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terça-feira, novembro 16, 2010

Assentamento de Odù no Candomblé

Assentamento de Odù no Candomblé

Existe uma prática já antiga de se fazer o assentamento de um odu. Faz-se isso, normalmente, com o Odù Obará que é associado com prosperidade pelo Candomblé, assim entendendo que a lógica seja que, ao se assentar um odu, estará se atraindo prosperidade para sua vida.

Seguindo a lógica de que o problema não são os errados e sim os silenciosos eu trago esse assunto para comentários.

Me inscrevi em uma lista de e-mails que promete revelar, diariamente, fundamentos se Candomblé e em um dos últimos veio isso sobre esse assentamento:

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Um Assentamento só pode ser feito através de um ritual, o qual envolve uma grande variedade de materiais: folhas, rezas, animais… Tudo ligado ao fenômeno da natureza que se quer Assentar, ou seja: tudo ligado ao Orixá que se quer assentar.

O Orixá, vendo e gostando daquilo que está sendo feito no ritual, vai se aproximando e tomando "vida". Ficando aquele assentamento(que representa o "corpo" do Orixá), impregnado com a sua essência.

Portanto, assentar um Orixá é dominar um fenômeno da natureza: para que nos traga benefícios, através dos presentes que lhe são ofertados; para que nos traga, vida longa, prosperidade, felicidade, filhos, vitórias...

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O que não está correto nisso?

Todo mundo tem direito a sua opinião.

Em primeiro lugar eu gostaria de informar a todos que odù é uma energia transitória, uma resposta que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) nos envia através do oráculo e que traz em si o diagnóstico do problema e também sua solução.

Odù não é um Orixá, não é uma divindade, é uma resposta de Olódùmarè, através de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) aos nossos problemas. Odù não é o problema ou o mal que a pessoa tem. Odù é o remédio para o problema que você tem. Mais que tudo, Odù é a forma como Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se comunica com seus Bàbáláwo, seus representantes.

Assim se você vai no médico e te receitam um anti-térmico, é porque tem febre. O anti-térmico não é o seu problema, ele não causa a febre, ele resolve o que você tem, a febre.

É claro que, com um pouco de prática, observando uma receita, podemos deduzir com algumas perguntas adicionais qual a doença que a pessoa tem. As perguntas adicionais são devido ao fato que muitas vezes um remédio serve para mais de um mal.

Assim é Odù, sempre é a solução e não o problema que você tem. Odù é a resposta de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).

Candomblé é muito centrado em Orixá. Muita gente substituiu o conhecimento teológico ou teogônico da religião por associar tudo a Orixá. Foi uma simplificação, assim como também os Orixás foram sendo simplificados. Mas nem tudo é Orixá e nem tudo pode ser tornado equivalente a Orixá.

Da mesma forma como não se toma remédio sem ter doença, Olódùmarè não dá um Odù para quem não tem nada e não se chama um Odù como se chama um Orixá, veja são coisas diferentes.

As divindades nesta religião são os Orixás. É a eles que rezamos, agradecemos e pedimos. São eles os representantes de Olódùmarè. Odù não é divindade é uma resposta energética, axé que Olódùmarè nos envia.

Eu sei disso porque sou Bàbáláwo, lido com oráculo todo o dia e lido com Odù. Eu sei o que significa Odù. Odù é a linguagem que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se comunica com o Bàbáláwo e é uma resposta imediata, para aquele momento para a pessoa. A cada consulta a Ifá um novo Odù aparece com novas mensagens e indicações que o Bàbáláwo deve interpretar e explicar ao consulente.

A vinda de Ifá para o Brasil trouxe muita luz sobre a questão de Odù, sobre o culto e o oráculo de Ifá. Foi possível entender que tudo ou quase tudo que se dizia sobre esses assuntos era pura besteira. É equivalente ao que Verger fez, quando foi na África e trouxe verdade ao monte de bobagens que eram ditas no Candomblé sobre a religião e sobre Orixá (Òrìṣà). Verger foi lá, viu o que era verdade e trouxe isso para cá.

Isso foi uma revolução. Eu lamento apenas que os Cubanos não tenham tido o Verger deles, teriam aprendido direito e evitado um monte de besteiras que fizeram.

A vinda de Ifá fez o mesmo. O tema de Ifá no Brasil era e ainda é dominado por um monte de sandices.

Odù não é Orixá e não deve ser tratado como Orixá. E uma mensagem e uma energia e é invocado por um Bàbáláwo através do opon (Ọpọ́n Ifá) do iyerosun e por rezas. Ele é transitório, é uma energia de resposta a um problema. Se é transitório, se é uma energia de resposta não existe razão para você tratar de forma equivalente como trata um Orixá.

Como eu disse o Candomblé traduz tudo na forma de orixá (Òrìṣà). Aqui no Brasil vários aspectos da teologia e teogonia foram orixalizados, substituindo divindades originais por orixá (Òrìṣà). Foi um processo de simplificação, mas, foi de uma maneira, eficiente.

Mas, isso pode fazer com que as pessoas achem que tudo é orixá (Òrìṣà) e nesse caso, as pessoas fazem associação de orixá (Òrìṣà) com Odù de desta maneira acham que podem fazer assentamentos. A explicação que eu fiz revela isso. Ela também mostra uma visão ingênua e infantil da religião, mas isso é outra coisa.

Um igba ou assentamento é um elemento de ligação entre o orun e o aiye, um elemento que liga partes que já existem e estão conectadas.

O Igba é sempre uma representação no Àiyé de alguma coisa que existe no Órun (Ọ̀run).

Você se liga com orixás e divindades que você já tenha. O assentamento é um elemento de amplificação dessa ligação através da representação aqui do elemento do Órun (Ọ̀run).

No Candomblé quando montamos um assentamento estamos ligando coisas que já estão conectadas entre si ou que serão conectadas através de cerimônias de iniciação ou de sacralização. Não estamos inventando ligações que não existem ou criando ligações. Essa é a forma do Candomblé entender.

Contudo, um Odù não é uma divindade. Ele não existe perene e não tem vinculo com ninguém é uma energia transitória, enviada, e no fundo representa um desequilíbrio. Quando algo vai mal o Odù mostra qual é esse desequilíbrio e o nosso trabalho é reestabelecer o equilíbrio.

Assim, assentar um Odù é tratar um odù como algo que ele não é. O Candomblé não pode querer orixalizar tudo, não pode orixalizar Ifá e um Odù. Esse não é o caminho da sabedoria, é apenas o caminho da mistificação.

Não adianta não entender uma coisa, Odù e para poder resolver as coisas que não entender fazê-lo significar o que ele não é, Odù não é um orixá (Òrìṣà) e não pode ser assentado.

