O
que você precisa saber sobre consultas a Ifá
O
objetivo desta postagem, assim como o do Blog é o de esclarecer e
ensinar com informação atualizada e de boa fonte. O que eu escrevi
nesta postagem representa a minha opinião sobre o tema. É baseado
em minhas observações, experiências e análise.
Este
não é um assunto teórico e sim opinativo.
Os
temas abordados nesta sequência serão os seguintes:
Todos
esse temas contidos no escopo da ida a uma consulta a Ifá.
Imagino
que muitas pessoas, ou todas, devem ter, no mínimo uma grande
curiosidade em se consultar no oráculo de ifá, eu já tive e isso
me levou a primeira consulta, a curiosidade. Mas seja por necessidade
ou por simples curiosidade de saber qual a diferença entre este
oráculo e os demais, já conhecidos, como búzios, cartas e até
consulta com guias de umbanda, eu gostaria de deixar aqui registrada
a minha contribuição para que esta, a consulta a Ifá, seja uma boa
experiência.
Observem
que não entrarei em aspectos de medir a qualidade de quem procuram,
isso cabe a vocês, antes de se definirem, procedam a um processo
mínimo de buscar recomendações e opiniões, como aliás a gente
deve fazer na nossa vida normal, antes de ir a algum lugar ou
contratar algum serviço. Não encare ifá de forma diferente, essa
coisa de sacerdote e de portador de valores puros ou elevados,
representante de deus, é só na sua imaginação, o mundo real tem
todo o tipo de pessoa exercendo esta atividade, sejam os bons, os
mau-caráter ou os incompetentes.
Esta
é então a minha primeira recomendação avalie bem o lugar para
onde vai.
Qual
a base teológica de consultar Ifá?
Além
da curiosidade, as pessoas podem ter bons motivos para ir a Ifá.
Conforme a teologia diz, Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) é o eleri ipin, o testemunho do nosso
destino, aquele que está ao nosso lado quando nos ajoelhamos perante
Olódùmarè e pedimos a vida que
queremos ter no Àiyé. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) testemunha
aquilo que pedimos e também o destino que Olódùmarè nos dá. Esta
informação pertence a nós, a Olódùmarè e a Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) somente. Porém quando nascemos nós esquecemos o
que foi combinado. Sendo Olódùmarè um deus distante, Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) é o único que pode nos ajudar.
Na
porta do salão de Olódùmarè esta elenini, a divindade do
infortúnio. Esta divindade é um ajogun, um dos espíritos que
apenas trazem o mal para as pessoas na sua vida no Àiyé. Ela
ouve o que pedimos e fará tudo para nos atrapalhar, afinal ela é o
infortúnio.
Conforme
está no Odù Irosun meji, nos esquecemos nossos objetivos de vida, o
dito destino, quando nascemos. Isso foi uma consequência do awo que
ao ter problemas na sua vida, volta ao órun
(Ọ̀run) para falar de novo com Olódùmarè. Este
awo, Irosun meji, se prepara para esta viagem e com a orientação de
ifá, engana elenini que sai da porta de Olódùmarè, para ir a
cozinha fazer o seu café da manhã com elementos que o awo havia
trazido através do seu ebó de ifá.
O
awo refaz seus objetivos com Olódùmarè e sai correndo de volta ao
Àiyé. Elenini percebe que foi enganada e corre atrás dele,
mas quando percebe que não vai alcançá-lo lhe arranha as costas da
cabeça até a cintura, fazendo assim a marca da coluna vertebral nos
homens. Além disso ela faz com que as pessoas se esqueçam do que
trataram com Olódùmarè. O awo Irosun meji ganha uma nova vida mas
se esquece do que pediu a Olódùmarè.
Ifá,
através de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) serve para nos relembrarmos
disso. Através de ifá Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) nos traz
orientações baseadas no destino que pedimos a Olódùmarè. Dessa
maneira ifá não é um oráculo comum que fala do passado e
presente, ou um contador de fofocas. O que ele diz esta alinhado com
o que nós mesmo estabelecemos para nossa vida. Nos momentos que
temos dificuldade e precisamos de orientação, naqueles momentos em
que já buscamos em nós as respostas e também toda a ajuda
disponível sem sucesso, nós sempre teremos Órunmila (Ọ̀rúnmìlà,
o eleri ipin, o testemunho do nosso destino para recorrer.
Além
disso, temos a questão do Orí que vamos buscar no mercado de ìdó
com Ajalá. Existe um fator de acaso na escolha do ori. Ajalá não
faz todos os Orí bem-feitos. Esta situação está explicada em uma
história bem conhecida do Odù Ogbe Yonu. Dependemos do acaso ou de
uma cuidadosa preparação antes da escolha do Orí.
Por
desconhecimento da teologia, existe, aqui no Candomblé, um sobre
valorização da questão do Orí, mas que não será aqui que vou
explicar. O Orí inu, é o elemento importante para nossa
prosperidade no Àiyé. Um bom Orí nos levará a prosperar
rápido e com menos esforço.
Entretanto
também temos que escolher no mercado de Ejigboromekun um bom iwa
pele. Sem um bom iwa pele um bom Orí não trará prosperidade, isto
esta explicado no odu Ogbe alara.
A
escolha do bom Orí é explicada no odu Ogbe ogunda, na
história de afawupe, o filho de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà). Como
está na história, quando não escolhemos um bom Orí, teremos que
lançar mão dos ebós que compensarão este problema ao longo de
nossa vida. Desta forma, através de Ifá nós determinamos também o
que precisamos fazer para prosperar em nossa vida.
Você
deve ir a ifá com essas indicações. Quando precisa tomar decisões
importantes em sua vida, quando avalia que seus esforços não estão
sendo recompensados, etc.. Ifá é o oráculo da vida, do destino,
das grandes mudanças e revisões na nossa vida.
Para
coisas comuns e normais, problemas no seu trabalho, com seu marido ou
mulher e coisas assim, qualquer vidente pode ajudá – lo, talvez
melhor do que ifá. Um bom jogo de búzios resolve nossas questões
imediatas de vida. Se você tem questões da religião para resolver,
coisas ligadas a orixá, obrigações então, o jogo de búzios,
definitivamente, é o oráculo indicado.
Mas ifá está
aberto a tudo e sempre vai ajudá-lo em qualquer situação, sejam as
questões de vida bem como as mais simples.
Ifá é parte de
uma religião
As pessoas que
dizem o contrário são aquelas que não entendem o que leem nos
versos de ifá. É provável que nunca tenham lido versos de fato e
que sejam pessoas que tenham problema com a figura e autoridade de
uma religião.
