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domingo, julho 05, 2015





Perguntas & Respostas (1)


A seguir, perguntas que foram encaminhadas por email e que estarei respondendo aqui no Blog


A pergunta a seguir estava em um comentário da postagem sobre Odù negativo no Candomblé

Então como faz para descobrir o odu? E tb me pergunto, porque esses trabalhos, oferendas, são tão caros? Se são remédios espirituais que ajudam a elevar e abrir caminhos, se isso é ajuda ao próximo e harmonização com os orixás, porque cobram tão caro e sempre exigem ebós?
Sinceramente, não entendo

R. Conforme tenho explicado aqui no Blog em vários textos, a determinação do Odù da pessoa, o Odù de Nascimento é feita apenas por uma cerimônia de Ifá entre o terceiro e o oitavo dia após o nascimento. É feita no recém nascido. Depois disso nunca mais, exceto se a pessoa vir a ser Babalawo porque existe uma cerimônia que resgata esse Odù.

Dessa maneira todos os métodos que existem por ai para determinar Odù de nascimento são bobagens, enganações. Tem gente que faz continha com data de nascimento, essas pessoas não sabem nada de Odù ou de Ifá ou dessa religião.

O Odù que sai na consulta do oráculo, seja de búzios ou seja de Ifá é um Odù temporário, é uma resposta para aquele momento. Não serve mais para a pessoa depois.

A questão da cobrança é apenas COMERCIAL. De fato, tudo é muito simples. Em Ifá chega a ser mais simples que no Candomblé uma vez que este último tem uma riqueza litúrgica muito maior.

O que fazemos é equilibrar o axé da pessoa. Os ebós são um instrumento para esse equilíbrio. Trata-se de repor axé. A base desta religião é o axé e o seu equilíbrio. O ebó ou a oferenda (adimu ou sacrificio) são necessários para isso. 

As pessoas cobram o que querem. Sugiro não pagar se achar absurdo, como muitas vezes o é. Tem gente que cobra para passar uns ovos na pessoa, isso é um absurdo. 


Muito bom ler isso.. minha cabeça anda dando um nó, um pai de santo insiste em dizer que tenho o odu negativo e que tenho que positivar a cada três meses fora outros que por isso minha vida ñ anda... mas eu sempre tenho uma pulga atraz da orelha.. sinceramente quase fico doida de preocupação e decidi me afastar..

R. Faz bem. Esse procedimento de ficar tirando negatividade continuamente de vocês visa apenas tirar seu dinheiro.

Como falei, o odù das pessoa vem apenas no nascimento. A pessoa que está fazendo isso com você deve ter feito aquela continha com a data de nascimento. Ele não sabe de nada de Odù.

Se você de fato tem um problema na sua vida, o que ele não sabe é determinar qual é.

Em Ifá você vai encontrar resposta sobre sua vida. Nem tudo é ebó e oferenda. A parte mais importante de uma consulta é a conversa do Babalawo com o consulente. É a palavra do Babalawo que tem o axé de Orunmilá.

O Babalawo tem que, através dos Odù, entender as questões da pessoa, o que atrapalha sua vida e destino, entender o que seu ori e orixá indicam para poder conversar com essa pessoa sobre isso. Falando coisas e tendo dessa pessoas respostas e confirmações. Isso é feito com muita calma e bom senso. São usadas muitas histórias (versos de Ifá) para a pessoa poder analisar sua vida.

A pessoa tem que entender que atitudes ela toma incorretamente na vida, que atitudes dela a levam a ter problemas, entender as mudanças e transformações que ela deve fazer como pessoa. Nem tudo de problema na vida de uma pessoa é feitiço ou é resolvido por ebó.

Claro que o Babalawo vai também saber que problemas ele pode resolver pela via espiritual ou como prefiro dizer pela via supernatural. Existem coisas que ele pode afastar, coisas que ele pode ajudar a trazer e equilíbrios de axé que ele pode executar.

O conjunto dessas ações é que vai trazer o sucesso. Tem pessoas que tem, problemas simples e outras mais complexos. Claro que existem problemas envolvendo o pré-nascimento a vida no Orun e que se refletem aqui.

