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terça-feira, abril 05, 2022

A PROSPERIDADE EM IFÁ ESTA EM OBARA?

 A PROSPERIDADE EM IFÁ ESTA EM OBARA?


O assunto de prosperidade ligado a Odù foi inaugurado pelo Candomblé ainda na década de 90 do século passado (adoro falar isso…), quando o Candomblé encontrou um conhecimento de Ifá e de Odù ruim, retirado de um livro importante para a época mas que não refletia o que era Ifá.

O livro a que me refiro é o famoso Adivinhação na costa dos escravos, ou alguma coisa parecida com isso, do Bernard Mapouil. Foi um livro importante, trazia informação do que seria Ifá, mas tudo o que está lá foi amplamente superado nos anos seguintes. Eu tive o livro em francês mas nunca li, essa era a principal dificuldade do livro, pelo menos para mim.

Bem recentemente comprei a versão em português apenas para fins de coleção, porque nada que está ali serve para mim que sou Bàbáláwo. Aquilo que está lá nem foi baseado em Ifá, foi baseado em Fá, que era a variação de Ifá do Dahomey. O rei do Dahomey, casou com uma mulher yorùbá e importou a religião e cultos dos yorùbá e os localizou. O livro reflete uma mistura de Ifá com o misticismo árabe, numerologia e coisas similares, tem coisas de Ifá, mas, não é Ifá.

Isso não foi só aqui, os cubanos construíram, completaram e modernizaram sua tradição de Orixá (Òrìṣà) nos livros, ruins, de antropólogos e exploradores que surgiram na época, o Ifá cubano é fortemente influenciado por toda uma literatura, engana-se os que acham que veio da África, basta estudar a história deles.

O efeito aqui no Candomblé, existiu, mas, foi menor, nós éramos muito fechados e o que ocorreu foi trazer ao longo no início deste século o Ifá que o Candomblé inventou. Temos uma jabuticaba muito curiosa, inventada aqui no Rio de Janeiro e cujos criadores todos a abandonaram pelo Ifá de verdade, mas deixou uma legião de pessoas descompreendidas achando que sabem Ifá.

Essa longa introdução, como já ameacei várias vezes vou contar em detalhes, é necessária para lembrar que muita gente tem um monte de certezas sobre Odù que são baseadas em, nada. Esse tema aqui então inicia com isso, com a minha introdução dizendo que vou desdizer tudo o que vocês ouvem por ai.

Tudo o que eu falar aqui é baseado em Odù Méjì e a razão disso é porque meu entendimento é que um Bàbáláwo só pode falar para as pessoas o que está no Méjì., que são os 16 Odù principais: Ogbè, Ọ̀yẹ̀kú, Ìworì, Òdí, Óbara (Ọ̀bàrà), Ọ̀kànràn, Ìrsòsùn, Ọ̀wọ̀nrìn,ogunda, osá (Ọ̀sá), irete (Ìrẹ̀tẹ̀), Òtúwá, Oturupon (Òtúrúpọ̀n), Ìká, oxé (Ọ̀ṣẹ́), Òfún.

Para quem não sabe, odu são apenas signos, compostos por 2 partes, 2 pernas como nós chamamos. O substantivo Méjì é um número yorùbá, ele quer dizer “2” e a letra inicial “m” é usada para designar que está se referindo a quantidade do objeto da palavra anterior. O objeto anterior é Odù e desta forma, Odù Méjì significa, literalmente 2 Odù, mas que deve ser entendido como Odù duplicado. A razão disso é que para os Méjì, o símbolo do Odù se repete nas 2 pernas (ou patas). Para esse 16 símbolos, ou signos, é usado o mesmo sinal duplicado.

A partir do décimo sétimo Odù é feita uma combinação de símbolos, preservando a ordem inicial e é feito um arranho dos 16 signos tomados 2 a 2.

Os 16 primeiros são os signos Méjì, os principais e os seguintes são os signos filho ou Omon (Ọmọ) Odù. O meu entendimento é que o Bàbáláwo só pode falar para leigos dos 16 principais é devido a 2 coisas. A primeira é que todo a filosofia de Ifá está contida nesses 16 signos. Você pode consultar qualquer pessoal usando apenas os signos Méjì. É por essa razão que eu digo que os búzios, sim, podem acessar Ifá e representar uma consulta usando apenas os signos Méjì. Eu já usei os búzios assim.

Nesse ponto o método do Bangboxê estava certo, totalmente certo, mas em vez de ter sido ensinado as pessoas o esconderam e isso resultou nessa bagunça que temos hoje. Conhecimento sempre vence a ignorância. Se houvesse generosidade, uma das virtudes de Ifá, certamente o Candomblé estaria muito melhor, mas, gente mesquinha preferiu guardar isso no fiofó.

O método que o Bascon descreve no seu livro 16 búzios é baseado em Odù Méjì e deveria ser estudado.

Mas, voltando aos Odù, o conhecimento está no Méjì, o conhecimento que podemos falar. Nos Omon (Ọmọ) Odù estão informações especializadas e localizadas para cada pessoa e situação. Assim, em um Odù Ifá recomenda uma coisa em outro recomenda outra coisa para a mesma situação.

Os Bàbáláwo que ficam citando coisas que estão nos Omon (Ọmọ) Odù não entenderam Ifá ainda, ou estão querendo fingir que Odù é igual à bíblia onde os pastores ficam citando frases sem contexto. Omon (Ọmọ) Odù não serve para isso!

Mas essa questão de Odù Méjì é um enorme problema para os Bàbáláwo que se guiam por tratados, os tratados não tem nada, absolutamente nada sobre Méjì. Mentira, tem sim, mas o que tem lá não serve para nada.

Por que eu falo essas atrocidades?

Simples, eu estudei. Sim, es-tu-dei, estudar é diferente de ler e decorar, estudar significa aprender profundamente um assunto, sobre diversas vertentes e depois que você entendeu o tem visto por mais de uma fonte você pode analisar, compilar, consolidar, criticar, submeter a pares e submeter ao contraditório o que você estudou.