Serão pessoas que
usam Ifá para a parte mais objetiva, a consulta e o dinheiro. São
os esotéricos que querem associar Ifá a ciências.
Tudo em Ifá, na
verdade o poder e a origem de Ifá são religiosas, vêm da figura de
deus, das divindades. A explicação resumida que dei anteriormente
ilustra isso, existe um contexto divino, que envolve teísmo.
O oráculo de Ifá
se justifica dentro do contexto religioso como um todo, ele é parte
de um cosmo metafísico.
Mas,
apesar de ser parte de uma religião, Ifá não te obriga a ser
religioso ou adotar esta religião.
O
que Ifá vai lhe dizer?
Nós
dizemos que você vai a Ifá com um objetivo, para saber ou resolver
algo, mas, Ifá vai lhe dizer o que você precisa saber. Se você
quer ir a um oráculo que diga o que você quer saber então procure
os búzios, ou carta, ou a Umbanda.
A
mensagem que Ifá vai dar ao Bàbáláwo vêm representada na
forma de um Odù. Odù
é um símbolo gráfico que para o Bàbáláwo que se dedica a
aprender a religião e a teologia vai conter indicações do que deve
ser dito ao consulente.
Mas
isso não é fácil, o Bàbáláwo tem que ter um
significativo trabalho para entender o que Ifá tem a dizer aquela
pessoa.
Isso
é porque as mensagens que estão no Odù
são profundas, isto é, na maior parte dos casos, claro que têm Odù
com mensagens mais simples. O Bàbáláwo tem que ter
inteligência, paciência, conhecimento e perspicácia para explorar
o significado do Odù para a vida
daquela pessoa, isso não é um trabalho fácil. Quanto mais pratico
Ifá mais tenho certeza disso.
Esta
ênfase nesse aspecto de mensagem é devido a que a principal função
de Ifá é orientar a pessoa nos rumos da vida dela, relacionado ao
seu comportamento, suas relações, amizades e escolhas. Ifá atua no
comportamental da pessoa, para que ela mude, corrija ou melhore sua
vida com suas ações.
O objetivo de Ifá,
hoje eu tenho essa certeza, não é passar ebós e oferendas e tratar
de assunto simples e comuns do dia a dia da pessoa. Para isso você
deve ir a um jogo de búzios ou mesmo a videntes e á umbanda. Nesses
lugares você vai ter isso.
Com Ifá é
diferente, a principal coisa em uma consulta é a orientação a você
como pessoa, o que você deve mudar no seu comportamento.
Depois que você
entende isso, Ifá através dos ebó (Ẹbọ) e oferendas,
vai te ajudar nisso, nessa mudança ou correção. Desta maneira não
é o objetivo de ifá fazer ebó (Ẹbọ).
Assim Ifá não é
fácil para o consulente.
Mas,
não se preocupe, nem todos os Bàbáláwo entendem Ifá desta
maneira, tem muita gente que aprende apenas o básico e usa Ifá como
outros olhadores usam búzios e cartas. Assim as consultas duram meia
hora e você sai desta consulta com a indicação de muitos ebós,
uma iniciação para Ifá e com resposta para aquilo que procurou.
Anatomia
de uma consulta a Ifá
Para
evitar decepções ou ansiedades desnecessárias, é importante
entender o formato de uma consulta a Ifá, as suas fases. Entender
isso permitirá a você tirar melhor proveito da consulta.
A
consulta a Ifá é bem diferente das dos demais oráculos que vocês
podem estar acostumados, como búzios, cartas ciganas e tarot, por
exemplo. Esses últimos são bastante interativos e o olhador vai
continuamente falando com a pessoa sobre o problema e a resposta do
oráculo. A consulta termina junto com a manipulação do oráculo.
Ifá
é muito diferente. A consulta começa após a manipulação do
oráculo. Após uma breve abertura com rezas, o Bàbáláwo
vai passar um bom tempo interagindo com oráculo determinando várias
coisas até chegar nos ebós a serem feitos. Tudo isso é o Bàbáláwo
e seu oráculo, sozinhos, sem que ele fale nada com o consulente. Ele
poderá usar o consulente para interagir com o oráculo, mas este
processo não implica em explicar ao consulente o que está
ocorrendo.
Somente
após ele concluir toda a interação com o oráculo e já com o ebó
determinado é que ele vai falar com o consulente.
Pode
parecer estranho mas é assim que funciona. O Bàbáláwo precisa ter
o cenário inteiro, composto do odù principal, detalhamento dele e
do ebó para poder conversar com o consulente.
Fases
da consulta a Ifá:
As
3 últimas etapas são as que permitem a interação do cliente na
consulta. As etapas anteriores são de trabalho do Bàbáláwo com o
seu oráculo. Ele precisa de um conjunto de informações para então
poder conversar com o consulente.
Tenha
paciência para esperar. Quando ele for conversar com você, então
você terá todas as informações e poderá perguntar tudo o que
quiser e o Bàbáláwo poderá usar o oráculo para respondê-lo,
mas, existe um tempo de preparação que para o Bàbáláwo é rápido
e para você pode parecer uma eternidade.
Além
disso um Bàbáláwo não usa apenas informações de 1 Odù
para falar com você, ele usa informações de, pelo menos 3 Odù.
O que ele busca em cada Odù é
parte do trabalho dele e para isso ele deve ter conhecimento e
experiência.
Interpretar
Ifá não é simples e um bom Bàbáláwo leva muitos anos
para se desenvolver porque precisa conhecer de muitos assuntos.
A
sua conversa com ele é, então, o resultado de todas as informações
que ele reúne, do Odù principal
até os ebós. Por essa razão um Bàbáláwo não pode sacar
um Odù e já ir falando, isso é
um erro, se existe. Ele precisa montar um quadro com o que recebe.
O
uso de ikin ou opele
Na
primeira etapa da consulta o Bàbáláwo deve determinar o odù
principal que será analisado, mas ele não é o único que será
analisado. Ele é o principal, mas haverão outros complementares.
Esta determinação é feita usando os ikins ou a corrente de opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀).
Os
ikins são o principal instrumento do Bàbáláwo, eles representam o
próprio Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) para o Bàbáláwo. O surgimento
dos ikins é explicado no odu Iwori meji. Nele Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) após um desentendimento com um filho abandona o
Àiyé. As pessoas depois procuram Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) para que ele
volte, mas sem sucesso, Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) deixa então os
ikins para representá-lo. Definitivamente esta história não
encerra o tema e existem outras.
