Cerimônias de Nascimento Yorùbá
Parte 3 de 3
A
cerimônia de Imori
Esta
cerimônia significa “conhecendo o Ori”. É um complemento da
primeira cerimônia o Ikoxewaye e não tem ligação com a segunda, a
cerimônia de nome.
Vamos
revisar esses conceitos. A primeira cerimônia descrita, o Ikoxewaye
é o momento que se conhece o Odù de nascimento do recém-nascido. É
realizada entre o terceiro e o oitavo dia de nascido. Esta cerimônia
não é exclusiva de adeptos da religião. Pode ser feita pelo
Bàbáláwo para qualquer criança de qualquer religião.
A
segunda cerimônia, a de nome esta ligada a religião da criança,
não tem sentido ela ser feita pelo rito Yorùbá se a criança é
católica ou muçulmana. Assim a criança pode passar pela primeira
cerimônia e depois seguir os ritos de sua religião.
A
terceira cerimônia, o Imori, esta ligada a religião Yorùbá. Não
vejo muito sentido ela ser feita para crianças de outra religião.
Depois
da criança pisar no mundo e receber o seu nome, chega a vez dela
colocar a cabeça no mundo. Os Yorùbá entendem que até o terceiro
mês aquela alma ainda está entrando nesse mundo e naquele Ori.
Existe um processo de adaptação a este mundo em curso e a alma
ainda neste momento tem muita informação da sua origem para passar.
Quando ela se unir definitivamente com o seu Orì interior vai
esquecer do Órun (ọ̀run) será impossível resgatar as
informações sobre suas origens. Esta é a razão que leva essas
cerimônias serem realizadas tão cedo e serem impossíveis de serem
realizadas mais tarde.
A
cerimônia se inicia novamente com a presença da criança e da mãe
na esteira. A cerimônia será feita no início da manhã. Na noite
anterior a criança deve dormir com uma fita preta e branca colocada
nos seus pulsos, cotovelo, calcanhar, joelho e pescoço. Isto é um
sinal para preparar o espírito da criança para o ritual do dia
seguinte.
O
ritual inicia nas primeiras horas da manhã, com uma oferenda de Gin
e dendê no assentamento dos ancestres do Bàbáláwo, usando um Obì
para determinar se isso foi aceito. A mãe também pode trazer
oferendas, como canjica, Cará ou peixe seco. O pai da criança pode
estar ou não presente e pode também trazer alguma oferenda para
seus ancestres.
As
oferendas são colocadas de cada lado do ópón (ọpọ́n). No lado
direito o da família do pai e no lado esquerdo o da família da mãe.
O
Bàbáláwo fará a abertura do seu Ifá e ao terminar riscará e
rezará no seu ópón (ọpọ́n) o odì Ogbè Méjì. Ele vai pegar
a criança da mãe, como fez na primeira cerimônia e vai tocar a
cabeça dela no chão e depois no ópón (ọpọ́n). Dessa forma a
cabeça entrará no mundo.
A
cabeça da criança deve ser aspergida com água. A água deve ser
jogada no chão e a criança deve beber também um gole de água.
Depois dela o Bàbáláwo, a mãe, o pai (se presente) e todos os
demais.
O
Bàbáláwo tomará 2 pequenos gravetos feitos com árvores
especiais. O graveto da família do pai, chamado de Ixémokurin
(Iṣẹmọkurin) será de Akoko, uma árvore intimamente ligada com
a ancestralidade masculina. O da família da mãe, chamado de
ixémobirin (iṣẹmobirin) será de uma árvore de frutos doces e
com muitas sementes. Na áfrica é feito de uma árvore chamada de
maçã de estrela branca (chrysophyllum albidum, sapotaceae), de
fruto doce e com uma semente vem negra. Esta semente é um importante
instrumento de ìbò em Ifá, usado para perguntas a Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà).
Claro
que não vamos encontrar aqui a African white star apple, mas deve
ser usada uma árvore de frutos doces, pode ser de uma laranjeira.
Cada
um dos gravetos fica do seu lado da família.
O
Bàbáláwo, como é tradicional em Ifá deve explicar o propósito
da cerimônia e desejar as bençãos para a criança. Pega então os
2 gravetos, toca no Ikins, na testa da criança. No chão e os
circula no ar 3 vezes.
Ifá
não será usado para tirar um Odù. O Odù que prevalece é o Odù
do nascimento que pode ser riscado e rezado.
Ifá
será tirado em uma consulta múltipla para definir de qual lado da
família vem o espírito da criança. Ele pode vir do lado da família
da mãe, do pai ou vir de orixá (Òrìṣà) e nesse caso será um
espírito novo na família. São traçados 3 Odù um para cada parte,
sendo o mais à direita a família do pai, o do meio o orixá (Òrìṣà)
e o da esquerda a família da mãe.
Depois
de definido isso pode ser feita ou não exploração adicional para
determina que ancestre específico estase manifestando na criança,
se ela é um bàbá tunde ou uma iyabode.
