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sábado, fevereiro 12, 2022

POR QUE TANTOS DEUSES NÃO PODEMOS TER APENAS 1?

 

POR QUE TANTOS DEUSES NÃO PODEMOS TER APENAS 1?

(esta é uma versão reduzida do texto original, esta é a versão do vídeo no canal)


Existe mesmo no meio de pessoas que dizem que fazem parte dessa religião, sejam sacerdotes ou crentes, o entendimento de que existe nela um culto a diversos DEUSES.


As pessoas chamam Orixá (Òrìṣà) de deuses como se isso fosse uma originalidade, mas, isso, é uma falta de entendimento sobre esta religião e, principalmente, o que significa ter muitos deuses em uma religião. E é isso o que eu vou explicar aqui.


Tenho um vídeo longo no qual explico politeísmo isso em muitos detalhes e vou lembrar de colocar um card aqui para vocês acessarem


No canal tem várias playlist organizadas por tema, não deixe consultar os temas das playlist e também vocês podem sugerir temas para uma playlist e para um vídeo


Mas, Já endereçando a pergunta principal, de termos ou não muitos deuses: POR QUE É NECESSÁRIO SABER ISSO?


Por que isso faz toda a diferença na forma como você entende sua relação com o divino e com deus. Se você não compreende como é o divino com o qual vai se relacionar, você vai se perder em meio a dogmas, práticas e rituais sem fim e sem razão. Você vai direcionar seus esforços e tempo para práticas desnecessários e crendices inúteis, porque acredita que têm que atender ou cultuar um monte de deuses e se faltar com algum será penalizada.


Além disso, esse assunto faz parte da sua relação em sociedade com as pessoas que convivem em torno de você. Ninguém é uma ilha e é sim importante as pessoas entenderem suas crenças assim como você entende as delas. Principalmente na sua relação com as pessoas que não respeitam a sua crença religiosa. Repito, você não pode ser uma bolha isolada do mundo.


Mas, voltando ao tema, não é verdade que essa religião cultue vários DEUSES. Nesta religião nós cultuamos apenas 1 deus.


Se você tiver um pouco de interesse em conhecer esta religião vai ver que ela é bastante normal, bastante simples, bastante devocional e não é baseada em fetichismo e animismo.


Antes de seguir um pequeno alerta todos, esse canal fala da teologia Ifá e do culto de Orixá (Òrìṣà) representado pela tradição religiosa do Candomblé. Existem outras tradições religiosas da chamada matriz afro-brasileira e nem todas elas estão ligadas a Orixá (Òrìṣà) e a esta teologia que eu estou comentando. Este é um tama complexo e se você quiser entender mais sobre tradições religiosas veja esse vídeo no Card.


Lembro, também, a todos que o correto é falar religião de matriz afro-brasileira. Esse termo “matriz africana” é incorreto, matriz implica em 2 dimensões que se encontram e unem. Assim a matriz é afro-brasileira.



Nesta religião – Candomblé e Ifá – não temos muitos deuses. Lamento decepcionar que pensa diferente.


Na verdade, nós só temos 1 deus, o maior, Olódùmarè, o deus criador de tudo, o único que tem a capacidade de gerar vida e o único que sustenta toda a existência no mundo. Isso, hoje, é um conceito simples e consolidado. Tenho longos textos no Blog explicando isso em detalhes.


Nesta religião este deus superior, Olódùmarè criou outras divindades, chamadas de inrumolé (Irúnmọlẹ̀) e os inrumolé (Irúnmọlẹ̀) existem como suas extensões na relação de deus com a humanidade. Os Orixá (Òrìṣà), por sua vez, são um tipo particular de inrumolé (Irúnmọlẹ̀), eles são diretamente ligados as pessoas.


A teogonia desta religião não é baseada em princípios como o que os deuses que casam entre sí e geram novos deuses, por nascimento. Não existe em Ifá qualquer verso que comprove esta versão ou afirmação, o que existe em Ifá é que Olódùmarè criou os inrumolé (Irúnmọlẹ̀) e estes dependem dele.


