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segunda-feira, novembro 29, 2021

domingo, novembro 28, 2021

Por que deuses precisam de sacrifício?

 POR QUE DEUSES PRECISAM DE SACRIFÍCIO?

 

Hoje em dia existe um julgamento ético de religiões alheias baseadas em 2 grandes fatores, a quantidade de deuses e a existência e oferendas ou sacrifícios. Este é um tema comum e bem batido mas vou retornar nele.

Eu tenho um vídeo onde falo longamente sobre essa questão de sacrifícios na religião, o link para o vídeo esta a seguir e eu recomendo muito ser assistido.


SACRIFÍCIOS RELIGIOSOS

 

Este é um blog orientado para a religião e desta maneira os temas aqui sempre giram em torno da visão teológica dos assuntos, isso, inclusive, orienta a escolha dos assuntos que falo aqui.

A religião católica é majoritária no mundo ela está ligada ao que chamamos da raiz religiosa abraâmica e esta raiz, originária no judeu Abraão, cobre as religiões católica, judaica e islâmica. A religião católica se dividiu e vários ramos, os principais foram a ortodoxa oriental e a católica romana. A católica romana abriu vários cismas, com ramos com os protestantes, os anglicanos e um sem número de seitas. Os judeus têm um caminho similar. Os islã tem 2 grandes divisões os Sunitas e os Xiitas e ainda parte como o Sufismo.

Estou citando isso para mostrar que a realidade é que essa raiz religiosa é muito ampla importante no mundo, ela espalhou uma teologia que se tornou majoritária e transformou todas as demais religiões do mundo em pagãs e também nas “outras religiões”.

O termo pagão virou um adjetivo para qualificar um desvio, algo ruim, mas, originalmente, ele apenas significa o que é não católico. Assim pagão não é ateu ou demoníaco ou fetichista é apenas, ser não católico. Contudo, entender palavras e semântica é algo muito sofisticado, ainda. Os séculos se passaram e o domínio da comunicação continua sendo de uma elite, o povo comum se alfabetizou, mas, foi apenas isso, continua não entendendo o que lê e o que ouve e a capacidade de comunicação pertence a uma elite.

No meio popular “carimbar” algo de pagão é como usar um palavrão de salão, tipo, ateu, não ligado a deus, mas, isso não é verdade, seja porque a palavra não significa isso e as coisas carimbadas também não representam isso. A falta de domínio da língua faz apenas parte da manipulação de pessoas toscas com a própria verdade. Isso parece exagero meu, mas, não é, veja uma vez uma pessoa em um comentário de vídeo me acusou, de forma pejorativa (creio que era essa a intenção dele) de ser um articulador (!). Tenho certeza de que ele não sabe que estava me elogiando.

A partir do século XV a igreja católica adotou mais fortemente um caminho que a afastou totalmente de liturgias místicas. O místico e o supernatural era do domínio apenas de padres e de padres selecionados, ela criou círculos fechados para lidar com isso e fez com que sua prática comum fosse apenas devocional. A igreja católica é iniciática, mas, até isso ganhou outro nome, para os católicos, as “obrigações” e iniciações viraram apenas sacramentos.

Eu recomendo muito a leitura do livro “A religião e o declínio da magia” de Keith Thomas. É muito bom e retrata bem essa mudança de posicionamento da igreja.

Assim, continuando, os outros têm iniciações, obrigações, oferendas e sacrifícios. Eles não. Mas, eles, os católicos, fazem oferendas e sacrifício em toda missa. Tudo ficou tão pasteurizado que ninguém mas percebe ou comenta. Até mesmo a linguagem mística, o latin, foi substituída. Tudo isso para construir uma igreja e uma culto “limpinho”.

A religião judaica tem na Kabalah o seu ramo mais mítico. Eles são monoteístas, mas se você se aprofundar e entender o que eles podem fazer com a Kabalah, além de estar 100% baseado na fé judaica e em sua filosofia e teologia, você vai encontrar magia, espíritos, oráculo e tudo o mais. O mesmo existe no Islã, o Sufismo é a prática esotérica restrita para poucos. Os católicos tiveram através dos alquimistas como Cornelius Agrippa, Francis Barret, Paracelso e outros, a sua ala absolutamente religiosa e de fé fervorosa e absolutamente mística. Reduzir os alquimistas a pessoas que buscava, transformar chumbo em ouro é um pensamento reducionista e obtuso.