Muitos
poderão observar que se os ikins surgiram após a volta de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) para o Órun, o que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) usava
para consultar ifá? Eu lembro de ter lido uma referência a serem
usados seixos de rio, mas, não posso citar esta referência, não me
lembro onde foi e nem se pode ser considerada como válida.
Outra
questão teológica importante seria discutir que, se Ifá é
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà, como o próprio Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) consulta
ifá? Mas essa conversa vai ficar para o texto sobre teogonia.
Referencias
aos ikins em Ifá surgem em outras histórias e outros odu. A
tradição cubana, no odu ogunda ika, faz ifá nascer no aiye
nas mãos de um bebê que nasce de dentro de um elefante, morto por
caçadores, sendo que a criança nasce com cabelos e barbas brancas e
com 8 ikins em cada mão. Uma história bizarra como só os pataki
conseguem produzir.
Sem
nenhuma dúvida os ikins são a mais verdadeira e autêntica
representação de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà). Podemos
dizer que no contexto do Bàbáláwo é a única coisa que representa
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà. Um Bàbáláwo somente precisa carregar os
seus ikins consigo, mais nada.
Posteriormente
à criação dos ikins Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) pede a Olódùmarè
que lhe dê uma ajuda. O processo de consultar ifá era lento e a
demanda das pessoas era muito grande. Olódùmarè envia a ajuda para
ele, através de um escravo, de nome Alakan, que Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) compra no mercado e que ao se jogar no chão forma a
combinação dos Odù com o corpo. Esta história faz parte do Odù
Ogbe Meji. Opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀) depois trairá Órunmila (Ọ̀rúnmìlà,
é transformado na corrente que possibilita consultas mais rápidas,
esta história é narrada no Odù Obará Irosun. A história
de opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀) e Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) é muito
interessante e será contada em outra postagem.
Nesse
caso podemos ter mais uma discussão teológica uma vez que se
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) fica claro nesta história que Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) usava ikins no Àiyé. Fica para outra vez.
Explicado
isso, minha opinião é que se vocês vão a Ifá que seja para uma
consulta com ikins. Vocês devem requerer isso quando marcar a
consulta. Se o Bàbáláwo aparecer com opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀), depois que combinou antes usar os
ikins, vocês levantem e vão embora. Os ikins é que são o
instrumento principal do Bàbáláwo e a voz de orunmila.
Se
o Bàbáláwo for cobrar a mais por isso, vocês podem querer pagar
ou não. Lembrem-se que como em todo negócio sempre o que melhor
negocia se da melhor. Ele é que está vendendo, você é o
comprador, ele está tão ou mais interessado que você, porque a
consulta é apenas a porta de entrada para outros negócios que ele
vai tentar empurrar para você. Se não quiser pagar a mais digam que
não quer pagar nada a mais ou coloque na sua cabeça o quanto está
disposto a dar a mais, o Bàbáláwo que decida o que quer fazer.
Uma
consulta a Ifá sempre é longa, coisa de 2 horas, e deve ser uma
ocasião importante para você. Pode não ser para o Bàbáláwo,
mas, para você é um momento importante, ninguém vai a Ifá para
tratar de coisas banais, nem mesmo um Bàbáláwo consulta Ifá para
ele ou com outro Bàbáláwo se não for um momento importante. Não
será o ikin que vai tornar isso mais demorado. Aliás este é um
fator importante, se você vai a ifá e sua consulta leva meia hora,
então, foi ao lugar errado. Com prática o Bàbáláwo lida bem
rápido com os ikins e isso compensa o tempo a mais que vai gastar (e
gasta mesmo).
O
uso generalizado do opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀) pelo Bàbáláwo é apenas uma grande
conveniência. Ele não pode desprezar importância dos problemas dos
consulentes. Mas ao lidar muito com o opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀) ele perde a prática de usar ikin.
O
opele (Ọ̀pẹ̀lẹ̀)
é ótimo em muitas situações. O Bàbáláwo o usa muito, é um
instrumento bom, simples e rápido para sacar odù, sem dúvida.
Quando se precisa fazer perguntas de sim/não em sequência e
quantidade ou quando se vai lidar com consulta a problemas não
complexos, decisões e orientações, o opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀) é ótimo. Como eu disse, Ifá suporta
a gente nas questões importantes e também nas simples.
.Entretanto
é minha visão que quando a pessoa procura ifá com questões
importantes para ela e sua vida que o instrumento do Bàbáláwo deve
ser o ikin. Mais do que isso, minha opinião é que o instrumento
preferencial do Bàbáláwo é o ikin, deixando o opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀) para casos menores, problemas menores
e também para agilizar o seu trabalho. Mesmo em uma consulta com
ikin, o opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀) tem seu espaço, mas isso não é
assunto para aqui, existe um texto neste Blog sobre isso e um vídeo
no canal.
Posso também, com minha experiência, resumir com a seguinte fala.
Ir a um oráculo de Ifá já é um ebó (Ẹbọ). O jogo é
um ebó (Ẹbọ). Mas, na minha visão isso é assim apenas
quando o Ikin é usado.
O
valor da consulta e de trabalhos adicionais
O
valor de uma consulta a Ifá está ligado ao mercado disso, o mercado
de consulta a oráculos. Para este mercado não existe especialização
o que importa é a eficácia, a rapidez que se resolvem problemas.
Ifá não é eficaz, é eficiente, com o suporte de ifá você poderá
resolver problemas da sua vida e decisões de maneira definitiva.
Não
entre na idéia de que tudo que é bom é caro. Uma consulta a Ifá,
se bem-feita vai te dar orientações e conselhos. É isso que você
está pagando. Um Bàbáláwo não pode almejar ser rico. Ele pode
almejar que em função da dedicação que Ifá exige e do prazer e
realização que ele sente em fazer aquilo, que Ifá possa
sustentá-lo. Todas as religiões sustentam os seus sacerdotes, ser
um sacerdote remunerado por este ofício não é nada demais.
Pagar
a um Bàbáláwo pela consulta é completamente natural. Os espiritas
( kardecistas ) que são elitistas e arrogantes, além de
representarem um embuste ideológico, inventaram que a prática da
religião deveria ser caridade, porque é um dom divino. Isso é tão
fraudulento e elitista como era o barão de coubertain que criou as
olimpíadas modernas somente para amadores (Ele apenas queria
afastar, como fez por muito tempo as classes mais pobres da disputa).
Padres
são remunerados, monges são sustentados, literalmente pelas
comunidades onde vivem.
