TEXTO ANTERIOR: Onde fica a sociedade egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)?
Como
é a composição do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)
Uma vez que tratamos
dá, extremamente importante, questão da localização do egbe
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) no Ìrònà
e não no órun (Ọ̀run), o próximo assunto importante é tratar é
o de sua composição, quem
faz parte do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)? Esses
2 temas, sua localização e sua composição, que estão ligados,
determinam tudo no entendimento do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
Os mitos sobre
o assunto mostram que o egbé
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) está associado a uma sociedade de almas
juvenis (vou explicar a razão
de serem
juvenis, mais adiante)
que se associam em
uma comunidade e na
qual os Àbíkú, são
uma parte desse grupo, sendo
esta, a dos Àbíkú, a sua
face mais conhecida entre
nós, mas o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) não se limita eles.
Essas almas são de crianças
e jovens que morreram de forma não natural, antes do seu tempo
prevista e assim sua vida foi interrompida. Em função das razões
que levaram a sua morte, as almas, ainda no estágio juvenil não vão
para o órun (Ọ̀run), ela ficam no Ìrònà
e neste espaço metafísico se associam formando a sociedade do egbe
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Elas
permanecem juntas até um renascimento ou por sua volta definitiva ao
órun (Ọ̀run).
Para falar, mais
profundamente, de sua
composição eu tenho que voltar a falar de sua
localização, porque a composição está diretamente
definida à localização. Ao
localizarmos o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) no Ìrònà
nós trazemos simplicidade,
realidade e consistência a esse assunto. Todo
os incidentes que envolvem o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) ficarão
fáceis de serem entendidos e explicados. Deixaremos
de ter a necessidade de
criar um modelo
mirabolante e intrincado para
explicar seus atos e efeitos.
A localização no Ìrònà,
como já explicado, é que a
faz mais sentido metafísico e ela permite
definirmos
e restringirmos
um escopo
de membros, que podemos
explicar, enquanto que, se
usarmos a localização no órun (Ọ̀run) a composição do que é
chamado egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) ficará
infinita.
A visão, alegórica, de que o
grupo de companheiros espirituais é formado no órun (Ọ̀run) e que
esse grupo interfere, a seu bel prazer, na vida dos renascidos, cria
um escopo ilimitado para sua composição, visto que, qualquer
espírito que está no órun
(Ọ̀run) poderia pertencer a essa turma.
Qual será o escopo
do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) se esta expressão
significar
órun (Ọ̀run) de fato? TUDO,
todas as divindades e todos as almas que não
estão no Àiyé passam a
fazer parte do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Isso não faz
sentido! É como se estivéssemos definindo uma teologia paralela,
que é o que ocorre na prática como
vou justificar adiante.
Este modelo
ruim, baseado no órun
(Ọ̀run), estabelece,
literalmente a possibilidade de o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)
ser
a sua turma de amigos, tipo os amigos do futebol, do bar, da escola,
etc.. A composição seria ilimitada. Se
juntarmos a isso funcionalidade
real do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) de interferir na vida do
Àiyé, mas devido a localização considerarmos que,
existe a
livre interação entre
os espíritos Ara órun
(Ọ̀run), viventes no órun
(Ọ̀run), com os Ara
Àiyé, viventes do Àiyé, temos uma confusão infinita
estabelecida. Essa visão teológica
não explicaria
nada para nós no Àiyé, não
justificaria problemas porque criaria
uma dimensão muito ampla
para a origem de problemas que
afligem os Ara Àiyé. Isso,
até certo ponto, seria muito conveniente para as pessoas, porque
tudo o que não está bom na vida dela, tudo o que ela não consegue
realizar porque não se comporta direito ou não faz as coisas
direito, poderia ser associado ao egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). É
um modelo bastante indulgente e
também conveniente para os Bàbáláwo,
Babalorixá (Bàbálórìṣà) e Iyalorixá (ÌyálÒrìṣà),
sacerdotes desta religião, interessados em comercializar soluções
mágicas. Eles poderiam inventar
um sem número de causas, artificiais e inexistentes, para justificar
problemas e cobrar por trabalhos que não resolvem nada.
