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terça-feira, novembro 16, 2010

Assentamento de Odù no Candomblé

Assentamento de Odù no Candomblé

Existe uma prática já antiga de se fazer o assentamento de um odu. Faz-se isso, normalmente, com o Odù Obará que é associado com prosperidade pelo Candomblé, assim entendendo que a lógica seja que, ao se assentar um odu, estará se atraindo prosperidade para sua vida.

Seguindo a lógica de que o problema não são os errados e sim os silenciosos eu trago esse assunto para comentários.

Me inscrevi em uma lista de e-mails que promete revelar, diariamente, fundamentos se Candomblé e em um dos últimos veio isso sobre esse assentamento:

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Um Assentamento só pode ser feito através de um ritual, o qual envolve uma grande variedade de materiais: folhas, rezas, animais… Tudo ligado ao fenômeno da natureza que se quer Assentar, ou seja: tudo ligado ao Orixá que se quer assentar.

O Orixá, vendo e gostando daquilo que está sendo feito no ritual, vai se aproximando e tomando "vida". Ficando aquele assentamento(que representa o "corpo" do Orixá), impregnado com a sua essência.

Portanto, assentar um Orixá é dominar um fenômeno da natureza: para que nos traga benefícios, através dos presentes que lhe são ofertados; para que nos traga, vida longa, prosperidade, felicidade, filhos, vitórias...

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O que não está correto nisso?

Todo mundo tem direito a sua opinião.

Em primeiro lugar eu gostaria de informar a todos que odù é uma energia transitória, uma resposta que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) nos envia através do oráculo e que traz em si o diagnóstico do problema e também sua solução.

Odù não é um Orixá, não é uma divindade, é uma resposta de Olódùmarè, através de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) aos nossos problemas. Odù não é o problema ou o mal que a pessoa tem. Odù é o remédio para o problema que você tem. Mais que tudo, Odù é a forma como Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se comunica com seus Bàbáláwo, seus representantes.

Assim se você vai no médico e te receitam um anti-térmico, é porque tem febre. O anti-térmico não é o seu problema, ele não causa a febre, ele resolve o que você tem, a febre.

É claro que, com um pouco de prática, observando uma receita, podemos deduzir com algumas perguntas adicionais qual a doença que a pessoa tem. As perguntas adicionais são devido ao fato que muitas vezes um remédio serve para mais de um mal.

Assim é Odù, sempre é a solução e não o problema que você tem. Odù é a resposta de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà).

Candomblé é muito centrado em Orixá. Muita gente substituiu o conhecimento teológico ou teogônico da religião por associar tudo a Orixá. Foi uma simplificação, assim como também os Orixás foram sendo simplificados. Mas nem tudo é Orixá e nem tudo pode ser tornado equivalente a Orixá.

Da mesma forma como não se toma remédio sem ter doença, Olódùmarè não dá um Odù para quem não tem nada e não se chama um Odù como se chama um Orixá, veja são coisas diferentes.

As divindades nesta religião são os Orixás. É a eles que rezamos, agradecemos e pedimos. São eles os representantes de Olódùmarè. Odù não é divindade é uma resposta energética, axé que Olódùmarè nos envia.

Eu sei disso porque sou Bàbáláwo, lido com oráculo todo o dia e lido com Odù. Eu sei o que significa Odù. Odù é a linguagem que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se comunica com o Bàbáláwo e é uma resposta imediata, para aquele momento para a pessoa. A cada consulta a Ifá um novo Odù aparece com novas mensagens e indicações que o Bàbáláwo deve interpretar e explicar ao consulente.

A vinda de Ifá para o Brasil trouxe muita luz sobre a questão de Odù, sobre o culto e o oráculo de Ifá. Foi possível entender que tudo ou quase tudo que se dizia sobre esses assuntos era pura besteira. É equivalente ao que Verger fez, quando foi na África e trouxe verdade ao monte de bobagens que eram ditas no Candomblé sobre a religião e sobre Orixá (Òrìṣà). Verger foi lá, viu o que era verdade e trouxe isso para cá.

Isso foi uma revolução. Eu lamento apenas que os Cubanos não tenham tido o Verger deles, teriam aprendido direito e evitado um monte de besteiras que fizeram.

A vinda de Ifá fez o mesmo. O tema de Ifá no Brasil era e ainda é dominado por um monte de sandices.

Odù não é Orixá e não deve ser tratado como Orixá. E uma mensagem e uma energia e é invocado por um Bàbáláwo através do opon (Ọpọ́n Ifá) do iyerosun e por rezas. Ele é transitório, é uma energia de resposta a um problema. Se é transitório, se é uma energia de resposta não existe razão para você tratar de forma equivalente como trata um Orixá.

