O jogo de Búzios e Ifá - Parte 3 de 4
O eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
é Ifá !
A prática do oráculo no Candomblé tomou mais de um caminho ao
longo da nossa história e sofreu diversas influências. A primeira
coisa que eu lembro a todos é que Ifá e oráculo são sinônimos no
Candomblé.
A maior parte das pessoas pode até desconhecer que existe um culto
separado destinado a Ifá ou a divindade Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
mas sabe que existe um oráculo chamado de Ifá. Assim, da mesma
forma como Ifá e Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) são em certo
aspecto sinônimos em Ifá, no Candomblé, Ifá e oráculo são
palavras sinônimas, sem que isso seja necessariamente vinculado ao
uso de Odù.
Por muitos anos temos ouvido as pessoas chamarem o seu oráculo de
Ifá sem isso guardar qualquer vínculo com o Culto de Ifá ou mesmo
com o Oráculo de Ifá. Hoje a gente deve saber que o uso de Odù no
oráculo do Candomblé é opcional e é dominado por muito poucos.
Chego a ter a ousadia de dizer que ninguém sabe nada, apenas falam
palavras soltas. Os Babalorixá (Bàbálòrìṣà)
não se preocuparam em aprender nada. Foram apenas “catando”
coisas, copiando outros e chamaram o que fazem de jogar por Odù.
Mas, vamos voltar a esse ponto mais adiante. Para que cheguemos em
algum lugar vamos examinar primeiro a ligação entre o owó eyo
(ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) e Ifá.
Com simplicidade, sem recorrer a textos complicados de Odùs, vamos
considerar que tudo é uma mesma religião. Dentro do culto dos Orixá
(Òrìṣà) ou do culto de Ifá estamos tratando da mesma
religião. É o mesmo Olódúmarè, é o mesmo aiyé, é o mesmo orun
(Ọ̀run), são os mesmos Orixá
(Òrìṣà). A Teogonia é a mesma. E nesse conjunto, como
estamos todos falando com as mesmas divindades e acreditando na mesma
metafísica, se recorremos a um oráculo para tratar da vida e do
destino das pessoas e recebemos respostas sobre isso que nos permitem
ajudar e orientar essa pessoa então, tem que ser Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) que esta se manifestando em nossa vida.
Assim, eu não vejo porque Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) não
poderia falar através do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún).
Em Ifá existem diversos instrumentos. Os Babaláwo podem usar os
Ikin, o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀), o Obì e ainda cascas de coco
(como os cubanos fazem). Por que não poderiam usar os búzios? Ou,
porque um olhador que tenha sido iniciado e seus instrumentos
consagrados não pode fazê-lo?
Eu lembro que o oráculo do candomblé, o eerindinlogun
(ẹẹ́rìndínlógún) sempre serviu e continuará servindo
com louvor a tudo o que é necessário fazer em uma casa de Orixá
(òrìṣà).
Esse oráculo representa sim uma forma autêntica e verdadeira de
diálogo entre nós e o divino, entre nós e certamente os Orixá
(òrìṣà). Se não fosse assim tudo seria errado ou sairia
errado, e não é isso o que ocorre.
A ligação entre Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e o
eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) existe nos versos do
Odù Ogbè-Ọ̀sá, conforme transcritos por Wande Abimbola.
Houve um tempo que Olódùmàrè convocou todo os 401 Orixá (Òrìṣà)
para o Órun (Ọ̀run), para para surpresa dos Orixá (Òrìṣà)
eles encontraram as Ajé (Àjẹ́) no Órun (Ọ̀run) e
estas passaram a comer um por um. Mas como Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
havia feito um sacrifício antes de deixar a terra ele foi
miraculosamente salvo por Óxun (Ọ̀ṣun) que substituiu
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) por carne fresca de cabrito (que
Órunmilá havia usado no sacrifício recomendado por Ifá).
Quando eles retornaram a terra eles se tornaram mais próximos do que
nunca. Este foi provavelmente o tempo no qual Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
teve Óxun (Ọ̀ṣun) como esposa. Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
então decidiu recompensar Óxun (Ọ̀ṣun) e então ele
colocou junto os 16 búzios e ensinou a Óxun (Ọ̀ṣun) como
usá-los.
,,,Este mostra como Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e
Óxun (Ọ̀ṣun) se tornaram unidos.
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse que estava
agradecido com o que ela fez por ele.
Foi uma coisa expecional.
Ele se esmerou no que dar a ele em agradecimento.
Esta foi a razão mais importante pela qual Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) criou os owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Ele então colocou-os nas mãos de Óxun (Ọ̀ṣun).
De todos os Orixá (Òrìṣà) que usam os owó ẹyọ
mẹ́rìndínlógún.
Não existe nenhum que tenha feito isso antes de Óxun
(Ọ̀ṣun).
Esta foi a forma pela qual Ifá foi dado a Óxun
(Ọ̀ṣun).
E foi pedido para ela usá-los
Como um outro meio de consutar o oráculo.
Isto foi como Ifá foi usado para recompensar Óxun
(Ọ̀ṣun).
Desta forma Óxun (Ọ̀ṣun) também podia chamar
Ifá.
Ninguém mais pode saber
porque Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) tomou Óxun
(Ọ̀ṣun) como esposa.
Das diversas formas de oráculo
owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún é a mais próxima
de Ifá.
Assim de acordo com esse Odù foi Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
que criou o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún e se Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) é Ifá e o conhecimento de Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) é baseado em Odù e Ifá ele não poderia
ter criado algo que não fosse parte do seu próprio conhecimento.