Ninguém que lê um ou 2 tratados que falam a mesma coisa e decora eles, pode dizer que estudou aquilo. Estudar não é decorar. Decorar te ajudava a passar de ano, mas na vida real não te faz mais inteligente ou te dá capacidade de resolver problemas.

Uma pessoa em um comentário me perguntou sobre um determinado canal do youtube, que fala de Odù se ele tinha um bom conteúdo. Eu ia responder ao comentário mas ele sumiu. Vou responder agora.

Olha o canal são vários Bàbáláwo falando de Omon (Ọmọ) Odù. Pelo que vi eram Bàbáláwo de escola cubana. A questão é, como eu expliquei, para que serve você saber sobre um Omon (Ọmọ) Odù fora de uma consulta? Como eu expliquei não acho útil, você pode estar enganando uma pessoa com o conhecimento errado para ela. Existe informação estrutural nos Omon (Ọmọ) Odù, mas é bem complicada de ser compilada e não é muito comum.

Assim encerro a introdução e vamos falar de prosperidade.

Ifá tem 5 signos que falam de prosperidade: Óbara (Ọ̀bàrà), osá (Ọ̀sá), irete (Ìrẹ̀tẹ̀), Ọ̀yẹ̀kú, oxé (Ọ̀ṣẹ́).

Vou iniciar por Óbara (Ọ̀bàrà) devido a essa popularidade do Candomblé e para explicar como ninguém entendeu nada.

Os Odù seguem uma sequência natural e estão amarrados um no outro. Eles são ligados dois a dois, mas, existem um fluxo de significados nessa sequência: Ogbè, Ọ̀yẹ̀kú, Ìworì, Òdí, Óbara (Ọ̀bàrà), Ọ̀kànràn, Ìrsòsùn, Ọ̀wọ̀nrìn,ogunda, osá (Ọ̀sá), irete (Ìrẹ̀tẹ̀), Òtúwá, Oturupon (Òtúrúpọ̀n), Ìká, oxé (Ọ̀ṣẹ́), Òfún.

Óbara (Ọ̀bàrà) Méjì, não está ligado a prosperidade, os demais que eu vou falar aqui, inclusive, são muito melhores do que ele. Óbara (Ọ̀bàrà), na minha opinião é o pior deles.

Antes que digam que eu não sei de nada ou sei errado, repito eu estudo isso ha muitos anos, em diversas fontes, versos de Ifá de verdade, não uso tratado ou compilações, vou nas fontes, analiso as histórias originais e, principalmente, não uso pataki para nada. Se você usa, lamento por você.

A fama de obara é baseada na história de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e as abóboras que eu já contei em outro vídeo e não ou repetir agora ela inteira, poderia mas seria tempo demais. De fato Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) encontra a riqueza dentro das abóboras que ele ganha, mas o significado real da história não é ganhar a riqueza, é que para ser ter sucesso na sua meta profissional, você tem que ter trabalho duro, não por ser arrogante, tem que ter absoluta humildade, tem que fazer sua missão pelo seu ideal e não esperar o retorno em troca, tem que ser sinceramente uma boa pessoa e assim de tudo tem que agradecer por tudo que recebe, pelo que tem e não pode cobrar a deus ou a qualquer outra pessoa pelo que você mesmo faz. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) na história por muitos anos perseguiu a meta de ser reconhecido, sem sucesso, manteve sua fé em Ifá e seguiu trabalhando, fazendo o seu melhor e sendo humilhado por outros Bàbáláwo e até pela mulher.

Se você for essa pessoa, então em algum momento, a sua própria humildade e fé o recompensarão. Em vez de prosperidade material você pode usar essa história para muitas coisas inclusive o trabalho religioso e que as joias poderiam, por exemplo, benção de deus. Enfim, versos e mitos de Ifá são metáforas não são histórias literais e possuem um significado muito amplo.

Óbara (Ọ̀bàrà) está ligado com você estabelecer e atingir metas. Ninguém está destinado a ser pobre e Óbara (Ọ̀bàrà) é o motor que nos faz trabalhar para atingir nossos objetivos. Mas Óbara (Ọ̀bàrà) reúne a prosperidade junto como caráter ideal. Óbara (Ọ̀bàrà) diz que você pode ter as 2 coisas, ser próspero e ao mesmo tempo ser uma pessoa boa, generosa, e humilde. Ifá contraria o que todo mundo diz, principalmente um certo tipo de pessoa que existe na sociedade que diz que associa rico a comportamente ruim, se a pessoa é rica ele roubou, ele enganou ele usou as pessoas.

Ifá me diz que as pessoas que falam isso são idiotas, são fracassados que não encontraram o caminho de deus e do bom coração, que acham que não se pode ser honrado, próspero e feliz. Óbara (Ọ̀bàrà) é quem me afirma que essas pessoas se afundam na sua própria fraqueza e que sim, podemos ser o que deus espera que sejamos.

A prosperidade é resultado dó esforço pessoal e do merecimento e além disso você deve ajudar as pessoas em volta. Você tem que se despir do mal, da ganância e de todos os sentimentos ruins de sua alma.

É um caminho bem complicado para a prosperidade.

Já em Ọ̀yẹ̀kú a mensagem de Ifá é bem diferente. Em Ọ̀yẹ̀kú a gente traz a prosperidade do órun (Ọ̀run) para a nossa vida, a gente já nasce com ela, nós no órun (Ọ̀run) escolhemos ser riscos e ter as boas coisas da vida. Possivelmente devido a nossas realizações de outras vidas. Ọ̀yẹ̀kú é um dos Odù que marcam a acumulação da riqueza e tem esse signo mostra para nós Bàbáláwo diversos riscos e problemas que as pessoas podem estar tendo.

Mas sob o ponto de vista de prosperidade, se você tivesse que chamar alguma coisa que chame o Ọ̀yẹ̀kú, porque em Ọ̀yẹ̀kú a gente não faz ebó (ẹbọ) para a prosperidade, ela já é nossa, nós fazemos apenas para os inimigos não nos atacarem e a tomarem.

