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quinta-feira, maio 31, 2012

Qual a finalidade de um Xirê?

Qual a finalidade de um Xirê?

Antes de abordar o tema, eu não posso deixar de comentar o que me motivou a escrever esse pequeno texto. Tenho um livro chamado, o Candomblé bem explicado, creio que bastante conhecido. Quando comprei eu gostei bastante, até recomendei, mas, lendo direito todo ele, a gente vê que é apenas o “Candomblé mal explicado”.

Você compra o livro entendendo que as coisas serão explicadas e você se decepciona, a dúvida é se a pessoa sabe ou se não quer explicar de fato. Eu imagino que seja a segunda hipótese, porque quem escreveu tem que conhecer bastante.

Um dos temas abordados foi o caso do Xirê.

O Xirê é o nome que se dá ao procedimento de se tocar e dançar para todos os Orixá (Òrìṣà) que compõe o grupo dos mais cultuados. É um movimento muito plástico e alegre porque cada Orixá tem danças próprias. Ele ocorre em um Candomblé, que, além do nome da religião, ou melhor, da tradição religiosa, é o nome dado a ocasião festiva quando uma casa recebe pessoas de fora e toca para os Orixás fazendo o Xirê. Assim fazer o Candomblé é realizar o Xirê.

Assim temos as duas coisas. O Candomblé que é a ocasião ou a festa e o Xirê é a sequência de danças feitas pelo corpo de membros da casa e que vai de Exú (Èṣù) a Oxalá (Òṣàlá), como a gente costuma falar. De fato uma é quase um sinônimo do outro. “vou tocar um candomblé” ou “vou fazer um xirê” são expressões equivalentes.

No Candomblé cada Orixá (Òrìṣà) tem cantigas especiais para ele. Também tem toques de atabaque especiais para essas cantigas dele, normalmente mais de um tipo de toque, apesar de alguns toques serem mais característicos de um do que de outro. Além disso, tem danças associadas a cada orixá (Òrìṣà) e algumas específicas de algumas cantigas.

É muito rica a liturgia do Candomblé. Os toques dos atabaques são maravilhosos e harmônicos e a vocalidade das cantigas são maravilhosas, além do formato de canto e resposta. Essa riqueza musical e estética do Candomblé, na minha opinião é muito superior à dos lukumi de Cuba e mesmo dos Nigerianos. Sei que é uma afirmação difícil porque o que os lukumi fazem reflete as preferências da sociedade deles e da mesma forma a forma de tocar atabaques dos nigerianos reflete o que eles gostam lá. Mas existem aspectos de estética que são universais, o bom gosto é universal. Se mão fosse assim a gente não consumiria música, dança e arte de outros povos e países.

Desta maneira, minha opinião é que a estética, apresentação, organização e limpeza do Candomblé são muito superiores ao que conheço dos outros lugares.

Com toda essa riqueza cultural, conhecer as cantigas, toques e danças é uma arte ou mesmo ciência nesta religião, é conhecimento teológico. Isso inclui saber quando usá-las. Cada movimento, cantiga ou reza tem a sua forma e hora de ser empregada. Um xirê dura entre 3 a 4 horas dependendo a boa vontade de quem faz. É um pouco cansativo para quem assiste mas se bem executado é um momento muito bonito, porque as cantigas são simples, mas muito bonitas, os atabaques de candomblé são um espetáculo especial e claro as danças são um momento mágico.

Eu tive a sorte de conhecer um pouco das danças Hawaianas no Hawaii, são sem dúvidas muito especiais e lembram muito o candomblé. Cada dança no Hawaii é uma história ou conta uma história. A letra, a música e a dança se harmonizam e certos aspectos da religião deles também lembra muito o Candomblé.

O xirê é parte do que se chama Ìfọgbọ́ntáayéṣe, que são as ações para trazer paz e harmonia para a sociedade e comunidade. O Xirê é um momento plástico e alegre, mas, além de ser isso, bonito, têm um sentido litúrgico e filosófico.

É um dança circular, como as que existem em muitas religiões. Liturgicamente falando o Xirê é o momento em que uma casa capta e distribui o seu axé por entre todos os presentes. Uma casa de candomblé tem muitas atividades que geram axé através da transmutação de matéria em energia. Normalmente quando se vai fazer um Xire existe uma preparação litúrgica que gera mais axé ainda. Assim, durante o xirê, através do movimento, da dança e dos atabaques os Orixás se fazem presente e distribuem o axé da casa por todos os presentes.

O primeiro sentido do Xirê é o da reunião festiva trazer as pessoas para junto e ter horas de alegria com elas. Isso é uma ação de Ìfọgbọ́ntáayéṣe. Além das danças e as cantigas que todos os presentes cantam juntos, ao final é servido uma refeição para todos reforçando assim a questão de integração e recepção festiva.

Contudo, ele vai mais além de apenas isso.

Ao participar de um Candomblé mesmo como “assistência” você tem a oportunidade para você ser abençoado, ser atendido em seus pedidos e necessidades pelos orixá (Òrìṣà) e de repor o axé que perdeu no dia a dia. Os orixá (Òrìṣà) vão levar suas mazelas, sua negatividade e te repor com energia positiva. Este é o sentido da presença dos Orixá na terra.

Não existe xirê sem orixá (Òrìṣà) manifestado. Pode ser que nas outras tradições religiosas estrangeiras, isso não seja assim, mas, aqui, no Candomblé é assim.

O Xirê abre o portal que traz os orixá (Òrìṣà) ao Àiyé através dos elegun e que permite que eles distribuam axé para as pessoas que lhes são caras.

Outro aspecto é que esta religião tem como dogma que a nossa presença nesta vida é para sermos felizes! Não nascemos para sofrer e nem para ser infelizes. Não estamos aqui com culpa ou pagando por erros, vivemos para ser felizes com as pessoas que gostamos.

Os Orixás são enviados de Olódùmarè, o deus supremo Yorùbá, para nos ajudar a ser felizes. Os Orixá (Òrìṣà) estão na terra para nos ajudar nas nossas dificuldades e para que nossa vida seja uma vida próspera e saudável. Eles não estão aqui para serem cultuados, é o contrário.

Olódùmarè é um deus distante. Ele não é nosso deus exclusivo, é deus de tudo o que existe na terra de todas as criaturas. Para nos socorrer ele colocou os Orixás e é a eles que recorremos.

Para que o culto de nossa religião fosse um momento de felicidade e alegria e não um momento de sisudez e reclusão, Olódùmarè estabeleceu no odu Oxé-otuwa que o culto fosse repleto de felicidade e alegria. Desta forma as oferendas são comidas votivas que são feitas e divididas com toda a comunidade. Comida é vida e comer é, em toda a humanidade, um dos maiores lazer das pessoas.

Igualmente esta festa se complementa com canto e dança. Os Orixás querem ser louvados com alegria e não com a cabeça baixa, os olhos fechados e a cara triste.

Desta maneira um Xirê é como uma missa, é o ponto alto da louvação aos Orixá (Òrìṣà), a Olódùmarè e à vida. Normalmente após dias ou semanas de liturgias internas em uma casa, sempre tudo se conclui com o Xirê, com a alegria e a distribuição de axé.

Uma das estratégias do Ìfọgbọ́ntáayéṣe, as ações para trazer paz e harmonia a comunidade, é distribuir o axé (àṣẹ) através do xirê.

Os católicos fazem missa, nós fazemos o Xirê. Ninguém vai a um Xirê para bater palma para malucos, você vai para ficar feliz, receber axé (àṣẹ) e sair feliz.

É assim que os Orixas querem ser lembrados e cultuados para que isso nunca seja um peso para nós. Louvar os Orixás nos traz alegria e comunhão e, assim, não temos motivos para não fazer isso sempre. O conceito de felicidade nesta vida é completo e o Xirê é parte disso.



segunda-feira, maio 28, 2012

O Jogo de Búzios e Ifá - parte 4 de 4

O Jogo de Búzios e Ifá - parte 4 de 4


O oráculo no Candomblé

Não é possível falar sobre a prática real do Oráculo com búzios em Cuba ou Africa em relação aos seus desvios, que devem existir, mas, podemos abordar como ocorre no Brasil que é o que nos afeta de fato.

O Oráculo por excelência do Candomblé é o jogo de búzios, mas a forma de usá-los muda bastante. Como ele é feito somente pelo Babalorixá (Bàbálòrìṣà) e este é um elegun, um médium rodante,  existe sempre um enorme componente de mediunidade envolvido no processo. Pela falta de preparação dos sacerdotes para desempenhar a sua função, em função da proliferação de casas, na minha opinião (sem dados para comprovar), esse componente de mediunidade, hoje, deve representar a sua totalidade, ficando fora disso apenas poucas exceções.

Assim, desta forma, no dia a dia, os Búzios são usados muito mais através da vidência do olhador do que pela interpretação é feito pela chamada fala dos Orixá (Òrìṣà) que combina caídas de búzios com Orixá (òrìṣà) e não com Odù. 

Mesmo não sendo o jogo de búzios feito por Ifá, existe ainda a necessidade de uma formação e preparação para isso para que a sua interpretação seja feita usando as caídas e não um processo simples de adivinhação (vidência).

Antes, ninguém sabia o que era Ifá e muito menos Odù, entretanto todo mundo jogava búzios através de orixá e isso nunca foi um problema. Sempre era um Orixá (Òrìṣà) falando e as mensagens eram interpretadas e ditas pelo Babalorixá (Bàbálòrìṣà) através de um misto de vidência e configuração dos búzios.

