Pesquisar este blog

domingo, abril 25, 2021

O conceito de qualidade de Orixá (Òrìṣà) como parte da individualização

 

O conceito de qualidade de Orixá (Òrìṣà) como parte da individualização

 

O conceito de qualidade de Orixá (Òrìṣà) é complicado e simples ao mesmo tempo. Simples se você tem conhecimento sobre outros conceitos básicos e que são a fundação que ele se assenta, complicado se vai explicar isso sem o entendimento básico da teologia envolvida, ai fica de fato muito complicado.

Tudo isso inicia pelo entendimento do papel do Orixá (Òrìṣà) nesta religião. Se a pessoa acha que Orixá (Òrìṣà) é força da natureza então nunca vai entender nada. Orixá (Òrìṣà) são manifestações de Olódùmarè. Olódùmarè criou ministros para representá-lo junto as pessoas, para proteger essas pessoas e para transmitir conhecimento do supernatural e os valores e ética da religião.

A base dessa afirmação? Está mais do que explicado nesse livro e claramente documentado em versos através do Odù oxé (Ọ̀ṣẹ́) Òtúwá e outros, já mostrados. A existência dos Orixá (Òrìṣà) está ligada a nós, em oxé (Ọ̀ṣẹ́) Òtúwá, Olódùmarè dá poder, axé (àṣẹ) e sentido aos Orixá (Òrìṣà).

Assim, Orixá (Òrìṣà) são criações de Olódùmarè e seus ministros. Por que ministros? Porque eles o representam e tem parte de seus poderes. Se apenas representassem Olódùmarè mas não tivessem poderes seriam embaixadores.

Os Orixá (Òrìṣà) são manifestações teândricas de deus, de Olódùmarè, que, segundo afirmações dos yorùbá já viveram entre eles. Para um yorùbá que considera fundamentalmente Orixá (Òrìṣà) um ancestre e alguém que já esteve entre eles, dizer que um Orixá (Òrìṣà) é uma força da natureza terá que ser uma enorme ginástica mental. O que todos sabemos é que, como parte dos poderes de magia que tem eles controlam alguns elementos e controlar não significa ser o próprio elemento. Xangô (Ṣàngó) jamais foi o fogo, todos sabemos que ele tinha a capacidade, através de magia de controlar o fogo.

Olodumarê, deus, sempre busca as melhores formas de se comunicar com a gente e de ser o mais claro possível. Cada Orixá (Òrìṣà) não tem o total poder de Olódùmarè, porque senão ele seria o próprio deus. Cada Orixá (Òrìṣà) tem parte desse poder, assim como cada Orixá (Òrìṣà) representa emoções e qualidades humanas diferentes. Podemos dizer que cada Orixá (Òrìṣà) tem uma personalidade diferente.

Desta maneira, Olódùmarè se faz representar através da diversidade, trazendo em cada manifestação sua através de um Orixá (Òrìṣà) um arquétipo distinto que combina com os diversos arquétipos de personalidades humanas. Os Orixá (Òrìṣà) são a visão humanizada de Olódùmarè, é o que na teologia se chama de “analogia entis”, nós percebemos e aprendemos com deus através de sua humanização na figura totalmente humana dos Orixá (Òrìṣà).

O segundo elemento nesse entendimento é a entrevista que fazemos com Olódùmarè antes de renascermos. Conforme já disse, esta é uma religião de renascimento, os Yorùbá tem uma palavra para isso ATUNWA – aquele que vive de novo. Antes de renascermos, vamos a Olódùmarè para em uma entrevista que tem apenas como testemunha Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), nós possamos pedir a ele as coisas que queremos atingir na nova vida no Àiyé. Nós vamos pedir o nosso “destino”, que na verdade são objetivos que nós mesmos vamos realizar. A gente diz o que quer realizar na via e Olódùmarè concorda com isso, mas, pode adicionalmente nos dar objetivos adicionais.