Como eu disse o Candomblé traduz tudo na forma de orixá (Òrìṣà). Aqui no Brasil vários aspectos da teologia e teogonia foram orixalizados, substituindo divindades originais por orixá (Òrìṣà). Foi um processo de simplificação, mas, foi de uma maneira, eficiente.

Mas, isso pode fazer com que as pessoas achem que tudo é orixá (Òrìṣà) e nesse caso, as pessoas fazem associação de orixá (Òrìṣà) com Odù de desta maneira acham que podem fazer assentamentos. A explicação que eu fiz revela isso. Ela também mostra uma visão ingênua e infantil da religião, mas isso é outra coisa.

Um igba ou assentamento é um elemento de ligação entre o orun e o aiye, um elemento que liga partes que já existem e estão conectadas.

O Igba é sempre uma representação no Àiyé de alguma coisa que existe no Órun (Ọ̀run).

Você se liga com orixás e divindades que você já tenha. O assentamento é um elemento de amplificação dessa ligação através da representação aqui do elemento do Órun (Ọ̀run).

No Candomblé quando montamos um assentamento estamos ligando coisas que já estão conectadas entre si ou que serão conectadas através de cerimônias de iniciação ou de sacralização. Não estamos inventando ligações que não existem ou criando ligações. Essa é a forma do Candomblé entender.

Contudo, um Odù não é uma divindade. Ele não existe perene e não tem vinculo com ninguém é uma energia transitória, enviada, e no fundo representa um desequilíbrio. Quando algo vai mal o Odù mostra qual é esse desequilíbrio e o nosso trabalho é reestabelecer o equilíbrio.

Assim, assentar um Odù é tratar um odù como algo que ele não é. O Candomblé não pode querer orixalizar tudo, não pode orixalizar Ifá e um Odù. Esse não é o caminho da sabedoria, é apenas o caminho da mistificação.

Não adianta não entender uma coisa, Odù e para poder resolver as coisas que não entender fazê-lo significar o que ele não é, Odù não é um orixá (Òrìṣà) e não pode ser assentado.

Quem lida com Odù é Ifá, são os Bàbáláwo, o Candomblé vai ter que entender isso e o entendimento de Ifá é o que eu estou tentando explicar, Odù é a linguagem que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se comunica com os Bàbáláwo, Odù não é orixá (Òrìṣà).

Não é achando que assentar um Odù que vamos trazer prosperidade, aliás assentando obará. Se fosse assim, todo mundo no Candomblé era rico, o que não é verdade!

Pode ser então que os Candomblecistas tenham feito voto de pobreza e só clientes podem ter esses potes mágicos de prosperidade. Você acredita nisso?

O Candomblé entende muito bem de Orixá mas as pessoas não podem tratar todo os assuntos da mesma forma. Os caras acham que o que funciona para uma coisa funciona para outra, ou então como eles sabem fazer as coisas daquela forma, tudo tem que ser feito igual.

Você não vai invocar um Odù porque esta colocando 6 coisas de cada tipo. Alguém acha que fica alguém la no Órun (Ọ̀run) olhando para cá e quando vê que colocaram 6 em vez de 8 ou 9 estão invocando Obará? Não seja tolo. Mas é assim que os caras que vendem isso fazem, não riscam nenhum odu ou rezam. Apenas contam a quantidade de coisas que colocam.

Você vai a Ifá e a um Bàbáláwo que vai consultar o oráculo e este se comunicará com eles através de um Odù. As pessoas recebem o Odù que representa o problema que elas têm e as mensagens que elas precisam ouvir para mudar a vida delas.

É tolice achar que um Babalorixá (Bàbálórìṣà) vai invocar um Odù e que vai fazer isso fazendo um assentamento com elementos de 6 em 6 e colocando isso em uma forquilha em alguma árvore.

Um Bàbáláwo não olha para uma pessoa e diz, vou chamar o Odù tal para te ajudar. Que asneira se fosse assim. Quando um Bàbáláwo senta para fazer a consulta ele não tem a menor ideia de qual Odù será desenhado.

O importante na vida é equilíbrio. O Odù é um instrumento de estabelecer o equilíbrio.

Não podemos trazer um desequilíbrio para nossa vida. Em Ifá a gente é muito cuidado com Odù, não riscamos, não falamos, não rezamos sem sentido. Somente se ele sai em uma consulta ou se vai ser usada em um ebó ele será utilizado e depois disso, acabou. Próxima consulta novo Odù.