Os 3 elementos principais do Jogo de Búzios no Candomblé são, a mediunidade do olhador (sempre vai estar presente), o orixá que esta falando através do arranjo dos búzios e as configurações dos búzios entre si e com objetos dentro do espaço do jogo. A estes pilares, se adicionam mais algumas particularidade relacionadas com o método adotado por cada pessoa.

Vejam, eu nao ignoro ou disrimino o uso da vidência. Mas na minha visão, no jogo de búzios, o primeiro componente é o conhecimento das formas de interpretar as caídas do búzios, seja pela quantidade, posição que caem e configurações. Esta é a forma dos Orixá (òrìṣà) se comunicarem e claro identificar que Orixá (òrìṣà) esta falando

O segundo componentes vem através da intuição que poderá dar vidência (visões) e sugestões ao olhador sobre a mensagem. Esta intuição também esta presente em Ifá. O Babalawo é iluminado pelo espirito de ELÁ.

O terceiro componente vem a ser a aurividência através do qual o  Babalorixá (Bàbálòrìṣà) ouve no seu ouvido informações sobre o consulente e mensagens. Sobre este terceiro pesa sem dúvda a origem de Umbanda de muitos sacerdotes. O ponto de atenção sobre este elemento é ele se transformar no componente principal do jogo. Também existe um problema quando o olhador não consegue distinguir se as informações que ele recebe são intuições legítimas de Orixá (òrìṣà) ou aurividência vinda de elementos estranhos que podem ajudá-lo como também enganá-lo.
Os olhadores mais famosos sem dúvida são aqueles que com poucas caídas contam para o consulente longas histórias sobre a vida deles. Mas, isso não e jogo de búzios é você estar consultando com um guia de umbanda.

Mas seguindo, o oráculo do Candomblé é e sempre foi um Oráculo de Orixá (Òrìṣà) e não um oráculo de Odù ou de Ifá. O Jogo de Búzios é a ferramenta básica de trabalho de um sacerdote de Orixá (Òrìṣà) na sua casa. O oráculo é a porta de entrada de qualquer pessoa no mundo sacro do Candomblé. Tudo a ser feito passa por um jogo de búzios.

Não pode existir um Babalorixá (Bàbálòrìṣà) que não tenha um oráculo na mão, porque uma casa não funciona sem um oráculo, ou pelo menos, não deveria funcionar. Toda a consulta ao divino é feita com ele e tudo deve ser feito consultando o divino. 

Os búzios, como um oráculo e comparado com Ifá, tem muitas vantagens. Eles são mais simples de aprender e podem indistintamente serem usados por homens e mulheres (seria impensável o candomblé ter um Oráculo que fosse apenas para homens). Além disso, os búzios  trazem uma densidade de informação muito maior. Não é um instrumento bom para trabalhar com Odú mas é um instrumento excelente para se dialogar com Orixá (Òrìṣà) e entender o problema e ajudar as pessoas.

Não é necessário o olhador ser um expoente da aurividência para ter um bom jogo. Pelo contrário, isso até prejudica porque o olhador vai ficar esperando "ouvir" o que precisa ao invés de concentar em dialogar com  os Orixá (Òrìṣà). Como sempre, lidar com níveis mais baixos de espíritualidade é muito mais simples do que com os níveis mais superiores.

O jogo de búzios usado em sua forma tradicional sempre funcionou e atendeu muito bem ao Candomblé. Isso era o Jogo de Búzios. Mas, em algum momento esta questão de Odù começou a aflorar e passou a ser um diferencial de status ou mercadológico dizer que se jogava búzios por Odù.

Sem dúvida, desdo o início do século passado com a introdução do método de Bangboxê no Candomblé, o uso dos búzios sofreu muitas variações no decorrer dos anos. A gente tem que considerar inicialmente o fator Umbanda. Um enorme contingente de pessoas que são do Candomblé já foram Pai de Santo de Umbanda (muitos escondem isso) e lá eles trabalhavam fortemente com vidência e mediunidade.

Essas pessoas tem a clarividência e aurividência muito aflorada. É possível que a totalidade deles não deixe de trabalhar com seus guias de Umbanda mesmo estando no Candomblé. Esta mediunidade muito presente e extensivamente praticada passou a exceder o nível normal de influência no oráculo. A mediunidade sempre vai estar sempre presente no jogo de búzios do Candomblé, mas, o que essas pessoas de Umbanda fizeram foi romper com o equilíbrio disso com os outros elementos. A pessoa não pode somente usar a sua mediunidade.

O outro fator foi a abertura do Candomblé. Nos últimos 20 anos o Candomblé passou por uma onda grande de novos entrantes, pessoas com mais formação escolar e cultural. Eles foram o motor de uma expansão do Candomblé como religião por opção, mas, também trouxeram um processo de reafricanização do Candomblé. Reafricanização em um sentido restrito, de resgatar elementos perdidos e não de mudar o Candomblé para a prática da África.

Assim, incluir Ifá no contexto do Candomblé passou a ser uma meta importante e isso veio através do uso de Odù. Mas, ocorreu de uma forma muito torta sem consistência e altamente esoterizado. O processo foi um erro porque faltava conhecimento real e um modelo de referência.

As pessoas dizem hoje que jogam por Odù, mas isso é ilusório, o método não esta correto. Usam 16 Búzios e dão nome de Odù para as caídas, mas, ainda, fazem uma associação preponderante entre a caída e um Orixá (òrìṣà). Esta continua a ser a informação mais importante. Em função do Orixá (òrìṣà) que está falando e do arquétipo do Orixá (òrìṣà), aquela caída ganha um significado.

Os 2 aspectos mais importantes nesta interpretação por Odù feita no Candomblé ainda são a mediunidade e o Orixá (òrìṣà). Existe, sim, um fator novo, de Odù, inserido na interpretação. Isto é feito usando basicamente um mesmo material, que é usado por todo mundo e que possivelmente é baseado no livro do Mapuil, com mais alguns elementos esotéricos e numerológicos. Com algumas poucas variações, a base que se usa é a mesma.

Neste material, ruim, tudo já esta interpretado sendo assim mais fácil de ser usada do que ter que interpretar na hora da consulta as histórias e mitos. Mas o material não guarda correlação com a abordagem de Ifá para analisar um Odù.

As pessoas atualmente se preocuparam em dizer, rapidamente, que estão interpretando por Odù, mas não se ocuparam de resgatar ou incluir os elementos fundamentais para uso de Odù em um oráculo. O primeiro elemento ignorado foram as histórias que foram substituídas pelas pré-interpretações.

Ifá não existe sem histórias. Elas trazem a cultura oral com seus valores e ética. A interpretação das histórias em conjunto pelo olhador e pelo consulente são umas das formas do olhador compreender a pessoa e seus problemas. Não existe interpretação certa e as pessoas podem olhar a mesma história de forma diferente. Assim uma história é um elementos que traz muita informação ao olhador, mas, necessita da participação do consulente.

Igualmente se perdeu o o uso dos ìbò para poder interagir com o Orí do consulente. Minha opinião é que esse foi o pior aspecto da deterioração do uso do Jogo de Búzios no Candomblé. Deixou de ser um processo interativo, um processo que o consulente participa do oráculo para ser um processo no qual apenas o Babalorixá (Bàbálòrìṣà) fala e diz aquilo que quer, sem saber quando fala bobagem.

Além disso entra um novo elemento, a numerologia, também herdada da Umbanda e tem gente que inclusive faz Odù só com números, a partir de nome, de data de nascimento, etc... Aliás, não existe essa relação de Odù e número, isso foi um sincretismo. Dessa maneira não tem nenhuma utilidade fazer contas com nomes e data de nascimento e querer associar isso à pessoa. Inclusive é muito comum se usar a expressão de se determinar o Odù de nascimento através da data de nascimento. Isso é tão verdadeiro como se determinar a o Orixá (òrìṣà) da pessoa de acordo com o dia da semana em que ela nasce, ou seja, não existe isso.

O Odù de nascimento somente é determinado em Ifá até o 8 dia do nascimento e com a presença do recém-nascido. Depois disso nunca mais.

Dessa forma, elas dizem que jogam por Odù, mas ignoram 3 coisas muito básicas para se usar Odù. Primeiro usam muitos Odù para interpretar ao invés de um principal, segundo, não usam as histórias e terceiro não usam o Orí do consulente para as respostas, não usam os Ìbò. Eu inclusive já ouvi uma pessoa que diz que usa esse método dizer que os caminhos dos Odù é você determinar se o ebó vai ser na praia, no mato, na rua, na encruzilhada, etc...

Observem que, como eu disse no início, Ifá não é baseado em Orixá (Òrìṣà), é baseado em Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), em Orí e no nosso destino. Eu considero que tão importante quanto Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) é Orí em uma consulta de oráculo. Não existe consulta de Ifá sem que o Orí participe diretamente nas respostas através dos Ìbò. Entretanto essa prática não existe mais no jogo de búzios, se existir é uma minoria, ou talvez raridade. É provável que o consulente nem pegue nos búzios antes de eles serem jogados para ele.

É impossível, você colocar 2 Babalorixá (Bàbálòrìṣà) interpretando o mesmo jogo, assim como é impossível um Bàbálòrìṣà chamar outro para ajudar ele no oráculo. Cada um só sabe ler o seu e não diz para o outro o que sabe ou o que não sabe.