Os Odù até osá (Ọ̀sá) marcam o que eu chamamos os Odù ligado ao Àiyé, a nossa vida física e os Odù acima de osá (Ọ̀sá) são ligados ao órun (Ọ̀run), nossa relação com o órun (Ọ̀run).

No limiar dos significados do Àiyé e órun (Ọ̀run) está o Odù osá (Ọ̀sá) que no Candomblé recebe uma enorme significado negativo, as pessoas dizem que ele é terrível. Na verdade acho que o Candomblé acha que tudo é terrível, só Óbara (Ọ̀bàrà) que é bom.

Osá (Ọ̀sá) representa a fertilidade feminina, a energia feminina e por isso mesmo a prosperidade que vem para você vinda do órun (Ọ̀run). É a prosperidade que você recebe, a abundância. Osá (Ọ̀sá) limpa os problemas que você encontra em Ògúndá e traz a abundância, a fertilidade e o sucesso financeiro.

O problema aqui é a estabilidade necessária para não perder o que recebe, osá (Ọ̀sá) é a energia que limpa e muda tudo de fora para dentro e traz desafios enormes para as pessoas.

Mas é muito melhor a prosperidade vir por osá (Ọ̀sá) do que por Óbara (Ọ̀bàrà).

O próximo Odù na sequência é justamente irete (Ìrẹ̀tẹ̀) e esse sim é o signo dos milionários, isso mesmo, os milionários estão em irete (Ìrẹ̀tẹ̀) e não em Óbara (Ọ̀bàrà).

Em irete (Ìrẹ̀tẹ̀) você se esforça e constrói a sua prosperidade financeira. É o seu trabalho e seu esforço que te trarão os ganhos suas mãos vão de trazer dinheiro, importância e honra. Aqui você aproveita as oportunidades que a vida te dá e isso faz a diferença.

Osá (Ọ̀sá) traz um importante alerta, uma mensagem que as pessoas escondem, que diz que nem todo Orí nasceu para trazer a riqueza, a riqueza não vai sorrir para todas as pessoas senão faltaria Iroko na floresta. Um dia eu explico essa frase para vocês.

Em irete (Ìrẹ̀tẹ̀) isso fica evidente, é aqui que as pessoas desperdiçam as oportunidades que a vida te dá é aqui que a perna não acompanha o Orí.

Mas irete (Ìrẹ̀tẹ̀) traz também desafios e problemas muito grandes para as pessoas devido a própria prosperidade e que levam a serem os milionários avarentos e gananciosos, enquanto que deveria ser generosos.

Por fim oxé (Ọ̀ṣẹ́), um dos meus preferidos o Odù da fé, das preces de você rezar e ser atendido, mas também representa aquele que busca a prosperidade com violência e excesso de força, tudo o que Ifá diz que você não deve fazer. É aqui que Ifá diz que você perde a paciência para esperar e vai até a prosperidade com gana e sede. É a riqueza dos bandidos, o crime que reflete na verdade o ódio a humanidade, o criminoso dominado pelo espírito Yerepe que tem o prazer de causar a dor aos outros e que rouba sua prosperidade dos outros.

Oxé (Ọ̀ṣẹ́) confronta de um lado a fé com a perda da fé.

Existem outros Odù onde se manifesta prosperidade, como em Oturupon (Òtúrúpọ̀n), onde Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) sobe a árvore da prosperidade, mas isso pode ficar para outra conversa.

O que Ifá me fala sobre a prosperidade é muito amplo e profundo. Ifá nos diz para ser generosos mas não diz para darmos para os outros o que é nosso e nem que alguém será próspero com a riqueza roubada. Em Ifá não tem espaço para os que querem ganhar sem trabalhar e que ser sustentado pelos que trabalham.

Enfim, encerrando, o objetivo foi mostrar que a sabedoria em Ifá é bastante impressionante e é por isso que eu digo que tem muita gente que decora tratado e depois, como naquela cena do filme, 2001 uma odisseia no espaço, quando o monólito negro dos extraterrestres que foi enviado para dar inteligência aos humanóides pré-históricos, aparece, os macacos ficam pulando admirados em volta dele. Ifá é assim, tem cérebro que não entende e resta ficar pulando em volta, admirando o que não entende.

Eu fiz um longo vídeo sobre a saúde em Ifá, recomendo que vejam. Eu ainda vou voltar nesse tema da prosperidade em outro formato, trazendo as informações e orientações para quem quiser seguir, com as histórias e explicações, quem sabe vira um curso, sei lá, tenho que ver como fazer isso.

Mas, vou trazer temas de Ifá assim, explicando um pouco de cada vez.

Aqui foi apenas para mostrar que as coisas não somo falam por ai.

domingo, março 06, 2022

COMO É A NOSSA RELAÇÃO COM DEUS NA RELIGIÃO DE ORIXÁ

 

COMO É A NOSSA RELAÇÃO COM DEUS NA RELIGIÃO DE ORIXÁ


O objetivo aqui é explicar a todas as pessoas como se estabelece nossa relação com deus, o culto a deus na religião de Orixá de modo a facilitar o entendimento e de acabar com mistificações e preconceitos.


A religião de Orixá, ou baseada em Orixá, não tem um nome único e formal, um nome chique. A religião recebe vários nomes através de diversas tradições religiosas criadas a partir dela. Assim, aqui no Brasil um dos nomes que ela recebe é Candomblé, mas também é representada pelo Ifá, muito menos conhecido, pelo Batuque, no sul e pelo Nagô ou Xangô no nordeste. Igualmente, fora do Brasil, as tradições religiosas definem o seu nome. Na Nigéria é chamada de religião tradicional Yoruba, RTY (ou YTR) mas esse, também, é o nome de uma tradição religiosa e não da religião em si.


Mas, como eu mencionei aqui, o que é uma tradição religiosa? É um nome técnico, é uma manifestação religiosa que reúne uma formatação de culto, ritos e liturgias ajustadas a uma sociedade, um grupo humano. A tradição é forma especializada e evoluída como a prática da religião se manifesta em um local ou povo.



