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segunda-feira, agosto 31, 2015

Ifá, Candomblé e Umbanda

Ifá, Candomblé e Umbanda

A diferença entre eles


Introdução



O objetivo deste texto é mostrar diferenças entres essas 3 práticas religiosas. São 3 correntes distintas que convivemos e existe um aspecto que acho relevante abordar. Existe uma curiosidade de pessoas que seculares, que não fazem parte delas, por elas e uma natural confusão do que se tratam e também existe uma certa curiosidade interna de pessoas entre elas.

Eu vejo essas 3 como opções muito diferentes e distintas, não existe de fato mobilidade entre elas e desta forma decidi colocar minha opinião. Não escrevo por popularidade e sim por informação e sem dúvida, pessoas que já pertençam a alguma delas poderão discordar da minha visão. Eu lembro que isso é normal, opinião cada um tem a sua. Eu manifesto e explico a minha, quem tem essa capacidade e tempo que o faça também.

Eu me sinto com propriedade para falar deste tema porque tenho uma relação longa e íntima com as 3 correntes religiosas, além disso uma relação bem resolvida e carinhosa. O objetivo de escrever é porque vejo pessoas que se interessam por todos, ou que são de um deles e se interessam pelo outro ou mesmo que fazem parte de vários. Assim, seja para quem está dentro ou para quem está fora tentarei colocar uma luz religiosa e prática nessa visão.

Minha visão sempre passa por Ifá, claro e não tenho pretensão de me aprofundar aqui na relação que as pessoas sustentam entre Umbanda e Candomblé. Já produzi alguns textos sobre isso que devo inclusive republicar, como tenho feito. Creio que já expliquei que muitos bons textos foram publicados por mim neste Blog, apesar de estarem na barra de histórico que fica à direita, nem sempre as pessoas pesquisam nela, dessa maneira, de tempos em tempos eu retomo os textos mais antigos, com assuntos interessantes, faço uma revisão e atualização do conteúdo e republico.

Falar sobre esse assunto não é uma tarefa simples para quem quer ser objetivo. Existe a visão de quem não pertence a nenhum desses cultos e quer saber o que são, tem a visão de quem está em um deles e quer saber sobre o outro, tem a visão da teologia em si e outras mais. Espero ser bem-sucedido e decepcionar uma quantidade menor de pessoas.


Mas, vamos ao nosso tema.

quarta-feira, agosto 19, 2015

Perguntas & Respostas (2)

Perguntas & Respostas (2)


A seguir, perguntas que foram encaminhadas por email e que estarei respondendo aqui no Blog


A pergunta a seguir foi enviada por email (ogbeogunda@gmail.com)


Odus, a bem pouco tempo soube a respeito de Odus e  oque era, hoje se fala muito a respeito mais de uma forma temerosa, como?
Temos que cuidar de Odus?
De que forma?
Temos como ativa-los mesmo que sem querer?
E se estamos negativo no odu, como dar caminho, limpeza, ebó,enfim.

R. Eu publiquei um texto sobre Odù negativos no Candomblé

Odùs negativos no Candomblé

Este texto aborda sobre isso. Sugiro ler.

Odùs são bençãos de Olodumare, não existe temor ou medo associado a eles. Eles não te trazem nada de ruim, você já tem aquela situação em sua vida, o Odù traz é a solução para ela. Em Ifá dizemos que o Odù pode te trazer bençãos (positividade) ou trazer a remoção dos seus problemas (remover a negatividade que você já tem).

Pessoas que não sabem ou não entendem o que é Odù falam dessa forma como você descreve. O texto do link anterior fala sobre isso. Usam Odù para vender serviços que eles não tem. Não caia nessa bobagem.

Com eu digo no texto, ouço essas pessoas falando de Odù como se fosse uma coisa do mal, uma coisa terrível. Não é isso. Eles estão usando o desconhecimento das pessoas para colocar medo nelas e ganhar dinheiros com eles.

Criam medos para vender facilidades.

Você também não tem que cuidar de nenhum Odù. Se você vai a Ifá, sempre recebe um Odù como resposta a consulta, na verdade o Babalawo utiliza vários Odù para analisar sua consulta e não apenas um. Mas aquilo é temporário, vale para aquele momento de sua vida.

Através dos Ebós, ou não, o Babalawo vai direcionar a energia do Odù para o seu benefício. Contudo isso se encerra ali. Ponto. Outra consulta, outros Odùs.

Não existe Odù feito por data de nascimento e você não vai estar ligado a nenhum Odù. Odù não é ativado, assentado e muito menos cuidado.

Nos 2 links a segui isso fica bem claro

Assentamento de Odù no Candomblé 

O que é Odù?

Não jogue dinheiro fora com essas pessoas.que não sabem nada.


Meu orixá de cabeça é xxxx, como vou dar comida a ele, tendo que desembolsar R$ 300,00 todos mês???
Como cuida-lo.
Adoro o Candomblé, mas da forma como ele tem sido tratado aqui, fica complicado.
Um culto tão belo..

R. Veja, realidade complicada essa mesma. Essa não é a visão de uma religião. 

O Candomblé é uma religião, sem dúvida, essas casas e pessoas que você procura e te tratam dessa maneira, como uma cliente não são religiosas. Elas podem ser de Candomblé, entender de Candomblé, mas, elas são apenas mascates em volta da religião.

Religião são valores, ética, moral, é uma proposta de vida. Quando você vai na missa o padre cobra 300 reais para te dar a hóstia ou assistir a missa?

Pois é. Não confunda religião com exploração de pessoas.

Uma casa de Candomblé deveria ter cerimônias públicas, deveria ter liturgias comuns, deveria distribuir axé para as pessoas, resgatar a esperança na vida delas. 

As casas de Candomblé se transformam apenas em um lugar no qual uma pessoa, mais esperta, se declara Babalorixá ou Iyalorixá, abre um balcão e coloca o jogo de búzios em cima dele para cobrar a conta. Lembrando uma frase que o Edir macedo falou, essas pessoas devem usar como lema: "Se Orixá é o caminho eu sou o pedágio".

Inclusive não existe para elas diferença entre Cliente e filho de santo. Filho de santo é um cliente cativo. Aliás, religião onde existe a palavra "cliente" para designar alguém que vai la não pode prestar.

Veja, esta não é uma religião de oferendas, de trocas. É uma religião de amor, de fé, de valores elevados e de ética. 

Você não tem que fazer oferenda o tempo todo, muito menos pagar R$ 300,00 para alguém fazer uma oferenda ao seu orixá.  Se o orixá é seu, você nasceu com ele, ele está sempre junto de você como um anjo da guarda. Todo mundo tem Ori e orixá tomando conta dela, você não precisa de intermediários e muito menos essas divindades precisam comer.

Não caia nessa bobagem.










quarta-feira, agosto 05, 2015

Sobre o texto de Orixás e elementos da natureza


Este texto está sendo republicado porque tem novas inclusões de informações e uma mudança na sua estrutura. Tudo isso feito para facilitar a leitura e dar informações objetivas.

Eu sugiro paciência para ler. É um bom texto e resumo de muita pesquisa. Aborda de forma séria o tema.

Serão os Orixá (Òrìṣà) elementos da natureza ?

Serão os Orixá (Òrìṣà) elementos da natureza ?

Revisão 4

NÃO! ELES NÃO SÃO!!