Em Ifá é diferente, ou usando qualquer oráculo de Odù você pode colocar 16 Babaláwo interpretando o mesmo Odù, eles vão falar a mesma coisa e poderão discutir interpretações ou complementar as informações. É muito comum terem sempre 2 bàbáláwo em uma consulta, um ajudando o outro. Isso é possível porque eles estão tratando da mesma base de conhecimento e do mesmo processo.

Mas esse é o nosso caldo cultural e Ifá vem muito recentemente se adicionando.
A seguir em poucos itens os desvios do Jogo de Búzios que descaracterizaram a sua ligação com Ifá e o transformaram em uma “Jabuticaba”:
  • Números: existe uma paranoica ligação dos búzios com número. Isso não faz parte de Ifá, Odù não tem número nenhum associado e no máximo tem marcas gráficas. O uso de números é uma coisa externa à religião Yorùbá. É um sincretismo esotérico com numerologia.

    Neste contexto se inclui aquela cruz maldita feita com a data de nascimento. Aquilo não faz parte de Ifá. Também igualmente ridículo é determinar Odù usando o nome da pessoa. Primeiro se transforma o nome em um número e depois em um Odù. Isso não existe em Ifá.

  • Histórias: São o elementos mais básico de Ifá, uma cultura Oral. Não existe Ifá sem versos. No Candomblé, o Jogo de Búzios, abandonou as histórias associadas aos Odù. Ninguém sabe e nem procura saber quais são.

    No Dillogun cubano essas histórias são muito bem organizadas e colecionadas.

    As pessoas, atualmente, nem mesmo procuram saber os mitos históricos associados aos Orixá, que não fazem parte de Ifá e sim do próprio culto de Orixá, e que são importantíssimos na transmissão dos valores da religião.

    As pessoas se orgulham de dizer que o Candomblé é uma tradição oral. Mas, só fazem isso para justificar a sua preguiça ou incapacidade de estudar e ler. Tradição oral é obter os conhecimentos nas estórias.

    No jogo de búzios, as histórias foram substituidas por significados. Para cada Odú foram pré-estabelecidos significados e o máximo que a pessoa aprende são esses significados pré-interpretados. Não existe interação entre o olhador e o consulente na análise das histórias e nem as explicações dos valores morais da religião.

  • Nomes de Odù: confusos. O eerindinlogun é Ifá, feito com os 16 Odù méjì. Esta ´a definição principal. Desta maneira os nomes de odù tem que ser os mesmos de Ifá. Os nomes usados no jogo de búzios variam e incluem nomes de omon odù (ofun karan, obeogunda) e outros que não existem (alaafia (?), ejilaxeborá).

  • Não se usa os Ìbò: a maior parte das pessoas nem sabe o que é. Sem o uso de Ibô acabou a interação entre o olhador e o Ori do consulente. O Olhador responde o que a sua mediunidade indica.

    Igualmente acabou com isso a seleção das oferendas e ebós usando o oráculo. Ao invés de usar o Ibô para determinar o que será feito, o olhador de forma arbitrária e questionável, diz e detalha o que vai ser feito.

  • Arquétipo de Orixá: Pela falta de conhecimento do que é Odù, e de sua interpretação, ocorreu um processo simples e direto de associar búzios a um número, este a um odu e por fim (o que interessa mesmo) este a um orixá. O que importa é este orixá. Pelo arquétipo do Orixá a pessoa diz o problema da pessoa ou a quem deve recorrer para solucionar.

  • Orientação de Odù: Abandonado. No Jogo de Búzios não se determina se o Odù esta em Ire ou Ibi e isso é muito básico em Ifá. Depois de determinar o Odù a primeira coisa que fazemos e saber sua orientação e intensidade. Isso é parte da interpretação. No jogo de búzios isso não é feito.

    Sem a determina a orientação também não existe a determinação de qual o tipo de Ire e Ibi. Novamente, o olhador fala o que sua mediunidade indica.

  • Uso de objetos: É muito comum usar objetos colocados na peneira para traduzir significados. Este é um aspecto animista que não faz parte de Ifá e muito menos do eerindinlogun.

  • Quantidade de caídas: Em ifá usa-se uma sequencia de 4 Odù para se interpretar o problema e a solução para o consulente. Esta sequencia se inicia com o Odù principal que traz o problema. Seguem os seus testemunhos, que trazem o detalhamento e que indicam o que deve ser feito, complementando o significado do primeiro, nunca substituindo. Estes Odù.foram usados para se determinar o seu estado (2 deles) e podem ainda ser complementados pela sombra ou um odu feito com partes de outros. Cada Odù tem seu signifcado nisso e utilidade, complementando o principal.

    No Candomblé muitos até fazem as 4 caídas, mas, a forma de utilizar cada uma delas não é clara. O motivo das 4 caídas é o mesmo de Ifá, mas, foi mantida apenas as quantidade de caídas sem o seu significado, porque não se determina o estado do Odù.

    Vejam, dizer que tem um oráculo com Odù que não se determina a orientação e o tipo de influência, é o mesmo que não ter um oráculo de Odù. Só essa razão estrutural já seria o bastante para dizer que o Jogo de Búzios não tem nenhuma relação com Odù.

    Após esta sequencia estruturada, em Ifá pode se iniciar uma outra respondendo a questionamentos do consulente, através do seu Ori e usando os Ibô. Assim a quantidade de interações desta fase não estruturada é indefinida, mas, a fase relativa ao Odù se encerra com a determinação completa do seu estado.

  • Determinação do Ebó: Em Ifá a determinação do Ebó para pelo Ori do consulente. É um processo interativo usando o Ibô. Existem um conjunto de opções e detalhamento disso. No jogo de búzios o olhador normalmente termina a sua consulta dizendo o que vai ser feito, ou então ele faz uma caída, olha para ela e sai passando o que fazer.

    Dificilmente ele passa por um processo interativo de escolha. O próprio processo de selecionar o que vai ser feito usa critérios pouco objetivos onde um Odù que não fez parte de nenhuma das 4 caídas pode receber um Ebó porque apareceu em sub-formações de búzios.

    O que liga um Ebó a um odu é geralmente a quantidade de elementos. Assim, de novo a neurose da numerologia influencia o jogo de búzios, como se Exu fosse contar o número de coisas para saber qual o Odù.

    A maior parte das pessoas faz a escolha do Ebó estritamente ligado a um Orixá. Assim, eles definem como ebó uma comida votiva ligada ao Orixá que ele entendeu que falou no jogo. Como expliquei a quantidade de búzios determina o Orixá e assim a saída é então oferecer uma coisa para este Orixá. 

     

Conclusão sobre eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) e Ifá

 

Eu não tenho como objetivo ser panfletário para nenhum lado. Me interessa de fato a verdade, os fatos e os fundamentos. Para poder dar essas explicações colocando a minha opinião sobre esse assunto eu tenho me dedicado a muito tempo a essa questão, sempre buscando novos argumentos e novas formas de ver isso.

Eu considero que owó eyo merindinlogun (owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún) é para ser usado para trabalhar em Ifá, com Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), Odù e Orí. Isso poder ser feito usando somente os Odù Méjì como também com os 256 Odù, dependendo da preparação do olhador. Claro que falar em interpretar 256 Odù com búzios é uma coisa polêmica, mas, os cubanos já o fazem. Lá eles sõ não chamam de omon odù, chamam de odù composto, mas é a mesma coisa.

Contudo o instrumento jogo de búzios jamais vai ser equivalente ao Ikin ou Opele. O conjunto de informações que ele lida são menores, mas, não deixam de ser a verdade. Isso esta explicado das histórias e também na prática.

Para fazer isso, usar os búzios para interpretar Odù - owó eyo merindinlogun (owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún) - é necessária um aprendizado adicional, que não é o mesmo de Ifá, é parte do aprendizado de Ifá, como disse Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), no mito, mas que requer adquirir conhecimento novo e treinamento.

O resgate das histórias da origem do owó eyo merindinlogun (owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún) deixa clara que esta capacidade foi dada ao Orixá (Òrìṣà) óxun (ọ̀ṣùn) e que esta divindade não é um Bàbáláwo e nem poderá ser. Isto quer dizer que qualquer pessoa do culto de Orixá (Òrìṣà), através deste Orixá (Òrìṣà) poderá receber a mesma capacidade de manipular o oráculo recebido através de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e com o axé (aṣẹ́) de Olódùmarè, mas não será equivalente a um Bàbáláwo.

Ao Bàbáláwo é reservado um oráculo com uma capacidade mais profunda da análise da vida e ao destino das pessoas. Aos seguidores de Orixá (Òrìṣà) é reservado um oráculo com a mesma verdade, mas um aprendizado mais simplificado, adequado a complexidade de seu culto e dia a dia. Também é reservado ao owó eyo merindinlogun (owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún) a capacidade de tratar dos assunto do culto de Orixá (Òrìṣà).

Pessoas de Orixá (Òrìṣà) não precisam procurar em Ifá o seu oráculo. Precisam procurar este axé (aṣẹ́) em óxun (ọ̀ṣùn), no seu próprio culto. Deixo fora deste texto a polêmica levantada nos versos se Salako no qual determinados Orixá (Òrìṣà) não teriam acesso a esta oráculo.