Isso muda a versão de um mito popular, corrente do Candomblé, de
que Óxun (Ọ̀ṣun) teria obtido o owó ẹyọ
mẹ́rìndínlógún de Exu (Èṣù) o que de fato teria como
consequência uma não ligação direta com Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà).
Como muita coisa no Candomblé sobre Odù e Ifá, mais uma bobagem.
Mas esse Odù Ogbè-Ọ̀sá, extraído por uma pessoa de
credibilidade no culto de Ifá e na religião Yorùbá, deixa claro
que Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) é de fato e direito o criador
do owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Este Odù também vai mostrar a seguir que o owó ẹyọ
mẹ́rìndínlógún recebeu o seu Àṣẹ do próprio
Olódùmàrè:
...A cada 16 anos
Olódùmàrè usava chamar os adivinhos da terra para
um teste.
Para saber se eles estavam dizendo mentiras para os
habitantes da terra.
Ou se eles estava dizendo a verdade
Este teste consistia em chamar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
e outros olhadores da terra
Olódùmàrè diria o que ele ira ver neles.
Quando eles chegaram
Olódùmàrè pediu para eles consultarem o oráculo
para ele.
Quando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) terminou a
consulta
Olódùmàrè perguntou: Quem é o próximo?
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse que a próxima
pessoa vinha a ser sua companheira
O qual era uma mulher
Olódùmàrè então perguntou:
Ela também é uma advinha, uma olhadora?
O qual Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) respondeu, “Sim,
isto é verdade”
Olódúmarè então pediu a ela para consultar o
oráculo para ele
Quando Óxun (Ọ̀ṣun) examinou Olódúmarè,
ela viu tudo em sua mente
Mas ela não disse para ele tudo o que viu
Ela mencionou a essência
Mas ela não disse as raízes do problema assim como
faz Ifá
Olódúmarè então perguntou a Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) o que era aquilo?
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) então explicou a
Olódúmarè
como ele honrou Óxun (Ọ̀ṣun) com o owó ẹyọ
mẹ́rìndínlógún
Olódùmàrè disse, “Esta tudo certo”
Ele disse que mesmo sabendo que ela não lhe contara
tudo o que sabia
Ele daria a sua autoridade para ela
Ele adicionou “De hoje para sempre,
até mesmo quando o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
não disse tudo detalhadamente
Qualquer um que desacreditar dele
sofrerá as consequencias imediatamente
Isso não precisará esperar até o dia seguinte
Este é o motivo pelo qual as previsões do owó ẹyọ
mẹ́rìndínlógún ocorrem rapidamente
Esta foi a forma como o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
recebeu o seu Àṣẹ diretamente de Olódùmàrè
A transcrição desse Odù esta no artigo "The Bag of wisdom -
osun and the origin of ifá divination" de Wande Abimbola.
Talvez a principal preocupação do oráculo seja o controle sobre os
Ajogun que são os espiritos do mal que vivem na terra. As pessoas
vão a um oráculo normalmente motivadas por problemas causados por
estes. Entre os ajogun os principais são: Ikú (morte), àrùn
(doença), òfò (perda), ẹ̀gbà (paralisia), ọ̀ràn (crimes),
èpè (maldição), ẹ̀wọ̀n (prisão), ẹ̀ṣẹ (crime), Iná
(fogo). Eles agem como se fossem causas naturais.
Como visto no seguinte trecho do Odù Ọ̀ṣẹ̀tùwá (obtido
do bàbáláwo oyègbadé ọlátọ̀nà o ojùgbọ̀nà de ọ̀ṣogbo,
terra de ọ̀ṣun), Óxun (Ọ̀ṣun) tem
o controle de 4 ajogun: boríborí (derrota), ẹ̀gbà (paralisia),
ẹ̀ṣẹ (crime), atómú (aprisionador). Isso a tornou capaz de
bloquear o àṣẹ de todos os demais òrìṣà da criação do
mundo:
kọ́mú-nkọ́rọ̀
Era o bàbáláwo na cidade de ado
ọ̀rùn-mu-dẹ̀dẹ̀ẹ̀dẹ̀-kanlẹ̀
era o bàbáláwo no reino de ìjẹ̀ṣà
o-caranguejo-está-no-rio
e-rastejam-no-chão-muito-frio
Eles consultaram ifá para as 16 principais
divindades
no dia que eles foram do Ọ̀run para o ayé
Eles chegaram no mundo
eles prepararam a floresta de orò
eles prepararam a floresta de ọpa
Eles planejaram,
mas ele nunca perguntaram a óxun(Ọ̀ṣun)
Eles tentaram sustentar o mundo
mas não havia organização no mundo
eles então voltaram ao órun(Ọ̀run)
e foram procurar Olódúmarè
Olódúmarè os cumprimentou
então perguntou onde estava a décima sétima
divindade?
Olódúmarè perguntou-os “por que
vocês não tem o hábito de consultá-la?”
Eles então responderam, “é porque ela é a única
mulher entre nós”
Olódúmarè disse então, “Não, isso não pode
ser assim!
Óxun(Ọ̀ṣun) é a principal mulher”
Olódúmarè disse
“boríborí, é o bàbáláwo de ìrágberí,
é um bàbáláwo aprendiz de Óxun(Ọ̀ṣun)
“ẹ̀gbà, é o bàbáláwo de ìlukàn,
é um bàbáláwo aprendiz de Ọ̀ṣun
“èṣe, é o bàbáláwo de ìjẹ́bù ẹrè,
é um bàbáláwo aprendiz de Óxun(Ọ̀ṣun)
“atómú, é o bàbáláwo de ìkìre,
é um bàbáláwo aprendiz de Óxun(Ọ̀ṣun)
Essas divindades podem permitir a uma
pessoa a fazer comércio,
elas podem permitir que uma pessoa prospere
mas elas não permitem que a pessoa leve
a sua prosperidade para casa
Olódúmarè disse
“O que vocês não sabiam
agora vocês sabem.