Quem lida com Odù é Ifá, são os Bàbáláwo, o Candomblé vai ter que entender isso e o entendimento de Ifá é o que eu estou tentando explicar, Odù é a linguagem que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se comunica com os Bàbáláwo, Odù não é orixá (Òrìṣà).

Não é achando que assentar um Odù que vamos trazer prosperidade, aliás assentando obará. Se fosse assim, todo mundo no Candomblé era rico, o que não é verdade!

Pode ser então que os Candomblecistas tenham feito voto de pobreza e só clientes podem ter esses potes mágicos de prosperidade. Você acredita nisso?

O Candomblé entende muito bem de Orixá mas as pessoas não podem tratar todo os assuntos da mesma forma. Os caras acham que o que funciona para uma coisa funciona para outra, ou então como eles sabem fazer as coisas daquela forma, tudo tem que ser feito igual.

Você não vai invocar um Odù porque esta colocando 6 coisas de cada tipo. Alguém acha que fica alguém la no Órun (Ọ̀run) olhando para cá e quando vê que colocaram 6 em vez de 8 ou 9 estão invocando Obará? Não seja tolo. Mas é assim que os caras que vendem isso fazem, não riscam nenhum odu ou rezam. Apenas contam a quantidade de coisas que colocam.

Você vai a Ifá e a um Bàbáláwo que vai consultar o oráculo e este se comunicará com eles através de um Odù. As pessoas recebem o Odù que representa o problema que elas têm e as mensagens que elas precisam ouvir para mudar a vida delas.

É tolice achar que um Babalorixá (Bàbálórìṣà) vai invocar um Odù e que vai fazer isso fazendo um assentamento com elementos de 6 em 6 e colocando isso em uma forquilha em alguma árvore.

Um Bàbáláwo não olha para uma pessoa e diz, vou chamar o Odù tal para te ajudar. Que asneira se fosse assim. Quando um Bàbáláwo senta para fazer a consulta ele não tem a menor ideia de qual Odù será desenhado.

O importante na vida é equilíbrio. O Odù é um instrumento de estabelecer o equilíbrio.

Não podemos trazer um desequilíbrio para nossa vida. Em Ifá a gente é muito cuidado com Odù, não riscamos, não falamos, não rezamos sem sentido. Somente se ele sai em uma consulta ou se vai ser usada em um ebó ele será utilizado e depois disso, acabou. Próxima consulta novo Odù.

Por fim, nesse texto bobo, que iniciei este texto, algumas ideias de verdade me deixam aborrecido, como ligar fenômeno da natureza a orixá e ao que fazemos. Quer dizer que vamos “dominar” um fenômeno da natureza? Olha acho que os pais de santo vão ficar milionários controlando furacões, incêndios, inundações. Mas, também pode ser linchados quando as pessoas acharem que são nossa divindade que estão provocando catástrofes.

Além disso ele fala de Odù e depois diz que é o orixá no assentamento, enfim, isso é uma bobagem só. Fazer assento de Odù á é ruim, querer explicar com essa inteligência toda vira uma obra de arte.

Não seja idiota. Não jogue seu dinheiro fora fazendo assentamento de Odù.

Faz assim, manda a pessoa fazer para ela mesma e sair distribuindo dinheiro pela rua e que não seja o seu.



sexta-feira, novembro 12, 2010

Por que as pessoas mortas são enterradas ?


A estória abaixo foi retirada do livro "Folk Stories From Southern Nigeria" Contos populares do Sul da Nigéria de Elphinstone Dayrell, [1910]

No começo do mundo quando o Criador fez os homens e as mulheres e os animais, todos eles viveram juntos na terra da criação. O Criador era um grande chefe, cuidava de todos os homens, e um ser muito bondoso, que ficava muito triste, sempre que qualquer um deles morria. Então um dia ele mandou para o cão, que era seu mensageiro principal, e lhe disse para ir para o mundo e transmitir a sua palavra a todas as pessoas que para no futuro, sempre que qualquer um deles morresse o corpo era para ser colocados em um recinto e cinzas de madeira seriam lançados sobre ele, e o corpo era para ser deixado sobre o solo, e em 24 horas se tornaria vivo novamente.

Quando o cão já tinha viajado meio dia ele começou a se cansar, assim, como ele estava perto da casa de uma velha senhora, olhou para dentro e vendo um osso com alguma carne nele ele fez uma refeição dele e depois foi dormir,esquecendo-se inteiramente a mensagem que tinha sido dado a ele para entregar.

Depois de um tempo, quando o cão não retornou mais, o criador chamou uma ovelha, e enviou-o para fora com a mesma mensagem. Mas as ovelhas era muito tolas e estando com fome, começaram a comer as ervas doces pelo caminho. Depois de um tempo, porém, ele lembrou que tinha uma mensagem para entregar, mas esquecera qual era exatamente, assim quando ela andou entre o povo disse-lhes que a mensagem que o Criador lhe havia dado para dizer às pessoas, é que sempre que qualquer um deles morrer eles devem ser enterrados debaixo da terra.

Pouco tempo depois, o cão se lembrou da sua mensagem, então ele correu para a cidade e disse às pessoas que elas deveriam colocar as cinzas de madeira sobre os corpos e deixá-los no solo e que eles iriam voltar à vida depois de 24 horas. Mas o povo não acreditou nele, e disse: "Nós já recebemos a palavra do Criador pelas ovelhas, que todos os corpos devem ser enterrados."

Em conseqüência disto os corpos dos mortos são sempre enterrados, e que o cão não é desejado e não confiável como um mensageiro, se ele não tivesse encontrado o osso na casa da velha e esquecida a sua mensagem, os mortos ainda poderiam estar vivos.

A questão da cobrança em Ifá

A questão da cobrança em Ifá


A questão da cobrança de valores sempre foi um caso sério. A gente ve tudo de ruim em torno disso. Existe também uma pressão devido a prática kardeista que abomina a cobrança, assim não cobrar é ético e cobrar é não ético. São religiões diferentes e o que não é ético é se comportar apenas motivado por dinheiro, lembrando que um Babalawo nunca será rico é assim que econtramos nas histórias é assim que os babalawos dizem. Não que eu esteja dizendo que olodumare recrimina os que assim não se comportam ou que nosso orixá nos virara as costas, não, estou dizendo isso apenas pelo aspecto ético. Mas o pior de tudo é ouvir que a pessoa só cobra porque “o anjo da guarda dela exige”.

No odù ofun ogbe Orunmila usa seus próprios materiais e dinheiro para fazer o sacrifício para Orixa nla (oxala) e depois é compensado em 200x vezes o que gastou.