Gostaria de lembrar também que alguns Orixá (Òrìṣà) são considerados Bàbáláwo por natureza e isso adiciona um pouco de complexidade a esta conversa. Por exemplo Oxumare e Xango (Ṣàngó). O Bàbáláwo, no seu livro Yoruba Theology and tradition, quando comenta sobre os instrumentos de Ìbò cita que um Édun (pedra de raio) jamais poderia ser utilizada por um Bàbáláwo para representar uma pergunta a Xango (Ṣàngó), porque “.. isto seria equivalente a usar um babalawo para inquiri um outro babalawo no mesmo opon. Xango é um babalawo.”

Mas, é necessário aprender como se faz isso, testar a pessoa para saber se ela possui este axé (aṣẹ́) ou mesmo prepará-la para isso. No Candomblé todo axé (aṣẹ́) é ou pode ser transmitido, como o conhecimento.

Um Babalorixá (Bàbálòrìṣà) não tem que pensar que precisa virar um Bàbáláwo para poder ter um bom oráculo. Ele pode em primeiro lugar usar o seu jogo de búzios como o faz, desde que tenha aprendido de fato a Jogar Búzios no Candomblé, com Orixá, e não um jogo trazido da Umbanda baseado em vidência. Em segundo, se ele quer alinhar o seu jogo de búzios com Ifá ele vai precisar aprender como se usa búzios com Ifá.
Vai ter que ter muito cuidado com isso, porque Bàbáláwo aprendem a usar Ifá com instrumentos de Ifá. Bàbáláwo cubanos nem podem pegar em búzios, assim, tomem muito cuidado com quem vão se meter.

Mas adquirir o novo conhecimento pode esbarrar no comodismo de não querer estudar uma coisa que se pode fazer por mediunidade ou mesmo na dificuldade de buscar esse conhecimento. Pode-se também levar a em uma casa a tarefa do oráculo ser dividida com outra pessoa uma vez que nada garante que o Babalorixá (Bàbálòrìṣà) vai ter esse axé (aṣẹ́). Isso não diminui ninguém. 

Os Babalorixá (Bàbálòrìṣà) tem que dar valor às pessoas que tem para que elas fiquem na sua casa, uma casa grande e forte. Eles tem que considerar que sua tarefa é muito maior do que se perder em detalhes ou querer achar que pode saber tudo melhor que todo mundo. A sua liderança jamais será abalada se ele compartilhar funções na sua casa e se ele tiver outra pessoa para dividir o oráculo. Pelo contrário ele será muito mais forte.

Como eu disse, Ifá traz um novo paradigma para o Candomblé. Possivelmente um paradigma saudável.

Infelizmente o fato de não termos tido Ifá na história do Candomblé permitiu que os Babalorixá (Bàbálòrìṣà) adotassem a forma que lhes convinha sem ter nenhum modelo de referência para questioná-los.

Eu tenho razões para supor que o método de Bangboxe era aderente ao método de Ifá e que isso foi perdido, sendo os seus mecanismos substituídos gradualmente pela mediunidade ou por essa coisa sem sentido que é a numerologia.

Hoje em dia temos uma nova opção com o estabelecimento em bases perenes do culto de Ifá no Brasil, mas não tem ajudado a atitude de muita gente de Ifá. Seja os nativos que entram no culto e se acham o próprio Deus, ou no mínimo acima do resto dos mortais, sejam de cubanos que vem com suas bases Ifá-lukumi sejam os africanos que vem, sei lá com que.

Esse é mais um desafio que o Candomblé esta faceando. A sua primazia na posse de um Oráculo esta definitivamente com os dias contados e o culto de Ifá irá de forma definitiva tomar para si, como tem feito, a propriedade de ter o verdadeiro oráculo de Ifá em detrimento a forma oracular pouco estruturada que usa o mesmo nome no Candomblé.

Acho mais, este novo modelo de referência vai fazer com que a forma como o jogo de búzios existe hoje se transforme, ou resgatando sua natureza inicial ou migrando de fato para um oráculo integrado a Ifá e acabar essa prática das pessoas se enganeram  dizendo que o que fazem é jogar búzios por Odù.

terça-feira, maio 22, 2012

O jogo de Búzios e Ifá - Parte 3 de 4 O eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) é Ifá !


O jogo de Búzios e Ifá - Parte 3 de 4

O eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) é Ifá !


A prática do oráculo no Candomblé tomou mais de um caminho ao longo da nossa história e sofreu diversas influências. A primeira coisa que eu lembro a todos é que Ifá e oráculo são sinônimos no Candomblé.

A maior parte das pessoas pode até desconhecer que existe um culto separado destinado a Ifá ou a divindade Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) mas sabe que existe um oráculo chamado de Ifá. Assim, da mesma forma como Ifá e Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) são em certo aspecto sinônimos em Ifá, no Candomblé, Ifá e oráculo são palavras sinônimas, sem que isso seja necessariamente vinculado ao uso de Odù.

Por muitos anos temos ouvido as pessoas chamarem o seu oráculo de Ifá sem isso guardar qualquer vínculo com o Culto de Ifá ou mesmo com o Oráculo de Ifá. Hoje a gente deve saber que o uso de Odù no oráculo do Candomblé é opcional e é dominado por muito poucos. Chego a ter a ousadia de dizer que ninguém sabe nada, apenas falam palavras soltas. Os Babalorixá (Bàbálòrìṣà) não se preocuparam em aprender nada. Foram apenas “catando” coisas, copiando outros e chamaram o que fazem de jogar por Odù.

Mas, vamos voltar a esse ponto mais adiante. Para que cheguemos em algum lugar vamos examinar primeiro a ligação entre o owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) e Ifá.

Com simplicidade, sem recorrer a textos complicados de Odùs, vamos considerar que tudo é uma mesma religião. Dentro do culto dos Orixá (Òrìṣà) ou do culto de Ifá estamos tratando da mesma religião. É o mesmo Olódúmarè, é o mesmo aiyé, é o mesmo orun (Ọ̀run), são os mesmos Orixá (Òrìṣà). A Teogonia é a mesma. E nesse conjunto, como estamos todos falando com as mesmas divindades e acreditando na mesma metafísica, se recorremos a um oráculo para tratar da vida e do destino das pessoas e recebemos respostas sobre isso que nos permitem ajudar e orientar essa pessoa então, tem que ser Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que esta se manifestando em nossa vida.

Assim, eu não vejo porque Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) não poderia falar através do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún). Em Ifá existem diversos instrumentos. Os Babaláwo podem usar os Ikin, o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀), o Obì e ainda cascas de coco (como os cubanos fazem). Por que não poderiam usar os búzios? Ou, porque um olhador que tenha sido iniciado e seus instrumentos consagrados não pode fazê-lo?

Eu lembro que o oráculo do candomblé, o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) sempre serviu e continuará servindo com louvor a tudo o que é necessário fazer em uma casa de Orixá (òrìṣà). Esse oráculo representa sim uma forma autêntica e verdadeira de diálogo entre nós e o divino, entre nós e certamente os Orixá (òrìṣà). Se não fosse assim tudo seria errado ou sairia errado, e não é isso o que ocorre.

A ligação entre Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) existe nos versos do Odù Ogbè-Ọ̀sá, conforme transcritos por Wande Abimbola.

Houve um tempo que Olódùmàrè convocou todo os 401 Orixá (Òrìṣà) para o Órun (Ọ̀run), para para surpresa dos Orixá (Òrìṣà) eles encontraram as Ajé (Àjẹ́) no Órun (Ọ̀run) e estas passaram a comer um por um. Mas como Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) havia feito um sacrifício antes de deixar a terra ele foi miraculosamente salvo por Óxun (Ọ̀ṣun) que substituiu Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) por carne fresca de cabrito (que Órunmilá havia usado no sacrifício recomendado por Ifá).

Quando eles retornaram a terra eles se tornaram mais próximos do que nunca. Este foi provavelmente o tempo no qual Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) teve Óxun (Ọ̀ṣun) como esposa. Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) então decidiu recompensar Óxun (Ọ̀ṣun) e então ele colocou junto os 16 búzios e ensinou a Óxun (Ọ̀ṣun) como usá-los.

,,,Este mostra como Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Óxun (Ọ̀ṣun) se tornaram unidos.
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse que estava agradecido com o que ela fez por ele.
Foi uma coisa expecional.
Ele se esmerou no que dar a ele em agradecimento.
Esta foi a razão mais importante pela qual Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) criou os owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Ele então colocou-os nas mãos de Óxun (Ọ̀ṣun).
De todos os Orixá (Òrìṣà) que usam os owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Não existe nenhum que tenha feito isso antes de Óxun (Ọ̀ṣun).
Esta foi a forma pela qual Ifá foi dado a Óxun (Ọ̀ṣun).
E foi pedido para ela usá-los
Como um outro meio de consutar o oráculo.
Isto foi como Ifá foi usado para recompensar Óxun (Ọ̀ṣun).
Desta forma Óxun (Ọ̀ṣun) também podia chamar Ifá.
Ninguém mais pode saber
porque Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) tomou Óxun (Ọ̀ṣun) como esposa.
Das diversas formas de oráculo
owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún é a mais próxima de Ifá.

Assim de acordo com esse Odù foi Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que criou o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún e se Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) é Ifá e o conhecimento de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) é baseado em Odù e Ifá ele não poderia ter criado algo que não fosse parte do seu próprio conhecimento.

Isso muda a versão de um mito popular, corrente do Candomblé, de que Óxun (Ọ̀ṣun) teria obtido o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún de Exu (Èṣù) o que de fato teria como consequência uma não ligação direta com Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà). Como muita coisa no Candomblé sobre Odù e Ifá, mais uma bobagem.