O que quero chamar a atenção aqui é que esta raiz religiosa majoritária, bem como todas as religiões no mundo tem dentro de si duas verdadeiras vocações. A primeira é transmitir o que deus diz que deve ser o nosso comportamento para que sejamos abençoados com suas bençãos e assim também sejamos boas pessoas para a vida em sociedade. Deus nos diz como nos comportar em comunidade, como sermos boas pessoas e nos dá como prêmio para esse comportamento as bençãos dele. A segunda vocação da religião é nos ensinar a usar, controlar e manipular energias do supernatural, através da magia, feita baseada na ética religiosa.

Assim essa minha visão de religião a coloca de um lado como a mensagem de deus para nós, as diversas religiões representam as diversas formas como deus comunica a mesma coisa e de outro, usando essa ética aprendemos a usar o supernatural para facilitar nossa vida.

Os católicos em determinado momento decidiram que era muito difícil constituir uma religião mundial com isso tudo. Era liberdade demais e poder demais na mão dos padres e também a tornava alvo de críticas e cobranças de resultado. O seu nível superior, acima das pessoas, sua verdadeira ligação com deus seria abalada em intermináveis questionamentos e críticas. O papa Honório Magno possivelmente foi o último que produziu um grimório, apesar da polêmica que existe em torna da autoria de seu grimório.

A igreja de Roma optou por um outro caminho, muito mais fácil do ponto de vista geo-político. As pessoas se tornaram pecadores naturais, herdeiros do pecado original e precisam ser salvas nesta vida e para isso precisam a igreja. O inferno é o caminho destinado a todos os que não se salvarem. Não importa se você é uma pessoa boa, honesta, ilibada, gentil, solidária, etc., o que importa é se você se submete para ser ter sua alma “salva”.

A igreja fala em nome de deus, o papa se apresenta como o representante de Jesus no mundo e através dele a igreja diz que você nasceu nesse mundo para uma vida que deus lhe deu mas você precisa ser salvo. A igreja não te promete nada e nem se compromete com nada, sua única promessa é salvar sua alma depois que você morrer. Essa promessa você jamais poderá cobrar deles, da igreja, assim como não poderá cobrar nenhum resultado, porque os resultados deles são para quando você morrer, para o seu pós-vida.

Esse é o padrão de medida deles, a régua deles para uma religião.

Eles criaram um modelo que chamam de “monoteísmo”, fazendo como se esse fosse o modelo correto e único a ser adotado, por todas as pessoas. Qualquer outro modo de se relacionar com deus ou de deus se relacionar com a gente é errado. A medida deles é, a religião tem que ser “monoteísta” e deus tem que se chamar Jeová.

Essa atitude impositiva e proselitista não é a toa, isso está na bíblia, no antigo testamento, nos livros da Torá. É assim que deus mandava as pessoas procederem. O antigo testamo mostra um deus que tem ciúme de outros deuses. O antigo testamos mostra o grande deus, o que criou tudo, tendo ataques de ira, posturas mesquinhas, falta de controle sobre o mundo e incapacidade de fazer os judeus, seus escolhidos a fazerem o que ele quer. Mostra também um deus que criou o mundo e todas as pessoas, mas que escolheu uns poucos e que mandava esse poucos matarem todos os demais que entrassem em seu caminho.

Mas, continuando, monoteísmo não é um adjetivo que qualquer outra religião consiga se adaptar, porque esse modelo deles é exclusivo para a raiz judaica, todas as demais religiões do mundo tem outros modelos que não se encaixam exatamente nesta definição, posso inclusive dizer que é bem difícil ter adjetivos de classificação que sejam comuns a mais de uma religião, existem algumas classificações que se ajustam mais ou menos.