Quando a pessoa tem essa visão de conjunto, bom senso, humildade, sinceridade e sabedoria ele vai buscar isso. O simples se resolve de forma simples e o complicado de forma complexa.

O Babalawo não deveria ser um fazedor de ebós, antes de tudo ele é o porta-voz de orunmilá.

O mesmo procedimento deveria vir também de babalorixás e iyalorixás que se arvoram a usar o oráculo para consultar pessoas. Se a pessoa esta preparada para o que vai fazer ele o faz da forma correta.

O que temos em geral são pessoas despreparadas, que pegam aqueles búzios e usam apenas a sua mediunidade para consultar pessoas. Eles pouco resolvem ou resolvem apenas as coisas imediatas, aquelas o que sua mediunidade permite, elas não vão a fundo no problema das pessoas.

Nesse caso ebó funciona como se fosse analgésico. Passa o efeito você precisa de outro. O problema mesmo continua lá.

Tem Babalawo que apenas consulta com Opele e que faz consultas em meia hora ou menos, trabalham iguais a jogadores de búzios. São tiradores de ebó.


Ifá não é ebó. Ifá é a palavra de orunmila.








sábado, julho 04, 2015

Pauta de Temas


Leitores, a finalidade do Blog é informar. Eu escolho temas que acho interessantes, mas vocês podem também sugerir.  emails para ogbeogunda@gmail.com

quarta-feira, julho 01, 2015

Cerimonias Sociais Batismo

Cerimonias Sociais

Batismo


Conforme comentei na postagem anterior, a nossa sociedade esta permeada de cerimônias religiosas que se transformaram em sociais, uma clara transformação de sacro em laico ou uma mistura de finalidades.

Eu já me posicionei que, na minha visão isso é normal, faz parte de nossa sociedade e qualquer religião que faça parte desta mesma sociedade tem que se adaptar a isso. Não se trata de imitar a outra religião e sim de ir ao encontro do anseio da sociedade. É tola a discussão de que isso foi trazido ou imposto por outra religião. Não importa mais, a sociedade incorporou como uma “cerimônia social”.



Dessa forma como parte de uma outra religião, seja o Candomblé como Ifá, temos também que nos inserir no nosso próprio contexto social. É isso o que a sociedade espera de nós e nós mesmos queremos. Nós queremos que nossa religião seja aceita e tenha o mesmo status das demais ou a religião preponderante. Para isso é óbvio que temos que preencher as lacunas.

O Candomblé, sem dúvida nenhuma já faz parte desta sociedade a dezenas de anos, talvez mais de uma centena e por isso mesmo mais facilmente já se adaptou a isso. Ifá não, foi trazido recentemente. A atitude que não podemos ter é querer trazer para dentro destas religiões a cultura social da sociedade de origem.

Não somos africanos ou cubanos. Adotar esta religião ou tradição não implica que temos que nos comportar como estrangeiros. Isso é estúpido. Eu até mesmo posso lembrar que vejo brasileiros que entram para o Ifá cubano e começam a falar português com sotaque cubano. Você acredita nisso? Tem coisa mais lastimável?

Enfim, aderir a cerimônias sociais não significa copiar as cerimônias da outra religião! Isso também é lastimável ou ridículo. Cabe ao sacerdote entender que cerimônia a religião já possui e que podem servir ao contexto social requisitado.

A grande motivação para escrever estes textos sobre cerimônias sociais foi umas fotos que vi no Facebook mostrando, segundo a postagem, o Bàbáláwo Ivanir, do Rio de Janeiro, batizando uma criança crescida, de 3 anos, de acordo com “a doutrina de Ifá”. As fotos, públicas, mostravam esse senhor, que segue a tradição Nigeriana, jogando água na cabeça da criança. Pelo que entendi depois de realizado foi jogado um Obi. Haviam alguns elementos em um prato, possivelmente mel, sal e outras coisas, mas, não havia nenhum opon, nenhum irukere, nenhum irofa, opele, uma folha, uma pema ou qualquer instrumento de Bàbáláwo.