Mas esse Odù Ogbè-Ọ̀sá, extraído por uma pessoa de credibilidade no culto de Ifá e na religião Yorùbá, deixa claro que Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) é de fato e direito o criador do owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.

Este Odù também vai mostrar a seguir que o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún recebeu o seu Àṣẹ do próprio Olódùmàrè:

...A cada 16 anos
Olódùmàrè usava chamar os adivinhos da terra para um teste.
Para saber se eles estavam dizendo mentiras para os habitantes da terra.
Ou se eles estava dizendo a verdade
Este teste consistia em chamar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e outros olhadores da terra
Olódùmàrè diria o que ele ira ver neles.
Quando eles chegaram
Olódùmàrè pediu para eles consultarem o oráculo para ele.
Quando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) terminou a consulta
Olódùmàrè perguntou: Quem é o próximo?
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse que a próxima pessoa vinha a ser sua companheira
O qual era uma mulher
Olódùmàrè então perguntou:
Ela também é uma advinha, uma olhadora?
O qual Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) respondeu, “Sim, isto é verdade”
Olódúmarè então pediu a ela para consultar o oráculo para ele
Quando Óxun (Ọ̀ṣun) examinou Olódúmarè,
ela viu tudo em sua mente
Mas ela não disse para ele tudo o que viu
Ela mencionou a essência
Mas ela não disse as raízes do problema assim como faz Ifá
Olódúmarè então perguntou a Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) o que era aquilo?
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) então explicou a Olódúmarè
como ele honrou Óxun (Ọ̀ṣun) com o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
Olódùmàrè disse, “Esta tudo certo”
Ele disse que mesmo sabendo que ela não lhe contara tudo o que sabia
Ele daria a sua autoridade para ela
Ele adicionou “De hoje para sempre,
até mesmo quando o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
não disse tudo detalhadamente
Qualquer um que desacreditar dele
sofrerá as consequencias imediatamente
Isso não precisará esperar até o dia seguinte
Este é o motivo pelo qual as previsões do owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún ocorrem rapidamente
Esta foi a forma como o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún recebeu o seu Àṣẹ diretamente de Olódùmàrè

A transcrição desse Odù esta no artigo "The Bag of wisdom - osun and the origin of ifá divination" de Wande Abimbola.

Talvez a principal preocupação do oráculo seja o controle sobre os Ajogun que são os espiritos do mal que vivem na terra. As pessoas vão a um oráculo normalmente motivadas por problemas causados por estes. Entre os ajogun os principais são: Ikú (morte), àrùn (doença), òfò (perda), ẹ̀gbà (paralisia), ọ̀ràn (crimes), èpè (maldição), ẹ̀wọ̀n (prisão), ẹ̀ṣẹ (crime), Iná (fogo). Eles agem como se fossem causas naturais.

Como visto no seguinte trecho do Odù Ọ̀ṣẹ̀tùwá (obtido do bàbáláwo oyègbadé ọlátọ̀nà o ojùgbọ̀nà de ọ̀ṣogbo, terra de ọ̀ṣun), Óxun (Ọ̀ṣun) tem o controle de 4 ajogun: boríborí (derrota), ẹ̀gbà (paralisia), ẹ̀ṣẹ (crime), atómú (aprisionador). Isso a tornou capaz de bloquear o àṣẹ de todos os demais òrìṣà da criação do mundo:

kọ́mú-nkọ́rọ̀
Era o bàbáláwo na cidade de ado
ọ̀rùn-mu-dẹ̀dẹ̀ẹ̀dẹ̀-kanlẹ̀
era o bàbáláwo no reino de ìjẹ̀ṣà
o-caranguejo-está-no-rio
e-rastejam-no-chão-muito-frio
Eles consultaram ifá para as 16 principais divindades
no dia que eles foram do Ọ̀run para o ayé
Eles chegaram no mundo
eles prepararam a floresta de orò
eles prepararam a floresta de ọpa
Eles planejaram,
mas ele nunca perguntaram a óxun(Ọ̀ṣun)
Eles tentaram sustentar o mundo
mas não havia organização no mundo
eles então voltaram ao órun(Ọ̀run)
e foram procurar Olódúmarè
Olódúmarè os cumprimentou
então perguntou onde estava a décima sétima divindade?
Olódúmarè perguntou-os “por que
vocês não tem o hábito de consultá-la?”
Eles então responderam, “é porque ela é a única mulher entre nós”
Olódúmarè disse então, “Não, isso não pode ser assim!
Óxun(Ọ̀ṣun) é a principal mulher”
Olódúmarè disse
boríborí, é o bàbáláwo de ìrágberí,
é um bàbáláwo aprendiz de Óxun(Ọ̀ṣun)
ẹ̀gbà, é o bàbáláwo de ìlukàn,
é um bàbáláwo aprendiz de Ọ̀ṣun
èṣe, é o bàbáláwo de ìjẹ́bù ẹrè,
é um bàbáláwo aprendiz de Óxun(Ọ̀ṣun)
atómú, é o bàbáláwo de ìkìre,
é um bàbáláwo aprendiz de Óxun(Ọ̀ṣun)
Essas divindades podem permitir a uma
pessoa a fazer comércio,
elas podem permitir que uma pessoa prospere
mas elas não permitem que a pessoa leve
a sua prosperidade para casa
Olódúmarè disse
O que vocês não sabiam
agora vocês sabem.
Voltem para o mundo e consultem
Óxun(Ọ̀ṣun) sobre qualquer coisa que vocês
forem fazer
de maneira que qualquer coisa em que vocês colocarem suas mãos
continue a prosperar
Quando eles voltaram para o mundo
eles passaram a chamar Óxun(Ọ̀ṣun)
e a louvavam assim:
Aquela que tem um grande armazém de latão
aquele que acalma as crianças com latão
Minha mãe, é a que aceita corais para oferendas.
ọta ò! Omí o! Ẹdan ò!
Awura! Olú! Agbaja!
A sempre presente conselheira as reuniões de decisões
Ládékojú! A graciosa mãe Óxun(Ọ̀ṣun)!

Este texto mostra bem a força e importância de Óxun (Ọ̀ṣun) como a divindade que representa a mãe fundamental a energia feminina maior e da qual todas as demais descendem, sejam Orixá (òrìṣà) como também as ajé (àjẹ̀). Também deixa claro a ligação de Óxun (Ọ̀ṣun) com o oráculo.

Desta maneira se tem Óxun (Ọ̀ṣun) ligação com os principais elementos que trazem problemas para as humanidade, que são as ajé (àjẹ̀) e os Ajogun, então qualquer oráculo que pertença a ela tera sem dúvida nenhuma a maior eficácia possível na solução dos problemas a ela apresentados.

Um outro verso contido no Odù Okanransode, que foi transmitido pelo Babaláwo Ifátóògùn, famoso sacerdote de Ìlobùú, conta a história do saco da sabedoria. Olódùmàrè jogou na terra o saco da sabedoria e pediu a todos os Orixá (Òrìṣà) que procurassem por ele. Ele garantiu que o Orixá (Òrìṣà) que o encontrasse seria o mais sábio de todos eles. Olódùmàrè mostrou como era o saco para todos os Orixá (Òrìṣà) para que eles reconhecessem quando o vissem. Uma vez que Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Óxun (Ọ̀ṣun) eram íntimos eles decidiram procurar juntos.

