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segunda-feira, dezembro 31, 2012

Serão os Orixá (Òrìṣà) elementos da natureza ? Parte 1 de 3


Serão os Orixá (Òrìṣà) elementos da natureza ?

Parte 1 de 3


NÃO! ELES NÃO SÃO!!
 

Este texto é um pouco extenso, mas, trata de um assunto importante que principia o entendimento desta religião. Eu canso de ver gente incansavelmente falando esta bobagem de maneira que estou republicando este texto.

Mas não parem de ler. Este não é um texto velho, é um texto revisto.

É o primeiro texto do ano e vou aproveitar esse período de verão para revisitar alguns assuntos mais antigos e importantes que foram publicados aqui, junto é claro com assuntos novos.


Além de abordar os tema importantes e já tratados, é também um objetivo principal esclarecer a religião para pessoas que não a conhecem ou que ainda são neófitos, assim, estou alterando a linha geral (anterior) de textos do Blog para torná-los mais acessíveis.


A motivação de eu estar escrevendo sobre este assunto é que existe um conceito generalizado que associa os òrìṣà (orixá) a elementos da natureza no sentido literal (e não figurado) de forma que cada òrìṣà (orixá) é dito ser um elemento da natureza. 


Esta, é uma bobagem que está sendo repetida milhares de vezes e que com isso acabou virando uma verdade para muitos, principalmente aqui nas tradições da diáspora. Estou aqui dando minha contribuição para acabar com isso, porque, depois de me debruçar sobre esse assunto, analisando referências teológicas e, mais ainda, versos de odù, eu tenho uma opinião completamente divergente e gostaria de apresentar aqui, no fim cada um avalie o que acha que é correto, se é a versão de que eles são elementos da natureza ou se é a versão que eu estou apresentando.


Vocês decidem...

Assim principiando, pessoas quando questionadas sobre a religião ou mesmo sobre òrìṣà (orixá) iniciam afirmando que o Candomblé é uma religião ligada da natureza e que os òrìṣà (orixá) são a própria natureza ou, elementos grandioso desta natureza, como agua, terra, pedra, fogo, trovão, vento, etc...


Isto esta errado. De fato não são muitas pessoas que conhecem bem a religião e essa tem sido a saída mais fácil para as pessoas responderem aquilo que não sabem. Não precisa fazer muito esforço, vai ser muito fácil encontrar este ideário em livros ruins e na internet em textos copiados e mal produzidos.


Assim, repetindo o posicionamento deste texto, pessoas descrevem para outras que os òrìṣà (orixá) são os elementos da natureza, mas, isso é um engano. Esta é minha posição e vou explicar aqui neste texto.


A minha conclusão após avaliar esta situação é que este erro ocorre por diversos fatores. O principal é que é fruto de um sincretismo religioso, equivocado, entre religiões que não guardam semelhança. É uma forma equivocada de compara ou tornar equivalentes diferentes religiões feito por pessoas levianas. Por fim, e mais importante ainda, é uma parte do grande processo que houve, inclusive entre os ditos estudiosos, de desprezar a religião Yoruba e em função da dificuldade ou do preconceito para entendê-la de fato.


Podemos encontrar e ter que aceitar uma posição, por exemplo de que os òrìṣà (orixá) seriam ancestres, pessoas que foram divinizadas e desta forma pai da nação Yorùbá. Podemos também entender que mesmo em vida eram pessoas poderosas dotadas de forte poder mágico e que os permita manipular alguns elementos primários da natureza, mas, jamais podemos confundir os òrìṣà (orixá) com elementos da natureza.


Alguns podem neste momento questionar: Por que estou eu aqui querendo questionar isso? Minha resposta é simples, para que se possa de fato entender o que é esta religião e entender a sua proposta para tornar melhor a vida das pessoas.


Eu não tenho dúvida que entendendo o cosmo Yorùbá esta compreensão fica muito mais simples, assim como ficaria muito mais simples eu falar sobre esse assunto, mas, não podemos transformar este assunto em uma novela, de maneira que o Cosmo Yorùbá fica para outra oportunidade.


Mas, é importante entenderem que na religião Yorùbá existe uma divindade suprema, que esta acima de tudo e de quem vem toda a criação e manutenção dos seres viventes, ela é Olodumare, o deus Yorùbá. Abaixo dele existe todo um mundo espiritual com divindades de diversos tipos e hierarquias. Um tipo muito especial e que nos interessa são os òrìṣà (orixá). Estas divindades tem como objetivo nos ajudar em nossa vida no mundo natural. 


Nossa ligação com os òrìṣà (orixá) é muito íntima e todos temos na formação do nosso corpo físico um pedaço de um òrìṣà (orixá) que se torna então o nosso òrìṣà (orixá) e um dos nossos protetores. Temos, todos, um protetor principal que é uma divindade pessoal, que aqui no Candomblé chamamos de Orí. De fato, como muitas palavras Yorùbá, Orí serve para muitos significados, mas, entendamos que um dos significados é de uma divindade pessoal e nossa protetora maior.


Em relação aos òrìṣà (orixá) existem 2 tipos principais. Existem os que são os òrìṣà (orixá) da criação, que já existiam antes do mundo natural ser criado por Olodumare (da Gênese).


Existem também os òrìṣà (orixá) filho, ou eborá, que surgiram depois e que normalmente são seres humanos divinizados. Sim, é muito importante entender isso. O ser humano por suas obras e importância para sociedade pode ser divinizado e se transformar em um òrìṣà (orixá), com mesmo status dos òrìṣà (orixá) da criação.

Ao se transformar em òrìṣà (orixá) ele irá também fazer parte do corpo das pessoas que nascem no mundo natural. 


Aqui temos mais um conceito para entender, os Yorùbá entendem que existe um mundo espiritual que é um reflexo no mundo natural. As pessoas vivem no mundo espiritual e ciclicamente nascem (encarnam) no mundo natural. Ao nascer aqui elas necessitam de um corpo, esse corpo é produzido por um òrìṣà (orixá) e recebe elementos que vai individualizá-lo tornando cada indivíduo único.


Nesse processo de individualização o òrìṣà (orixá) fará parte. Assim, nosso espirito vive no mundo espiritual de forma independente de òrìṣà (orixá), mas, quando nascemos aqui no mundo natural um deles irá fazer parte íntima de nossa existência e de nossa proteção para que possamos viver e atingir os nossos objetivos para essa vida.


Esses elementos que são agregados ao nosso corpo físico (orixá, odù, Ori, alma, caráter e ancestralidade) nos transformam na pessoa que somos.


Nesta concepção errada que fazem de òrìṣà (orixá), Xangô virou o fogo e o trovão. Oyá virou o vento e o raio. Óxun virou a água. Os demais não sei bem o que viraram. Mas a correspondência que esses malucos fazem de òrìṣà (orixá) e elemento da natureza é falha e confusa por si só.


Então veja, quem entende alguma coisa de òrìṣà (orixá), sabe que Ṣàngó (Xango) é um eborá, um òrìṣà (orixá) divinizado e não um dos òrìṣà (orixá) originais assim. Como ele poderia ser o fogo, o trovão ou um vulcão, que são elementos que existem desde o início dos tempos? O vento é ọya (óia) ? Mas ela também é divinizada, assim, o vento já existia antes dela ela, e ela não poderia ser o vento,uma força da natureza. Na nigéria a sua história esta associada com um Rio. Ọ̀Ṣun (Oxun) é uma irúnmalẹ̀ (irunmalé) um òrìṢà (orixá) original da criação e poderia sim estar ligada com a água, mas ser a agua? Jamais, ele esta na realidade intimamente ligada com outras qualidades. Por fim, sem exaurir o estoque de bobagens, as pessoas dizem que Ọ̀Ṣàlá (Oxalá) é o ar, por que? Nunca encontrei isso no versos de Odu.


