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terça-feira, janeiro 31, 2012

Quem é o errado?


inicialmente, para a meia dúzia de seguidores deste blog, lamento minha ausência, mas, nessa época a gente resolver ficar um pouco à toa.  Vou tentar recuperar um pouco o tempo mas o mês de Janeiro já se foi.


Existem alguns assuntos preferidos pelos candomblecistas, um deles é reclamar de outros candomblecistas. É uma mistura de pura fofoca, inveja, falta do que falar e um pouco de justificativa.


O caso é que problemas existem, mas, o que mais existe é apenas a mesquinharia e falta de educação e ética mesmo.


Assim, a palavra marmoteiro é presença fácil na boca de candomblecistas. Essa é uma palavrinha fácil e inconsequente.


O discurso contra marmoteiros é o discurso fácil.  A pessoa que fala, normalmente,  posa de inteligente e de ético. É impressionante ver as pessoas se acusarem de marmoteiros. Porque todo mundo ve a marmotagem no procedimento do outro mas se acha o totalmente certo.


Me impressiona a felicidade como as pessoas ouvem ou lêem as críticas aos marmoteiros. Elas festejam os críticos como heróis e todos sáo unânimes em acharem tudo um absurdo e todo mundo errado mesmo. Contudo, é muito simples se imaginar que, se todo mundo é contra os marmoteiros, como podem existir marmoteiros?


Não estou aqui defendendo pessoas erradas, pelo contrário, estou afirmando que em muitos casos o sujo fala do mal lavado. No Candomblé o dificil mesmo é ser certo. Falar que o outro é marmoteiro pode sair da boca de uma pessoa que sabe o que esta dizendo, mas, também pode ser de qualquer idiota fingindo que é sabido.


Vejam, pessoas corretas e éticas podem se aborrecer com essa minha visão simplista. Mas elas tem também que compreender que elas estão fazendo fileira com todo tipo de pessoa.


Esses dias, em um grupo de candomblé no Yahoo eu me deparei com uma dessas situações insólitas. Um pessoa se auto nomeando como Tata nkise qualquer coisa, como se fosse um respeitável e tradiconal sacerdote de angola,  postou uma mensagem falando mal de marmoteiros, aquele discurso cheio de adjetivos, mas, sem nenhum sujeito e nenhum substantivo. Mas, ao fim da mensagem a pessoa diz que na verdade, ele, o tata qualquer coisa, era também, ou de fato, fulano de tal de Oxossi, feito de Orixá por uma sacerdote de Angola, em uma casa dita de Angola e se justificando dizendo que essa pessoa, que o tinha feito, era o tal e que  tinha o conhecimento para fazer isso.


Vocës tem idéia do absurdo disso?


Observem, não estou chamando ninguém de marmoteiro, nem o feito nem o fazedor, aliás, não uso essa expressão. O que estou chamando a atenção é para essa cena insólita!


A pessoa feita de orixá por uma pessoa de angola? - Erro. Feito em uma casa de angola para um Orixá? - Erro. Usando oye de angola mas tendo sido feito, como ele mesmo disse, em Orixá? - Erro. Falando mal de marmoteiros? - Erro, primeiro seja certo depois fale dos outros.


E não faltou depois gente para bater palma e elogiar....


O que existe de fato é um monte de gente despreparada, que não sabe em que religião está, o que esta religião significa, por que estão nessa religião e que na maior parte das vezes querem: pular etapas; ter um cargo; ter uma casa só sua para fazer o que quiser. As pessoas querem levar o Candomblé como se levava um madureza ginasial.


Ao invés de ficar acusando uns aos outros de marmoteiros, o que elas devem fazer é ensinar o certo e aprender o que é certo. A realidade que vivemos é que as pessoas não gostam, não querem ou não sabem explicar o que é o certo. Se perdem em detalhes de feitura e esquecem qual o sentido da religião na vida delas, ai, caro, viram evangélicos.


As pessoas que conhecem a religião, que conhecem o Candomblé deveriam se dedicar dia e noite a ensinar outras pessoas. Esta é uma forma melhor de combater o errado. Esta é a abordagem positiva para os mal-feitos que corroem esta religião.


Essas pessoas que adoram apontar marmoteiros muitas vezes não sabem explicar sua religião para uma outra pessoa. Não sabem explicar o que fazem em um terreiro. Não sabem explicar com palavras simples o sentido de dogmas e ritos de sua religião. Não estou sendo elitista. Digo mesmo que existe uma cultura de desinformação atrás de um dogma de segredo e que esta pratica tem gerado mais malefício do que benefício.


Um outro exemplo foi um outro Tata qualquer coisa (esses "Tata", estão se especializando...), que foi dar uma entrevista no Jô Soares. Não sabia explicar a sua religião, não sabia explicar porque a sua religião era muito maior do que a preocupação das pessoas sobre sacrifícios de animais e não conseguiu justificar essa liturgia fundamental.

Este caso foi muito gritante para mim. Era uma pessoa esclarecida, desembaraçada mas que não conseguia desenvolver, e também não tinha a preocupação de fazê-lo, de maneira simples e objetiva os conceitos da sua religião de modo que a sociedade laica pudesse compreendê-la. Esta era a aspiração de muitas pessoas que haviam, inclusive, divulgado por e-mail a participação deste senhor no programa.


Essas pessoas, assim como muitas, gostariam de ver uma pessoa de posição e conhecimento na religião, tendo a oportunidade de estar em uma mídia importante e passar para as pessoas os aspectos positivos da religião fazendo frente aos mitos e críticas covardes que são feitas por evangélicos. Mas foi uma completa decepção.


Eu também conheci um babalorixá que se achava o máximo. Ele tem certeza que ele é o tal, que a casa dele é a melhor e que ninguém se compara a ele. Tudo dele é o bom, é o bem feito. O assunto preferido dele é falar mal de outros ou colocar defeito nas outras pessoas. Também apontar os absurdos dos outros. É muito chato porque esse é o assunto que ele gosta. Diz que senta na mesa de jogo dele e houve fofocas de arrepiar.


Mas essa pessoa ensina as pessoas da casa dele?  NÃO. Iyawo lá varre quintal, limpa janela, etc...  Ele não gasta o tempo dele transformando os Iyawo e Abian da casa dele nos expoentes da religião. Ele não se orgulha das pessoas que tem na casa dele. Gasta o tempo dele falando dos outros ao invés de ter na sua casa a elite do Candomblé, já que é assim que ele se considera. 

Entendam que estou transcrevendo como ele se acha e não como ele é de fato, aliás, se enquadra bem mais na categoria do que falam dos defeitos dos outros e esquece dos dele. Dos defeitos e dos mal-feitos. Contudo a questão é que independente do que ele é, como ele se acha o máximo ele deveria estar formando pessoas assim.


Se você não é parte da solução de um problema, você é parte do problema!

Assim existe uma energia gasta falando mal de outros e apontando marmoteiros sem que seja gasto qualquer energia na pessoa mudar esta situação. Não existe esforço e vontade de ensinar, apenas de falar mal. Sou favorável que se mostrem pessoas sem ética ou com casa que não respeitam a religião. Sou favorável a um controle ético da religião. 