Uma pessoa velha amarou um um fio de contas mas ele se abriu
Um sábio amarrou um fio de conta e el ficou frouxo
Somete uma pessoa que apoia suas costas em ikins
irá amarrar um fio de contas que irá durar
Ifa foi consuktado para Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
quando ele e Óxun (Ọ̀ṣun) foram procurar pela sabedoria
Foi Olódùmàrè que chamou as 401 divindades (da direita)
e as 201 divindades (da esquerda)
para se reunierem no Orun (Ọ̀run)
Quando elas chegaram lá
Ele disse que queria dar para elas profunda sabedoria e poder
Ele disse que que qualquer um poderia ver isto
que ele iria dar para o Ori deles
E esta seria a pessoa mais sábida na terra
Ele disse que 19 dias a frente
Ele jogaria o saco da sabedoria na terra
Mas se isso seria na floresta
ou seria no campo
Ou seria no rio
ou seria em uma cidade
ou seria em uma estrada
Ele não diria onde extamente seria
Olódùmàrè mostrou então a todos o saco da sabedoria
Ele disse “É isso”
Olhem bem
E observem bem.
Quando eles chegaram de volta a terra
alguns deles iniciaram a fazer sacrificios
Alguns fizeram remédios
Alguns planejaram a sua propria estratégia
Todos disseram “Essa coisa, serei eu quem vai achar”
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Óxun (Ọ̀ṣun) costumavam fazer coisas juntos
Eles estavam sempre um na companhia do outro
Ambos adicionaram 2 búzios a 3
e foram consultar Ifá
Eles perguntaram aos babalawo (babaláwo) para verificarem sobre ambos
A coisa que os Orixá (Òrìṣà) estão procurando poderiam ser ambos eles as pessoas que a encontrariam?”
Os babalawo (babaláwo) pediram a Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Óxun (Ọ̀ṣun) que fizessem um sacrifício
Com os grandes alakas que eles estavam usando
Cada um deles deveria oferecer um cabrito
e um rato domético
Bem como 201 ọ̀kẹ́ cheios de búzios para cada um deles
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse a Óxun (Ọ̀ṣun) que eles deveriam fazer o sacrifício
Mas Óxun (Ọ̀ṣun) disse m “por favor, deixe me descançar”
Vá fazer o sacrificio com o seu alaka
Qual a relação disso com o que estamos procurando?
Óxun (Ọ̀ṣun) se recusou a fazer o sacrifício
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) cujo outro nome era Àjànà,
pegou o seu alaka e ofereceu em sacrificio
Ele também usou um rato doméstico e dinheiro para o sacrifício
Eles então procuraram pelo saco da sabedoria mas não acharam
Todos os outros Orixá (Òrìṣà) tmbém não encontraram
Eles procuraram em Ẹ̀gá ajá
Ele foram longe até Ẹ̀sà adìẹ
alguns foram ainda até Ìkọ Àwúṣẹ̀
alguns procurara também em Ìdòròmù Àwúṣẹ̀
Onde o dia vira noite
Mas ele não encontraram
Um dia um rato doméstico foi até o alaka que Óxun (Ọ̀ṣun) usava
E fez um buraco no bolso
No dia seguinte eles se consideraram prontos
e procuraram o saco da sabedoria mais uma vez
Então Óxun (Ọ̀ṣun) o encontrou!
Ela exclamou “Han-in este é o saco da sabedoria!”
Ela colocou então no bolso do seu alaka
Ela então foi embora apressada
Como ela estava atravessando florestas mortas e subindo por troncos
repentinamente o saco caiu do seu bolso
pelo buraco que o rato tinha feito
Óxun (Ọ̀ṣun) estava chamando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
Dizendo “Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), cujo outro nome é Àjànà
Venha rápidp, venha rápido
Eu vi o saco da sabedoria
Quando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) estava indo ele viu o saco da sabedoria no chão
Ele então colocou no bolso do seu próprio Alaka
Quando ele chegou em casa
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse: Óxun (Ọ̀ṣun) deixe-me ver o saco
mas Óxun (Ọ̀ṣun) disse que ela jamais mostraria para um homem
Mas se um homem precisasse ver
Ele teria que dar lhe 200 ratos
200 peixes
200 passaros
200 animais
e um monte de dinheiro
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) implorou por muito tempo para ver o saco
mas ela não permitiu
Ele então retornou para a sua própria casa
Quando Óxun (Ọ̀ṣun) tentou pegar o saco no seu bolso
de maneira que ela o visse mais uma vez
Ela colocou a sua mão no bolso
e sua mão entrou dentro do buraco feito no fundo do bolso
Então Óxun (Ọ̀ṣun) foi encontrar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) na sua casa
Ela começou a implorar a ele
Ela começou a agradar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
Assim foi então como Óxun (Ọ̀ṣun) foi para a casa de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
para viver com ele como marido
De maneira que ele pudesse ensinar para ela um pouco de sabedoria
Nos tempos antigos, quando uma pessoa se casava
Não era obrigatório para a esposa ir para a casa do marido viver com ele
Assim foi como os casais passaram a viver juntos
Quando Óxun (Ọ̀ṣun) tirou o seu alaka
ela colocou àṣẹ na sua boca e disse
daquele dia em diante nenhuma mulher ia vestir um alaka como os homens
Ela então jogou o seu alak no lixo
Depois de muitos pedidos de Óxun (Ọ̀ṣun)
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) pegou um pouco de sabedoria e deu para ela
Este é o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
O qual Óxun (Ọ̀ṣun) faz uso
O saco de sabedoria é Odù Ifá,
os remédios e todas as demais profundas sabedorias do povo Yoruba

Assim vou destacar de forma bem objetiva o que o Odù Okanransode ensina:
  • Óxun (Ọ̀ṣun) foi a primeira a ter acesso a sabedoria de Ifá. Ela encontrou o saco de sabedoria e olhou para ele, assim ela obteve antes de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) a sabedoria de Ifá. Devido a sua teimosia, falta de fé ou preguiça ela perdeu o saco para Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que assim teve a posse dele por todo o tempo e a sabedoria e poder que Olódúmarè prometeu. Mas não se pode ignorar o acesso que Óxun (Ọ̀ṣun) teve a Ifá.
  • Óxun (Ọ̀ṣun) foi viver com Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e este lhe deu mais sabedoria de Ifá.
  • Esse Odù nos dá também uma excelente explicação de porque somente homens tem acesso pleno a sabedoria de Ifá. Óxun (Ọ̀ṣun) se tivesse acesso teria omitido isso dos homens, Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) observando isso limitou o acesso de Óxun (Ọ̀ṣun) ao conhecimento de Ifá. Essa interpretação deve ser estendida aos homens em geral e as mulheres também, e não especificamente a Óxun (Ọ̀ṣun) e Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà). Óxun (Ọ̀ṣun) é a essência feminina e um Odù é uma metáfora. Assim isso explica o papel de babalawo (babaláwo) e de Apetebi.
  • Outra lição é o mal destino que teve a ambição ou ganância no uso da sabedoria de Ifá. O desejo de Óxun (Ọ̀ṣun) era se enriquecer com essa sabedoria. Isso foi penalisado, assim a sabedoria de Ifá jamais deve ser usada para enriquecer ninguém.
  • Outro aspecto foi o preço a ser pago para se tornar sábio. Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) pagou o preço e se tornou sábio, Óxun (Ọ̀ṣun) não quis pagar e não obteve exito na sua busca. A sabedoria exige sacrifícios de bens.
Apesar disso tudo é inegável os seguintes vínculos:
  • Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Ifá com o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
  • de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) com Óxun (Ọ̀ṣun)
  • de Óxun (Ọ̀ṣun) o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
É muito natural entendermos a partir desta história a separação feita em Ifá para o genero masculino em função deste conflito de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) com Óxun (Ọ̀ṣun) o gênero feminino fundamental.

Outro aspecto que também denota isto é a questão de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e seus filhos, nos versos de Iwori Meji que falam sobre a partida de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) para o Orun. O verso destaca que Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) tinha 8 filhos homens. Mas este não é assunto para este tema.

Por fim os versos mostrados no livro de Bascon, Sixteen Cowries. Estes verso tem sua importância porque é a única visão que eu pude obter da origem do oráculo e sua ligação de Ifá vindo do culto de Orixá (Òrìṣà). Todas as demais fontes eram fontes do culto de Ifá.

De acordo com os mitos Yorùbá, o oráculo com os 16 búzios foi introduzido pela divindade Óxun (Ọ̀ṣun). Ela aprendeu isto de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) enquanto ela vivia com ele, embora alguns sacerdotes de Óxun (Ọ̀ṣun), neguem isso. Em uma versão, enquanto ela ainda estava aprendendo Ifá, Óxun (Ọ̀ṣun), começou a divinar para alguns dos clientes de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), quando ele não estava em casa e quando ele descobriu isso ele a colocou para fora de casa. Este é o motivo pelo qual Óxun (Ọ̀ṣun) não aprendeu Ifá totalmente.

Este incidente não ocorre na versão à seguir, como descrita por Salakọ. Sua versão também difere da que é largamente conhecida que é a qual foi Olódúmarè quem deu às divindades os seus poderes. Aqui neste verso esta função é atribuida por Salakọ a sua própria divindade identificada como Oriṣala Ọṣẹrẹgbo ou como Apodihọrọ, um outro de seus nomes.

Cabe comentar que esta substituição de personagens é comum e deve ser ignorada. Devido aos regionalismos, existe a substituição de personagens que são importantes no local ao invés de se usar o personagem original. Isso já causou algumas confusões mas devemos relevar. É claro que o personagem real é Olódúmarè e esta substituição feita por Salakọ visou apenas privilegiar suas divindade principais.

O mesmo processo também ocorreu na diáspora, com um Orixá (Òrìṣà) assumindo o papel de outra divindade, como por exemplo Nana que não é presente na mitologia Yorùbá e que se transformou em personagem de mitos que não tem nenhuma relação.
A relevância de transcrever este mito é porque vem de uma outra fonte e traz consigo elementos que confirmam a relação do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) com Ifá e ainda acrescenta novos elementos desafiadores.