Isso mais parece uma brincadeira de ligar coisas da coluna da direita com a da esquerda, assim coloque os òrìṣà (orixá) que você conhece na esquerda e os elementos da natureza que você conhece na direita, ligue agora um com o outro. Provavelmente vão faltar coisas de um lado e de outro ou mais de um vai estar ligado a mesma coisa. O que estou dizendo em palavras bem simples é, isso é uma bobagem.


Essa é uma visão muito onírica dos òrìṣà (orixá), um sincretismo com a religião greco-romana e com religiões europeias, como a bruxaria tradicional, wicca, etc...


O preconceito é a raiz disso tudo. As pessoas não esperavam encontrar uma religião complexa junto a um povo simples, como os Yorubas, assim, elas avaliaram superficialmente a religião e fizeram associações dela com outras que eles conheciam.


Essa ligação de uma divindade com os elementos da natureza existe em algumas tradições religiosas, muitas delas politeístas puras de fato, que não é o caso da religião Yorùbá. A mim parece mais uma forma de sincretizar a religião africana com formas politeístas e animistas seja por preguiça ou preconceito.


Por esta razão, dizer que os òrìṣà (orixá) são as forças da natureza como eu canso de ouvir é o mesmo que dizer que Ṣàngó (Xango) é São Jerônimo, Ọya é Santa Barbara, Ògún é São jorge. É o mesmo que ouvir babalorixá explicando a vida e a reencarnação usando a doutrina espírita.


Além desta explicação inicial que já pode ser suficiente para muitas pessoas vamos aprofundar a análise desta questão dividindo o assunto em partes e explicando cada uma delas.


Primeiro vamos falar sobre a responsabilidade do sincretismo nesse processo. Depois vamos tratar da influencia do entendimento incorreto da cosmogonia da religião. Vamos comentar um pouco sobre o problema gerado por estudos ruins feitos por antropólogos e estudiosos e, por fim, vamos falar um pouco do cosmo Yoruba para situar o entendimento de todos no modelo que eu considero adequado.


Como sempre lembro que tudo o que é escrito aqui representa a minha opinião, representa a minha análise sobre o que eu estudei e vivencio e estou muito longe de me considerar o dono da verdade ou mesmo infalível.



Após esta postagem vou explicar como se determina Odù negativo no merindinlogun. Como podem lembrar postei ha pouco tempo uma critica às pessoas que dizem que determinados Odù são negativos por definição. Para que não fique apenas na critica vou explicar como elas deveriam fazer e aproveitar para explicar porque se faz 4 caídas.

sexta-feira, dezembro 28, 2012

Feliz 2013


Este Blog deseja a todos os leitores que em 2013 vocês sejam abençoados com as bençãos da saúde, prosperidade, filhos e casa.

Que a vida sempre sorria para vocês e que vocês semprem encontrem o caminho da felicidade.

Retirado de Ogunda Meji

Eu o chamos 3 vezes
Eu suplico sua benção e sua glória
que o sr. solte o laço da morte
e solte o laço da doença em mim
que o sr. me guie para que possa reunir as bençãos da abundância e da prosperidade
me guie para eu ter a benção de filhos fertéis
com honra, saúde e longevidade
que o sr. permita que eu seja conhecido como aquele que gerou bons filhos
e que estes me acompanhem até o dia em que me enterrarem

quinta-feira, dezembro 20, 2012

A comemoração do Natal e o Candomblé


Este textofoi publicado 2 vezes, mas esta data sempre é oportuna para repetirmos.  Estou republicando o texto revisado, uma nova versão.  O momento é oportuno para as pessoas refletirem que opção elas fizeram.

Eu gostaria de colocar algumas posições sobre a questão do Natal e do Candomblé.

A chegada do Natal traz um certo dilema para os religiosos mais conscientes. Certamente não traz nenhum problema para aqueles alienados e inconsequentes. 

Mas, uma pessoa que durante todo o ano abre a boca cheia de dentes para se dizer sacerdote de uma religião como Candomblé deveria pensar muito em como se portar nesse período do ano. Afinal não pode existir nada mais rizível e sem cabimento do que pessoas que se chamam de sacerdotes do Candomblé, falando em menino jesus, presépio, louvando o nascimento do messias e salvador, citando a biblia, se dizendo espíritas, etc... 

Coisas que cabem muito bem a um católico praticante, a um padre mas não a uma pessoa que representa uma outra religião.

E não me venham com argumentos de ecumenismo, ou que respeita muito Jesus, ou que seus orixas estão baixo de Deus e Jesus, ou que já foi batizado naquela religião e por isso tem que respeitar pelo resto da vida. Isso, é no mínimo, ridículo. Todo sacerdote inteligente respeita as demais religiões, deve até se informar sobre elas, mas, jamais, por mais que conheça ou tenha conhecido se manifesta por elas.

A pessoa que é sacerdote de uma religião tem por dever transmitir e viver de acordo com a Fé que ela representa. Um sacerdote não é apenas um simpatizante ou um frequentador. Ele é um pilar da religião. Se ele tem Fé naquilo que representa ele deve viver a sua vida com os elementos de sua fé. Isso não significa que as demais religiões sejam ruins, significa apenas que em algum momento aquela pessoa fez uma opção por um modo de vida muito especial e por uma forma específica de compreender a sua existência.

Se enquadram na categoria de sacerdotes, os babalorixás, as iyalorixás, os egbon, os ogans e ekeji e todos os iyawos. Essas pessoas se iniciaram em ritos que as transformou em portadores de axé e dessa maneira sacerdotes, que de acordo com a estrutura clerical do Candomblé, tem funções específicas.

Para esses iniciados minha palavra é: dignifiquem a opção religiosa que fizeram. Transmitam a sua religião.  Se não conhecem a sua religião então, procurem aprender. Parem de citar a biblia e Jesus. Parem de citar Kardec. Isto é ridículo. Procurem na sua religião a fonte de inspiração para o que querem transmitir. Procurem na sua religião os exemplos que tem que dar.

Dessa maneira a primeira coisa que eu estou chamando a atenção é que sim, sacerdotes do Candomblé devem observar um respeito e uma distância de ritos natalinos católicos. Devem observar o que falam e se manter distantes dos acontecimentos religiosos. Nada de missas, novenas, e discursos falando de Jesus, Maria e toda a família. Devem se dar ao respeito e transmitir esse respeito.

O comportamento do Candomblecista não deve ser diferente das pessoas de outras religiões como Judeus, Hinduistas, Budistas, etc... Lembrem-se, existem muitas religiões no mundo e todos passam pela mesma situação. Eu não vejo Rabinos falando de Jesus e do nascimento do salvador, mas, vejo candomblecistas  falando isso.

Assim a primeira coisa é respeito e distância. Se você já foi católico e montou presépio, esqueça! Isso não te pertence mais. A gente não deve misturar nossas questões pessoais, origens e preferências com a prática do sacerdócio que deve servir de exemplo para outras pessoas.

Eu não vejo problema nos Candomblecistas incorporarem o Natal como uma comemoração de integração da família e de fraternidade. Existe na prática muito mais no natal de ser uma comemoração da fraternidade do que do catolicismo. Já é assim no nosso dia a dia.