Mas as pessoas tem que ser ensinadas. Você ensina na sua casa que vai evitar a criação de novos marmoteiros na boca de outros. Mas também sou favorável a uma abordagem ortodoxa à religião. Nada de tolerãncia com sincretismos. Nada de misturar Candombé e Umbanda em uma casa. Candomblé é nação e Candomblé é Candomblé. Assim a gente define o que é certo e o que é errado.


As pessoas de Candomblé, no dia a dia, não gostam é de cumprir os seus 7 anos de obrigações pagando cada ano devido. Inventam que cumpriram os seus anos, mudam de cidade, mudam de bairro e de casa para apagar seu passado.


As pessoas não gostam é de fazer o seu orixá em uma casa e terminar as suas obrigações na mesma casa. Mudam de casa como se troca de roupa. Não querem se submeter a  disciplina e a hierarquia.



As pessoa não gostam é de se submeter e respeitar os mais velhos de uma casa, as pessoas não querem mais obedecer ordem assim como os mais velhos não querem saber de se dar o respeito e respeitar os mais novos.


As pessoas gostam é de receber e inventar cargos que não tem para não ter que obedecer regras.


As pessoas não gostam é de se dedicar a sua religião e a seu Orixá, pedindo no pé dele, de ori e de exu o que precisam ao invés de ficarem recebendo exu e pombo-gira.


As pessoa não gostam é de respeitar a sua nação fazendo misturas inaceitáveis.


Assim, na minha visão, as pessoas deveriam se preocupar em fazer o certo, ensinar o certo e cobrar o certo. 


Se você ve algo errado DIGA para essa pessoa que ela esta errada, mas diga PORQUE esta errada. Ensine para outros o que entende que é o certo para evitar que as pessoas se enganem. Esta com medo de se expor? Então vá aprender. As pessoas tem com razão uma grande insegurança na religião. Somente os Babalorixá e Iyalorixá é que se pronunciam porque eles tem a prerrogativa de sempre estarem certos na sua casa. Isso mesmo, a maior parte apenas covardes.


Antes de abrir a boca para chamar alguém de marmoteiro, tenha certeza absoluta que você é O CERTO sob qualquer aspecto que o vejam. Sendo dessa maneira, uma pessoa correta e seguidora da sua religião,  vai poder não só dizer quem está errado como também explicar o que é o certo.

Ser o CERTO é ser uma pessoa ética, dedicada e empenhada em aprender. É uma religião com muito detalhes e não estou tratando de detalhes meio secretos ou secretos. Estou tratando do básico de toda a religião.


Tem pessoa que gostam de se aproveitar de festas em casa de Candomblé. Mas elas não  vão lá pelo Orixá. Vão para comer e lamentavelmente beber. Digo lamentável porque bebida é para ocasiões sociais e laicas. Não lembro de ver isso em eventos religiosos.


Mas, que direito tem uma pessoa que vai em uma casa, como da comida da pessoa e depois sai falando mal dela? NENHUM


Se você vai em um lugar e não gosta do que ve, vire as costas e vá embora, não fica lá batendo palma para maluco, usufruindo da hospitalidade dele e comendo da comida dele.


Chamar os outros de marmoteiros é muito fácil. Dificil é estar disposto para mudar essa situação, colocar a cara na janela, se arriscar, a acima de tudo aprender primeiro.


Vou voltar ao ponto que comecei. Pessoa com pouco conhecimento enchem a boca para chamar os outros de marmoteiros, mas, só para parecerem inteligente e conhecedoras. Duvida que tenham gasto o seu tempo para aprender e se dediquem para mudar esse estado de coisas.


As pessoas deveriam aprender e ensinar deixando então o adjetivo de marmoteiro para os poucos que vão restar.


Mudar o errado passa por ignorar o errado e desprezar o errado. Ignorar não é fingir não ver o errado e sim não aceitar o errado. Você não deve ir lá para ver o errado em função, fazendo presença, número e batendo palma para ele.


Tenha ética

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Iemanja e o Ori

Iemanja e o Ori


Veja uma versão mais completa e atualizada deste texto em:

Sobre Iemanjá e o Ori 


Essa versão aqui é mais antiga de 2012, veja a versão nova no link acima


Eu considero que nesse tema abordo um dos grandes desvios do Candomblé. Assim como o tema das pessoas associarem os Orixá (Òrìṣà) a elementos da natureza (altamente polêmico) e a associação de números a Odù (altamente popular). São 3 temas que merecem uma abordagem de questionamento em relação a religião Yorùbá e a tradição do Candomblé. Todos os 3 temas já foram abordados por mim. Esta versão aqui é uma expansão do texto original e quero usar essa questão de Oxalá (Òṣàlá) e Iemanjá para explorar um tema mais amplo e necessário.

Esse tema já foi abordado no Blog anteriormente de uma forma bem simples e objetiva. Esse texto aqui é bem mais detalhado e fala sobre muito mais coisas. Quem não quiser de dar ao trabalho de ler, pode ver a primeira versão ou ficar apenas na minha afirmação que: Iemanjá (Yemọjá) não é mãe de ori nenhum, essa coisa foi uma invenção porque não existe nenhuma referência na religião ligando Iemanjá (Yemọjá) a ser Iya Ori.

Quem quiser mais informações basta seguir lendo.

Esse BLOG pode ser lido por muita gente, mas não tenho como tratar do tema cobrindo toda a matriz afro-brasileira e suas nuances, de maneira que, o que digo aqui esta relacionado a raiz religiosa Yorùbá e a tradição religiosa do Candomblé Ketu e pode não ser adequado às demais tradições religiosas da matriz afro-brasileira.

Mas acharei muito curioso se isso foi igual nas demais tradições religiosas.

Antes de abordar o tema preciso ressaltar uma coisa que falo sempre. O Candomblé é uma tradição da diáspora e em função disso adotou aspectos que o diferenciam da forma como a YTR conduz o culto na Nigéria. É isso o que uma tradição faz em uma religião, assim a YTR ou qualquer outra tradição que possa existir na Nigéria ou no Benin, ou em outros lugares do novo mundo, podem adotar um formato para o culto e mitos um pouco distintos, sem que isso estabeleça uma religião distinta da nossa. Lá, fora daqui, eles fazem como querem o culto deles e isso é problema deles e não nosso.

Não existe subordinação do Candomblé ao culto Africano e à forma africana de praticar a religião. Os africanos do golfo do Benin fazem sua religião lá como eles querem e nós aqui o mesmo. O Candomblé é uma tradição religiosa ligada à religião africana do grupo Yorùbá, mas desenvolveu aqui no Brasil um culto próprio. O Candomblé pertence à mesma religião Yorùbá mas sua prática foi ajustada ao nosso povo e sociedade. O Candomblé não é derivado do culto tradicional, ele está ligado à religião.

Esse comentário é necessário para que ninguém pense que estou sugerindo que o Candomblé ou qualquer outra tradição religiosa da matriz afro-brasileira, esteja errado e deva mudar. Não tem que mudar nada. Entretanto, sim existem alguns aspectos que podem ser ajustados em função da religião, nunca do culto.

É claro que existe um processo de reafricanização presente no Candomblé, que ajusta, ou ajustou, ao longo tempo alguns entendimentos, mas isso, a reafricanização positiva deve ser adotada com cuidado porque, de forma alguma, pode interferir no processo de formação das nossas tradições religiosas locais.

