vai se livrar. Assim se fizer uma feitura, jamais vai se livrar daquela mão.

Assim vou chamar muito a atenção disso. Não estamos lidando no Canmdomblé de liturgias que tem o famoso efeito placebo. Não são coisas que ou não te afetam ou te melhoram. Não são coisas que só vão funcionar se você tiver fé.  Você corre um RISCO.  O risco de dar certo ou de dar errado. No caso de dar certo você tem um benefício conforme esperado. Algo positivo ou sutilmente positivo. No caso de der errado é problema mesmo. Pode prejudicar sua vida fisica e espiritual, seu trabalho, seus relacionamentos e seu emocional.

Você esta preparado para esse risco real?

É como você colocar todo o seu dinheiro na bolsa. Você esta preparado para ganhar ou também perder todo o seu dinheiro?

Pessoas que fazem investimento de risco, esportes radicais e profissões de risco sabem o que estão correndo. Mas você sabe disso?

Tenham atenção. Existem boas casas e existem excelentes pessoas. Existe uma enormidade de casas ruins e pessoas despreparadas, mentirosas e fingidoras. Gente que nunca teve iniciação, nunca foi iyawo e nunca teve formação de Candomblé.

Tanto em Ifá como no Candomblé você esta lidando com o super-natural. Esta lidando com energias que existem nesse mundo e que você não ve. Você pode fazer uam coisa achando que vai melhorar ou então não ter efeito nenhum e pode acontecer o pior. Sua vida desandar e se você estava bem vai ficar mal. Se achava que estava ruim não sabia que podia ficar muito pior.

Valorizem o que é bom. Sejam críticos e atentos. É claro que para participar de uma casa a primeira coisa que a pessoa deve entender é humildade, hierarquia e respeito. Mas é a humildade do bem, a hierarquia do bem e o respeito do bem. Se habituar a seguir orientações e regras é uma coisa básica e ninguém entra em uma casa para dar ordens, mas, não sejam idiotas.

Não façam liturgia sem saberem o que estão fazendo e a consequencia para vocês daquilo. Se informem com mais de uma pessoa. É igual ir a um médico. Se alguém te recomenda uma cirugia você vai procurara opinião de outros até ter a certeza de que não tem outro jeito.



sexta-feira, outubro 21, 2011

A ética na prática de babalorixás e Iyalorixás que atuam mesmo estando doentes

A ética na pratica de sacerdotes com enfermidades


Para pessoas que não pertencem ao meio o assunto pode parecer estranho, aliás como muitos assuntos nesse blog.  Fazendo um parenteses, é bastante dificil estabelecer um padrão de conteúdo considerando os diversos níveis de conhecimento que as pessoas podem ter da religião.

Assim, na medida do possível os assuntos são tratados da forma mais claro e objetiva possível, mas determinadas questões poderão parecer estranhas para muitas pessoas que leem. Não são. São assuntos e temas que fazem parte do dia a dia.

Estamos lidando aqui com o caso de sacerdotes doentes que tenham doenças de diversos tipos, sejam contagiosas ou não seja cancer, aids, lupus, etc...  O conjunto de doenças é bastante amplo e pode variar de uma simples gripe a uma doença séria que o acompanhe por longo período e possa até mesmo levar para uma faze terminal.


O que muitos perguntam é se esses sacerdotes não deveriam interromper suas atividades em função dessas doenças. Novamente, pode parecer estranho essa colocação mas, sacerdotes de Ifá ou Candomblé lidam com liturgias, obrigações, troca de energias e limpezas energéticas (ebós).

Um babalawo ou babalorixá é muito diferente de um sacerdote cristão que usa o seu tempo para pregar e convenser pessoas. infelizmente falta aos sacerdotes de Ifá e Candomblé essa vocação para falar. São muito ruins nisso, porque como em qualquer atividade é a pratica que leva a perfeição e sem pratica não existe desenvolvimento.

Mas Babalawo e babalorixá lidam com outro tipo de atividade.

A ética envolvida nesse tema é que se a pessoas esta com uma doença, esta debilitado ou tem dentro de si um "mal" não deveria ele interromper a atividade de atender outras pessoas?  Não deveria ele resolver sua situação primeiro?  Não estaria ele pondo em risco ou comprometendo outras pessoas?