Mas no odu ogbe meji existe uma história muito direta sobre o assunto e que é usada como explicação porque um babalawo cobra por seus serviços.

Ogbe meji (orunmila) veio para a terra para trazer o bem e fazer o bem a todo mundo. Ele incansavelmente dia e noite ajudava a todas as pessoas que encontravam e que o procuravam e nada exigia delas para isso. A benevolência do jovem eji ogbe o fez muito popular e sua casa tinha uma fluxo imenso de pessoas que o procuravam pedindo sua ajuda, dia e noite.

Ele curou os doentes, fez sacrificios para os pobres, ajudou mulheres estéreis a terem filhos e garantiu o nascimento seguro de crianças de todas as mulheres gravidas que o procuravam.

Com essas atividades ele ganhou muita admiração dos beneficiados mas também ganhou inimizades dos sacerdotes mais antigos que ele que não se uniam a ele em seu altruismo e benevolencia.

Um dia cansado ele dormiu e seu ori veio em seu sono o advertindo que esses sacerdotes estavam conspirando contra ele. Ele acordou de manhã e logo foi para o oráculo. Ele procurou os sacerdotes Osigi sigi le epo, usee mi ookagba igba e abu kele kon lo obe ide que juntos consultarem Ifá para ele eles o aconselharam a....

... Os outros sacerdotes que se sentiram atingidos e prejudicados em seu modo de vida porque ogbe meji fazia milagres sem cobrar nada foram para o Orun um depois do outro para relatar a olodumare acusando eji ogbe de os prejudicar ao introduzir um novo código de comportamento o qual era totalmente estranho à ética no aiye.

Ogbe meji por sua parte não tinha vida própria porque gastava todo o seu tempo a serviço de outros. Quando as crianças tinham convulsão ele era chamado, quando gravidas precisavam de ajuda ele era chamado, etc..

Olodumare ouvindo esses relatos enviou Esu a terra para trazer eji ogbe de volta. Esu usou de discrição como uma estratégia para trazer eji ogbe de volta ao orun. Ele se transformou em uma pessoa sem emprego, procurando por um trabalho e foi bem cedo a casa de eji ogbe. Chegando lá ele implorou a ogbe meji para lhe dar um trabalho que o permitisse a viver. Eji ogbe disse que não tinha como dar um trabalho a ele porque ele trabalhava de graça para as pessoas do mundo.

Como ele ia comer o seu desejum ele chamou o visitante para comer com ele, mas esse disse que não se qualificava para comer no mesmo prato de ogbe meji assim iria comer após ogbe meji ter comido. Contudo enquanto essa discussão se dava uma nova pessoa aparecia pedindo ajuda, ela disse que o seu unico filho estava em convulsão e ela queria que eji ogbe viesse reviver o garoto.

E assim se foi o dia todo resolvendo duvidas, brigas e disputas. O sol já se punha quando eji ogbe sentou para comer seu desejum matinal. Ele insistiu para o visitante comer com ele mas esse disse que somente depois iria comer. Quando ele começou a comer Esu se transformou em Esu e eji ogbe viu que o seu visitante era um enviado de olodumare.

Ele parou de comer e perguntou que mensagem teria para ele, e esu disse que olodumare queria ve-lo no orun. Esu o abraçou e eles foram transportados para o Orun. Tão logo chegando lá ele ouviu a voz de olodumare perguntado a ele, eji ogbe, por que estava criando tanta confusão no mundo!

Eji ogbe se pos de joelhos para dar a sua explicação mas, esu, se pos a frente e se ofereceu para explicar. Esu explicou que olodumare em pessoa não poderia estar fazendo tanto quanto eji ogbe no aiye. Ele disse que desde cedo e sem tempo até para comer, eji ogbe estava a serviço da humanidade sem receber nenhuma recompensa por isso.

Esu disse que eji ogbe fazia no aiye a mesma coisa que fazia no orun e que por isso ela estava apenas aborrecendo os sacerdotes que eram amantes de dinheiro.

Olodumare disse que eji ogbe se levantasse dos seus joelhos e que voltasse para o aiye e continuasse o seu bom trabalho, mas, que cobrasse um valor razoável por seus serviços, mas continuasse a ajudar a quem necessita e que receberia por isso as bençãos dele olodumare.

A interpretação de uma história depende sempre do interlocutor, não existe uma interpretação única ou mesmo sentido literal. Essa história justifica o fato de os babalawo cobrarem por seus serviços. Também mostra que fazer o bem é o que se espera de uma boa pessoa e não trocar benfeitorias por dinheiro é o que de melhor se poder esperar de uma pessoa; mostra também que as pessoas se incomodam com o bem que você faz e não com o mal que você as traz.

Enfim, muitas interpretações podem ser feitas por cada pessoa.

domingo, agosto 22, 2010

Rezando para Xango

Rezando para Xango

As rezas a seguir representam um esforço de tradução de 2 rezas bastante conhecidas de Xango principalmente porque foram divulgadas pelo livro de José Flavio, a Fogueira de Xango, através de um magnífico CD.

No Livro existe a letra em Yoruba e uma tradução que infelizmente é péssima. Não foi José Flavio que traduziu, mas a pessoa que fez viajou na maionese.  Em se tratando de Yoruba tudo pode estar certo ou errado mas existe um pequeno bom senso a seguir.  A tradução do livro não seguiu qualquer bom senso.

Traduzir Yoruba não e fácil, as pessoas acham que simplesmente vão achando as palavras no dicionário, ledo engano. É muito complicado porque pela oralidade tem que se chegar a uma palavra ou conjunto de possíveis palavras. Depois analisar as possíveis traduções e combinações de traduções considerando o sentido do texto, o seu objetivo e convivendo com a dificuldade de palavras que foram aglutinadas (2 palavras viram 1) e erros na oralidade, com o passar do tempo as pessoas falam errado ou trocam fonemas.

Ai existe o caminho fácil que é inventar uma tradução, que foi o caso foi o caso do livro A fogueira de Xango, ou de trocar as palavras por outras conhecidas, que foi o caso do livro seguinte, O banquete do Rei, no qual o tradutor mudou palavras para ajustar a tradução.

O mesmo autor andou fazendo isso posteriormente com diversas cantigas que andou traduzindo e cantando. A dificuldade realmente é traduzir a palavra ou o fonema como ele esta ou como é cantado ou buscar pequenas variações justificadas pelos vicios de oralidade.

Enfim, é por isso que digo que certo ou errado estão muito próximos e é difficil dar razão a alguém. Bom, o texto a seguir foi um esforço no sentido de ser o mais literal possível, representando assim uma versão com grandes possibilidades de estar correta. Muito trabalho foi necessário para chegar nesse resultado.