Voltem para o mundo e consultem
Óxun(Ọ̀ṣun) sobre qualquer coisa que vocês
forem fazer
de maneira que qualquer coisa em que vocês colocarem
suas mãos
continue a prosperar
Quando eles voltaram para o mundo
eles passaram a chamar Óxun(Ọ̀ṣun)
e a louvavam assim:
Aquela que tem um grande armazém de latão
aquele que acalma as crianças com latão
Minha mãe, é a que aceita corais para oferendas.
ọta ò! Omí o! Ẹdan ò!
Awura! Olú! Agbaja!
A sempre presente conselheira as reuniões de
decisões
Ládékojú! A graciosa mãe Óxun(Ọ̀ṣun)!
Este texto mostra bem a força e
importância de Óxun (Ọ̀ṣun)
como a divindade que representa a mãe fundamental a energia feminina
maior e da qual todas as demais descendem, sejam Orixá (òrìṣà)
como também as ajé (àjẹ̀). Também deixa claro a ligação de
Óxun (Ọ̀ṣun) com
o oráculo.
Desta maneira se tem Óxun (Ọ̀ṣun)
ligação com os principais elementos que trazem problemas para as
humanidade, que são as ajé (àjẹ̀) e os Ajogun, então qualquer
oráculo que pertença a ela tera sem dúvida nenhuma a
maior eficácia possível
na solução dos problemas a ela apresentados.
Um outro verso contido no Odù Okanransode, que foi transmitido pelo
Babaláwo Ifátóògùn, famoso sacerdote de Ìlobùú,
conta a história do saco da sabedoria. Olódùmàrè jogou na terra
o saco da sabedoria e pediu a todos os Orixá (Òrìṣà) que
procurassem por ele. Ele garantiu que o Orixá (Òrìṣà)
que o encontrasse seria o mais sábio de todos eles. Olódùmàrè
mostrou como era o saco para todos os Orixá (Òrìṣà) para
que eles reconhecessem quando o vissem. Uma vez que Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) e Óxun (Ọ̀ṣun) eram íntimos eles
decidiram procurar juntos.
Uma pessoa velha amarou um um fio de contas mas ele
se abriu
Um sábio amarrou um fio de conta e el ficou frouxo
Somete uma pessoa que apoia suas costas em ikins
irá amarrar um fio de contas que irá durar
Ifa foi consuktado para Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
quando ele e Óxun (Ọ̀ṣun) foram procurar pela
sabedoria
Foi Olódùmàrè que chamou as 401 divindades (da
direita)
e as 201 divindades (da esquerda)
para se reunierem no Orun (Ọ̀run)
Quando elas chegaram lá
Ele disse que queria dar para elas profunda sabedoria
e poder
Ele disse que que qualquer um poderia ver isto
que ele iria dar para o Ori deles
E esta seria a pessoa mais sábida na terra
Ele disse que 19 dias a frente
Ele jogaria o saco da sabedoria na terra
Mas se isso seria na floresta
ou seria no campo
Ou seria no rio
ou seria em uma cidade
ou seria em uma estrada
Ele não diria onde extamente seria
Olódùmàrè mostrou então a todos o saco da
sabedoria
Ele disse “É isso”
Olhem bem
E observem bem.
Quando eles chegaram de volta a terra
alguns deles iniciaram a fazer sacrificios
Alguns fizeram remédios
Alguns planejaram a sua propria estratégia
Todos disseram “Essa coisa, serei eu quem vai
achar”
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Óxun (Ọ̀ṣun)
costumavam fazer coisas juntos
Eles estavam sempre um na companhia do outro
Ambos adicionaram 2 búzios a 3
e foram consultar Ifá
Eles perguntaram aos babalawo (babaláwo) para
verificarem sobre ambos
“A coisa que os Orixá (Òrìṣà) estão
procurando poderiam ser ambos eles as pessoas que a encontrariam?”
Os babalawo (babaláwo) pediram a Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) e Óxun (Ọ̀ṣun) que fizessem um sacrifício
Com os grandes alakas que eles estavam usando
Cada um deles deveria oferecer um cabrito
e um rato domético
Bem como 201 ọ̀kẹ́ cheios de búzios para cada um
deles
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse a Óxun (Ọ̀ṣun)
que eles deveriam fazer o sacrifício
Mas Óxun (Ọ̀ṣun) disse m “por favor, deixe me
descançar”
Vá fazer o sacrificio com o seu alaka
Qual a relação disso com o que estamos procurando?
Óxun (Ọ̀ṣun) se recusou a fazer o sacrifício
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) cujo outro nome era
Àjànà,
pegou o seu alaka e ofereceu em sacrificio
Ele também usou um rato doméstico e dinheiro para o
sacrifício
Eles então procuraram pelo saco da sabedoria mas não
acharam
Todos os outros Orixá (Òrìṣà) tmbém não
encontraram
Eles procuraram em Ẹ̀gá ajá
Ele foram longe até Ẹ̀sà adìẹ
alguns foram ainda até Ìkọ Àwúṣẹ̀
alguns procurara também em Ìdòròmù Àwúṣẹ̀
Onde o dia vira noite
Mas ele não encontraram
Um dia um rato doméstico foi até o alaka que Óxun
(Ọ̀ṣun) usava
E fez um buraco no bolso
No dia seguinte eles se consideraram prontos
e procuraram o saco da sabedoria mais uma vez
Então Óxun (Ọ̀ṣun) o encontrou!
Ela exclamou “Han-in este é o saco da sabedoria!”
