Odus
negativos no Candomblé
Revisão
3
Quando posso, ou
podia, eu assisto a programas de rádio sobre Candomblé aqui no Rio.
Podem ser ouvidos pela Internet também, existem 2 rádios que
tradicionalmente tem esses programas normalmente no horário noturno
e a partir das 21:00.
Olha,
eu ouço, mas é um verdadeiro FEBEAPA, como diria o já falecido
Stanislau Ponte Preta. Sim, um festival de besteira, mesmo para o
Candomblé, onde é difícil falar que algo que não é besteira. É
inegável o caráter comercial que os programas têm. O
objetivo dos
programas
é só esse,
atrair clientes e, se eles não tivessem sucesso nisso,
não existiriam os programas.
Temos
que lembrar que existe vontade para tudo e quem os procura, o faz de
livre e espontânea vontade. Igualmente quem os ouve faz porque quer.
Dessa forma, cada um avalie o que é bom ou ruim para sua vida.
Eu
tinha vontade de, de vez em quando, fazer uma coletânea das
besteiras que eles falam, mas, meu tempo não é lixo para eu falar
de lixo. Assim vou tocar em um ponto apenas que é relevante para eu
que sou Bàbáláwo, que é o caso de Odu
negativo.
Lembro
a todos que eu já falei aqui que a maior parte dos Babalorixas e
Iyalorixas de Candomblé, que se promovem falando de Ifá e Odù, não
tem a menor ideia sobre o que estão falando.
Eles nada sabem e não
tem ideia do que seja Odù ou Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà).
Eles apenas
usam isso para impressionar as pessoas e torná-los diferente dos
demais, arrotando um conhecimento que não tem. Repetindo,
Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
e Iyalorixá
(Ìyálòrìṣà)
de Candomblé não sabe nada de Ifá, de Odù ou de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà).
O
que se fala de Odù no Candomblé não é Ifá. O
ifá que o Candomblé diz que têm,
foi criado aqui na década de 90 e foi retirado do livro do Maupoil,
principalmente e de
outros, poucos, que na é poca ficaram conhecidos.
Esse livro, Maupoil
- A Adivinhação Na Antiga Costa Dos Escravos,
é muito antigo, fala do Benin e de Fá, uma variação do Dahomey.
Não é Ifá e não
está ligado com a religião yorùbá
e, o que tem no livro e foi copiado pelo Candomblé, esse
conhecimento, não
tem em Ifá de
verdade.
Isso é uma coisa de
livro, antigo, ou de uma culto que eu, como Bàbáláwo
e pesquisador, desconheço.
O
nosso Ifá do Candomblé, com seus significados de Odù, é uma
Jabuticaba, só tem aqui no
Brasil, no Candomblé.
O
que posso dizer aqui de forma simples, é que é uma jabuticaba. O
Candomblé criou um Ifá e um Odù só para ele.
Essas
pessoas falam de um Ifá que não é o de verdade. Esse
Ifá que os Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
e Iyalorixá
(Ìyálòrìṣà)
dizem que sabem e explicam é algo que eles constroem na cabeça
deles. Eles partem dessa de Ifá que foi inventada aqui na década de
90 do século XX e derivam e criam conhecimento e entendimento.
Eu posso afirmar isso
baseado em várias coisas.
A primeira é que sou
Bàbáláwo
e sei, hoje, como é Ifá. Eu pratico isso e conheço os versos de
Ifá. A segunda é que eu já fui do Candomblé e aprendi esse Ifá
do Candomblé. Antes de ir para o culto de Ifá eu, no Candomblé
acreditava nisso que esta por ai, e pratica da forma como o pessoal
aqui no Brasil diz que deveria ser. Por fim, eu pesquisei sobre o
tema e sei como isso nasceu e se desenvolveu.
É importante que
entendam isso.
Aqui no Brasil foi
criado um Ifá que,
na ausência do culto de Ifá no Brasil, foi
construido
da
cabeça de pessoas
daqui. O que eles
chamam de Ifá, Odù e Itan, são coisas que eles aprenderam de
fontes ruins, inventaram e foram se copiando, o que transformou
muitas informações em erros.