Desta maneira esse termo “monoteísmo” é uma virtude e todas as demais são “politeístas”. Eles classificam o mundo de forma bem maniqueísta, monoteístas, nós, somos bons, politeístas, eles são mal. Mais uma vez, não importa o significado desta palavra, não importa a semântica disso, o que importa é que esse termo que na história da religião deles era algo ruim, é o termo que eles usam para todas as demais religiões.

Depois dessa volta, aliás uma volta curta, eu gostaria de falar muito mais sobre isso, chegamos também nos ritos. O ritos deles, sua liturgia “limpinha” é o que importa e é o que é bom, as demais são sujas e feitas para lidar com demônios. Os católicos fazem oferenda de pão, representando o corpo do cristo morto e o vinho, o sangue do cristo morto, que todos devem comer e beber nas missas “brancas” deles (ou seriam negras?). A liturgia da missa transforma o pão, a hóstia no corpo de Cristo e eles o comem. Fazem oferendas de velas e flores o tempo todo, usam incenso e defumam.

Mas as demais religiões, quando oferecem flores, água, incenso, defumadores, arroz, farinha, canjica ou qualquer outra, independente da finalidade se tornam animistas e fetichistas, cultuadores do demônio.

Os católicos podem ter imagens de gesso, dezenas, centenas, mas, as demais religiões não podem. As imagens deles são ícones, são representações e lembranças, como foi definido pelo Concílio de Trento. Na visão oficial da igreja, as imagens não são deuses, são “ícones” meras representações para nos levar a deus, assim como o culto aos santos não era um culto a outros “deuses” e sim formas de, também, se chegar a deus.

Na visão deles, nas demais religiões as diversas divindades existentes são deuses, o mini-deuses (não importa), são uma diversificação de deus e desta maneira politeísmo, mas as deles não, nada disso, são ícones, caminhos para se chegar ao deus “único”. Aliás um deus único, que para os católicos, se dividiu em três, formando uma trindade, pai-filho-espírito santo. A trindade não é politeísmo, mas, a religião indiana, com a trindade brahma-vishnu-shiva, é um politeísmo.

Cabe dizer que dentro da raiz Abraâmica, outras religiões questionam a trindade católica romana. Dentro mesmo do catolicismo existem seitas que não concordam com isso. A chamada controvérsia Ariana, trata disso, foi uma discussão teológica que se estendeu por séculos e existe até hoje. Todos que se opuseram ao trinitarismo católicos foram excomungados como hereges e com isso o tema não é discutido no catolicismo romano. É assim que o papado encerra os questionamentos, eles designam o discordante como herege e ponto final.

Eu voltarei nesse tema estrutural em partes e com bastante calma oportunamente.

Assim construído esse cenário complexo, finalmente vamos ao tema.

Seguindo essa construção, como já citei, na visão de todas as religiões, sendo esse uma afirmação minha, existe um supernatural que nos rodeia. Vivemos no mundo natural, o mundo que vemos e enxergamos, mas estamos dentro de outro contexto, estamos dentro de outro mundo invisível a nós com espíritos e energias que nos rodeiam e nos influenciam, estamos imersos nessa dupla dimensão, um contexto físico e um contexto meta-físico.

Todas as religiões entendem isso, inclusive católica. A diferença entre as religiões é a importância que cada uma dá a esse contexto supernatural e o foco que elas dão a atividades que envolvem este contexto.

A religião que eu represento, a religião dos Orixá (Òrìṣà), através da teologia de Ifá vê isso de forma mais ampla. O universo tem 2 dimensões, a dimensão física, na qual estamos e a dimensão espiritual superior, o órun (Ọ̀run). No órun (Ọ̀run), que seria o “céu” ou o paraíso dos católicos, nós encontramos o deus supremos, as divindades que o representam e nós mesmos, na forma de nossas almas. Não tenho informações para dizer como é a existência nessa outra dimensão, que chamei de espiritual superior. Não tenho informações na teologia de Ifá. Ifá se concentra em explicar o que chamamos de Àiyé, que é a união do mundo natural com o contexto supernatural.