Este texto é um pouco extenso, mas, trata de um assunto importante que principia o entendimento desta religião. Apesar de extenso ele tem muita informação, da forma como foi estruturado, quando mais você ler mais você vai saber sobre o assunto, mas em qualquer ponto que parar você já vai ter entendido a minha posição.
A motivação de eu escrever sobre este assunto é que existe um conceito generalizado que associa os òrìṣà (orixá) a elementos da natureza no sentido literal (e não figurado) de forma que cada òrìṣà (orixá) é dito ser um elemento da natureza.
Esta, é uma bobagem que está sendo repetida milhares de vezes e que com isso acabou virando uma verdade para muitos, principalmente aqui nas tradições da diáspora. Estou aqui dando minha contribuição para acabar com isso, porque, depois de me debruçar sobre esse assunto, analisando referências teológicas e, mais ainda, versos de Odù, eu tenho uma opinião completamente divergente e gostaria de apresentar aqui.
Assim principiando, pessoas quando questionadas sobre a religião ou mesmo sobre òrìṣà (orixá) iniciam afirmando que o Candomblé é uma religião ligada da natureza e que os òrìṣà (orixá) são a própria natureza ou, elementos grandioso desta natureza, como água, terra, pedra, fogo, trovão, vento, etc….
Isto está errado. De fato não são muitas pessoas que conhecem bem a religião e essa tem sido a saída mais fácil para as pessoas responderem aquilo que não sabem. Não precisa fazer muito esforço, vai ser muito fácil encontrar este ideário em livros ruins e na internet em textos copiados e mal produzidos.
Assim, repetindo o posicionamento deste texto, pessoas descrevem para outras que os òrìṣà (orixá) são os elementos da natureza, mas, isso é um engano. Esta é minha posição e vou explicar aqui neste texto.
A minha conclusão após avaliar esta situação é que este erro ocorre por diversos fatores. O principal é que é fruto de um sincretismo religioso, equivocado, entre religiões que não guardam semelhança. É uma forma equivocada de compara ou tornar equivalentes diferentes religiões feito por pessoas levianas. Por fim, e mais importante ainda, é uma parte do grande processo que houve, inclusive entre os ditos estudiosos, de desprezar a religião Yorùbá e em função da dificuldade ou do preconceito para entendê-la de fato.
Podemos encontrar e ter que aceitar uma posição, por exemplo de que os òrìṣà (orixá) seriam ancestres, pessoas que foram divinizadas e desta forma pais da nação Yorùbá. Podemos também entender que mesmo em vida eram pessoas poderosas dotadas de forte poder mágico e que os permita manipular alguns elementos primários da natureza, mas, jamais podemos confundir os òrìṣà (orixá) com elementos da natureza.
Alguns podem neste momento questionar: Por que estou eu aqui querendo questionar isso? Minha resposta é simples, para que se possa de fato entender o que é esta religião e entender a sua proposta para tornar melhor a vida das pessoas.
Eu não tenho dúvida que entendendo o cosmo Yorùbá esta compreensão fica muito mais simples, assim como ficaria muito mais simples eu falar sobre esse assunto, mas, não podemos transformar este assunto em uma novela, de maneira que o Cosmo Yorùbá fica para outra oportunidade.
Mas, é importante entenderem que na religião Yorùbá existe uma divindade suprema, que esta acima de tudo e de quem vem toda a criação e manutenção dos seres viventes, ela é Olodumarê, o deus Yorùbá. Abaixo dele existe todo um mundo espiritual com divindades de diversos tipos e hierarquias. Um tipo muito especial e que nos interessa são os òrìṣà (orixá). Estas divindades têm como objetivo nos ajudar em nossa vida no mundo natural.
Nossa ligação com os òrìṣà (orixá) é muito íntima e todos temos na formação do nosso corpo físico um pedaço de um òrìṣà (orixá) que se torna então o nosso òrìṣà (orixá) e um dos nossos protetores. Temos, todos, um protetor principal que é uma divindade pessoal, que aqui no Candomblé chamamos de Ori. De fato, como muitas palavras Yorùbá, Ori. serve para muitos significados, mas, entendamos que um dos significados é de uma divindade pessoal e nossa protetora maior.
Em relação aos òrìṣà (orixá) existem 2 tipos principais. Existem os que são os òrìṣà (orixá) da criação, que já existiam antes do mundo natural ser criado por Olodumarê (da Gênese). Existem também os òrìṣà (orixá) filho, ou eborá, que surgiram depois e que normalmente são seres humanos divinizados. Sim, é muito importante entender isso. O ser humano por suas obras e importância para sociedade pode ser divinizado e se transformar em um òrìṣà (orixá), com mesmo status dos òrìṣà (orixá) da criação.
Ao se transformar em òrìṣà (orixá) ele irá também fazer parte do corpo das pessoas que nascem no mundo natural.
Aqui temos mais um conceito para entender, os Yorùbá entendem que existe um mundo espiritual que é um reflexo no mundo natural. As pessoas vivem no mundo espiritual e ciclicamente nascem (encarnam) no mundo natural. Ao nascer aqui elas necessitam de um corpo, esse corpo é produzido por um òrìṣà (orixá) e recebe elementos que vai individualizá-lo tornando cada indivíduo único.
Nesse processo de individualização o òrìṣà (orixá) fará parte. Assim, nosso espírito vive no mundo espiritual de forma independente de òrìṣà (orixá), mas, quando nascemos aqui no mundo natural um deles fará parte íntima de nossa existência e de nossa proteção para que possamos viver e atingir os nossos objetivos para essa vida.
Esses elementos que são agregados ao nosso corpo físico (orixá, Odù, Ori, alma, caráter e ancestralidade) nos transformam na pessoa que somos.
Nesta concepção errada que fazem de òrìṣà (orixá), Xangô virou o fogo e o trovão. Oyá virou o vento e o raio. Óxun virou a água. Os demais não sei bem o que viraram, essa criatividade sem pé nem cabeça para mais ou menos por ai. Mas a correspondência que esses malucos fazem de òrìṣà (orixá) e elemento da natureza é falha e confusa por si só.
Então veja, quem entende alguma coisa de òrìṣà (orixá), sabe que Ṣàngó (Xango) é um eborá, um òrìṣà (orixá) divinizado e não um dos òrìṣà (orixá) originais assim. Como ele poderia ser o fogo, o trovão ou um vulcão, que são elementos que existem desde o início dos tempos? O vento é ọya (óia) ? Mas ela também é divinizada, assim, o vento já existia antes dela ela, e ela não poderia ser o vento, uma força da natureza. Na Nigéria a sua história esta associada com um Rio. Ọ̀Ṣun (Oxun) é uma irúnmalẹ̀ (irunmalé) um òrìṣà (orixá) original da criação e poderia sim estar ligada com a água, mas ser a água? Jamais, ele está na realidade intimamente ligada com outras qualidades. Por fim, sem exaurir o estoque de bobagens, as pessoas dizem que Ọ̀Ṣàlá (Oxalá) é o ar, por que?
Nunca encontrei isso nos versos de Odu. Não existe nenhum lugar em versos que eu tenha lido, e já li muitos que faça uma mínima correlação disso.
Isso mais parece uma brincadeira de ligar coisas da coluna da direita com a da esquerda, assim coloque os òrìṣà (orixá) que você conhece na esquerda e os elementos da natureza que você conhece na direita, ligue agora um com o outro. Provavelmente vão faltar coisas de um lado e de outro ou mais de um estará ligado a mesma coisa. O que estou dizendo em palavras bem simples é, isso é uma bobagem.
Uma outra forma de ver òrìṣà (orixá) é através de uma divisão no qual existe 401 orixás da direita, que são forças boas e 201 da esquerda que seriam forças malévolas. O que significa essa frase? Vamos em partes. Primeiro entender Yorùbá não é apenas pegar um dicionário e traduzir. Existem muitas expressões e situações que fazem parte do povo e da cultura e que não se traduz, se explica.
Yorùbás não tem aritmética, números são substantivos. Para eles 200 não significa o número 200. O número 200 nesta frase significa o mesmo que “muita coisa” isso porque 200 é uma quantidade muito grande de coisas para se ter ou contar. Os Yorùbá não estão dizendo que existem 200 òrìṣà (orixá), eles estão dizendo que são muitos.
O número 400 quer dizer que existem muito mais divindades do bem do que do mal. Dessa forma, repetindo eles querem dizer que existem muitas “da esquerda” e muito mais ainda “da direita”.
E o número 1? O que significa? Ele quer dizer que esta quantidade não é precisa e que sempre está aumentando, sempre pode ter mais um, pelo processo de divinização.
Feita essa introdução vou ao ponto de dizer que na religião Yorùbá não existe um “Panteão” de deuses. Não é igual à religião grega que existem uma quantidade e qualidade específica de deuses com finalidades definidas. A quantidade de òrìṣà (orixá) varia e mais, é indefinida. O número é indeterminado pela simples razão que não faz a menor diferença a quantidade ou quais são.
Não existe esta definição usada aqui no Brasil de seriam 16. Por algum motivo histórico qualquer se estabeleceu que seriam 16, o que não é verdade, e que eles seriam fixos, todas as pessoas estariam relacionadas a um desses 16.
Isso não é uma verdade nesta religião! Não existe esta regra ou dogma.
Eu sempre tento separar muito bem o que seja a religião Yorùbá e o Candomblé, respeitando que nossa tradição pode ter tomado rumos distintos na sua prática e formato, mas, existe uma teogonia e teologia básica e dogmas que devem ser respeitados, senão isso não é uma religião é uma coisa qualquer.
Não existe no modelo religioso Yorùbá uma predefinição de quem são ou quantos são os òrìṣà (orixá). Podem ser mais ou menos, cada região que defina.
O Verger, que não era antropólogo e sim um fotógrafo francês rico fez um grande trabalho para nós quando mostrou o que havia na África de fato e jogou por terra um monte de literatura ruim. Ele estudou e documentou muita coisa mas não quer dizer que tivesse a maior propriedade de tratar de todos os temas. Ele disse que a religião Yorùbá era um politeísmo. Estava errado. Ele poderia ter usados várias classificações, essa, sem dúvida, era muito ruim e ajudou essa questão de panteão.
Pesquisadores observaram que o modelo adotada na região Yorùbá era mais próximo do que se pode chamar de um “monoteísmo justaposto”. Luis Nicolau Parés no seu ótimo livro “A formação do Candomblé”, coloca que “baseado na análise de Orikis dos òrìṣà (orixá) e dos versos de Ifá, Mckenzie concluiu que, fora o caso de Xango, Obatalá e a tríade de Ifá (Esu-Orunmila-olodumare), os cultos de òrìṣà (orixá) não apresentam quase nenhuma alusão verbal a outras divindades, sugerindo um relativo separatismo entre eles e a ausência de um panteão fixo ou estabelecido”.
Bingo!
Assim cada região ou aldeia praticamente tratava do culto de apenas 1 divindade, isso caracterizava um modelo quase de monoteísmos justapostos no qual vários “monoteísmos” se sucediam à medida que se caminhava pela geografia. Esta e uma explicação complexa e não definitiva, mas, serve para mostrar o tipo de prática que se encontrava lá.
Mckenzie foi muito preciso na sua observação, bem como na de que era Ifá quem trazia em seu corpo e prática a teogonia e teologia que dava estrutura à religião. O culto diário, a prática das pessoas era de fato a prática da religião de òrìṣà (orixá) e o modelo Yorùbá não se estruturava como montamos a nossa diáspora.
Quando buscamos outros autores sérios como Baba Tundelawal podemos ver que apesar de diferenças nas práticas regionais, nos nomes e na forma a estrutura religiosa Yorùbá se espalhava igualmente por toda a região Yorùbá. Cultos mudavam de nome, òrìṣà (orixá) trocavam de nome mas o espírito da coisa, a finalidade era a mesma e havia o Ifá unindo tudo isso.
Luiz Marins, pesquisador brasileiro fez sua tese classificando a religião de Orixaísmo evitando assim enquadrar a religião Yorùbá em uma das denominações existentes. Eu mesmo já abordei esse tema antes de ver essa definição de Mckenzie, fiquei feliz em ver que minhas observações e ilações não eram únicas e também divergentes do Verger e de outros que se somam chamando a religião de politeísta, considero que essa é a pior definição. Não cheguei ao ponto do Luiz Marins mas coloquei minha visão.
O processo de agregação de òrìṣà (orixá) foi tardio, foi feito pela diáspora e retornou para a origem. Aqui no Brasil certamente houve uma grande influência do Jeje para esse modelo. O Jeje diferente do modelo Yorùbá possuía um panteão, ou melhor alguns panteões. Esses panteões se combinavam, uniam e incluíam divindades de fora. Uma casa combinavam muitos Voduns. Ortodoxia nunca foi o forte no Jeje mesmo na África.
