A PROSPERIDADE EM IFÁ ESTA EM OBARA?
O assunto de prosperidade ligado a Odù foi inaugurado pelo Candomblé ainda na década de 90 do século passado (adoro falar isso…), quando o Candomblé encontrou um conhecimento de Ifá e de Odù ruim, retirado de um livro importante para a época mas que não refletia o que era Ifá.
O livro a que me refiro é o famoso Adivinhação na costa dos escravos, ou alguma coisa parecida com isso, do Bernard Mapouil. Foi um livro importante, trazia informação do que seria Ifá, mas tudo o que está lá foi amplamente superado nos anos seguintes. Eu tive o livro em francês mas nunca li, essa era a principal dificuldade do livro, pelo menos para mim.
Bem recentemente comprei a versão em português apenas para fins de coleção, porque nada que está ali serve para mim que sou Bàbáláwo. Aquilo que está lá nem foi baseado em Ifá, foi baseado em Fá, que era a variação de Ifá do Dahomey. O rei do Dahomey, casou com uma mulher yorùbá e importou a religião e cultos dos yorùbá e os localizou. O livro reflete uma mistura de Ifá com o misticismo árabe, numerologia e coisas similares, tem coisas de Ifá, mas, não é Ifá.
Isso não foi só aqui, os cubanos construíram, completaram e modernizaram sua tradição de Orixá (Òrìṣà) nos livros, ruins, de antropólogos e exploradores que surgiram na época, o Ifá cubano é fortemente influenciado por toda uma literatura, engana-se os que acham que veio da África, basta estudar a história deles.
O efeito aqui no Candomblé, existiu, mas, foi menor, nós éramos muito fechados e o que ocorreu foi trazer ao longo no início deste século o Ifá que o Candomblé inventou. Temos uma jabuticaba muito curiosa, inventada aqui no Rio de Janeiro e cujos criadores todos a abandonaram pelo Ifá de verdade, mas deixou uma legião de pessoas descompreendidas achando que sabem Ifá.
Essa longa introdução, como já ameacei várias vezes vou contar em detalhes, é necessária para lembrar que muita gente tem um monte de certezas sobre Odù que são baseadas em, nada. Esse tema aqui então inicia com isso, com a minha introdução dizendo que vou desdizer tudo o que vocês ouvem por ai.
Tudo o que eu falar aqui é baseado em Odù Méjì e a razão disso é porque meu entendimento é que um Bàbáláwo só pode falar para as pessoas o que está no Méjì., que são os 16 Odù principais: Ogbè, Ọ̀yẹ̀kú, Ìworì, Òdí, Óbara (Ọ̀bàrà), Ọ̀kànràn, Ìrsòsùn, Ọ̀wọ̀nrìn,ogunda, osá (Ọ̀sá), irete (Ìrẹ̀tẹ̀), Òtúwá, Oturupon (Òtúrúpọ̀n), Ìká, oxé (Ọ̀ṣẹ́), Òfún.
Para quem não sabe, odu são apenas signos, compostos por 2 partes, 2 pernas como nós chamamos. O substantivo Méjì é um número yorùbá, ele quer dizer “2” e a letra inicial “m” é usada para designar que está se referindo a quantidade do objeto da palavra anterior. O objeto anterior é Odù e desta forma, Odù Méjì significa, literalmente 2 Odù, mas que deve ser entendido como Odù duplicado. A razão disso é que para os Méjì, o símbolo do Odù se repete nas 2 pernas (ou patas). Para esse 16 símbolos, ou signos, é usado o mesmo sinal duplicado.
A partir do décimo sétimo Odù é feita uma combinação de símbolos, preservando a ordem inicial e é feito um arranho dos 16 signos tomados 2 a 2.
Os 16 primeiros são os signos Méjì, os principais e os seguintes são os signos filho ou Omon (Ọmọ) Odù. O meu entendimento é que o Bàbáláwo só pode falar para leigos dos 16 principais é devido a 2 coisas. A primeira é que todo a filosofia de Ifá está contida nesses 16 signos. Você pode consultar qualquer pessoal usando apenas os signos Méjì. É por essa razão que eu digo que os búzios, sim, podem acessar Ifá e representar uma consulta usando apenas os signos Méjì. Eu já usei os búzios assim.