Ela colocou então no bolso do seu alaka
Ela então foi embora apressada
Como ela estava atravessando florestas mortas e
subindo por troncos
repentinamente o saco caiu do seu bolso
pelo buraco que o rato tinha feito
Óxun (Ọ̀ṣun) estava chamando Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà)
Dizendo “Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), cujo outro
nome é Àjànà
Venha rápidp, venha rápido
Eu vi o saco da sabedoria
Quando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) estava indo ele
viu o saco da sabedoria no chão
Ele então colocou no bolso do seu próprio Alaka
Quando ele chegou em casa
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse: Óxun (Ọ̀ṣun)
deixe-me ver o saco
mas Óxun (Ọ̀ṣun) disse que ela jamais mostraria
para um homem
Mas se um homem precisasse ver
Ele teria que dar lhe 200 ratos
200 peixes
200 passaros
200 animais
e um monte de dinheiro
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) implorou por muito tempo
para ver o saco
mas ela não permitiu
Ele então retornou para a sua própria casa
Quando Óxun (Ọ̀ṣun) tentou pegar o saco no seu
bolso
de maneira que ela o visse mais uma vez
Ela colocou a sua mão no bolso
e sua mão entrou dentro do buraco feito no fundo do
bolso
Então Óxun (Ọ̀ṣun) foi encontrar Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) na sua casa
Ela começou a implorar a ele
Ela começou a agradar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
Assim foi então como Óxun (Ọ̀ṣun) foi para a
casa de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
para viver com ele como marido
De maneira que ele pudesse ensinar para ela um pouco
de sabedoria
Nos tempos antigos, quando uma pessoa se casava
Não era obrigatório para a esposa ir para a casa do
marido viver com ele
Assim foi como os casais passaram a viver juntos
Quando Óxun (Ọ̀ṣun) tirou o seu alaka
ela colocou àṣẹ na sua boca e disse
daquele dia em diante nenhuma mulher ia vestir um
alaka como os homens
Ela então jogou o seu alak no lixo
Depois de muitos pedidos de Óxun (Ọ̀ṣun)
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) pegou um pouco de
sabedoria e deu para ela
Este é o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
O qual Óxun (Ọ̀ṣun) faz uso
O saco de sabedoria é Odù Ifá,
os remédios e todas as demais profundas sabedorias
do povo Yoruba
Assim vou destacar de forma bem objetiva o que o Odù Okanransode
ensina:
Óxun (Ọ̀ṣun) foi a primeira a ter acesso a sabedoria de
Ifá. Ela encontrou o saco de sabedoria e olhou para ele, assim ela
obteve antes de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) a sabedoria de
Ifá. Devido a sua teimosia, falta de fé ou preguiça ela perdeu o
saco para Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que assim teve a posse
dele por todo o tempo e a sabedoria e poder que Olódúmarè
prometeu. Mas não se pode ignorar o acesso que Óxun (Ọ̀ṣun)
teve a Ifá.
Óxun (Ọ̀ṣun) foi viver com Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
e este lhe deu mais sabedoria de Ifá.
Esse Odù nos dá também uma excelente explicação de porque
somente homens tem acesso pleno a sabedoria de Ifá. Óxun
(Ọ̀ṣun) se tivesse acesso teria omitido isso dos homens,
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) observando isso limitou o acesso
de Óxun (Ọ̀ṣun) ao conhecimento de Ifá. Essa
interpretação deve ser estendida aos homens em geral e as mulheres
também, e não especificamente a Óxun (Ọ̀ṣun) e
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà). Óxun (Ọ̀ṣun) é a
essência feminina e um Odù é uma metáfora. Assim isso explica o
papel de babalawo (babaláwo) e de Apetebi.
Outra lição é o mal destino que teve a ambição ou ganância no
uso da sabedoria de Ifá. O desejo de Óxun (Ọ̀ṣun) era
se enriquecer com essa sabedoria. Isso foi penalisado, assim a
sabedoria de Ifá jamais deve ser usada para enriquecer
ninguém.
Outro aspecto foi o preço a ser pago para se tornar sábio.
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) pagou o preço e se tornou sábio,
Óxun (Ọ̀ṣun) não quis pagar e não obteve exito na sua
busca. A sabedoria exige sacrifícios de bens.
Apesar disso tudo é inegável os seguintes vínculos:
Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) e Ifá com o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
de Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) com Óxun (Ọ̀ṣun)
de Óxun (Ọ̀ṣun) o eerindinlogun
(ẹẹ́rìndínlógún)
É muito natural entendermos a partir desta história a
separação feita em Ifá para o genero masculino em função deste
conflito de Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) com Óxun (Ọ̀ṣun) o gênero
feminino fundamental.
Outro aspecto que também denota isto é a questão de
Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) e seus filhos, nos versos de Iwori Meji que
falam sobre a partida de Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) para o Orun. O
verso destaca que Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
tinha 8 filhos
homens. Mas este
não é assunto para este tema.
Por fim os versos mostrados no livro de Bascon, Sixteen
Cowries. Estes verso tem sua importância porque é a única
visão que eu pude obter da origem do oráculo e sua ligação de Ifá
vindo do culto de Orixá (Òrìṣà). Todas as demais fontes
eram fontes do culto de Ifá.
De acordo com os mitos Yorùbá, o oráculo com os 16
búzios foi introduzido pela divindade Óxun (Ọ̀ṣun). Ela
aprendeu isto de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) enquanto ela vivia
com ele, embora alguns sacerdotes de Óxun (Ọ̀ṣun), neguem
isso. Em uma versão, enquanto ela ainda estava aprendendo Ifá, Óxun
(Ọ̀ṣun), começou a divinar para alguns dos clientes de
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), quando ele não estava em casa e
quando ele descobriu isso ele a colocou para fora de casa. Este é o
motivo pelo qual Óxun (Ọ̀ṣun) não aprendeu Ifá
totalmente.