Eu denomino de reafricanização positiva os ajustes que buscam corrigir desvios na teologia e teogonia e não aqueles que buscam mudar práticas, cultos, liturgias, ritos, formatos e elementos. O que procura mudar a tradição é a reafricanização negativa e é promovida por quem não entendeu o que é criar uma tradição religiosa ou o que significa matriz religiosa afro-brasileira ou querem fixar aqui tradições estrangeiras como Lukumi e YTR. 

Por que ajustar a teologia e teogonia são importantes?

A razão disso é prática, teologia e teogonia contêm informações importantes que estão contidas na religião e são úteis para saber como lidar com o supernatural e o sentido da religião em nossas vidas. Essas 2 coisas, lidar com o supernatural e trazer um sentido e compreensão maior da nossa vida e do nosso relacionamento com as pessoas e a sociedade são duas virtudes muito elevadas e importantes da religião e fazem parte da minha definição moderna de religião. 

Religião não se resume a adorar a um deus, louvar ele 5 vezes ao dia e querer morrer para se encontrar com ele. Nenhum deus precisa ser adorado o dia todo, o tempo todo ou estabelecer a adoração como forma de se relacionar. Deus não precisa disso e muito menos esse seria o sentido da vida das pessoas. Se existem religiões que tomaram desvios foram essas que fazem isso, possivelmente estão adorando a um demônio, de fato.

O tema aqui, deste texto diz respeito a isso e eu estou usando essa questão de Oxalá (Òṣàlá), Iemanjá e Orí para abordar isso.

A associação de Oxalá (Òṣàlá) como pai de Orí e principalmente de Iemanjá como mãe de todas as cabeças, a Iya Orí para muitos, é uma bobagem adotada no Candomblé. A razão disso é que não existe base na religião para isso e vou explicar aqui.

A causa deste desvio não é difícil de entender e é baseada em dois fenômenos importantes de entender. O primeiro é o que eu chamo de orixalização da teogonia e o segundo, que em parte gerou o primeiro, foi não vinda para o Brasil de partes da teologia, alguns conceitos da religião se perderam e criaram lacunas bem como provocaram o processo de orixalização.

Antes de iniciar eu preciso dar 2 definições muito importantes porque estou me referindo a 2 termos técnicos que tem que ser entendidos.

Teologia, tem várias definições:
  1. Teologia é o estudo crítico da natureza do divino, seus atributos e sua relação com os homens
  2. Teologia é o estudo da existência de Deus, das questões referentes ao conhecimento da divindade, assim como de sua relação com o mundo e com os homens.
  3. Ciência ou estudo que se ocupa de Deus, de sua natureza e seus atributos e de suas relações com o homem e com o universo. Conjunto dos princípios de uma religião; doutrina.
Para entendermos uma religião temos que entender sua teologia, que são seus princípios, seus dogmas e a explicação de sua proposta para nos relacionarmos com deus.
As religiões abraâmicas adotaram esse termos teologia como se fosse exclusivamente deles, muita gente traduz isso assim, mas a teologia é a visão geral proposta pela religião do nosso relacionamento com deus.

Entendam que deus existe sem as religiões, eu faço parte dos que acreditam que deus é único, mas é traduzido nos diversos povos através das religiões. Uma religião esta sempre fortemente ligada a um povo e sua cultura, é a forma daquele povo entender deus e sua relação com a gente e nossa vida.

Existem muito que questionam religiões universais, dizendo, com razão que não é possível separar a religião do povo que a criou. Isso é verdade, existem religiões que somente existem no seu povo original, como o Judaísmo e o Hinduísmo.

As religiões universais, que são exportadas mundo afora carregam dentro de si os valores e a ética do povo que a criou, isso não pode ser diferente. Algumas como o catolicismo passaram ao longo dos séculos por um processo de consolidação dessa universalização e criaram um conjunto próprio de valores e ética voltados para aqueles que as adotarem.

Teogonia:
      1. Teogonia significa "o nascimento dos deuses". Ela constituía, com os poemas de Homero, a cartilha na qual os gregos aprendiam a ler, a pensar, a entender o mundo e a reverenciar o poder dos deuses. De certa forma, a Teogonia é o mais antigo tratado de mitologia grega que chegou até nós.
      2. Theos, deus + genea, origem / Refere-se a gêneses dos Deus e sobre a origem do mundo. É um conjunto de deidades (conjunto de forças ou intenções que materializam a divindade), que formam a mitologia (estudo das lendas / história de uma cultura em particular), de um povo.
Claro que não estamos falando de religião grega, aliás isso tem sido um enorme estorvo para qualquer religião não abraâmica, o de ser sempre comparado a religião politeísta grega, mas, em religiões que tem um conjunto mais rico de divindades e que mesmo assim não são politeístas, o termo teogonia é útil para delimitar uma área de conhecimento.

A teogonia se aplica a religiões que tem o seu divino mais rico, não faz sentido junto às religiões abraâmicas. Com a teogonia entendemos a proposta da religião para nos relacionarmos com ela através de divindades menores ligadas ao deus principal.

Existe alguma dificuldade em lidar com esses termos porque as religiões abraamicas dominam o cenário intelectual e tudo é feito em torno delas, assim, é bastante difícil discutir e definir outras religiões sem recorrermos a neologismos ou definições próprias.
Em religiões que lidam com o supernatural e tem o compromisso de suportar a vida das pessoas no mundo, o entendimento dessas 2 coisas adquire aspectos muito mais importantes e práticos.

Eu quero lembrar a todos que enquanto as religiões abraâmicas se preocupam em salvá-lo através da morte, dizendo que somente após a morte você contra a paz e a tal “vida eterna” ao lado de deus (…!) o Candomblé, religião Yorùbá, se preocupa em salvar você aqui, em vida, em te dar uma vida melhor para você usufruir. Existe de fato uma aliança entre deus e nós pela nossa felicidade.

DIFERENÇAS COM A PRÁTICA NO GOLFO DO BENIN


Antes de as pessoas ficarem preocupadas com as variações que nossas tradições religiosas fizeram nos cultos, devem saber que mesmo lá no golfo da guiné, os mitos e o próprio culto religioso, são regionais e variações existem nos formatos de como a religião é praticada dependo de se estar em Ifé (Ilé Ifẹ̀), Óyó (Ọ̀yọ́), Obeokuta, etc... Inclusive, até a Teogonia pode mudar. Cada lugar destes dá maior ou menor importância a algum aspecto da religião e importância a Orixás distintos. Vejam, por exemplo, a questão de Odùduwà e Oxalá (Òṣàlá) em Ifé, onde o mito da criação do mundo (cosmogonia) foi alterado parta incluir Odùduwà no lugar de Oxalá (Òṣàlá) , uma alteração eminentemente política (ver Idowu).

Essa variação e multiplicidade de Orixá (Òrìṣà) é uma das características da religião. Orixá (Òrìṣà) podem ser muitos e distintos, com alguns deles sendo comuns a várias ou muitas áreas. A quantidade de orixá (Òrìṣà) não é relevante à religião, o que é importante é a sua existência. É por isso que dizem que tem 401 orixá (Òrìṣà) á direita. Os Yorùbá não tinham aritmética, assim quando eles dizem 400 querem apenas dizer que é uma quantidade muito grande (para ser contada). O número 1, em 401, dizem (J. Elbein), significar que sempre pode ter mais algum, assim, são muito e podem ser mais.