Já sei, vocês vão falar que maluco ou idiota e que todo mundo sabe que Orixá (Òrìṣà) é filho de outro Orixá (Òrìṣà). Pois é, mas isso não está em Ifá.



Todas as divindades existentes nesta religião e citadas por Ifá, os inrumolé (Irúnmọlẹ̀), estão ligados a relação de deus, Olódùmarè, com as pessoas. Não existem inrumolé (Irúnmọlẹ̀), ou seja divindades, ligadas a sustentação da natureza ou ligadas a qualquer coisa que não diga respeito as pessoas.


A única divindade ligada a sustentação básica da vida no mundo é o próprio deus superior, Olódùmarè.


O Orixá (Òrìṣà) é um inrumolé (Irúnmọlẹ̀) designado para estar ligado as pessoas pelo nascimento e não por devoção. Eles ligam as pessoas a poderes de Olódùmarè sendo assim um elemento-chave na relação de nós com deus. Os demais inrumolé (Irúnmọlẹ̀) que não são Orixá (Òrìṣà), Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) por exemplo, estão ligados a relação de deus com o nosso ciclo de vida como um todo.


Partindo de explicações documentadas pelo conteúdo dos versos de Ifá, é importante que vocês entendam que não é possível classificar os Orixá (Òrìṣà) como deuses. Eles são divindades originadas de Olódùmarè e dependentes dele e, desta forma, não são deuses autônomos. Além disso, não podemos ter deuses dependentes de outro deus. Ou são deuses ou não. Se quer me contestar procure primeiro conhecer as religiões politeistas (gregos, romanos, egípcios)


Orixá (Òrìṣà) não são deuses. Não repita isso, não é engraçadinho, é ruim.



A origem da expressão deuses vem do politeísmo greco, onde haviam deuses (divindades maiores) que competiam entre si pelo controle do mundo, na verdade pelo controle das forças naturais do mundo, dos sentimentos e que eram, de alguma forma, liderados por Zeus, que não era um deus superior e que podia ser contrariado, combatido e até superado, tudo era uma questão de força e poder. A teogonia greco-romana é muito distinta do que tratamos hoje nas religiões, esse modelo já foi amplamente superado.


Se você quiser entender melhor esse assunto de DEUSES leia o poema “Teogonia” do Grego Hesíodo. O politeísmo tem seu charme.


A atribuição da expressão Deuses, para nós é inadequada porque, deuses não diz respeito a quantidade de divindades e sim da qualidade da relação entre elas.


Deuses implica em independência e autonomia, ausência de soberania e não é isso o que ocorre nesta religião e nas demais religiões do mundo atual, que mesmo tendo várias divindades essas não são deuses.


Quando você tem deuses você não tem um deus superior. Todos são igualmente deuses, uns mais fortes ou mais influentes, mas são todos deuses e dividem o poder.


O que essa discussão teórica muda para você? Simples, se você tem diversos deuses que dividem poderes você passa sua vida cultuando todos ou diversos deles, porque cada um pode interferir de forma diferente em sua vida.

Essa estrutura não é só uma questão de entendimento teológico, ela muda toda a prática religiosa de se relacionar com o divino.


Com múltiplos deuses advém a necessidade de múltiplos cultos. Na prática você vai se perder em devoções. Assim se você não entende como esta religião é, você facilmente se perderá em complexidades artificiais criadas por pessoas que pretendem vender facilidades, favores dos deuses. Você estará em um ciclo doido de ritos sem fim e falta de entendimento do que realmente você faz de certo ou errado. Você vai buscar ou cair em explicações artificiais de problemas e estará mais preocupado em gastar dinheiro mais em ritos do que em refletir sobre você mesma.


Se você têm 1 deus, as demais divindades são uma forma de você recorrer a ele ou dele, esse deus o suportar e interferir na sua vida. Ou seja, isso muda tudo.