Assim, chamar isso tudo de religião de Orixá ou Orixaísmo é uma forma de genericamente chamar o aspecto religioso comum que reúne todas essas tradições que é o culto a deus através do Orixá. Lembro que todas essas tradições religiosas têm a mesma base teológica porque derivam da mesma religião.


A base de toda essa religião de Orixá é deus, o criador, a divindade suprema. É ele que mantêm o mundo funcionando e somente ele controla o mundo e todas as coisas. Não existe o papel do Orixá na criação e sustentação do funcionamento do mundo e das forças naturais. Mas, não existe o culto a deus diretamente, como se faz nas religiões abraamicas e aqui eu vou explicar essa diferença.


Os católicos dizem que falam diretamente com deus, mas suas igrejas estão cheias de santos de devoção e eles se guiam pelos santos, anjos, virgem maria e até jesus. Eles se consideram uma religião superior porque na interpretação deles deus se manifestou diretamente através de Jesus, sim, a tradição católica considera Jesus deus em terra e isso os faz uma religião especial melhor que as demais. Vou tratar disse em outro vídeo.



O nosso entendimento é que o deus superior está acima de tudo, ocupado com a existência do universo e com tudo o que é vivo, somente ele mantêm a vida funcionando.


Não temos deuses menores cuidando da vida ou da natureza, essa é uma visão equivocada que eu explico em outro vídeo.


Deus, Olódùmarè, não recebe preces diretamente, mas nada impede que você reze a deus, contudo, não existe sentido prático nisso.


Deus estabeleceu sua relação com a humanidade através da sua própria manifestação na forma de divindades que o representam, traduzem sua essência e tem parte de seus poderes absolutos e é a essas divindades que nós recorremos. Essas divindades são uma manifestação teândrica de deus, ou seja, uma manifestação humanizada para que nós possamos nos reconhecer nelas.


Isso não o torna um deus ausente. A religião o designa de distante de modo que ele não recebe diretamente o culto de ninguém. Na verdade, não é sempre assim, existem exceções onde as pessoas recorrem e recebem graças diretamente de deus, mas, devemos considerar a regra nesta explicação.



O que esta religião explica é que o deus supremo é de fato supremo, ele está controlando toda existência. Na visão desta religião a existência não se resume ao nosso planeta e muito menos a essa humanidade. Deus é deus de tudo.


Assim, para estar presente a nossa vida e nos assistindo ele designa divindades para o representar, divindades que são partes do próprio deus.


Outras religiões pensam de forma distinta, os abraâmicos (judeus, católicos e muçulmanos) pensam diferente, eles entendem que deus, o próprio está atento a cada um de nós. São visões um pouco distintas, mas, todas elas têm deus como foco e desta maneira são teístas


Assim esta religião pode ser nomeada como religião de Orixá sendo estas a divindade que deus criou para se relacionar com a humanidade.


Todos sabemos que existem muitos Orixá e até mais divindades. Essa profusão cria uma confusão e uma grande questão que deve ser respondida para que se possa entender esta religião é: A quantas divindades temos cada um de nós que recorrer?


Basicamente a duas divindades apenas como vou explicar. Existem várias, mas cada pessoa tem que se preocupar apenas com 2, o seu anjo da guarda, ou Ori e seu Orixá, cada pessoa está ligada a apenas 1 anjo da guarda, sua divindade pessoal e a apenas 1 orixá, sendo que o anjo da guarda é pessoal e o orixá é coletivo, mas ligado seletivamente a uma pessoa.


As divindades, nesta religião, são nomeadas genericamente como irunmolé, esse é o nome genérico dado a divindades. Elas estão encarregas de aspectos ligados a existência humana em geral. Não existem divindades telúricas, ligadas a natureza ou a forças da natureza, somente o deus superior, Olodumare está ligado a isso, como eu disse somente deus controla a existência e a vida. Todo irunmolé esta ligado a vida humana, sendo que os Orixás estão ligados diretamente as pessoas e os demais irunmolé cuidam de outros aspectos da vida e do ciclo de vida sem estar ligados a pessoas em especial. Não existe definição de um irunmolé que não esteja ligado ao ciclo humano.


Desta maneira o entendimento de muitas pessoas de que essa religião seja deísta, que cultue energias do mundo, forças da natureza é, completamente, equivocada. Esse entendimento foi espalhado por pessoas que não se aprofundaram na teologia, que não analisaram os versos de Ifá e que associaram, sem estudo essa religião a politeísmo, como se os orixá fossem como deuses gregos.


Esta abordagem não se sustenta a uma mínima análise dos versos de Ifá. Mas o acesso aos versos de Ifá sempre foi e ainda é muito difícil, assim como também existem muito poucas pessoas dedicadas a estudar isso e divulgar, de forma que é bastante justificável o desconhecimento.


Todos os irunmolé são voltados à humanidade, para a nossa vida, ciclo de nossa vida e existência. Existe um tipo especial de inrumolé (Irúnmọlẹ̀), chamados de Orixá (Òrìṣà), que estão especialmente ligados a cada pessoa vivente, como um cuidador. Os orixá representam a versão mais humanizada de deus e tem como designação cuidar de nossa vida humana, a vida de cada pessoa no mundo.


Assim, não tratamos diretamente com deus, mas deus se manifestou teandricamente através dos orixá e desta maneira nos relacionamos com deus através dos orixá.


Mais ainda, como já expliquei no vídeo sobre a relação indivíduo-orixá, cada um de nós tem dentro de nós, na nossa essência e alma, um Orixá (Òrìṣà). O Orixá (Òrìṣà) faz parte da nossa constituição no mundo físico, nós somos de fato uma extensão do próprio Orixá (Òrìṣà). Nós recebemos de deus o seu poder e também recebemos de deus a essência de 1 Orixá (Òrìṣà).


Segundo a teologia, é Oxalá (Òṣàlá) o Orixá (Òrìṣà) que cria o nosso corpo humano a partir de um barro divino, um barro especial. Na bíblia é a mesma coisa.