Na verdade era um modelo religioso bem menos consistente, mais disperso e mais primitivo do que o modelo Yorùbá. O modelo Yorùbá foi importado no início do século XVIII e enxertou a religião deles com Ifá, com a divindade suprema e com egungun, tudo isso ausente da religião jeje e estabelecida tardiamente como parte do modelo.
Aqui no Brasil o modelo Jeje só se manteve porque ficou à sombrada teogonia e do modelo litúrgico Yorùbá, dificilmente iria ter uma relevância maior sozinho.
A junção e agregação de várias divindades foi fruto da diáspora e da convivência com o Jeje que tinha uma abordagem completamente anárquica para tratar essa questão de divindades.
Na teogonia Yorùbá, quem traz a tríade Olodumarê-orunmila-esu é Ifá. É através dele que essa tríade passa a ser conhecida. No âmbito da vida das pessoas o que você via lá eram òrìṣà (orixá). Para se entender o modelo religioso tem que se olhar o conjunto, iniciando com a visão de Ifá que é quem estrutura o cosmo e a religião e buscando os cultos como de orixá e egungun, além de manifestações adicionais como Gelede e Ajé com aspectos colaterais.
Esta visão de conjunto monta o entendimento da religião, mas, se você analisa apenas o dia a dia das pessoas e comunidade, como Verger o fez poderia entender que é um politeísmo. Mas essa é a apenas uma visão fragmentada do todo, Verger nunca viu o conjunto como uma religião.
Dessa forma o modelo Yorùbá não tem panteão e não suporta de forma alguma a designação de òrìṣà (orixá) como elementos da natureza. O agrupamento dos òrìṣà (orixá) em um mesmo espaço foi um fenômeno da diáspora e da formação da nossa tradição religiosa, o Candomblé.
Essa é uma visão muito onírica dos òrìṣà (orixá), um sincretismo com a religião greco-romana e com religiões europeias, como a bruxaria tradicional, wicca, etc….
O preconceito é a raiz disso tudo. As pessoas não esperavam encontrar uma religião complexa junto a um povo simples, como os Yòrúbas, assim, elas avaliaram superficialmente a religião e fizeram associações dela com outras que eles conheciam.
Essa ligação de uma divindade com os elementos da natureza existe em algumas tradições religiosas, muitas delas politeístas puras de fato, que não é o caso da religião Yorùbá. A mim parece mais uma forma de sincretizar a religião africana com formas politeístas e animistas seja por preguiça ou preconceito.
Por esta razão, dizer que os òrìṣà (orixá) são as forças da natureza como eu canso de ouvir é o mesmo que dizer que Ṣàngó (Xango) é São Jerônimo, Ọya é Santa Barbara, Ògún é São jorge. É o mesmo que ouvir babalorixá explicando a vida e a reencarnação usando a doutrina espírita.
Além desta explicação inicial que já pode ser suficiente para muitas pessoas vamos aprofundar a análise desta questão dividindo o assunto em partes e explicando cada uma delas.
Primeiro vamos falar sobre a responsabilidade do sincretismo nesse processo. Depois vamos tratar da influência do entendimento incorreto da cosmogonia da religião. Vamos comentar um pouco sobre o problema gerado por estudos ruins feitos por antropólogos e estudiosos e, por fim, vamos falar um pouco do cosmo Yorùbá para situar o entendimento de todos no modelo que eu considero adequado.
Como sempre lembro que tudo o que é escrito aqui representa a minha opinião, representa a minha análise sobre o que eu estudei e vivencio e estou muito longe de me considerar o dono da verdade ou mesmo infalível.
A ORIGEM DOS ORIXÁ (òrìṣà) SEGUNDA A RELIGIÃO YORUBA
Eu vou fazer uma abordagem tradicional e bem direta sem rodeios e nem invenções. Minha referência são os versos do Odù oxétuwa.
Esta religião tem um corpo literário que não é muito conhecido aqui no Brasil e no Candomblé. O conhecimento religioso esta registrado em versos que são divididos em 16 capítulos. Cada capítulo corresponde a um Odù. Assim são 16 Odù e cada Odù tem um conjunto variável de histórias contadas em versos. Podemos dizer que cada Odù pode ter até 16 histórias, em versos e tamanhos diferentes que podem ir de poucas linhas até páginas.
Isso é o corpo literário de Ifá (Ifá didivination poetry ou Ifá LiLiterary corpus). Esses versos contêm as informações sobre a religião. Tudo o que se diz da religião deve ter referência em um verso e Odù.
Como eu disse para vocês algumas palavras em Yorùbá tem vários significados. Este, o de serem os capítulos do corpo literário de Ifá é um dos significados para Odù.
O grande problema Yorùbá era que eles não tinham língua escrita. Foram os europeus que criaram uma representação escrita para o muito simples e por isso complicado idioma tonal Yorùbá. Por esta razão o corpo literário de Ifá era guardado por pessoas, Babalawo que dedicavam sua vida a decorar esses versos. Somente no século XX é que houve um intenso trabalho voltado para registrar esse corpo poético em gravações e em registro escrito, para evitar que se perdesse, mas, em função da colonização e escravagismo, muito já se perdeu.
A referência que usarei para explicar porque os Orixá não são elementos da natureza porque não tem esta função é um verso do Odù Oxétuwa. Eu não vou registrar aqui o texto, é bem extenso mas está no blog no link a seguir.
LINK
Eu recomendo que seja lido, ele contêm inúmeros conceitos e fundamentos importantes. Este texto foi extraído originalmente do livro Os Nago e a Morte, mas, existe em outras obras de autores diferentes, incluindo o Nigeriano Wande Abimbola. Essa é uma versão que está no Blog é completa com inserções de outras versões que eu li.
Dessa maneira, este texto é confiável.
A história narrada se temporiza após a gênese. O mundo já estava criado e sendo populado por Olódùmarè, a alta divindade suprema Yorùbá. Em outra oportunidade abordamos a Gênese segundo a religião Yorùbá.
Neste Odù fica claro que Olódùmarè criou o mundo, populou-o com os homens e enviou os òrìṣà (orixá) para poderem ajudar os homens na sua vida, na superação das dificuldades.
Eram 16 e havia somente uma mulher entre eles, Óxun, que representa o poder feminino original.
Desta forma, se os òrìṣà (orixá) foram enviados para suportar os homens de calamidades naturais, os Ajogun, não poderiam eles mesmos serem os próprios elementos da natureza, conforme a visão das religiões pagãs europeias.
Este Odù estabelece uma distinção muito clara entre as divindades de Olódùmarè, suas funções e a natureza, desvinculando um de outro.
Na religião Yorùbá as divindades são chamadas de Irunmole. Um subgrupo dos Irunmole são os òrìṣà (orixá). Os òrìṣà (orixá) estão ligados a nós, mas, existem divindade, Irunmoles que não estão ligados a nós.
Dentro do grupo dos òrìṣà (orixá), existe ainda a divisão deles em 2 tipos de orixás. O primeiro grupo são os orixás originais, divindades da criação, que já existiam na Gênese e faziam parte do grupo de 16 que foi enviado por Olódùmarè. O outro grupo são os ancestres divinizados, pessoas, homens, que ganharam muita importância e relevância junto ao povo de foram divinizados, se transformaram em Orixás.
É importante entender que as pessoas humanas, homens e mulheres podem ser divinizados e se transformarem em òrìṣà (orixá). Por essa razão as pessoas fazem parte de um grupo privilegiado no cosmo Yorùbá, como vocês vão ver quando eu explicar isso.
Assim, vamos fazer uma revisão do que eu disse até o momento. No texto do Odù Oxétuwa, que vocês DEVEM ler, está claro que Olódùmarè enviou os òrìṣà (orixá) para suportar a vida humana na terra, devido às muitas dificuldades que as pessoas iam encontrar aqui. Esta abordagem, documentada em versos de Odù completamente confiáveis, desvincula completamente os òrìṣà (orixá) de serem elementos da natureza, porque o mundo já estava criado e eles foram enviados depois, junto com a humanidade.
Além disso o conjunto de divindade Yorùbá não é formado por um grupo fixo, pré-determinado e cada um com funções específicas. Existiram os primeiros 16 que foram enviados para criar o mundo, mas, existem muito mais Irunmoles do que esses 16. Os òrìṣà (orixá) representam um subconjunto dos Irunmole e eles são vinculados a nos suportar.
O conjunto de òrìṣà (orixá) não é finito. Ele pode ser composto por divindades originais mas, também, por humanos que devido a sua relevância se divinizam e se tornam òrìṣà (orixá).
Tomemos por exemplo as divindades femininas que tiveram uma origem comum somente em um Orixá, Óxun, a única que estava na criação. Oya que muitos consideram como sendo o vento não poderia o sê-lo porque ela é claramente um ancestre divinizado, e o vento já existia antes dela. Antes de Oya ser divinizada junto com Xangô o vento da existe a milhares de anos e nunca prescindiu de Oya que era apenas uma mulher.
Oya (Ọya), bem como todas as divindades femininas são cultuadas e associadas com o elemento água. Assim Óya esta ligada ao Rio Ògún e Óxun ao rio com seu nome, Yemanja, outra divindade bem conhecida, também está ligada a um rio, Olokun ao mar, as ajé são as que possuíam os 7 rios da terra na sua criação, Iyewa também a água e até Nana que nem é Yorùbá esta ligada a água. Observe então que existe uma tendência dos Yorùbá associarem divindades femininas a rios, não necessariamente a água.
O elemento água, especialmente esta ligado a Oxun, é o único elemento que sozinho pode gerar e sustentar a vida e está associado sempre a existência de vida. Tudo isso tem origem em Oxun.
Se a água é um Orixá, qual ele será? Não a água não é um orixá.
Ṣàngó (Xango) é dito ser o fogo, mas a real ligação dele com o fogo foi a capacidade que adquiriu de manipulá-lo, o que também foi feito por Ọya segundo um mito conhecido por todos no Candomblé. Ṣàngó (Xango) também está associado com trovões e raios, sim, mas por manipulá-los porque ele é considerado a justiça de Olódùmarè, ou a sua ira, e joga os raios contra pessoas que de tão ruim que foram não merecem mais viver. Igualmente após a sua morte o mito diz que ele jogou raios contra as pessoas que diziam que ele tinha se enforcado.
No mito da criação, a terra foi criada por Olódùmarè e só havia a água. Ele deu a bolsa da existência contendo os elementos que seriam plantados e depois espalhado para formar a terra. Depois de tudo criado, conforme o Odù oxetuwa os òrìṣà (orixá) foram enviados para suportar a vida ensinando os homens a se relacionar com o divino.
Os elementos, a terra, a vegetação, foram trazidos do Órun pelos Orixás da criação.
Assim sendo o que ocorre é que os òrìṣà (orixá) como representantes ou intermediários de Olódùmarè e os homens passaram a ter poderes sobre determinados elementos da natureza, que eles trouxeram, que vão desde a água a doenças, mas, isso na sua forma controlada e organizada e não na sua forma violenta.
Uma coisa é ter controle sobre uma coisa na sua forma suave outra é ser ou ter controle total. Assim por mais que se faça uma oferenda um furacão, um tsunami, um terremoto e uma seca não poderão ser evitados. Essa é uma manifestação descontrolada da força da natureza, os òrìṣà (orixá) ajudará os homens a se prevenir ou superar as consequências disso.
Isto está descrito no texto do Odu Oxétuwa e coloca um ponto final nesta relação.
A ORIGEM DO PROBLEMA NO SINCRETISMO RELIGIOSO
Uma das principais fontes para essa interpretação é o sempre danoso sincretismo religioso. É assim, as pessoas não querem pensar, não querem estudar, não querem entender, então simplificam comparando com alguma coisa que conhecem.
Este capítulo aqui é um pouco extenso e denso em informações, mas, é muito importante para entenderem de onde veio alguns preconceitos sobre a religião Yorùbá.
Podem acreditar que, não existe nada que eu tenha lido ou ouvido, de autentico da religião, e quando digo isso me refiro a versos de Ifá, que remeta a ligação de òrìṣà (orixá) como sendo um elemento da natureza.
Vou me explicar adiante quando falar diretamente sobre isso, mas uma das origens disso, sem dúvida é o sincretismo, mal feito, com as tradições pagans da Europa, em geral, incluindo a Grécia, religiões politeístas, na qual o panteão dos deuses dessas tradições era associado com comportamento, especialidades e elementos. A própria palavra “panteão” que, hoje em dia, é ainda largamente usada para o caso Yorùbá é uma palavra que se aplica a religiões politeísticas, o que não é o caso da religião Yorùbá.