Para a religião Yorùbá, a família é o núcleo mais importante. Tudo o que valoriza a família e exalta as relações familiares e fortalece os seus lações esta completamente alinhado com a religião Yorùbá. No Candomblé infelizmente isso é muito esquisito, por isso que eu em muitas coisas menciona e religião Yorùbá e não o Candomblé.

Religião é uma coisa para se cultivar em família, com toda a família. O templo religioso, o espaço religioso e suas cerimônias é uma lugar para ser frequentado pela família toda, todos juntos. A maior parte da casas transformou o terreiro em um lugar tão esquisito e tão ruim que muita gente não tem coragem nem de recomendar nem de levar sua família.

Esta errado o babalorixá que não respeita seus yawos como mães ou pais de família. Esta errado o babalorixá que faz com que a família religiosa seja mais importante que a carnal ou que as obrigações religiosas sejam mais importantes do que as obrigações, deveres e lazer familiar. A família é o núcleo mais importante na religião Yorùbá.

O Natal é assim uma excelente oportunidade para as pessoas de uma religião que valoriza a família e a descendência comemore e exalte isso. O Candomblecista deve se integrar ao Natal como a sua celebração da família e da fraternidade, porque um outro valor muito importante é o da sociedade. Uma pessoa é parte de uma sociedade e não existe sentido em uma vida sem que essa pessoa seja útil para sua sociedade.

O Candomblecista pode dessa maneira se integrar completamente ao período natalino, como uma oportunidade também sua, não deixando os seus seguidores perdidos entre a omissão e a adoção de ritos de outra religião. Deve se posicionar e ter apenas o cuidado de não se integrar aos católicos com a comemoração religiosa deles, que é apenas uma parte do Natal. Nada de referências a Jesus, aos Reis magos, etc... Se a pessoa não sabe o que dizer nesse período, procure primeiro aprender ou ficar de boca calada.

Festas, presentes, amigos ocultos, jantares familiares são bem vindos. Comemore seus amigos.

Quero lembrar a todos que seus é uma palavra substantiva, não significa o deus dos católicos. O deus católico é Javé, ou Jeová. O dos candomblecistas é Olódùmarè.

E para os Umbandistas?  Fácil o Natal é uma festa também para eles. A Umbanda não é uma religião afro-brasileira, é uma religião brasileira e tem base católica. O Natal é um elemento perfeitamente absorvível por ela e seus sacerdotes podem se posicionar como quiser.

Contudo, para finaliza lembro a todos que o Natal não é uma festa católica em sua essência. O Natal é e sempre foi uma festa pagã, ou seja, não cristã. Montar arvore de natal, papai noel em trenó e com saco de presentes nas costas, não faz parte do catolicismo.

Quem quiser conhecer a origem do natal basta da uma googada e ver que o Natal não é uma festa católica é apenas uma festa que os católicos se apossaram, aqui alguns exemplos:




Ma, não vou falar aqui sobre sua origem e sim sobre o processo de como se apossaram dessa data, porque isso é importante.

A Igreja católica tomou conta do mundo ocidental, não somente pelo poder da palavra, competindo com outras correntes religiosas, mas, principalmente pelo poder da espada e da opressão. Isso não tira o brilho de sua mensagem ou de sua importância para formar pessoas melhores, mas, apenas foi um caminho sujo que baniu religiões e obrigou as pessoas à adotarem. Sempre existiram muitas religiões, várias delas com mensagens igualmente boas. Mas o catolicismo corrompeu o processo natural da história e competiu deslealmente. Nem mesmo o Islã fez isso. O Jihad é uma guerra interior, o Islã quer conquistar o coração das pessoas e por isso nunca proibiu o culto das demais religiões em lugares que foram conquistados por povos que eram mulçumanos (mesmo sendo essa religião oficial do estado).

Mas existiam tradições que eram muitos fortes no povo e não adiantava a imposição para acabar com isso. Nesses casos a Igreja usava a estratégia do sincretismo. Assim nas datas especiais de outras religiões eram criadas datas e comemorações católicas que se realizavam concomitantemente com os festejos concorrentes, com o tempo (dezenas e centenas de anos) e com a imposição em paralelo do catolicismo, as pessoas acabavam esquecendo da razão original e se fixavam somente na comemoração católica.

Foi assim com o hallowenn, o dias de ação de graças, o natal, etc...

Essa é a principal razão pela qual me oponho ao sincretismo. É um processo destrutivo. Não tem nada de riqueza cultural para a religião que perde. A cultura do povo pode se enriquecer com o sincretismo através da criação de novos movimentos e formatos, mas, nunca a religião.  

segunda-feira, dezembro 17, 2012

O problema de pular de casa em casa


Uma das coisas que vocês devem ter muita atenção quando ouvem a história de alguém, é se essa pessoa se iniciou e cantou os seus 7 anos na mesma casa, ou se a pessoa é aquela que frequentou tudo quando é casa, dando uma obrigação em cada lugar.

O correto na formação de qualquer pessoa é, primeiramente, ela escolher uma casa para frequentar. Se a casa for adequada, se ela se afinizar com as pessoas que frequentam a casa e, também, se entender com a forma como o dirigente dirige a casa ela pode então decidir continuar na casa.

Com o passar do tempo poderá fazer, algumas pequenas obrigações, como um Bori, e por fim a sua feitura, depois claro de ter absoluta certeza de que aquilo é o que ela quer para si. Somente depois de frequentar uma casa, de conhecer como funciona a casa e a religião que pretende adotar é que ela pode decidir se iniciar.

Mas, principalmente se o local que ela esta escolhendo é o local onde ela vai querer estar, por no mínimo os próximo 7 anos, até concluir o processo de feitura, quando se transforma em um Egbon, um mais velho. 

Nem todo mundo fará 7 anos e terá um Oye, um cargo de babalorixá ou de Iyalorixá. NÃO é verdade que todo mundo que atinge os 7 anos será babalorixá ou Iyalorixá e poderá abrir uma casa para ela.

Observe que, um coisa é a contagem de tempo cronológico desde a sua feitura e outra é você poder de fato contar esse tempo como realizado dentro da religião.  O tempo só vale se você "canta" seus anos, você precisa dar as obrigações necessárias. Assim, depois da feitura você tem a obrigação de 1 ano, depois a de 3 anos e finalmente a de 7 anos. Somente quando "canta" o ano é que você pode contar seu tempo cronológico.

Uma pessoa que já tenha sido iniciada a 10 anos, somente poderá contar 10 anos de feita quando der a sua obrigação de 7 anos, antes disso tem os anos que já "pagou". Assim de você cronologicamente tem 10 anos de feita, mas, apenas cantou os seus 3 anos, você tem 3 anos!

A escolha apressada de uma casa, pode levar uma pessoa a se desligar daquela casa e procurar outra. Isso não é o normal e nem deve ser a prática. Claro que, atitudes muito ruins do dirigente ou de membros da casa podem levar você a uma situação insustentável e obrigá-la a deixar a casa.

Mas essa é uma coisa que deve ser evitada. É também muito comum pessoas que intempestivamente decidem fazer sua feitura sem avaliar como será a convivência dentro da casa e depois, quando viram Iyawo e descem ao último degrau da escala hierarquica não aceitam essa situação.

O normal é que a pessoa deve se conformar com seus problema e cumprir os seus anos. 

Claro, como disse, existem momentos que isso se torna impossível. Normalmente consequencia de uma escolha errada inicial. Mas, um iyawo, deve engolir seu orgulho e cumprir seus anos. Sacrifício é sacrifício, além da dificuldade e do esforço existe o aprendizado.