Mas Oxalá (Òṣàlá) não tem a capacidade de nos dar a vida, é somente deus em pessoa, Olódùmarè que pode dar vida a este corpo, transformando-o em um corpo espiritual completo, transmitindo e emi, o sopro da vida que coloca nossa alma nele, junto com o axé (àṣẹ) especial que Olódùmarè dá a cada ser humano.


Interpretando Ifá esse processo somente se completa quando nascemos, quando saímos do útero. Dentro do útero a criança ainda é parte do corpo da mulher e está ligado a sua própria essência, a criança somente será um ser vivo independente quando sair do útero e respirar sozinha. O sopro do Olódùmarè coloca nossa alma no corpo da criança e ocupamos o corpo moldado por Oxalá (Òṣàlá).


Assim temos um círculo fechado, deus se faz presente na forma de Orixá (Òrìṣà) na vida de todos mas nós temos dentro de nós o sopro de vida de deus e o próprio Orixá (Òrìṣà) que é parte de nossa essência e assim deus está diretamente presente em nossa vida.


Não existe um deus distante nesse modelo.

Com o orixá, deus se comunica com a humanidade, com as pessoas. Os orixás representam as pessoas, a nossa natureza humana, os nossos arquétipos comportamentais. Os Orixá são divindades, mas os vemos como humanos e, através de suas histórias, nos refletimos nelas e neles também e, através do comportamento manifesto e destino das histórias devemos entender como nos comportar, quais os comportamentos bons, quais os comportamentos ruins e como receber as bençãos de deus.


Os orixá são, assim, o próprio deus presente em nossa vida.


Mas, a quem recorremos? Temos que recorrer a todos os Orixá? Não.


O anjo da guarda, enikeji ou Ori, é a divindade que todos devem se preocupar. O orixá de cada um se manifestará de forma natural. Não é necessário que cada pessoa, para participar desta religião, saiba qual o seu próprio Orixá, essa determinação não é um requerimento nesta religião e digo mais, é uma informação privada e pessoal, que não deve ser divulgada.


Durante toda nossa vida nós já estamos sendo protegidos por nosso anjo da guarda e por nosso orixá.



Mas a vida é difícil passaremos por muitas dificuldades e vamos precisar de ajuda em muitos momentos. O sentido da autonomia e da auto-determinação impedem que exista qualquer interferência direta dos orixá em nossa vida, existe uma proteção geral mas se precisarmos de uma intervenção direta nós temos que recorrer a ele e para isso, para orientar o acesso aos orixá na busca de ajuda de deus, existe o oráculo. Nesta religião o oráculo é fundamental é a porta de entrada para o acesso a deus.


Por que deus interferiria em nossa vida? Porque existe uma aliança entre ele e nós estabelecida antes de nascermos. Deus se compromete a nos suportar em nossa vida e em nossos objetivos, deus quer que sejamos felizes.


É através da consulta ao oráculo religioso que nos formalizamos o pedido de ajuda a deus e a intervenção dos orixá a nosso favor que, dependerá do motivo e do merecimento. Não existe favor comprado, não se compra a ajuda de orixá com dinheiro ou oferendas. Ninguém aqui na vida tem o poder de intervir a favor da vida de ninguém. A intervenção só ocorre através de orixá e ninguém tem o poder de ordenar nenhum orixá a fazer qualquer coisa que não seja devida ou merecida. Orixá não esta a venda.


Tudo o que você receber de deus será através dos orixá e tudo que receber dos orixá será baseado em merecimento, não existe graça comprada ou vendida.


Não tem nada estranho no que eu estou falando, se você ouviu algo diferente disso, é porque não teve contato com a religião de fato. Você pode ter tido contato com pessoas que fingem pertencer a religião e fingem atuar através de Orixá, os chamados feiticeiros.


Quando você procura um oráculo, búzios ou Ifá, você não vai ter acesso à religião de fato, você vai ter acesso a uma borda externa da religião e, desta maneira, não entenda que você está sendo tratado ou atendido como uma pessoa que faz parte da religião, você está sendo tratado como um externo, um consulente, um cliente, o que você vai ver é o que pessoas comuns têm acesso, a uma coisa muito simples e prática.


Muita gente tem uma visão equivocada do que seja esta religião porque apenas se dirigiu a ela para ser atendido em alguma necessidade ou problema. Foi comprar um favor. Ao fazer isso, repito, você está tendo acesso ao quintal da casa, o lado de fora, aquilo que você pode receber, você não sabe o que tem dentro da casa, você não vai jamais entender a religião.


Em Ifá isso é diferente porque todo mundo é externo, interno é apenas o babalawo, assim você em Ifá será tratado sempre da mesma forma.




Quando você pede ajuda aos orixá através do oráculo, você receberá a ajuda de qualquer orixá ou do orixá mais adequado a sua solicitação. Estar ligado a um Orixá não significa que somente aquele orixá poderá ajudá-lo, qualquer orixá pode socorrê-lo.


A ajuda estará franqueada a você, a sua conduta ao seu histórico, aos seus problemas. Através do oráculo a ajuda a você pode vir de qualquer lado.


Ninguém tem que se relacionar com mais nenhuma outra divindade. A consulta a oráculo pode trazer outros orixá para ajudá-lo mas eles não serão merecedores de culto algum.


Este é um modelo muito, muito simples.


Para finalizar, esta religião não existe a separação entre vida laica e sacra, nós estamos na religião o tempo todo. Não existe perdão de pecado, tudo o que você fizer conta na sua vida, você não apaga seus erros, você convive com eles e busca compensar isso.



Não existe o conceito de pecado porque pecado é algo que você comete contra as regras de deus e nessa religião o que importa é sua relação com as demais pessoas e a sociedade. O que existe são erros, é a ética, é principalmente o caráter, deus exige de todos nós o bom caráter. Nosso erro é cometido contra outras pessoas e isso é grave.