A religião não é uma estrutura criada para o culto a divindades. Entendam isso. Deus e os Orixá (Òrìṣà) não precisam de rezas e oferendas, não precisam ser bajulados e adorados.


A religião é uma estrutura criada por deus, sempre pelo próprio deus, para te oferecer um caminho de orientação e entendimento sobre você, sua vida e sobre a vida em sociedade. Também é uma estrutura que o ensina como recorrer ao supernatural, ao próprio deus, para obter ajuda e explicar a você quais as condições em que essa ajuda poderá ocorrer e em que medida ocorrerá.


A religião é uma estrutura de apoio a sua vida e não ao contrário. Você é o foco da religião e não deus. Essa é a grande distinção que deve ser feita. O homem é o centro da religião.


Entenderam porque faz absoluta diferença entender qual é o real modelo metafísico da sua religião? E que não se trata de uma discussão filosófica?


Essa questão de não termos deuses no Candomblé é entendida até mesmo por teólogos católicos. O padre paulo ricardo, que eu sempre cito aqui no canal, fez ha muitos anos atrás um vídeo sobre o Candomblé no qual ele reconhece claramente o modelo religioso correto.


Mas, qualquer pessoa que entenda um mínimo de teologia, tipo teologia de jardim de infância, reconhece que nesta religião temos um deus superior, a religião não é politeísta e os orixás não representam deuses menores.


Se os Orixá (Òrìṣà) não são deuses, então o que eles são?


Eles são manifestações teândricas de deus.


O que isso significa? - teândrico – palavra que eu canso de repetir aqui



Teândrico significa a manifestação humanizada de deus. Os Orixá (Òrìṣà),conforme está no Odù estrutural oxé (Ọ̀ṣẹ́) Òtúwá vem até nós um uma forma humanizada de modo que possamos nos identificar com ele e nos entendermos com ele através da humanidade de deus.


O que eu vou falar agora vai chocar a todo mundo:


Os Orixá (Òrìṣà) estão para nós assim como Jesus está para os católicos, jesus e os Orixá (Òrìṣà) são o mesmo tipo de manifestação de deus junto a humanidade, são equivalentes.


Não fique chocado com isso, deixe os católicos ficarem chocados. Você se acostumou a ver Jesus com uma importância maior do que deveria e existe muita gente nessa religião que acha que Jesus está acima dos Orixá (Òrìṣà). Mas eles são a mesma coisa.


As religiões são criações de deus e em cada religião deus construiu uma teogonia da forma mais adequada como, ele deus, compreendeu que as pessoas entenderiam sua mensagem. Ele fez isso de formas distintas no mundo todo.


Jesus faz parte da teogonia católica. Não existe dúvida que o catolicismo foi uma criação de deus e nesse modelo de comunicação com as pessoas, no modelo católico, eles dizem que deus escolheu ter para esta relação com eles, 1 divindade, Jesus.



Contudo o catolicismo é uma sequência da religião judaica e os judeus têm entendimentos diferente de sua teogonia. Os Judeus, povo onde essa religião nasceu, tem outra teogonia, com outros Jesuses e não reconhecem Jesus da forma como os católicos o entendem.


O catolicismo apesar de ser originado 100% no judaísmo é outra religião, eu não vejo muito sentido no catolicismo manter em seu Cânon, sua bíblia, os livros judaicos da chamada tanakh, visto que aquela visão de deus dos judeus, não tem nada a ver com a visão de deus estabelecida por Jesus. São 2 deuses diferentes, o dos judeus e o dos católicos.


Eu poderia avançar muito nesta discussão aqui, mas vou ficar só até esse ponto neste vídeo.


Enfim, não temos muitos deuses, temos 1 só deus.


Os Orixá (Òrìṣà) são o próprio deus junto de nós, não são sub-deuses. Os Orixá (Òrìṣà) são a forma como deus se faz representar junto a nós.


Os católicos acham que falam com deus, eles rezam a deus e a resposta é: o silêncio.