Ifá
exige dedicação e gastos para se manter. Mesmo pessoas que
trabalham e são Bàbáláwo precisam cobrar para fazer frente aos
seus gastos devido a esta atividade religiosa. O Bàbáláwo tem que
periodicamente se submeter a cerimônias e ebós devido ao exercicio
da atividade como Bàbáláwo. Lidar com o supernatural, suas
energias e os problemas das pessoas transfere para o Bàbáláwo,
suascasa e vida energias que devem ser neutralizadas.
Assim,
um Bàbáláwo cobra pelo que faz, mas, isso não é um trabalho para
ser rico. Se você procura um Bàbáláwo que seja rico ou muito bem
de vida em função do que faz, pensem muito bem, porque é você que
vai pagar pela gasolina azul dele ( como a gente falava
antigamente...).
Não
use para Ifá o mesmo raciocínio que usa para médicos, onde quanto
mais caro e mais difícil a consulta, melhor o médico é.
se
você vai a Ifá de fato, não importa se a consulta custa R$1 ou
R$10. Quem fala com você é Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà). O Bàbáláwo
é o intermediário. O divino, Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) vai falar
com você tão bem em uma consulta de 1 ou de 10. O que você tem que
saber é se aquela pessoa é de fato um Bàbáláwo e se leva a sério
o que faz.
Além
disso, você pode anotar ou pedir para que sejam anotados os Odù da
consulta e os Ebó. Isso é seu, você pagou por isso. Existe um
padrão para essa anotação. Você pode levar isso para qualquer
Bàbáláwo interpretar para você.
Essa
é outra grande diferença entre Ifá e os outros oráculos. Uma vez
feita a consulta, qualquer Bàbáláwo pode interpretar e fazer os
Ebós. Se você não gostou desse, procure outro para fazer os ebós
ou mesmo para que ele interprete para você. Nesse aspecto é igual a
médico....você pode levar seus exames para validar o diagnóstico e
receitas. Ifá é igual.
Fique
atento porque os gastos de uma consulta não se esgotam no valor
daquela consulta. Em quase todos os casos haverá sempre um ebó a
ser feito, esse é o jeito de ifá. Pode ainda envolver oferendas ou
sacrifícios a orixas, mas vou comentar a seguir isso. Nesse momento
eu chamo a atenção que, a menos que você não vá fazer o ebó
indicado ( ebó de ifa é uma coisa mais simples ) que o ebó vai
custar pelo menos o mesmo que uma consulta.
Dessa
maneira já vá montando o seu orçamento baseado nisso, você vai
gastar no mínimo o dobro do valor da consulta, certamente mais, tudo
vai depender do bom senso e ética do Bàbáláwo.
Observem,
não estou dizendo aqui que todo Bàbáláwo é aético. Estou
dizendo que vocês devem ficar atentos, não existe garantia de
virtude. Isso é vida normal, mundo real, tem gente que nem é
Bàbáláwo e finge que é.
A
questão de ire e osogbo
Este
texto não tem objetivo de explicar sobre o conteúdo da consulta e
sim fazer recomendações e explicações gerais para quem vai a uma
consulta. Mas, mesmo com este sentido não dá para não comentar
sobre o estado do odù, devido a alta significância disso na relação
de consumo cliente – Bàbáláwo.
Após
o Bàbáláwo determinar o odù principal ele deve determinar se ele
veio trazendo ire ou osogbo / ibi.
Muitos
se referem a esta parte do processo sendo como determinar se ele está
positivo ou negativo. Minha visão disso é diferente e vou explicar
a seguir. Esta diferença de entendimento, que estou propondo agora,
é significativa como um fator importante que afeta a relação
consulente-Bàbáláwo.
Como
já ocorre no candomblé e com outros videntes, o jogo é apenas a
porta de entrada para outros negócios. Vocês nunca devem perder
esta perspectiva de negócio que está envolvida porque isso é, de
fato, o que determina o resultado de muitos jogos. Entender isso
facilita o entendimento do comportamento associado às pessoas nesta
atividade oracular.
Não
é a expectativa do olhador que o atende (seja ele Bàbáláwo ou
outro) que a relação entre vocês se conclua com a consulta ao
oráculo. Quem vai a um oráculo é porque tem problemas, não vai
ali para bater papo, e o olhador é acima de tudo um profissional
para resolver problemas através do supernatural. Para a muitos
Bàbáláwos, o que ele faz não é um sacerdócio, bom, também é
um sacerdócio (da forma como ele gostaria de se ver), mas sem
nenhuma dúvida é uma profissão, ou também um negócio.
O
valor da consulta sempre leva em consideração o valor de mercado
dela, mas não é com isso que o Bàbáláwo se mantêm. O mais
relevante é a perspectiva de fazer novos negócios, de ebós a
iniciações, após a consulta (como resultado dela). Isso é igual
ao valor do jornal em uma banca de jornal. O valor que a gente paga
não deve cobrir o custo do papel. O que permite o jornal ser
impresso e circular são os anúncios que ele contém. Também como a
TV que é de graça para nós, mas mantida pelos anunciantes.
A
gente vê na praça, videntes que dizem que a consulta dele tem um
valor mínimo, incentivando assim as pessoas a procurá-lo. De fato,
a consulta tem mesmo um valor baixo, na verdade o trabalho de venda
dele será sobre o psicológico do consulente em função do que ele
vai ver no jogo (sendo criativo ou não). Ele vai trabalhar as
ambições e medos do consulente, independente dos problemas (e
gravidade) que eles tenha de fato. Afirmo que essas pessoas são boas
no que fazem, isto é, induzir as pessoas a gastarem dinheiro em
trabalhos com eles e muitas vezes são também muito boas na sua
vidência.
Outras
inovam, dizem que o valor da consulta já inclui o trabalho
posterior. Isso é só marketing. Tomem cuidado.
Com
o Bàbáláwo não é diferente.
Como
eu disse quase toda consulta a Ifá leva a um ebó, claro, existem os
casos que pode não ser necessário, mas o normal é ter mesmo e
prefiro me dirigir a regra e não a exceção. A questão de ter o
ebó é parte da estrutura do oráculo e é perfeitamente normal e
esperado.
Devemos,
em primeiro lugar, considerar que a consulta a Ifá, feita com o
Ikin, já é um ebó. Esta é uma grande diferença entre ifá e
outros oráculos.
A
origem disto está na teologia explicada no inicio deste texto.
Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) é o eleri ipin, o testemunho do nosso
destino. Vamos a Ifá para recorrer a Olódùmarè através de
Orumilá, quando precisamos de uma orientação em nossa vida para
poder cumprir o nosso destino (ou objetivo de vida). Olódùmarè
responde através de um odù. O odù não é apenas um sinal ou
desenho, os sinais o representam, mas, uma consulta feita com um
Bàbáláwo, traz o odù como a energia que Olódùmarè envia para
nos ajudar. O odù é o axé de Olódùmarè que desde o momento da
consulta através de Orumilá, Exu e principalmente dos orixá se
manifestará na nossa vida.
O
trabalho do Bàbáláwo é ser o intermediário disso e
posteriormente, através do ebó conduzir e manipular este axé para
que ele se manifeste em sua plenitude na vida de vocês e não seja
perdido. O Bàbáláwo é um intermediário desta operação assim
como o são os orixás que se apresentarão para ajudar a pessoa.
Quando
Olódùmarè criou o aiye ele sabia que a vida teria interesses mas
também dificuldades causadas pelos ajogun e ajé. Ele também sabe
que o processo de nascimento pode ter falhas desde a escolha do Ori
até a concepção física. Para que as pessoas pudessem superar tudo
isso ele criou ifá. Ifá contém a palavra de Olódùmarè através
dos seus versos e também os signos através das marcas de odù.
Essas coisas transmitem o axé do Olódùmarè para as pessoas, as
palavras de ifá rezadas a partir dos versos Invocam ou transportam o
axé de Olódùmarè.
Desta
maneira a própria consulta, com Ikins, já é um ebó. Por isso é
importante o uso de ikin e por isso o Bàbáláwo deve rezar o odu
que sai na consulta.
Toda
esta explicação teológica é para dizer que não concordo com a
visão ou forma de explicar, não importa, que as pessoas usam,
inclusive as que se dizem Bàbáláwo, de que um odù traz uma
negatividade e por isso o ebó é necessário, sem o que a pessoa
ficaria com a negatividade com ela.
Essa
visão sempre existiu no candomblé, com os babalorixás tocando o
terror com os odu, dizendo que tal odu era terrível, o outro
provocava isso ou aquilo, levando às pessoas a crerem que eles, os
odù, eram uma coisa ruim que agarrava em você e você tinha que se
livrar dela.
Isso
continua em Ifá, após sacar o odù o Bàbáláwo deve determinar se
ele vem no estado de bênção, ou ire, ou de mal, ibi. Os cubanos
não usam a palavra ibi, usam osogbo, que significa que, não é ire.
As palavras mudam mas são usadas da mesma forma.
O
uso desta interpretação de odù positivo ou negativo visa sempre o
mesmo, induzir o consulente a fazer o ebó. Como Bàbáláwo eu digo
que você deve fazer o ebó recomendado. O odu e o ebó são uma
resposta divina a sua súplica. Não fazer é desperdiçar o axé que
Olódùmarè envia para você a seu pedido, uma vez que, se você vai
a Ifá é porque pede ajuda.
Apesar
disso eu, como todo mundo, sei que o objetivo do vidente, olhador ou
Bàbáláwo é que você faca o ebó. Existe uma transação
mercantil em curso entre você e ele, e ele não quer de você apenas
o valor da consulta, ele quer muito mais. A consulta é uma porta
aberta às oportunidades. Esta é uma sombra que não pode ser
ignorada nesse processo.
Em
função disso é que o entendimento da orientação do odù é
importante, porque esta interpretação é o principal motor das
ações direcionadas ao consulente.
Cada
um deve avaliar no que acredita, o que eu posso fazer é dar a minha
visão. Neste sentido minha interpretação é que um odu sempre é
positivo porque ele é axé. O problema já está com você, o odu
sempre vem para ajudá-lo. Se você não fizer o ebó vai ter
desperdiçado o axé. Também não descarto em alguns casos,
principalmente em Ire algum desequilíbrio temporário, porque axé
demais também atrapalha.
Na
minha visão quando o odù vem em ire ele traz bênçãos para você,
axé para impulsionar sua vida, ajudá-lo a melhorar, realizar algo,
etc... Quando ele vem em ibi (também chamado de osogbo ou ayewo) ele
vem para retirar ou neutralizar um mal que o ronda, uma sombra
em você, etc... o axé do odù será usado para zerar sua conta,
deixá-lo sem a influência da energia negativa ou da eminência de
uma situação desfavorável.
Dessa
maneira odù sempre é uma energia boa. Ele pode vir para
alavancar sua vida ou para retirar a negatividade que já existe.
Minha
visão da religião é sempre positiva. Os orixá estão sempre para
nos ajudar, para trazer o bem para nós. Eu não mistifico situações,
não vejo orixás exigindo coisas, cobrando coisas ou punindo que não
os adora. Vivo bem e sem problemas com essa minha visão. A teoria na
prática é a mesma, ou melhor, o rito e a teologia são o mesmo.
Assim
eu recomendo que não se assustem com essa questão de ire ou osogbo.
Nenhum mal foi jogado sobre suas cabeças. Acreditem no oráculo,
sigam as recomendações tenham fé em deus e nos orixá. Mas, vocês
não precisam de gente prevendo o fim do mundo. Ajam com prudência e
fiquem de olho vivo nas espertezas. Depois da consulta decidam o que
querem fazer. Se a pessoa que consultaram não passou confiança ou o
ambiente que ele está ou que se cerca não é confortável para
vocês, não façam nada. Não aumente o tamanho do seu problema.
Decidam
com racionalidade o que querem fazer. Não tomem decisões por medo.
Por
fim, em anos fazendo Ifá eu posso fazer uma afirmação definitiva,
NUNCA, Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) determinou
um ebó (Ẹbọ) que aquela pessoa não pudesse fazer. Eu
disse nunca.
Já
atendi pessoas que não tinham condição de fazer nada e Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) nada pediu.
Algumas vezes pediu orações, ou trouxe o Odù
já manifestado. Eu nunca me preocupo com o que Ifá pedirá no ebó
(Ẹbọ) porque sei que SEMPRE é algo que o consulente pode
fazer.
Se
você vai a um Bàbáláwo e o resultado é algo que você não
vai poder fazer, vai ficar sem dinheiro ou ele diz para você vender
coisas ou se endividar, aconselho a se levantar e ir embora.
O
uso de ìbò
A
questão do uso de Ìbò é um pouco técnica e mais profunda e não
sei se todos vão compreender, mas, é importante comentar.