Este incidente não ocorre na versão à seguir, como
descrita por Salakọ. Sua versão também difere da que é
largamente conhecida que é a qual foi Olódúmarè quem deu
às divindades os seus poderes. Aqui neste verso esta função é
atribuida por Salakọ a sua própria divindade identificada como
Oriṣala Ọṣẹrẹgbo
ou como Apodihọrọ,
um outro de seus nomes.
Cabe comentar
que esta substituição de personagens é comum e deve ser ignorada.
Devido aos regionalismos, existe a substituição de personagens que
são importantes no local ao invés de se usar o personagem original.
Isso já causou algumas confusões mas devemos relevar. É claro que
o personagem real é Olódúmarè e esta substituição feita
por Salakọ visou apenas privilegiar suas divindade principais.
O mesmo
processo também ocorreu na diáspora, com um Orixá (Òrìṣà)
assumindo o papel de outra divindade, como por exemplo Nana que não
é presente na mitologia Yorùbá e que se transformou em personagem
de mitos que não tem nenhuma relação.
A relevância
de transcrever este mito é porque vem de uma outra fonte e traz
consigo elementos que confirmam a relação do eerindinlogun
(ẹẹ́rìndínlógún)
com Ifá e ainda acrescenta novos elementos desafiadores.
Quando pai Apodihọrọ, Oriṣala Ọṣẹrẹgbo,
Pai deu à luz a 401 crianças,
Apodihọrọ, o padre criou 401 profissões.
Apodihọrọ, Oriṣala Ọṣẹrẹgbo,
Pai criou 401 talentos.
Ele disse que cada criança deve escolher a sua
própria.
E havia Órunmila (ọ̀rúnmìlà);
Ele não é forte.
Assim como um cupinzeiro,
Para segurar uma enxada lhe dá problemas;
Para realizá-lo é difícil,
E até mesmo a pé.
Não há nenhum trabalho que é fácil para Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà).
Pai disse: "O que você vai fazer?"
Ele disse que seria um adivinho.
"Que espécie de adivinho?"
Ele disse: "Por tudo que as pessoas esperam de
você."
Foram nozes de cola que eles trouxeram para o Pai
naqueles dias (para
adivinhação).
Se alguém falou com a noz de cola
e jogou na chão,
O Pai foi aquele quem deu os conselhos.
"Eu quero saber a resposta à minha pergunta",
E Oriṣala lhe diria.
Então, ele chamou Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
E Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) obteve o saco do
oráculo.
O Pai pegou o saco de Ifá,
Ele disse que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) deve
aprendê-lo
Assim se alguém quiser alguma coisa
Eles devem ir para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Todo mundo que quiser pedir
Deve ir para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà),
E quando Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) olhar para o seu
Ifá,
Tudo o que eles quiserem saber, Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) dirá a eles;
Qualquer coisa que eles quiserem saber,
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) lhes dirá.
Ninguém mais foi para o pai (para adivinhação);
Eles foram para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Uma mulher com gravidez de um dia
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) saberia,
E assim por diante.
Assim, tornou-se Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) um
adivinho.
Ele disse: "Pai,
“ e sobre as folhas? "
Pai disse:
"Uma pessoa que vier a você com uma queixa,
"É uma folha (erva) que você deve lhe dar
Assim, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) tornou-se um
adivinho.
Todos os outros queriam ser adivinhos também.
Egungun queria ser um;
Pai disse: "Você, que é forte?"
Ògún queria ser um;
Pai disse: "Você, que é forte?
"Você deve ser um comerciante."
Hoje todos os seguidores de certas divindades podem
consultar o oráculo
os cultuadores de Xangô (Ṣàngó) , e os
cultuadores de Óya (Ọya)
e os cultuadores de Oriṣala.
Isto é certo para Óxun (Ọ̀ṣun),
Foi Óxun (Ọ̀ṣun) que não deixou Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) descansar
Ela não o deixou ir;
Ela insistiu, até que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) lhe
ensinou a adivinhação
Foi a partir Óxun (Ọ̀ṣun) que todos os outros
aprenderão o oráculo.
Mas Erinlẹ não aprendeu;
Orixá Oko não aprender;
Ògún não aprendeu;
Egungun não aprendeu.
Eles não receberam os dezesseis búzios.
Ṣọpọna tem os dezesseis búzios
Estão sempre em sua mão,
Mas a luta não os deixa usar para o oráculo.
Por ser fraco
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) tornou-se um adivinho.
Ele estava cantando ", Apodihọrọ, Oriṣala
Ọṣẹrẹgbo,
"Pai, tinha 401 crianças;
"Apodihọrọ, Oriṣala Ọṣẹrẹgbo,
"Pai criou 401 profissões.
"Apodihọrọ, Oriṣala Ọṣẹrẹgbo,
"Pai criou 401 talentos,
"Apodihọrọ.
"Ele deu aqueles que aprendessem um meio de
subsistência",
Apodihọrọ,
"Com o que eu aprendi, agora estou comendo",
Apodihọrọ.
"Com o que eu aprendi, eu estou comendo nozes de
kola e pimenta", Apodihọrọ.
"Com o que eu aprendi, eu estou comendo sal e
óleo de palma", Apodihọrọ.
"Com o que eu aprendi, eu ganho dinheiro com os
outros", Apodihọrọ. "
Isto é como Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) tornou-se um
adivinho.