Para podermos realizar isso, Olódùmarè nos dará ferramentas e essas ferramentas é que compõe o Orí Inu, que são o seu axé (àṣẹ) ajustado para os nossos objetivos, nos designará um Orixá (Òrìṣà), que fará parte do nosso Orí e também designará um Énikeji (Ẹnìkéjì), um anjo da guarda pessoal, que nós acompanhará do nosso nascimento até nossa morte. Nosso Orí Inu é um contêiner de energias supernaturais com os poderes que recebemos de Olódùmarè para realizar nossos objetivos.

Em Ifá esse conjunto de coisas que recebemos de Olódùmarè e que estão “dentro” do nosso Orí Inu é chamado de Odù de nascimento. Este Odù, aproximadamente resume isso tudo para o Bàbáláwo, lembrando que isso é possível porque Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) estava lá como testemunha. É a presença de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) na entreviste que da propriedade para o Bàbáláwo receber essa informação da entrevista, como tudo o que o Bàbáláwo recebe de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) é um Odù, então esse Odù de nascimento representa mais ou menos o que nós combinamos com Olódùmarè.

Esse processo mostra que existe uma aliança real entre Olódùmarè, deus e nós. Olódùmarè se preocupa com nós, com nossa vida e felicidade e faz isso tudo para podermos ter sucesso no nosso renascimento.

Olódùmarè não é um deus distante, pelo contrário, através dos Orixá (Òrìṣà) ele é um deus extremamente presente em nossa vida, mas, o entendimento dessa religião é que nossa relação com ele é através dessa forma humanizada, o que faz todo o sentido.

Uma das coisas importantes nessa religião é a individualização, somos especiais para deus, cada um é único e é tratado de forma única e especial.

A designação do Orixá (Òrìṣà) do nosso Orí estará alinhada com os nossos objetivos e com a pessoa que a gente quer ser. Nós declaramos quem queremos ser, como queremos ser, o que queremos atingir e como queremos atingir. Olódùmarè designará um Orixá (Òrìṣà) cujos poderes e arquétipos estejam alinhados com esse planejamento.

Contudo nem todo mundo é igual, nem todo mundo tem o mesmo jeito e personalidade e não existem assim tantos Orixá (Òrìṣà), como os objetivos também são diferentes duas coisas se agregam ao nosso Orí Inu, que é a qualidade de Orixá (Òrìṣà).

A qualidade de Orixá (Òrìṣà) expressa uma combinação de poderes, quando você reúne o poder de um Orixá (Òrìṣà) e sua personalidade com os poderes de outro Orixá (Òrìṣà) no intuito de configurar o que recebemos ao que vamos realizar. A qualidade e como se criasse mais Orixá (Òrìṣà) através da combinação, mas não cria porque o Orixá (Òrìṣà) determinante é o que nos direciona.

Junto com a qualidade vem também a especialização das proibições, os chamados Ewó. Proibições estão ligadas aos materiais que nos fazem bem ou mal. Como o axé (àṣẹ) está nos elementos que comemos ou usamos em liturgias, temos que entender quais são os materiais permitidos ou proibidos da qualidade de Orixá (Òrìṣà) que recebemos. A razão disso, é como eu disse, o Orixá (Òrìṣà) e seu axé (àṣẹ) e proibições faz parte do nosso Orí, assim carrega os essas proibições com a gente.

Os materiais que são interditos naquela qualidade não deve ser consumidos ou usados em oferendas porque essa energia vai nos enfraquecer ou mesmo prejudicar nosso axé (àṣẹ) pessoal. Essas proibições são nossas “criptonitas”. Assim, se nos afastarmos deles e nos mantivermos próximos dos materiais ligados ao nosso Orixá (Òrìṣà) nosso axé (àṣẹ) será sempre ampliado bem como a nossa facilidade em realizar as coisas.

Mas nossos objetivos podem ser mais complexos ou algumas coisas em nossa vida pode estar fora do melhor poder do nosso Orixá (Òrìṣà) de Orí, ou mesmo essa energia e arquétipo deste Orixá (Òrìṣà) precisa de um complemento ou equilíbrio. Para isso recebemos um Juntó, que é um Orixá (Òrìṣà) adicional.

