Os Oráculos e suas mensagens
Não podemos dizer que os
oráculos sejam limitados em suas informações. É isso o que vai
ser explicado aqui. Entender isso é um dos pontos mais importantes
para entender o uso dos oráculos de confirmação.
Revendo uma informação
que já tratamos um oráculo é composto de 4 elementos:
- O divino que tem conhecimento sobre você e sobre tudo o que o cerca;
- um mensageiro para receber as mensagens e manter a comunicação com o divino;
- um instrumento para essa comunicação;
- um método para essa comunicação.
Esta estrutura não é
alegórica, ela é bem precisa.
Entendendo que o divino é
sempre o mesmo e que cada oráculo não é uma divindade por si,
própria ou diferente e sim um meio de comunicação, o que varia no
modelo é apenas a questão do instrumento e do método e não do
conteúdo.
O que vai diferenciar os
oráculos não é o conteúdo ou o conhecimento das verdades e sim
suas características de comunicação. Claro que estamos falando
aqui dos oráculos da religião Yoruba, não estamos comparando de
oráculos em geral.
Para poder explicar isso
vamos fazer uma metáfora com uma situação comum. Se você quer
conversar com um amigo, hoje em dia, você tem muitos meios. Você
pode decidir falar com ele pessoalmente e esta será uma comunicação
muito rica, porque além da linguagem farta você terá expressões,
gestuais e tons de voz para transmitir o que quer.
Você pode ainda falar com
ele por telefone. Ainda será uma comunicação bem rica, porém com
recursos mais reduzidos em relação a falar pessoalmente, porque
você perde a comunicação visual. Com isso existem até situações
em que você prefere tratar pessoalmente de assuntos ao invés de
usar um telefone.
Você pode optar também
por escrever uma carta (ou e-mails para ser mais moderno), o que
diminui muito a capacidade de comunicação. É bastante trabalhoso e
perde-se muito com a falta de interatividade, do contato visual e do
tom de voz. Além disso, exige das 2 pessoas a capacidade saber ler,
escrever e interpretar textos.
Mas hoje em dia existem
situações que usado um SMS, um e-mail, um Instant messenger
(como o MSN) ou uma postagem em uma rede social resolvem, é uma
comunicação simples, com muito conteúdo, assincrona e que dispensa
o formalismo de uma comunicação pessoal.
No fim da linha podemos
imaginar o que seria uma das mais restritas formas de comunicação
que seriam os telegramas, ou quem sabem, sinais de fumaça...
Observem, cada método de
comunicação tem suas regras, forma de serem empregados e
capacidades distintas de oferecer comunicação, o que pode tornar a
conversa mais difícil ou mais longa, mas, os interlocutores não
mudam. Assim os problemas são os mesmos e o conhecimento deles
também, só mudou o meio de comunicação.
Na questão dos oráculos
da religião é o mesmo contexto. Existe o mesmo consulente e o mesmo
mensageiro, que tem a capacidade de usar o oráculo. O divino, que é
quem tem o conhecimento do problema, é o mesmo. O que diferencia os
oráculos é apenas a forma de usar e a objetividade e praticidade de
suas mensagens.
Vamos explorar um pouco a
questão do conhecimento do conteúdo. Entre os oráculos Yoruba, o
de Ifá se destaca dos demais em relação ao seu conteúdo. A razão
disso é teológica. Segundo a religião, somente Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) testemunha o que
conversamos com Olódúmarè
antes de voltarmos ao Àiyé.
Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà)
têm, dessa maneira, conhecimento do nosso destino e dos nossos
objetivos de vida.
Por
essa razão o oráculo de Ifá deve ser usado quando necessitamos que
saber de coisas que envolvam profundamente nossa vida e nós mesmos.
Ele fala do nosso destino e das nossa questões de vida como nenhum
outro, porque Ifá é o oráculo de Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) e
Odù é o elementos de comunicação entre Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) e
seus sacerdotes.
Os
demais oráculos acessam outras divindades. Quem responde à nós em
um oráculo será Exu (èṣù),
os Orixá (òrìṣà)
e nosso Orí. Essas divindades tem as informações de nossa vida, de
nossos problemas e de tudo o que nos cerca. Em muitos casos serão as
mais apropriadas para a maior parte das consultas e problemas que
temos que lidar. Essas divindades são as que falam conosco através
do owó
ẹyọ mẹ́rindílógún,
do Owó-ẹyọ
merin do
Obì, etc...