Por fim, nesse texto bobo, que iniciei este texto, algumas ideias de verdade me deixam aborrecido, como ligar fenômeno da natureza a orixá e ao que fazemos. Quer dizer que vamos “dominar” um fenômeno da natureza? Olha acho que os pais de santo vão ficar milionários controlando furacões, incêndios, inundações. Mas, também pode ser linchados quando as pessoas acharem que são nossa divindade que estão provocando catástrofes.

Além disso ele fala de Odù e depois diz que é o orixá no assentamento, enfim, isso é uma bobagem só. Fazer assento de Odù á é ruim, querer explicar com essa inteligência toda vira uma obra de arte.

Não seja idiota. Não jogue seu dinheiro fora fazendo assentamento de Odù.

Faz assim, manda a pessoa fazer para ela mesma e sair distribuindo dinheiro pela rua e que não seja o seu.



sexta-feira, novembro 12, 2010

Por que as pessoas mortas são enterradas ?


A estória abaixo foi retirada do livro "Folk Stories From Southern Nigeria" Contos populares do Sul da Nigéria de Elphinstone Dayrell, [1910]

No começo do mundo quando o Criador fez os homens e as mulheres e os animais, todos eles viveram juntos na terra da criação. O Criador era um grande chefe, cuidava de todos os homens, e um ser muito bondoso, que ficava muito triste, sempre que qualquer um deles morria. Então um dia ele mandou para o cão, que era seu mensageiro principal, e lhe disse para ir para o mundo e transmitir a sua palavra a todas as pessoas que para no futuro, sempre que qualquer um deles morresse o corpo era para ser colocados em um recinto e cinzas de madeira seriam lançados sobre ele, e o corpo era para ser deixado sobre o solo, e em 24 horas se tornaria vivo novamente.

Quando o cão já tinha viajado meio dia ele começou a se cansar, assim, como ele estava perto da casa de uma velha senhora, olhou para dentro e vendo um osso com alguma carne nele ele fez uma refeição dele e depois foi dormir,esquecendo-se inteiramente a mensagem que tinha sido dado a ele para entregar.

Depois de um tempo, quando o cão não retornou mais, o criador chamou uma ovelha, e enviou-o para fora com a mesma mensagem. Mas as ovelhas era muito tolas e estando com fome, começaram a comer as ervas doces pelo caminho. Depois de um tempo, porém, ele lembrou que tinha uma mensagem para entregar, mas esquecera qual era exatamente, assim quando ela andou entre o povo disse-lhes que a mensagem que o Criador lhe havia dado para dizer às pessoas, é que sempre que qualquer um deles morrer eles devem ser enterrados debaixo da terra.

Pouco tempo depois, o cão se lembrou da sua mensagem, então ele correu para a cidade e disse às pessoas que elas deveriam colocar as cinzas de madeira sobre os corpos e deixá-los no solo e que eles iriam voltar à vida depois de 24 horas. Mas o povo não acreditou nele, e disse: "Nós já recebemos a palavra do Criador pelas ovelhas, que todos os corpos devem ser enterrados."

Em conseqüência disto os corpos dos mortos são sempre enterrados, e que o cão não é desejado e não confiável como um mensageiro, se ele não tivesse encontrado o osso na casa da velha e esquecida a sua mensagem, os mortos ainda poderiam estar vivos.

A questão da cobrança em Ifá

A questão da cobrança em Ifá


A questão da cobrança de valores sempre foi um caso sério. A gente ve tudo de ruim em torno disso. Existe também uma pressão devido a prática kardeista que abomina a cobrança, assim não cobrar é ético e cobrar é não ético. São religiões diferentes e o que não é ético é se comportar apenas motivado por dinheiro, lembrando que um Babalawo nunca será rico é assim que econtramos nas histórias é assim que os babalawos dizem. Não que eu esteja dizendo que olodumare recrimina os que assim não se comportam ou que nosso orixá nos virara as costas, não, estou dizendo isso apenas pelo aspecto ético. Mas o pior de tudo é ouvir que a pessoa só cobra porque “o anjo da guarda dela exige”.

No odù ofun ogbe Orunmila usa seus próprios materiais e dinheiro para fazer o sacrifício para Orixa nla (oxala) e depois é compensado em 200x vezes o que gastou.

Mas no odu ogbe meji existe uma história muito direta sobre o assunto e que é usada como explicação porque um babalawo cobra por seus serviços.