Não existe essa fixação em 16 orixá (Òrìṣà), somente, como temos aqui. Existe, aqui, uma convenção local que arredonda o número 16, tipo conta de chegar, mas isso é aqui. A realidade é que não existe número pré-determinado, nem 200, nem 400 e muito menos 16.

Creio que uma pergunta evidente pode vir a todos: Por que muitos orixá (Òrìṣà)?

A resposta não é complicada e também está ligada a questão de o que são os orixá (Òrìṣà).
Podemos responder: e por que não podem ser muitos? Qual o problema?

O fato de termos muitos orixá (Òrìṣà) não afeta a visão da religião de que existe um deus superior. Os orixá (Òrìṣà) são ministros de deus, e ser ministros significa que eles o representam e têm seus poderes para atuar junto à nossa vida.

Na sociedade Yorùbá a característica eminente dos orixá (Òrìṣà) é a regionalidade, lá tudo é basicamente família, linhagem e aldeia. Os orixá (Òrìṣà) os representam enquanto família e sociedade tribal, existe um enorme aspecto de ancestralidade envolvido nos orixá (Òrìṣà), uma das definições de orixá (Òrìṣà) é representar um ancestre comum.

Essa definição errada, que fazem aqui, de associar orixá (Òrìṣà) a elemento da natureza, lá no golfo, não cabe, orixá (Òrìṣà) está muito mais para ser um ancestre do que um elemento, a natureza pertence a Olódùmarè, o deus maior. 

O que os orixá (Òrìṣà) têm como ministros de Olódùmarè são suas forças, poderes de domínios, alguns se especializam em determinadas funções genéricas, como cuidar de crianças (orixá (Òrìṣà) das águas em geral), prosperidade (idem), vitórias (os guerreiros), colheitas, ética e moral (Xangô (Ṣàngó)), etc… Mas muitos fazem de tudo para as pessoas deles. De fato eles têm preferências de oferendas (comidas) ou poderes exclusivos, lembrando que orixá (Òrìṣà) é o aspecto humano de deus com o qual nós nos identificamos, eles fazem parte do se chama de analogia entis. A individualidade também é parte dos orixá (Òrìṣà) assim eles tem poderes diferentes e personalidade diferentes, os orixá (Òrìṣà) refletem muito a nossa própria humanidade.

Essa visão de que orixá (Òrìṣà) é natureza e uma bobagem mal copiada do modelo grego, lembram que eu já disse que todas as religiões não abraâmicas acabam sendo traduzidas como iguais a religião grega, sem terem nada haver com aquele modelo.

O candomblé, em sua formação, por exigência das características locais, realizou um processo de concentração dos cultos de diversos orixá (Òrìṣà) em uma única tradição religiosa e centralizados em uma única casa e sacerdote. Esse modelo nada tinha haver com o modelo Yorùbá do culto, altamente especializado. Devido à formação da população (de escravizados) aqui foi necessário configurar uma nova forma de culto, diferindo enormemente de como era a prática na origem.

O modelo que adotamos aqui levou naturalmente a desenvolver uma outra dinâmica na prática do culto e também foi altamente influenciado por um sincretismos interno entre grupos e entre raízes religiosas diferentes. Sem dúvida o Candomblé Jeje que já tinha esse modelo “familiar” com casas com várias divindades influenciou muito na formatação do Candomblé Yorùbá no Brasil.

De outro lado os ritos dos Candomblé Yorùbá também influenciaram a forma de como Candomblé Jeje se organizou localmente.

A realidade é que as tradições afro-brasileira do culto de Orixá (Òrìṣà) e Vodun, tiveram que se reorganizar totalmente, adaptando a religião a sociedade, valores, locais e materiais disponíveis. A religião em sua base continuou a mesma, mas, o culto foi ajustado à nossa população.

Esse processo de forma natural teve que ajustar os mitos da tradição oral e até mesmo a criar mitos e relações para poder estabelecer as bases da tradição afro-brasileira. 

Neste processo pesou esta adaptação mas também em grande parte o distanciamento da origem com aspectos e cultos que não foram lembrados e dessa forma não trazidos e implantados aqui. Não houve um processo altamente organizado de importar exatamente o que havia entre os Yorùbá, foi implantado o que as pessoas lembravam ou o que era mais relevante.

Lembro que o grupo do Candomblé Ketu se tornou muito relevante na matriz e influenciou os demais porque como parte do processo de reorganização da religião, pessoas libertas voltaram ao golfo da guiné para revisitar a religião e voltaram inclusive com pessoas para ajudar a formatação e adaptação da religião através da tradição de orixá (Òrìṣà). Esse trabalho, bem feito, influenciou outras tradições religiosas que copiaram muito do que o Candomblé ketu fazia.

Para ficar claro, o estabelecimento do Candomblé no Brasil é bem tardio em relação ao processo de vindas de pessoas escravizadas. O fluxo de escravização iniciou no século XVI indo até o século XIX, mas o registro da primeira casa de Candomblé na Bahia está em 1830. Antes disso o que haviam eram calundus que eram basicamente uma estrutura Bantu, familiar e voltada para curandeirismo e feitiçaria.

Como a escravidão somente acabou em 1889, durante todo o século XIX houve um fluxo de escravos libertos indo e vindo do golfo da guiné trazendo elementos, informações e pessoas para constituir a tradição de Orixá (Òrìṣà) aqui no Brasil, dessa forma as coisas não foram feitas de improviso, nem de memória, foram estruturadas.

É ilusório achar que a religião aqui foi organizada apenas baseada no que os escravizados lembravam, isso seria impossível, somente os mais jovens e inexperientes na religião eram trazidos como escravos.

Processo similar ocorreu em Cuba com o culto de Orixá (Òrìṣà), mas lá as mudanças foram muito mais profundas em relação a origem e as mudanças e criações que os cubanos fizeram foram muito maiores abrangendo os mitos, teogonia e até a musicalidade. Lá em Cuba devido a uma lei que obrigava a uma responsabilidade contínua com o escravizado independente da idade (velhos), somente pessoas muito jovens foram escravizadas, não eram levados pessoas experientes de maneira que o conhecimento da religião entre os escravizados era de pouco a nenhum.

Dessa maneira não é verdade a estória que cubanos contam aqui de que foram para Cuba, milhares de Bàbáláwo e que estes estabeleceram o culto de Ifá lá. Isso de fato é mentira, só foi para Cuba gente muito nova e isso explica porque a tradição religiosa de lá ficou tão diferente. Os Bàbáláwo foram também uma introdução bastante tardia.

No Brasil, apesar de tudo, o culto a orixá (Òrìṣà) se estabeleceu com sucesso em formato e prática. Foi um estabelecimento pleno, em toda sua plenitude e conservamos razoavelmente bem a ligação com a religião e melhoramos eficientemente o culto. As casas integrando todos os orixá (Òrìṣà), o Xirê, a organização, estética, limpeza e até a musicalidade que temos são muito superiores a forma como o culto é feito no golfo da guiné pelas tradições locais de orixá (Òrìṣà) (RTY). 