Assim, não existe remissão de erros. Errou está errado. Cada um deve usar sua vida para modificar seu comportamento se ser uma pessoa melhor, compensando os erros cometidos com acertos. É isso o que interessa. No fim da vida deus pesará o conjunto de sua obra na sua vida.


Deus está sempre presente na nossa vida, não existe separação, desde o momento em que acordamos até quando dormimos. Sempre devemos devoção a ele e o que ele exige de nós é sermos pessoas corretas, de bom caráter, tratar bem a sociedade e ser generoso com as pessoas.


A qualquer momento podem recorrer em oração a nosso Ori e Orixá, não temos que estar em uma casa para isso. Você está conectado a seu orixá desde o momento que acorda, não tem que ir a uma “igreja” e jamais pode se comportar diferente do que deveria, como eu disse não existe separação entre a vida laica e a sacra é como se o tempo todo você estivesse dentro da igreja, você é sua própria igreja.


Desta forma assim é o culto a deus nessa religião, ele não é distante, pelo contrário ele é absolutamente presente em todos os momentos de nossa vida.


Os católicos e evangélicos dizem que falam diretamente com deus e por isso eles tem uma religião superior. Sempre tiveram essa preocupação de serem os verdadeiros representantes de deus.


Mas, deus nunca responde a eles. Eles rezam em silêncio e não tem resposta. Deus criou essa religião e responde nela. Deus teve a oportunidade de acabar com essa religião e ele mesmo a fez ser preservada, duramente, assim deus deve prezar por esse trabalho que teve ao criar a religião baseada em Orixá (Òrìṣà).


Na história do judaísmo, deus falou com as pessoas? Não lembro, deus falava somente com os profetas dele e esses falavam com as pessoas. No islamismo somente mohamed tinha contato com deus, em sonhos e as pessoas acreditavam nele, Jesus pelo menos demonstrou estar ligado a deus através dos milagres.


Uns 80% da teologia católica foi definida em concílios e em interpretações posteriores de teólogos, ou seja, são entendimentos humanos.


Mas eles acreditam que são superiores porque falam com deus.


E cada um que durma com isso.

sábado, fevereiro 12, 2022

POR QUE TANTOS DEUSES NÃO PODEMOS TER APENAS 1?

 

POR QUE TANTOS DEUSES NÃO PODEMOS TER APENAS 1?

(esta é uma versão reduzida do texto original, esta é a versão do vídeo no canal)


Existe mesmo no meio de pessoas que dizem que fazem parte dessa religião, sejam sacerdotes ou crentes, o entendimento de que existe nela um culto a diversos DEUSES.


As pessoas chamam Orixá (Òrìṣà) de deuses como se isso fosse uma originalidade, mas, isso, é uma falta de entendimento sobre esta religião e, principalmente, o que significa ter muitos deuses em uma religião. E é isso o que eu vou explicar aqui.


Tenho um vídeo longo no qual explico politeísmo isso em muitos detalhes e vou lembrar de colocar um card aqui para vocês acessarem


No canal tem várias playlist organizadas por tema, não deixe consultar os temas das playlist e também vocês podem sugerir temas para uma playlist e para um vídeo


Mas, Já endereçando a pergunta principal, de termos ou não muitos deuses: POR QUE É NECESSÁRIO SABER ISSO?


Por que isso faz toda a diferença na forma como você entende sua relação com o divino e com deus. Se você não compreende como é o divino com o qual vai se relacionar, você vai se perder em meio a dogmas, práticas e rituais sem fim e sem razão. Você vai direcionar seus esforços e tempo para práticas desnecessários e crendices inúteis, porque acredita que têm que atender ou cultuar um monte de deuses e se faltar com algum será penalizada.


Além disso, esse assunto faz parte da sua relação em sociedade com as pessoas que convivem em torno de você. Ninguém é uma ilha e é sim importante as pessoas entenderem suas crenças assim como você entende as delas. Principalmente na sua relação com as pessoas que não respeitam a sua crença religiosa. Repito, você não pode ser uma bolha isolada do mundo.


Mas, voltando ao tema, não é verdade que essa religião cultue vários DEUSES. Nesta religião nós cultuamos apenas 1 deus.


Se você tiver um pouco de interesse em conhecer esta religião vai ver que ela é bastante normal, bastante simples, bastante devocional e não é baseada em fetichismo e animismo.


Antes de seguir um pequeno alerta todos, esse canal fala da teologia Ifá e do culto de Orixá (Òrìṣà) representado pela tradição religiosa do Candomblé. Existem outras tradições religiosas da chamada matriz afro-brasileira e nem todas elas estão ligadas a Orixá (Òrìṣà) e a esta teologia que eu estou comentando. Este é um tama complexo e se você quiser entender mais sobre tradições religiosas veja esse vídeo no Card.


Lembro, também, a todos que o correto é falar religião de matriz afro-brasileira. Esse termo “matriz africana” é incorreto, matriz implica em 2 dimensões que se encontram e unem. Assim a matriz é afro-brasileira.



Nesta religião – Candomblé e Ifá – não temos muitos deuses. Lamento decepcionar que pensa diferente.


Na verdade, nós só temos 1 deus, o maior, Olódùmarè, o deus criador de tudo, o único que tem a capacidade de gerar vida e o único que sustenta toda a existência no mundo. Isso, hoje, é um conceito simples e consolidado. Tenho longos textos no Blog explicando isso em detalhes.


Nesta religião este deus superior, Olódùmarè criou outras divindades, chamadas de inrumolé (Irúnmọlẹ̀) e os inrumolé (Irúnmọlẹ̀) existem como suas extensões na relação de deus com a humanidade. Os Orixá (Òrìṣà), por sua vez, são um tipo particular de inrumolé (Irúnmọlẹ̀), eles são diretamente ligados as pessoas.


A teogonia desta religião não é baseada em princípios como o que os deuses que casam entre sí e geram novos deuses, por nascimento. Não existe em Ifá qualquer verso que comprove esta versão ou afirmação, o que existe em Ifá é que Olódùmarè criou os inrumolé (Irúnmọlẹ̀) e estes dependem dele.