Vou
repetir. A visão da localização do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)
no órun (Ọ̀run) e não no Ìrònà,
associada com a visão, que vem junto, de que espíritos do órun
(Ọ̀run) vão livremente para o Àiyé, na forma de espíritos e
interferem na nossa vida aqui, representa uma desordem teológica, é
uma maluquice, que não contribui para ninguém, dentro da religião,
que não sejam os
sacerdotes, que usam isso para aumentar bastante o seu comércio
religioso de favores, inventados
e de placebos.
A
questão da composição, é
uma das partes fundamentais desta questão do
entendimento e do tratamento do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run),
mas, ela é consequência da
localização do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Não adotar a
tese do Ìrònà
possibilita um modelo maluco e idiota e, desta forma, é
mais uma das razões pela qual o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)
não pode estar ligado realmente ao órun (Ọ̀run), porque
isso afeta a questão da
composição do mesmo, criando uma legião infernal de
membros e uma complexidade
indescritível.
Para comprovar esta minha
afirmação de complexidade eu
vou propor 2 coisas. A primeira é entender o modelo teológico que
estou explicando aqui, que não é autoral, é exclusivamente baseado
no que está na religião. A segunda é indicar que procurem
outras fontes, livros e vídeos que tratam sobre o tema egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run) baseado nesse modelo que eu digo ser o errado, o
ligado ao órun (Ọ̀run).
Tomando como referência a
livraria Amazon, verificaremos
que não tem muita gente
falando sobre esse tema. Uma parte um pouco maior fala sobre os
Àbíkú, que é o assunto mais popular
e tradicional e, destes,
a maior parte na forma de novela, ficção.
Em livros sobre Ifá
ou sobre a religião, geralmente são reservadas apenas
algumas páginas, com pouca informação, sendo
que, as melhores referências
eu já citei
no início do texto.
Eu encontrei apenas uma
publicação falando de egbe
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) na
Amazon, cujo
autor é Ifayemisi
Elebuibon.
Na verdade trata-se de uma
autora, Ifayemisi é mulher e bem nova. Ela
não é Bàbáláwo
e desta forma falta-lhe
prática de oráculo ou mesmo de Ifá
para tratar do tema. Neste livro ela usa,
ao extremo,
este contexto órun (Ọ̀run)
para desenvolver o assunto, mas, faz uma obra, como
eu previ, alucinada,
misturando coisas diferentes
da religião e criando
figuras novas.
Ele multiplica divindades
ligadas ao egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), associa
divindades regionais existentes como se fossem parte do todo comum,
cria novos
nomes para elas e finalidades
de atuação. Lembro que o
estabelecimento de áreas de atuação especializada não
faz parte desta religião. Ela
chega ao ponto, absurdo, de
dizer que, se temos esposa no órun (Ọ̀run) esta
interferirá
em nosso destino no Àiyé, justificando com isso nossa dificuldade
em encontrar a felicidade, devido
a atuação e ciúmes desse
espírito. Este livro é um
festival de besteiras, mais
do que seria normal, e que
tem origem, como eu digo, no entendimento que o egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run) está ligado ao órun (Ọ̀run).
No
Youtube o panorama não é diferente. Pouca gente consegue escrever
mas todo mundo sabe falar. A quantidade de pessoas falando sobre o
tema se multiplica e o objetivo disso parece
o mesmo. Nos vídeos eles
conseguem definir bem os problemas que os espíritos do egbe (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run) trazem para os Ara Àiyé, afinal, isso está na
religião, mas eles estabelecem
em suas explicações uma
complexidade, e amplitude
enormes que permitem um oferta ampla de soluções pagas para
resolver os problemas. Nos vídeos fica bem claro a complexidade da
explicação quando tratamos de órun (Ọ̀run).
Para
aceitar isso
é necessário, como expliquei anteriormente, criar uma teologia
paralela à religião yorùbá, teologia
esse que endereça muito bem apenas uma coisa, um comércio de
iniciações, assentamentos e trabalhos orientados a resolver os
problemas que não existem.
Essas referências que fiz, do
livro e dos vídeos, não tem como foco criticar os autores, mas elas
são necessárias para comprovar a minha afirmação de que a
composição
do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) baseada no órun (Ọ̀run) torna
esse tema complexo além do limite.
Mas deixando essa visão geral
vamos ao que interessa.