Esse segundo Orixá (Òrìṣà) não está ligado ao conceito de pai e mãe espiritual. Isso não existe. O Orixá (Òrìṣà) juntó pode ser do mesmo gênero do Orixá (Òrìṣà) principal. Ele complementa o que precisamos para nossa vida. Além disso, no Candomblé, temos o conceito de enredo, que são Orixá (Òrìṣà) que completam esse conjunto de qualidade e Juntó, mas, o enredo é uma coisa bem específica de pessoas feitas e está ligado a sua formação sacerdotal.

Além disso vamos ter no Candomblé a elaboração do seu Igba Orí, que liga você ao Énikeji (Ẹnìkéjì) e cada Igba Orí deve ser montado de forma diferenciada, deve ter nele os elementos que fazem parte do seu Orí e para isso cabe ao Babalorixá (Bàbálórìṣà) através do seu oráculo determinar essa composição. É claro que tem gente que monta Igba Orí padronizado, mas, isso não é um erro, é apenas falta de um conhecimento mais profundo.

Fechando isso tudo existe o Exú (Èṣù) Bará do seu Orixá (Òrìṣà). O seu Orixá (Òrìṣà) tem associado a ele o elemento dinâmico o Exú (Èṣù), o portador do axé (àṣẹ) de Olódùmarè. O Exú (Èṣù) Bara do Candomblé é diferente de outras tradições afro-brasileiras, no Candomblé o Bara é um Exú (Èṣù) único ele está ligado a você e a seu Orixá (Òrìṣà) e tem todas as proibições da qualidade do seu Orixá (Òrìṣà). O processo de montagem desse Exú (Èṣù) é muito específico e liga ele diretamente a você, um Exú (Èṣù) Bara não pode ser dado ou usado por outra pessoa e deve ser tratado junto com o próprio Orixá (Òrìṣà), não é um assentamento que se coloca do lado de fora do quarto de Orixá (Òrìṣà).

Esta então é a forma como o Candomblé define a ritualização da individualidade. As pessoas que não conhecem o Candomblé ficam falando besteiras como falta ao Candomblé a determinação de Odù de iniciação que deveria ter Ifá no Candomblé e que o Candomblé está errado porque não tem Ifá.

Besteiras, idiotices de pessoas que vem de uma tradição de Orixá (Òrìṣà) pobre e que não sabem como o Candomblé faz e como isso está alinhado com a verdadeira teologia da religião. Infelizmente as tradições de Orixá (Òrìṣà) não são iguais, o Candomblé eu sei que faz tudo como deveria, as demais eu tenho pouca informação, mas, o pouco mostra que elas estão longe de individualizar nossa presença no Àiyé.

O que eu posso afirmar é que o Candomblé não usa Odù no seu processo iniciático e não precisa. Eu sou Bàbáláwo e conheço o que podemos ou não fazer com Odù. A ritualística do Candomblé é absolutamente bem-feita e completa, não tem nada que um Odù possa adicionar. O Candomblé não determina Odù mas faz tudo o que deveria ser feito como se tivesse determinado.

terça-feira, abril 13, 2021

Informações complementares sobre o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) [ Entendendo a religião Yoruba - Pt. 52]

 

Informações complementares sobre o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)

 

  • Vou agora dar uma série de informações que coletei ao longo dos anos, espero que sejam úteis. Elas não mudam nada do que eu já falei sobre esse grupo e fenômeno, mas, dentro da religião são informações importantes.

  • Existem várias divindades infantis na sociedade youruba, dependendo da região: Ẹgbẹ́, Ẹgbẹ́run, Arágbó, Ẹgbẹ́ Ọ̀gbà, Koóri, Kónkóto, dàda e Elérìkò. Elas estão relacionadas com crianças.

  • Existem vários nomes para se referenciar aos egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Apesar de serem vários nomes eles se referem a mesma coisa, são o hábito dos yorùbá de terem vários nomes para a mesma coisa, nomes que podem variar de acordo com a região. São eles:

  • Arágbó – Espírito de crianças, seres da florestas

  • Ẹgbẹ́ ou Ẹgbẹ́run – Vivem na água ou madeira

  • Elére – Donos as imagens de madeira

  • Os Orixá (Òrìṣà) ligados a água e principalmente Iroko, são ligados a eles. Iroko é o caminho dos mortos porque os corpos dos mortos não eram enterrados, eram deixados nas árvores de Iroko. Os mitos dizem que eles se reúnem nas árvores de Ìrókò. Os caminhos para desligar um renascido do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), normalmente passa por Ìrókò.