Estas religiões, de fato politeístas, tinham uma característica comum que era a de dedicar cada um dos seus deuses a uma especialidade. Isto era necessário porque os deuses representavam o mundo que viviam e não uma divindade transcendente. Nas tradições politeístas, não existe uma divindade maior que origina ou controla o todo com poder superior às demais, cada divindade ou deus tinha que ser responsável por um aspecto do universo. Assim a unidade era, na verdade, formada pelo conjunto de todos.
Essas religiões ou cultos criavam uma divinização que representava o mundo em que viviam. De uma maneira bem lúdica, o mundo era o divino e assim cada coisa dele em vez de ter uma ordenação natural ou científica era regido pela vontade de um deus. Este modelo onírico substituía a ciência na explicação dos fatos que nos cercavam e requeria bastante trabalho das pessoas no culto a muitas divindades para terem uma vida tranquila. Você tinha que agradar a um exército de deuses para evitar problemas, uma vez que você não tinha um protetor próprio nem uma hierarquia, qualquer deus, uma força da natureza poderia interferir no ambiente, inclusive contrariando outro.
Isso fazia da vida das pessoas uma coisa muito trabalhosa, ainda mais porque a natureza era bastante imprevisível. Dessam forma poderia sempre haver um deus-natureza insatisfeito ou ofendido com qualquer coisa e trazendo prejuízos a você ou a sua comunidade. Não é a toa que esse modelo foi facilmente superado pelo modelo das religiões atuais, com um divino unificado e transcendente.
O poder dos deus-natureza era dividido e não havia preponderância de uma divindade sobre a outra, exatamente como na natureza, onde uma força conflita com outra. Uma poderia fazer ou desfazer o que outra fez e o homem devia prestar algum tributo a todas se quisesse ter paz na sua vida. O modelo também não integrava o homem ao divino.
Este é o modo da natureza, as forças se equilibram pela harmonia ou pelo conflito. Claro que a existência de cada deus estava associado a necessidade de alguém controlar alguma coisa e por isso a necessidade de muitos deuses. O sentido da palavra panteão, que é usado incorretamente para a religião Yorùbá, é este, esta vasto conjunto de deuses controladores da ordem.
Este modelo de religião, politeísta, bastante ancestral e lúdico, é bastante ultrapassado no contexto da civilização humana, tanto que foi abandonado sendo trocado não por uma religião em especial mas por muitas outras que ofereceram um modelo muito mais humanista, centrado na figura do homem.
O modelo politeísta é superficialmente conhecido por todos. As pessoas de fato não entendem as suas implicações. Conhecem suas histórias e narrativas mas não se aprofundam de fato na questão da relação divino-homem. Por esta razão não compreendem porque ele não se aplica religião Yorùbá.
Existe também a simplificação que as pessoas fazem sobre o conhecimento. O mundo é complexo, são muitas forças atuando, pensamentos diferentes, filosofias conflitantes ou complementares. Entender o meio que vivemos, sejam as pessoas ou a sociedade é bastante complexo. Contudo as pessoas fingem que são inteligentes e buscam simplificações para que possam se passar como cultas.
A maior parte das pessoas só consegue lidar com conceitos binários ou ternários e dessa forma fazem uma similaridade estúpida de uma religião com outras baseadas em 2 ou 3 características. Infelizmente as coisas são mais complexas que isso e é muito reduzido a quantidade de pessoas que consegue trabalhar com modelos conceituais e filosóficos.
Classificar a religião Yorùbá dentro deste modelo, politeísta, somente porque existem muitas divindade (e não apenas uma) e entender que essas divindades são forças da natureza porque a religião é exercida na natureza, é desprezar a sua complexidade e atualidade.
Claro que algumas coisas, além da ignorância e da preguiça mental aceleraram esse sincretismo da religião Yorùbá com as antigas correntes politeístas. Na África eles observavam o povo colocando oferendas em pedras, árvores ou em rios e conduzindo ritos em rios, morros e florestas. Então, a conclusão de muitos foi bastante óbvia, esses africanos cultuam pedras e rios..... As divindades que eram homenageadas ficaram então associadas com aqueles elementos ou como se fossem os deuses-natureza.
Poucos se deram ao trabalho de fato de entender porque aquilo era feito e qual o significado daquilo. Somem nisso o desprezo por uma sociedade tribal e a impossibilidade de entender uma língua estranha. Junte isso ainda ao uso de métodos e ética científica inadequada e teremos como resultado o que foi feito. Simples e ao mesmo tempo bastante estúpido. Isso levou os europeus a taxarem as religiões de animistas e de politeístas.
Mas, estamos no século XXI e não mais no século XIX.
Como eu tenho repetido é uma forma de preconceito com o povo e a sociedade africana, desprezando a sua capacidade de gerar uma religião equivalente às demais ocidentais e orientais. O modelo politeísta dos deuses-forças-da-natureza, não se aplica a religião Yorùbá.
OS CATÓLICOS E O PAGANISMO
Uma das coisas que complicou bastante o entendimento das pessoas a cerca das religiões foi a hegemonia do modelo cristão no ocidente, com a extinção de outras religiões, não pela supremacia de um modelo teológico mais confortável para as pessoas e sim pela perseguição da espada.
Para tornar as coisas mais complicadas, como parte deste processo e emburrecimento, a igreja católica criou uma denominação genérica e sem nenhum significado real, de PAGÃO, para qualquer outra religião que não fosse Abraâmica, ou seja, que tivesse origem em Abraão o patriarca que gerou as correntes do Judaísmo, cristianismo e islamismo. Estas 3 religiões competem pela posse do mesmo deus e tem a mesma origem. Os Judeus não reconhecem mais ninguém, afinal eles é que são os escolhidos. Os cristãos, que nasceram judeus, reconhecem uma das partes do judaísmo que é o antigo testamento e por fim, os muçulmanos, os mais recentes, século VII, reconhecem tudo das anteriores, inclusive Jesus, mas não a trindade católica.
Dessa maneira ao longos dos últimos séculos, eles tem se matado e a outros inocentes, sempre em nome do mesmo deus sanguinolento, Jeová.
Para os Cristão, que dominaram o mundo à força da espada, aliás como também o fizeram os judeus no seu tempo, o que não era católico era Pagão. Eles só não tiveram coragem de chamar os Judeus de Pagãos, mas criaram o termo herético, para aqueles que divergissem da interpretação teológica oficial de Roma... Assim, pagão, não tem significado religioso, significa tudo o que não e católico.
Os abraâmicos consideram o seu deus, Jeová, o único, e defenestram qualquer outro tipo de manifestação religiosa. A partir do século XV a igreja católica baniu toda as praticas que mostrassem similaridades com simpatias, encantamentos e feitiços. A igreja medieval era totalmente esotérica, mas para se afastar disso eles baniram completamente essas práticas, de modo a poderem a partir do século XV dominar os seus fiéis através do temor ao mal, ao diabo e a perseguição ao pecado.
Estudiosos do aspecto do Mal na religião correlacionam o surgimento da força do diabo com a necessidade de um controle mais rigoroso da sociedade pela forma política, uma vez que, esse temor (ao diabo) e domínio (o pecado), não existiam anteriormente. Igualmente isso coincidiu com os papas generais, guerreiros que literalmente com a espada na mão construíram a Igreja que conhecemos hoje.
O próprio celibato, que não havia, dizem, foi devido a igreja passar a ter posses. Eles não queriam se envolver em disputas judiciais com esposas de padres, bispos e papas. Enfim, a força da reforma, de Lutero e Calvino, obrigou a igreja a mudar sua posição e adotar políticas mais ativas e restritivas ao seu clero.
No centro de todo este conflito ficaram outras religiões, politeístas ou não, que tinham uma interpretação diferente da divindade e dos seus poderes e de outras que não eram politeístas, mas, não eram abraâmicas. Essas religiões, todas em um mesmo saco, passaram a ser então a tradução da palavra paganismo.
A igreja, usando o princípio, que já expliquei, da estupidez humana, simplificou bastante a forma de entender as religiões. O que não era monoteísta era politeísta, e mais, somente estes 2 modelos se aplicam a uma religião. Além disso, como as religiões não são iguais e apresentam variações sutis no seu divino, basicamente as únicas religiões monoteístas existentes são as abraâmicas, as três que tem origem no mesmo deus. Neste critério de classificação todas as demais são politeístas, pagans e por isso mesmo atrasadas.
No ponto de vista católico, Pagão é sinônimo de ruim, atrasado, politeísta e monoteísta é sinônimo de bom, de puro, de elevado.
Essa simplificação teológica foi ótima. Se encaixou nos objetivos políticos do papado e na estupidez das pessoas.
O REFLEXO DISSO NO BRASIL E NO CANDOMBLÉ
Em função deste contexto a religião africana, no geral, e no nosso caso o Candomblé, ganhou o cunho de paganismo e seus Deuses, tipicamente ancestres na sua origem, viraram forças da natureza.
Entretanto, não existe nada que de valor a isso. No caso do Brasil, para piorar, o kardecismo francês criou toda uma visão espiritual própria que posteriormente a Umbanda se ligou a ela. Como a Umbanda erroneamente (tão errada como usa nomes de santos para seus guias ela usa nome de Orixás do Candomblé. Ambos sem nenhuma relação) se ligou a Orixás, essa mistura confundiu mais ainda as pessoas.
Assim, o Candomblé virou pagão e politeísta. A Umbanda que é uma religião brasileira e não tem vínculo nenhum com a religião Yorùbá, virou parte da tal matriz africana e misturou o kardecismo na sua bagunça teológica. Por fim o Candomblé passou a ser tratado pelas próprias Iyalorixás como uma seita enquanto elas passavam a pertencer a irmandades católicas, a religião verdadeira.
O mal entendimento do Candomblé passou por essa associação histórica de coisas malucas, e, também, por pessoas como Nina Rodrigues que nada sabiam de Candomblé e que passaram a escrever como se tivessem alguma autoridade sobre o assunto. Tudo isso acabou colocando as religiões não cristãs, no Brasil, em um mesmo saco, furado, de ideologia espírita.
Em função da lastimável e miserável formação religiosa dentro do Candomblé, estes conceitos de força da natureza, espiritismo e seita, se estabeleceram dentro do próprio Candomblé. Os Babalorixá e Iyalorixás, apesar de terem a propriedade para falar, mas, sem qualquer capacitação passaram a repetir esses conceitos que lhes eram impingidos pela sociedade culta.
Os que não gostam de ver eu dizer que a formação religiosa do Candomblé é deficiente devem observar que o acesso a mitos ou poemas de Ifa é restrito ou inexistente. O hábito de discutir teologia no Candomblé não existe. Você não consegue juntar 3 babalòrìṣà (babalorixá) sem que seja para eles rasgarem seda entre eles ou brigarem entre si. Poucos estão dispostos a colocar em questão o que sabem ou o que pensam, exceto se for uma cátedra onde ele fala e outros ouvem.
Essas pessoas normalmente não são preparadas para, falar em público, discutir suas teses, dirigir pessoas, lidar com desafios verbais e até mesmo orientar o aprendizado de pessoas. São muitas vezes pessoas muito boas, agradáveis e com conhecimento das suas liturgias.
Existe uma dificuldade na formação de sucessores. Pior, as pessoas não se preparam e se capacitam para ter uma casa. Existe uma legião de pessoas com pouco ou nenhum acesso a conhecimento que mesmo assim, sem legitimidade ou capacidade abrem casas e passam a ser autointitular de sacerdotes e representantes da religião.
É claro que essas pessoas, sem terem aprendidos com os seus mais velhos, tem que se virar com algo ou com o que tem. É neste campo que essas concepções idiotas florescem. O que mais vemos é pai de santo, metido a besta, que responde perguntas usando os conceitos do kardecismo-espirita. Mas, afinal, eles vão dizer o que? Que não sabem?
É claro que a vertente conhecimento não é o forte do Candomblé. A vertente forte é a devocional, a fé. Para isso você não precisa saber o que é, você sente o que é e você também acredita porque sente e vê. A resposta mais comum para quando se pergunta uma coisa do tipo o que é o Candomblé ou o que é o òrìṣà (orixá) ou qualquer coisa de aspecto mais teológico será algo que começa com “eu amo meu òrìṣà (orixá)...” e por ai vai uma torrente de expressões de sentimento e fé. Isso reflete o que ela sabem, e elas sabem o que sentem.