O
owó
ẹyọ mẹ́rindílógún
será o melhor oráculo para tratar qualquer coisa relativa à
religião, ou à vida religiosa do sacerdote, Iyàwó
e sua casa. Nada vai substituí-lo e não adianta Babaláwo se
arvorar em querer resolver essas questões. Muitos acham que
Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà)
estaria acima de tudo e por isso pode tratar de qualquer questão.
Na minha visão
NÃO. Assim como questões que envolvam o dia a dia da pessoas e suas
decisões e orientações irão ser melhor atendidos com um Obì ou
com o jogo de búzios (owó ẹyọ mẹ́rindílógún).
O que vai alterar então,
no uso do oráculo, como expliquei, é o instrumento usado, uma vez
que, volto a afirmar, o oráculo não e uma divindade por si só. É
importante ressaltar esse ponto porque as pessoas confundem muito
isso. Com razão, até. Primeiro, porque Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) é
muitas vezes chamado de Ifá e vice versa. Mas isso é apenas um
hábito. Ifá é o oráculo e Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) é
quem é a divindade. Outras pessoas atribuem os oráculos a
divindades específicas, como Oxun (Ọ̀ṣun)
ou mesmo Exu (èṣù)
ao owó
ẹyọ mẹ́rindílógún (jogo de búzios) e claro existe os mitos
de Obí.
É
natural que em uma religião que tem um aspecto de fetiche e que
atribui um espírito a cada coisa ou a muitas coisas, que as pessoas
pensem que ao usar um oráculo estejam falando com uma divindade. Mas
isso é incorreto. Não contribuiu para o entendimento do processo. O
oráculo é um instrumento, um meio de comunicação que tem um
método de usar associado a ele. As divindades que nos respondem
estão no Órun (ọ̀run)
e
atentas para nos ajudar.
Este modelo
que estou declarando não é baseado em alguma tese copiada de
alguém. É resultado do que conheço e da minha experiência prática
em usar todos esses oráculos. Muitas pessoas se especializam em um
oráculo, eu não. Procurei conhecer e usar extensivamente todos eles
de maneira que posso afirmar por razão própria que o oráculo é um
instrumento mas o divino é o mesmo.
Cada oráculo, como
instrumento tem uma forma de usar e um método de interpretar suas
mensagens. É necessário que o mensageiro, o olhador, aprenda
primeiro como o oráculo é usado para poder então fazer uso do
instrumento para outras pessoas.
A forma como cada um
transmite informações varia de, bem objetivo, como responder SIM e
NÃO, a dar uma visão ampla sobre o consulente, como fazem Ifá e o
jogo
de búzios (owó ẹyọ mẹ́rindílógún). O Obì se situa no meio
disso, ele permite tanto ser usado com perguntas simples como também
para trazer mensagens mais amplas e subjetivas que devem ser
interpretados.
Os
instrumentos de SIM e NÃO, são bastante objetivos e muito úteis no
seu uso. A pessoa deve buscar as perguntas certas e ir fazendo-as em
sequencia. Este é um dos grande segredo do seu uso, saber o que e
como perguntar, mas isso só se aprende com prática. Muitos casos
podem ser resolvidos facilmente com perguntas dessa natureza. Seja
para obter confirmações simples como também detalhar situações,
os oráculos de SIM e NÃO podem ser usados. São rápidos e
objetivos e sabendo fazer as perguntas certas na ordem certa você
vai atingir resultados excelentes.
Eles são
limitados como instrumento de uso geral porque podem tornar uma coisa
extensiva e pouco prática a analise da situação de um consulente.
Imaginem ter que fazer dezenas de perguntas para entender uma
situação. Para esses casos os oráculo de Ifá e jogo de búzios
(owó ẹyọ mẹ́rindílógún) são mais próprios. Eles
trazem muitas e complexas informações ao mesmo tempo dando uma
visão abrangente do consulente. Porém, devem ser interpretados e
essa interpretação exige aprendizado, conhecimento e inteligência,
o que faz o seu uso mais especializado do que os oráculo de
confirmação.
Os oráculos
podem ser usados em conjunto. Tanto o oráculo de Ifá e jogo de
búzios (owó ẹyọ mẹ́rindílógún) tem formas de responderem a
perguntas de SIM e NÃO, mas, mesmo assim, ainda são mais
trabalhosos. O olhador pode lançar mão de outros instrumentos junto
com esses para facilitar o seu processo de consulta.