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terça-feira, fevereiro 28, 2012

Exu no Candomblé II

Exu no Candomblé II
Catiços e o conceito de ancestralidade

Em um comentário feito sobre o texto anterior sobre a presença de catiços de Umbanda no Candomblé, uma pessoa fez uma excelente colocação sobre uma das formas como as pessoas de Candomblé procuram se justificar para colocar dentro de uma casa de Candomblé um Catiço de Umbanda.

Existem muitos Pais de Santo - PDS  (não vou me referenciar a estes como Babalorixá ou Iyalorixá), que dizem para frequentadores e filhos de santo que os catiços de Umbanda devem ser considerados como ancestres e por isso podem ou podem ser cultuados em uma casa de Candomblé. Esta seria a justificativa deles estarem presentes em uma casa de Candomblé.

Vejam, esclarecendo esta não foi a colocação da pessoa, apenas ela fez uma citação que me lembrou este aspecto e resolvi abordar neste segundo texto esta questão. Mas se as pessoas afirmam isto, tem que existir uma explicação teológica para esta questão. Sim, qualquer questão dentro da religião deve ser respondida com dogmas, conhecimento da cosmogonia, etc..  Não se responde teologicamente dizendo o que a gente acha ou usando bom senso.

Os catiços de Umbanda, exus, pombo-gira e preto-velhos JAMAIS podem ser considerados enquadrados ou tratados em uma casa de candomblé, como uma ancestralidade ou parte de uma ancestralidade. Isto não é consistente com a religião Yoruba. Mas para isso vamos falar um pouco da questão de ancestralidade.

A ancestralidade é um elemento muito importante na religião Yoruba. Contudo esta visão e prática não foi incorporada no Candomblé pelo fato de que as linhagens de descendência terem se perdido com o processo escravagista. As famílias não eram trazidas ou mantidas juntas e fazia-se questão inclusive de dispersar a etnia e regionalidade, segundo creio.

Assim, era impossível se falar de ancestralidade ou se lembrar de ancestralidade, simplesmente porque isso se perdeu com a vinda deles para cá. Já foi um grande milagre os Orixá terem sido preservados.

Grande parte do Candomblé como conhecemos hoje foi estruturado pela nação Ketu e tardiamente, bem depois do término da escravidão. Não foi um processo simples, foi feito com o suporte de idas à africa e da vinda para cá da familia de Bangboxe. O culto foi estruturado e adaptado a nossa realidade, as liturgias foram re-constituidas, folhas e animais substituidos, cantigas, rezas, etc....

A estrutura que o Ketu montou, consistente e completa foi então copiada por outras nações, algumas delas, que NÃO tinham culto a orixá, inventaram divindades equivalentes aos Orixá e fizeram adaptações linguisticas para se estabelecerem criando assim uma nação artificial.

Mas este processo não trouxe o culto à ancestralidade, como se fazia na Nigéria, para o Candomblé. Esses laços se perderam e a família espiritual ou a família do terreiro veio a substituir a ancestralidade original criando uma nova raiz. Mesmo esta nova raiz não se manteve consistente porque a fidelidade de pessoas com terreiros não era perene.

Não foi possível manter a agregação das famílias em torno da religião. O culto não seguiu como sendo uma opção familiar e os membros da familia se dividiram em outras religiões. Além disso as casas filhas das matrizes principais nunca se caracterizaram por preservar a família e reunir debaixo de um terreiro mulher, marido e filhos. Os motivos torpes para isso não importam aqui, mas, o fato é que o Candomblé esta muito longe de ser uma religião estruturada em torno da família e da linhagem, como era a religião na Nigéria.

Por esta razão é que as pessoas aqui no Candomblé nunca entenderam o real sentido da palavra ancestralidade dentro desta religião. Ancestralidade não significa egungun. Ancestralidade é a soma de toda a nossa ascendência familiar, são todos os nossos ancestres familiares. Ancestralidade significa conhecer e honrar os antepassados recentes e distantes baseado nos laços de família e na relevância do seu papel para a família e sociedade.

Na estrutura Yoruba o Ori cuida da pessoa, o Orixá cuida da Famíla e os ancestres através dos egungun cuidam da sociedade contida na vila. Parece uma visão antiga, simplista e meio limitada, mas é assim mesmo.