Esse é o jeito pelo qual esse tipo de sincretismo é aceito e prolifera. Assim como os africanos fizeram no passado com os antropólogos, as pessoas sabem o que é, elas sentem o que é, e se esta definição, de elemento da natureza satisfaz o inquisidor, que o seja. Isso não impede entretanto que em espaços ou oportunidades como essa a gente possa visitar ou revisitar questões como essa, ou a reencarnação ou o conceito de nascimento e destino, as proibições, etc... evitando assim que da nossa própria boca saia coisas como o Karma.
É claro que saber ou não o que parece certo não faz uma pessoa fazer melhor um santo do que outro. àṣẹ (axé) e roncó é outra coisa, mas, não tem nada demais a gente poder tratar dos assuntos com outra base.
A questão do POLITEÍSMO e do MONOTEÍSMO
Em termos de definição para uma religião ser politeísta, segundo Paul Tillich (systematic Thelogy, Vol. I):
Politeísmo é um conceito qualitativo e não quantitativo. Não é uma crença em uma pluralidade de divindades e sim a falta de uma instância unificadora e transcendente é que determina a sua característica.
Não importa a quantidade de divindades e sim a qualidade delas e de sua relação. Em uma religião politeísta não existe uma divindade superior as demais, todas tem o mesmo poder e não existe assim uma força reguladora do conjunto.
O Candomblé, como muitas outras, não é politeísta porque existe uma relação bem clara de hierarquia entre Olódùmarè e as demais divindades. Assim, possuir divindades, originais ou divinizadas não transforma uma religião em politeísta, senão, o catolicismo com seus santos e sua trindade também o seriam, mas ninguém ousa fazer isso.
Em função de preconceito, conforme eu já me expliquei anteriormente, as religiões abraâmicas tem esse interesse histórico em diminuir e marginalizar as demais religiões. Como eu já expliquei e estou apenas lembrando, todas as religiões que não são cristãs, são denominadas pagãs. Assim, eles, de forma ignorante, simplificam essa discussão a um modelo muito singelo. Tudo ou é monoteísta ou é politeísta, baseado no modelo de referência deles. Se é igual ao modelo deles, é monoteísta. Se é diferente então é politeísta. É o binário burro.
O maior problema ao tratar do assunto religião na sociedade é que o preconceito domina essa a conversa toda a ponto de as pessoas que não gostam da abordagem cristã, elas mesmas, sem saber o que dizem, afirmam que não fazem parte de uma religião monoteísta.
Claro, porque o modelo de escolha que é imposto deixa pouca margem para discutir. As religiões cristãs querem apenas dar prosseguimento ao preconceito histórico contra as outras correntes religiosas e chamam todas as demais de politeístas.
Isso não é correto. Mas também não é uma ofensa como essas pessoas querem afirmar. Sim, na visão delas, uma religião "boa" é a monoteísta. O politeísta não é colocado como um atributo e sim um defeito.
Mas existe um outro aspecto também tão ruim quanto esse. A maior parte das pessoas, ignorantes no assunto, prefere aceitar sua religião ser chamada de seita e dizer que é politeísta. Duas coisas menores na visão dos cristãos.
Para os cristãos, seita é uma coisa menor um pedaço da religião verdadeira, e isto está correto uma vez que o termo nasceu do judaísmo onde as seitas são tradições que divergem da interpretação tradicional das suas escrituras.
Politeísmo remete ao velho testamento, quando os próprios judeus adoravam deuses zoomórficos, na forma de animais como o carneiro. Isso, para eles, era um episódio negro e assim politeísmo é um pejorativo.
As pessoas do Candomblé devem entender que ao aceitarem serem chamados de seita ou de politeísta pelos cristãos não estão apenas sendo classificados erradamente. Estão sendo ofendidos e diminuídos.
O Candomblé e a religião africana não são politeístas. São Henoteístas, mas, isso não importa. O que estou dizendo aqui é que entender religiões é coisa complexa, mas, o que é feito hoje em dia com essa dualismo monoteísmo-politeísmo que foi imposto pelos cristãos é apenas preconceito. Não existe respeito ou inteligência nesta discussão. As pessoas não sabem o que estão falando e isso também não interessa.
As religiões abraâmicas são as únicas monoteístas e nem por isso são melhores do que outras religiões. Existem muitas formas de classificar uma religião, politeísta é apenas uma delas e se aplica a um grupo muito restrito.
As pessoas foram induzidas a achar que uma religião é monoteísta (boa) ou politeísta (ruim, atrasada). Isso serve a objetivos políticos e a sua estupidez. Assim toda a vez que alguém pergunta se a religião africana, ou qualquer outra, é monoteísta ou politeísta, isso significa que:
  • essa pessoa é idiota
  • ela já sabe a resposta
  • o objetivo é de praticar o puro preconceito
Eu recomendo responder a essa pergunta dizendo que é monoteísta, que tem um deus maior chamado Olodumare que tem divindades auxiliares que podem ser equivalentes a anjos, arcanjos, e santos. Assim se ter anjo é politeísmo então a deles também é.
Claro que isso é uma grande imprecisão, mas, a pergunta não é honesta e esta resposta vai deixar o interlocutor perdido sem saber o que falar à seguir. Vamos combater fogo com fogo.
Pessoas que pertencem a uma outra religião devem primeiro se informar para poderem primeiro entenderem a si mesmo e também poderem discutir com elementos de outras religiões, ao invés de aceitarem tacitamente rótulos inadequados, seja pelo aspecto que é um uso inadequado de conhecimento seja porque a finalidade é de fato ofender. Assim temos uma dupla ignorância.
AS SEMPRE CONTROVERSAS FONTES DE INFORMAÇÃO RELIGIOSA
Os antropólogos que estudaram a África ao longo do século passado e talvez no anterior, não ajudaram muito. Eles em seus estudos se preocupavam muito mais com a sociedade do que com a religião. Eles não tinham a formulação religiosa como um fim, mas, entendiam que não poderiam falar sobre o povo sem falar sobre a religião uma vez que uma coisa permeava a outra.
É como hoje em dia a gente estudar um país muçulmano. Não dá para falar da sociedade sem falar da religião. Contudo as enormes dificuldades de comunicação e a preocupação dos africanos estudados em agradar aqueles que os pagavam levaram a respostas e interpretações equivocadas. Os próprios Yorubas foram em parte responsáveis pela visão errada que se criou da religião deles.
Posteriormente na medida em que africanos foram sendo educados na Europa e tiveram acesso as ciências humanas e sociais e ao que foi escrito sobre eles, eles voltaram a Africa para fazer os seus próprios estudos. Idowu em seu livro "African Traditional Religion" descreve que houve 3 fases nos estudos sobre os africanos.
A primeira, a da ignorância, a segunda, onde quem escreve já passa a respeitar que existe uma diferença cultural e que existe de fato uma cultura não conhecida mas comparável a deles no lado "nativo" e, a terceira, onde finalmente entram em cena os escritores africanos.
Hoje em dia melhorou muito, mas, ainda temos pessoas se referenciando em obras antigas e bastante distorcidas. É importante que se entenda que nem tudo o que esta escrito em um livro tem valor e nem todo mundo que escreve sobre algo sabe o que esta falando. Tomem cuidado com autores que repetem o erro de outros.
Verger foi muito perspicaz quando percebeu isso e escreveu sobre esse processo. Ele verificou uma sequencia de autores que se repetem e em muitos casos que repetem coisas ruins. Fez um bom artigo sobre o assunto, chamado Etnografia religiosa Yorùbá e probidade científica, no qual ele cita erros grosseiros que foram repetidos, um deles que compromete seriamente a tradição Lukumi e também aproveita para criticar Juana Elbein e seu livro os Nago e a Morte. Vale a pena ser lido.
Não gosto dessa crítica a Juana, acho que a resposta dela a Verger foi muito boa, mas tirando essa fogueira de vaidades o artigo do Verger ilustra muito bem isso o que estou explicando aqui.
Eu mesmo, buscando referência sobre um assunto, o sistema de crenças Yorùbá encontrei pelos menos 3 autores diferente que para um mesmo assunto repetem as mesmas palavras. Incrível! Um primeiro se deu ao trabalho de escrever sobre o tema, Parrinder se não me engano, nem o fez de forma brilhante e outros apenas o copiaram.
Tomem cuidado aqui no Brasil com autores que podem estar repetindo bobagens. Nina Rodrigues que durante algum tempo foi uma referencia em Candomblé só escreveu lixo por exemplo. Mas, é comum pessoas engordarem suas páginas com conteúdo de outros.
FINALIZANDO
Para quem chegou até aqui, como eu disse e repeti várias vezes a religião é composta de elementos muito importantes, alguns intangíveis como o iwa pele e o nosso destino, outros lembrados mais indiretamente atualmente que é a ancestralidade. Este ultimo se perde um pouco devido a que nem todos de uma mesma família seguem a religião e uma casa de santo esta longe de representar uma família espiritual, mas, mesmo que a gente não se lembre a ancestralidade é uma das bases da nossa vida.
A religião que a gente adota é complexa em parte porque existem de fato conceitos pouco claros, na origem, ou que se tornaram complexo devido a junção aqui no Brasil de várias correntes religiosas e regionais distintas.
Infelizmente só recentemente surge um esforço de teologizar a religião e mesmo este esbarra na polêmica e no preconceito. Outras correntes religiosas, as cristãs contam com linhas filosóficas que procuram aprofundar as questões teológicas e sua interpretação. Infelizmente esta religião aqui não contou com isso na Africa e no novo mundo esbarra em uma babel pior ainda.
Eu acho que não cabe discutir liturgias, mas, não podemos em função disso nos abster de discutir todo o resto independente de sabermos ou não as respostas.
... sem querer ser chato, mas enfatizando, assim, na formo que eu vejo o cosmo yoruba, baseado em textos de odù que eu consegui ler até hoje, em mitos que eu li ou ouvi ao longo de anos, o òrìṣà (orixá) não faz parte da ordenação das forças naturais do mundo em que vivemos. Este ordenamento é atribuído a Olódùmarè que como o deus distante (ou tornado distante) faz com que a natureza e o mundo funcione.
Os òrìṣà (orixá) conforme aparecem nas histórias e explicitamente no odù óxéotuwa e Ogbe Meji, são os braços e mãos de Olódùmarè no aiye. Sofrem aqui com os mesmos fonomenos naturais que sofremos e não demonstram nunca controlar a natureza.
Eles primariamente são a sua ligação do divino com nós, para nos ajudar e proteger. Nosso ori é feito com nosso òrìṣà (orixá). Os òrìṣà (orixá) surgem em todas as histórias representando papéis comuns como se fossem pessoas comuns, com as mesmas perfeições e imperfeições que temos de modo a que possamos nos espelhar e entender o conhecimento que passam.
São também a instância direta, junto com o ori e a ancestralidade, que recorremos para resolver nossos problemas, ligados ao nosso sucesso na nossa vida como a necessidade de termos saúde, de termos família, mulher, filhos, oportunidades, trabalho, dinheiro e podermos com nossa prosperidade darmos seguinto a nossa vida e atingir o destino que estabelecemos antes de iniciar essa nova encarnação.
Como braços e mãos de Olódùmarè os òrìṣà (orixá), conforme eu comentei no início disso tudo, alguns deles tem algum controle sobre elementos da natureza. Mas como elementos podemos considerar um todo, de vegetais, minerais, doenças, até fenômenos da natureza, e estes sao usados não de uma forma reguladora, mas como instrumentos de sua necessidade e ação em exercer a sua missão junto a nós.
Eu não consigo ver um òrìṣà (orixá) sem o mesmo estar relacionado com nossa vida, ficando longe do significado que tem os deuses naturais das tradições europeias e greco-romanas (não tenho conhecimento suficiente para citar outras).
O entendimento da metafísica desse cosmo deve passar pela lembrança que temos vários entidades e espiritos além dos òrìṣà (orixá). Este conjunto está longe de ser perfeito e complementar, existem coisas que parecem redundantes ou que não são complemente racionais, mas, como sabemos é um povo muito simples, agrário e que não teve unidade, continuidade e pensamento filosófico próprio para poder explorar e documentar cada faceta da rica cultura e religião.
Por todos os argumentos que longamente descrevi a introdução desta visão de Orixá elemento da natureza não se adapta a religião Yoruba. Foi colocada por estrangeiros. A Religião Yoruba tem poucos elementos ligando a religião e a natureza. Sol, lua e estrelas nem fazem parte de mitos.