Estes versos, assim como os demais trazem muitas
informações e referencias relevantes. Neste daqui, trazido do culto
de Orixá (Òrìṣà), vemos a clara referência de que mesmo em
relação a Orixá (Òrìṣà), existem aqueles que tem e os que não
tem o oráculo dos 16 búzios.
Isto é claro e traz uma luz significativa sobre a
prática no Candomblé, onde qualquer Babalorixá (Bàbálòrìṣà)
tem que ter a prática desse oráculo por força do formato adotado
no Candomblé. Mas como sabemos que na prática nem todo mundo tem
isso, ficamos com a clara explicação de que as pessoas substituem o
oráculo pela vidência.
Essa prática pode ter sido um dos motivos que levou a
degradação do Jogo de Búzios que se afastou de Ifá levando as
pessoas hoje a questionarem se seriam os Búzios ou não uma forma de
Ifá.
A história seguinte, relatada por Ayo Salami em seu
livro “Yorùbá theology and tradition” mostra uma variação das
anteriores, mas, com o conteúdo idêntico, traçando o mesmo vínculo
em tre Óxun (Ọ̀ṣun), Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), o
eerindinlogun
(ẹẹ́rìndínlógún) e
Olódùmàrè.
Talvez uma
esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) que também merece destaque é
Óxun (Ọ̀ṣun). Por
um longo tempo ela foi casada com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e
através dela, muitas práticas que foram abençoados por Olódúmarè
tornaram-se institucionalizadas.
Por
exemplo, foi Óxun (Ọ̀ṣun) que trouxe um programa de iniciação
chamado Ifá Ẹlẹ́gán ". Este é o resultado do fato de que
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), seu marido, é uma pessoa que viajava com
frequência e era Óxun (Ọ̀ṣun), sua esposa que estaria em casa,
tratar as pessoas e atender às necessidades, tanto médica como
espiritual.
Isso tinha
duas implicações, Óxun (Ọ̀ṣun) tinha que fazer algo para
salvar a vida das pessoas e ao mesmo tempo, manter a consistência
pela qual a casa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) era conhecida.
Entre as
pessoas que vieram ao seu encontro muitas foram as interessadas em
ser iniciadas para Ifá. Mas desde que Óxun (Ọ̀ṣun) é uma
mulher, ela é proibida de ver o Olofin Odu, a entidade sagrada de
Ifá que não pode ser visto, exceto (a) a pessoa é um homem, (b)
ele é iniciado e (c) dado o antídoto para reduzir o efeito da
energia que 'ile Odu "pode lançar sobre ele.
Óxun
(Ọ̀ṣun) também seria lembrada pelos passos que ela tomou durante
uma longa ausência do marido, para salvar as vidas de alguns
vizinhos. Tornou-se necessário para ela falar com o Ifá de seu
marido sobre os problemas que as pessoas tinham. Obviamente, confuso
no início, o verso de Ifá diz que Óxun (Ọ̀ṣun) levou quatro
peças de Búzios para o Ifá de seu marido, orou sobre ele e pediu
as bênçãos do espírito de seu marido para entrar nos búzios já
que ela não sabia como consultar o oráculo usando o Ikin, naquele
tempo.
Ela, então,
usou o Ibô para perguntar o que a pessoa doente, estéril, ou em
dificuldades devia trazer a resolver seus problemas. Uma após a
outra, ela iria testar todas as coisas que ela já tinha visto o
marido recolher para esse caso em particular.
Uma vez que
o Ibô e o búzio dizia "sim", ela pedia a pessoa para
trazer os itens específicos. Ela então colocou-os, todos, em cima
de Ifá de seu marido e disse que a pessoa fosse embora. E como
resultado elas estavam sendo curadas.
Então Osun
continuou por muito tempo como este processo, até ao regresso do
marido. Quando Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) voltou ele viu as nozes de
cola no seu quintal, viu cabras de diferentes tamanhos e sexos
amarrados a postes, as galinhas eram incontáveis.
-"Quem
possui tudo isso? ' Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) perguntou, surpreso.
-"Eles
são todos os presentas de Ifá que eu tenho coletados usando estes
búzios”. Óxun (Ọ̀ṣun) respondeu ao marido mostrando o búzios
que ela estava usando. Ela também contou os sucessos que ela havia
obtido.
Na próxima
vez que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) visitou Olódúmarè, para dar
relato do que estava acontecendo na Terra, ele narrou o que Óxun
(Ọ̀ṣun) estava conseguindo usando búzios e os presentes que
vieram desta prática. Olódúmarè disse Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
para dar a Óxun (Ọ̀ṣun) 16 Odùs semelhante à adivinhação de
Ifá.
-"Ela
pode usar estes para o tratamento de clientes que vieram com ela
enquanto você estiver fora da cidade".
Assim, a
adivinhação com 16 búzios realmente começou com Óxun (Ọ̀ṣun).
Esta história vinda de uma outra fonte traz os mesmo
elementos das anteriores. É um pouco diferente e talvez menos
elaborada em alguns aspectos, mas, coloca Óxun (Ọ̀ṣun)
recebendo os Odù Méjì de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e o seu
axé (aṣẹ́)
para isso diretamente de Olódùmàrè. Esta diferença de narrativa
mas contendo os mesmos elementos básicos valoriza mais ainda o seu
conteúdo e a tese deste texto.
Vejam também neste texto a presença da orientação de
somente a mulher consultar Ifá na ausência no local de um Bàbáláwo
que possa fazê-lo.
Antes de encerrar eu quero transcrever aqui um mito do
Candomblé, trazido por José Beniste em seu livro Mitos Yoruba, “A
disputa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) com os búzios”, que mostra
um conflito entre Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e o eerindinlogun
(ẹẹ́rìndínlógún).