Eu não sou da tradição Nigeriana, mas, não sou idiota e procuro me informar. Ha muito tempo procuro essas cerimônias sociais e jamais vi nenhum tipo de “batizado” e muito menos daquele jeito. O que eu vi ali foi apenas o que é feito por aqui tem muito tempo, que é o espelhamento de ritos católicos e inventividade.

Em função dessas fotos eu decidi abordar o tema, mas, não tenho como objetivo ficar aqui dando espaço a pessoas que não tem nada a adicionar, esse senhor não sabe o que está fazendo, de forma que o incidente foi apenas a motivação para o início disso. Para evitar apenas fazendo dialética eu fui na origem da coisa e fui buscar a referência de batizados em religiões. Como falei no outro texto essas coisas não podem ser inventadas, tudo tem um sentido.


Antes de nos preocuparmos em descrever cerimônias, temos que entender o sentido litúrgicos delas. Eu primeiro procurei entender o significado do Batizado católico. Por que é feito um batizado? Por que a religião determina esta liturgia? Qual a teologia envolvida? Porque é usada a água? Por que o padre lava a cabeça da criança?

Se nós entendermos isso fica mais fácil transportar a cerimônia entre religiões diferentes.

O motivo da existência do Batismo reside no dogma católico do pecado original. A criança já nasce em pecado e o primeiro ato do padre deve ser lavar esse pecado original.

“Efeitos do Batismo - Primeiro, o Espírito dado no Batismo é para o perdão dos pecados: ”Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome do Senhor Jesus Cristo, para a remissão dos pecados; e recebereis o Dom do Espírito Santo.” (At 2, 38) Aquele que é batizado, recebendo o Espírito, recebe o perdão dos pecados. O Espírito do Ressuscitado é Fogo que queima todo pecado e Água que faz brotar uma vida nova.

O Espírito nos livra, primeiramente, do Pecado Original. Todos nós, desde a nossa concepção, somos membros de uma humanidade pecadora e desarrumada; uma humanidade que, desde o início, teima em fechar-se para Deus. O resultado é o desequilíbrio, o egoísmo, a falta de rumo.

Pelo simples fato de sermos humanos já fazemos parte deste fechamento em relação a Deus. Somos membros da humanidade, partilhamos do seu passado, que condiciona o nosso presente, o que somos, pensamos e fazemos, assim como o nosso presente condiciona o futuro dos nossos filhos. São Paulo diz: “Todos pecaram e estão privados da Glória de Deus” (Rm 3,23). O salmista canta: “Minha mãe já me concebeu pecador” (Sl 51, 5). É este o sentido do Pecado Original: ninguém nasce justo ou santo diante de Deus. Mesmo a criança, ainda sem pecado pessoal, já traz a marca do fechamento para Deus, do egoísmo, e o manifesta nas suas malcriações, no egocentrismo, nas chantagens infantis... É este estado que chamamos de Pecado Original.

O Espírito dado no Batismo é para o perdão dos pecados: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome do Senhor Jesus Cristo, para a remissão dos pecados; e recebereis o Dom do Espírito Santo.” (At 2, 38) Aquele que é batizado, recebendo o Espírito, recebe o perdão dos pecados. O Espírito do Ressuscitado é Fogo que queima todo pecado e Água que faz brotar uma vida nova.”


Fonte: www.ofielcatolico.com.br

Além disso o batismo é uma cerimônia de iniciação! Isso mesmo iniciação.

“Pelo Batismo somos libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, somos incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão: "Baptismus est sacramentum regenerationis per aquam in verbo - O Batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra".


Fonte: www.auxiliadora.org.br

Ser batizado na igreja católica significa o mesmo que fazer o Orixá no Candomblé. É muito mais do que dar um Bori, fazer um ebó, consultar oráculo, etc... O Batizado coloca você dentro da Igreja e somente assim você é um católico.

A igreja católica tem muitas explicações, algumas procuram romantizar as coisas e fugir dos fatos, ou melhor confundir. O fato é que a criança já nasce em pecado com Jeová, ela carrega o estigma do pecado e deve sempre se perdoar e adorar a seu deus insaciável por adoração.