Sim, todas essas questões são justas, mas, não são simples.

Vamos sair do discurso idiota de dizer que não tem nada haver, e que a pessoa é um ser humano, que tem que ser respeitado, que não pode haver preconceito. PARADO! Isso é conversa fiada, como eu disse, coisa de gente idiota. Claro que essas questões tem que ser avaliadas e pensadas. Não vamos ficar nos perdendo em falsa moral ou sentimentalismo.

Como sempre digo, estamos lidando com ilações e opiniões. Cada um que escreva um blog e coloque a sua.

Vamos pelo be-a-ba. Um sacerdote é uma pessoa que manipula Axé.  isso já foi abordado aqui em outros textos. Existe um extenso texto sobre o que é um ebó que explica bem isso de maneira que não vou voltar a isso em detalhes.

Manipular axé significa lidar com essa energia de vida, significa recebê-la do Orun e transmiti-la. Também significa fazê-la movimentar, retirar energia negativa da pessoa e trazê-la para si. Significa também e principalmente a transmissão de axé, do axé do sacerdote.

Essa é a questão que as pessoas levantam: Se a pessoa esta doente, como pode ela transmitir axé para outros?


Eu não suponho que pelo fato de uma pessoa ter uma doença que requer um
tratamento contínuo e grave que ela vá transmitir essa doença ou seu mal através do seu axé.

Mas é importante que a gente entenda que ao realizarmos uma liturgia, um bori, uma feitura, uma ebó, uma matança, estamos realizando um operação de transmissão de axé. O Axé não fica no ar e a gente respira ele, ele é transmitido por quem realiza a liturgia, flui através dessa pessoa.

Assim a pessoa que executa algo é sempre uma pessoa de confiança do zelador se
não o próprio. Tem que haver a certeza da preparação da pessoa e de sua intenção. Não é só uma questão de a pessoas ter as famososas obrigações, tempo ou cargo. As pessoas que realizam liturgias, de ebó a bori, tem que ser pessoas boas, éticas, corretas, de coreção limpo.

Todo o processo de transmissão, além do axé que é direcionado através da pessoa que faz para a pessoa que irá receber, vai incluir majoritariamente a transmissão do próprio axé de quem faz, esse é o princípio básico dessa religião. O zelador ou a pessoa que trabalha no momento, cede o seu axé e recebe sim a carga negativa que retira do outro. Existem atividades que são estafantes além da própria carga física.

Sacerdotes e seus auxiliares devem o tempo todo estar se cuidando. Elas recebem negatividade e transmitem sua própria energia. Claro que existe também um processo de renovação, dependendo da liturgia que se faz, assim, ao se dar um bori ou uma obrigação que vai repor axé, o axé circula através de você fazendo você mesmo ficar melhor com isso, ou seja, repetindo, isso pode até fazer bem para você.


Mas,  pessoas que estejam debilitadas por doenças sofrerão um processo de prejuízo a si mesmo e isso deve ser evitado. Dependendo da doença que a pessoa tem e do seu estado, essa pessoa pode estar debilitada e usando o seu próprio axé para se manter bem. Passar para outros o que tem poderá fazer falta a si mesma.

Participar do processo poderá trazer um agravamento para ela, um desgaste adicional. Tem muita gente que conheço que quando esta com um gripe ou virose forte e ela se sente debilitada que não participa de ebó, não passa ebó e nem dá obrigação. Ela faz isso por ela mesma.


Outro aspecto além dessa perda é o quanto o que ela faz não é influenciado pelo seu estado. Esquecendo a doença, quando vamos fazer essas liturgias temos a recomendação de nos prepararmos para isso. Isso significa nos abstermos em dia precendentes de atividades e hábitos que não são recomendados para que estejamos de "corpo" limpo.

Em Ifá existe o odu otuwa ofun que diz sobre a recomendação de se preparar, de se limpar antes de uma liturgia para que ela seja aceita. Em oxéotuwa, Oxeotuwa só foi aceito no orun quando recebeu esse conselho de uma velha e teve sucesso onde todos os orixás anteriores haviam falhado (transcrito em Os nago e a morte).