Por algum motivo os búzios deixaram de ser um
instrumento de Ifá, ficando restrito ao culto de Orixá (Òrìṣà).
Em cuba foi incluída uma proibição de que um Bàbáláwo nem pode
pegar em búzios.
A história seguinte pode fazer parte das que foram
criadas para justificar isso:
No panteão religioso Yoruba, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
é considerado um grande sábio pelos seus cálculos sempre exatos em
tudo que diz e prevê. A pratica do jogo utiliza diversos
instrumentos, como os coquinhos do dendezeiro, o rosário de favas e
os búzios São modalidades diferentes para um único objetivo. Pela
sua utilização constante, eles já fazem parte de sua essência
divinatória, mas seus poderes de previsão estão condicionados a
participação de Órunmila (ọ̀rúnmìlà), o que quer dizer que os
búzios, por exemplo, só revelam suas mensagens se forem manipulados
por uma pessoa habilitada.
Ocorre que, certa vez, os homens se julgaram tão
poderosos quanto Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) na pratica do jogo. A
historia em seguida narra como isto aconteceu e como Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) teve que se valer de toda a sua sabedoria para
mostrar o seu poder. Nessa disputa, os búzios foram representados
pelo escravo comprado por Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) no mercado da
cidade. Esta é a hist6ria:
Certo dia, quando Órunmila se dirigia para atender
sua clientela, sua mulher lhe pediu que comprasse um escravo que
custa-se ate 16 búzios, visto que, naquela época, os búzios
representavam a moeda utilizada. No trajeto até o mercado, Órunmila
(ọ̀rúnmìlà) passou pela beira de um rio onde várias pessoas
estavam pescando. Então, disse que poderia informar, exatamente, a
quantidade de peixes que todos haviam pescado. Os Pescadores não
acreditaram na possibilidade de ele acertar com tamanha exatidão.
Fez-se uma aposta: se acertasse, todos os peixes
seriam dele. Feito o trato, Órunmila afirmou: "Ai tem,
exatamente 201 peixes." Os Pescadores foram verificar e,
realmente, haviam 201 peixes. Então, disseram: "Pode levar.
Todos os peixes são seus”. Órunmila (ọ̀rúnmìlà) disse-lhes
que enterrassem os peixes e marcassem o lugar com folhagens, pois na
volta do mercado ele os levaria para casa.
Continuando o seu caminho, mais adiante Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) encontrou varias pessoas fazendo um alçapão,
cortando madeira e capim para pegar preás. Então, Órunmila
(ọ̀rúnmìlà) disse: "Eu posso dizer quantas preás vocês
já tem mortas." E, como duvida fizeram uma aposta nas mesmas
condições anteriores. acertado, Órunmila disse: "Ai tem 201
preás." Foram contar e lá estavam as 201 preás Os caçadores
disseram, então, que ficasse com as preás. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà),
porem, pediu que as enterrassem e marcassem o local, cobrindo-o com
folhas.
Chegando no mercado, viu um menino que se antecipou a
ele e foi logo lhe dizendo que tinha ido ao mercado para comprá-lo
por 16 búzios, que era quanto possuía na bolsa. Órunmila ficou tão
surpreso com o que ouviu, que comprou o menino e pediu um barraqueiro
para tomar conta do garoto, ate ele voltar e levá-lo para casa.
Assim que Órunmila (ọ̀rúnmìlà) se foi, o
menino contratou alguns carregadores e foi a todos os lugares onde
estavam as preás e os peixes enterrados. Levou tudo para a casa de
seu amo. La chegando convidou a todas as pessoas conhecidas de
Órunmila, assim como músicos para animar a festa. A mulher de
Órunmila (ọ̀rúnmìlà) ficou surpresa ao ver aquele menino
entrar pela casa adentro dirigindo tudo com a maior desenvoltura,
como se conhecesse tudo e a todos ha bastante tempo.
Chegando ao mercado, a tardinha, Órunmila
(ọ̀rúnmìlà) foi ate a barraca onde havia deixado o menino e,
como não o encontrou, voltou para casa se lamentando por ter perdido
o dinheiro na compra do escravo que havia sumido. O que iria dizer
em casa? Sem o menino, ficaria desprestigiado perante sua mulher. E,
assim, Órunmila (ọ̀rúnmìlà) , muito triste, seguiu seu
caminho, lamentando-se todo o tempo.
Ao se aproximar de sua casa, ouviu um ruido de festa.
Apareceu, então, o tal escravo que lhe perturbava o sossego de
espirito, acompanhado de muita gente que veio ao seu encontro,
dizendo que ele podia ficar tranquilho, pois o escravo já havia
providenciado tudo. Órunmila (ọ̀rúnmìlà), muito admirado, ficou
contente com tudo que viu.
Desde esta data, a fama do escravo passou a correr
todos os lugares, ate chegar aos ouvidos do rei. Este mandou marcar
uma audiência com Órunmila (ọ̀rúnmìlà), porque soube que, mal
as pessoas iam chegando na casa de Órunmila, o escravo dizia o nome
e tudo sobre elas.
No dia designado pelo rei, Órunmila chegou ao
palácio e deparou-se com uma especie de disputa entre os dois. O rei
havia mandado construir uma casa e colocara dentro dela 100 homens,
ordenando, em seguida, que cortassem a cabeça deles para que não
revelassem o segredo. O rei queria estabelecer um confronto entre
Órunmila e o menino escravo. Órunmila, sendo um grande sábio, não
podia ficar desmoralizado.