A religião é complexa, mas, o povo é bem mais simples. Os estranhos é que tem preguiça de aprender, preferem inventar.

sábado, agosto 01, 2015

Você tem que fazer o Orixá no Candomblé?

Você tem que fazer o Orixá no Candomblé?


Paradigmas para um novo Candomblé


versão 3


NÃO

Gostaria que minha resposta pudesse ser assim tão simples, mas, vou ter que escrever dezenas de linhas para explica-la.

Quero esclarecer que o texto não foi feito totalmente para neófitos. Foi feito para pessoas que conhecem ou que já estejam tomando conhecimento do Candomblé. Este é um assunto que deve ser discutido por essas pessoas.

O Candomblé está se tornando em nossa sociedade uma religião mais conhecida e aceita. Provavelmente mais aceita do que conhecida, mas, sem dúvida nenhuma, infinitamente mais difundida do que antigamente quando sua prática era localizada em guetos étnicos e o restante da sociedade aparecia como cliente ou convidados especiais.

Minha posição é que ele já deixou de ser identificado com uma etnia, apesar de ainda ter pessoas que usam a religião junto com sua causa étnica. Não confundam as coisas.

O Candomblé não pertence aos negros e muito menos aos africanos. O Candomblé é uma tradição religiosa brasileira, que está adaptado à nossa sociedade. Os africanos que estão vindo para cá do Benin e da Nigéria nada sabem sobre nosso Candomblé ou mesmo tem propriedade para falar sobre ele.

Esta religião é do povo brasileiro. Não se trata de um tipo de induismo ou judaismo que você tem que nascer indu ou judeu para fazer parte. O Candomblé pode fazer parte da vida de qualquer um. Ainda existem negros que podem achar que isso seja alguma coisa que pertença a eles. Esqueçam, não sabem de religião assim como não sabem de nada.

Quando o Candomblé saiu do escopo da polícia civil e virou religião aceita pelo estado, a população em geral começou a ter acesso à rica teogonia e teologia que esta religião possui. A religião Yorùbá é infinitamente mais rica se comparada com o padrão de religiões africanas sub-saharianas, mas, se destaca mesmo se comparada com outras religiões do mundo ocidental e oriental. Ela está no primeiro pelotão, com louvores.

Este foi o motivo que levou somente ela a influenciar os povos do novo mundo em função da diáspora negra. Em todos os lugares que receberam Yòrúbas esta foi a religião que acima de qualquer outra se estabeleceu e gerou tradições. Mesmo na África, na região geográfica em torno da região Yorùbá. Minhas observações sobre a história daqueles povos, mesmo com poucas informações e análises objetivas, me induzem a concluir que a influência da religião Yorùbá no seu entorno é muito maior do que se supõe e a originalidade de supostas outras linhas religiosas, como a religião dos Voduns seja questionável.

Eu sou levado a pensar que, um processo histórico lento e longo fez com que os povos em volta da região Yorùbá fossem influenciados por esta religião original e em função das falhas do processo de tradição oral, uma vez que não havia tradição de escrita na região, fez com que a religião sofresse deturpações e distorções. Histórias foram recontadas, versões foram criadas, divindades trocaram de nome, animismos viraram religiões baseadas na religião Yorùbá.