Assim, deve ficar claro que temos 2 contextos supernaturais. Temos um que está ligado ao mundo natural que vivemos, o contexto supernatural e temos uma outra dimensão superior que é de onde viemos e para onde vamos. Isto parece complexo mas deve ser entendido.

O que nos importa é o Àiyé, que é composto do mundo natural mais o supernatural. Este supernatural é chamado de Ìrònà em Ifá, mas, outras religiões chamam de astral, érebos e outros nomes. A magia funciona no nosso mundo através deste supernatural, é nele que circulam os espíritos e energias e a magia.

 

 




Calma, tudo isso é importante para eu explicar a questão dos sacrifícios, esta é a explicação mais simples que eu posso dar para isso, mas, se você não entender este contexto metafísico e supernatural, não vai entender a razão de sacrifícios e oferendas em uma religião.

O supernatural e a magia sempre fizeram parte das religiões, posso até afirmar mais, a religião transmite as orientações de deus para nós, a religião é a linguagem que deus define ou escolhe para se comunicar com a gente, mas, além disso a religião contêm os ensinamentos de deus para nós podermos usar o supernatural a nosso favor, a nosso suporte.

Hoje os católicos (essa definição inclui os demais ramos) acusam outras religiões desta “sujeira” esotérica, deste barbarismo e se colocam assim em um nível superior e mais elevado. Para eles, a comunicação deles é direta com deus, sem intermediários, sem deuses menores e deus, quer apenas orações. Eu vou voltar nesse ponto.

Mas vamos na bíblia. Procure os livros iniciais, principalmente o Levítico onde existem instruções específicas de ritos. Definitivamente, este deus elevado, superior e “único” pedia sacrifícios. De acordo com a bíblia deus matou muita gente. Deus exigiu o sacrifício do filho de abraão e substituiu pelo carneiro que passou assim a ser o substituto do sacrifício humano e, observe, que abraão ia cumprir o que deus mandou ele fazer.

Deus matou primogênitos no Egito, crianças inocentes. Os judeus faziam e fazem o sacrifício do bode expiatório, veja como esta na wikipedia:

Dois bodes eram levados, juntamente com um touro, ao lugar de sacrifício, como parte dos Korbanot do Templo de Jerusalém. No templo os sacerdotes sorteavam um dos bodes. Um era queimado em holocausto no altar de sacrifício com o touro. O segundo tornava-se o bode expiatório, pois o sacerdote punha suas mãos sobre a cabeça do animal e confessava os pecados do povo de Israel. Posteriormente, o bode era deixado ao relento na natureza selvagem, levando consigo os pecados de toda a gente, para ser reclamado pelo anjo caído Azazel.

Segundo relatos anualmente milhares e animais eram mortos no templo de Jerusalém e essa matança apenas acabou porque o tempo foi destruído (tem que se ler a bíblia para entender porque não foi reconstruído). Mas, existem tribos diferentes e muitas delas não usavam o templo e por esta razão até hoje continuam a fazer sacrifícios.

O islã faz sacrifícios de cabritos e carneiros a deus, a Jeová. Hoje em dia, os judeus tradicionais comem a comida Kosher e os rabinos fazem sacrifícios religiosos dos animais que serão consumidos pelas pessoas.

O que quero dizer é que estamos tratando da mesma visão de deus que só católicos têm, estamos tratando dos mesmos livros sagrados, a mesma bíblia. Os livros sagrados judeus fazem parte da Canon católico.

Desta maneira estamos tratando de uma religião que ensinou a lidar com o supernatural e que faz sacrifícios e oferendas a seu deus. Eu não vejo diferença desta religião para qualquer outra, seja no sacrifício ritual feito na missa comum, como também nos sacrifícios e nos ensinamentos que estão no Levítico.

Se você lê os livros de alquimistas que eu indiquei, você observa que eles são absolutamente crentes em deus, fazem tudo de forma completamente religiosa, rezam para tudo o que fazem e você encontra neles os mesmos sacrifícios e ritos que as demais religiões possuem para as mesmas finalidades, que é o uso do supernatural para ajudar pessoas.

Mas então de onde veio essa coisa de religião “limpinha”?