No fim de tudo você vai ter uma história, uma casa e fazer parte de uma linhagem.



Contudo existe um tipo de pessoa que usa a mudança de casa como estratégia para esconder sua enganação. Essas pessoas que não querem cumprir nada, querem enganar os outros.

Dessa maneira, a mudança de casas é também uma estratégia para apagar o seu passado e seus erros e mais, para inventar obrigações que não deu ou mesmo feitura que não fez.

Veja, tem gente que faz sua feitura e desaparece daquela casa, talvez fique lá até a obrigação de 1 ano e nunca mais é visto.

Ai ela abre uma casa e começa a dizer para todos que é babalorixá ou iyalorixá de tal orixá e que foi feita em outra cidade, etc..  Aliás, pessoas mal intencionadas costumam procurar iniciação em outra cidade ou outro estado justamente para poder encobrir obrigações que nunca deram.

Tem muita gente que se diz babalorixá e iyalorixá que nunca foi feito de verdade. Provavelmente foi para uma outra cidade, deu um bori ou qualquer outra coisa e volta dizendo que foi feita. Essas pessoa frequentam a casa de outros para copiar as coisas e aprender por repetição.

Isso é muito comum.

Muito mais comum ainda em pessoas que vieram de Umbanda, onde tinham uma casa e filhos de santo. Imagine se essa pessoa que tem um status social elevado nesta comunidade vai virar Iyawo de Candomblé? Muito dificil.  O mais comum é fazer um Bori longe e dizer que foi feito, é até fazer a feitura e depois nunca mais aparecer.

Observem que eu não vejo demérito na Umbanda. Quem vê e demonstra que NUNCA entendeu o que é a Umbanda são as pessoas que saem dela para o Candomblé. O que eu entendo ser muito difícil é uma pessoa sair da Umbanda, onde tem um status e liberdade e ir para uma OUTRA religião, totalmente diferente e virar Iyawo. Não a-cre-di-to

Mas, voltando a nossa linha original, quando uma pessoa diz que deu cada obrigação em casas diferentes isso é um demérito e não um mérito.

Qual o motivo que leva uma pessoa a pular de casa em casa? Porque não ficar em uma casa e se subordinar a um superior?  Se a pessoa sai pulando é porque não quer se subordinar a ninguém.

Observe que tem  muita gente que inventa obrigação. Tem muita gente que sai de São Paulo e do Rio e vai para Salvador dar bori em uma casa grande. Bori esse feito no corredor, do tipo sem nenhuma importância, daqueles que eles dão em cliente. Voltam de lá dizendo que foram feitos em determinada casa ou que contaram o ano tal lá.

O elenco de mutretagens é muito grande. Fique desconfiado de pessoas que não conseguem te apresentar o seu babalorixá ou iyalorixá. Fique desconfiado de pessoas cujo iniciador já morreu, aliás esse é o golpe mais clássico. Fique desconfiado de pessoas que não tem junto de si nenhum mais velho, nenhum irmão de santo, nenhum ogan, etc...  Fique desconfiado de gente que procura outras cidades e estados para "dizer" que deu obrigação.

É muito comum pessoas de Umbanda dizerem que foram feitas no Candomblé só para poder se anunciarem como tal, sem nunca ter sido.

Não é dificil você aprender com histórias de outros ou frequentando casas de outros para poder repetir as coisas que viu e ouviu depois como se fosse sua.

Mas, eu acho, que o pior mesmo, mas o muito pior mesmo,  são as pessoas que dizem que trocam de aguas, entenda de Nação. São pessoa que foram feitas no Ketu, com Orixá e ai, sem mais nem menos aparecem com uma casa de Jeje ou de Angola. Isso é completamente esquisito, para mim sem nenhuma confiabilidade. Isso não existe....

O cara é doté fulano de tal de Xango.  Como assim?  e na casa dele só se faz orixá. Isso é o normal, pessoas dizer que trocaram de nação mas continuam fazendo as coisas da nação original, contudo, sem agora deverem a hierarquia e a coerência, podem fazer de qualquer jeito, ou mesmo dizerem que são se Nago Vodum, que é a oficialização do sambo do crioulo doido.

Essa estória do cara mudar de nação, 100% dos casos é para acobertar mal-feitos.

Os desvios, no geral, como disse,  são muito grandes e criativos, os principais são:

- pessoas não feitas que pagam grandes somas para que alguem de uma obrigação de 7 anos nela para legitimar a sua safadeza.  Tem gente que aceita isso, por dinheiro.

- pessoas que dão obrigações menores e dizem que foram obrigações maiores.

- pessoas que vão dar obrigações em lugares distantes para não ter testemunhas

- pessoas que ficam frequentando casas e furando roncó para poder aprender aquilo que não sabem e fundamentar suas mentiras.

- pessoas que dizem que foram feitas em casas que acabaram e por pessoas que já morreram

... e por ai vai

O normal, como eu disse é aquela pessoa que pode se apresentar e também a sua ascendência. Que frequenta a sua casa matriz e recebe pessoas de sua casa matriz.  Que tem um superior e se subordina a ele. Não importa o quão velho você seja, sempre vai ter alguém mais velho que você.

Como eu disse antes, sempre tem casos de exceção e nem sempre a gente consegue terminar onde começou. Mas mesmo essa história pode ser confirmada.

Assim, abra seus olhos e tome cuidado com quem se envolve.

sexta-feira, dezembro 14, 2012

O Candomblé versus cubanos e Nigerianos

O Candomblé versus cubanos e Nigerianos

Parte final


Após esta ultima postagem com a exposição sempre lúcida e informativa que retirei do livro do Jose Beniste eu quero fazer os meus comentários.


Lembro que os fiz no início quando introduzi a questão, mas, existem outros que eu só poderia fazer depois de vocês lerem as colocações do Beniste sobre o tema.


Esta não é uma postagem Xenófoba e muito menos preconceituosa em relação as outras tradições. Longe disso. O tema aqui é apenas colocar os pingos nos "I", para que se entenda que existem tradicões diferentes, cada uma delas ligadas a um povo e sociedade.

O candomblé é uma tradição legítima da religião Yoruba.


Não foi estruturada a moda bangu. Foi um trabalho bem feito e que contou com a participação de africanos, mas, do tipo que conheciam Orixá mesmo e não do tipo que aparece hoje aqui no Brasil.


A Iyalorixá do engenho velho foi diversas vezes na Nigeria nesse processo. É ilusão achar que negros jovens tivessem domínio completo da religião. Os negros que tinham o domínio, certamente seriam os mais velhos e certamente foram os mais atingidos pela mortalidade no processo de viagem e depois aqui. Por essa razão, as pessoas que aqui tinham noção da religião precisaram buscar a ajuda de babalorixás da Nigéria para estruturar uma tradição legítima e consistente.


Eu vi o depoimento de Iyalorixás e babalorixás antigos, já falecidos, contando a interação que eles tiveram com Africanos. O próprio culto de egungun veio depois também trazido por africanos. 


Assim sendo, nossa tradição religiosa não deve nada a nenhuma outra e muito menos a qualquer Nigeriano que apareça aqui querendo ensinar para nós o que é Orixá e religião Yoruba. Nós aqui no Candomblé aprendemos isso com os tataravós dessas pessoas, na realidade, com as pessoas que sabiam de fato a religião, que praticavam a religião e que tinham o que ensinar.


É comum ver Nigeriano, chegando no Brasil, falando com brasileiro desavisado, e querendo ensinar para a gente o que é orixá e o que é religião. Eles fazem isso com facilidade com pessoas que não sabem nada e se impressionam com essa conversa mole de que eles é que sabem o que é, etc..