  • Os Orixá (Òrìṣà) ligados a água são aqueles que se recorre para ter filhos quando isso não acontece naturalmente. São eles que pegam os espíritos no egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e desta forma estão também ligados.

  • A proteção mais comum para colocar nas crianças recém-nascidas para afastar os companheiros do Ìrònà são tornozeleira de metal, de ferro – Ẹgbà, que não fazem barulho . A tornozeleira é colocada em ambas as pernas e eles dizem que elas vão ancorar eles no mundo.
    Essas tornozeleiras são as peças mais encontradas em capelas e egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
    O uso de tornozeleiras de metais foi uma evolução do desenvolvimento da própria sociedade Yorùbá, da sua metalurgia. As primeiras tornozeleiras, as mais antigas que se tem notícia eram feitas de búzios e estavam ligadas a Olóòkun, assim como essa divindade estava ligada a proteção das crianças, lembrando que em quase todas as regiões Olóòkun é masculino, somente em Ifé é que é feminino.

  • Segundo Ifá (Ìwòrì Méjì) o barulho afasta eles, assim existe um outro tipo de tornozeleira: Aro, ìkù ou Ṣaworo. Elas possuem guizos e devem fazer barulho o tempo todo, também são os principais adornos nas capelas dedicadas a Àbíkú.

  • A crença popular é que as almas pré-natais e todos os companheiros invisíveis vivem em árvores nas florestas. O significado do nome pode mudar nas regiões devido a língua tonal, mas sempre está ligado às imagens de madeira – Ère.

  • Em Ọ̀yọ é usada a palavra Elérèé, que significa aquele que é encontrado em feijão. Isso é devido ao feijão fradinho ser a comida preferida deles.

  • As crianças nascidas em circunstancias anormais. Incluindo rituais de fertilidade ou depois de apelo a Orixá (Òrìṣà), algumas vezes são chamadas de crianças espirituais. Isso é uma tradição yorùbá.

  • Em Ibadan, existe uma divindade chamada Elérìkò, uma divindade feminina, ambivalente, ligada a esses espíritos. Ela ajuda ou atrapalha, traz doenças para unir os Aràgbó. Elérìkò é imprevisível. Quando aplacada dá filhos e brinca com as crianças na luz do dia. Quando desagradada assedia crianças no seu sono, aflige com doenças, as mata e leva suas almas para o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Elérìkò é de Ibadan.

  • Não é usado instrumento de percussão para egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) porque o barulho os afasta.

  • Egúngun também é considerado como adequado para ajudar com os problemas de Àbíkú. Eles tem um tipo de Eégún chamado Egúngún Ọlọmọyọyọ, é um espírito ancestral de pequenas crianças.
    Egúngún é também Àghòbí ou Àwòbí, é um mascarado de Ọ̀wọ usado para perdir virilidade aos homens, fertilidade às mulheres e que as crianças nasçam bem formadas. Eles usam o Ṣaworo porque o barulho repele o perigo.

  • Em Aṣípa, as mães de Àbíkú e estéreis amarram o Gèlè e Ọ̀já (panos usados para prender as crianças ao seu corpo) em árvores na capela de Ẹwúrùm uma divindade local dos espíritos das crianças.

  • O rita de fertilidade, para ter filho é chamado de Ìgbàjá que significa amarrando a faixa da criança. Existe um ritual muito bonito feito para a fertilidade com isso.
    A mulher deve carregar uma boneca de madeira nas costas, usando Gèlè e Ọ̀já, ela deve dançar para atrair os filhos. Também pode ser usado chifre de búfalo com osun.

  • As crianças nascidas pela interferência de Olóòkun são chamadas de Èkìnẹ̀ ou Ọmọlókun.