Esta então é a razão do católico lavar a cabeça da criança.

No Islã, não existe isso. Aliás nunca é bom deixar de lembrar que muitos nigerianos e beninenses que vem ao Brasil dar uma de Bàbáláwo, desfilando roupas, vendendo iniciações, são, na verdade, muçulmanos.

No Islã não existe o uso água.

Segundo a fonte que pesquisei, não existe o pecado original, porque o islã não reconhece isso.

Para os muçulmanos, a palavra de Deus deve ser a primeira coisa ouvida por alguém. Após o nascimento, o pai deve dizer no ouvido do bebê o azan, uma recitação com os fundamentos da religião, como a crença em um único Deus. Na primeira semana, o cabelo do bebê deve ser raspado, e o valor correspondente ao seu peso, em prata, dado aos pobres. O nome também deve ser escolhido durante a cerimônia. Nessa ocasião, muitas famílias realizam o akika, que inclui uma refeição que tem carneiro como prato principal, simbolizando os animais que Abraão sacrificou em lugar do filho Isaque, de acordo com a história relatada no Antigo Testamento.

Os muçulmanos não têm nenhum tipo de batismo para integrar-se à fé muçulmana. É necessário somente que uma pessoa recite o credo muçulmano que é muito simples e muito fácil de lembrar e que diz: "Não há outro deus que Alá e Maomé é seu Enviado" (7,158). Isto é suficiente. Nisto, já vimos, é o que acredita o Islã como sua base e único dogma. Quando uma pessoa recita esse credo perante duas testemunhas e expressa sua vontade de ser islâmico já forma parte dessa comunidade


Fonte: www.fcnoticias.com.br


No caso do Judaismo, igualmente, não existe a figura do batismo. Se considerarmos que o objetivo católico é a purificação, então, no Judaísmo, Mikvá é o nome dado ao "batismo ritual" utilizado para as cerimônias de purificação. Geralmente é utilizado para purificação da mulher após a menstruação e o nascimento de um filho, e também é requerido do convertido ao judaísmo

Por outro lado, se uma menina nascer, o pai leva a criança para a sinagoga e lhe dar um nome perante o torá, se for um menino ele deve receber um nome durante a circuncisão, realizada perante a presença de 10 homens, a iniciação religiosa acontece ao 13 anos para os meninos na cerimonia conhecida como bar-mitzvá, ou para as meninas aos 12 anos conhecida como bat-mitzvá, em ambos os ritos, os jovens devem ler trechos do torá e orações em hebraico para demostrarem a sua entrega para a sua nova fase na fé.

Fonte: wikipedia

No caso do Budismo, também não existe batismo, considerando o batismo como um rito iniciático, a iniciação à prática budista formal se dá em um ritual chamado ordenação leiga, quase sempre desenvolvido na fase adulta. Depois de um período preparatório de cerca de um ano, a pessoa passa por uma cerimônia em que recebe, de um mestre ou de um superior de um templo, um novo nome e sua ordem na linhagem de Buda. Não existe a idéia de conversão, pois os budistas acreditam que a natureza de Buda (capacidade de atingir a iluminação) já existe dentro de todas as pessoas desde o nascimento


Fonte: www.folha.uol.com.br

No induísmo existe um acerta semelhança com o catolicismo, mas também com Ifá.

“O namkaran é a prática hindu de nomear um bebê. A palavra "nama" significa o nome e "karana" significa fazer ou efeito. A cerimônia ocorre geralmente no décimo segundo dias após o nascimento de um bebê, mas pode ser realizada a qualquer momento entre o décimo dia após o nascimento e antes do primeiro aniversário. O processo de nomeação se dedica a criar um vínculo entre o bebê e o resto da família e amigos, e acontece em casa ou em um templo.”


Os primeiros dez dias após o nascimento de um bebê são considerados "impuros" e "mau agouros". Quando o período de 10 dias termina, a casa é limpa e santificados. No dia auspicioso, que varia conforme a região, a mãe e o recém-nascido participam de um ritual de banho. Após o banho, a mãe seca o bebê em uma toalha nova e aplica o "kajal", ou delineador para os olhos, e faz uma marca de nascença na bochecha.