Sabe como a gente trata isso aqui no Candomblé? Não trata, vira as costas para isso e continuamos a fazer o que fazemos. Nós é que temos o segredo. Se tem alguém que tem algo a aprender, certamente são essas pessoas que acham que tem algo a ensinar. Aqueles que sabem mesmo não ficam preocupados em dizer para os outros que nós não sabemos, não ficam se valorizando dizendo que a gente não sabe de uma coisa ou de outra.


E digo mais, as pessoas do Candomblé, que tem o segredo, não deveriam nem fazer ebó em Cubanos e Nigerianos que vem aqui só para aprender como é para depois fazerem eles mesmos. Acham que estou inventando? Já tiveram vários cubanos que vieram aqui, tomaram uns 3 boris e foram para os EUA aplicar isso , abrir sua fábrica de Boris

Vocês podem perguntar: porque um cubano viria aqui tomar um Bori e copiar?  Porque eles, lá no culto deles, nem sabem o que é isso. Inúmeros nigerianos, babalawo inclusive, já procuraram Iyalorixá de Candomblé para receber Bori. Assim, quem sabe o que esta fazendo, nós ou eles?

Essas pessoas que procuram crescer em cima de outros com esse tipo de assunto é gente que nada sabe e nada tem para dar. Quem sabe mesmo, reconhece o que vê e respeita.
O que esses Nigerianos usam para impressionar os neófitos é falar de coisas da sociedade Yoruba, a qual eles nem mais pertencem. Ja pensaram que eles podem estar inventado coisas.


Vocês sabiam que os Nigerianos não aceitavam que nós, aqui no Brasil, podíamos incorporar com Orixá?  Eles consideravam que somente eles podiam isso e, eu acredito, que muitos deles ainda pensem assim.

Vocês sabiam que os Cubanos não consideram que os Iyawo incorporem com orixá? Eles entendem que é um egun de uma Iyalorixá falecida ou babalorixá falecido que incorpora na pessoa. Vocês sabiam que eles fazem, por padrão Iyawo em 7 dias e que inexiste o conceito de terreiro, eles alugam um lugar ou fazem em um casa comum. Você sabia que eles não tem egbe? Que quando vão fazer um Orixá eles chamam pessoas diversas que recebem por dia (uma diária)  para participar da cerimônia e disso nasceu a conhecida Libreta onde eles anotam querm participou da cerimonia?

Pois é, e as pessoas não dão valor ao Candomblé....
 
Mas muitos se impressionam com aquelas rezas em Yoruba que levam 15, 30 minutos?  Olha, se eu fosse também para os EUA, Cuba ou Nigéria, dava para ficar 1 hora rezendo em portugues uma vez que ninguem estaria entendendo. Eu acho que daria nesse tempo para contar, em portugues, como foras minhas ultimas férias, falar sobre os ultimos jogos do meu time e mais um monte de coisas. Dava mesmo para eu "rezar" um dia inteiro sem parar.

Gente esse assunto de como é lá e como é a sociedade deles, não interessa a gente aqui no Brasil. Aqui não é Nigéria, aqui é um lugar muito melhor, tão melhor que eles vem para cá.

Nossa tradição religiosa foi estruturada para se adequar a nossa sociedade e não o contrário. 


Vejam a postagem que eu fiz sobre as "Carminhas". Tem muito africano, que como os brasileiros, que é basicamente uma Carminha querendo se dar bem aqui. Essa coisa de ser "Carminha" não é privilégio nosso, tem em todo lugar,


Em menor escala estão os cubanos. Mas estes não tem esse discurso bobo. Eles também são uma tradição da diaspora como nós. Mas, eles vem para cá e trazem a sua tradição, o seu jeito de entender Orixá e o seu jeito de fazer orixá. Tenho um respeito profundo pelos Lukumi, mas, na minha opinião o Candomblé é a melhor tradição para nós brasileiros.


Claro que quando falamos de Ifá a coisa é um pouco diferente. Não temos Ifá e este esta sendo trazido por cubanos e nigerianos. Temos aqui o jogo de búzios e que se distanciou completamente de Ifá, ha muitos anos. O jogo de buzios foi introduzido pelos africanos mas esta tradição se perdeu e virou apenas um oraculo de mediunidade. Isto esta explicado no post que fiz sobre jogo de buzios.


Ifá é bem vindo, seja de qual tradição for e temos que aprender do jeito que eles estão dispostos a ensinar.


Contudo esse processo de Ifá não tem que carregar junto as tradições de Orixás dos respectivos países. É isso o que esta acontecendo, Ifá e muito colocado com o culto de Orixá. Lá em cuba isso é evidente. Aqui deve ser o mesmo, o Ifá do Brasil deve se aproximar das casas de Candomblé.


As pessoas não tem que trazer o seu culto de orixá, a sua tradição e impor isso como se fosse parte do Ifá deles. NÃO É!


Se eles trazem o Ifá deles, que procurem o Candomblé para conduzir a parte de Orixá, assim como fazem la na terra deles.

No caso dos cubanos o que mais sobressai é isso. Eles carregam as praticas Lukumi deles e as fazem como parte do Ifá. Junto dos Babalawo também vão aparecer os Obariate querendo confundir as pessoas, fazer novos Obariate, distribuindo um título que lá é obtido com muito esforço e aqui com muita facilidade.


Em torno do Ifá cubano esta orbitando a tradição lukumi. Lamentável saber que algumas casas ou melhor ogans despreparados, ficam cantando cantiga de lukumi e xire de candomblé. Essas pessoas tem que entender que elas devem cantar o que a tradição delas tem. Eles tem que saber que deveriam ser os primeiros a proteger a tradição do Candomblé. Não existe nenhum problema em sempre cantar as mesmas cantigas, ninguem precisa inventar nada. 


Vai, também, ficar muito mais fácil se os babalorixás descerem da caixa de sabão que estão e reconhecerem que não são babalawo e que jamais serão baba Ifá como muitos deles, sem noção, estão se anunciando. Ifá é com Babalawo. Orixá é com Babalorixá. Um jamais fará o que o outro faz, não apenas por uma questão de conhecimento a adquirir como também impedimentos litúrgicos.


Se você quer Ifá, procure um babalawo. Se quer orixá procure um babalorixá.


Quando os babalawo passarem a não se meter em coisas de orixá indicando um babalorixá para isso e, quando os Babalorixás pararem de se anunciar também como sacerdotes de Ifá ou que tem o oráculo de Ifá a coisa toda vai ficar muito mais simples.


O jogo de búzios sempre será um oráculo perfeito e pode até melhorar com a proximidade de Ifá. Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.


Nesse momento essas tradições estrangeiras vão parar de crescer em cima das pessoas que não conhecem esta religião e que não sabem do que eu estou explicando aqui.


Gente, por fim, como eu disse Nigerianos vem para cá com visto de turista trabalhar com religião. Cubanos fazem o mesmo. Temos muito a ganhar com a entrada de Ifá, mas, nada temos a ganhar com a entrada de tradições de orixá de outros países.


Não acreditem no discurso de que o Candomblé não faz isso, ou o Candomblé não sabe nada daquilo. Bo-ba-gem. Se a gente não faz ou não tem é porque isso foi o melhor para nós. Possivelmente fazemos diferente e melhor.