Muitos elementos me levaram a isso e não tenho tempo ou mesmo formação para defender essa teoria mas me acho com liberdade de expressar essa minha opinião. Posso usar argumentos simples. O primeiro deles é que religiões originais, bem construídas, consistentes e com teologias superiores são raras, existem poucas no mundo. Essas religiões de fato, sobrevivem ao tempo e aos eventos com bastante resistência. Esse é o caso da Yorùbá.


O segundo é que a região geográfica de onde vieram Nagos e Jejes é bem pequena. É impossível que um grupo não tenha influenciado o outro bem como as distorções que podem ser provocadas por uma tradição oral são muito evidentes.

Por fim, as similaridades estruturais são muito evidentes. Assim como as óbvias variações de regionalismos que a tradição oral deve ter feito.

O grupo Bantu, muito grande na África, mas, muito pobre como cultura e sociedade, representado aqui pelo Angola, que era geograficamente distante do grupo Yorùbá, em nenhum lugar do mundo influenciou ninguém, apenas coisas colaterais e em termos de religião, apenas animismos. O Candomblé de Angola é uma invenção dos Bantus aqui no Brasil. Eu já coleitei material sobre esse tema e vou escrever sobre isso.

Dessa forma, assim como os Bantus inventaram uma religião que nunca tiveram, podemos considerar o Candomblé também como uma adaptação desta raiz religiosa para o nosso povo. Não temos nada, mas nada mesmo, que dar satisfação ou copiar orientação de africanos da Nigéria e do Benin.

Assim as pessoas se impressionam bastante com o que passam a conhecer quando tomam contato com o Candomblé. Infelizmente conhecer mal. Mas isso não é nada inédito. O Candomblé sofre hoje o mesmo que sofreu catolicismo antes da compilação, e depois popularização, da bíblia. É uma teologia pouco conhecida e entendida. Sim, o Candomblé precisa de uma Bíblia, um corão, uma torá ou um mahabarata, porque senão fica sendo representado pela imaginação criativa de um monte de gente e não pelo que ele é de fato. Pior, muitas vezes pelo comportamento inadequado de pessoas que dizem representar seus valores.

O que existe mesmo é gente desinformada falando bobagem, fingindo saber, insinuando conhecimento. É gente que não consegue explicar nada. Entendam, não estou falando em erudição, não, estou falando de saber a religião que dizem professar.

Estou falando de gente que não sabe explicar sua religião com 10 palavras e muito menos com 1.000. Estou falando de gente que nem sabe para o que serve uma religião na vida das pessoas. Isso se aplica de brancos a negros, de azuis a amarelos, gordos e magros, ricos e pobres.

É muito fácil você responder a primeira pergunta sobre uma coisa. Mais difícil é você responder a segunda pergunta (mais profunda) sobre o mesmo assunto, muito mais difícil ainda é seguir assim perguntado e respondendo. Quantos passam da segunda pergunta?

A maioria dos Babalorixás e Iyalorixás, como se auto-denominam por ai, só conseguem enrolar a primeira resposta, normalmente um adjetivo mal explicado. Vide aquele livro chamado, O Candomblé bem explicado, que é um manual para se responder, enrolando, a primeira pergunta, somente....

Olha não gosto de fazer críticas genéricas, por isso não faço fofocas, escrevo textos. Mas é importante lembrar a todos esta situação. O que eu mais vejo é pessoa se dizendo sacerdote e que não consegue sustentar uma conversa com ninguém. Que não sabe explicar o que faz. Que mistura catolicismo, espiritismo, umbanda e sei lá mais o que para falar de dogmas da sua religião e de Orixá.

É muito complicado a gente falar o que é de fato parte desta religião aqui com tanta gente fazendo o contrário. Eu ouço de vez em quando uns programas de rádio supostamente sobre Candomblé, aqui no Rio, nas rádios Metropolitana e Solimões. Lixo. Estelionatários declarados. Pessoas que se passam de Babalorixá e fazem um programa para vender amarração, feitiço, favores. Além de encherem o ouvido das pessoas com abobrinhas. A cada 1 coisa certa que eles falam tem 10 besteiras. Não é religião é apenas comércio de feitiços.

Claro que eles não são diferentes dos programas de evangélicos que disputam as mesmas rádios e horários. A grande diferença é que evangélicos sabem o que falar e o que defender.

A qualificação de sacerdotes é o primeiro ponto de revisão de uma religião de verdade. O grupo que ai esta é muito mal formado ou não tem formação nenhuma. As pessoas NÃO podem acreditar mais que por uma pessoa se dizer babalorixá e ter casa aberta ela é uma conhecedora da religião e vai poder orientá-la. Se o que a pessoa está procurando é aprender uma religião ela vai ter que ter muito cuidado.

Eu já falei somente sobre esse assunto em outro texto, mas resumidamente muitos desses tais Babalorixás inventaram cargos, não cumpriram suas obrigações, não pagaram o seu tempo de obrigações, ficaram pulando de casa em casa tomando obrigação com pessoas diferentes e não receberam o Oye de Babalorixá (isso vale para as Iyalorixás também, só não vou ficar escrevendo toda a vez as 2 palavras).

Em função disso ai não aprenderam o Candomblé. Vou repetir não estou me referindo a erudição, estou me referindo ao básico, aquilo que a gente aprende em gotas homeopáticas frequentando a mesma casa e tendo oportunidade para conversar com pessoas mais velhas, aprendendo delas. Isso significa entender a filosofia e os valores.

Além disso a pessoa tem a oportunidade, hoje, de buscar uma compreensão maior da religião, uma coisa que nossos antecedentes não tinham. Essa busca de melhor conhecimento não é algo errado. É algo que eles não tiveram acesso e duvido que deixariam de ter se esforçado para obter esse conhecimento.

Quando uma pessoa sai pulando de casa em casa para tomar suas obrigações e também apagar o seu passado ela também perde a referência de hierarquia. Ela passa a mandar no que faz sem nenhum controle. Assim o primeiro sinal para se avaliar uma casa e entender qual e como é o vínculo da casa e da pessoa com que o fez. Para ter certeza vá na pessoa que o fez e peça referência dele. Pergunte a cronologia de obrigações. Se a pessoa não quiser responder, vire as costas e vá embora, vai ser melhor para você, acredite.

Gente a pessoa que entra em uma religião quer saber como ela é. Quer saber o que é um orixá e o que ele representa. Quer saber como a sua vida se integra no cosmo. Não adianta dizer para alguém que perguntar sobre o que é um Orixá, com aquele sorriso amarelo e os olhos no vazio, que você ama o seu Orixá. Isso é patético.

Voltando ao Candomblé universal, se o Candomblé pretende se posicionar como uma alternativa religiosa viável para as pessoas, algumas coisas devem se modificar. A primeira é acabar com esse viés caça-níqueis e se se ocupar de fato em ser uma religião.

Viés caça-níquel é esta exploração monetária de jogos, ebós e obrigação. O comércio de liturgias. Isso é ridículo e nivela essa religião com o que existe de pior na sociedade.

Uma das principais coisas que devem ser mudadas é a questão da feitura de Orixá.

Não é verdade que as pessoas para serem desta religião tem que fazer feitura do seu Orixá. Isso acima de tudo é uma preferência do Babalorixá para pode ganhar dinheiro. Porque nada que ele coloca a mão é de graça e quanto mais pessoas amarradas á sua casa através de feituras, mais dinheiro ela vai garantir com obrigações, ebós e jogos.

O corpo das pessoas que fazem parte da casa é assim aumentado como um rebanho leiteiro que sempre vai garantir o dinheiro dele. Os clientes se somam a isso aumentando esta receita de forma variável, mas, a receita do "rebanho" será sempre garantida.

O que eu disse parece grosseiro, mas, é isso mesmo.

Este é o formato adotado na maior parte das casas de Candomblé, nos Ilê Axé. Não fiquem assustados e nem finjam espanto. Esta prática não é original do Candomblé, acontece na sociedade como um todo. Também acontece no Candomblé.

Para o Candomblé ser uma religião ela tem que começar acabando com isso. Quem sustenta um Ilê Axé tem que ser as pessoas que participam do Ilê Axé. Não podem ser transações comerciais associadas a venda de liturgias pelo babalorixá. Esta é uma prática muito pior do que instituir uma mensalidade, um dízimo (como na igreja, não como nos templos evangélicos que são apenas assaltantes) ou um rateio de despesas, como um condomínio.

Qualquer método que conte com a participação de todos será muito superior ao do Babalorixá cobrando por trabalho, porque essa não é uma prática adequada para uma organização religiosa.

Também não podem os membros das casas serem tratados como clientes, pagando por obrigações, ebós e jogos. Essa palhaçada de dizer que é obrigado a cobrar "chão" ou "salva" ou "cobertura de anjo da guarda" são eufemismos para esconder o simples comércio.

Uma casa precisa se manter. O dirigente tem que ter obter recursos para fazer suas próprias obrigações que são consequência da sua atividade. Ele precisa também se manter. Isso tudo a religião não oferece restrição, pelo contrário.

Mas, como estamos tratando de uma casa de religião, é necessária uma distinção entre o que custa aos membros da casa manter a sua casa funcionando, e isso pode até incluir a decisão da comunidade em manter ou subsidiar o sacerdote e, dentro disso também, o subsídio que esta comunidade define que vai receber ao atender pessoas que não fazem parte da casa.

O atendimento de pessoas que não são permanentes da casa sempre foi parte das estratégias que antigas casas de Candomblé usavam para se sustentar e ao seu Egbe. O problema é a proporção que isso tomou porque estelionatários que vendiam feitiços, favores, mentiras, amarrações usando uma fachada esotérica descobriram que poderiam melhorar o seu produto podre se passando de Candomblecista.

Essa invasão maculou o modelo honesto do Candomblé.

Outro problema foi o das pessoas que entravam no Candomblé já contando tempo para se proclamarem Pais-de-santo e viverem desta atividade. Não eram pessoa que procuravam seguir uma vocação, elas procuravam uma profissão. Gente que não servia para nada. Não queria estudar e não queria trabalhar.