Como todos sabem o texto é melhor visto baixando o fonte Yoruba indicado nesse Blog. A instalação da fonte Yoruba é muito simples e permite ver todos os textos de forma integral. No texto a seguir inclui a fonética em português.


ọba irú loko
óbá irú lokô
O rei viril
ọba irú loko
óbá irú lokô
O rei viril
iyamase kó nwa
iamasê kô un á
iyamase trouxe-o a vida
ará òjé
ará ojê
nosso ancestre destemido
aganju kò màá njá lẹ́ẹ̀kan
aganju kô maa un já léé kan
aganju nos ensina a sempre vencer de novo
ará làkó láìyà
ará lákô laiá
O membro da comunidade que é autêncico e audacioso
tóbi òrìṣà
tobí orixá
o grande òrìṣà
ọba ṣọ́ ọ̀run
óbá xó órun
o rei nos vigia do orun
ará ọba òjé
ará óbá ojê
nosso rei e lider
ọba ṣọ́ ọ̀run
óbá xó órun
o rei nos vigia do orun
ará ọba òjé
ará óbá ojê
nosso rei e lider


ó níkà, ó níkà
o niká, o niká
ele é cruel, ele é cruel
ará òjé aṣẹ sú
ará ojê axé sú
nosso líder que espalha o axé
Badé, Badé ìjà lóni
Badê, Badê ijá loní
Badé, badé, lute hoje
ó níkà, ó níkà sí ará ìyìn aláde o
o niká, o niká si ará i in aladê o
ele é cruel, ele é cruel, o trovão louva o que tem a coroa
ó níkà
o niká
ele é cruel
ará òjé aṣẹ sú
ará ojê axé sú
nosso líder que espalha o axé
Ṣàngó máṣàì rẹ̀ wá o
Xangô maxaí ré ua o
Ṣàngó não falhará em vir!
Rẹ̀ wa o
ré ua o
ele virá!
Ọ̀ba lojú ma ṣe
obá lojú ma xe
O rei maior certamente virá
Ṣàngó máṣàì rẹ̀ wá o
Xangô maxaí ré ua o
Ṣàngó não falhará em vir!
Rẹ̀ wa o
ré ua o
ele virá!
Ọ̀ba lojú ma ṣe
obá lojú ma xe
O rei maior certamente virá
Ki ẹ òkeerẹ laanú sọ̀ko
ki é oke eré la anú sókô
Que o senhor do seu lugar distante seja piedoso ao jogar suas pedras
àgba aláde ma ṣe
agbá aladê ma xê
ancestre que tem a coroa e trabalha para nós


ọba kao
óba ka o
saudação ao rei
ọba kao
óba ka ô
saudação ao rei
o, o, Kábíèsí ilé
ô, ô, kabiêsi ilê
saudação ao rei dessa casa
ọba ni kọlé
óba ni kólê
O rei diz para construir a casa
ọba ṣe ire
óba xê irê
O rei trará bençãos
ọba njẹ́jẹ́
óba un jé jé
o rei esta pometendo
ṣe ire alado
xê irê aladô
fazer as bençãos do que tem a coroa
bangboṣe obitiko
bangbôxê obitikô
(referência a bangbose)
oṣe kao, o, o, Kábíèsí ilé
oxé ka ô ô ô kabiêsi ilê
saudação ao rei

sexta-feira, julho 09, 2010

Rezando para Orí

Orí o guardião do nosso destino

Orientações e explicações de como entender, se equilibrar e viver melhor através de Orí



O que é Orí?



O objetivo deste texto não é explicar totalmente o que é Orí. Este é um conceito muito importante na religião Yorùbá e será abordado na sequência sobre o Cosmo Yorùbá. Ori é parte do conceito de individualização e é necessário explicar o que é isso. Não existe explicação decente sobre Ori sem falar sobre o seu humano na religião.

Desta forma este texto poderá ser um pouco hermético para muitos neófitos que estejam apenas acompanhando as publicações, mas, para pessoas que já sejam da religião, sem dúvida, elas já ouviram falar de Orí. Como muitas palavras Yorùbá esta também tem mais de um significado e uso o que as vezes torna ela complexa de ser entendida.

Ori é usado para se referenciar a 2 coisas principais. A primeira é a nossa cabeça. Cabeça é Ori. Os Yorùbá entendem que a cabeça é uma parte importante do corpo e nela reside aspectos marcantes de nossa vida. Nossa consciência esta na nossa cabeça bem como componentes adicionais e auxiliares também estão. A cabeça é o repositório de nossa axé (aṣẹ́), da ligação com o nosso orixá (Òrìṣà) e da ligação com nosso passado e ancestralidade.


O Ori é o repositório de nosso axé (aṣẹ́), da ligação com o nosso orixá (Òrìṣà) e da ligação com nosso passado e ancestralidade. Existe o que se chama o Ori exterior e o Ori interior. O Orí exterior não é nada demais é a cabeça que vemos. O Orí interior são essas virtudes e propriedades que carregamos na nossa vida vindos do Orun.

Ortodoxamente dizendo, o nosso Ori está ligado apenas a nossa capacidade de prosperar aqui no àiyé. Decepcionados? Pois é, é isso. Essa explicação está no Odu Ogunda Meji, na história de Afawupé, filho de Orunmila. Um bom Ori nos permitirá prosperar com mais facilidade e rapidez. Mas o sucesso de uma pessoa apenas se realiza de ela tiver Iwa Pele, um bom caráter, ou o axé da prosperidade. Essas 2 coisas, o Ori e o Iwa são selecionados por nós antes de nascermos. Se formos bem-sucedidos nesta escolha teremos uma vida-longa e próspera.

A escolha desses elementos deve ser feita de forma planejada no Orun. Para isso, no Orun consultamos Ifá. Além de escolhermos um bom Ori e Iwa também iremos fazer os sacrificios e oferendas que garantirão o nosso sucesso. Nem todas as pessoas que nascem fazem isso, muitas decidem vir para cá contando com a sorte.

Orí faz parte do contexto da nossa vida no aiye, mas esse contexto tem mais elementos. Isso começa quando definimos os objetivos para a nossa vida, para a encarnação que teremos. Vamos então a Olodumare pedir para viver com aqueles objetivos e duração. Olodumare nos concede e com isso vamos receber instrumentos que viabilizarão a nossa aventura no Aiye.