Coisas que não foram trazidas é porque eram particulares de lá ou que eles, os africanos, sabiam que não servia. Assim quem leu isso aqui pare para pensar que, se algum culto não foi trazido para ca, ao longo de anos de processo de estruturação, é porque possivelmente não era bom nem para eles lá.


Eu posso afirmar a vocês que o Candomblé foi estruturado por pessoas que sabiam o que faziam e que temos hoje um culto de Orixá legítimo e com a participação de Orixá. Só quem esta dentro de uma casa, dentro de um roncó sabe o que ve.


As outras tradições, tem que contar a história delas e nao querer se aproveitar da nossa.


Por fim um comentário interno ao Candomblé. O Ketu foi a única nação que se organizou. As demais basicamente copiaram ele, por isso os ritos são similares na estrutura, mas, com algumas variações por conta a perfeição da cópia. Isso entre o grupo Nago é menos relevante, mas, no caso de Angola e Jeje passa a ser uma coisa gritante.

Angola foi uma invenção brasileira. Lá em Angola o que existe é uma coisa muito próxima de uma Umbanda. Isso, o que tem aqui como nação Angola, é uma jabuticaba, uma invenção baseada no Ketu. No caso do Jeje é distinto, existe a religião dos Vodun e famílias. Em outra publicação eu volto nesta história de nações.

quarta-feira, dezembro 12, 2012

O Candomblé versus os Cubanos e Nigerianos

O Candomblé versus os Cubanos e Nigerianos

 Parte 2



O texto a seguir foi originalmente publicado por José Beniste no seu livro "Mitos Yoruba", Editora Bertrand, no capítulo final de "Complemento".

O livro de Beniste, belamente editado e com excelente conteúdo, é uma coleção de mitos importantes do Candomblé. O comentário a seguir não faz parte desta coletânia de mitos, foi uma atualização do autor a qual faço divulgação por entender que é importante para o assunto que esta sendo tratado.
 

O que foi idealizado pelos que instituíram o Candomblé



O início da implantação do Candomblé pode ser, assim, resumido: os ancestrais afro-brasileiros, cientes de sua permanência no Brasil pelos laços familiares aqui criados, começaram a se organizar criando um modelo de culto com práticas a serem seguidas e outras devidamente abolidas por não se enquadrarem com a forma cultural da terra, pois sabiam que o Candomblé seria reduto de negros, brancos e mestiços de diferentes posições sociais.

E como ele seria praticado em solo brasileiro passaria a assumir seus próprios dogmas e liturgia. Foi um trabalho em que a oralidade procurou construir uma tradição toda própria.
Observaram-se as tradições tribais africanas, que não se ajustavam ao novo critério. Estas foram preservadas apenas na memória coletiva, deixando sua prática de lado. Todo este processo instituído pode ser assim definido:

  • Os cortes feitos no corpo, nos ritos de iniciação e identificação tribal africana, foram substituídos por marcas feitas com tintura de efun que lembravam a tradição da família real de Òyó;
  • Os ritos, em sua maioria, seriam praticados internamente, abolindo-se as procissões externas aos lugares sagrados, por eles não existirem como na África; por exemplo: a Floresta dos Egúngún, dos Abikú, de Ifá, rios e lagoas. Para isto, seriam construídas dependências internas que alimentariam esses ritos; 
  • A forma do culto a Ibéji, que determinava a morte de um dos gêmeos, foi abolida, por julgarem um fato anormal;
  • O culto foi centralizado em um único local, com espaços preservados a cada Orisà e Ancestrais. Por esse motivo, a dirigente deveria ser conhecedora de todos os fundamentos dessas divindades;
  • O número de Òrisà cultuados seria limitado às exigências da nova terra. As divindades de tradições tribais foram mantidas apenas na memória coletiva do grupo; em outros casos, acabaram sendo definitivamente esquecidas;
  • Rituais específicos ligados às tradições regionais africanas foram revistos; outros, criados ou adaptados, como o Ipàdé, Olúbáje, Àmàlà às quartas-feiras, a Roda de Sàngó, o Ipètè, a sexta-feira dedicada a Osàlá, o Lórogún com o fechamento do Terreiro no ritual realizado no domingo após o Carnaval, e outros;
  • A iniciação passou a ser individual e sem a noção de família biológica, criando, assim, a família-de-santo. O "transe de expressão", no dizer de Verger, passou a substituir o transe de possessão identificado com o clã familiar. O iniciado deixou de ser elégún para ser lyàwó;
  • A utilização do osú como marca que distingue o iniciado;
  • As datas festivas dos santos católicos identificados com os Òrisà passaram a determinar as datas de suas festividades, contrariando a modalidade africana das estações climáticas e outras tradições;
  • Os animais para o sacrifício foram substituídos; as plantas tiveram novas identificações; comidas-de-santo foram mantidas, e outras, criadas; novas kizilas surgiram com produtos nativos da terra;
  • Os 4 dias da semana yorubá foram adaptados para a semana ocidental de 7 dias, com nova distribuição dos dias consagrados a cada Òrisà;
  • Formação de um grupo masculino - ogans - mantenedor e protetor do culto, dedicado à prática religiosa onde somente homem atua;
  • Os cargos religiosos seriam apenas para as mulheres. A iniciação masculina seria, exclusivamente, como ogans, talvez, para evitar tendências ao homossexualismo e trejeitos efeminados nos ritos públicos. Posteriormente, om a inevitável participação masculina, os cargos tiveram dualidade;
  • Como o comando religioso seria das mulheres, a opção viável para o sistema de consulta seria o jogo de búzios em detrimento de outras mais tradicionais, mas bastante complexas, como o Òpèlè e o Ifá, que obrigavam, entre outras coisas, a recitações em língua nativa, sendo utiiizado somente por homens;
  • Os títulos de reis e rainhas foram abolidos, limitando-se aos títulos honoríficos - oyè - referentes aos cargos religiosos.
Outras diferenças podem ser observadas nos trabalhos de pesquisa de Verger, muito bem documentadas em suas obras.

Em seu outro livro, o também excelente O Jogo de Búzios, Beniste faz um histórico breve, mas relevante, da configuração do Candomblé no Brasil.


Segundo ele, "....a história de Iya Naso reporta-se a fundação do Candomblé do Engenho Velho, em Salvador, Bahia, no período entre 1820 e 1830 até os dias atuais, sempre dirigido por mulheres. A participação masculina se dá exclusivamente na categoria de Ogans, ou título correlato.


Foi no retorno de uma viagem feita à cidade de Ketu, na Nigéria, que Iya Naso e Obatosi, sua futura sucessora, trouxeram alguns africanos para auxiliá-la no Candomblé em organização e, entre eles, Rodolfo Martins de Andrade, mais conhecido pelo título de Bangbose Obitiko e que aqui auxiliaria na organização religiosa, adaptando práticas africanas a serem seguidas por todos.


.... A participação de Iya Naso e seu grupo representa um capitulo dos mais iportantes a serem estudados, pois foi ai que se delineram mudanças e adaptações do culto em sua forma africana para uma nova realidade.

As viagens de africanos à Africa e seu consequente retorno ao Brasil nos dão a certeza do interesse na manutenção de suas tradições numa nova terra, pois, afinal de contas ja não eram os negros africanos e sim negros brasileiros. Essa nova visão exigia mudanças pois o mundo cutural era diferente.

Muitos ritos foram criados, outros abolidos por não se adaptarem a forma cultural da terra. Foi um trabalho em que a oralidade procurou construir uma tradição própria. Um cuidado porém foi observado, o de não ferir tradições ancestrais, como por exemplo a arte do jogo....