Uma vez que a mãe e a criança foram banhados, a criança é colocada no colo do pai para ser abençoada. Em variações da cerimônia, a mãe molha a cabeça do bebê como um ato de purificação. A criança é, então, dada a avó paterna ou ao pai, que vai estar sentado ao lado do padre. Um fogo sagrado é aceso e o sacerdote invoca os deuses para conceder suas bênçãos sobre a criança.

O nome da criança é então escolhido, com base em um alfabeto particular, que é determinado pelo tempo e data de nascimento. O pai então sussurra o nome escolhido na orelha direita do bebê, seja através de uma folha de betel ou quatro vezes, dependendo da tradição regional. O bebê normalmente irá receber quatro nomes: o nome nakshatra, que se baseia na constelação em que a criança nasce, o nome da divindade do mês, o nome da divindade da família e o nome popular, pelo qual a criança será conhecida.

Quando a cerimônia termina, os amigos, parentes e sacerdotes abençoam a criança e colocam mel ou açúcar em seus lábios. Se a criança aperta seus lábios, é considerado um bom sinal e traz muita alegria entre os presentes. Há também uma festa para os convidados e sacerdotes que fecha a cerimônia.”


Fonte: www.ehow.com.br


Como podem observar cada religião tem seus dogmas e as cerimônias que realiza estão em consonância com esses dogmas.

Por esta razão, quando vi a “cerimônia de Ifá” lavando a cabeça da criança adulta isso não desceu redondo. Para mim foi apenas uma invenção.

Mas, vocês devem estar se perguntado, e como é na religião Yorùbá?

Bom, para o Candomblé, não sei, nunca encontrei. O que vejo acontecer é o mesmo que este senhor Ivanir fez, copiar o catolicismo. No caso de Ifá o que existe são 3 cerimônias: Ikosewaye, Imori e de nome.

A primeira cerimônia que se faz tem o significado de fazer a criança pisar pela primeira vez no mundo. Ela é feita com o recém-nascido, a partir do terceiro dia até no máximo o oitavo dia. Esta deve ser a primeira vez que o recém-nascido coloca os seus pés no àiyé. Assim ele pisará no mundo.

Não preciso lembrar que o reencarnacionismo é um dos pilares da religião Yorùbá. A religião acredita que todos queremos viver no àiyé, porque aqui vivemos com nossa família e temos acesso a todos os prazeres e mistérios do mundo. Eu deduzo que a vida no Órun (ọ̀run) deve ser bastante desinteressante porque o motivo alegado para a reencarnação é apenas que queremos viver juntos no àiyé. Claro que em cada vida teremos objetivos pessoais diferente e também objetivos que podem ser passador por Olódùmarè, mas, vivemos porque gostamos de viver.

Por essa razão é muito importante as pessoas se casarem e terem filhos. Casar e ter filhos é considerado o curso de vida natural pela religião Yorùbá e talvez mais do que isso, o curso necessário. Para as mulheres não ter filhos não é considerada uma coisa boa e nenhuma delas quer isso para si. As mulheres precisam ter filhos para que os ancestres possam reencarnar, por isso se cobram e são cobradas.

Esta religião, como muitas outras estabelece a família como um núcleo importante e a capacidade de gerar filhos como um fator primordial, permitindo a continuidade da linhagem de descendência.

Um dos problemas que mais aparece em Ifá é a preocupação das mulheres em ter filhos, ou seja, resolver o problema de infertilidade e também o de sustentação da vida de crianças, para evitar a mortalidade infantil.

Quando uma criança nasce o espírito que veio do Órun (ọ̀run) inicia um processo de se habituar com o àiyé e assumir sua posição naquele corpo. Nos primeiros dias ainda existe uma ligação muito forte com o Órun (ọ̀run). O espírito que renasce ainda guarda as lembranças do Órun (ọ̀run) porque aquele espírito acabou de vir o Órun (ọ̀run). Ele ainda está no processo de vir. Esta é a razão desta cerimônia ser feita tão cedo.