Minha opinião é que o Brasil teve e tem muito a ensinar, os africanos têm é que aprender como fazemos aqui o culto de orixá (Òrìṣà) e copiar o que fazemos. Isso já ocorre de fato, o Candomblé exporta para outras tradições o seu formato de culto. Os cubanos vieram aqui para aprender sobre Orí, um culto que eles não sabiam nada. Os africanos vieram aqui copiar o nosso formato de Xirê, de casas com mais de um orixá (Òrìṣà), entre outras coisas. A escritora Stephania Capone, se dedicou a estudar e a documentar isso nos seus livros, a África que veio se encontrar no Brasil.

A religião tradicional Yorùbá (RTY), que tem um culto diferente do nosso e tem na verdade que aprender e copiar o que nossas tradições desenvolveram. Eles tem que copiar desde aspectos estéticos como também ritos e padrões de limpeza. Digo mais, nós não temos nada a aprender com eles, só eles tem que aprender com a gente e a presença da RTY aqui é inadequada.

Lembro a todos que o culto de Orixá (Òrìṣà) no golfo da guiné não é majoritário na população, hoje, na melhor hipótese e nas melhores regiões não deve passar de 30% da população e existem lugares onde foi superado pelas religiões abraâmicas. A religião ressurge lá muito mais para atender ao comércio religioso com o novo mundo do que através da fé real do povo nos orixá (Òrìṣà).

É relevante a quantidade de pessoas que são muçulmanas de fato e se apresentam como sacerdotes da RTY ou de Ifá apenas para poder fazer comércio de religião. Não existe fé de fato por trás de parte da prática religiosa nas regiões do golfo da guiné (Benin e Nigéria).

Desta maneira achar que o que é praticado na África é um modelo para nós é uma enorme bobagem.

É neste contexto é que devemos entender a reafricanização, também como uma forma de evolução do que já temos.

RESUMO PARCIAL
Para não nos perdermos vamos fazer uma “freada de arrumação”.
O que eu disse até aqui é que uma coisa é a religião Yorùbá, a visão metafísica de deus e do divino e outra coisa são os cultos e tradições religiosas que estabelecem como a religião é praticada.
Existem uma tradição religiosa no golfo do Benin e temos as tradições religiosas da Diáspora. A prática da religião está longe de ser uniforme na pequena área Yorùbá da Nigéria e Benin e as tradições da diáspora adotaram uma prática adequada à localização em cada local.
Não existe ligação, dependência ou referência entre a RTY e o Candomblé, são práticas religiosas diferentes de uma mesma religião.

ORIXALIZAÇÃO


Mas, apesar de todo esse histórico da preparação do estabelecimento da tradição de religiosa do Candomblé Ketu, não foi possível trazer para cá todos os cultos ou mesmo tudo da religião. A religião Yorùbá não é simples, ela é bem completa e sofisticada e é composta de vários cultos separados que lidam com especializações diferentes da religião e além disso eles estão bastante integrados com a cultura e sociedade.

Algumas coisas foram impossíveis de vir e o que se estabeleceu aqui no Brasil, foi a tradição de orixá (Òrìṣà). Não quero com isso, mais uma vez, dizer que existe qualquer prejuízo na nossa prática e muito menos que a prática no golfo do Benin seja a mais completa, como já disse, lá é tudo regional e a prática não é uniforme, ainda mais hoje em dia no qual a religião tradicional é absolutamente minoritária. O que é feito no golfo está muito longe de ser referência para qualquer um.

Para entendermos o que eu digo, como partes que não vieram, em termos de culto, teríamos que falar extensivamente sobre isso e, mesmo assim, podemos chegar à conclusão de que, essas diferenças, não tem relevância real por serem práticas específicas ou outras que somente têm sentido naquela sociedade e não na nossa.
Eu acredito que houve um sentido real na tradição ter se estabelecido no Brasil da forma e formato como foi. As pessoas tiveram muito tempo para fazer isso e certamente discutiram o que fazer e decidiram fazer da maneira como foi.

Como eu já falei, as sociedades são diferentes, os valores são diferentes a ética é diferente, não se traz cultura de um povo, não se leva cultura de um povo para nenhum outro lugar.

Na criação da tradição religiosa afro-brasileira ocorreu um processo que eu chamo de orixalização da teologia e teogonia, no qual partes desses conceitos religiosas que foram omitidos, esquecidos ou apenas não trazidos foram substituídos por orixá (Òrìṣà) na função que seriam de um outro Inrumolé (Irúnmọlẹ̀). 

Inrumolé (Irúnmọlẹ̀) é o nome Yorùbá para espíritos e divindades é um nome geral. Orixá (Òrìṣà) é um tipo específico de divindade, um tipo que está ligado às pessoas, são os protetores das pessoas (ver isso no Odù oxéotuwa) e Inrumolé (Irúnmọlẹ̀) é o nome geral das divindades, principalmente aquelas que não tem a função de ser um orixá (Òrìṣà).

O contexto metafísico Yorùbá não é composto apenas de orixá (Òrìṣà) existem muitas outras divindades com atribuições diferentes e que compõe e rico contexto religioso. No processo de introdução da religião aqui ocorreu uma simplificação desse contexto e praticamente tudo ficou relacionado aos orixá (Òrìṣà). Estes que tem a missão específica de suportar nossa vida no Àiyé como ministros de Olódùmarè, acabaram resumindo nele todo o contexto metafísico da religião, a própria figura de Olódùmarè somente foi introduzida tardiamente.

Essa orixalização foi, dessa forma, um processo massivo de simplificação da teogonia, com efeitos sobre a teologia. As divindades se resumiram a orixá (Òrìṣà) e estes assumiram funções que seriam de outros criando assim, no orixá (Òrìṣà) uma concentração de poder e atribuições.

Certamente essa não é uma opinião unânime e muita gente pode entender diferente, mas, é o que penso.

A partir principalmente da década de 90 a religião passou por um ciclo de aquisição de novas informações, que não foi por acaso. Juntou a abertura da sociedade para o Candomblé e deste para a sociedade com a entrada de pessoas com educação formal de mais alto nível e também o acesso dessas pessoas a literatura internacional com mais informações sobre a religião.

A qualidade da informação em geral mudou, com Verger e outros autores de língua estrangeiras e com a redução da importância dos primeiros pesquisadores nacionais, como Nina Rodrigues, que não adicionavam qualidade ao contexto religioso.

Hoje em dia, os versos e mitos Yorùbá são mais conhecidos, assim como, o entendimento da teologia e da teogonia devido a mais pessoas terem estudado a religião com mais intimidade e esse conhecimento ter chegado até nós. Verger foi um dos precursores disso, da informação de boa qualidade já que muito porcaria foi e está sendo produzida. 

Dessa maneira, um dos aspectos positivos da reafricanização é quando desfazemos o processo de orixalização que a religião sofreu e restauramos a teologia com os personagens originais, seja através de adotarmos a narrativa correta como também o Inrumolé (Irúnmọlẹ̀) correto.

Um exemplo do processo de orixalização é Olókun. Este orixá (Òrìṣà) é muito importante na religião e seu culto não foi trazido ao novo mundo. Mesmo lá no golfo do Benin, ele assume uma sobreposição de funções no culto religioso em relação a outros orixá (Òrìṣà). Em Ifé é um orixá (Òrìṣà) feminino mas no restante da região Yorùbá é masculino. É considerado o orixá (Òrìṣà) primordial das águas, de todas as águas do mundo e sua origem e importância vêm a teogonia dos Bini, um povo distinto dos Yorùbá. É possível que tenha sido um culto “importado” pelos Yorùbá dos Bini.