Apesar de acharem que devem rezar a deus, as igrejas estão cheias de santos e eles rezam de fato para os anjos, santos e a virgem maria. Rezam e fazem novenas e promessas. Até onde me lembro todo mundo tem seu santo de devoção, acho difícil um católico que não está ligado a um ou mais santos e santos eram pessoas.


Na nossa religião, nós cremos no mesmo deus que todos creem, mas esse deus, nesta religião, escolheu uma outra forma de se comunicar e se fazer entendido pelas pessoas, no seu objetivo primário de fazer as pessoas melhores e fazer um mundo melhor.


Nossa religião nos diz que deus nos ama de verdade. Deus não é raivoso, mau humorado, mesquinho e genocida como está nos livros do velho testamento. Deus na visão desta religião, nos transmite uma mensagem de que ele dá todo o suporte para a nossa vida aqui e que cuida de nós ativamente.


Eu não estou inventando palavras, não estou inventando interpretações e dogmas como os católicos fazem nos concílios. Estou falando o que está nos versos de Ifá.


Não preciso inventar nada.


Desta maneira nós falamos com deus através dos Orixá (Òrìṣà). Nós rezamos a deus através dos Orixá (Òrìṣà). E mais importante, deus responde a nós, se comunica com a gente através dos Orixá (Òrìṣà).


Os Orixá (Òrìṣà) são deus e não deuses.




Nós não ficamos orando ao vazio. Nós temos a oportunidade de ver nossas preces manifestarem. Não precisamos fazer nenhum grande esforço para crer em deus.


Da mesma forma como nós rezamos a deus através dos Orixá (Òrìṣà), os orixá se manifestam para nós, na nossa frente, transmitindo as bençãos de deus e nos mostrando que deus existe de fato, ele nos ouve e responde a nós.


Nós vemos deus ali, sempre na nossa frente se comunicando e nos abençoando.


Eles, os católicos, por sua vez, acreditam que falam todo dia com deus, mas, deus não responde e nunca respondeu, não estou inventando, é o que está no cânon deles, deus falava apenas com os profetas que ele escolhia e foram muitos profetas, Jesus era um desses, similar aos anteriores.


Nós não temos essa pretensão de falar diretamente com deus, a religião não nos direciona ao deus superior, nos direciona a nos relacionar com deus através dos Orixá (Òrìṣà), uma relação bilateral. Foi assim que nesta religião deus orientou o seu culto.



Os católicos, como eu disse, têm outra visão e não se incomode ou se preocupe com essa visão deles. Entenda a sua visão, a nossa visão, esta que você escolheu nessa religião. O mais importante é acreditar em deus.


Nós temos uma fé prática e divinamente humana, uma fé que nos acompanha no dia a dia. Eles se recolhem em silêncio nas igrejas.


O que esta envolvido aqui não é fé e sim a visão humana da prática religiosa. As pessoas não estão preocupadas com deus e sim em comparar a forma como umas procedem em relação a outras. É apenas isso que está envolvido nessa questão de 1 deus e de criminalização de divindades.


Não existe objetivo nesta fala em criticar os católicos ou judeus, eu apenas usei-os como referência, afinal eles são a religião dominante. Só que essa questão de 1 deus ou de vários deuses é apenas uma derivação humana deste tema.


Por tudo o que eu disse aqui, não repita essa fala de que temos muitos deuses, isso só prejudica o que a gente faz, desvaloriza a nossa prática e diminui a nossa representatividade.


Eu vou encerrar por aqui, porque já cheguei no meu ponto, como já disse teria muita coisa para tratar e ainda vou falar como animismo, fetichismo, imagens e sacerdócio, mas, fica para outros vídeos.



Vou encerrar com a fala final:


Não temos muitos deuses, temos apenas 1 o mesmo deus de todos, o mesmo deus que criou e mantêm tudo. Mas na nossa religião, deus se humaniza através dos Orixá (Òrìṣà), que não são deuses, são uma visão humana do próprio deus.