Podemos entender isso como o que ocorre em uma viagem de férias, por exemplo, ou quando você muda de emprego. Nos primeiros dias você ainda guarda muita ligação com o que deixou. Você leva alguns dias para se afastar daquelas lembranças e se focar na sua nova vida. Com o passar do tempo você se liga no seu destino e na vida neste destino e se esqueça da sua origem.

Quando saímos de férias do trabalho também é assim. Nos primeiros dias ainda ficamos preocupados com o que deixamos, mas depois esquecemos e passamos apenas a viver nossas férias.

O recém-nascido deve ser trazido ao Babaláwo ou ele deverá ir até sua casa, entre o terceiro e o oitavo dia após o nascimento. Será feita uma divinização com Ifá para a criança e na esteira de Ifá estarão apenas a criança e a mãe.

Esta cerimônia de pisar dentro do mundo, chama-se “Ikóxewaye” 
ou Éxéntaye ou Ikoxedaye. A divinização é feita com o nascer do sol, nas primeiras horas da manhã, porque é presumido que nestas horas a alma da criança (ori inu) estará mais atenta.

Nesta cerimônia, como eu disse a criança irá pela primeira vez “pisar no mundo”. A cerimônia é feita com o Opon e com ikins. Nesta cerimônia também é determinado o Odù de nascimento da criança.

A segunda cerimônia é a cerimônia de nome. 

A cerimônia de nome é um evento basicamente social. É a apresentação para a sociedade da criança que nasceu. A família apresentará a criança e seus nomes. Uma criança Yorùbá pode ter até 3 nomes. O nome de deus, o nome do oráculo e o seu nome civil. 

O nome de deus é dado em função de situações ligados ao nascimento. É muito aplicável quando se trata de crianças que nasceram em condições não normais, com dificuldades no nascimento, etc. Imagino que os Yorùbá sempre tenham uma boa frase que se comprime em um nome para caracterizar ao nascimento de qualquer criança.

O segundo nome é escolhido pelo Bàbáláwo através do Odù que foi riscado. É uma questão muito subjetiva. O Bàbáláwo supõe alguma coisa e submete a Ifá. O terceiro nome é o nome civil.

É uma cerimônia bem simples. A parte litúrgica envolve alimentar a boca da criança com uma série de alimentos importantes. Este é o ritual importante. Para as pessoas convidadas será oferecida uma refeição baseada em uma comida votiva.

A questão da data e cerimônia é bastante confusa nas referências. Quando eu vejo essas referências sempre levo em consideração que quem escreve pode não saber de fato tudo sobre o que escreve ou não quer dizer. Eu vou dizer aqui o que considero ser o razoável.

A cerimônia de nome assume maior importância para os meninos do que para as meninas. O primeiro motivo é que o menino não troca de nome. A menina vai trocar de nome quando se casar. Além disso a menina deixa a casa dos pais e vai viver com a família do noivo, as pessoas entendem que as meninas deixam a família e se transferem para outra família, por esta razão tudo para os meninos tem mais importância, ele permanece na família.

Esta cerimônia, socialmente falando, mostra para a comunidade que a linhagem da família se preserva através do nascimento de uma nova criança, um presente de Olodumare.

A terceira cerimônia é a cerimônia do Imori. Esta cerimônia significa “conhecendo o Ori”. É um complemento da primeira cerimônia o Ikoxewaye e não tem ligação com a segunda, a cerimônia de nome.

Vamos revisar esses conceitos. A primeira cerimônia descrita, o Ikoxewaye é o momento que se conhece o Odù de nascimento do recém-nascido. É realizada entre o terceiro e o oitavo dia de nascido. Esta cerimônia não é exclusiva de adeptos da religião. Pode ser feita pelo Bàbáláwo para qualquer criança de qualquer religião.

A segunda cerimônia, a de nome esta ligada a religião da criança, não tem sentido ela ser feita pelo rito Yorùbá se a criança é católica ou muçulmana. Assim a criança pode passar pela primeira cerimônia e depois seguir os ritos de sua religião.

A terceira cerimônia, o Imori, esta ligada a religião Yorùbá. Não vejo muito sentido ela ser feita para crianças de outra religião.