Quando pai Apodihọrọ, Oriṣala Ọṣẹrẹgbo,
Pai deu à luz a 401 crianças,
Apodihọrọ, o padre criou 401 profissões.
Apodihọrọ, Oriṣala Ọṣẹrẹgbo,
Pai criou 401 talentos.
Ele disse que cada criança deve escolher a sua própria.
E havia Órunmila (ọ̀rúnmìlà);
Ele não é forte.
Assim como um cupinzeiro,
Para segurar uma enxada lhe dá problemas;
Para realizá-lo é difícil,
E até mesmo a pé.
Não há nenhum trabalho que é fácil para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Pai disse: "O que você vai fazer?"
Ele disse que seria um adivinho.
"Que espécie de adivinho?"
Ele disse: "Por tudo que as pessoas esperam de você."
Foram nozes de cola que eles trouxeram para o Pai naqueles dias (para
adivinhação).
Se alguém falou com a noz de cola
e jogou na chão,
O Pai foi aquele quem deu os conselhos.
"Eu quero saber a resposta à minha pergunta",
E Oriṣala lhe diria.
Então, ele chamou Órunmila (Ọ̀rúnmìlà)
E Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) obteve o saco do oráculo.
O Pai pegou o saco de Ifá,
Ele disse que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) deve aprendê-lo
Assim se alguém quiser alguma coisa
Eles devem ir para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Todo mundo que quiser pedir
Deve ir para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà),
E quando Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) olhar para o seu Ifá,
Tudo o que eles quiserem saber, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) dirá a eles;
Qualquer coisa que eles quiserem saber,
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) lhes dirá.
Ninguém mais foi para o pai (para adivinhação);
Eles foram para Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Uma mulher com gravidez de um dia
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) saberia,
E assim por diante.
Assim, tornou-se Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) um adivinho.
Ele disse: "Pai,
e sobre as folhas? "
Pai disse:
"Uma pessoa que vier a você com uma queixa,
"É uma folha (erva) que você deve lhe dar
Assim, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) tornou-se um adivinho.
Todos os outros queriam ser adivinhos também.
Egungun queria ser um;
Pai disse: "Você, que é forte?"
Ògún queria ser um;
Pai disse: "Você, que é forte?
"Você deve ser um comerciante."
Hoje todos os seguidores de certas divindades podem consultar o oráculo
os cultuadores de Xangô (Ṣàngó) , e os cultuadores de Óya (Ọya)
e os cultuadores de Oriṣala.
Isto é certo para Óxun (Ọ̀ṣun),
Foi Óxun (Ọ̀ṣun) que não deixou Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) descansar
Ela não o deixou ir;
Ela insistiu, até que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) lhe ensinou a adivinhação
Foi a partir Óxun (Ọ̀ṣun) que todos os outros
aprenderão o oráculo.
Mas Erinlẹ não aprendeu;
Orixá Oko não aprender;
Ògún não aprendeu;
Egungun não aprendeu.
Eles não receberam os dezesseis búzios.
Ṣọpọna tem os dezesseis búzios
Estão sempre em sua mão,
Mas a luta não os deixa usar para o oráculo.
Por ser fraco
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) tornou-se um adivinho.
Ele estava cantando ", Apodihọrọ, Oriṣala Ọṣẹrẹgbo,
"Pai, tinha 401 crianças;
"Apodihọrọ, Oriṣala Ọṣẹrẹgbo,
"Pai criou 401 profissões.
"Apodihọrọ, Oriṣala Ọṣẹrẹgbo,
"Pai criou 401 talentos,
"Apodihọrọ.
"Ele deu aqueles que aprendessem um meio de subsistência",
Apodihọrọ,
"Com o que eu aprendi, agora estou comendo", Apodihọrọ.
"Com o que eu aprendi, eu estou comendo nozes de kola e pimenta", Apodihọrọ.
"Com o que eu aprendi, eu estou comendo sal e óleo de palma", Apodihọrọ.
"Com o que eu aprendi, eu ganho dinheiro com os outros", Apodihọrọ. "
Isto é como Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) tornou-se um adivinho.

Estes versos, assim como os demais trazem muitas informações e referencias relevantes. Neste daqui, trazido do culto de Orixá (Òrìṣà), vemos a clara referência de que mesmo em relação a Orixá (Òrìṣà), existem aqueles que tem e os que não tem o oráculo dos 16 búzios.

Isto é claro e traz uma luz significativa sobre a prática no Candomblé, onde qualquer Babalorixá (Bàbálòrìṣà) tem que ter a prática desse oráculo por força do formato adotado no Candomblé. Mas como sabemos que na prática nem todo mundo tem isso, ficamos com a clara explicação de que as pessoas substituem o oráculo pela vidência.
Essa prática pode ter sido um dos motivos que levou a degradação do Jogo de Búzios que se afastou de Ifá levando as pessoas hoje a questionarem se seriam os Búzios ou não uma forma de Ifá.

A história seguinte, relatada por Ayo Salami em seu livro “Yorùbá theology and tradition” mostra uma variação das anteriores, mas, com o conteúdo idêntico, traçando o mesmo vínculo em tre Óxun (Ọ̀ṣun), Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) e Olódùmàrè.

Talvez uma esposa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) que também merece destaque é Óxun (Ọ̀ṣun). Por um longo tempo ela foi casada com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e através dela, muitas práticas que foram abençoados por Olódúmarè tornaram-se institucionalizadas.
Por exemplo, foi Óxun (Ọ̀ṣun) que trouxe um programa de iniciação chamado Ifá Ẹlẹ́gán ". Este é o resultado do fato de que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), seu marido, é uma pessoa que viajava com frequência e era Óxun (Ọ̀ṣun), sua esposa que estaria em casa, tratar as pessoas e atender às necessidades, tanto médica como espiritual.
Isso tinha duas implicações, Óxun (Ọ̀ṣun) tinha que fazer algo para salvar a vida das pessoas e ao mesmo tempo, manter a consistência pela qual a casa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) era conhecida.
Entre as pessoas que vieram ao seu encontro muitas foram as interessadas em ser iniciadas para Ifá. Mas desde que Óxun (Ọ̀ṣun) é uma mulher, ela é proibida de ver o Olofin Odu, a entidade sagrada de Ifá que não pode ser visto, exceto (a) a pessoa é um homem, (b) ele é iniciado e (c) dado o antídoto para reduzir o efeito da energia que 'ile Odu "pode lançar sobre ele.
Óxun (Ọ̀ṣun) também seria lembrada pelos passos que ela tomou durante uma longa ausência do marido, para salvar as vidas de alguns vizinhos. Tornou-se necessário para ela falar com o Ifá de seu marido sobre os problemas que as pessoas tinham. Obviamente, confuso no início, o verso de Ifá diz que Óxun (Ọ̀ṣun) levou quatro peças de Búzios para o Ifá de seu marido, orou sobre ele e pediu as bênçãos do espírito de seu marido para entrar nos búzios já que ela não sabia como consultar o oráculo usando o Ikin, naquele tempo.
Ela, então, usou o Ibô para perguntar o que a pessoa doente, estéril, ou em dificuldades devia trazer a resolver seus problemas. Uma após a outra, ela iria testar todas as coisas que ela já tinha visto o marido recolher para esse caso em particular.
Uma vez que o Ibô e o búzio dizia "sim", ela pedia a pessoa para trazer os itens específicos. Ela então colocou-os, todos, em cima de Ifá de seu marido e disse que a pessoa fosse embora. E como resultado elas estavam sendo curadas.
Então Osun continuou por muito tempo como este processo, até ao regresso do marido. Quando Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) voltou ele viu as nozes de cola no seu quintal, viu cabras de diferentes tamanhos e sexos amarrados a postes, as galinhas eram incontáveis.
-"Quem possui tudo isso? ' Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) perguntou, surpreso.
-"Eles são todos os presentas de Ifá que eu tenho coletados usando estes búzios”. Óxun (Ọ̀ṣun) respondeu ao marido mostrando o búzios que ela estava usando. Ela também contou os sucessos que ela havia obtido.
Na próxima vez que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) visitou Olódúmarè, para dar relato do que estava acontecendo na Terra, ele narrou o que Óxun (Ọ̀ṣun) estava conseguindo usando búzios e os presentes que vieram desta prática. Olódúmarè disse Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) para dar a Óxun (Ọ̀ṣun) 16 Odùs semelhante à adivinhação de Ifá.
-"Ela pode usar estes para o tratamento de clientes que vieram com ela enquanto você estiver fora da cidade".
Assim, a adivinhação com 16 búzios realmente começou com Óxun (Ọ̀ṣun).

Esta história vinda de uma outra fonte traz os mesmo elementos das anteriores. É um pouco diferente e talvez menos elaborada em alguns aspectos, mas, coloca Óxun (Ọ̀ṣun) recebendo os Odù Méjì de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e o seu axé (aṣẹ́) para isso diretamente de Olódùmàrè. Esta diferença de narrativa mas contendo os mesmos elementos básicos valoriza mais ainda o seu conteúdo e a tese deste texto.
Vejam também neste texto a presença da orientação de somente a mulher consultar Ifá na ausência no local de um Bàbáláwo que possa fazê-lo.

Antes de encerrar eu quero transcrever aqui um mito do Candomblé, trazido por José Beniste em seu livro Mitos Yoruba, “A disputa de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) com os búzios”, que mostra um conflito entre Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún).
Por algum motivo os búzios deixaram de ser um instrumento de Ifá, ficando restrito ao culto de Orixá (Òrìṣà). Em cuba foi incluída uma proibição de que um Bàbáláwo nem pode pegar em búzios.