Esta não é uma religião que tem imagens, ídolos, fetiches e animismos. Católicos e umbandistas tem imagens. Fetiches e animismos pertencem a humanidade desde que ela existe e esta religião não é baseada em fetiches.


Deus fala com todas as pessoas do mundo. Ele escolhe a melhor forma para cada povo. Quem respeita deus de fato, não fica preocupado em dizer que só ele fala com deus.


sexta-feira, fevereiro 04, 2022

Imọlẹ̀ OLÓÒKUN

 

Imọlẹ̀ OLÓÒKUN

 

Qual a relevância do assunto?

O Imọlẹ̀ Olóòkun, no contexto do Candomblé, faz parte dos orixá (Òrìṣà) que são conhecidos mas que seu culto não foi trazido pela diáspora e depois dela na construção do Candomblé.

No Candomblé temos vários desses casos e, aqui, esse tipo de orixá (Òrìṣà), na verdade um inrumolé (Irúnmọlẹ̀), normalmente não recebe culto, isto é, oferendas, sacrifícios ou Xirê. Repito, as pessoas conhecem sabem que existe, mas, não faz parte da tradição o seu culto.

Minha ilação indica que sua citação se tornou mais comum a partir da década de 90, quando o Candomblé tomou conhecimento da literatura estrangeira sobre orixá (Òrìṣà), sendo assim sua referência sutilmente incluída. Pierre Verger sequer menciona esse orixá (Òrìṣà).

Aqui a referência mais popular diz respeito a Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà), ou simplesmente Ajé, tratada como filha de Olóòkun e orixá (Òrìṣà) da prosperidade, da riqueza. Igualmente, não citada por Verger mas conhecida pelas pessoas e que recebe oferendas para prosperidade.

Mas, devo dizer que, minha opinião é que, o conhecimento de Olóòkun assim como de Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) são simultâneos, como disse, posterior a década de 90, uma atualização do Candomblé, sendo que Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) se espalhou um pouco mais devido a ser associada em trazer a prosperidade, enquanto que a identidade de Olóòkun com o mar ficou sem utilidade, visto o culto bem estabelecido aqui ao orixá (Òrìṣà) Iemanjá (Yemọjá).

No Brasil, assim como em todo o novo mundo, o orixá (Òrìṣà) Iemanjá (Yemọjá) é quem foi trazido e passou a ser identificado com o mar de forma geral. Na região Yorùbá, Iemanjá (Yemọjá) era, assim como Óxun (Ọ̀ṣun) e Oiá (Ọya) um orixá (Òrìṣà) identificado com o rio, assim como outros, visto que existe um aspecto de regionalismo no culto a orixá (Òrìṣà) Yorùbá, diferente do nosso aqui no Candomblé, diáspora, que reuniu debaixo de uma mesma casa, orixá (Òrìṣà) de regiões diferentes.

Em função desta fusão de cultos na mesma casa, adaptações fora necessárias e uma delas foi a separação da identificação do orixá (Òrìṣà) com o meio natural, assim, aqui Iemanjá (Yemọjá) ficou ligada ao mar, Óxun (Ọ̀ṣun) ficaram ligadas as águas e rios e Óiá (Ọya) ficou como o orixá (Òrìṣà) de ventos e tempestades.

Note a adaptação de Óiá (Ọya) a tempestade, visto que não temos aqui os redemoinhos de ventos e assim não poderíamos associar Óiá (Ọya) a isso.

Eu não posso deixar de citar esse aspecto de associação de orixá (Òrìṣà) com esses elementos naturais, mas, também não posso deixar de afirmar a todos que, orixá (Òrìṣà), não é o elemento da natureza, orixá (Òrìṣà) são divindades ligas às pessoas, a maior parte deles ancestres divinizados e eles não são os elementos da natureza. Essa minha afirmação é facilmente confirmada pelos versos de Ifá e mitos da religião e cito apenas um, o verso do Odù Oxé-Otuwa, que mostra que Olódùmarè enviou os orixá (Òrìṣà) para cuidarem das pessoas.