Olókun esta, absolutamente, ligado a fartura e prosperidade. No Odù Ìworì Méjì no verso que narra a partida de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) do mundo, o verso diz que ele atravessa o domínio de Olókun (o oceano) para chegar ao órun (Ọ̀run).

Aqui no Candomblé o seu culto não foi trazido. Ele é orixá (Òrìṣà) e não faz parte das divindades do Candomblé. Ele não é desconhecido, as pessoas sabem quem é, mas isso não as faz localizar no dia a dia do seu culto.

Aqui suas forças e domínios (mar) se confundem com Iemanjá (Yemọjá), por exemplo que é um orixá (Òrìṣà) predominante em Obeokuta. Para acomodar essa superposição com Iemanjá (Yemọjá) foi estabelecido que Olókun seria o domínio do mar profundo e de Iemanjá (Yemọjá) a costa, as águas rasas, mas isso é absolutamente uma acomodação local.

Essa acomodação de Iemanjá (Yemọjá) com a beira do mar possivelmente esta ligada a necessidade de conviver com Óxun (Ọ̀ṣun) que aqui no Candomblé ficou com as águas doces dos rios. Mas lá no golfo Iemanjá (Yemọjá) é também um orixá (Òrìṣà) de água e de rio. 
 
Vale alertar que estudando essa questão de orixá (Òrìṣà) de água ela não é de forma alguma simples, vários orixá (Òrìṣà) feminino estão ligados a água na região Yorùbá e são normalmente cultuados em locais diferentes. Existe uma palavra yorùbá para generalizar esse tipo de orixá (Òrìṣà), porque são vários, eles são chamados de ọlọ́mọwẹ́wẹ́.

Como eu disse antes e afirmo, existem muitos orixá (Òrìṣà). Na diáspora houve essa concentração e simplificação, reconheço que foi útil, mas, trouxe consigo esse processo de orixalização. Quando a gente se aprofunda na religião verifica que:
  • Existem muitos orixá (Òrìṣà).
  • Existem inrumolé (Irúnmọlẹ̀) que não são orixá (Òrìṣà).
  • Os mitos com os inrumolé (Irúnmọlẹ̀) são um pouco diferentes.
No processo de formação de nossas tradições, Óxun (Ọ̀ṣun) recebeu alta relevância (que de fato têm) e sua ligação foi estabelecida com as águas e com o Rio e Iemanjá (Yemọjá) foi designada para ter uma ligação com o mar. Olhando para a origem Yorùbá isso lá não é assim, Iemanjá (Yemọjá) é ligada com águas de Rio também, mas Iemanjá (Yemọjá) e Óxun (Ọ̀ṣun) têm cultos principais em regiões diferentes. O mar é considerado como ligado a Olókun, que na verdade domina todas as águas e não somente o mar profundo.

Neste caldo poderia incluir ainda Oya que lá nos Yorùbá também é associada com um Rio, mas em regiões distintas de Óxun (Ọ̀ṣun) e Iemanjá (Yemọjá) e, aqui, essa referência aquática, não existe. Nanã foi outro orixá (Òrìṣà) possivelmente importado dos Jeje, Dahomey, que aqui coube as águas barrentas, a água primordial que em princípio é de Olókun , o orixá (Òrìṣà) da água primordial.

Aqui, depois da orixalização, Olókun é conhecido e lembrado e tem ligação com o alto-mar, Óxun (Ọ̀ṣun) ficou ligada às águas doces e rios, sobrou para Iemanjá (Yemọjá) o mar costeiro, perto da praia. Creio que as lagoas ficaram com Nanã, não lembro se tem isso, mas as águas barrentas sem dúvida nenhuma.

Como podem ver é muita especialização para uma água só!
Não podemos também desprezar que mesmo aqui a importância dos orixá (Òrìṣà) é distinta, assim na Bahia Iemanjá (Yemọjá) assume uma importância maior, tudo lá é Iemanjá (Yemọjá), e aqui no Rio, outro centro importante do Candomblé a pedominância é de Óxun (Ọ̀ṣun), que é o orixá (Òrìṣà) mais importante e mais aqui no Rio as pessoas querem ser de Oxun mas não de Iemanjá (Yemọjá).

O objetivo não é detalhar isso, apenas mostrar que isso existe. Isso é apenas uma amostra do resultado na nossa tradição de termos reunido e concentrado em um mesmo culto orixá (Òrìṣà) que lá nos yorùbá são cultuados em regiões diferentes. Lá eles tem muitos orixá (Òrìṣà) e são regionais assim eles separam isso naturalmente. Nós unimos tudo isso e, além disso, acomodamos influências externas e sincretismos internos com outras tradições religiosas como a do Candomblé Jeje, que apesar de distinto influenciou e foi influenciado pelo Candomblé Ketu.

Nosso processo de consolidação teve que lidar com isso e acomodar essas junções e diferenças. Por essa razão que digo que não podemos comparar e questionar as nossas tradições versus a tradição religiosa Yorùbá. 
 
Esse pessoal que vai na África fazer turismo religioso e volta de lá cheio de especialidade e conhecimento criando canal e rádio no Youtube para aparecer de especialista sem ter conhecimento e experiência para isso e fica dizendo como os cultos são feitos na África, são apenas uns ignorantes em fraldas e que não tem ideia do que foi o processo de formação da nossa tradição religiosa própria e o que fizemos para acomodar em um mesmo culto influências de várias regiões e etnias.

Ai eu afirmo, que porcaria de RTY é essa que aqui adota um formato de culto de vários orixá (Òrìṣà) em uma mesma casa? Imitando o que nossas tradições desenvolveram ao longo de anos? A RTY é acima lá? Duvido só se também copiaram a diáspora.

RESUMO PARCIAL
Como parte do processo de formação da tradição local, uma casa reuniu orixá (Òrìṣà) de diferentes regiões e que no golfo do Benin tinham importância diferente em regiões diferentes. Muitos deles, lá no golfo, tem similaridades em relação ao objetivo do culto e finalidade de ser recorrer a eles.
Essa acomodação levou a necessidade de mudar as especialidades e domínios de cada um para acomodá-los no mesmo culto e mesmo assim existem sobreposições evidentes.
No geral a acomodação levou a pequenas alterações no entendimento dos orixá (Òrìṣà) que pode ter incluído transformar orixá (Òrìṣà) em qualidade de outro orixá (Òrìṣà) aqui.

Outro aspecto da orixalização que temos que abordar é que a religião tem em sua teogonia mais divindades do que somente orixá (Òrìṣà), como já falei, orixá (Òrìṣà) é um tipo especial de divindade, as divindades gerais são os inrumolé (Irúnmọlẹ̀). Os inrumolé (Irúnmọlẹ̀) assumem na teologia e teogonia funções específicas não ligadas a cuidar das pessoas, dessa forma, como repito sempre, orixá (Òrìṣà) cuida das pessoas.