Esquecendo a literatura, e indo para a prática, a gente tem a recomendação de ter muito cuidado com quem permitimos que faça os sacrificios. É um cargo dado a uma pessoa de estrita confiança visto que uma pessoa mal intencionada pode trazer prejuízo ao
processo e a quem recebe aquilo.


Quero aproveitar para lembrar que sacrificios é uma liturgia muito importante e rara nessa religião. Não faz parte do dia a dia e somente é feito em ocasiões e com motivos muitos especiais. É uma cerimonia simples mas muito significativa de confraternização com os Orixás, uma festa.

Continuando, se tomamos cuidado com a preparação do corpo e espirito e também com a intenção ou insenção de quem "opera" liturgias é porque existe mais coisas a considerar. O axé da pessoa, que é divino, é alterado ou sofre influencia de fatores da própria pessoa que o opera.

O caso de algumas doenças debilitantes podem se aplicar aqui e por isso mesmo requerem cuidado.

Se não houvesse nenhuma orientação de preparação para as liturgias, se a gente não se preocupasse tanto com a limpeza física e espiritual como fazemos eu diria que tanto faz, que a nossa atenção deveria ser somente para o caso se a pessoa se sente bem para transmitir axé.

Em Ifá uma coisa que a gente aprende a fazer é consultar o oráculo antes de iniciar um trabalho. Uma resposta negativa indica o nosso estado e não o do consulente, já disse isso aqui. A negativa pode requerer que você faça alguma coisa para se preparar ou se limpar.

Nós em nosso próprio dia a dia ou com alguma doença podemos estar com uma negatividade ou um espirito e que ou não devemos fazer ou que devemos nos limpar.


Dessa maneira sim é relevante a preocupação para todos os envolvidos da condição de saúde do sacerdote.

Muitos tolos minimiza essa questão, dizendo que o próprio orixá intervem nisso permitindo ou impedindo. O Orixás inclusive iria consertar algo feito errado. Eu vejo isso com restrições, uma grande bobagem.

Se o orixá intevisse em tudo o que fosse errado a gente não precisava ficar preocupado com os descalabros e marmotagens que vemos por ai. Era apenas esperar Xango mandar um raio ou uma pedra e estaria tudo acabado. Mas não é assim que acontece. Não existe intervenção divina e imediata na nossa vida. A vida é nossa aqui e cabe a nós viver. Os orixá nos ajudam, mas vivemos e depois prestamos conta do que foi nossa vida, mas, isso não impede ninguem de ser injustiçado, de ser roubado, de ser assassinado ou enganado.

Assim é uma argumentação muito simples e ingênua a gente achar que orixá resolve tudo ou que se Ori permite esta tudo certo, etc... Esta intervenção não existe dessa maneira e se estivermos fazendo algo errado vamos fazer mesmo.

Igualmente se uma pessoa não deveria estar trabalhando em sua casa em liturgias contra o bom senso ou o que é razoável,  porque iria o orixá intervir?

É nossa vida, nossos acertos e erros, eles não vão viver nossa vida. Por essa razão eu não coloco a espera dessa definição na mão deles. É na nossa mão que esta e nós que devemos pensar e agir.

As cruzadas foram feitas em nome do Deus Jeová, God wills it! era o lema, se lembram, Deus queria aquilo.... Dificilmente queria. Ou então para o julgamento das bruxas, inocentes eram queimados ou afogados, e nenhum anjo aparecia. Milhões de africanos foram acorrentados e sofreram em cativeiro, não lembro de nenhum caso de intervenção do orixá deles.

O que significa isso? Que o divino não existe? Claro que não, convivemos com a prova viva de que ele existe, mas, a vida é nossa e podemos fazer o que quisermos para o nosso bem ou nosso mal, senão não teria a menor graça.

Assim essas questões não ficam nas mãos deles e sim na nossa. O certo é o certo e mais a pessoa deve ter o conhecimento do que e o certo.


Se você faz o errado e incorreto, você e muitos outros vão sofrer com isso. O Divino dá recursos para você não errar, desde que você procure saber e aceite isso. Poucos assim o fazem.