Como eu disse o papado precisava ter uma religião fácil de administrar e manter o esoterismo ia trazer muitos problemas. Assim, os católicos acabaram com tudo isso, qualquer uso do supernatural que tivesse o propósito de fazer magia e trazer benefício às pessoas foi eliminado. A visão do suporte de deus para eles foi simplificada, virou só uma aliança na qual nós temos que quer em deus e ele vai salvar nossa alma.

A abordagem dos católicos foi abrir mão do supernatural e com isso se afastar de qualquer tipo de assistência as pessoas através do supernatural. Eles ficaram apenas com a fé e devoção, sem a troca. Na visão católica somos descendentes de adão e herdamos dele o pecado original. Nascemos condenados e temos o diabo nos aguardando. Não importa de você é bom, sempre será mal e precisa da igreja romana para salvar sua alma.

Os pecados nos atormentam continuamente e precisamos nos livrar deles através dos padres que têm esse poder divino.

Desta maneira o modelo católico é bem simples: nascemos perdidos, precisamos da igreja para salvar nossa alma, pecamos o tempo todo e precisamos o padre para tirar nossos pecados, se tudo der certo, nossa alma será salva mas só saberemos disso depois de morrermos.

Perceberam a falta de comprometimento com sua vida, seu destino, suas dúvidas? Sua vida atual não interessa.

E as demais religiões?

São diferentes. Em Ifá, nós entendemos que temos, de fato, temos uma aliança com deus. Deus nos dá essa vida que temos e se compromete a nos suportar no nosso sucesso. O supernatural existe para recorremos a ele, ao supernatural, espírito e divindades na busca de auxílio. Podemos ser atendidos ou não, mas o supernatural existe.

Observe que temos que distinguir 2 coisas, uma é o fato de existir o supernatural e podermos usar esse contexto energético para fazermos magia. Isso sempre será possível caso você tenha o conhecimento e a capacidade. Outra coisa é que espíritos vão nos responder no supernatural.

Em termos de religião estamos lidando com o Órun, com o nível espiritual elevado, os Orixá (Òrìṣà). Para que as coisas funcionem tem que existir a vontade, a capacidade e o merecimento. Mas existem outras formas e outros espíritos, a feitiçaria se baseia no uso do supernatural através de outros espíritos que não são os Orixá (Òrìṣà). Quando você vai a um sacerdote de Orixá (Òrìṣà) essa pessoa pode estar fazendo a magia para você através de Orixá (Òrìṣà) ou não, resta saber se ele o sacerdote sabe a diferença disso. Ir em sacerdote de Orixá (Òrìṣà) não implica que você está recorrendo a Orixá (Òrìṣà) você pode estar recorrendo, sem você saber a espíritos menores e mesmo a simples feitiçaria.

Não posso dizer se a pessoa que procura esse tipo de ajuda está preocupada em quem está atendendo a ela, minha opinião é que a maior parte das pessoas que procuram casas e sacerdotes querem comprar soluções, não importa quais sejam.

Resumindo até aqui, o supernatural é um recurso que deus criou para usarmos em nosso suporte e socorro. No contexto da religião este ligado a ética a ao merecimento e visa solucionar alguns tipos de problemas que vão de orientações a doenças. Pode ou não dar certo, depende o problema, do merecimento, da execução do rito e da capacidade do operador (sacerdote).

Os católicos não querem fazer uso disso porque isso os compromete com essa vida que estamos vivendo e eles não querem ser cobrados.

Mas, afinal e os sacrifícios e os deuses? Vamos a isso.

Para fazer magia precisamos de energia, essência. Nós chamamos de axé (àṣẹ), os alquimistas de quintessência, os orientais chamam de Chi e por ai vai. Em resumo além do nosso corpo existe um contexto energético supernatural e essa energia não está livre por ai, ela está armazenada em lugares.

O renascimento e o humanismo fizeram a humanidade abandonar sua relação com o supernatural e também com a religião que o representava. Antes, com a ausência da ciência a religião era a fonte de explicação para tudo e na falta de conhecimento real os sacerdotes inventavam explicações.