Aqui no Brasil (como em outros países) os orixá (Òrìṣà) assumiram a predominância em tudo e substituíram, em geral, os inrumolé (Irúnmọlẹ̀). Esse é o principal processo de orixalização, houve uma redução de orixá (Òrìṣà), houve uma concentração deles em uma mesma casa e eles substituíram os inrumolé (Irúnmọlẹ̀), eles passaram a ser os “atores” de toda a teologia. 

Essa orixalização foi acompanhada de uma revisão de mitos para acomodar a participação do orixá (Òrìṣà) e não do inrumolé (Irúnmọlẹ̀) original, dessa forma, algumas interpretações mudaram. 
 
Cabe aqui comentar uma diferença bastante significativa nas tradições do Brasil e de Cuba, isso é minha observação. Não sei exato o aspecto histórico, apenas posso deduzir por poucas referências, mas, o Lukumi de Cuva se caraterziou por ter muitos orixá (Òrìṣà) de “comida”, orixá (Òrìṣà) que eles não tinham culto e iniciação e mantiveram a referência e a presença em oferendas. Dessa maneira os lukumi parecem ter implantado uma teogonia maior, mas, isso é ilusório, eles apenas mantiveram referências sem ter informações melhores, mais profundas e precisas do culto a esse orixá (Òrìṣà). Mesmo a parte de oferenda é uma adaptação aos recursos deles.

Um autor cubano é muito direto em dizer que em Cuba eles fazem bem, ou de fato, é Iemanjá (Yemọjá) e erinlé (ou oxossi) e que, todos, os demais que eles iniciam tem processos muito “parecidos” com esses.

O Candomblé, por sua vez, com pequenas exceções estabeleceu o culto dos orixás que de fato inicia, com ritos próprios e diferenciados e não tem essa figura de orixá (Òrìṣà) “de mesa”. Existem alguns orixá (Òrìṣà) que são conhecidos, falados e citados, mas isso não os inclui nos ritos, basicamente existe a informação, mas se as pessoas não têm “as folhas” elas não os incluem.

Isso é uma diferença importante e relevante, muita gente não entende isso e acha que os cubanos do Lukumi tem mais variedade do que nós, na verdade é o contrário, tudo deles é muito menor, menos detalhado e mais distante do original Yorùbá.

Acredito que o processo de criação do Candomblé, com as idas e vindas dos libertos contribuiu enormemente para essa questão de qualidade e aproximação com os Yorùbá. Veja por exemplo a parte oral, rezas e cantigas. Nos cubanos tudo parece uma rumba.
O processo de reafricanização positiva que eu mencionei é quele que restaura as partes da teologia e teogonia da religião original, adicionando informação e conteúdo e sem afetar a forma como o culto e a nossa tradição religiosa foram construídas.

É um processo de informação, enriquecimento e restauração sem afetar a nossa própria construção prática.

Espero que essa longa introdução tenha servido para nivelar o conhecimento dos processos que estão envolvidos nessa explicação. Falar que Iemanjá (Yemọjá) não é e nunca foi Iya Orí é fácil, mas, compreender baseado no que faço essa afirmação é mais difícil.

RELAÇÃO DE ORIXÁ COM ORÍ


Quando buscamos na teologia que está documentada atualmente a construção de Orí, não existe nenhuma menção a orixá (Òrìṣà), muito menos a Iemanjá (Yemọjá).

Antes de seguir, mais um parêntese é necessário. É claro que pessoas podem questionar a literatura que documenta a teologia, sim, tudo pode ser questionado, ainda mais se você não concorda. 
 
As referências que uso são de autores conhecidos, muitos deles da religião, que na minha avaliação tem conteúdo consistente com o que eu sei e lógica intrínseca nas afirmações que fazem, cujas as informações são confirmadas por outros autores e estes não me pareçam estar diretamente ligados entre sí e usem como referências versos e não apenas afirmações que dependam apenas de acreditar neles.

Mesmo assim, claro, tem gente que poderá concordar, de forma que não tem jeito, a unanimidade pode ser impossível e cada um faça sua avaliação.

Em primeiro lugar eu procurei entender a teologia em torno de Orí, consultando muitas referências e isso me permitiu construir um modelo baseado em versos documentados. Nenhum verso de Ifá liga Iemanjá a Ori. Ori é Ori. Uma consulta também a relatos de tradição oral, feitos por Nigerianos e Beninenses, não mostra nenhum tipo de ligação de Iemanjá com Orí. 
 
Os mitos de Ori são claros em relação a origem e o processo de criação, o envolvimento de Olódùmarè, de oxalá e de Ajalá. Eu lamento muito que muita gente hoje em dia fale sobre Orí sem saber nada disso, sem ter obtido informações mínimas ou ter conseguido entender o que leu.

O Candomblé foi muito pródigo e ter mantido o culto de Orí e disponibilizado para todos os seus seguidores, é possivelmente a principal cerimônia do Candomblé, mais importante do que a própria iniciação. 
 
O culto a Orí não existia no Lukumi cubano, eu constatei isso no início deste século, ninguém la sabia nada disso. Eles vieram aqui aprender para reproduzir e vender a cerimônia. Mesmo os africanos do golfo do Benin, pouco sabiam e o culto lá era muito restrito. Orí é uma coisa que as pessoas vêm atrás do Candomblé para fazer direito. Quem quiser acreditar que acredite, ninguém falou isso para mim, eu vi isso.

Apesar de bem equacionada a liturgia do Bori, aqui no Candomblé se desenvolveu uma relação com Iemanjá (Yemọjá) e com Oxalá (Òṣàlá). As duas são resultados dos processos que eu citei anteriormente, de que os inrumolé (Irúnmọlẹ̀) foram substituídos por orixá (Òrìṣà) e que mitos foram alterados ou criados para acomodar isso.

Essa acomodação não prejudicou a liturgia e nem a sua aplicabilidade, apenas era uma referência inadequada. O que abunda não prejudica, na maior parte dos casos. Com o processo de reafricanização positiva, pudemos entender isso e corrigir o entendimento com os mitos corretos, mas, mesmo assim, mesmo sabendo dos mitos de Orí as pessoas ainda insistem com essa ligação e chamam Iemanjá (Yemọjá) de Iya Orí.

Vejam isso é um erro, Iemanjá (Yemọjá) não tem nada a ver com Orí. Mas as pessoas que falam isso apenas seguem o que a orixalização introduziu.