Para entender a
composição do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) os
versos de Ifá ajudam
muito mais que os mitos específicos
que eu mostrei no início,
porque os versos tratam,
em dezenas de lugares, do
egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), de
forma muito mais
comum e prática em relação a nossa vida. Nos versos não
encontraremos, de fato,
explicações diretas
sobre o egbe (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run), mas, através dos
versos percebemos como
seus membros
afetam
a vida das pessoas e a partir
dessa visão de efeitos, o
bom observador monta o quebra-cabeça de sua composição e atuação.
Nesses
versos, os membros do egbé
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), surgem
trazendo muito mais tormento às pessoas
do que apenas o grave caso dos Àbíkú. É
interessante observar que, no
Youtube, vi pessoas
compreendendo bem a atuação do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) nas
pessoas, mas, elas perdem o fio da meada da
solução quando os localizam
no órun (Ọ̀run). Entender
a adequada composição muda a forma de você lidar com o problema e
por isso que compreender bem a teologia é importante.
Em
um
Odù,
Ogbè Ọ̀yẹ̀kú,
Ifá diz
que a pessoa para
quem o signo saiu, é
beneficiada no Àiyé com ajuda dos companheiros do egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run), devido a ter sido um membro importante, no passado,
desta sociedade.
Assim, neste Odù,
essa pessoa será beneficiada com ajuda e muita prosperidade, sorte,
trazida pelos companheiros do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
Observem que seguindo o relato deste Odù,
os membros do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) tem relação ou
gratidão com essa pessoa e podem
interferir no Àiyé a
seu favor. Ogbè
Ọ̀yẹ̀kú não menciona
Àbíkú.
Assim
como em Ogbè
Ọ̀yẹ̀kú,
existem muitos
outros com histórias que mostram, pontualmente,
a interferência que as
pessoas no Àiyé sofre
do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), nesse
caso, a pessoa que consulta
Ifá.
O que vemos nas consultas de
Ifá é que diversas
pessoas são de alguma forma, ainda adultas assediadas pelo egbe
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), como
no grave caso do Odù
oxé (Ọ̀ṣẹ́)
irete (Ìrẹ̀tẹ̀)
ou como
em vários outros
casos que passaram por mim
crianças tem seu desenvolvimento infantil
e juvenil prejudicado por
seus companheiros espirituais, sem
uma aparente vontade de prejudicá-los, como
consequência e não eram casos de Àbíkú.
Em Ifá
fica claro
para nós Bàbáláwo
que a interação com o egbe
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) não se restringe ao caso dos Àbíkú.
Mas isso não é caso que
você vai encontrar em
literatura de antropólogos ou
pesquisadores, a gente, como
Bàbáláwo,
encontra as histórias e os casos reais
na prática. O
erro que Bàbáláwo
pode cometer, na prática, é
não ter o conhecimento
correto da teologia envolvida nisso e, desta forma, converter
essa constatação, de que as pessoas são importunadas pelo egbe
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), em
busca de solução disso envolvendo o órun (Ọ̀run) ou, um pouco
pior, usando o
egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) para
justificar problemas que as pessoas têm na sua vida e
que são causadas por ela mesma.
As pessoas que procuram Ifá,
todas, tem algum problema para resolver ou uma frustração, as
pessoas não vão a Ifá
para bater papo sobre ética e conduta. É extremamente difícil para
essas mesmas pessoas aceitar a análise do Bàbáláwo
sobre sua
vida e conduta. É mais difícil ainda para essas pessoas mudarem
a forma como elas procedem de modo a corrigir os seus problemas.
Todas elas vão lá querendo que a solução de suas decepções e
dificuldades seja sempre
atribuída a uma causa
supernatural qualquer, fora do controle delas e que as exima de seus
insucessos. Todas elas querem
que a solução para seus problemas seja apenas um ebó
(Ẹbọ), tipo 7 bolas de
farinha de modo a não terem que se auto-avaliar e reconhecer o que
devem mudar para que as coisas melhorem. As pessoas não vão atrás
de conselhos e orientações
elas querem soluções. Para esses casos, de
quem busca a culpa nos outros,
o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é uma ótima alternativa. Cria
causas malucas e
principalmente não associadas a Orixá (Òrìṣà) para explicar os
problemas das pessoas.