A religião representa o mistério, o desconhecido. Na falta do conhecimento a religião dominava e não por acaso combatia a ciência que buscava explicar as coisas que ela já tinha explicações.

Esse foi de fato um período muito negro da humanidade, a superstição e a opressão social baseada e crenças religiosas foi um período muito ruim da humanidade, pessoas morreram, sofreram e perderam por causa disso. Voltaire escreveu livro chamado O Cândido no qual retrata isso, é um livro pequeno que vale a pena ser lido, é o reflexo desse tempo.

Mas a ciência avançou e com ela o humanismo que reprimiu tudo o que era baseado em religião. O resultado disso foi a restituição do equilíbrio, mas, negativamente ocorreu uma reação contra a religião e tudo que era baseado em fé ou no supernatural passou a ser renegado.

O círculo de Viena foi o movimento que resumiu isso através do seu positivismo lógico e buscou reduzir a pó tudo o que era baseado no mistério, na religião e no uso do supernatural. A soma disso tudo nos levou ao que temos hoje, uma nova “religião” a religião da “ciência”. Essa religião com seus sacerdotes os “cientistas” oprimem o resto da sociedade com suas meias verdade, suas meias mentiras, suas mentiras e suas ilações, da mesma forma como a religião fazia com a humanidade antes do terremoto de Lisboa.

Nós estamos precisando de um novo “O Cândido” para agora tratar dessa opressão. Crer no mistério, crer na religião, crer no divino, crer no supernatural virou proscrito. As pessoas são obrigadas a acreditar em coisas muito mais difíceis de acreditar do que apenas crer que deus fez algo. Existem explicações “científicas” mirabolantes que somente pessoas com fé cega nisso podem acreditar. Essas pessoas tornaram mais fácil acreditar em deus criando o mundo do que crer no big-bang entre outras coisas piores.

Apesar desta perseguição religiosa, o supernatural continua a existir, deus continua a existir.

Mas e os sacrifícios?

Voltando a eles, é importante entender o contexto geral, porque é esse contexto, essa soma de coisas que nos levou aqui, a esse ponto. As energias para serem usadas através do supernatural, como condutor da magia, reside nos seres vivos e até em minerais e metais. A religião acredita que deus quando criou as coisas colocou em cada uma delas uma propriedade especial, uma “virtude” como dizem os alquimistas. São essas virtudes que permitem a magia atuar.

O que fazemos é usar a virtude de um material para poder atuar em outro com aquela virtude. O que nos permite transmitir uma virtude de um lado para outro é a quintessência ou o axé (àṣẹ). No contexto religioso esse processo é feito através de espíritos, existe um portador espiritual conduzindo isso, na nossa religião são os Orixá (Òrìṣà).

Além da virtude pode ser necessária a própria energia, a quintessência, o axé (àṣẹ), o chi e nesse caso isso só pode ser obtido em um ser que vive na dimensão que estamos. A razão é que o órun (Ọ̀run) e o Àiyé são contextos dimensionais diferentes e para atuar no Àiyé precisamos estar no Àiyé e obter aqui no Àiyé esta energia e virtude.

Os sacrifícios animais visam obter desta maneira essa energia vital e também essas virtudes. Nenhum sacerdote tem capacidade de materializar axé (àṣẹ), ele precisa obter isso de onde tem axé (àṣẹ). As plantas são uma fonte importante de axé (àṣẹ), mas o axé (àṣẹ) é pequeno nelas. Elas tem virtudes importantes mas o axé (àṣẹ) está ligado a vida e para ter axé (àṣẹ) tem que ter vida e quanto mais intensa a energia vital mais forte sera o efeito e o poder da magia.

Esta é a razão de o uso de folhar ser indicado para ser de folhas frescas, recém colhidas na mesma manhã do uso, para que essas folhas tenham o axé (àṣẹ). Folhas velhas compradas em mercados ou guardadas em geladeira, não tem mais axé (àṣẹ), terão axé (àṣẹ) enquanto estiverem frescas. Eles permanecem com a virtude mas perdem o axé (àṣẹ) quando morrem.