Já sei, vocês vão falar que maluco ou idiota e que todo mundo sabe que Orixá (Òrìṣà) é filho de outro Orixá (Òrìṣà). Pois é, mas isso não está em Ifá.



Todas as divindades existentes nesta religião e citadas por Ifá, os inrumolé (Irúnmọlẹ̀), estão ligados a relação de deus, Olódùmarè, com as pessoas. Não existem inrumolé (Irúnmọlẹ̀), ou seja divindades, ligadas a sustentação da natureza ou ligadas a qualquer coisa que não diga respeito as pessoas.


A única divindade ligada a sustentação básica da vida no mundo é o próprio deus superior, Olódùmarè.


O Orixá (Òrìṣà) é um inrumolé (Irúnmọlẹ̀) designado para estar ligado as pessoas pelo nascimento e não por devoção. Eles ligam as pessoas a poderes de Olódùmarè sendo assim um elemento-chave na relação de nós com deus. Os demais inrumolé (Irúnmọlẹ̀) que não são Orixá (Òrìṣà), Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) por exemplo, estão ligados a relação de deus com o nosso ciclo de vida como um todo.


Partindo de explicações documentadas pelo conteúdo dos versos de Ifá, é importante que vocês entendam que não é possível classificar os Orixá (Òrìṣà) como deuses. Eles são divindades originadas de Olódùmarè e dependentes dele e, desta forma, não são deuses autônomos. Além disso, não podemos ter deuses dependentes de outro deus. Ou são deuses ou não. Se quer me contestar procure primeiro conhecer as religiões politeistas (gregos, romanos, egípcios)


Orixá (Òrìṣà) não são deuses. Não repita isso, não é engraçadinho, é ruim.



A origem da expressão deuses vem do politeísmo greco, onde haviam deuses (divindades maiores) que competiam entre si pelo controle do mundo, na verdade pelo controle das forças naturais do mundo, dos sentimentos e que eram, de alguma forma, liderados por Zeus, que não era um deus superior e que podia ser contrariado, combatido e até superado, tudo era uma questão de força e poder. A teogonia greco-romana é muito distinta do que tratamos hoje nas religiões, esse modelo já foi amplamente superado.


Se você quiser entender melhor esse assunto de DEUSES leia o poema “Teogonia” do Grego Hesíodo. O politeísmo tem seu charme.


A atribuição da expressão Deuses, para nós é inadequada porque, deuses não diz respeito a quantidade de divindades e sim da qualidade da relação entre elas.


Deuses implica em independência e autonomia, ausência de soberania e não é isso o que ocorre nesta religião e nas demais religiões do mundo atual, que mesmo tendo várias divindades essas não são deuses.


Quando você tem deuses você não tem um deus superior. Todos são igualmente deuses, uns mais fortes ou mais influentes, mas são todos deuses e dividem o poder.


O que essa discussão teórica muda para você? Simples, se você tem diversos deuses que dividem poderes você passa sua vida cultuando todos ou diversos deles, porque cada um pode interferir de forma diferente em sua vida.

Essa estrutura não é só uma questão de entendimento teológico, ela muda toda a prática religiosa de se relacionar com o divino.


Com múltiplos deuses advém a necessidade de múltiplos cultos. Na prática você vai se perder em devoções. Assim se você não entende como esta religião é, você facilmente se perderá em complexidades artificiais criadas por pessoas que pretendem vender facilidades, favores dos deuses. Você estará em um ciclo doido de ritos sem fim e falta de entendimento do que realmente você faz de certo ou errado. Você vai buscar ou cair em explicações artificiais de problemas e estará mais preocupado em gastar dinheiro mais em ritos do que em refletir sobre você mesma.


Se você têm 1 deus, as demais divindades são uma forma de você recorrer a ele ou dele, esse deus o suportar e interferir na sua vida. Ou seja, isso muda tudo.


A religião não é uma estrutura criada para o culto a divindades. Entendam isso. Deus e os Orixá (Òrìṣà) não precisam de rezas e oferendas, não precisam ser bajulados e adorados.


A religião é uma estrutura criada por deus, sempre pelo próprio deus, para te oferecer um caminho de orientação e entendimento sobre você, sua vida e sobre a vida em sociedade. Também é uma estrutura que o ensina como recorrer ao supernatural, ao próprio deus, para obter ajuda e explicar a você quais as condições em que essa ajuda poderá ocorrer e em que medida ocorrerá.


A religião é uma estrutura de apoio a sua vida e não ao contrário. Você é o foco da religião e não deus. Essa é a grande distinção que deve ser feita. O homem é o centro da religião.


Entenderam porque faz absoluta diferença entender qual é o real modelo metafísico da sua religião? E que não se trata de uma discussão filosófica?


Essa questão de não termos deuses no Candomblé é entendida até mesmo por teólogos católicos. O padre paulo ricardo, que eu sempre cito aqui no canal, fez ha muitos anos atrás um vídeo sobre o Candomblé no qual ele reconhece claramente o modelo religioso correto.


Mas, qualquer pessoa que entenda um mínimo de teologia, tipo teologia de jardim de infância, reconhece que nesta religião temos um deus superior, a religião não é politeísta e os orixás não representam deuses menores.


Se os Orixá (Òrìṣà) não são deuses, então o que eles são?


Eles são manifestações teândricas de deus.


O que isso significa? - teândrico – palavra que eu canso de repetir aqui



Teândrico significa a manifestação humanizada de deus. Os Orixá (Òrìṣà),conforme está no Odù estrutural oxé (Ọ̀ṣẹ́) Òtúwá vem até nós um uma forma humanizada de modo que possamos nos identificar com ele e nos entendermos com ele através da humanidade de deus.


O que eu vou falar agora vai chocar a todo mundo:


Os Orixá (Òrìṣà) estão para nós assim como Jesus está para os católicos, jesus e os Orixá (Òrìṣà) são o mesmo tipo de manifestação de deus junto a humanidade, são equivalentes.