Nesse ponto o método do Bangboxê estava certo, totalmente certo, mas em vez de ter sido ensinado as pessoas o esconderam e isso resultou nessa bagunça que temos hoje. Conhecimento sempre vence a ignorância. Se houvesse generosidade, uma das virtudes de Ifá, certamente o Candomblé estaria muito melhor, mas, gente mesquinha preferiu guardar isso no fiofó.
O método que o Bascon descreve no seu livro 16 búzios é baseado em Odù Méjì e deveria ser estudado.
Mas, voltando aos Odù, o conhecimento está no Méjì, o conhecimento que podemos falar. Nos Omon (Ọmọ) Odù estão informações especializadas e localizadas para cada pessoa e situação. Assim, em um Odù Ifá recomenda uma coisa em outro recomenda outra coisa para a mesma situação.
Os Bàbáláwo que ficam citando coisas que estão nos Omon (Ọmọ) Odù não entenderam Ifá ainda, ou estão querendo fingir que Odù é igual à bíblia onde os pastores ficam citando frases sem contexto. Omon (Ọmọ) Odù não serve para isso!
Mas essa questão de Odù Méjì é um enorme problema para os Bàbáláwo que se guiam por tratados, os tratados não tem nada, absolutamente nada sobre Méjì. Mentira, tem sim, mas o que tem lá não serve para nada.
Por que eu falo essas atrocidades?
Simples, eu estudei. Sim, es-tu-dei, estudar é diferente de ler e decorar, estudar significa aprender profundamente um assunto, sobre diversas vertentes e depois que você entendeu o tem visto por mais de uma fonte você pode analisar, compilar, consolidar, criticar, submeter a pares e submeter ao contraditório o que você estudou.
Ninguém que lê um ou 2 tratados que falam a mesma coisa e decora eles, pode dizer que estudou aquilo. Estudar não é decorar. Decorar te ajudava a passar de ano, mas na vida real não te faz mais inteligente ou te dá capacidade de resolver problemas.
Uma pessoa em um comentário me perguntou sobre um determinado canal do youtube, que fala de Odù se ele tinha um bom conteúdo. Eu ia responder ao comentário mas ele sumiu. Vou responder agora.
Olha o canal são vários Bàbáláwo falando de Omon (Ọmọ) Odù. Pelo que vi eram Bàbáláwo de escola cubana. A questão é, como eu expliquei, para que serve você saber sobre um Omon (Ọmọ) Odù fora de uma consulta? Como eu expliquei não acho útil, você pode estar enganando uma pessoa com o conhecimento errado para ela. Existe informação estrutural nos Omon (Ọmọ) Odù, mas é bem complicada de ser compilada e não é muito comum.
Assim encerro a introdução e vamos falar de prosperidade.
Ifá tem 5 signos que falam de prosperidade: Óbara (Ọ̀bàrà), osá (Ọ̀sá), irete (Ìrẹ̀tẹ̀), Ọ̀yẹ̀kú, oxé (Ọ̀ṣẹ́).
Vou iniciar por Óbara (Ọ̀bàrà) devido a essa popularidade do Candomblé e para explicar como ninguém entendeu nada.
Os Odù seguem uma sequência natural e estão amarrados um no outro. Eles são ligados dois a dois, mas, existem um fluxo de significados nessa sequência: Ogbè, Ọ̀yẹ̀kú, Ìworì, Òdí, Óbara (Ọ̀bàrà), Ọ̀kànràn, Ìrsòsùn, Ọ̀wọ̀nrìn,ogunda, osá (Ọ̀sá), irete (Ìrẹ̀tẹ̀), Òtúwá, Oturupon (Òtúrúpọ̀n), Ìká, oxé (Ọ̀ṣẹ́), Òfún.
Óbara (Ọ̀bàrà) Méjì, não está ligado a prosperidade, os demais que eu vou falar aqui, inclusive, são muito melhores do que ele. Óbara (Ọ̀bàrà), na minha opinião é o pior deles.