Como eu falei, no início, existe
muita névoa sobre o tema egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) até
mesmo entre os Bàbáláwo
e
os próprios Yorùbá
mais antigos. Muitos
tentam descrever o egbé
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) como uma divindade para
ser cultuada, como um Orixá
(Òrìṣà). Essas pessoas
criam então coisas que são inimagináveis que o egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run) como iniciações, assentamentos e até mesmo Exú
(Èṣù) para egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run).
Como eu disse, minha
análise é que isso tudo é
baseado em mistificação do tema, não existe, nada, em histórias
sobre o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) que mostre qualquer coisa
diferente do que eu já relatei e relatarei
aqui.
As
pessoas que atribuem esse caráter de
divindade ao egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run) me geraram inicialmente
uma razoável confusão e
dúvida. Fui, de fato, atrás disto buscando em versos, mitos ou
textos explicativos, alguma coisa, consistente, que trouxesse o
entendimento sobre o que
essas pessoas insinuavam estava
certo. Mas,
isso não se confirmou. Não
podemos gerar conhecimento a
partir de, apenas,
opinião. Opiniões
podem ser usadas na ausência de evidências, mas, se
criamos uma afirmação teológica isso tem que ser confirmado por
algum instrumento legítimo de fonte de informação da religião.
O Bàbáláwo
Fálàdé, por exemplo, cita
a existência desta sociedade, difusa
ou pouco definida, de amigos,
o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), como
uma divindade que nos
ajudaria e que, a pessoa ligada a eles, teria até um nome, seria um
elegbe, um lider que
é protegido por eles.
Essa visão de divindade
associada ao egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é fantasiosa. O que
está nos versos e nos mitos é que é uma sociedade de espíritos
que se reúnem e habitam um lugar isolado das demais, esse lugar é o
Ìrònà, o espaço
intermediário entre o Àiyé e o órun (Ọ̀run). Os mitos descrevem
a existência de um líder entre eles, um líder para os meninos e um
líder para as meninas, mas nomes em yorùbá podem ser apenas cargos
e os nomes associados a esses líderes são característicos de
cargos.
Iyajanjàsá é o nome da mulher que é
lider dos garotos e Olóìkó é o líder das meninas. Esses nomes
são cargos, isso significa que alguém ocupa esse papel de líder,
de cuidador, algum espírito mais velho. É isso que está
referenciado no Odù
Ogbè Ọ̀yẹ̀kú. Mesmo nos mitos descritos por Cuoco,
existe um (8- Olóìkó goes into the world) que relata que o próprio
Olóìkó decide em determinado momento renascer. Seus pais consultam
um Bàbáláwo
fazendo os ebó (ẹbọ) para que ele fique no mundo. Em função
disso Olóìkó não é capaz de morrer e voltar para o egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run) e acaba ficando no Àiyé vivendo com a nova
família. Desta forma, usando nossa capacidade de interpretar, temos
que concluir que Olóìkó não é o nome de uma divindade e sim um
cargo que um dos espíritos do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)
assume para ser guardião dos demais.
A necessidade de ter um líder ou de um
cuidador é explicada com alguns argumentos bem simples. O primeiro é
que é natural que, em um grupo, um ou alguns exerçam a função de
liderar. Vamos lembrar que esses espíritos estão no Ìrònà,
eles morreram e não foram para o órun (Ọ̀run), ficaram nesse
espaço intermediário e desta maneira sendo eles, ainda, espíritos
infantis será natural um espírito assumir o papel de líder e
cuidador. O espaço Ìrònà está longe de ser uma região
tranquila do supernatural, o Ìrònà é uma designação
genérica para o espaço energético intermediário entre o Àiyé e
o órun (Ọ̀run) e que além da sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run) também serve de localização para outros espíritos e
forças maléficas. Como Salami e Ibie descrevem, as ajé (Àjẹ́)
estão nesse espaço e os Ajogun. Por ilação podemos
concluir que os espíritos perdidos que a Umbanda acolhe, bem como os
próprios guias de Umbanda estarão nesse mesmo espaço visto que as
regras do supernatural tem que ser as mesmas para tudo e para poderem
interferir na nossa vida, como a Umbanda preconiza e pratica, não
poderão estar no órun (Ọ̀run) e sim no Ìrònà.