Não existe problema no sacerdote profissional. Padres são sacerdotes profissionais, remunerados pela Igreja que é mantida pelos seus fiéis. Mas este sacerdócio sofre controle e um monte restrições fazendo que, acima de tudo, tenha que existir a vocação.

Já o Pai-de-santo de beco não tem nada disso. Ninguém controla, ele faz o que quer e ainda inventa controle para outros.

O que era para ser um exemplo de humildade, ver pessoas mais velhas ou até mais bem posicionadas na sociedade, por seu valor próprio se hierarquizarem em uma casa de orixá virou um escárnio, porque pessoas despreparadas, decadentes, incapazes e mentirosas assumem uma posição que não pertence a elas. Comumente são mentes psicopatas e estelionatários, desprovidos de propósito e moral abusando da fé de outros.

Por esse caso extremo, claro, porque nem todo lugar é assim e nem toda pessoa é assim, é que o Candomblé tem que reagir de forma radical a esta questão mercantil. Uma reação radical e vigorosa vai deixar de um lado as casas séria e do outro essas pessoas.

Assim não se trata de romper com o modelo da religião que não vê problema em dinheiro, através da prática da ajuda a simpatizantes, sustentar uma casa e sim de ser obrigado a adotar uma posição distinta em função da forma como a religião legítima foi usada por pessoas não legítimas.

O outro aspecto é o que eu iniciei este texto, o Candomblé precisa se adaptar ao processo de universalização na sociedade, preservando o que é bom e melhorando aquilo que é inadequado a este novo status. Sim o Candomblé e as pessoas do Candomblé aspiram a um status pleno de religião.

É necessário então encontrar um modelo de financiamento do Ilê Axé que seja distinto do empregado por esse grupo de estelionatários travestidos de Babalorixá, que falam de orixá, falam de nação, falam de Umbanda, falam de cigano, falam de ajé, falam de egungun, falam de amarração, falam de ebó e falam de qualquer coisa que a pessoa queira ouvir, porque elas sabem que tem muita gente tola, gente que você fala 9 coisas que ela não quer ouvir, mas se você falar 1 só que ela queria ouvir já basta.

Um outro capítulo nesse assunto é o assunto que eu comecei, antes de ter caído nesse "galho" do financiamento da atividade religiosa, que é a questão da feitura de Orixá. É claro que a feitura de Orixá se insere no financiamento da atividade dos estelionatários.

Uma pessoa que entra para o Candomblé deve se preocupar em entender a religião e como ela pode ajuda-lo a ter uma vida melhor sendo uma pessoa melhor e mais feliz.

É isso o que as pessoas procuram em uma religião. Procuram viver melhor. Ser pessoas melhores. Viverem em harmonia consigo mesmo e com sua família.

Mas o Candomblé, sendo uma religião iniciática, ela oferece muitos status e vaidades e, como diria Al Pacino, a vaidade é o pecado preferido do diabo.

Quando a pessoa entra para uma casa de orixá, um Ilê Axé, ela inicia como um Abian, um simpatizante ou um crente da religião. Abian é o nome que se dá.

A pessoa pode, e deve, ficar como um Abian por muito tempo, talvez toda a sua vida.

A fé não se mede se a pessoa é um abian ou um Iyawo. Fé é acreditar no divino, no Orixá e trazer isso para a sua vida de uma forma positiva, que permita a essa pessoa superar seus problemas pessoais através de aprender novos valores e uma nova forma de administrar a sua relação com as pessoas e com sua vida.

Um Iyawo é uma pessoa que passa por um complicado, sofrido e longo processo de feitura. Esse processo prepara a pessoa para poder ser um elegun do seu Orixá na terra. É através dos Elegun que o Orixá incorpora e se manifesta em uma casa para ajudar a sua comunidade, distribuindo axé para as pessoas.

Sem elegun não existe Orixá na casa e na nossa vida. Orixá não é apenas uma coisa que fica no ar e que sempre esta por ai. Não é verdade. A função do Elegun é justamente estabelecer a ponte para que o Orixá possa vir do Órun (mundo espiritual) ao Aiye (terra) e distribua o axé para as pessoas.

É por isso que uma casa de Orixá tem que ter muitos elegun e tem que ter elegun de todos os Orixás. O Elegun é uma pessoa importante e o Babalorixá não consegue tocar a sua casa sem eles. Toda a casa tem a necessidade de ter Eleguns dos Orixás e de qualidades diferentes inclusive.

Por isso um Babalorixá precisa fazer feitura em Pessoas e precisa encontrar e atrair essas pessoas dos Orixás que ele precisa.

Para ser um Elegun é necessário fazer a feitura e ser um Iyawo por 7 anos, no mínimo, normalmente isso vai durar muito mais tempo.

Para uma pessoa trocar de status de Abian para Iyawo deve existir um propósito. A pessoa tem que entender o que isso vai significar para a sua vida. A pessoa tem que saber no que isso muda a relação dela com o divino, mas, saber de fato e não, ser enrolada com mentiras.

A verdade é que o Orixá não vai gostar mais da gente porque a gente fez o Orixá. Não vai gostar mais da gente porque a gente tem um igba. Não seremos mais felizes por causa disso. Não seremos mais protegidos por causa disso.

Existem motivos que podem levar uma pessoa a uma feitura. O Ilê Axé pode precisar, a pessoa pode precisar. O pior motivo é o babalorixá precisar para alimentar a conta bancária dele.

Abians e Iyawos precisam de Bori do mesmo jeito, de ebós de mesmo jeito e de jogo do mesmo jeito. Um abian pode ter inclusive um igba. Como fonte de receita um abian pode ser tão promissor como um um Iyawo....

Ser um Iyawo não é uma evolução religiosa natural. É assumir uma nova postura diante da sua religião e se comprometer com obrigações religiosas da casa e do Babalorixá. Se você busca uma religião e não esse compromisso fique como Abian sua vida toda, ai você pode ir quando quer, mudar de casa, etc...

Mas o caso é que ser um Iyawo muitas vezes é apenas uma necessidade financeira do sacerdote e uma vaidade do abian. As pessoas devem se despir de vaidade e antes de dar qualquer passo mais profundo na religião devem primeiro aprender sobre ela.

Se o Candomblé quer ser uma religião de muitos tem que se ocupar mais em se transformar em uma opção real e palatável para as pessoas. Tem que se ocupar com os seus membros e não com clientes. A gente tem que separar os Ilê Axé de verdade dos mercadores de feitiços.

Claro que é uma religião iniciática, dogmática e altamente litúrgica. Mas pode continuar a ser tudo isso sem se transformar em fazer pessoas infelizes.

Acima de tudo o Candomblé tem que se ocupar em se incorporar à vida das pessoas sem que as pessoas abandonem a sua vida normal. A Fé deve se adicionar a vida das pessoas e não substituir.

Muitas liturgias e iniciações podem ser feitas para Abians. Ser um Iyawo acabou matando essas opções.

O meu ponto aqui é o fato de que a feitura é um processo muito intrusivo na vida da pessoa. Gera muitas relações e ligações e muda o equilíbrio do axé da pessoa. As pessoas têm se preocupado em se aprofundar em liturgias sem se ocupar em saber se ela está feliz na religião que adotou.

O melhor para a vida de qualquer um é ser um Abian. Ser Iyawo é tão sério que essa opção tinha que ter registro em cartório com testemunhas.

SIM, você poder ser do Candomblé sem ter que fazer o seu Orixá. Inclusive é muito mais seguro. Entrar em uma feitura é abrir sua vida e se fragilizar. Se você fizer isso pelo motivo errado ou com a pessoa errada por ter problemas, novos, para o resto da sua vida.

Existem muitos caminhos para uma pessoa ser vida toda Abian no Candomblé. Ela pode participar de tudo o que interessa, rezar, ter acesso ao divino, receber axé, se realizar sem ser feita. Inúmeras liturgias, quase todas, podem ser feitas em Abians. Acima de tudo uma pessoa busca na religião paz e realização. Este tem que ser o foco das pessoas.

Uma casa precisa de Iyawo, mas, não é necessário que todos seja Iyawo. Vou repetir, é uma iniciação tão séria que eu sinto vergonha quando ouço que pessoas vão para uma mesa de jogo e 3 meses depois estão feitas.

O Candomblé tem que ter um modelo inspirativo. Tem que inspirar a fé, a dedicação e a transformação das pessoas para o seu melhor. Não pode ser um centro de confusões na vida da pessoa.

E mais importante. o Candomblé TEM que ser uma religião familiar. A família tem que estar junta na religião e na casa.

As pessoas falam do escando dos padres pedófilos na igreja católica. Olha na média isso é pinto visto o que se encontra nas casas por ai. Tome cuidado onde bota o seu pé limpo. Não existe controle das casas. O controle é seus olhos e ouvidos. Preste atenção e não se emburreça. Não faça nada, nem um ebó, sem saber muito bem como é aquela casa e pessoa.

Algumas recomendações simples: Não vá para casa onde o Candomblé é a própria casa da pessoa, onde ele toca no quintal ou na varanda, da obrigação em quartos, etc..

Não vá para esses candomblé urbanos todos acimentados, sem espaço para folhas e árvores. Candomblé exige um espaço especial, não é igual à Umbanda. Candomblé exige espaço dedicado, com muita preparação e assentamentos. Não se toca Candomblé em beco de vila. Não dá para Babalorixá misturar o seu espaço pessoal com o Sagrado. Se ele não tem recurso para ter uma casa de Candomblé, com terreno próprio, então não era nem para dizer que é Babalorixá.

Se a pessoa não quiser dizer a sua cronologia de obrigações ou a casa onde foi iniciado e se fez todas as obrigações lá e nome da pessoa que o iniciou, vá embora. Se a pessoa que o iniciou já morreu ou a casa já acabou e ele não tem nenhum irmão de orixá ou mais velho para dar referencia dele, então vire as costas e vá embora.
Se fosse um médico que quisesse te operar você ia fazer isso tudo.

Por fim, quero esclarecer que o objetivo desses textos sobre o Candomblé não é criticar o fácil, mas, trazer à reflexão das pessoas essas questões. Além disso, pessoas novas têm que acordar para a realidade.