Depois da criança pisar no mundo e receber o seu nome, chega a vez dela colocar a cabeça no mundo. Os Yorùbá entendem que até o terceiro mês aquela alma ainda está entrando nesse mundo e naquele Ori. Existe um processo de adaptação a este mundo em curso e a alma ainda neste momento tem muita informação da sua origem para passar. Quando ela se unir definitivamente com o seu Orì interior vai esquecer do Órun (ọ̀run) será impossível resgatar as informações sobre suas origens. Esta é a razão que leva essas cerimônias serem realizadas tão cedo e serem impossíveis de serem realizadas mais tarde.

Essas são as 3 cerimônias de Ifá e da religião Yorùbá. Elas se equivalem ao Batismo católico. Não são iniciações e muito menos purificações, pelo contrário, não nascemos devendo nada a ninguém.

Essas cerimônias eu obtive em fontes Yorùbá. Essas coisas não existem na tradição cubana.

Claro que sei como elas são realizadas, mas para isso eu pesquisei e conversei com pessoas para confirmar as informações e obter mais detalhes e explicações. Infelizmente nem todos adotam esse caminho preferem o caminho da criatividade.


Neste ponto, com todos bastante confusos com essas 3 cerimônias, vocês devem estar se perguntando, e então? Como fazemos para ter uma cerimônia social equivalente ao batismo?

Resumindo tudo o que eu disse, em primeiro lugar, existe sim, espaço nesta religião para um rito ligado ao nascimento. A liturgia está ligada a dogmas muito importantes da religião e eu considero que é uma cerimônia muito importante e que deveria sempre ser feita. Não é uma ação social e muito menos "decorativa", muito menos é a cópia da cerimônia católica. O Ikoxewaye e o Imori são cerimônias importantes e que dão condições para que os pais possam preparar melhor a criança para a vida dela.

Dessa forma, não se trata de apresentar a deus a criança ou nomeá-la. Trata-se da oportunidade de descobrir aspectos da vida e do destino da criança nesta vida.

Essas cerimônia devem ser feitas por um Babalawo. Claro, um que saiba o que está fazendo e saiba a importância disso. Babalawo de opele que faz consulta em 30 minutos não vai ajudar. Babalawo preocupado apenas em tirar ebó e recomendar iniciações e assentamentos, também. O resultado da cerimônia é um trabalho meticuloso de análise e elaboração de uma "profecia" de Ifá.

Estas cerimônias não existem no Candomblé e não podem ser feitas por Babalorixá ou Iyalorixá. Como estamos falando de religião Yoruba, estamos falando também de ecumenismo. O culto de Ifá e Orixá podem se integrar se processo. Eu sempre digo que Ifá esta ligado ao indivíduo e o culto de Orixá esta ligado a família e a sociedade. O culto de Orixá sempre vai ter um participação maior na vida das pessoas. Esses 2 aspectos podem se unir nesse momento do nascimento.

Além dessas cerimônias também existe uma cerimônia de nomeação que pode ser feita por Babalorixá e Iyalorixá. Na verdade, as cerimônias de nascimento podem conviver com qualquer outra religião. Elas não são iniciáticas. A criança pode ser católica e passar por essas cerimônias.

Não vejo muita razão para a cerimônia do Odù de nascimento ser púiblica. A presença de convidados não é proibida mas é um evento reservado, voltado ao indivíduo  e deve ser feito por um Babalawo.

A cerimônia de nome pode sim ser um evento social e comunal. Ela pode ser realizada por qualquer sacerdote, incluindo um Babalorixá ou Iyalorixá. Dessa maneira o simbolismo da cerimônia de nome, adicionada com o que que sacerdote achar conveniente, mas, sem cai na pieguice de imitar um padre, deve ser aplicado.

A cerimônia de Imori poderia ser feito junto com esta cerimônia de nome, teria que se contar com o Babalawo também, mas, também poderia ser um evento reservado apenas à familia.

Dessa maneira é possível sim que o Candomblé e Ifá se integrem de forma consistente à nossa sociedade apresentando uma cerimônia social de batismo.