Os yorùbá tem muitas divindades e
todas regionais, existem muito poucas divindades gerais, aceitas por
todos (como Xangô
(Ṣàngó) Oxalá (Òṣàlá), Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
e Exú (Èṣù)), a maior parte é regionalizada. Isso faz com que
um mesmo tipo de divindade ou manifestação, ocorra com nomes
diferentes dependendo do local, mas, isso não faz elas serem
divindades diferentes. Se ainda lembrarem, eu citei isso quando falei
dos nomes de Olódùmarè. Os
pesquisadores europeus acharam que haviam vários deuses entre os
yorùbá, mas o que eles não perceberam é que eram nomes diferentes
para um mesmo deus.
A diversidade de divindades, seja a
mesma com muitos nomes ou sejam várias, não faz diferença nesta
religião. A quantidade de divindades não é relevante. Existem
divindades que são orientadas para cuidar de crianças, as crianças
são muito importantes para os yorùbá e proteger o seu crescimento
é uma preocupação importante. Dessa forma é natural que existam
divindades orientadas a elas.
Ibéjì é uma dessas
divindades, ela está ligada aos gêmeos, que são um tema especial
nesta religião. Regionalmente encontraremos divindades associadas a
crianças: Ẹgbẹ́, Ẹgbẹ́run, Arágbó, Ẹgbẹ́ Ọ̀gbà,
Koóri, Kónkóto, dàda e Elérìkò. Não tem relevância falar
sobre cada uma delas ou sua origem para nós da diáspora. Aqui nesse
tema elas estão sendo mencionadas porque são divindades do órun
(Ọ̀run), não são espíritos que fazem parte do egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run). São divindades que se recorre para proteger as
crianças, seu nascimento e desenvolvimento.
Em Ibadan, existe uma divindade
chamada Elérìkò, uma
divindade feminina, ambivalente,
ligada a esses espíritos. Ela ajuda ou atrapalha, traz doenças para
unir os Aràgbó. Elérìkò é imprevisível. Quando
aplacada dá
filhos e brinca com as crianças na luz do dia. Quando desagradada
assedia crianças no seu sono, aflige com doenças, as mata e leva
suas almas para o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
Existem outros nomes que são sinônimos
da mesma coisa. Arágbó – Espírito de crianças, seres
das florestas; Ẹgbẹ́ ou Ẹgbẹ́run – Vivem na água ou
madeira; Elére – Donos as imagens de madeira; são nomes
diferentes para a mesma coisa, para designar os membros do egbé
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), não são nomes de divindades diferentes
ou de espíritos especiais do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
Na cidade de Ọ̀wọ não tem Gélede
(Gẹ̀lẹ̀dẹ́) mas tem um festival de mascarados chamados Àghòbí
(aquilo que olha para dar nascimento a crianças). O objetivo dos
dançarinos mascarados, sejam homens ou mulheres jovens, é torna o
homem viril, a mulher fértil e as crianças saudáveis e bem
nascidas. Àghòbí é o nome dos mascarados e não uma divindade.
Existe ainda um tipo de Egúngún
chamado Egúngún
Ọlọmọyọyọ, que é um espírito ancestral de pequenas
crianças. Desta maneira Ọlọmọyọyọ, não faz parte do egbé
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), faz parte do órun (Ọ̀run) é um
Egúngún.
Existem outros nomes específicos como
Èkìnẹ̀, Èlekìnẹ̀, Ọmọlókun ou mọlókun que é o nome
que se dá as crianças nascidas pela interferência do Orixá
(Òrìṣà) Olóòkun. Inclusive existe uma designação geral para
os Orixá (Òrìṣà) que interferem no nascimento de crianças.
Essa lista de nomes é bastante ampla,
no final eu faço uma coletânea disso. O objetivo de eu citar isso
aqui é para acabar com a confusão causada por usarem esses nomes
para mostrar complexidade e diversidade do egbé (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run). Sim, eu já vi vários Babalorixá (Bàbálórìṣà) e
Bàbáláwo
citando esses nomes como se fossem uma diversidade do egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run) e com isso querendo mostrar conhecimento e
complexidade.
Egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é
simples, é uma sociedade ou grupo que reúne espírito de crianças
mortas. Não é uma divindade do órun (Ọ̀run). A composição do
egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é simples usar esses nomes que se
referem a coisas diferentes e de regiões diferentes, juntando isso
tudo como se fosse um conjunto único e exclusivo é uma manifestação
de desconhecimento ou de vontade em confundir.
Uma vez que não são uma divindade e
não estão no órun (Ọ̀run), não existe sentido em pessoas
ignorantes ou não honestas, venderem iniciações para egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run). Não cabe uma pessoa ser iniciada para egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run). Se você não está ligado a eles (vou explicar isso
adiante) não faz sentido se ligar. Se já está ligado não
necessita de iniciação. A iniciação é um processo litúrgico
para despertar poderes e capacidades não cabe fazer isso para
estabelecer uma ligação com o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
Igualmente não cabem para eles um assentamento, assentamento ou Igbà
é um objeto litúrgico para ligar o Àiyé ao órun (Ọ̀run), não
existe razão para ter esse objeto para ligar o Àiyé ao Ìrònà,
esses espaços já estão ligados, o Ìrònà é parte do
Àiyé. O Ìrònà não é o mundo físico mas o Àiyé
compreende o mundo físico e o supernatural que acompanha o mundo
físico.
O que encontramos nos mitos é
que egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) são esses espíritos que podem
ou não
se tornar um Àbíkú e
que vivem junto, tem fortes laços de amizade. Os
mitos direcionam egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) como sendo uma
reunião de possíveis Àbíkú ou que
já foram ou se tornarão.
Eles se tornam
um Àbíkú quando renascem, isso é óbvio, afinal o nome Àbíkú
significa aquele que nasce para morrer. Assim,
um Àbíkú é alguém que nasce e respira. Apesar
de todos sermos, em teoria,
Àbíkú porque nascemos para
morrer, os Àbíkú são as almas de ciclo
curto de vida e nós,
pessoas comuns,
somos de ciclo longo
de vida. Conforme vou
teorizar, à
frente, é importante
ressaltar essa questão de ciclo
curto e longo, mais do que vocês podem imagina
agora.
Entretanto,
o que mais me incomodou neste tema de egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)
e Àbíkú não foram esses aspectos que citei, o mais problemático
foi sempre não haver nenhuma explicação teológica para isso. Não
havia causa ou razão. Nos cabia dizer que o que era, dizer como
resolver mas, jamais, ter qualquer tipo de informação sobre a
razão.
Antes de iniciar minha explicação
completa quero
transcrever aqui um pequeno trecho que está no livro do Cuoco, que
como disse, recomendo muito. Esse trecho é a semente
do meu entendimento e que vai
de encontro (contra) o que muitos africanos e Bàbáláwo
Nigerianos (yorùbá, como o Salami) pensam sobre os Àbíkú.
“Ao contrário do que muitos
autores escreveram sobre o personagem Àbíkú, insisto em afirmar
que eles ”não" são seres malévolos cuja única missão é
causar sofrimento a seus pais e familiares. Acredito que sejam seres
de luta, que em puro estado de inocência passando de um reino para
outro - em suas constantes mortes e renascimentos - carregando dentro
de si o peso da morte Iku). Sua verdadeira inocência reside no fato
de que são seres, que estão divididos à força entre o desejo de
ficar na terra com suas famílias e o desejo de estar com seus
espíritos companheiros em Orun, bem como a obrigação que têm de
cumprir suas promessas de retornar à sua Sociedade Egbe Ara Orun,
independentemente dos esforços de seus pais para mantê-los no
mundo.”
A seguir
vou relatar o meu entendimento sobre os egbe (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run) e Àbíkú, de forma bastante ampla. O conhecimento que vou
descrever foi reunido em anos de pesquisa em diversos autores. Vou
dar muita informação e buscarei justificar tudo aquilo que eu
disser.
Eu vou evitar aquelas longas abordagens
acadêmicas (não sou acadêmico) com extensos relatos para somente
no fim apresentar suas conclusões. Vou iniciar por eles e depois dar
as explicações.
TEXTO SEGUINTE: http://www.orunmila-ifa.com.br/2021/02/como-e-composicao-do-egbe-egbe-orun-orun.html