Este conceito vem inclusive ao encontro de um outro conceito muito sofisticado na religião que é o da reencarnação. A religião Yoruba prevê que a pessoa reencarnará NA MESMA FAMILIA. Assim uma linhagem significa a preservação da família e os descendentes são o meio para se voltar a viver em família no aiye.

Ancestralidade esta ligada a vinculos familiares diretos com as pessoas envolvidas e não com alguém ter vivido e morrido. A visão da vida desconectada é uma coisa kardecista, que dizem que você pode reencarnar em qualquer lugar. Não basta ter vivido para se dizer ancestre. O ancestre implica na existência de laços familiares.

Os Yoruba entendem que a família se preserva e vive unida, tanto na vida como após a morte. A reencarnação é uma forma de volta a viver junto no Aiye e assim as pessoas reencarnam na linhagem de uma mesma família.

O conceito de ancestralidade foi de fato perdido e o de reencarnação não entendido em função de sincretismo inadequado com o conceito de reencarnação de outras religiões, notadamente essa maluquice que é o kardecismos que prega uma coisa distinta.

Este é o conceito de ancestre e linhagem que existe na religião Yoruba é o que deve ser entendido e cultuado no Candomblé. Não se cultua mortos quaisquer. Se cultua a FAMÍLIA.

Lembro que a religião Yoruba é uma religião de FAMÍLIA e esta questão da família e ancestralidade é uma dos fatores fortes que fizeram com que os Yoruba não respeitassem o culto de Orixá fora da Nigéria. Eles não aceitam e não respeitam que pessoas que não sejam descendentes e participem da sua linhagem possam ter Orixá e serem equivalentes a eles.
 
O culto de egungun é distinto de orixá porque preve a incorporação de ancestres no aiye. Isto não pode ocorrer no candomblé, porque onde tem orixá não terá Egun, assim como também em casas de egungun não se permitem Orixá. Não podemos misturar essas coisas todas sem entender.

Uma coisa é o conceito de ancestralidade, linhagem e reencarnação que pertence ao Candomblé, ao culto de Orixá. Outra coisa é o culto de egungun que se dedica a materializar no aiye os baba egun e eguns de outras hierarquias.

A ancestralidade esta presente em ambos mas de forma sutilmente diferentes. Não se vai ter egungun em casa de Orixá.

Dentro do conceito de ancestralidade que é comum, uma casa de egungun jamais vai permitir dentro dela que catiços de umbanda trabalhem incorporados.

Aliás este é um ponto importante. Se Catiços de Umbanda pertencem ao Candomblé não estariam eles exclusivamente dentro de uma casa de egungun?  Sim, porque, voltando no culto de orixá cultuamos e lembramos de nossos ancestre, nós não damos caminho para que esses ancestres incorporem nos eleguns, que pertencem somente aos ORIXÁ. No culto de egungun eles cultuam ancestres e dão passagem para que estes ancestres incorporem nos seus membros.

Se Catiço tivesse alguma ligação com o conceito de ancestralidade ele deveria estar em uma casa de egungun e não em uma casa de Orixá.  Mas catiço não é ancestre de ninguém e JAMAIS deve ser considerado assim.

Eu nunca ouvi falar em casa de egungun onde catiço de Umbanda trabalha, mas certamente esta será a próxima fronteira da indignidade humana.

Assim, concluo de novo dizendo que Catiço de Umbanda NÃO pertence ao Candomblé. Repito que os catiços de Umbanda que se apresentam na forma de Exu não tem qualquer vínculo com Orixá e nâo tem qualquer tipo de equivalência com o Orixá Exu.

Se alguém esta recebendo assentamento de Tranca-Rua como se fosse o seu exu Bara, esta recebendo uma mentira. Pior, já ouvi gente que recebeu assentamente da "sua Bara". Sim, a indignidade humana não tem limite e tem gente tranformando Maria Padilha e Bara.

Se isso aconteceu com você, peça o seu dinheiro de volta, porque a pessoa que fez isso não entende nada do que faz ou esta enganando você.

O que dirá então essas histórias de terror que a gente ouve e ve foto de saída de Yawo na qual depois do Orixá vem a pessoa vestida com a Maria Padilha dela, fazendo assim uma quarta saída??