Ogbe meji (orunmila) veio para a terra para trazer o bem e fazer o bem a todo mundo. Ele incansavelmente dia e noite ajudava a todas as pessoas que encontravam e que o procuravam e nada exigia delas para isso. A benevolência do jovem eji ogbe o fez muito popular e sua casa tinha uma fluxo imenso de pessoas que o procuravam pedindo sua ajuda, dia e noite.

Ele curou os doentes, fez sacrificios para os pobres, ajudou mulheres estéreis a terem filhos e garantiu o nascimento seguro de crianças de todas as mulheres gravidas que o procuravam.

Com essas atividades ele ganhou muita admiração dos beneficiados mas também ganhou inimizades dos sacerdotes mais antigos que ele que não se uniam a ele em seu altruismo e benevolencia.

Um dia cansado ele dormiu e seu ori veio em seu sono o advertindo que esses sacerdotes estavam conspirando contra ele. Ele acordou de manhã e logo foi para o oráculo. Ele procurou os sacerdotes Osigi sigi le epo, usee mi ookagba igba e abu kele kon lo obe ide que juntos consultarem Ifá para ele eles o aconselharam a....

... Os outros sacerdotes que se sentiram atingidos e prejudicados em seu modo de vida porque ogbe meji fazia milagres sem cobrar nada foram para o Orun um depois do outro para relatar a olodumare acusando eji ogbe de os prejudicar ao introduzir um novo código de comportamento o qual era totalmente estranho à ética no aiye.

Ogbe meji por sua parte não tinha vida própria porque gastava todo o seu tempo a serviço de outros. Quando as crianças tinham convulsão ele era chamado, quando gravidas precisavam de ajuda ele era chamado, etc..

Olodumare ouvindo esses relatos enviou Esu a terra para trazer eji ogbe de volta. Esu usou de discrição como uma estratégia para trazer eji ogbe de volta ao orun. Ele se transformou em uma pessoa sem emprego, procurando por um trabalho e foi bem cedo a casa de eji ogbe. Chegando lá ele implorou a ogbe meji para lhe dar um trabalho que o permitisse a viver. Eji ogbe disse que não tinha como dar um trabalho a ele porque ele trabalhava de graça para as pessoas do mundo.

Como ele ia comer o seu desejum ele chamou o visitante para comer com ele, mas esse disse que não se qualificava para comer no mesmo prato de ogbe meji assim iria comer após ogbe meji ter comido. Contudo enquanto essa discussão se dava uma nova pessoa aparecia pedindo ajuda, ela disse que o seu unico filho estava em convulsão e ela queria que eji ogbe viesse reviver o garoto.

E assim se foi o dia todo resolvendo duvidas, brigas e disputas. O sol já se punha quando eji ogbe sentou para comer seu desejum matinal. Ele insistiu para o visitante comer com ele mas esse disse que somente depois iria comer. Quando ele começou a comer Esu se transformou em Esu e eji ogbe viu que o seu visitante era um enviado de olodumare.

Ele parou de comer e perguntou que mensagem teria para ele, e esu disse que olodumare queria ve-lo no orun. Esu o abraçou e eles foram transportados para o Orun. Tão logo chegando lá ele ouviu a voz de olodumare perguntado a ele, eji ogbe, por que estava criando tanta confusão no mundo!

Eji ogbe se pos de joelhos para dar a sua explicação mas, esu, se pos a frente e se ofereceu para explicar. Esu explicou que olodumare em pessoa não poderia estar fazendo tanto quanto eji ogbe no aiye. Ele disse que desde cedo e sem tempo até para comer, eji ogbe estava a serviço da humanidade sem receber nenhuma recompensa por isso.

Esu disse que eji ogbe fazia no aiye a mesma coisa que fazia no orun e que por isso ela estava apenas aborrecendo os sacerdotes que eram amantes de dinheiro.

Olodumare disse que eji ogbe se levantasse dos seus joelhos e que voltasse para o aiye e continuasse o seu bom trabalho, mas, que cobrasse um valor razoável por seus serviços, mas continuasse a ajudar a quem necessita e que receberia por isso as bençãos dele olodumare.

A interpretação de uma história depende sempre do interlocutor, não existe uma interpretação única ou mesmo sentido literal. Essa história justifica o fato de os babalawo cobrarem por seus serviços. Também mostra que fazer o bem é o que se espera de uma boa pessoa e não trocar benfeitorias por dinheiro é o que de melhor se poder esperar de uma pessoa; mostra também que as pessoas se incomodam com o bem que você faz e não com o mal que você as traz.

Enfim, muitas interpretações podem ser feitas por cada pessoa.