A história seguinte pode fazer parte das que foram criadas para justificar isso:

No panteão religioso Yoruba, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) é considerado um grande sábio pelos seus cálculos sempre exatos em tudo que diz e prevê. A pratica do jogo utiliza diversos instrumentos, como os coquinhos do dendezeiro, o rosário de favas e os búzios São modalidades diferentes para um único objetivo. Pela sua utilização constante, eles já fazem parte de sua essência divinatória, mas seus poderes de previsão estão condicionados a participação de Órunmila (ọ̀rúnmìlà), o que quer dizer que os búzios, por exemplo, só revelam suas mensagens se forem manipulados por uma pessoa habilitada.
Ocorre que, certa vez, os homens se julgaram tão poderosos quanto Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) na pratica do jogo. A historia em seguida narra como isto aconteceu e como Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) teve que se valer de toda a sua sabedoria para mostrar o seu poder. Nessa disputa, os búzios foram representados pelo escravo comprado por Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) no mercado da cidade. Esta é a hist6ria:
Certo dia, quando Órunmila se dirigia para atender sua clientela, sua mulher lhe pediu que comprasse um escravo que custa-se ate 16 búzios, visto que, naquela época, os búzios representavam a moeda utilizada. No trajeto até o mercado, Órunmila (ọ̀rúnmìlà) passou pela beira de um rio onde várias pessoas estavam pescando. Então, disse que poderia informar, exatamente, a quantidade de peixes que todos haviam pescado. Os Pescadores não acreditaram na possibilidade de ele acertar com tamanha exatidão.
Fez-se uma aposta: se acertasse, todos os peixes seriam dele. Feito o trato, Órunmila afirmou: "Ai tem, exatamente 201 peixes." Os Pescadores foram verificar e, realmente, haviam 201 peixes. Então, disseram: "Pode levar. Todos os peixes são seus”. Órunmila (ọ̀rúnmìlà) disse-lhes que enterrassem os peixes e marcassem o lugar com folhagens, pois na volta do mercado ele os levaria para casa.
Continuando o seu caminho, mais adiante Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) encontrou varias pessoas fazendo um alçapão, cortando madeira e capim para pegar preás. Então, Órunmila (ọ̀rúnmìlà) disse: "Eu posso dizer quantas preás vocês já tem mortas." E, como duvida fizeram uma aposta nas mesmas condições anteriores. acertado, Órunmila disse: "Ai tem 201 preás." Foram contar e lá estavam as 201 preás Os caçadores disseram, então, que ficasse com as preás. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), porem, pediu que as enterrassem e marcassem o local, cobrindo-o com folhas.
Chegando no mercado, viu um menino que se antecipou a ele e foi logo lhe dizendo que tinha ido ao mercado para comprá-lo por 16 búzios, que era quanto possuía na bolsa. Órunmila ficou tão surpreso com o que ouviu, que comprou o menino e pediu um barraqueiro para tomar conta do garoto, ate ele voltar e levá-lo para casa.
Assim que Órunmila (ọ̀rúnmìlà) se foi, o menino contratou alguns carregadores e foi a todos os lugares onde estavam as preás e os peixes enterrados. Levou tudo para a casa de seu amo. La chegando convidou a todas as pessoas conhecidas de Órunmila, assim como músicos para animar a festa. A mulher de Órunmila (ọ̀rúnmìlà) ficou surpresa ao ver aquele menino entrar pela casa adentro dirigindo tudo com a maior desenvoltura, como se conhecesse tudo e a todos ha bastante tempo.
Chegando ao mercado, a tardinha, Órunmila (ọ̀rúnmìlà) foi ate a barraca onde havia deixado o menino e, como não o encontrou, voltou para casa se lamentando por ter perdido o dinheiro na compra do escravo que havia sumido. O que iria dizer em casa? Sem o menino, ficaria desprestigiado perante sua mulher. E, assim, Órunmila (ọ̀rúnmìlà) , muito triste, seguiu seu caminho, lamentando-se todo o tempo.
Ao se aproximar de sua casa, ouviu um ruido de festa. Apareceu, então, o tal escravo que lhe perturbava o sossego de espirito, acompanhado de muita gente que veio ao seu encontro, dizendo que ele podia ficar tranquilho, pois o escravo já havia providenciado tudo. Órunmila (ọ̀rúnmìlà), muito admirado, ficou contente com tudo que viu.
Desde esta data, a fama do escravo passou a correr todos os lugares, ate chegar aos ouvidos do rei. Este mandou marcar uma audiência com Órunmila (ọ̀rúnmìlà), porque soube que, mal as pessoas iam chegando na casa de Órunmila, o escravo dizia o nome e tudo sobre elas.
No dia designado pelo rei, Órunmila chegou ao palácio e deparou-se com uma especie de disputa entre os dois. O rei havia mandado construir uma casa e colocara dentro dela 100 homens, ordenando, em seguida, que cortassem a cabeça deles para que não revelassem o segredo. O rei queria estabelecer um confronto entre Órunmila e o menino escravo. Órunmila, sendo um grande sábio, não podia ficar desmoralizado.
O rei, então, ordenou que Órunmila dissesse o que tinha dentro da casa. Órunmila ordenou que o escravo falasse em primeiro lugar, e então o escravo disse: "Dentro da casa existem 100 homens que o rei mandou colocar para o meu senhor adivinhar." O rei foi logo confirmando. Órunmila (ọ̀rúnmìlà), sem vacilar, completou: "Não, senhor, dentro desta casa existem 201 criaturas justas e perfeitas", desmentindo, assim, o rei e o menino.
Ao ouvir isto, o rei ficou indignado e respondeu-lhe: "Você não sabe nada; foi esse menino que disse a verdade." Órunmila (ọ̀rúnmìlà) não se perturbou e falou: "Se eu sou ainda o Bàbáláwo Àgbọnmìnrègun, daqui a cinco dias virei assistir a abertura a casa. Peco, porem, que ninguém mexa nela e deixe tudo como esta ate o dia marcado."
Chegando em casa, Órunmila foi consultar Ifá para ver como resolver aquela situação Ficou determinado que ele fizesse um ebó com uma rã. Depois de tudo preparado, cavasse um buraco dentro de casa e enterrasse tudo. Passados os cinco dias, la estava Órunmila, no dia e hora determinados, na presença de todos. Ordenou, então, que abrissem a casa. Os homens foram saindo em fila, tendo no ombro de cada um o filhote de Rã. Perguntaram, então: "Quem e o seu pai?", e o filhote respondia: "Rã." E, assim, saíram da casa 100 homens, todos com filhotes de Rã no ombro e, no final da fila, uma grande Rã, que era o pai de todas elas, perfazendo um total de 201 criaturas. O rei perguntou como ele havia feito aquilo, e Órunmila respondeu: "Awo", que quer dizer, mistério.
Com esta demonstração de magia e sabedoria de Órunmila (ọ̀rúnmìlà), o rei pode ver que ele não adivinhava, mas acertava tudo. E, assim, nunca mais se fez a suposição de que os búzios, ou qualquer outro instrumento para consulta, enxergasse mais do que Órunmila (ọ̀rúnmìlà).
Conclusão
Esta narrativa esta inserida no Odu Ejl Ologbon, e tem como personagens a figura de quem joga, representada por Órunmila (ọ̀rúnmìlà); e a dos búzios, representada pelo escravo. A utilização dos búzios por alguém não faz dele, forçosamente, um emérito "olhador". E necessário um conjunto de situações para determinar a possibilidade de uma tarefa bem-sucedida para a pratica divinatória: estudo, competência e, sobretudo, o dom natural para essa função. Os búzios nada revelarão por si só. E preciso saber manuseá-los, conhecer suas regras e ter a sabedoria para interpretar as caídas, ou seja, as configurações.

Eu não posso deixar de comentar que esse mito que foi transcrito pelo José Beniste, o qual é um pesquisador confiável, na realidade é uma cópia modificada de uma História de Ifá, sobre o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀) e é retratada em Ogbè Méjì. Na história de Ifá o escravo é na realidade o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀), que foi enviado por Olodumare para ajudar Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) a pedido deste próprio. A história não termina em conflito, não neste Odù. O conflito existe apenas no Odù Obara-irosun. Eu mantive esta mito como foi transcrito pelo Beniste.

Unindo todos os versos de versos e histórias descritas, é clara e direta a ligação direta entre o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) e Ifá através das mãos do próprio Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà). O eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) não é apenas um oráculo de Orixá (òrìṣà) relacionado com Exú (èṣù).

É um oráculo de Ifá, que fala através de Odù e tem como Orixá (òrìṣà) base Óxun (Ọ̀ṣun). Ela é a dona deste oráculo que recebeu de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), mas, antes de tudo recebeu para isso o axé (aṣẹ́) do próprio Olódúmarè.

Para se usar o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) através de Ifá deve-se aprender o Ifá necessário para isso assim como receber de Óxun (Ọ̀ṣun) esta axé. Lembro que no único dos versos que veio do culto de Orixá (òrìṣà) , é dito que nem todos os Orixá (òrìṣà) receberam o acesso a este oráculo. Isto é bastante razoável e vai ao encontro do modelo de que em determinadas casas a figura de um Olowo não é apenas uma conveniência do Babalorixá (Bàbálòrìṣà), mas uma necessidade.

No Candomblé de hoje, este tipo de situação é superada porque o Babalorixá (Bàbálòrìṣà) acaba não tendo um oráculo de Ifá e sim um oráculo de mediunidade onde não importa o que ele sabe ou não de Ifá ou se o seu Orixá (òrìṣà) não esta vinculado com o uso do oráculo.

Essas palavras podem parecer estranhas e reacionárias, mas, eu acho completamente razoáveis e procedentes. Não é porque o Candomblé teve que adotar um modelo generalista que as coisas funcionem assim mesmo.

Minha opinião é contrária ao modelo atual. Penso que uma casa deve ser grande e formada pela cooperação das pessoas, que com suas qualidades e aptidões pessoais de aprendizado ou legadas pelo seu Orixá (òrìṣà) e Orí, vão ser cada uma uma parte do axé (aṣẹ́) da casa. Ebomis de cada Orixá (òrìṣà) tem que ter participação ativa na iniciação dos noviços dos seus Orixá (òrìṣà).

Um modelo integrado e participativo tem que ser parte do resgate da religião a ser feito pelo Candomblé. Eu não tenho dúvidas que o Candomblé tem muito a que ensinar para as demais tradições, mas, ela também tem que recuperar algumas coisas. Assim, além de se livrar do sincretismo deve resgatar parte da estrutura original da religião.