Veja, a pessoa faz as 3 saídas de orixá e depois, ainda de preceito e com tudo aquilo da saída recebe uma pombo-gira fantasiada de Orixá, e ainda com olhinho fechado e adê preto e vermelho.

Isso, para quem não sabe esta errado. Não existe. É uma mentira.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Exu no Candomblé

Exu no Candomblé
os catiços da Umbanda

Este é um tema bem interessante. Não é nada difícil de ser tratado como muita gente gosta de complicar para não ter que explicar. Sendo Exu uma divindade elementar na religião e todo  Bàbáláwo ou Bàbálòrìxà tem que explicar a sua função com muito poucas palavras. Mas tem que fazer isso sem usar adjetivos em excesso, chavões e expressões feitas.

Dessa maneira, para contribuir com essas pessoas, assim como já fiz aqui na questão de como responder à pergunta idiota sobre sacrifícios de animais, vou escrever alguns textos.

Neste primeiro texto, pós-carnaval, não vamos muito profundos no tema, vamos primeiro falar sobre o que não é verdade.

Tranca-rua, sete encruzilhadas, maria padilha e demais marias NÃO fazem parte do Candomblé.  Estas entidades, não são Exu. Elas, todas, pertencem somente e exclusivamente à Umbanda. Não existe nenhum motivo e nenhuma razão para qualquer pessoa de Candomblé incorporar esses guias e muitos menos ter e fazer assentamentos para eles.

Observem que quando digo que estas entidades não são Exu estou me referindo sob o ponto de vista do Candomblé. O fato de a Umbanda ter se apropriado inadequadamente do nome "Exu" para nomear uma de suas entidades não vai significa que elas sejam de fato Exu.

O sincretismo feito pela Umbanda ao usar o mesmo nome que o Candomblé usa para nomear um Orixá importante, para nomear estas suas entidades, não seguiu qualquer similaridade funcional. O Orixá Exu não tem qualquer paralelo com o Exu de Umbanda.

No Candomblé, o tipo de entidade que mais se aproxima do Exu de Umbanda seria Ajé, porque é uma entidade sem ética que pode tanto fazer o bem como o mal, dependendo da forma como é invocada.

Assim, não dá para falar de Exu no Candomblé sem primeiro limpar o terreno em relação a  2 aspectos.

O primeiro é que existem pessoas ignorantes, desinformadas ou malintencionadas que se dizem do Candomblé, dizem que tem casas de Candomblé e ficam incorporando com Exus e pombo-giras de umbanda, dão consultas ou festas, não importa. Isso é tudo um erro. No Candomblé não existe lugar para essas entidades e eles não são Exu, são uma invenção mal feita da umbanda, são eguns.

Não existe lugar em uma casa de Candomblé para Exu e Pombo-gira.

Entendam, essas entidades se encaixam perfeitamente na Umbanda. Pertencem a Umbanda. Mas, se estamos falando de religião Yoruba e de Candomblé essas entidades não  podem existir. Como eu disse, pessoas ignorantes ou mal-intencionadas estão trazendo elas para o Candomblé e fazendo as pessoas acreditarem que estas entidades fazem parte do Candomblé..

Assim o fato de muita gente estar encontrando casa de Candomblé com Exu de Umbanda trabalhando incorporado pode trazer uma certa confusão, mas, definitivamente esqueçam isso.

O segundo e talvez até pior é o fato de pessoas de Candomblé estarem recebendo assentamentos de Exu de Umbanda substituindo os assentamentos do Orixá Exu e também fazendo oferendas para esses Exus, chamados de catiços, substituindo às oferendas ao Orixá Exu.

Não usarei mais a expressão Exu de Umbanda. Eles são catiços e serão assim nomeados.

Eu digo que esta caso é pior porque no primeiro é a inclusão de um apêndice inadequado, uma invenção, uma entidade externa que passa frequentar casas de se dizem de Candomblé, mas não são, fingindo ser. Mas a sua manifestação nessas casas bastardas se faz como se fosse uma Umbanda mesmo.

No segundo caso existe de verdade um sincretismo litúrgico.

Faz parte de Candomblé o Yawo receba Igbas, assentamentos de seu Orixá, juntó e orixás importantes do seu enredo. além disso existe a necessidade dele também receber um assentamento do Exu que acompanha o seu Orixá. Este é o chamado Bara do seu Orixá.