Dependendo do tipo de magia necessária você pode necessitar apenas das virtudes, ai o que importam são os materiais. Em relação a axé (àṣẹ), o operador da magia, o sacedote deve ficar sabendo que ao fazer essa operação, o rito ou liturgia (ebó (ẹbọ)) que vai fornecer o ebó (ẹbọ) será ele mesmo. É dele a quintessência que transporta a virtude um lado para outro.

Os seres viventes de todos os reinos (animal, vegetal e mineral) são as “pilhas” onde encontramos o axé (àṣẹ) e as virtudes.

Quando precisamos de algo mais forte, seja de virtude, mas, principalmente de energia viva que é o axé (àṣẹ), necessitamos de um ser vivo e é ai que entram os animais. Eles suprem energia de forma intensa e evitam que o operador seja quem forneça seu axé (àṣẹ).

E os deuses?

Como disse junto com esse processo de magia existe em volta de nós espíritos que trabalham com a gente para isso ocorrer. Essa é a razão da magia funcionar com umas pessoas e não com outras, se fosse apenas uma receita todo mundo seria um Harry Porter e isso não é verdade. Você ler uma receita ou um grimório não vai fazer de você um mago, o que o fará um mago é o processo iniciático e as liturgias de manutenção disso que vai trazer e manter junto você esses espíritos que permitirão você fazer sua magia.

Os alquimistas para poderem fazer suas magias rezavam intensamente para obter a ajuda de deus. Além disso eles invocavam, através de selos especiais (signos e desenhos) espíritos para trabalhar no que iam fazer. O que eles faziam é exatamente o que nós Bàbáláwo fazemos, nós somos, literalmente os alquimistas desta religião.

Desta forma, depois de tudo explicado posso resumir isso a poucas frases.

Os deuses não precisam de sacrifícios, eles vivem e outra dimensão energética. Os sacrifícios são e sempre foram partes de ritos orientados a ajudar as pessoas no mundo natural, no Àiyé. Os sacrifícios fornecem a energia que será manipulada pelo Bàbáláwo e conduzida no supernatural pelos espíritos que o suportar (orixás estão incluídos nesse grupo mas não se restringe a eles) para promover o efeito da magia, que é mudar algo no mundo natural através de energias do supernatural.

Todo o efeito de sacrifícios retorna para nós mesmos. Ele é feito para nós e por nós mesmos. Os “deuses” são parte dessa aliança de ajuda que fazem isso ocorrer.

Assim, mais uma vez, deuses não precisam de sacrifícios. Nós precisamos.

No elenco de coisas que podem se beneficiar com a magia está a saúde das pessoas. Não espere fazer magia para prejudicar pessoas, o malefício, ninguém mata ninguém com magia. Mas a saúde das pessoas seu estado físico e emocional é fortemente afetado pela magia. A magia não consegue resolver todos os problemas e doenças, mas ela tem atuação muito efetiva para intensificar a ação de remédios e tratamentos, assim como também pode ser usada para anular o efeito de remédios e tratamentos levando uma pessoa a morrer de uma doença natural.

Você não vai ganhar na mega-sena com magia e nem uma partida de futebol, mas, pode viver melhor e não morrer cedo através da magia. Um Bàbáláwo cuida principalmente disso, da saúde das pessoas.

Como é isso nas outras religiões do mundo?

Tudo o que eu aprendo e passo a conhecer me mostra que as religiões são muito similares, fazendo as mesmas coisas, trazendo as mesmas mensagens e fazendo as mesmas magias. Mesmo a estrutura teológica e teogônica são similares. Se você tirar esse modelo católico de sua referência vai ver que o diferente, o esquisito é o católico. As razões para isso eu expliquei aqui.

Eu sugiro que você se liberte dessa religião chamada “ciência”. Abra seus olhos veja a quantidade de mentiras, desmentidos, mudança de ideia, troca de verdades, erros que são feitos e desfeitos sem a menor vergonha. Esses “sacerdotes” podem tudo.

A vida é sua, viva ela como quer viver, abra seus horizontes e acredite em mais coisas livremente ao invés de acreditar nas coisas que eles querem que você acredite.