Sim, a vida é encarada como uma aventura, uma aventura de sentimos, experiência e sensações que somente aqui no Aiye teremos. Além disso vamos ter o convívio com nossa família. Baseado no objetivo de vida que escolhemos (ou nosso destino), nós vamos receber um Odù que é o axé de Olodumare para atingirmos esses objetivos,  vamos receber um Orixá que nos acompanhará no aiye e vamos receber elementos que comporão nosso axé.

A esse conjunto devemos somar o Ori escolhido junto a Ajalá, o Iwa e nosso Ipori que é nosso vínculo ancestral. 

Nós mesmos, nossa essência, se adiciona a este conjunto de coisas e nosso destino pedido e legado formando a nossa individualidade. Dessa forma Orí é apenas uma parte deste contexto. Oportunamente vou escrever explicando isso tudo.

No Candomblé o Orí ganha uma importante enorme, como se fosse tudo em nossa vida, mas não é bem assim....


Oops, antes tenho que fazer um alerta. Apesar de eu estar falando aqui de Candomblé, lembro que Candomblé não é homogêneo, é um conjunto heterogênio de 2 religiões, 2 cultos distintos e várias nações. Coisa que são aplicáveis a um segmento não são aplicáveis a outro.

Estou aqui, como sempre, falando do Candomblé da religião Yoruba, culto de orixá.

As nossas demais virtudes como o Ipori que é nossa ligação com a ancestralidade, o nosso orixá (Òrìṣà) e o nosso caráter, também fazem parte de nós e determinam nossa vida como um todo. Orí é importante mas não resume tudo, posso dizer que está muito mais ligado ao axé (aṣẹ́).

Entretanto, esses conceitos não são de muita utilidade. Apenas dizem como nossa alma é formada e como nos ligamos ao orun e a personalização de nossa vida. O que eu expliquei trata de elementos estáticos, a gente nasce com eles e eles nos explicam.

O segundo e mais importante significado da palavra Orí é quando nos referenciamos a nossa divindade pessoal, o nosso anjo da guarda ou guardião protetor. Os Yorùbá entendem que temos no Órun (ọ̀run) um duplo, um espirito protetor que nos protege e guia os nossos rumos. Esse espírito está acima das demais divindades no que diz respeito a nossa vida. Nada pode ocorrer com a gente sem a permissão de nosso Orí, nem mesmo o orixá (Òrìṣà) tem superioridade a ele.

Essa divindade pessoal é nosso maior bem espiritual e é para ela que rezamos. Assim quando rezamos não estamos rezando para nossa própria cabeça, estamos rezando para o nosso guardião no Órun (ọ̀run). Desta forma, quando falamos de Ori podemos estar nos referenciando ao que trazemos com a gente ou a nossa divindade pessoal. A maior parte de nossa atenção deve ser com a nossa divindade pessoal.

Esta é a parte dinâmica do conceito de Orí. Esta é a divindade que nos protege e nos orienta e é este vínculo que temos que cuidar. A cerimônia de Bori, a mais importante do Candomblé tem algumas finalidades. A primeira é a de repor axé. Axé é a energia da vida, é a quintessência que existe em todos os seres e que nos é dada apenas por deus, por olodumare. O Bori e as liturgias do Candomblé tratam de repor, equilibrar e transmitir axé. A segunda finalidade é criar ou melhorar a ligação entre orun-aiye do nosso Ori. Através do Bori nós melhoramo essa ligação e isso permite a nossa divindade protetora melhorar sua interação e influência em nossa vida.

O que nos ajuda na vida é o binômio Ori-Orixá, Nosso anjo guardião e nosso Orixá são as divindades que nos suportarão diretamente em nossa vida e sucesso. Nenhuma das duas deve ser ignorada e não se vai a lugar algum sem as duas. Temos apenas 1 Orixá, o Orixá de nascença, aquele que vem como parte de nosso Ori. Nosso orixá é dessa maneira tão importante como a divindade pessoal Orí. Orí nos dá proteção mas dá principalmente rumo e orientação. Nosso orixá é quem age na solução de nossos problemas. Isso está no odù Oxé-otuwa.

O que esta religião espera da gente é que sejamos pessoas dignas. O que esperamos da vida é que ele seja alegre, prazeiroza, desafiadora e aventureira. Ninguém nasce para ser infeliz. Não vivemos para a religião e sim vivemos com a religião.


Rezando para Orí



Como em qualquer religião os Yorùbá tem suas rezas. Elas são chamadas de igbàdúrà ou agbàdúrà. Essa é uma palavra derivada do verbo Gbàdúrà que significa rezar. O sentido é o mesmo, uma prece é um meio mecânico, através de repetição de palavras que usamos para nos conectar com o divino. Representam pedidos, agradecimentos ou simplesmente louvações.

Os Yorùbá acreditam que além desse sentido de sintonia da alma com o divino, as palavras têm poder. Devemos sempre ter cuidado com o que sai de nossa boca. As orações são encantamentos e as palavras tem o efeito de despertar e ativar energias. Dessa maneira as orações devem ser faladas e não pensadas.

Pode-se rezar para Orí a qualquer hora do dia e em qualquer lugar. Orí é a nossa divindade pessoal e quem nos protege de tudo na vida e no mundo. Antes de qualquer Orixá (Òrìṣà) e acima de qualquer Orixá (Òrìṣà) esta Orí. Rezar de manhã quando se acorda é a melhor opção.

A seguir existem uma relação de rezas para Orí. Elas devem ser entendidas e decoradas, recomendo que rezem em Yorùbá, mas quem tiver extrema dificuldade que o faça como quiser. De fato, como em qualquer religião as palavras devem vir da alma e isso é o principal.

No texto a seguir, existe a linha com as palavras em Yorùbá, a fonética das palavras em português e a sua tradução. Quando uma palavra tem mais de um acento significa que deve ser usado a forma aguda em cada sílaba acentuada, ou seja, pronuncie cada sílaba com a acentuação indicada. Atenção especial para alguns casos.

Quando aparece GB deve ser pronunciadas as 2 consoantes. Assim GB não é a mesma coisa de B. Por exemplo Gbo pronuncia-se diferente de Bo. Da mesma maneira o P Yorùbá é pronunciado como KP. Não existe letra muda, toda letra e sílaba deve ser pronunciada. As palavras Yorùbá geralmente são oxítonas, com sílaba tônica no fim.