Outra
consulta múltipla deve ser definido através dos Ìbò qual caminho
de benção deve a criança vem abençoada na sua vida:
Ìbò
|
Representa
|
Significado
|
apaadì
|
vitória
e sucesso
|
Diz respeito a vitória
na vida sobre os seus inimigos e podemos aqui incluir as relações
de trabalho e negócios
|
Egun
|
saúde
|
Indica que o Odù se
refere a saúde do consulente ou de sua família, ou seja, mulher
e filhos.
|
Irú
|
fartura
e felicidade
|
Filhos, felicidade e fartura
|
okoto
|
mulher
|
Representa os
relacionamentos, a casa ou o casamento
|
owó-ẹyọ
|
dinheiro
|
Indica que o Odù se
refere a questões de negócios
|
okúta
|
destino
e a vida
|
Indica que o Odù se
refere a questões da vida do consulente
|
O
Bàbáláwo poderá então perguntar sobre o orixá (Òrìṣà) da
criança e qual o orixá (Òrìṣà) de família que ela deverá
também prestar homenagem. Essa parte é muito especial porque
envolve o Bàbáláwo conhecer bem o culto de orixá (Òrìṣà) e
Orì o que não é comum.
Cada
pessoa vem apenas com um único orixá (Òrìṣà) de Ori. Existe um
segundo orixá (Òrìṣà) de proteção que complementa o orixá
(Òrìṣà) de Orì que pode ser de qualquer gênero, não existe
regra de que é um orixá (Òrìṣà) de cada gênero. Isso é falta
de conhecimento.
Adicionalmente
a criança pode ter um orixá (Òrìṣà) de família e também um
orixá (Òrìṣà) de ancestralidade, de herança que vem com este
espírito. Estes orixá (Òrìṣà) adicionais não são o orixá
(Òrìṣà) de Orì mas complementam a vida espiritual da criança.
Por
último, o Bàbáláwo pega 3 folhas de Akoko e coloca em cima delas
um pouco de cada elemento que foi usado como sacrifício. Antes de
colocar nas folhas ele deve tocar o elemento nos ikin, na testa da
criança e na sua boca. Cola então nas folhas. Quando todos os
elementos já estiverem representados, ele joga em cima o pó de
yerosun (Yẹ̀ròsùn) e fecha as folhas formando um pacote bem
amarrado com as fitas que foram colocadas na criança para ela
dormir.
Esse
pacote será colocado em um prato branco no meio do opon (ọpọ́n)
e girado primeiro no sentido do relógio e depois no sentido
contrário. Ele então pergunta a todos:
“-
a criança veio ao mundo ou a criança não veio o mundo?”
Os
pais devem responder: “- a criança veio ao mundo!”
Ele
então rodando o prato deve dizer “- A criança veio ao mundo para
ser feliz e aproveitar de todas as coisas boas do mundo”.
Ele
pega o prato com o pacote e o entrega para a mãe. Ele vai rezar
agora pela felicidade da criança. Após concluir ele pega de novo o
pó de yerosun (Yẹ̀ròsùn) e joga sobre o prato de pacote. Nesse
momento o pó se torna a manifestação material das preces.
Esse
pacote deve ser guardado pela mãe com todo o cuidado e será uma
proteção para a criança e poderá ser usado com a orientação do
Bàbáláwo.
Conclusão
As
3 cerimônias são muitos importantes sob o ponto de vista desta
religião como de qualquer outra. Coo explicado algumas delas podem
ser feitas para qualquer criança, independente da religião dos
pais. Mesmo no caso de pais que tem religiões diferentes as
cerimônias podem ser aplicadas.
Claro
que a criança deve ser batizada apenas através de uma religião.
Não existe sentido em batizar a mesma criança em várias religiões.
A primeira água é aquela que abençoa e não existe necessidade de
mais nenhuma outra.
A
cerimônia de Imori, poder aplicada com algumas reduções para
crianças de outras religiões, no que pese no meu entender ela ser
mais aplicada às crianças de pais ou de um dos pais da religião
Yorùbá.
Num
ponto em que o Candomblé carece de cerimônias autênticas, estas
cerimônias através de Ifá são importantes para a afirmação de
uma religião plena e autônoma. Já basta o Candomblé ficar
copiando cerimônias católicas ou submetendo seus seguidores às
cerimônias católicas.
Minha
posição é que nenhum Babalorixá deveria fazer qualquer batizado
ou casamento se a família submeteu a criança a um batizado católico
ou pretende submeter. De fato não dá para saber o que será feito
depois, mas, perguntar se a criança já foi batizada antes sem
dúvida é mais fácil.
Por
último, faço a mesmo recomendação de sempre. Essa cerimônia deve
ser feita por um Bàbáláwo mesmo que junto com o Babalorixá (
Bàbálórìṣà) da família. Mas tome muito cuidado com ambos os
sacerdotes. Não escolha gente que vende sua mão para fazer feitiços
e amarrações, que vende qualquer favor por dinheiro e que não
tenha reputação ilibada. Você não vai colocar uma mão suja para
fazer isso para seu filho.