  • O conceito de egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) existe entre os Yorùbá, os Akan, os Nupe, os Ìgbò e os Hausa.

  • Iyajanjàsá é o nome da mulher que é lider dos garotos no egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Olóìkó é o líder das meninas.

  • Awaiyé é o nome da floresta sagrada dos Àbíkú, fica na Nigéria, ela existe de fato e é lugar de peregrinação de pessoas pedindo a proteção contra os Àbíkú. Esta floresta é o local para onde olofin Alawiye trouxe os primeiros Àbíkú.

  • No Àiyé os espíritos do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) ficam no quintal das casas, assim como em Pântanos e riachos. Os mitos, em Cuoco, descrevem, pântanos e riachos (principalmente estes) como sendo o local para se depositar as oferendas para os Àbíkú. Além disso árvores são usadas porque eles são considerado espíritos das árvores. O motivo do quintal ser preferido é que as placentas eram enterradas no quintal das casas, assim os Àbíkú ou oe egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) se reuniam no local de suas próprias placentas.

  • Crianças Àbíkú não são enterradas ou são enterradas longe da família. Os corpos muitas vezes são jogados no mato. Marcas são feitas nos corpos para reconhecer os Àbíkú se nascerem de novo.

  • Crianças que nascem com partes da membrana na cabeça, podem ser Àbíkú, são chamadas de Salàkó ou Tàlàbí.

  • Crianças que nascem cabeludas também são associadas a egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e ligadas a Dada.

  • Doenças em crianças muito novas pode estar associado ao chamado da sociedade.

  • As folhas usadas para afastar Àbíkú são Ijà àgborín, Lárà Pupa e Ìdí.

  • Em ifá existem diversos Ofo pa manter os Àbíkú no Àiyé quebrando o vínculo dos nascidos com o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Os ritos mais eficiente são os que envolvem Orixá (Òrìṣà) de proteção.

  • A restrição de iniciação de Àbíkú no Candomblé é coerente. Se Àbíkú nasceu para morrer, durante a iniciação é feito o ritual de morte e renascimento do iniciado. Em função disso Àbíkú não pode passar por esse ritual de morte visto que poderia morrer de fato. Desta maneira não se trata apenas de não raspar a cabeça de um Àbíkú, não se pode é encenar sua morte.

  • Em Ifá o principal Akọṣẹ para tratar Àbíkú está no Odù oxé (Ọ̀ṣẹ́) Ògúndá.

  • Também o Odù Ìdí Méjì é usado para prendê-los na terra.

  • O Ìrònà também é chamado de mercado Tòkútókú, que é para onde vão os morrem jovem.

  • No Odù Òsá Méjì o Bàbáláwo Adedoja, tem uma história na qual a sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) envia Àbíkú para punir a pessoa.

  • As placentas eram enterradas no quintal das casas, dentro de um jarro coberto com folha de dendezeiro e búzios.

  • Durante a gravidez a mulher com risco de Àbíkú, deve usar roupa vermelha e guizos. A roupa vermelha na criança repele os companheiros. Também são feitos pós com folhas especiais para passar no corpo e em um amuleto colocado no pescoço da criança.

O que o Bàbáláwo pode fazer para ajudar? [ Entendendo a religião Yoruba - Pt. 51]

O que o Bàbáláwo pode fazer para ajudar?

 

Não é a finalidade deste livro ser um grimório de soluções, aqui o objetivo é falar da religião, mas, vou dar algumas indicações.

Primeiro quero deixar claro que a expectativa de que realizar oferendas de comidinhas e objetos é um caminho para resolver problemas é uma ilusão boba. Não acredite que oferecer “comidinhas” vai solucionar situações sérias e graves. A solução de problemas passar por recorrer ao oráculo com o seu pleito e pedir a intervenção de um Orixá (Òrìṣà) para a situação. Não será o Babalorixá (Bàbálórìṣà), a Iyalorixá (ÌyálÒrìṣà) ou o Bàbáláwo oferecendo umas comidinhas em algum lugar que os problemas serão resolvidos.