Rezas de Ori

Para quando acordar de manhã

Reza 1

èmi ma jí loní o
emi má jí loni ô

eu acabo de acordar hoje

mo fi orí balẹ̀ fún ọlọ́run
mo fí orí balé fun olórún

eu coloco minha cabeça no chão para ọlọ́run

orí mi dá ẹ̀mí dá àiyé
orí mi dá émí dá aiiê

meu ori me de vida de de longevidade

Ngo kú ìmọ̀
ungô kú imón

eu saldarei o conhecimento

gbogbo ire ni ti èmi
gbogbo ire ni ti êmi

todas as benção para mim

imolẹ ni ti àmakisi
imolé ni ti ámákisi

os Orixá (Òrìṣà) pertencem a àmakisi


Reza 2

Orí awo màá tọ́ ni awè
orí auô ma a to ni auê

O mistério do Orí nascerá no jejum

Orí awo màá tọ́ ni awè
orí auô ma a to ni auê

O mistério do Orí nascerá no jejum

Orí awo màá gbó ni awẹ̀
orí auô ma a gbô ni auê

O mistério do Orí amadurecerá no jejum

Orí awo màá gbó ni awẹ̀
orí auô ma a gbô ni auê
O mistério do Orí amadurecerá no jejum

Orí awo màá mọ̀ ni awè
orí auô ma a món ni auê

O mistério do Orí trará conhecimento no jejum

Orí awo màá mọ̀ ni awè
orí auô ma a món ni auê

O mistério do Orí trará conhecimento no jejum

ìbà á ṣẹ Òtúwà-kan
ibá a xé otu ua can


Reza 3

orí sán mi, orí sán mi
orí san mi, ori san mi

ori me torne melhor

orí sán igbédè, orí sán igbédè
orí san igbêdê, orí san igbêdê,

ori me torne mais inteligente

orí tánsan mi ki èmi ni owó lọwọ
orí tan san mi qui êmi ni ôuô lóuó

ori me faça brilhar e que eu tenha dinheiro nas mãos

orí tánsan mi ki èmi ni aya
orí tan san mi qui êmi ni áiá
ori me faça brilhar e que eu tenha esposa

orí tánsan mi ki èmi bímo rere
orí tan san mi qui êmi bimô rerê
ori me faça brilhar e que eu tenha bons filhos

orí tánsan mi ki èmi mọlé
orí tan san mi qui êmi mólê

ori me faça brilhar e que eu construa uma casa

orí sán mi, orí sán mi, orí sán mi
orí san mi, ori san mi

ori me torne melhor

Olúwa mi ajiki
olu ua mi ajiqui

ìwà mi a dúpẹ́
iuá mi á dukpé

meu caráter, eu agradeço


Reza 4

Orí mi yẹ́ o Já fún mi
orí mi ié o já fun mí

meu orí esteja atento lute por mim

ẹlẹ́da mi yẹ́ o! Já fún mi
élédá mi ié o já fun mí

meu criador esteja atento lute por mim


Reza 5

Bi o ba fífẹ lowó, bèèrè kan orí
bi o bá fifé louô, beere kan orí

se você quer ter dinheiro, pergunte primeiro a orí

Bi o ba fífẹ sowó, bèèrè kan orí wò fún o
bi o bá fifé xouô, beere kan ori fun ô

se você quer ter trabalho, pergunte primeiro para orí olhar para você

Bi o ba fífẹ kólé, bèèrè kan orí
bi o bá fifé colê, beere kan orí

se você quer conrtuir uma casa pergunte primeiro a ori

Bi o Ba fífẹ laya , bèèrè kan orí wò fún o
bi o bá fifé laiá, beere kan orí uô fun o
se você quer ter uma esposa, pergunte primeiro para or”i ver para você

Orí máse pẹ̀kun dé
orí máse kpé kun dê

orí não deixe de vir para cá

Lọ̀dọ̀ rẹ èmi nbọ̀
lódó ré emí unbó

é para a sua presença que eu estou indo

Wá saye mi di rere
uá xaiê mi di rerê

Venha e faça minha vida ser melhor


Retirado de ògúndá méjì

ori pẹ̀lẹ́!
Orí kpélé
 Ori!

Atètè ni rán
atete ni ran
aquele que atende rapidamente

atètè gbà mi
atete gbá mi
aquele que rapidamente me socorre

Ẹ súre fún mi níwájú àwọn Orixá (Òrìṣà)
é surê fun mi niuajú auón orixá
Você me abençoa antes de todos os Orixá (Òrìṣà)

Kò sí Orixá (Òrìṣà) le yín emi bi ori ba kó jẹ́
kô si orixá le i in emi bi ori bá kô jé
nenhum Orixá (Òrìṣà) pode me abençoar se orí não permitir.

ori pẹ̀lẹ́!
Orí kpélé

Ori!

Orí àìkú
orí aikú
ori imortal

ẹni tí orí rẹ gbà bọ rẹ ó jú yọ̀
éni ti rí ré gbá bó ré ô ju ió
aquele que o ori aceitar a a oferenda estará muito agradecido


Para lavar a cabeça

Lọwọ Ọtún awo ẹ̀gbá
lóuó ótun auô égbá
Na mão direita o adivinho de egba

Lọwọ òsì awo igbara
lóuó osi auo igbárá
Na mão esquerda o adivinho de igbara

awa máṣàì ìmọ̀
auá máxáí ímón
nós não podemos falhar em saber

bọ́ ọtún fi ọtún
bó ótun fi ótún
lavar o lado direito da cabeça com a direirta

tabi bọ́ òsì fi òsì
tábi bó osí fi osí
e lavar o lado esquerdo com a esquerda

A Difá fún Awun ni ọjọ́ ó ti lọ bọ́ orí rẹ
a difá fun au un ni ójó ô ti ló bó orí ré
Ifa foi consultado no dia que Awun foi lavar sua cabeça

lodó fún ó kó ire ọ̀pọ̀
lodô fun ô kô irê ókpó
no rio para que reunir as bençãos da fartura

Ki iwẹ́ fà wá ire owó
ki iu é fá uá irê ouô
que a limpeza traga as bem;ãos da prosperidade

Ki iwẹ́ fà wá ire ọ̀rọ̀
ki iu é fá uá irê óró
que a limpeza traga as bençãos da saúde



O sentido de “alimentar” o seu Orí


Alimento é vida. Uma refeição é uma dádiva e uma festa. Os Yorùbá são um povo do campo, fazendeiros e dão muito valor a vida a ao alimento e a água que são tão difícil de serem obtidos. Cada povo dá valor ao que lhe é importante e caro. Para os Yorùbá, a água e o alimento são muito importantes.

Mesmo para nós, quando queremos receber bem alguém sempre fazemos isso com alimento e bebida. A religião deles e sua teologia não é artificial, não foi criada em um concílio, ela existe permeando toda a sua vida e existência, assim, os Yorùbá agradam seu deus e todos os seus ministros e representantes com alimento. Flores não são uma opção para eles, alimento sim, é seu bem maior.