Antes que digam que eu não sei de nada ou sei errado, repito eu estudo isso ha muitos anos, em diversas fontes, versos de Ifá de verdade, não uso tratado ou compilações, vou nas fontes, analiso as histórias originais e, principalmente, não uso pataki para nada. Se você usa, lamento por você.
A fama de obara é baseada na história de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e as abóboras que eu já contei em outro vídeo e não ou repetir agora ela inteira, poderia mas seria tempo demais. De fato Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) encontra a riqueza dentro das abóboras que ele ganha, mas o significado real da história não é ganhar a riqueza, é que para ser ter sucesso na sua meta profissional, você tem que ter trabalho duro, não por ser arrogante, tem que ter absoluta humildade, tem que fazer sua missão pelo seu ideal e não esperar o retorno em troca, tem que ser sinceramente uma boa pessoa e assim de tudo tem que agradecer por tudo que recebe, pelo que tem e não pode cobrar a deus ou a qualquer outra pessoa pelo que você mesmo faz. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) na história por muitos anos perseguiu a meta de ser reconhecido, sem sucesso, manteve sua fé em Ifá e seguiu trabalhando, fazendo o seu melhor e sendo humilhado por outros Bàbáláwo e até pela mulher.
Se você for essa pessoa, então em algum momento, a sua própria humildade e fé o recompensarão. Em vez de prosperidade material você pode usar essa história para muitas coisas inclusive o trabalho religioso e que as joias poderiam, por exemplo, benção de deus. Enfim, versos e mitos de Ifá são metáforas não são histórias literais e possuem um significado muito amplo.
Óbara (Ọ̀bàrà) está ligado com você estabelecer e atingir metas. Ninguém está destinado a ser pobre e Óbara (Ọ̀bàrà) é o motor que nos faz trabalhar para atingir nossos objetivos. Mas Óbara (Ọ̀bàrà) reúne a prosperidade junto como caráter ideal. Óbara (Ọ̀bàrà) diz que você pode ter as 2 coisas, ser próspero e ao mesmo tempo ser uma pessoa boa, generosa, e humilde. Ifá contraria o que todo mundo diz, principalmente um certo tipo de pessoa que existe na sociedade que diz que associa rico a comportamente ruim, se a pessoa é rica ele roubou, ele enganou ele usou as pessoas.
Ifá me diz que as pessoas que falam isso são idiotas, são fracassados que não encontraram o caminho de deus e do bom coração, que acham que não se pode ser honrado, próspero e feliz. Óbara (Ọ̀bàrà) é quem me afirma que essas pessoas se afundam na sua própria fraqueza e que sim, podemos ser o que deus espera que sejamos.
A prosperidade é resultado dó esforço pessoal e do merecimento e além disso você deve ajudar as pessoas em volta. Você tem que se despir do mal, da ganância e de todos os sentimentos ruins de sua alma.
É um caminho bem complicado para a prosperidade.
Já em Ọ̀yẹ̀kú a mensagem de Ifá é bem diferente. Em Ọ̀yẹ̀kú a gente traz a prosperidade do órun (Ọ̀run) para a nossa vida, a gente já nasce com ela, nós no órun (Ọ̀run) escolhemos ser riscos e ter as boas coisas da vida. Possivelmente devido a nossas realizações de outras vidas. Ọ̀yẹ̀kú é um dos Odù que marcam a acumulação da riqueza e tem esse signo mostra para nós Bàbáláwo diversos riscos e problemas que as pessoas podem estar tendo.
Mas sob o ponto de vista de prosperidade, se você tivesse que chamar alguma coisa que chame o Ọ̀yẹ̀kú, porque em Ọ̀yẹ̀kú a gente não faz ebó (ẹbọ) para a prosperidade, ela já é nossa, nós fazemos apenas para os inimigos não nos atacarem e a tomarem.
Os Odù até osá (Ọ̀sá) marcam o que eu chamamos os Odù ligado ao Àiyé, a nossa vida física e os Odù acima de osá (Ọ̀sá) são ligados ao órun (Ọ̀run), nossa relação com o órun (Ọ̀run).
No limiar dos significados do Àiyé e órun (Ọ̀run) está o Odù osá (Ọ̀sá) que no Candomblé recebe uma enorme significado negativo, as pessoas dizem que ele é terrível. Na verdade acho que o Candomblé acha que tudo é terrível, só Óbara (Ọ̀bàrà) que é bom.