Se você é do
Candomblé, como eu fui, e aprendeu esse Ifá, lamento, não é nada
disso.
Aliás,
o processo que eu entendo que ocorreu foi esse da cópia e
reprodução. Alguém descobriu algum material, talvez até correto,
saiu repetindo e criando em torno disso, outros pegavam o que esse
falou e fazia a versão dele e por ai foi. Acabaram criando uma
cultura própria, sem nenhuma base.
O
livro do Bernard Mapouil foi a principal fonte do Candomblé e em
torno disso criou-se conhecimento próprio. Mas a partir desse
material e na ausência de algo melhor, o tema “viajou” muito.
Eu sei quem foram as
pessoas que iniciaram esse conhecimento aqui e posso dizer que TODAS
ELAS, se iniciaram em Ifá quando os cubanos e nigerianos chegaram no
Brasil e essas pessoas abandonaram esse método que elas ajudaram a
divulgar.
Pessoas como o Pena, o
Portugal, o Adilson e mais alguns outros que desenvolveram esse tema
em livros, apostilas e aulas. O método e o conhecimento que elas
ajudaram a criar e divulgar ficou para trás, elas procuraram Ifá de
fato porque sabiam que o que fizeram era uma coisa particular.
Isso gerou vários
desentendimento, que hoje a gente tenta explicar, não é fácil
porque ainda tem muita gente que continua a usar e promover esse
conhecimento.
Um
desses assuntos está
no uso do termo Odu
negativo.
Aliás,
a primeira coisa a lembrar é sobre o continuado uso de determinar
Odu através de data de nascimento. Leitores, por amor ao seu Orixá,
isso
é uma idiotice.
Já expliquei no Blog. ISSO
NÃO EXISTE. É
uma bobagem, uma besteira. Não faça isso e nem acredite nisso. Se
alguém fala sobre numerologia e Ifá é basicamente porque esta
pessoa é ignorante e não sabe nada, mas nada mesmo, de
Ifá.
Numerologia
é numerologia, Ifá é Ifá. Não existe vínculo!
Se a pessoa pede sua
data de nascimento, faz umas contas, risca aquela cruz no papel e
coloca 4 Odù
nela e sai explicando sua vida com aquilo, acreditem isso não é
Ifá. Pode ser algum outro conhecimento esotérico que eu não
conheço.
Repito, já fiz isso ai
como qualquer candomblecista, achava o máximo, mas, pesquisando e
aprendendo, descobri que isso não existe em Ifá. Se isso existe é
porque é parte de outra coisa.
A
outra coisa grave é quando a pessoa amarra nisso a afirmação de
que saiu para essa pessoa um Odù
negativo. Veja,
a pessoa não está se referindo a que naquela consulta o Odù é
negativo para aquela pessoa. Na cabeça do olhador, Odùs são coisas
do mal, com raras exceções, trazem coisas e
problemas
gravíssimos.
É
assim que descrevem Odù, exceto
Obará que sempre é positivo, porque isso interessa a eles,
todo o resto, são
situaçõs gravíssimas.
Assim
Osa é sempre negativo, Owonrin, eji ologbon, eji onile e outros que
não lembro agora, também. Na
visão desse olhadores, Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
e Iyalorixá
(Ìyálòrìṣà),
os Odù significam alguma coisa negativa que é trazida naquele
momento para a sua vida, tipo uma praga que você pega durante o jogo
deles.
Você está bem, entra
lá para jogar e o jogo traz então uma praga que eles vão ter que
tirar para você.
Raro mesmo é ver alguém
dizer que algum Odù é bom, todos são ressaltados pelos seus
caráteres mais graves, de acordo com essas definições de Odù que
o Candomblé inventou.
Eu,
se ouvisse isso, ficaria assustado com Ifá e Odù. Tudo é dito ser
tão sério e grave que jamais me interessaria.
Vou
repetir eu ouço as pessoas falando assim, se referindo a
determinados Odù com gravidade.
Gente,
NÃO
existem Odùs negativos por definição.
Odù
não te traz nada negativo, Odù
é sempre positivo
para sua vida.
Um
Odù pode, naquele momento, trazer uma mensagem na qual ele indica
uma negatividade ou uma positividade que
já está
presente em você e em sua vida ou vai se manifestar.