Eles comemoram a vida com alimento, dando, dividindo e compartilhando.

De acordo com a religião Yorùbá, axé (aṣẹ́) é a força vital de Olódùmarè que existe em todos os seres. Todos possuímos axé (aṣẹ́) e é o axé (aṣẹ́) que nos move. Mas esta força é consumida. Com o tempo e em função de atividades que fazemos ela se reduz e nos desequilibramos. Naturalmente, com o próprio tempo ela será regenerada, mas enquanto estiver fraca ou em desequilíbrio nós ficamos vulneráveis.

Um bom Orí é aquele que preserva e mantêm o axé (aṣẹ́), é aquele que usa apenas o necessário sem desperdício. Um mau Orí é aquele que não conserva e acumula o axé (aṣẹ́). Infelizmente, como vamos ver no Cosmo Yorùbá, existe um fator de aleatoriedade na escolha do Ori no Órun (ọ̀run). Isso também está explicado no Odù Ogunda Meji na história de Afawupé. Dessa maneira podemos vir com um Orí ruim e necessitamos de repor esse axé (aṣẹ́).

Contudo um bom Orí não resume uma boa pessoa. Somente pessoas que tenham um bom Orí e um bom caráter serão bem sucedidas na sua vida.

Mas mesmo para os que tem um bom Orí pode ser necessário em determinado momento alimentar o seu Orí com axé (aṣẹ́). Também por vezes é necessário melhorar o vínculo entre nós e nossa divindade Orí que esta no Órun (ọ̀run). A liturgia que realiza isso chama-se bórí (bọ́rí) palavra que é composta pelo verbo bọ́ com orí, ou seja alimentar o ori. Existe uma outra palavra Yorùbá, bórí (bôrí) que significa cobrir a cabeça. Bori, que significa alimentar o Orí.

O orí deve ser “alimentado” (na verdade, com axé (aṣẹ́)) para que possa influenciar positivamente a nossa vida. O sentido é a reposição do axé, a energia vital que usamos para fazer tudo. Com o axé (àṣẹ) nós nos conectamos com o Orí divino, nosso “anjo” guardião, que esta no órun (Ọ̀run). O alimento ao Orí vai então repor o axé (àṣẹ) e facilitar a comunicação e influencia do Orí do órun (Ọ̀run) com o nosso Orí no Aiyé.

O longo de nossa vida devemos fazer bórí (bọ́rí) muitas vezes. Algumas pessoa podem precisar disso uma vez por ano, outras em intervalo de anos, entre 2 e quatro anos.

A dificuldade disso é o maldito mercantilismo religioso do Candomblé. No Candomblé nada é de graça e pais de santo cobram pequenas fortunas para fazer algo que deveria ser obrigação deles, principalmente para as pessoas que pertencem a uma casa.

Eu, considero um absurdo os Babalorixás (pais de santo) cobrarem para os membros de uma casa como cobram para seus clientes. Eu acho um absurdo o conceito de clientela no Candomblé. Este conceito existe e não se pode negar, mas é um pejorativo para a religião.

Se quer ter acesso ao Candomblé, a religião dos orixá (Òrìṣà), então adote ela como religião. Entre para uma casa. Mas os pais de santo tratam suas casas como balcão de padaria, atendendo pessoas para jogos de búzios, ebós e Boris como se isso fosse uma coisa para ser vendida, como um pãozinho. Bom, de fato como uma picanha, uma M.Chandom....

Os pais de santo tratam seus seguidores como clientes. Na realidade eles transformam clientes em seguidores, membros da casa apenas para terem uma fonte estável de receita.

O Bori virou então a “obrigação” da moda, sofrendo todo o tipo de distorções. Um bori não tem que ser nada caro e nem nada exagerado, tem que ser algo que as pessoas possam fazer.

Os Bàbáláwo também estão fazendo Bori, mas, é uma cerimonia muito pobre. Eu nem considero o que eles fazem um Bori e nem perderia tempo com aquilo. 


Como “alimentar” o seu Orí


Existem variações em relação a cerimônia de alimentar o Ori. Temos procedimentos mais simples e um procedimento mais elaborado.

Antes disso devo fazer um comentário sobre a perspectiva de Ori dentro do Candomblé. Orí é um conceito Yorùbá, da religião Yorùbá. O Candomblé é heterogêneo, sendo formado por nações da religião Yorùbá, como o Ketu e o Efon, nações da religião Jeje e nações da religião angola.

O conceito de ori pertence a religião Yorùbá e foi copiado ou imitado pelas outras. Assim, o modelo original Yorùbá é o que é a referência. Possivelmente você encontrará gente que diz que no Jeje não é assim ou não se faz assim, o mesmo com o angola. Claro, essas nações copiaram uma coisa que eles não tinham. Dessa forma é perda de tempo querer discutir Orí entre o modelo Yorùbá e os demais, os outros são cópias.

Cada um copiou do seu jeito. O Angola copiou tudo do Ketu. Eles não tinham nenhum Candomblé, nunca tiveram, angola é Bantu e bantu tinha a macumba e a quimbanda. O que existe de Candomblé de angola aqui no Brasil só existe aqui, na África não tem nada parecido. O Jeje tem um hábito comum de agregar coisas dos outros do culto deles, assim adicionaram Orixás que não tinha (as iyagbas), Orí, Ifá, etc...

Voltando ao Ori, as cerimônias mais simples são aquelas que lidam apenas com o Orí no Aiye. Ela são feitas exclusivamente na cabeça da pessoa. Estas cerimônias menores  podem incluir apenas lavar a cabeça com ervas e as que você oferece mais alguns ítens ao seu Ori, como Obi, karité, acaça, orogbo, etc.. e até mesmo realizar sacrifícios no Ori, notadamente pombos, mas outros podem ser incluídos. Mas esta cerimônia é feita apenas na sua cabeça, não envolve a ligação Orun-Aiye. É útil para diversos casos, pode ser o suficiente mas não é um Bori. 

Essas cerimonias, são legítimas, determinadas em Oráculo e quando feitas somente com o Orí do Aiye tem um efeito restrito. São muito eficientes e mais simples de serem realizadas. 

Outras tradições da diáspora como a Santeria e até mesmo Ifá fazem somente dessa forma. É natural, essas tradições nunca souberam lidar com Ori, não entendem de fato o culto a Orí, elas apenas copiaram o que outros faziam sem entender completamente.

Dessa forma a cerimônia de Bori feita pelos Bàbáláwo de rama cubana, usando ou não pombos, são um Bori. Mas um Bori simples, de poucas horas, não se comparam minimamente com um Bori completo como feito no Candomblé Yorùbá.