O sentido disto será explicado em outro texto, neste momento o que temos que entender é que dentro do Candomblé Exu tem muitas denominações, mas, existe um Exu chamado Bara (bárá) que esta viceralmente ligado ao Orixá da pessoa, sendo chamado de Bara do Orixá. Ele representa o aspecto do dinamismo, do movimento e da transmissão do Axé.

O assentamento de Exu Bara, assim como os Igbas dos Orixás da pessoa, intensifica a presença e participação de Exu na vida da pessoa criando um ponto de concentração de energia e de ligação. Um Yawo deve receber em algum momento de sua formação sacerdotal este assentamento do seu Bara.

Não existe regra para ele receber isso. Pode receber na sua iniciação ou pode receber nas obrigações de 1, 3 ou 7 anos. Depende apenas do Babalorixá da pessoa decidir quando isso será feito.

Mas muito Babalorixá e Iyalorixá que tem casa aberta e muitos filhos-de-santo, não recebeu este assentamento e também nem sabe como fazer. Assim, como ele tem que fazer um assentamento de Exu para seus Yawos,  ele acaba fazendo o assentamento de catiços de Umbanda para o Yawo.

Dessa maneira aparecem Yawos com catiços como Tranca-Rua e Maria Padilha assentados  substituindo o assentamento do seu Exu Bara. Essas pessoas chegam a confundir esses catiços como o Exu Bara e até o próprio Orixá Exu.

Isso é ridículo e lamentável.

Então, fechando esta explicação, catiços como Tranca-Rua e Maria Padilha NÃO são assentados como Exu Bara de Orixá. Mais ainda, esses catiços não são escravos de Orixá. Esta expressão, escravo de Orixás, que é usada para enquadrar esses catiços como se fossem parte do Candomblé, NÃO tem nenhuma base. Os catiços não são escravos de orixá e não existe na religião Yoruba e no Candomblé esta expressão e referência. Isso pertence à sempre e somente a Umbanda.

A Umbanda não é uma religião africana é uma religião brasileira.

Assim, se alguém chamar os catiços de Umbanda de escravos do Orixá e dizer que esta é a posição deles dentro do Candomblé, isso é mentira. Isso não existe no Candomblé! Essas pessoas são mal-informadas ou estão usando isso para enganar as pessoas, justificando assim os seus desvios de conduta.

Para poder entender o Orixá Exu do Candomblé, a primeira etapa é esquecer tudo de errado que é falado, todos esses desvios de conduta, todas essas mentiras que são ditas para justificar erros, mal-feitos e ignorância.

terça-feira, fevereiro 21, 2012

Religião e Ecologia

Continuando neste assunto eu gostaria de comentar sobre minhas próprias posições sobre o assunto. Eu já me manifestei em grupos que participo, mas, quero deixar aqui no blog minha posição.


Lembro que em texto anterior já transcrevi o conteúdo de uma cartilha sobre o assunto que foi iniciativa de uma outra pessoa e que faço e sempre farei questão de divulgar.  Minha opinião é que as pessoas  no candomblé, normalmente, ou são ignorantes ou se fazem de ignorantes porque elas usam o discurso fácil de que protegem a natureza ou fazem parte de uma religião ligada com a natureza e na realidade fazem parte de um grupo totalmente distinto, o das pessoas que não tem nenhum respeito pela natureza.


É um misto de hipocrisia e ignorância, onde prevalece o segundo, as pessoas são de fato ignorantes mesmos, não tem conceitos básicos de educação ambiental. 


Minhas posições são as seguintes:


Sobre Folhas


- Não existe candomblé ou Ifá sem folhas. Se você não tem acesso a folha não vai poder fazer nada. Acaça não se faz em pia ou em bandeja. Se não conhece folha então não tem capacidade para fazer nada no Candomblé e Ifá. Se esta distante de matas ou locais onde possa comprar, vai ter que ir longe para buscar isso, mas, sem folhas não se faz NADA.


Tem um monte de gente ignorante ou preguiçosa que acha que pode fazer as coisas sem folhas. 