Existe outro aspecto envolvido na atuação dos sacerdotes que são as doenças contagiosas. Isso não tem nada haver com axé e sim com saúde pública. Esses sacerdote não deveriam lidar com qualquer situação que leve ao contágio de outros. Para isso basta ele ter meio neurônio.


Sacerdotes que tenham AIDS passam a ter bastante restrição na sua atividade. Um sistema imunológico abalado o deixa vulnerável, um coquetel de remédios o deixa medicado todo o tempo e sempre vai existir o risco de contágio. Não se pode ignorar isso.

E se o sacerdote tiver hanseniase? Não vai ter que interromper para se tratar? ou as pessoas vão achar que isso é axé?

Se tem cancer? Esta fazendo quimio? Então ela vai ter muita restrição no que faz porque nesse momento sua vida esta sob controle, mas se esta fora de tratamento e se sente em condições de trabalhar, não acho que vá transmitir axé ruim para alguém.

Temos que pesar o bom senso, a questão do contágio e a questão da própria resistencia pessoal, porque, como eu disse quem executa uma liturgia não só movimenta axé como também energias negativas para si mesmo

Vou voltar em um ponto que já disse para encerrar esse texto. Muita gente foge desse assunto dizendo que o Orixá resolve ou que o Ori resolve. Não é assim. Ilusão acreditar nisso ou acreditar que essas pessoas procuram sinceramente esse caminho para se orientar.

quarta-feira, outubro 05, 2011

"Lendas Urbanas" do Candomblé


O título é apenas uma brincadeira com palavras, como existe muito no próprio Yoruba. O assunto aqui será algumas afirmações e dogmas que são usados no Candomblé e que não tem justificativa real. São coisas inventadas, distorcidas ou apenas falta de esclarecimento.

Claro que o que vou escrever representa uma visão e outros podem ver isso de forma distinta, mas, cada um que coloque a sua opinião.  Cabe a quem lê refletir sobre o que esta explicado para que ele faça o seu próprio juízo.  A grande diferença é você fazer sua avaliação baseado em uma explicação e não apenas em uma afirmação sem justificativa.

1. Jogo de Búzios através de Odu

Isto é um mito. Não se joga na realidade, no mundo real, no Candomblé Buzios por Odu.

Odu é a forma de comunicação entre Orunmila e seus sacerdotes.

Sacerdotes de Orunmila, Babalawos, usam Odù em seu oráculo. Odu não são números e nem coisas mundanas que qualquer pessoa usa. É uma resposta de Orunmila, a divindade responsável pelo Oráculo e carrega junto um monte de energia.

No Candomblé se trata Odu como se fosse um número qualquer, como continhas que se faz com datas e contando búzios em uma peneira. Não é nada disso. Odù nem tem relação com número.

No Candomblé se faz ebó para Odù fazendo coisas em quantidades pré-determinadas, como se Exu fosse contar a quantidade para saber de quem é o ebó.

Babalorixás jogam búzios hoje em dia por videncia e mediunidade. Ja ficou para trás, ha muito tempo a relação entre buzios e Ifá.  Ela existe, mas, já se perdeu faz tempo. Poucos são os Babalorixá ou Iyalorixás que sabem ensinar a jogar búzios. Isso é, porque, como eles vão ensinar um oráculo que eles fazem por vidência?

Não tem método, cada um faz de um jeito. Ai, ensina fica impossível...

Isso não significa que não existem bons olhadores. Mas quem responde naquele jogo de búzios é o Orixá ou então, no caso de pessoas que vieram da Umbanda os próprios guias de umbanda.  É isso mesmo, tem muito Baba/Iyalorixá que joga no Candomblé o mesmo jogo de búzios que ele jogava na Umbanda (aliás, que nem deveria jogar isso na Umbanda).

O Orixá responder no eerindinlogun é um coisa muito boa. Mas o correto é o oráculo ser recebido depois da iniciação, como um axé da sua casa e da sua pós-iniciação. Não são corretas as pessoas que já usavam buzios na umbanda e continuam a usar no Candomblé. Não houve nesse caso transmissão de axé e Candomblé é baseado em transmissão de axé.