Odù
não é a negatividade. Odù é a mensagem que explica o que você já
tem e é também a benção de Olodumare trazendo a solução para
sua vida.
Odù
é o remédio não é a doença.
Não
podemos chamar o remédio para curar o câncer do próprio câncer.
Se um remédio é destinado a curar uma doença, se vemos alguém
usando-o vamos saber que aquela pessoa tem aquele problema e não que
aquele remédio é quem transmite a doença para ela.
Os
Nigerianos entendem que o Odù anuncia uma Benção, um Ire, ou então
um questionamento um Ayewo, porque eles não aceitam que ele anuncie
um mal. Você deve questionar o que não está bem com você.
Os
Cubanos também pensam assim. Para ele é Ire, benção ou Osogbo
(não benção). Eles não usam a expressão Ibi - mal.
Odù
é sempre o remédio,
é a benção que recebemos de Olódùmarè
através de Ifá.
Eu
tenho uma explicação bem simples e que qualquer pessoa pode
entender. Odù sempre é uma benção. Se você está bem e necessita
melhorar ou trilhar novos caminhos, o Odù vem positivo, ou em Ire
como falamos, trazendo esse axé adicional para você. Ele vai
alavancar a sua vida, te impulsionar.
Se
você não está bem e o Odù vem negativo, ou em osogbo, não é o
Odù que tem o problema é você, e nesse caso ele vem tirando essa
sua negatividade para normalizar sua vida.
Em
Ifá, verdadeiro, primeiro se determina o Odù e depois, usando novas
caídas e os Ìbò você determina o tipo de mensagem (Ire/osogbo
Ire/Ayewo).
Veja,
entenda, o Bàbáláwo,
primeiro determina o Odù, depois identifica se ele vem trazendo
bençãos ou se vem removendo problemas, negatividade.
Os
Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
e Iyalorixá
(Ìyálòrìṣà)
não fazem nada disso, nem sabem, nem usam Ibo. O Odù
cai e eles logo
vaticinam os problemas, qualificando o Odù como ruim só pela
identificação.
Desta
forma, em Ifá de
verdade,
qualquer Odù sempre representa uma mensagem sobre uma situação
positiva ou negativa e sempre trazendo a solução para esta
situação. Dessa maneira um Odù sempre é positivo. Ele
será negativo para
resolver e que você já tem. Não é o Odù que traz isso.
Vou
dizer de outra forma, o problema ou situação, você já tem, o Odù
é a mensagem que traz a forma de resolver isso. Ele não é o
problema, ele sempre vem resolver sua situação.
NÃO
existe isso de dizer que determinado Odù seja por definição
negativo ou que tenhamos nos 16 Odu aqueles negativos e os
positivos.
Todo
Odù vem de Olódùmarè
através de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà).
Assim todo Odù é bom, é a
mensagem que explica o que você precisa
fazer para
melhorar.
Pior
é que essas pessoas sem conhecimento e escrúpulo fazem isso usando
a maldita data de nascimento. Temos então 2 besteiras ao mesmo
tempo, numerologia para determinar Odù e predefinição de
positivo/negativo. Não levem isso a sério.
Duas
coisas podem motivar eles falarem essas besteiras. A primeira e mais
provável é ignorância. Eles não sabem mesmo o que é correto.
Aprenderam alguma coisa de qualquer jeito e inventam mais para
esconder o pouco que aprenderam. A segunda é que isso é uma boa
estratégia para assustar as pessoas, sem motivo e fazer essas
pessoas os procurarem.
Vou
repetir o que eu disse no início, O tal Ifá ou Odù que o Candomblé
usa, não é o Ifá de verdade, isso foi uma invenção aqui no
Brasil.
Vou fazer outra
afirmação, 100% dos Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
e Iyalorixá
(Ìyálòrìṣà)
que jogam búzios com Odù não sabem ler nada no jogo. Eles jogam
com aurividência e clarividência. É a mediunidade deles que diz o
que eles têm para falar para você, não são os búzios jogados,
lamento decepcioná-los com isso.
Para
conhecer mais sobre Odù leia o texto
O
que é odù?