Reginaldo Prandi relata explicitamente esse processo que eu chamei de orixalização do culto. Ele diz “Ajàlá está esquecido no Brasil, tendo sido substituído por Iemanjá, a dona das cabeças, a quem se canta, no xirê, quando os iniciados tocam a cabeça com as mãos para lembrar esse domínio, e na cerimônia de sacrifício à cabeça (Bori), rito que precede a iniciação daquela pessoa”

Existe um mito regional do culto de orixá (Òrìṣà) que diz o seguinte:

"Quando Yemoja veio do orun [mundo ancestral] para o aiye [planeta Terra], ao chegar descobriu que cada Òrìsà já tinha seu domínio na terra dos homens, e nada havia sobrado para ela. Queixou-se a Olodumare [deus criador], que disse a ela ser seu dever cuidar da casa de seu marido Obàtálá [rei das roupas brancas], de sua comida, de sua roupa, de seus filhos. Yemoja se revoltou. Ela não tinha vindo do Orun para o aiye para ser dona de casa e doméstica. E tanto falou, tanto reclamou, que Obàtálá foi ficando perturbado, até que finalmente enlouqueceu. Ao ver seu marido[nb 9] nesse estado, Yemoja pensou na atitude que Olodumare iria ter com ela quando chegasse do Orun. E procurou os melhores frutos, o óleo mais claro e encorpado, o peixe mais fresco, o iyan mais bem pilado, um arroz bem branco, os maiores pombos brancos, o obi mais novo, o melhor atare, ekuru acabado de cozinhar, ori muito bom, os igbin mais claros, orógbó macio, água muito fria, e com isso tratou a cabeça de Obàtálá. Ele foi melhorando com os ebós, e um dia ficou completamente curado. Olodumare chegou do Orun para visitar Obàtálá. Falou à Yemoja que havia visto tudo o que acontecera, e deu-lhe os parabéns por ter curado tão bem a cabeça de seu marido. Dali para frente, Yemoja iria ajudar os homens que fizessem más escolhas de ori [destino, força vital], a melhorar suas cabeças, com uma oferenda determinada pelo oráculo de Ifá, através de Orunmilá [deus do destino dos homens].

Como eu falei, sempre deve existir muito cuidado com fontes. A origem deste mito é da região de Obeokuta e nessa região o culto a Iemanjá (Yemọjá) é proeminente. Pessoas dessa região, como o excelente autor Baba Tunde Lawal, nos seus textos atribuem enorme importância a Iemanjá (Yemọjá) sobrepondo-a a outros orixá (Òrìṣà) em função e importância.

Eu comentei sobre isso no início deste texto e é por esta razão que toda aquela introdução é necessária, vocês tem que entender os diversos processos que existem em torno da religião. 
 
Diferente daqui onde temos um padrão no entendimento dos orixá (Òrìṣà) em todos o país independente da tradição, lá o culto é muito regional e, em cada região, as pessoas dão relevância ao orixá (Òrìṣà) da região, não existe como aqui orixá (Òrìṣà) nacional.

Da mesma forma como em Ifé (Ilé Ifẹ̀) o mito da CRIAÇÃO mundo foi acomodado (alterado) para incluir a participação de Odùduwà é natural que as pessoas busquem um papel mais relevante para o orixá (Òrìṣà) principal da sua regia da teologia.

O mito é bem mal feito. Iemanjá (Yemọjá) nunca foi esposa de Oxalá (Òṣàlá). Olódùmarè não vêm ao Àiyé. Iemanjá (Yemọjá) enche o saco de Obatalá até esse enlouquecer (?!) e depois ela o cura e fica assim sendo cuidadora das cabeças? Só se fosse uma psicopata. Aliás a fama de Iemanjá (Yemọjá) é estar ligada a pessoas de cabeça ruim, doidas, deve ser por isso que ninguém quer ser de Iemanjá (Yemọjá).

Eu desconsidero esse mito citado. É muito ruim.

A ligação com Oxalá (Òṣàlá) também é em substituição a Ajalá. Oxalá (Òṣàlá) molda o corpo humano completa, com cabeça inclusive, mas o Orí Inú é feito por Ajalá, um inrumolé (Irúnmọlẹ̀).

Ao entender corretamente a teologia, conforme está em versos de Ifá documentados por Wande Abimbola, uma vez feita a escolha do Orí o papel de Ajala se encerra. Ele não faz outro Orí e muito menos corrige o que foi feito. O processo de correção é feito no Àiyé através do oráculo e de oferendas, o Bori, é o Bori que corrige as imperfeições.

A menção de Ajalá e Oxalá (Òṣàlá) no Bori é apenas um respeito a eles que participaram da nossa criação.

Eu já ouvi Babalorixa, mal informado, dizendo em cama de Bori: “que ajala lhe molde um bom ori...” Infelizmente isso é apenas desconhecimento dele, não tem nada de grave. Está fazendo uma liturgia, muitas das vezes corretamente, sem entender os dogmas. Como esta no Odù Ogbe Ogunda, Ajalá já moldou e o acaso ou a falta de preparação podem levá-lo a escolher um Orí ruim.

Uma vez moldado o Ori, Ajala não vai mais fazer nada com o Ori. Acabou. O cuidado deve ser antes de escolher o Ori como está no Odù Ogbe ogunda.

Não quero abalar as crenças de todos, mas, um pouco de calma em generalizações. Uma delas é a de que Oxalá (Òṣàlá) seria pai de todos e Iemanjá (Yemọjá) mãe de todos.

A referência a Oxalá (Òṣàlá) pode ser justificada pelo fato dele ser o criador do corpo de todos, mas, é só isso. Cada pessoa esta ligada a um orixá (Òrìṣà) e é esse o orixá (Òrìṣà) importante na vida dela. Na verdade a gente está ligado a esse orixá (Òrìṣà) e ao nosso Orí, que é o nosso anjo da guarda. Orí é uma definição um pouco complexa, enquanto divindade pessoal, o anjo da guarda pessoal, Enikeji, junto com o orixá (Òrìṣà) são os que são significativos na nossa vida.

Esse conceito de pai de todo e mãe de todos é absolutamente sem qualquer referência real. Não existe vínculo de Iemanjá (Yemọjá) com Oxalá (Òṣàlá) e muito menos nosso com Iemanjá (Yemọjá) a menos que ela faça, de fato, parte de nossa vida.

Igualmente o Candomblé, pelo menos o Ketu, não tem o conceito de termos Pai e Mâe espiritual. Nós temos o nosso Orí, nosso Orixá (Òrìṣà) e um orixá (Òrìṣà) ajuntó, um segundo orixá (Òrìṣà) principal que nos acompanha. Contudo não existe divisão de gênero e ambos pode ser do mesmo gênero. Assim sendo não existe o conceito de orixá (Òrìṣà) pai e orixá (Òrìṣà) mãe, isso é inexistente.

No caso do Candomblé Ketu temos ainda o chamado “enredo” que são outros orixá (Òrìṣà) ligado a pessoa devido a laços dela e de qualidades. Não sei como isso é tratado em outras tradições religiosas da matriz afro-brasileira (jeje, Batuque, Xangô (Ṣàngó), etc..), mas no Ketu que está ligada a raiz religiosa Yorùbá é assim como eu disse. Não existe Pai e Mãe.
Nossa relação é com nosso orixá (Òrìṣà), com Orí, com o Ajuntó e em bem menor grau com o “enredo”.

Uma pequena pesquisa na internet vai retornar dezenas de resultados ligando a Umbanda a esta questão de Pai e Mãe espiritual e até mesmo, pasmem, orixá (Òrìṣà) de frente e juntó. Em se tratando de Umbanda isso tudo ai é absolutamente impensável, infelizmente a Umbanda tem um problema sério de identidade e fica querendo imitar o Candomblé sem ter nenhum vínculo com ele.

Na Umbanda existe essa consideração de Oxalá ser pai de todos e Iemanjá ser mãe de todos. Mas a Umbanda nada tem haver com o Candomblé e com Orixá (Òrìṣà).

Como curiosidade, informo que o Lukumi entende que cada pessoa tem um orixá pai e um orixá mãe. É por isso e por outras que quem já viu diz que eles parecem uma Umbanda