- seja consciente na retirada de folhas de matas. procure retirar apenas o que vai usar e nunca retire toda a quantidade de uma mesma árvore ou folhagem. Retire de várias de forma a deixar a possibilidade de recuperação e procure sempre pegar em distâncias maiores para evitar destruir a mata na sua proximidade


- Procure plantar as folhas que usa. O Candomblé é um grande consumidor de folhas e deve devolver esse consumo para a natureza. Essa coisa de terreiro de Candomblé urbano, tocado em quintal ou varanda é impossível, ou melhor ridículo. Candomblé exige espaço. Existe uma distância muito grande entre o que uma pessoa quer e o que ela pode e tem que que fazer.


- Não use banhos vencidos. Orixá é limpeza e cheiro bom. Se a pessoa é suja, não confunda isso com o Orixá.


- Saibam que retirar folhas de reservas vegetais é crime!


Sobre ebós


- seja cuidadoso com a quantidade de alimentos, grãos, farinhas, legumes e frutas que usa em ebós. Não pode existir desperdício, não de deve jogar foram alimento que pode fazer falta para outros.


- Em qualquer lugar que faça o seu ebó, recolha todo o material que for passado na pessoa. Após passar o que entende que é necessário, limpe sua SUJEIRA. Recolha tudo. Leve ferramenta para isso e se for o caso passe em cima de uma peça grande de morim para facilitar. Tudo o que for passado deve ser recolhido.


Existem ebós que tem destino já determinado, mas, muito em muitos ebós o destino do material usado é incerto. Nesse caso incerto quer apenas dizer que muitos idiotas deixam o que usaram ali mesmo, no local em que fizeram o ebó.


Tem muita gente porca e ignorante que vai para uma mata passar ebó e ao invés de procurar um lugar na própria mata para fazer o seu trabalho passam o ebó no próprio caminho que as pessoas utilizam para ter acesso a mata.


- O que deve ser feito é:  recolher o material usado no ebó; não deixar restos no chão onde pessoas venham a trafegar.


Coloque em lugar afastado onde o material poderá ser consumido por animais e insetos ou mesmo de deteriorarem sem que isso traga transtornos para outras pessoas.


Se for cabível, enterre esses restos para que a própria natureza absorva o material, limpe sua negatividade.


- Não deixe lixo inorgânico no local como sacos plásticos e PETs. As pessoas apesar de serem profissionais no ofício de serem ebozeiros profissionais não se preparam minimamente. A cada ebó é uma montanha de sacolas de mercado que são deixadas no próprio local.


O correto deveria ser esses profissionais terem embalagens permanentes para isso, afinal eles ganham dinheiro com isso. Mas se eles são despreparados em caráter permanente que tenham o cuidado de recolher o seu lixo inorgânico ao deixar o local. As embalagens de que foram usadas para transportar o ebó NÃO são parte do ebó.


- Tome cuidado no uso de locais que são mananciais de água, poços, nascentes e rios.  O Candomblé é conhecido por destruir esses locais, transformando-os em lixeiras a céu aberto.


O resíduo que se joga no Rio, vai parar margem abaixo e ficar acumulado em pedras ou no próprio leito do rio. Só o fato de você não o ver não significa que o seu lixo simplesmente deixe de existir e como jogar para debaixo do tapete. 




Oferendas


É uma das coisas mais complicadas.


As pessoas colocam na natureza e em locais de acesso público, peças de barro grossas, peças de louça, faiança e vidro, além de garrafas,  fazendo parte da sua oferenda e deixam esses materiais nos próprios  locais.


Comumente todo este material é exposto largamente em locais vistosos e bem espalhados.


O material orgânico entra em putrefação emporcalhando onde foi deixado, Esse material não perecível vai se quebrar trazendo riscos para as pessoas que transitam e usam o local em que foi depositado.


Já cansei de ir em rios e ver em cima de uma pedra uma enorme oferenda opodrecendo com copos de vidros e garrafas. Já vi gente se ferir em Rio ao pisar em cacos de vidro e louça.


Isso é um  crime.


É também muito comum as pessoas colocarem oferendas em suas casas e terreiros e depois, na hora de se desfazer delas, colocarem este material, já em putrefação nas ruas. Muitas vezes são até grandes matanças.


Elas dizem que aquilo é o correto. Mas, na minha opinião e prática, o correto é pegar isso tudo e enterrar.  A terra vai consumir, nenhuma sujeira vai ser feita e o ciclo se reinicia.


Qual é o axé que se encontra dentro de um caminhão de lixo? 