Uma
das coisas que mais torna ifá um oráculo interessante para o
consulente é o uso dos ìbò (ibô). Os ibô são objetos que o
Bàbáláwo coloca em ambas as mãos do consulente e este os
embaralha colocando cada um e uma mão mas escondidos do Bàbáláwo,
que não deve saber em qual mão está cada Ìbò. O objetivo deles é
servir para responder as dezenas perguntas de sim ou não que surgem
durante a consulta.
Um
dos objetos significa SIM e o outro significa NÃO. A cada pergunta
os objetos são novamente embaralhados. O Bàbáláwo define, às
cegas, qual a mão o consulente deve abrir e, em função do conteúdo
da mão, o tipo do ìbò, a pergunta será respondida com SIM ou com
NÃO. O que o Bàbáláwo faz é usar os ikins ou opele para, através
da ordem de senioridade dos odu determinar que mão deve ser aberta.
O ìbò determina a resposta., mas, o Bàbáláwo não sabe a
resposta antes da mão ser aberta.
Observem
que é um trabalho colaborativo. Ifá diz ao Bàbáláwo qual mão
deve ser aberta. Porém foi o consulente que colocou sem a ciência
do Bàbáláwo, o ìbò que determina SIM ou NÃO. A resposta é o
resultado do trabalho de ambos.
Chamamos
isso de interação entre o oráculo e o Orí do consulente. Usando
dessa maneira o Bàbáláwo não pode manipular as respostas, mas,
acima de tudo o consulente participa do oráculo.
Os
tipos de objetos são trocados de acordo com o tipo de pergunta,
normalmente o objeto que significa NÃO é o mesmo, o que vai
significar o SIM em cada pergunta é que muda. O objetivo do uso
disso é fazer com que o oráculo interaja com o Orí com consulente,
seu orixá individual e protetor.
Existem
Bàbáláwo que estão deixando de usar isso. Existe uma forma de
fazer o processo sem o ibô, que o Bàbáláwo emprega quando está
sozinho ou jogando para ele mesmo. O que noto e que esta
simplificação acaba atraindo as pessoas. Veja, já é uma
simplificação usar o opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀), será uma maior ainda você dispensar
o ibô. Claro que as pessoas têm explicações para isso, mas
racionalizar é um processo fácil. O complicado é fazer o que deve
ser feito.
Minha
opinião é que o uso do ìbò é uma segurança e evita que o
Bàbáláwo invente o que fazer e crie problemas que não
existem. Além disso é uma forma do consulente participar da
consulta.
A
escolha de ebós e oferendas
Após
o Bàbáláwo ter determinado o tipo e origem do estado do odù, ele
parte para definir o ebó. Esta definição pode variar entre
tradições, escolas e ramas, mas basicamente passa por determinar
primeiro os elementos que serão necessários no ebó de ifá e se
além disso será necessária alguma oferenda para uma ou mais
divindades que se apresentarem para te ajudar.
O
ebó de ifá é feito em cima do opon (Ọpọ́n Ifá) , o tabuleiro
de ifá e é um processo composto de muitas rezas. A quantidade de
elementos é bem menor do que comparado com o que se faz no candomblé
e sua preparação bem mais simples.
As
oferendas para divindades são convertidas em axé para você, orixá
não come, quem come é seu corpo. Mas existe também o caso onde a
oferenda é usada para aplacar ou afastar ajoguns ou ajés. Essas
oferendas podem ser comidas votivas ou animais. Não existe regra,
cada caso é um caso.
Mas o que eu aprendi na prática foi que Ifá nunca pede o que a pessoa não pode dar. Quando Ifá pede mais do que você pode dar é porque não é mais Ifá.
O
grande problema nesta fase é o exagero. As pessoas pecam pelo
excesso, assim, em vez de oferecerem pouco ou o mínimo necessário,
iniciam oferecendo muito e fazendo questão de incluir animais. Não
existe erro se a oferta é feita e o oráculo aprova. Contudo poderia
também ter aceitado muito menos.
As
coisas que alertei no assunto anterior, sobre os estados de Ire ou
Osogbo e a forma de ver isso, interpretar isso e explicar isso ao
cliente repercute aqui. Sem dúvida serão os "graves"
casos de osogbo de determinarão muitos ebós e com muitas coisas.
Por isso que expliquei a questão da orientação do Odù,
O
que esta envolvido em grandes oferendas é sempre a mesma coisa, o
vil metal, o dinheiro. Custa mais em material e custa mais na
remuneração pelo serviço de executar aquilo. Quanto mais pessoas
envolvidas, mais dinheiro. Ifá é diferente do candomblé neste
aspecto. No candomblé as pessoas trabalham para a casa de forma que
sempre a casa é quem recebe. Em Ifá no modelo cubano, não tem essa
de casa e egbé. Cada um que vai la recebe para isso.
Eu
digo que você deve fazer o que o oráculo indica, nem mais nem
menos. Entretanto, dosar o que vai ser oferecido para aprovação é
que são elas. Como eu alertei antes, toda vez que tem dinheiro
envolvido você deve ficar atento. Isso, o dinheiro, muda tudo.
Na
hora de determinar o ebó eu penso que sempre se começa com o pouco.
Gradativamente se adiciona e uso de animais somente em último caso.
Não que eu seja desses preocupado com animais, não sou, minha
preocupação é com o consulente.
Não
faça ebó como falta de opção. Faça se quiser e se confia na
pessoa. Você pode desistir a qualquer momento.
A
minha recomendação mais importante e valiosa é esta: se um ebó
deu certo não adianta voltar lá pedindo um reforço. Não adianta
fazer mais ebós ou fazer ebós maiores e mais complexos. Você não
ganhará mais por isso. O ebó funciona na medida certa do que tem
quer ser. Também traz o resultado certo que tem que trazer. Seria
muito fácil se fosse assim, quanto mais ebó mais resultados, todo
Bàbáláwo e babalorixá seria rico.
Uso
de estórias na interpretação
A
coisa mais importante em Ifá são as histórias dos odu. Elas são
que tem as mensagens para o consulente. A consulta será tão boa e
precisa quanto o Bàbáláwo se dedicar explorar e entender as
estórias.
Você
poderá encontrar Bàbáláwos que não se preocupam com as estórias.
Isso ocorre porque nos tratados cubanos existem 2 tipos de
informação. Existem uma série de pré – interpretações
associadas a cada odu. Muitas pessoas se preocupam apenas em aprender
isso fazendo que a consulta com elas fique muito objetiva. Os odus
saem e elas já saem dizendo o que é o problema e, com suas
respostas elas vão ajustando a interpretação delas. Como o ebó já
foi tirado ela só precisa equalizar com você uma situação que
você concorde, ai acabou.