Essa decisão de mudanças e a manutenção de costumes deram o modelo de culto africano no Brasil, sendo imitado pelos outros aqui instalados e já esquecidos de suas tradições.

Um outro documento importante, que um dia posso tentar citar partes, foi o resultado do encontro de nações de candomblé organizado pelo centro de estudos afro-orientais em 1984. Nele é abordada a questão desta formação com análises de estudiosos e entrevistas com os proprios sacerdotes de diversas nações.

Mas Beniste segue no seu livro em mais alguns comentários críticos porém importantes:
 

As razões das transformações ocorridas

À medida que o tempo avançou, foram surgindo problemas de relacionamento quando novas Casas começaram a se instalar, em grande parte, através de dissidências, modismos e interesses pessoais. Novos grupos foram se formando em outras regiões, distanciando-se cada vez mais da Casa Matriz, perdendo os padrões tradicionais e adaptando-se ao modelo local de crença.


Surgiu um novo tipo de público, que o aceitou, sem qualquer critério de seleção. Começaram a ocorrer mudanças de forma lenta e despercebida a ponto de serem aceitas como fatos normais. Raramente foi seguido o conceito de que só prospera o axé que divide o saber. A guarda deste saber e do conhecimento chegou a um ponto tal, que obrigou as pessoas a uma busca de explicações através de cursos e livros que, em muitos casos, não ofereciam um respaldo desejado, confundindo mais ainda o que já era tão confuso.


Surgiram as fugas, e a mais comum de todas foi a constante troca de Terreiros, tornando-se incomum as pessoas serem iniciadas numa Casa e nelas permanecerem (ver itens 17, 24 e 26).


Culturas diferentes entraram em choque, criando novas formas de .trabalho, que podem ser assim definidas:



  • Ritual de troca de nação - expediente criado para mudança de Terreiro: foi iniciado no Candomblé Ketu, mas resolveu passar para o Candomblé Jeje ou Angola, e vice-versa; 
  • Obrigações de 1, 3 e 7 anos feitas em Terreiros diferentes. A cabeça passando por diversas mãos, sem qualquer critério ético;
  • O 2 Òrisà sendo obrigado a se manifestar nas pessoas, durante as obrigações de ano, isto ocorrendo nas Casas de tradição Ketu. Com isto, são obrigados a fazer novas roupas e assentamentos, motivando novas cobranças;
  • Saídas de iyàwó com 4 e 5 apresentações públicas, com evidentes interesses para desfilar roupas-de-santo e outras alegorias;
  • Roupas-de-santo e paramentos descaracterizados de sua condição original. Enfeites, miçangas, paetês, brocados, tecidos de riqueza exagerada destituídos de significados, com o objetivo único de alimentar o ego da pessoa. (Ver item 40.)
  • Ogam "pai-de-santo," fazendo obrigações fora de sua competência e abrindo Terreiro;
  • A constante troca de Terreiros faz com que as pessoas se tornem portadoras de diferentes conhecimentos, criando uma confusão de rituais e produzindo a perda do que se acostumou a entender como raiz-de-santo, ou seja, disciplina ritualística determinada pelo Candomblé Matriz;
  • Bàbálórisà e Iyálórisà sem zeladores de suas obrigações;
  • Pessoas indo para outros países, e sendo lá iniciadas,buscando conhecimentos estranhos à nossa cultura e que foram abolidos por ocasião da instalação do Candomblé no Brasil. Essa fusão de conhecimentos foi outro fator para se perder a antiga "raiz-de-santo". 
  • Introdução de culto aos Caboclos, vistos como Encantados, advindo daí os Candomblés de Caboclos nas Casas Ketu, Jeje, Angola e Nagô-Vodun. Na realidade, em grande parte foi um expediente para ex-umbandistas iniciados no Candomblé manterem suas entidades umbandistas;
  • Pessoas se iniciando, predeterminadas a, e não dando certo, terem a opção de ir para outra Casa, numa evidente demonstração de insegurança e falta de critério seletivo;
  • Pessoas que saem da Casa de Candomblé e são aceitas por outra sem qualquer critério ético;
  • Mercantilismo religioso;
  • Umbandistas no Candomblé. Exemplo: dirigente de Umbanda com Casa aberta, fazendo obrigação-de-santo e já saindo como iyálórisà;
  • Candomblé dando festas de pomba-gira, ciganos etc. -entidades estranhas aos rituais;
  • Nigerianos e cubanos trazendo costumes novos e interferindo em nosso modelo de trabalho;
  • Ogam e ekedi sendo raspados e fazendo obrigações de 1, 3 e 7 anos como se fossem iyàwó;
  • Elementos para a iniciação, que deveriam ser feitos pelos iniciados, são comprados prontos;
  • Tomar a bênção encostando a mão no queixo;
  • Vestimenta de Òrisà feminino sendo usada por homem, sem respeito à sua condição masculina, como era feito nos antigos Candomblés. Estes faziam ligeiras modificações nas roupas, a fim de não haver constrangimento e incentivo à homossexualidade masculina;
  • Assentamentos de Orí, Odú e Iyámi, este último sem o conhecimento suficiente para fazê-lo;
  • Denotando falta de credibilidade, pessoas iniciadas e recém-iniciadas procurando mesas de jogo para confirmação. É o início do caos, por ouvirem críticas de pseudo-erros que só irão confundi-las e trazer constantes intranqüilidade e dúvidas. A partir daí, não serão mais as mesmas pessoas, terminando por sair de sua casa e buscar outro Terreiro;
  • O descrédito do jogo de búzios, em razão de sua utilização por pessoas despreparadas e sem conhecimento para a função, revelou-se um dos fortes motivos da confusa situação do Candomblé, necessitando de uma regulamentação para quem o pratica.

Na próxima postagem vou concluir o assunto com meus comentários. Fiz questão de transcrever na integra essa opinião e informações para que cada um também possa formar um idéia do processo.

Como já disse, recomendo a leitura dos livros de Jose Beniste. Orun Aiye, O jogo de Buzios, Mitos Yorubas e As aguas de Oxala.

segunda-feira, dezembro 10, 2012

O Candomblé versus os Cubanos e Nigerianos

O Candomblé versus os  Cubanos e Nigerianos

Parte 1

Estamos vendo no dia a dia a chegada de nigerianos e cubanos, muitos ligados a Ifá, mas, também ligados aos cutos de Orixá dos seus respectivos países. Essas pessoas aportaram aqui no Brasil para resolver a sua vida pessoal e financeira, trazendo para cá a sua prática religiosa.

Em todos os casos essas pessoas são sacerdotes profissionais. Vem para cá tendo a sua prática religiosa como profissão. Não são pessoas que vieram para o Brasil viver e trouxeram junto a sua prática religiosa. É o contrário, eles trouxeram a sua pratica religiosa para viver aqui. Bom, nem sempre viver, muitos fazem incursões periódicas trazendo os seus, valiosos, serviços.

No caso do culto de Ifá, considerando que nunca o tivemos aqui, qualquer coisa que se traga, esta valendo. Eu acredito que Ifá no Brasil vai desenvolver uma tradição própria, mas, isso leva tempo. Nesse momento o que temos disponível é a prática trazida por Nigerianos ou Cubanos, bem distintas entre si.

Estamos em um mundo globalizado, com fronteiras fracas, no qual é muito difícil se manter conceitos de regionalismo. Tudo se comunica. Eu me lembro que ha muitos anos atrás lendo um livro sobre aqueles tapetes orientais, feitos em diferentes regiões e países, o autor disse que no passado você poderia distinguir a origem de um tapete pelo seu desenho. Cada região tinha os seus padrões, mas, que isso já tinha acabado porque um via o trabalho do outro e incorporava novos desenhos aos seus.