Qual o axé que existe nas pessoas cuspirem naquela oferendam xingarem, virarem a cara, etc?


Assim o melhor destino a sua oferenda, se você tem apreço a ela é ter certeza do correto destino que vai dar a ela. Faça a sua oferenda, mantenha exposta em sua casa, recolha e enterre. Você vai ter certeza do início, do meio e do fim.


Se tiver que colocar alguma coisa na rua:


- faça algo pequeno
- Não coloque animais e nem faça matanças na rua
- não coloque embalagens, louças, garrafas, barro, etc..  coloque a oferenda em cima de uma folha. Líquidos podem ser colocados em cuités ou apenas entornados junto à oferenda, não existe sentido em colocar garrafas, taças e copos.


Animais


Todos sabem que a religião afro considera o alimento uma comemoração à vida e o preparo de alimentos é uma etapa importante. O uso de animais faz parte disso e seu preparo, assim como o de outros elementos, é feito pela forma tradicional, do modo doméstico, sem o uso de componentes industrializados.


Mas, se você tem um terreiro tome cuidado com as regras sanitárias do seu município. Ninguém esta acima da lei.


Apesar do caráter sagrado e comemorativo que existe no uso de animais na religião, tenha cuidado para fazer o uso litúrgico disso o mínimo possível, não confunda suas necessidades pessoas com as necessidades litúrgica e não transfira para a liturgia a necessidade da sua própria dispensa.

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Candomblé e ecologia

Candomblé e ecologia


Seguindo este assunto que já foi assunto de algumas postagens reproduzo a seguir o conteúdo do material "oku obo espaço sagrado - educação ambiental para religiões afro-brasileiras"

A cartilha OKU ABO é uma ferramenta educativa criada pelo projeto OKU ABO - Educação ambiental para Religiões Afrobrasileiras, com o objetivo de resgatar o saber tradicional das religiões afro-brasileiras e promover a preservação do meio ambiente a partir desse resgate.

O material que transcrevi não é o texto integral da cartilha, mas, não fiz qualquer alteração ou edição no texto que reproduzo. Estão aqui os principais pontos, mas o folheto é muito bem feito. Quero ressaltar que harmonizar o Candomblé com a natureza e a ecologia não é uma coisa natural. É necessário empenho das pessoas nisso.

O que vemos hoje é justamente o contrário, as pessoas do Candomblé tem péssima educação e nenhuma consciência ecológica e até mesmo sanitária. Isso não tem que ser assim e esta realidade tem que mudar. A primeira atitude é reconhecer que este comportamento é geral, porque para variar cada um acha que o outro é que é o problema.

Assim os desinformados que pensam que existe uma preocupação natural de candomblecistas com a natureza, acordem, é justamente o contrário.

Iniciativa da cartilha é do terreiro de candomblé Ilê Omiojuaro, de Mãe Beata de Yemojá, em parceria com entidades religiosas, ambientalistas, pesquisadores e órgãos públicos, a cartilha foi elaborada com base emensinamentos ancestrais. Os nossos mais velhos contam que antigamente não encontravam tantos resíduos de vidro, plástico, papelão, compondo as oferendas afro-brasileiras. O dito progresso do mundo capitalista deturpou, dentre outras coisas, nossa maneira de tratar o meio ambiente. O povo-de-santo acabou incorporando valores que nada têm a ver com a nossa cultura, que nos afastam de nossa tradição e que hoje são usados para justificar mais preconceitos contra as religiões afro-brasileiras.

"“Meu filho, orixá é tudo isso que está aí... É o princípio da vida, está em todas as coisas. Por isso, tome muito cuidado, pois quando você
mexe em uma coisa, desequilibra outra”.

“Ohomem não percebe que ele não é nada. A gente está aqui de passagem. A terra vai comer tudo isso...”
“Está vendo essas mazelas que acontecem no mundo? É a natureza. São os orixás se revoltando com a agressão do homem a ela.”

(Ensinamentos da minha Yá, Olga do Alaketu)


Todo o espaço é sagrado para as religiões afro-brasileiras.