Esse
formato é igual ao dos babalorixás de candomblé. Eles fazem
consultas com búzios de 15 minutos.
Mas
ifá não é assim, ou melhor, não deve ser assim.
Você
deve ouvir as estórias e interpretá-las junto com o Bàbáláwo
associando as estórias a sua vida. As boas histórias deixam lições
importantes para você. Acima de tudo o próprio consulente é quem
analisa se aquela estória se encaixa na vida dele. O Bàbáláwo,
através da visão do consulente sobre a estória consegue captar o
que aflige aquela pessoa, quais são seus temores e os valores que
ela tem.
A
estória permite você avaliar sua vida e seu comportamento, suas
ações e realizações. Ao se espelhar nos personagens e situações,
você tem a oportunidade de fazer uma auto – avaliação.
A
percepção deste conjunto de coisas permite ao Bàbáláwo entender
de fato a origem dos problemas do indivíduo. Ajudá-lo a entender a
origem é o que permite a essa pessoa corrigir sua vida. As pessoas
não conseguem por si só ver essa causa raiz. Elas veem os problemas
que tem como uma conspiração da vida e das pessoas ao seu sucesso.
Elas buscam no jogo alguém que, então, resolva esses problemas com
ela, esses problemas que não são dela e que estão atrapalhando sua
felicidade.
O
Bàbáláwo de verdade estará em uma consulta sempre de olho nas
causas raiz, buscará aquilo que Ifá tem a falar aquela pessoa e que
está ligada ao destino dela. Por isso que eu digo que teologia é
importante. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) é o eleri ipin, o testemunho
do nosso destino, o que ele tem de relevante a falar para nós esta
ligado a isso e é esta característica que personaliza ifá.
As
pessoas vão a Ifá com um problema, mas, na consulta, ifá vai falar
o que é importante para você saber. Depois o Bàbáláwo endereça
o seu problema, mas, Ifá diz as pessoas aquilo que elas precisam
ouvir para serem felizes e realizar o seu objetivo de vida.
O
Bàbáláwo que em vez de focar nisso se ocupa com o imediato, não
realiza a sua função como representante de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà.
Esse viés de interpretação é objetivo mas não é um bom ifá.
Para fazer isso vá a um jogo de búzios ou cartas que eles vão ser
até melhores.
Bàbáláwos
determinando orixá em jogo.
Não
tem nada pior, mais idiota e baixo do que Bàbáláwo que se mete a,
em consulta a Ifá, dizer orixá e coisas de orixá, seja para abiãs
como iniciados. Isso é um hábito ruim, sem ética e desprovido de
fundamento.
Isso
sempre foi feito pelos olhadores de búzios, babalorixás ou não.
Nunca prestou para nada, sempre foi motivo de piadas e sempre foi
baseado em arquétipos. As poucas vezes que alguém acertava era
apenas coincidência. O objetivo disso sempre foi comercial. O
olhador busca através disso, da determinação de orixá, de pegadas
que permitam a ele prender o interesse do consulente, fazer ele
voltar e comprar mais coisas dele. Orixá sempre é um gancho muito
bom, as pessoas adoram, igual horóscopo.
A
pessoa vai para uma simples consulta de búzios e já sai dali com
orixá, qualidade e juntó. É mole? Ninguém com 3 neurônios pode
acreditar nisso. Para que a feitura? Para que os ritos de feitura?
Quem passa por uma feitura ou participa entende facilmente a bobagem
que é essa coisa de orixá em jogo. Falo de feituras de verdade, não
essa coisa de 7 dias.
No
caso de ifá o que mais encontro é Bàbáláwo que não sabe nada de
orixá, dizem que sabe, falam que sabem, acham que sabem, mas
acreditam que só porque virou Bàbáláwo se transforma
automaticamente em especialista. Especialista de coisa nenhuma.
Alguns são pessoas que podem até ter convivido em uma casa de
candomblé visto e aprendido alguma coisa ou até bastante, mas, não
eram e não serão babalorixás. Não adianta se comportar como um
babalorixá frustrado, e como Bàbáláwo querer fazer aquilo que
cabe a um babalorixá de direito e com propriedade para lidar com
isso.
Outros,
nunca foram de candomblé, nunca conviveram em um terreiro. A pessoa
entra pela porta lateral de ifá, sem saber nada, é instruído em
algumas coisas de lukumi e passa a se achar alguma coisa.
Inicialmente eu digo que o lukumi está mais para uma umbanda omoloko
melhorada do que para um candomblé, mas isso é apenas minha opinião
idiota. Os cubanos não podem responder a isso porque eles não
conhecem nem candomblé, nem omoloko e muito menos umbanda. Assim
eles nem sabem o que eu estou falando.
Contudo
aceito que pessoas antigas de lukumi, cubanos nascidos e feitos nesta
tradição conheçam orixá, do jeito deles, mas conhecem. Os ritos
lukumi são muito sérios e é uma tradição de orixá com história
e esás.
Entretanto,
brasileiros que entram com o bonde andando, sem formação e
experiência nada sabem de nada. Não se pode comparar um lukumi que
cresceu dentro disso e um brasileiro que cai de paraquedas nisso.
Essas
pessoas, brasileiros, não conhecem nem o lukumi e muito menos o
candomblé, fazem o mesmo que o pessoal de umbanda que vai para o
candomblé faz, mistura uma coisa com a outra e sai tocando como se
fossem gente de verdade.
Dessa
forma cuidado ao darem ouvidos a Bàbáláwos quando se trata de
orixá. Não é a praia dele.
Assentamentos
e iniciações
A
última orientação que eu posso dar é relação a assentamentos e
iniciações.
Cuidado
ao receber como indicação de ifá que você tem que ser iniciar,
que Ifá te da caminho ou que a solução de seus problemas passa
pela iniciação. Isso é só armadilha, ou, pelo menos, uma
interpretação criativa. Os tratados estão repletos de indicação
de iniciações, poucas são as sinceras.
De
fato, existe muito pouca contraindicação a uma pessoa ser iniciada,
praticamente qualquer pessoa pode ser. Entretanto é uma liturgia que
vai custar 20 vezes ou mais o valor de uma consulta ou ebó, dessa
forma, mexe muito no bolso das pessoas e isso abre os olhos do
Bàbáláwo.