Na minha visão, inclusive , não é correto nem a pessoa usar búzios na Umbanda. Isso não existe na Umbanda. É uma invenção baseada apenas em mediunidade. Pior ainda é a pessoa trazer isso para o Candomblé e achar que só porque esta no Candomblé é odu que responde para ela.

Mas o Jogo de búzios por Odù é um típico mito urbano do Candomblé, feito apenas para valorizar um produto de venda.

2. A pessoas tem que se iniciar no Candomblé

Ninguém tem que se iniciar.

Você pode passar a vida toda frequentando uma casa e sendo um abian. 

Se iniciar é sempre uma opção, algo que nasce de dentro de você, além disso, precisa ter um propósito. Ou você precisa ou a casa precisa e por ai vai.  Acima de tudo é uma doação de sua vida.

O problema é que os pai de santo querem é ganhar dinheiro e só se ganha dinheiro com Iyawo.

A pessoa gasta um dinheiro para fazer a feitura e depois as obrigações, os jogos e ebós por resto da vida. Tudo que der errado com você não será sua vida será algo que vai precisar de um ebó. E tome ebó na testa.

Existe uma industria de feituras alimentada por Pai de santos gulosos e pessoas vaidosas. O mal esta nas duas pontas, mas a pior parte sempre será a do pai de santo, porque é ele que lucra com isso. Se fosse de graça 1/00 ia fazer Orixá.


3. Se a pessoa "bola" ela tem que fazer o orixá com urgencia.

Não é verdade.

Você pode bolar 10 anos sem ter que fazer nada. Isso sempre será uma opção e não falta de opção.  Bolar de abre um caminho mas não é uma ordem ou imposição.


4. O Orixá castiga as pessoas

Falta de entendimento.

As pessoas não sabem explicar o que acontece na vida delas, as pessoas não sabem explicar o que é religião na vida dela, as pessoas não conhecem a sua religião. 

Assim fica mais fácil botar a culpa em quem não tem culpa.  Orixá é puro amor ele não esta aqui para maltratar ninguém.

Isso é uma explicação boba, é apenas um instrumento de impor vontades ou uma fuga para quem não sabe o que dizer.


5. O Candomblé é mais forte ou é uma evolução da Umbanda

Bobagem.

Não existe qualquer ligação entre a Umbanda e Candomblé. Essa ligação só existe na cabeça de pessoas perdidas, ignorantes ou desinformadas e na cabeça dos marmoteiros.

O Candomblé não tem vínculo com a Umbanda. Os orixá de Umbanda não são os do Candomblé e quem sabe alguma coisa de Umbanda não vai entender nada de Candomblé.

Esta cheio de Umbandista safado, que diz que ama a Umbanda mas que vai correndo atrás do Candomblé. Essas pessoas nunca foram de umbanda, nunca entenderam a Umbanda porque quem entende de verdade o que é Umbanda não precisa de Candomblé.

São 2 caminhos diferentes, como agua e óleo. Um tipo de pessoas nasceram para a Umbanda e outras nasceram para o Candomblé.

6. O Igba Ori tem que ficar no terreiro

Lugar de igba Ori é na casa da pessoa, junto dela.

Se Ori é o orixá pessoal, ele só interessa aquela pessoa, não tem sentido um igba ori em um terreiro.

7. Existe Pombo-gira e Preto-velho no Candomblé

Jamais!

Candomblé nunca teve Pombo-gira e exu. Isso é invenção dos marmoteiros.

O processo é simples, a pessoa é de Umbanda e decide ir para o Candomblé. Lá ela não se acostuma ou então não sabe nada de candomblé ou orixá, ai para não ficar sem ter o que fazer ele começa a trabalhar com exu e pombo-gira no terreiro dele. 

A pessoa não tem o que dizer para outras pessoas de cara limpa ai só resta o Exu para preencher a falta do que falar.

Antigamente chamavam de Omoloko os lugares que misturavam. Agora que a palavra esta desgastada a moda é dizer que é angola para poder ter Orixá e entidade de Umbanda.

Não é verdade isso. É a mesma enganação.

A verdade é uma só, Candomblé não tem nenhuma entidade de Umbanda. Exu e Pombo-gira debaixo de cumeira de Orixá, se for cumieira de orixá mesmo é uma falta de respeito.