Èsù (Exú) - Caminhos, trilhas e encruzilhadas

Ògún (Ogum) - Ferro

Ò s ó ò s ì (Oxossi) - Florestas

Òsanyìn (Ossain) - Segredo das folhas

Obalúayé (Obaluaiê / Omolu) - Terra

Òsùmàrè (Oxumarê ) - Arco- íris

Sàngó (Xangô) - Raios, trovões e pedras

Irókò (Irôco) - A força física do povo de santo

Oya (Oiá/ Iansã) - Chuva, tempestade, vento

Ò s u n (Oxum) - Rios, cachoeiras

Yemonja (Iemanjá) - Mares e rios

Obà (Obá) - Grutas, cavernas e encontro das águas

Yewa (Euá) - Cosmos, mata virgem

Nàná (Nanã) - Pântanos e mangues

Òòsàálà (Oxalá) - Harmonia da natureza


“Como Ialorixá, eu oriento meus filhos de santo e
quem me procura para que tenham sempre
preocupação com nossas práticas religiosas no
ambiente em que vivemos. Aconselho todos os
sacerdotes a fazerem o mesmo.”

(Mãe Beata de Yemonja).


Áreas de Proteção Ambiental - APAs APAs são locais onde você pode realizar livremente suas oferendas. Servem para
diminuir os impactos nas reservas e parques, através de práticas sustentáveis, como:

• utilize recipientes biodegradáveis;

• não deixe sacos plásticos e embalagens nas APAs;

• rio e cachoeira: não coloque oferendas dentro do rio ou cachoeira e cuidado para não prejudicar a vegetação da margem do rio, porque é ela que o mantém vivo; 

• apresente sua oferenda, reze, faça seu pedido e depois a coloque fora da margem;

• mar: use materiais biodegradáveis, derrame os líquidos de garrafas e frascos de perfumes e retorne com objetos tipo
espelho, pente, sabonete, bijuterias, garrafas, etc.;

• rua, caminhos e encruzilhadas: não coloque oferendas no asfalto, mas no canteiro. Além de ficarem muito expostas, veículos geralmente passam por cima delas e quebram os recipientes, podendo causar acidentes;

• pedreiras: raspe a parafina das velas e coloque -a no lixo.


Sabemos que nossa tradição se baseia na troca, na generosidade, por isso nossos rituais são sempre muito ricos e fartos. Porém, 


lembre-se que orixá é simples, come no chão. Então, nunca devemos confundir riqueza com dinheiro e fartura com desperdício. Isso 


são valores da sociedade de consumo e não da tradição afro-brasileira.

Para os orixás e encantados a qualidade das oferendas é muito mais importante que a quantidade. As porções das oferendas e ebós 


devem ser proporcionais àquelas destinadas a uma pessoa (200g a 500g).

A oferenda começa desde a hora do preparo. Compartilhe o axé com seu orixá. Na tradição afro-brasileira não se
desperdiça nada. Podemos observar que até hoje, em muitas casas, todas as partes dos animais sacrificados e as comidas são 


consumidas. Cerca de 10%, o axé do santo, é consumido pelos iniciados, e o restante é destinado ao público.

Ainda é comum nos candomblés, que todas as comidas de santo - omolocu, farofa de azeite de dendê, feijão preto temperado com azeite e camarão, xinxin de galinha, caruru, vatapá e o famoso acarajé - sejam servidas ao público.


Todas as religiões realizam oferendas. Os católicos dão a hóstia e o vinho; os judeus sacrificam um cordeiro na páscoa; os orientais dão alimentos e objetos; ou seja, não somos diferentes de ninguém. Por isso, fique tranqüilo ao realizar sua oferenda.

• As oferendas devem ser realizadas dentro do terreiro, sempre que possível.

• Os alimentos cozidos devem ser consumidos ou enterrados após o tempo mínimo de exposição. O que sobra pode e deve ser enterrado ou 



encaminhado para a compostagem, para produção de adubo orgânico. Isso é uma prática utilizada inclusive na África, berço dessa religião.

• Consulte a autoridade religiosa do seu terreiro sobre o tempo mínimo de permanência de exposição.

• Recolha sempre todos os resíduos de suas oferendas religiosas do meioambiente.

• Cantar, tocar, dançar são opções de oferendas que não deixam lixo. Podemos realizá-las em qualquer espaço, exceto nas reservas biológicas.

• Pergunte sobre restrições ao uso de som. Atabaques podem causar um forte impacto em determinadas áreas, como grutas e cavernas. Já em outras, não.