Não fique chocado com isso, deixe os católicos ficarem chocados. Você se acostumou a ver Jesus com uma importância maior do que deveria e existe muita gente nessa religião que acha que Jesus está acima dos Orixá (Òrìṣà). Mas eles são a mesma coisa.


As religiões são criações de deus e em cada religião deus construiu uma teogonia da forma mais adequada como, ele deus, compreendeu que as pessoas entenderiam sua mensagem. Ele fez isso de formas distintas no mundo todo.


Jesus faz parte da teogonia católica. Não existe dúvida que o catolicismo foi uma criação de deus e nesse modelo de comunicação com as pessoas, no modelo católico, eles dizem que deus escolheu ter para esta relação com eles, 1 divindade, Jesus.



Contudo o catolicismo é uma sequência da religião judaica e os judeus têm entendimentos diferente de sua teogonia. Os Judeus, povo onde essa religião nasceu, tem outra teogonia, com outros Jesuses e não reconhecem Jesus da forma como os católicos o entendem.


O catolicismo apesar de ser originado 100% no judaísmo é outra religião, eu não vejo muito sentido no catolicismo manter em seu Cânon, sua bíblia, os livros judaicos da chamada tanakh, visto que aquela visão de deus dos judeus, não tem nada a ver com a visão de deus estabelecida por Jesus. São 2 deuses diferentes, o dos judeus e o dos católicos.


Eu poderia avançar muito nesta discussão aqui, mas vou ficar só até esse ponto neste vídeo.


Enfim, não temos muitos deuses, temos 1 só deus.


Os Orixá (Òrìṣà) são o próprio deus junto de nós, não são sub-deuses. Os Orixá (Òrìṣà) são a forma como deus se faz representar junto a nós.


Os católicos acham que falam com deus, eles rezam a deus e a resposta é: o silêncio.


Apesar de acharem que devem rezar a deus, as igrejas estão cheias de santos e eles rezam de fato para os anjos, santos e a virgem maria. Rezam e fazem novenas e promessas. Até onde me lembro todo mundo tem seu santo de devoção, acho difícil um católico que não está ligado a um ou mais santos e santos eram pessoas.


Na nossa religião, nós cremos no mesmo deus que todos creem, mas esse deus, nesta religião, escolheu uma outra forma de se comunicar e se fazer entendido pelas pessoas, no seu objetivo primário de fazer as pessoas melhores e fazer um mundo melhor.


Nossa religião nos diz que deus nos ama de verdade. Deus não é raivoso, mau humorado, mesquinho e genocida como está nos livros do velho testamento. Deus na visão desta religião, nos transmite uma mensagem de que ele dá todo o suporte para a nossa vida aqui e que cuida de nós ativamente.


Eu não estou inventando palavras, não estou inventando interpretações e dogmas como os católicos fazem nos concílios. Estou falando o que está nos versos de Ifá.


Não preciso inventar nada.


Desta maneira nós falamos com deus através dos Orixá (Òrìṣà). Nós rezamos a deus através dos Orixá (Òrìṣà). E mais importante, deus responde a nós, se comunica com a gente através dos Orixá (Òrìṣà).


Os Orixá (Òrìṣà) são deus e não deuses.




Nós não ficamos orando ao vazio. Nós temos a oportunidade de ver nossas preces manifestarem. Não precisamos fazer nenhum grande esforço para crer em deus.


Da mesma forma como nós rezamos a deus através dos Orixá (Òrìṣà), os orixá se manifestam para nós, na nossa frente, transmitindo as bençãos de deus e nos mostrando que deus existe de fato, ele nos ouve e responde a nós.


Nós vemos deus ali, sempre na nossa frente se comunicando e nos abençoando.


Eles, os católicos, por sua vez, acreditam que falam todo dia com deus, mas, deus não responde e nunca respondeu, não estou inventando, é o que está no cânon deles, deus falava apenas com os profetas que ele escolhia e foram muitos profetas, Jesus era um desses, similar aos anteriores.


Nós não temos essa pretensão de falar diretamente com deus, a religião não nos direciona ao deus superior, nos direciona a nos relacionar com deus através dos Orixá (Òrìṣà), uma relação bilateral. Foi assim que nesta religião deus orientou o seu culto.



Os católicos, como eu disse, têm outra visão e não se incomode ou se preocupe com essa visão deles. Entenda a sua visão, a nossa visão, esta que você escolheu nessa religião. O mais importante é acreditar em deus.


Nós temos uma fé prática e divinamente humana, uma fé que nos acompanha no dia a dia. Eles se recolhem em silêncio nas igrejas.


O que esta envolvido aqui não é fé e sim a visão humana da prática religiosa. As pessoas não estão preocupadas com deus e sim em comparar a forma como umas procedem em relação a outras. É apenas isso que está envolvido nessa questão de 1 deus e de criminalização de divindades.


Não existe objetivo nesta fala em criticar os católicos ou judeus, eu apenas usei-os como referência, afinal eles são a religião dominante. Só que essa questão de 1 deus ou de vários deuses é apenas uma derivação humana deste tema.


Por tudo o que eu disse aqui, não repita essa fala de que temos muitos deuses, isso só prejudica o que a gente faz, desvaloriza a nossa prática e diminui a nossa representatividade.


Eu vou encerrar por aqui, porque já cheguei no meu ponto, como já disse teria muita coisa para tratar e ainda vou falar como animismo, fetichismo, imagens e sacerdócio, mas, fica para outros vídeos.



Vou encerrar com a fala final:


Não temos muitos deuses, temos apenas 1 o mesmo deus de todos, o mesmo deus que criou e mantêm tudo. Mas na nossa religião, deus se humaniza através dos Orixá (Òrìṣà), que não são deuses, são uma visão humana do próprio deus.


Esta não é uma religião que tem imagens, ídolos, fetiches e animismos. Católicos e umbandistas tem imagens. Fetiches e animismos pertencem a humanidade desde que ela existe e esta religião não é baseada em fetiches.


Deus fala com todas as pessoas do mundo. Ele escolhe a melhor forma para cada povo. Quem respeita deus de fato, não fica preocupado em dizer que só ele fala com deus.