O rei, então, ordenou que Órunmila dissesse o que
tinha dentro da casa. Órunmila ordenou que o escravo falasse em
primeiro lugar, e então o escravo disse: "Dentro da casa
existem 100 homens que o rei mandou colocar para o meu senhor
adivinhar." O rei foi logo confirmando. Órunmila (ọ̀rúnmìlà),
sem vacilar, completou: "Não, senhor, dentro desta casa existem
201 criaturas justas e perfeitas", desmentindo, assim, o rei e o
menino.
Ao ouvir isto, o rei ficou indignado e respondeu-lhe:
"Você não sabe nada; foi esse menino que disse a verdade."
Órunmila (ọ̀rúnmìlà) não se perturbou e falou: "Se eu
sou ainda o Bàbáláwo Àgbọnmìnrègun, daqui a cinco dias virei
assistir a abertura a casa. Peco, porem, que ninguém mexa nela e
deixe tudo como esta ate o dia marcado."
Chegando em casa, Órunmila foi consultar Ifá para
ver como resolver aquela situação Ficou determinado que ele fizesse
um ebó com uma rã. Depois de tudo preparado, cavasse um buraco
dentro de casa e enterrasse tudo. Passados os cinco dias, la estava
Órunmila, no dia e hora determinados, na presença de todos.
Ordenou, então, que abrissem a casa. Os homens foram saindo em fila,
tendo no ombro de cada um o filhote de Rã. Perguntaram, então:
"Quem e o seu pai?", e o filhote respondia: "Rã."
E, assim, saíram da casa 100 homens, todos com filhotes de Rã no
ombro e, no final da fila, uma grande Rã, que era o pai de todas
elas, perfazendo um total de 201 criaturas. O rei perguntou como ele
havia feito aquilo, e Órunmila respondeu: "Awo", que quer
dizer, mistério.
Com esta demonstração de magia e sabedoria de
Órunmila (ọ̀rúnmìlà), o rei pode ver que ele não adivinhava,
mas acertava tudo. E, assim, nunca mais se fez a suposição de que
os búzios, ou qualquer outro instrumento para consulta, enxergasse
mais do que Órunmila (ọ̀rúnmìlà).
Conclusão
Esta narrativa esta inserida no Odu Ejl Ologbon, e
tem como personagens a figura de quem joga, representada por Órunmila
(ọ̀rúnmìlà); e a dos búzios, representada pelo escravo. A
utilização dos búzios por alguém não faz dele, forçosamente, um
emérito "olhador". E necessário um conjunto de situações
para determinar a possibilidade de uma tarefa bem-sucedida para a
pratica divinatória: estudo, competência e, sobretudo, o dom
natural para essa função. Os búzios nada revelarão por si só. E
preciso saber manuseá-los, conhecer suas regras e ter a sabedoria
para interpretar as caídas, ou seja, as configurações.
Eu não posso deixar de comentar que esse mito que foi
transcrito pelo José Beniste, o qual é um pesquisador confiável,
na realidade é uma cópia modificada de uma História de Ifá, sobre
o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀) e é retratada em Ogbè Méjì. Na
história de Ifá o escravo é na realidade o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀),
que foi enviado por Olodumare para ajudar Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
a pedido deste próprio. A história não termina em conflito, não
neste Odù. O conflito existe apenas no Odù Obara-irosun. Eu mantive
esta mito como foi transcrito pelo Beniste.
Unindo todos os versos de versos e histórias descritas,
é clara e direta a ligação direta entre o eerindinlogun
(ẹẹ́rìndínlógún) e Ifá através das mãos do próprio
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà). O eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
não é apenas um oráculo de Orixá (òrìṣà) relacionado
com Exú (èṣù).
É um oráculo de Ifá, que fala através de Odù e tem
como Orixá (òrìṣà) base Óxun (Ọ̀ṣun). Ela é
a dona deste oráculo que recebeu de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà),
mas, antes de tudo recebeu para isso o axé (aṣẹ́) do próprio
Olódúmarè.
Para se usar o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
através de Ifá deve-se aprender o Ifá necessário para isso assim
como receber de Óxun (Ọ̀ṣun)
esta axé. Lembro que no único dos versos que veio do culto de Orixá
(òrìṣà) , é
dito que nem todos os Orixá (òrìṣà)
receberam o acesso a este oráculo. Isto é bastante razoável e vai
ao encontro do modelo de que em determinadas casas a figura de um
Olowo não é apenas uma conveniência do Babalorixá (Bàbálòrìṣà),
mas uma necessidade.
No Candomblé de hoje,
este tipo de situação é superada porque o Babalorixá (Bàbálòrìṣà)
acaba não tendo um oráculo de Ifá e sim um oráculo de mediunidade
onde não importa o que ele sabe ou não de Ifá ou se o seu Orixá
(òrìṣà) não esta
vinculado com o uso do oráculo.
Essas palavras podem parecer estranhas e reacionárias,
mas, eu acho completamente razoáveis e procedentes. Não é porque o
Candomblé teve que adotar um modelo generalista que as coisas
funcionem assim mesmo.
Minha opinião é
contrária ao modelo atual. Penso que uma casa deve ser grande e
formada pela cooperação das pessoas, que com suas qualidades e
aptidões pessoais de aprendizado ou legadas pelo seu Orixá (òrìṣà)
e Orí, vão ser cada uma uma
parte do axé (aṣẹ́) da casa. Ebomis de cada Orixá (òrìṣà)
tem que ter participação ativa
na iniciação dos noviços dos seus Orixá (òrìṣà).
Um modelo integrado e participativo tem que ser parte do
resgate da religião a ser feito pelo Candomblé. Eu não tenho
dúvidas que o Candomblé tem muito a que ensinar para as demais
tradições, mas, ela também tem que recuperar algumas coisas.
Assim, além de se livrar do sincretismo deve resgatar parte da
estrutura original da religião.