O mesmo ocorre com a religião. Claro que religião esta ligada a sociedade que a gera, mas, muitas religiões estão se universalizando e junto com isso trazem conceitos originais da sociedade que as criaram para uma nova sociedade. 

No caso da religião Yorùbá o processo é o mesmo. Existe um conceito que me refiro aqui que é o de Tradição religiosa. O Candomblé é uma tradição religiosa. Essa expressão "tradição" é uma colocação técnica e não coloquial.

Uma tradição religiosa é uma vertente de uma religião original que se especializa, que melhora, para se adaptar a uma nova situação. No caso Yòrúba a diáspora negra exportou pessoas com sua religião para outros continentes. Essa diáspora gerou 3 novas tradições religiosas, o Candomblé no Brasil, O lukumi em Cuba e o Voodoo no Haiti. Todas as 3 tradições voltadas para o culto de Orixá e muito similares entre si.

Essas tradições são expressões da mesma religião original mas que sofreram adaptações para a nova sociedade onde se estabeleceram. As tradições estão ligadas aos dogmas e teologia da religião original mas tem no seu dia a dia variações. Elas não desvios. Pelo contrário. Elas são especializações, melhorias voltadas para a nova sociedade onde se estabelecem.

Uma nova sociedade tem outros valores, outra ética e moral. Existem aspectos da sociedade geradora da religião que não poderão se refletir na nova sociedade Existem também aspectos liturgicos da religião que devem ser adaptados à nova terra.

É neste contexto que surgem as tradições religiosas.

O Candomblé é uma tradição e é a melhor expressão que a religião Yòrúba poderá ter aqui no Brasil. O mesmo vale para as demais nos outros países.

Assim é lastimável brasileiros que acham que faz algum sentido eles adotarem as praticas dos Lukumi que vem junto com os cubanos ou pior ainda a religião tradicional Yoruba trazida pelos Nigerianos.

No caso dos Nigerianos o que eles trazem é a chamada YTR ou Yoruba Traditional Religion - Religião tradicional Yoruba.  A YTR é  mais uma tradição. Lá na Nigéria ela representa o que sobrou da religião deles ou o que eles ainda lembram. Ela não tem nada de ser A PROPRIA religião original, é mais uma tradição assim como o Candomblé e o Lukumi o são.

Os africanos estão reaprendendo coisas à partir das tradições da diáspora.

Eu, como outros, tenho a opinião foi a forma como os Orixás tiveram para se preservar. Ao se estabelecerem no novo mundo a tradição dos Orixás se preservou. Se dependesse de ficar so na Nigéria a religião teria acabado, como, por exemplo, acabou a religiao Havaiana. 

A diáspora representou assim uma estratégia dos Orixás preservarem a religião

Não se iludam, na Nigéria, é todo mundo cristão ou mulçumano. A YTR é a minoria da minoria. Essas pessoas que vem para cá não são nem os mais tradicionais ou conhecedores da religião. Esses, os tradicionais, os antigos, ficam lá tomando conta do seu povo. O que vem para cá ou não sabem nada ou sabem pouco e inventam o que não sabem.

Assim quem esta se associando com essa tal YTR esta adotando uma tradição que não foi adaptada para a sua sociedade e terra e ainda acreditando em pessoas que formação duvidosa.

Eu vejo como a expoência da ignorancia as pessoas que se ligam a YTR e acham que estão se ligando a religião original. Acham o máximo. Muitos entendem que por ser a tradição da Nigéria representa o que tem de melhor. NÃO É.

Não tem garantia de conhecimento. Não tem garantia de seriedade. Ninguém pode garantir que essas pessoas desconhecidas que aportam aqui trazem algo que de fato represente a pratica religiosa deles. Não acreditem que esta tradição trazida represente melhor a religião do que a tradição que já existe aqui.

Possivelmente essas pessoas não chegaram a conhecer o Candomblé, ou se conheceram não entenderam. Também tem o caso muito comum de pessoas que não querem se submeter ao período de formação do Candomblé, ao rigor das regras, à hierarquia e assim procuram essa alternativa que não tem nada haver com  nossa sociedade e país.

Eu não tenho dúvidas que a YTR será a melhor opção na Nigéria para os Nigerianos, assim como o Candomblé e o Lukumi será a pior opção para os Nigerianos. 

No caso dos Lukumi é um pouco diferente. Ele tem um padrão de formação e as pessoas são bem formadas nesse padrâo. Contudo o Lukumi será uma excelente opção religiosa para os Cubanos e lá em Cuba. Não para os brasileiros. É uma tradição que floresceu lá. Ela é muito sincrética, uma coisa que a gente aqui no Candomblé esta abandonando. Para os Lukumi é mais difícil, não é a toa que eles são chamados de santeiros.

No caso das cantigas o Yoruba dele é péssimo, inexistente. Eles misturam o Yoruba com a pronúncia do espanhol deles e criaram uma coisa ininteligível. Aqui no Brasil conseguimos no Candomblé preservar muito as cantigas e a lingua original.

Mas existem outros aspectos mais profundos e que diferenciam essas tradições.Minha opinião é que o culto de Orixá no Brasil é a melhor tradição de Orixá que alguém pode encontrar. Ir atrás do Lukumi é atraso de vida para brasileiros.

A coisa de fora NÃO é melhor do que a nossa. 

Mas, é um fato a concorrência que o Candomblé vem sofrendo dos Nigerianos e Cubanos. O pior é se pessoas desavisadas e descompreendidas misturarem coisas das tradições como se fosse tudo a mesma coisa. NÃO É. Ainda esta em pequena escala mas alguns Ogan idiotas já ficam querendo cantar cantigas Lukumi em Xire como se estivesse fazendo algo de especial. Não estão, estão apenas prejudicando o Candomblé.

O que enfraquece o Candomblé são apenas questões internas que se originaram do processo de crescimento sem ordenação que a religião sofre. Sim tem muita coisa torta e isso impressiona mal as pessoas levando elas a achar que vão encontar alguma coisa melhor em outra tradição.


Uma das piores fontes de coisas tortas, mal feitas e desajustadas no Candomblé e devido a invasão de Umbandistas que não entendem de Umbanda e se metem dentro do Candomblé. É o pior tipo de pessoas. Sincrético por natureza e ainda achando que o que ele fazia na Umbanda era parte de uma religião afro-brasileira. Nem isso eles sabem, a Umbanda é uma religião brasileira e não afro-brasileira.

Essas pessoas sem conhecimento, regras e paciência tem trazido apenas porcaria para o Candomblé. Isso inclui sua presença e seus hábitos. Qualquer pessoa pode adotar o Cadomblé como religião. O que não se pode fazer é o que essas pessoas fazem querendo misturar a Umbanda dele como Candomblé. Eles não procuram uma outra religião, eles procuram incorporar mais uma coisa à pratica deles. Essas são um dos grupos de pessoas que enfraquece o Candomblé.

Eu vou transcrever no post a seguir um trecho do livro do José Beniste chamado Mitos Yoruba. É um capítulo final do livro no qual ele comenta sobre o assunto da introdução no Candomblé e também faz criticas aos rumos que a prática esta tomando

Eu recomendo que leiam o livro, é muito bom como tudo o que o Beniste escreve. O trecho que eu vou colocar aqui explica como foi que a tradição do Candomblé surgiu no Brasil e a partir dessa informação eu vou fazer mais comentários.