Voltando a Olóòkun, da forma como a diáspora se organizou não sobrou espaço para Olóòkun, apesar de sua relevância no contexto Yorùbá. Iemanjá (Yemọjá) foi associado com o mar de uma forma geral e somente recentemente, no processo de reafricanização, é que Olóòkun aparece e passam a dizer que Olóòkun está no mar aberto e profundo e Iemanjá (Yemọjá) está na beira do mar, sendo que alguns a associam a praia.

Certo ou errado é isso que se estabeleceu.

No caso cubano vemos alguma presença de Olóòkun, que foi levada para a ilha, mas cujo culto estava incompleto e acabou se perdendo ou enfraquecendo. Lá como cá, Iemanjá (Yemọjá) foi o orixá (Òrìṣà) predominante, mas, Olóòkun era, sim, associado ao mar aberto e profundo. Meu entendimento é que esse culto foi estabelecido em cuba, mas como as pessoas não tinham informação adequada, ele foi tratado como um orixá (Òrìṣà) que os cubanos dizem que é de mesa, eles oferecem comida mas não tem ritos de iniciação.

Aliás essa é uma diferença muito marcante entre as 2 tradições de orixá (Òrìṣà), a cubana e a brasileira. Aqui, orixá (Òrìṣà) sã aqueles que temos os ritos, se não temos ritos viram uma qualidade não cultuada de algum orixá (Òrìṣà) ou mesmo não são referenciados. Ou sabemos e cultuamos ou não cultuamos. Os cubanos têm um conjunto maior de divindades, mas, na minha opinião eles inventam muito, criam coisas deles, geram conhecimento, mudam cultos, mudam entendimentos, criam mitos para se justificarem. A distância deles da tradição yorùbá é muito maior do que a nossa.

Finalizando, a relevância de Olóòkun é no sentido de reafricanização, de restauração do conhecimento sem que isso signifique utilidade real, visto que nossa tradição do Candomblé se resolveu sem isso. Não sei o cenário nas demais tradições, como o Batuque e o Nago.

Para mim esse orixá (Òrìṣà) tem relevância, estou ligado ao culto de ifá ha muito tempo e ele sempre aparece em consultas como destinatário de oferendas. Sem dúvida nenhuma o orixá (Òrìṣà) derivado, Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) tem relevância para pessoas que precisam de ajuda.

 

O gênero do orixá (Òrìṣà) Olóòkun

Sem dúvida a primeira questão que surge quando se fala de Olóòkun é seu gênero, visto que é tratado como masculino ou feminino. A origem desta confusão está na própria região yorùbá. Em Ilé-Ifẹ̀ e em alguns poucos lugares ele é tratado como feminino e no resto do território yorùbá como masculino e isso já é suficiente para trazer confusão aqui.

Minha opinião é que deve ser tratado como masculino.

 

Origem do orixá (Òrìṣà)

Eu trato no início do texto Olóòkun como um inrumolé (Irúnmọlẹ̀) devido a convenção de que orixá (Òrìṣà) é aquele que fazemos “na cabeça” das pessoas, divindade que tem pessoas iniciadas para ela.

No Candomblé não iniciamos as pessoas para Olóòkun e assim prefiro me referenciar a ele como inrumolé (Irúnmọlẹ̀).

Mas, neste texto vou tratar ele genericamente de orixá (Òrìṣà).

Sobre essa questão de iniciação, como estou vez por outra citando os cubanos, chamo a atenção de que o que chamamos de iniciação é bem diferente do que os cubanos e nigerianos chamam. O termo correto para a nossa liturgia é feitura, porque eles usam o termo iniciação para um processo bastante superficial. Assim, para nós iniciação e feitura são sinônimos, mas, isso não vale para outras tradições religiosas. O que fazemos é feitura, a iniciação deles é um processo bem mais ou menos.

É amplamente aceito que o culto ao orixá (Òrìṣà) Olóòkun se difundiu do Bini para os Yorùbá. Bini é uma região a leste da região yorùbá, onde fica a cidade de Benin (não o território do Dahomey, que fica a oeste). No Bini fica o povo Ẹ̀dó e esses 2 povos, o yorùbá e o Ẹ̀dó apesar de distintos culturalmente tem muita ligação e, também claro, proximidade.