Osá (Ọ̀sá) representa a fertilidade feminina, a energia feminina e por isso mesmo a prosperidade que vem para você vinda do órun (Ọ̀run). É a prosperidade que você recebe, a abundância. Osá (Ọ̀sá) limpa os problemas que você encontra em Ògúndá e traz a abundância, a fertilidade e o sucesso financeiro.
O problema aqui é a estabilidade necessária para não perder o que recebe, osá (Ọ̀sá) é a energia que limpa e muda tudo de fora para dentro e traz desafios enormes para as pessoas.
Mas é muito melhor a prosperidade vir por osá (Ọ̀sá) do que por Óbara (Ọ̀bàrà).
O próximo Odù na sequência é justamente irete (Ìrẹ̀tẹ̀) e esse sim é o signo dos milionários, isso mesmo, os milionários estão em irete (Ìrẹ̀tẹ̀) e não em Óbara (Ọ̀bàrà).
Em irete (Ìrẹ̀tẹ̀) você se esforça e constrói a sua prosperidade financeira. É o seu trabalho e seu esforço que te trarão os ganhos suas mãos vão de trazer dinheiro, importância e honra. Aqui você aproveita as oportunidades que a vida te dá e isso faz a diferença.
Osá (Ọ̀sá) traz um importante alerta, uma mensagem que as pessoas escondem, que diz que nem todo Orí nasceu para trazer a riqueza, a riqueza não vai sorrir para todas as pessoas senão faltaria Iroko na floresta. Um dia eu explico essa frase para vocês.
Em irete (Ìrẹ̀tẹ̀) isso fica evidente, é aqui que as pessoas desperdiçam as oportunidades que a vida te dá é aqui que a perna não acompanha o Orí.
Mas irete (Ìrẹ̀tẹ̀) traz também desafios e problemas muito grandes para as pessoas devido a própria prosperidade e que levam a serem os milionários avarentos e gananciosos, enquanto que deveria ser generosos.
Por fim oxé (Ọ̀ṣẹ́), um dos meus preferidos o Odù da fé, das preces de você rezar e ser atendido, mas também representa aquele que busca a prosperidade com violência e excesso de força, tudo o que Ifá diz que você não deve fazer. É aqui que Ifá diz que você perde a paciência para esperar e vai até a prosperidade com gana e sede. É a riqueza dos bandidos, o crime que reflete na verdade o ódio a humanidade, o criminoso dominado pelo espírito Yerepe que tem o prazer de causar a dor aos outros e que rouba sua prosperidade dos outros.
Oxé (Ọ̀ṣẹ́) confronta de um lado a fé com a perda da fé.
Existem outros Odù onde se manifesta prosperidade, como em Oturupon (Òtúrúpọ̀n), onde Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) sobe a árvore da prosperidade, mas isso pode ficar para outra conversa.
O que Ifá me fala sobre a prosperidade é muito amplo e profundo. Ifá nos diz para ser generosos mas não diz para darmos para os outros o que é nosso e nem que alguém será próspero com a riqueza roubada. Em Ifá não tem espaço para os que querem ganhar sem trabalhar e que ser sustentado pelos que trabalham.
Enfim, encerrando, o objetivo foi mostrar que a sabedoria em Ifá é bastante impressionante e é por isso que eu digo que tem muita gente que decora tratado e depois, como naquela cena do filme, 2001 uma odisseia no espaço, quando o monólito negro dos extraterrestres que foi enviado para dar inteligência aos humanóides pré-históricos, aparece, os macacos ficam pulando admirados em volta dele. Ifá é assim, tem cérebro que não entende e resta ficar pulando em volta, admirando o que não entende.
Eu fiz um longo vídeo sobre a saúde em Ifá, recomendo que vejam. Eu ainda vou voltar nesse tema da prosperidade em outro formato, trazendo as informações e orientações para quem quiser seguir, com as histórias e explicações, quem sabe vira um curso, sei lá, tenho que ver como fazer isso.
Mas, vou trazer temas de Ifá assim, explicando um pouco de cada vez.
Aqui foi apenas para mostrar que as coisas não somo falam por ai.