Nesse
ponto é onde o Bàbáláwo mexe com a vaidade da pessoa. Ele diz
para o cara que Ifá do caminho a ele, que Ifá o quer ou que ele
somente vai resolver a vida dele se ele se iniciar. A pessoa se enche
de vaidade, como se aquilo fosse fato e fica cego para o óbvio, está
sendo enrolado.
Pessoas
se iniciam sem saber o que querem com isso ou o que fazer com isso.
Pessoas se iniciam sem saber o que serão beneficiadas com isso. Pior
ainda, pessoas se iniciam sem saber se vão aprender alguma coisa.
Pessoas que não devem fazer parte de ifá, como homossexuais e
mulheres se iniciam para satisfazer seu ego criando uma mentira para
elas mesmas.
Quem
ganha com isso é apenas o Bàbáláwo. Você só perde.
Cuidado
também com assentamentos.
Os
tratados cubanos estão recheados com recomendações de receber
assentos de orixá, Exu e egun. Tudo se reverte à necessidade de
receber um assento. A origem disso normalmente está em uma história
na qual determinado orixá atuou e resolveu algo, dessa maneira isso
é a interpretado como a indicação de ter um assento da divindade é
extremamente importante.
O
lukumi é uma tradição sem muita ênfase em incorporação. Eles
iniciam as pessoas em 7 dias e não tem o conceito de terreiro.
Assim, de fato, incorporar não é o forte, acaba reservado para os
mais antigos. Tem também o conceito de que quem incorpora na pessoa
é um egun e não o orixá. Neste contexto assentos ganham muita
ênfase. Eles adoram fazer e dar assentamentos. Veja, não entro no
mérito de isso ser bom ou errado, se valem para alguma coisa ou não.
Digo que isso faz parte da cultura religiosa deles.
Nos
tratados de Ifá cubano, distribui-se assento por qualquer motivo.
Mas, essa distribuição não é gratuita, custa mais dinheiro.
No
candomblé a visão é muito distinta, assentos são chamados de
igbas e somente iniciados recebem. Ficam guardados no terreiro e não
fazem parte do dia a dia da pessoa, são relíquias, representações
no aiye do orixá, que no candomblé, na teoria e na prática, é
orixá mesmo e não um egun. O candomblé entende que o iniciado é o
assentamento vivo do orixá e este, junto com o ori e o terreiro são
sua proteção. Desta forma a ênfase é no processo de iniciação e
não em Igbas.
Não
existe no candomblé o hábito de fazer assentamentos para não
feitos, para consulentes. Até mesmo para os iniciados, receber um
igba é uma coisa muito importante e reservada para obrigação. É
considerado um grande momento de transmissão de axé. O Igba é
considerado pelo Candomblé uma transmissão de axé para a pessoa
com a ligação da pessoa ao axé da casa,
O
processo de elaboração dos igbas do candomblé e dos assentos
lukumi é muito distinto, o do candomblé é personalizado e profundo
nas pessoas que participam profunda mente da sua elaboração, no
lukumi é quase um objeto, você recebe sem nem ter visto ele ser
elaborado, quando chega, está lá, pronto.
Enquanto
no candomblé não existe sentido um igba longe da pessoa devido a
ligação visceral entre pessoa de igba, do lukumi e consequentemente
no ifá cubano, você aluga ou empresta o uso de assentamentos e tem
até o caso de pessoas que roubam assentos de outras. Isso no
candomblé é impensável por concepção.
Desta
forma a visão de assento e igba são muito diferentes. Mesmo o
chamado santo lavado no Candomblé, que tem uso restrito, mas se
assemelha um pouco ao assento lukumi, por ser dado a pessoas não
iniciadas é completamente visceral com a pessoa que o recebe.
Mas,
vou repetir, não estou questionando o que ou como o Lukumi faz suas
coisas. O Lukumi é uma tradição legítima da religião Yoruba. O
que estou fazendo é destacando algumas diferenças básicas entre
como uma tradição vê uma coisa e como outra tradição vê essa
coisa.
Estou
buscando explicação do motivo da distribuição de assentamentos
como uma prática adota no Lukumi e sem paralelo no Candomblé.
Apesar
de eu falar de lukumi e candomblé, entendam que tudo o que se refere
a lukumi está ligado a Ifá. Cuba é uma ilha pequena. Não existe
muita variedade em nada. O ifá cubano usa o que o lukumi faz e no
que diz respeito a orixá segue exatamente a mesma coisa.
Por
essa razão é comum e normal encontrar nos tratados cubanos a
recomendação de elaborar assentamentos para a proteção dos
consulentes. Isso decorre de uma prática religiosa deles e de uma
forma de interpretar o oráculo.
Mas
como tudo em ifá é muito bem pago o problema disso está na
cobrança que será feita para a elaboração dos assentamentos,
afinal, nada é de graça em Ifá. Receber um assento é mais um
vetor de aumentar a receita do Bàbáláwo.
Não
caia nessa, você foi para uma consulta, não se envolva demais com
aquela pessoa. O que você busca é ouvir os conselhos de ifá e
fazer o ebó para se aproveitar do axé de Olódùmarè. Não faça
nada além disso, não compre nenhum assentamento.
Interpretar
que em função de uma história que é usada para entender o Odu, em
função do papel exercido por um orixá na história você tem que
ter um assentamento dele é um excesso de criatividade mercantil.
Considere ainda que os cubanos inventaram essas histórias com orixás
como personagens.
Nos
versos originais, normalmente os personagens são pessoas diversas,
algumas que surgem apenas naquela história, mas, também aparecem
Orixás. No cubano, todos os personagens são Orixás e são
mostrados cometendo as maiores barbaridades, porque eles assumem o
papel dos certos e dos errados.
Não
vejo como natural a interpretação que indica dar um assentamento de
orixá.
Sua
relação com ela é de consulente-Bàbáláwo, não mude isso com
facilidade. Você vai a esta pessoa para resolver assuntos e ter
orientações não para virar afilhado ou filho de santo. Mantenha o
foco na sua vida e os problemas que foi resolver.
Meu
conselho é o seguinte: Nunca faça assentamentos. Nunca faça
iniciações porque foram recomendadas em jogo.
Nesses
muitos anos, NUNCA, nunca, eu tive que dar qualquer tipo de
assentamento para uma pessoa e muito menos fazer iniciações.
Considerando os problemas que eu ajudei as pessoas a resolverem,
considero que isso é desnecessário e que esses assentamentos que
cubanos e africanos fazem são apenas PLACEBOS para ganharem dinheiro
e terem um cliente cativo.