Olóòkun é a mais popular e amplamente cultuada divindade no Benin. Sua importância é maior do a do seu pai, Osanuoba, como veremos, a grande divindade dos Ẹ̀dó. Olóòkun é identificado com o grande oceano da terra que cerca toda as porções de terra e para onde fluem todos os rios.

Observem que essa associação entre o oceano e os rios eu ainda não tinha percebido. Todos os rios fluem para o oceano e dessa maneira a divindade que está associada com oceanos passa também a estender sua influência aos rios.

Olóòkun é dito, desta forma, a ter o controle de todas as fontes de água do mundo, incluindo rio e mar. Considerando a proporção da água no nosso planeta Olóòkun é muito poderoso e rico, visto que a água está associada com a prosperidade.

Paula Ben-Amos, assim como John Mason (na minha opinião, John Mason cita exatamente o que Paula Ben-Amos escreveu), citam que Olóòkun é associado diretamente a um rio etíope chamado Olóòkun, que ficaria na região a sudeste do reino, o território Bini. Não localizei esse rio, com esse nome. Geograficamente e por tamanho encontrei o Rio Niger, mas, que está longe de ser um rio da Etiópia, que está muito distante da cidade do Benin.

Olóòkun também controla o reino que os espíritos humanos devem atravessar para nascer ou depois que morrem para ir ao órun (Ọ̀run). O caminho que os espíritos que partem do Àiyé para o órun (Ọ̀run) reside em atravessar o mar e todas as almas, sejam as que morreram ou as que nascem, devem passar sobre a água do mar.

Esta última associação, dos espíritos que nascem e devem passar pelos domínios de Olóòkun é que faz esse orixá (Òrìṣà) ser considerado o provedor das crianças para os Ẹ̀dó, para os quais, grandes famílias são fonte de prosperidade e prestígio.

Segundo John Mason, esta conexão de Olóòkun com os espíritos dos mortos é feita através de uma grande caixa decorada com espelhos e panos brancos, usadas em ritos mortuários para simbolizar o status e a prosperidade do morto. Não sei se isso esta associado aos cubanos ou também aos Yorùbá.

Em Ifá, no Odù Ìworì Méjì, na história que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) volta ao órun (Ọ̀run) deixando a terra, no Àiyé para sempre, a história cita que ele vai ao órun (Ọ̀run) através dos domínios de Olóòkun.

A associação de Olóòkun com o mar existe tanto na cultura Yorùbá como Bini, sem dúvida, mas a ligação com os espíritos mortos não ficou clara para mim. Isso existe, sem dúvida, no Odù Odù Ìworì Méjì e outros, mas a origem disso eu não entendi. Pode ser que os corpos humanos fossem jogados no Rio ou mar após mortos, ou o fato de as pessoas afogarem nas águas indo assim para o órun (Ọ̀run).

A associação com a riqueza é em função do mar, principalmente ser uma fonte de riqueza. O dinheiro Yorùbá era feito com búzios, os corais eram objetos caros de adorno, a pesca alimentava as pessoas.

Em sua genesis, os Bini acreditam que Òsànóbùa, sua divindade principal, e Anume, sua esposa, tiveram 3 filhos, chamados, Òblẹ́mwẹ̀n, Olóòkun e Òglùwú. O costume Bini estabelece a superioridade de machos sobre as fêmeas e desta forma Olóòkun assumiu uma posição de superioridade em relação a sua irmã Òblẹ́mwẹ̀n. Um dia Òsànóbùa enviou seus 3 filhos com o poder e a missão de criar o mundo. Naquele tempo o mundo era uma imensidão sem fim de água, que tinha apenas uma árvore Ikhinmwin (igual a um Akoko).

No alto desta árvore vivia um pássaro chamado Ọ̀wọ̀nwọ̀n