O Bori completo é feito com um Igba Ori, que é a representação no Aiye do Ori do Órun. Esse Bori estabelece a ligação plena do Orun-Aiye. A cabeça da pessoa é seu Ori no Aiye e o igba Ori constitui a representação do Ori do orun no aiye. Os sacrifícios são dobrados, tudo o que é dado ao Orí da pessoa também é dado ao Igba Ori. O Igba Orí pode ser guardado ou não, mas, ele tem que existir durante a cerimônia.

A Cerimônia completa, o Bori em sí é um ritual que pode durar entre 3 a 7 dias e envolve várias pessoas na sua preparação e execução. É composto de ebós de limpeza, oferendas preparatórias, o Bori e por fim o despacho de tudo isso nas águas. Essa cerimônia envolve você e também a ligação com o seu duplo no Orun.

Essas cerimonias exigem um sacerdote, a pessoa não pode fazer nela mesma.

Se você estiver pagando por um Bori, não adianta comparar banana com maça. A cerimônia de Ifá dos Bàbáláwo cubano é muito simples e restrita na questão de reposição de axé (aṣẹ́). Ela é indicada para muitos casos mas não dá para comparar com um Bori completo de Candomblé.

Vou a seguir dar uma receita muito simples que pode ser feita por qualquer pessoa, não é um Bori, é uma cerimônia do tipo simples que envolve apenas você e não a ligação Orun-Aiye. Muitos podem reagir considerando uma idiotice ou marmotagem minha ensinar pessoas a alimentarem o seu Ori porque isso exige um sacerdote.

Não exige.

Sem dúvida exitem muitas liturgias que exigem um sacerdote, principalmente aquelas que requerem a manipulação de axé (aṣẹ́). A presença de uma pessoa preparada é necessária quando se tem que receber axé (aṣẹ́) transmitido por outras pessoas, ou quando se vai fazer um Ebó (Ẹbọ) de limpeza, por exemplo. O sacerdote é um “operador” qualificado para esta operação.

Contudo se você vai fazer uma oferenda ou mesmo alguns tipos de ebós pode até mesmo fazer sozinho. Nem tudo depende de ter um sacerdote.

No caso do Bori, como estamos lidando com um processo de reposição de axé (aṣẹ́) e muito íntimo de sua individualidade não vejo porque não tentar fazê-lo. Claro que receber o Bori feito por outra pessoa é muito bom, principalmente se feito com cuidado e preparação. Uma cerimonia de Bori exige pelo menos 24 horas de permanência no Ile Axé, desde o início até o fim. Não é raro que sejam feitos em 3 ou 7 dias. Essas liturgias são reposições intensivas de axé, “axé na veia”.

Mas, mesmo sem toda essa complexidade você pode fazer isso para você. Algumas restrições se aplicam. Isso é para ser feito por pessoas que sejam iniciadas ou que já tenham recebido Bori, de preferência que no mínimo sejam ou tenham sido abians de alguma casa. Tem que haver intimidade com os procedimentos e com o orixá (Òrìṣà).

Não faça isso em outras pessoas ou ajude outras pessoas se você não é um sacerdote qualificado para tal. Uma coisa é a própria pessoa fazer em si mesmo outra é você, despreparado participar disso.

É claro que fazer isso através de um sacerdote é muito melhor por ser uma pessoa que recebeu orientação e axé (àṣẹ) para isso, mas a religião também é para todos. Contudo de fato fazer isso requer alguma prática e pessoas que nunca viram ou fizeram esse tipo de comida podem ter dificuldade. Infelizmente é assim mesmo.

Tudo nessa religião tem significado, assim, não ignore materiais e indicações de uso.

Material necessário:

Esteira baiana

pano de cabeça com capuz

manteiga de karité

obi de 4 gomos (rosado)

2 lençóis

coco verde

água mineral

2 bacias de ágata

ervas frescas: manjericão, elevante, saião, colônia, macaçá


Preparação:

Lave as ervas frescas, separe as folhas e quine as folhas com agua até que sobre apenas uma “massa” de folhas masseradas. Faça isso em uma bacia branca de ágata. De fato, isso requer alguma prática. Separe 4 folhas de saião inteiras e coloque em uma vasilha com água.

Deixe o banho nessa bacia por algum tempo. Depois coe todas as folhas deixando somente a água. As folhas devem ser despachadas no mato.

Separe um lugar para fazer isso que seja limpo, isolado e tranquilo.

Coloque a esteira baiana e cubra com lençol branco. Coloque o Obi dentro de uma vasilha com água. Deixe ao alcance a manteiga de karité e as folhas de saião. Coloque a bacia não usada na sua frente e se ajoelhe diante dela. Reze para Ori.

Lave primeiro a sua cabeça com água mineral. Apenas jogue a água por toda a cabeça e deixe escorrer para a bacia que fica abaixo deu sua cabeça (você está ajoelhado, em cima da esteira com a bacia a sua frente, abaixo de sua cabeça.).

Abra o coco verde e faça a mesma coisa, deixe a água do coco escorrer por toda a cabeça lavando-a. Por fim derrame o banho de ervas vagarosamente, escorrendo o banho com as mãos e lavando toda a cabeça. Use a reza de lavar a cabeça, reze ela enquanto faz isso.

Espera a água escorrer toda, limpe o excesso em seu rosto e pescoço com uma toalha, mas não enxugue sua cabeça.

Abra o obi de 4 gomos, separando todos os gomos. Retire o “olho” que fica nos gomos. Pegue a manteiga de Karité e faça um montinho em cima sua cabeça. Afaste o cabelo e coloque ela em contato com o couro cabeludo. Coloque os gomos do Obi em cima da manteiga, um gomo em cada lado. Cubra isso tudo com a 4 folhas de saião e coloque o pano de cabeça com capuz por cima disso tudo tampando a sua cabeça. Prenda o pano de cabeça (isso também requer alguma prática....).

Observe você deve fazer isso sozinho.

Durma na esteira (pode usar um travesseiro) por pelo menos 3 horas mas recomendo passar toda a noite. Quando levantar retire o pano com tudo o que está na sua cabeça. Esse material deve ser despachado em agua limpa, de rio, nunca jogue na rua, no lixo ou no mar.

Pode tomar banho normal lavando a cabeça. Não tome sol na cabeça até o meio dia. Na noite que fizer isso você não sai de casa.

Observem que este é o procedimento mais simplificado possível. Somente faça quem se sentir à vontade para isso. É claro que quem sabe e tem prática consegue fazer com facilidade e um sacerdote faz isso com mais complexidade, adicionando comidas para o Orí.

Mas eu apenas quis mostrar que não precisa ser complicado, por ser simples.