A solução dos problemas com egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) passa por quebrar o vínculo com a sociedade para que o renascido, a criança possa seguir o seu desenvolvimento. É isso que é feito. Assentar, iniciar ou montar Exú (Èṣù) são idiotices completas, caça-níqueis.

As indicações das liturgias são encontradas nos próprios mitos sobre egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e Àbíkú ou nos versos de Ifá. Além disso verger tem alguns Òfó que ele documentou em seu livro sobre folhas Yorùbá.

As liturgias mais efetivas passam pelo envolvimento de um Orixá (Òrìṣà) na questão, orixás como Xangô (àngó) e principalmente Ìrókò. Somente os Orixá (Òrìṣà) pode ajudar a quebrar esse vínculo. Existem rituais que são feitos em rios.

O culto Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) a Ìyá Nlá é especializado nessa questão, mas, ele não foi trazido para o Brasil, aliás nenhum lugar da diáspora de forma que é necessário obter rituais equivalentes.

Além de Orixá (Òrìṣà) Egúngún pode também ser um caminho para proteger do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). O motivo é a ligação desta questão com a linha familiar, o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e o Àbíkú é acima de tudo um assunto de família.

Pode ainda ser necessário manter uma oferenda anual por vários anos para o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) de modo a mantê-los longe.

A grande questão é que para lidar com o isso o sacerdote, seja o Bàbáláwo, o Babalorixá (Bàbálórìṣà) ou a Iyalorixá (ÌyálÒrìṣà) terão que se aprofundar e entender os motivos, os rituais e as liturgias, isso não se trata apenas de fazer ebó (ẹbọ), eles não resolvem, trata-se de entender as questões para poder mediar uma solução com o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).

Não se trata de recorrer a soluções de magia ou agressivas. Trata-se de amor e carinho, acima de tudo, de convencer essa alma a desejar viver no Àiyé e de acomodar as expectativas dos seus companheiros.

Eu não posso aqui dar todas as fórmulas, o que estou afirmando é que, sim existem soluções que o Bàbáláwo ou pessoa com conhecimento poderá atuar, mas, que isso terá que ser algo bastante pensado e planejado e, acima de tudo, contar com o amor de todos os envolvidos.

Para bebes os yorùbá adotam o uso de tornozeleiras de proteção. Esse instrumento deve ser usado.

 

 

Conclusão

Depois deste extenso texto, pouca coisa resta a falar. O maior desafio aqui é aceitar o modelo teológico que é o resultado de minhas pesquisas, experiência e análises. Esse modelo não muda muito o que se fala hoje sobre egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), mas o pouco que muda, transforma tudo o que se pensa. Uma mudança pequena com grande impacto.

Ele parte de 3 pilares: A localização no Ìrònà, a composição do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) com os espíritos infantis mortos em condições não normais e a questão da origem do nascimento através de Orixá (Òrìṣà). Claro que tem muito mais detalhes e informações, mas tudo deriva em sua base dessas 3 coisas.

A partir desta base é possível desmontar o modelo furado e que precisa de uma enorme complexidade para ficar de pé. Como eu sugiro, aplique a lâmina de Occam nos dois modelos e o que fica é o que eu proponho.

Não inventei isso, diferente do outro o que proponho é baseado nos mitos, nos versos e na teologia e cosmogonia como um todo, como um conjunto coeso e consistente.

Por fim eu lembro que o modelo que eu proponho suporta toda a prática e todos os bons conhecimentos que se têm sobre o tema sem necessidade de fazer qualquer tipo de malabarismo.

Mais, ainda, as indicações e recomendações práticas que devem ser tomadas baseadas no modelo que estou propondo são muito mais objetivas, simples e conduzem a uma solução direta e simples dos problemas que desafiam os Bàbáláwo em relação ao egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Mesmo os sacerdotes do culto de Orixá (Òrìṣà) serão mais efetivos se adotarem essa linha de pensamento mais fácil de entender, de explicar e de atuar.

Essa proposta é assim ninguém tem nada a perder, apenas a ganhar. Aliás, quem tem a perder é quem vende iniciações para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), assentamentos para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e ebós votados para motivos criativos.