Dê sempre preferência a materiais biodegradáveis na prática do culto. Minimize o impacto causado na natureza.

• Alguidares, louças, copos e garrafas quebram com facilidade e causam ferimentosempessoas e animais.

• Copos e garrafas podem ser substituídos por cabaças, cuias de coco ou bambu.

• Para substituir os recipientes de louça ou barro, uma alternativa é o uso de folhas.

• Bananeira, mamona ou morim, podem forrar o fundo dos alguidares e louças.

• Após o ritual, deixe as folhas com as oferendas e retorne com os recipientes.

• Lembre-se de recolher todos os resíduos após o tempo mínimo de permanência. Isso tudo pode alterar a estética da oferenda, mas o resultado final compensa.

O fogo é um elemento imprescindível para as religiões afro-brasileiras, porém devese usá-lo com muita cautela, devido ao seu poder devastador.

• Antes de depositar sua oferenda na natureza, acenda as velas no terreiro.

• Se tiver que acender uma vela, faça-o somente em locais onde você possa se responsabilizar. Espere até que ela se apague.

• Aproveite o tempo para rezar e sentir a energia do ambiente em volta.

• Não deixe velas acesas nos pés das árvores. Você pode causar incêndio, além de causar dor nas árvores, pois elas são seres vivos.

• A questão não é religiosa. Provocar incêndio é proibido por lei e você pode ser preso por isso.


O que não puder ser reaproveitado com o mesmo fim, deve ser reciclado, ganhar nova roupagem e novo uso.

A louça usada nas oferendas pode ser lavada, fervida e reutilizada como recipiente de novas oferendas ou como utensílio no terreiro. 





Já os alguidares, por serem de barro e porosos, são de fácil contaminação para serem reutilizados na culinária e no ritual. Devem ser fervidos e podem ser reciclados se forem triturados e usados como terra. Também podem ganhar uma pintura decorativa e você pode fazer três furos no fundo deles, transformando os em vasos de planta. A questão é usar a criatividade a serviço do bem comum.

Veja o tempo de decomposição de alguns materiais:

Barro curado: 10 anos
• Celofane: cerca de 100 anos
• Cerâmica vitrificada: cerca de 500 anos
• Filtro de cigarro: 10 anos
• Madeira: 10 anos
• Metais: 100 anos
• Moedas: 200 a 500 anos
• Papelão: 2 a 4 meses
• Plástico: cerca de 500 anos
• Tecido de algodão: 10 anos
• Velas: até 3 anos

Atenção: o mercúrio (azougue) é cancerígeno e não pode ser manipulado sem proteção


Tenha responsabilidade com a limpeza dos espaços sagrados. Mantê-los limpos coloca-o empermanente contato com o axé dos orixás.

• Se tentarmos destruir a natureza, nós é que morreremos.

• Nunca deixe sacos plásticos, garrafas, velas e recipientes na natureza.

• Antes de realizar sua oferenda, faça sempre uma faxina na área, retirando restos de outras oferendas, embalagens e outros resíduos, seja a área na natureza ou no próprio terreiro.

• Leve sempre sacos de lixo e luvas plásticas para a coleta de resíduos. Se não encontrar coletores, feche os sacos e transporte-os para o coletor mais próximo.

• Organize mutirões de limpeza com sua comunidade ou participe de grupos de voluntários dos parques e das reservas próximos a sua casa.


O material é assinado pelo Aderbal, filho de Beata.

Aderbal Ashogun é baiano, nascido no terreiro do Alaketu. Promove ações afirmativas como músico, ativista ambiental e produtor cultural. Participou da ECO 92, quando comecou a coordenar o projeto OKU ABO. É consultor do IBAMA para Práticas Religiosas em Unidade de Conservação. Realizou oficinas internacionais de cultura afrobrasileira em Madri e Londres (1998), produziu e tocou no cd Cantigas de Candomble (2000), gravando 57 cantigas na língua ioruba, com intuíto de preservá-las. Participou do Fórum de Espiritualidade e Sustentabilidade da Água, em Taiwan, 2004. Foi palestrante em inúmeros seminários, entre eles o 9º Congresso Mundial de Tradição e Cultura de Orixá (UERJ, 2005) e o Iº Seminário contra o Racismo Ambiental (UFF, 2006). 

Aderbalashogun@yahoo.com.br