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sexta-feira, setembro 27, 2019

Porque considero que Iyanifá ou outras neologias são invenções ilegítimas para africanos ganharem dinheiro?

Porque considero que Iyanifá ou outras neologias são invenções ilegítimas para africanos ganharem dinheiro?


O texto a seguir é parte do texto sobre a mulher em ifá, mas como o texto ficou quase completo, mas, muito longo, resolvi publicar apenas minhas conclusões. O objetivo das longas e inúmeras histórias é justamente fundamentar essas minhas conclusões, assim, quem quiser leia o texto todo.

As histórias relatadas estão longe de cobrirem todas as existentes mas foram destacadas por terem alguma relevância ao entendimento ou por trazerem informações importantes.
Esta é a religião do equilíbrio e Ifá tem isso em suas entranhas. Eu não coloco Ifá acima de nenhum outro culto, todos que leem o que eu escrevo sabem disso, mas, a realidade é que a noção do equilíbrio esta contida em tudo que Ifá faz e nos versos de Odù.
No Odù Òdí Méjì temos a história principal sobre o equilíbrio de Ifá, quando Ifá explica porque se marca um ou dois traços quando se consulta com Ikin. Isso é perene em tudo de Ifá. Dessa maneira, Ifá é um culto masculino, mas todo o poder do Bàbáláwo para interferir no mundo físico, no Àiyé vem da mulher, de Odù sua esposa mítica.
Também são muito especiais as histórias onde Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se encontra com as ajé (Àjẹ́) e obtêm delas cooperação, mostrando sempre que não ha forma de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), ou qualquer um, superar o poder de ajé (Àjẹ́). A atuação masculina de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se une ao poder feminino, que foi dado a elas por Olódùmarè para atuar no mundo.
Para eu cobrir todo o fundamento teológico disso precisaria destacar mais um Odù com a história de Òdí Méjì (que não vou relatar aqui, porque é bem longo e não está ligado a figura feminina) e o mito que está em Ọ̀sá Méjì, o qual narra o momento em que Olódùmarè dá para Odù a cabaça com o pássaro com poder absoluto e depois ela se entende com Eégún e dá para ele o seu poder através do pássaro que ficará empoleirado no seu ombro.
Vejam um trecho final do verso:
ela diz, grita, eis Eégún eis Eégún.
Ela diz, eles gritam por causa dele.
Ela diz, ele arrasta seu chicote no chão, ela diz, a honra cabe a ele.
Ela diz, a partir de hoje,
ela diz, ela concede Eégún ao homem.
Ela diz, por causa dela,
ela diz, mulher alguma nunca mais ousará entrar na roupa deEégún.
Ela diz, por causa de Òrisàlá, ela diz, ela dá Eégún ao homem.
Ela diz, mas se ele deve sair,
ela diz, ela tem o poder que ele utiliza.
O motivo se deve à amizade entre Eégún e eleye.
No lugar de onde vem Eégún, as eleye (também) vêm.
Todo o poder utilizado por Eégún é o poder de eleye.
Odú diz, mulher alguma jamais entrará na (roupa) de Eégún. mas ela poderá dançar, ir ao encontro de Eégún,
Quer dizer que se Eégún sair,
ela dançará diante dele,
ela dançará na estrada, ao encontro de Eégún.
Ela diz, a mulher fará isto unicamente.
Ela diz, a mulher não ousará nunca mais entrar de novo no pátio dos fundos. Ela diz, a partir de hoje é o homem que levará Eégún para fora.
Ela diz, ninguém, nem os netos, nem os velhos poderão zombar da mulher. Ela diz, a mulher tem mais poder sobre a terra.
Ela diz, além do mais, a mulher nos pôs no mundo.
Ela diz, todo mundo nasceu da mulher.
Ela diz, todas as coisas que as pessoas quiserem fazer, se não forem ajudadas pelas mulheres, ela diz, não podem fazer.
(É por este) motivo que os homens nada podem fazer na terra, se não o obtiverem das mãos das mulheres.
Eles cantam.
Por essa razão
Òbàrisà também canta.
Quando é o quinto (dia), eles fazem (a festa) da semana.
Ele diz que todos os cânticos que eles cantarão serão este aqui, vi ndos do (odu de ifá) òsá méji.
Ele diz, eles saúdam as mulheres,
Ele diz, se eles saudarem as mulheres, a terra será tranquila.
Eles cantam assim:
Dobrai o joelho, dobrai o joelho para as mulheres.
A mulher nos pôs no mundo, assim somos seres humanos.
A mulher é a inteligência da terra, dobrai o joelho para a mulher. A mulher nos pôs no mundo, assim somos seres humanos”.
Creio que esse Odù é bastante o suficiente para colocar esse equilíbrio entre forças no qual o poder de Olódùmarè dado a ajé (Àjẹ́) se encontra com o poder do homem depositado em Eégún.
Eégún é a representação do homem, o poder do homem, visto que a mulher não é também representada em Eégún. Lembro a todos que a figura de Eégún e do culto d Eégún é para mostrar a todos que a vida é contínua, que a alma não morre, que vivemos para sempre e podemos reencarnar. Esta é a razão da religião ter Eégún, seja pelo sentido de valorizar o vínculo familiar contínuo e perene como por demonstrar que vida e um ciclo sem fim.
Somente Eégún pode conter o poder de ajé (Àjẹ́). Essa é uma informação que poucos têm. Além disso existe um velho dito popular que fala que somente Olódùmarè pode salvar o homem de uma esposa vingativa. É a mulher que prepara a comida, as oferendas e isso é o caminho para o orun (Ọ̀run).
É uma sociedade patriarcal e se engana quem acha que isso foi diferente, mas, as mulheres são dotadas de capacidades especiais para quebrar esse domínio.
Acredito que isso ficou, também, claro nas histórias que mostrei.
O assunto mulher não está restrito a teologia e Ifá e para falar sobre ele é preciso entender alguns conceitos importantes sobre a sociedade Yorùbá e outras estruturas da religião. Eu acredito que a maior parte dos erros de entendimento aqui no Brasil e na diáspora são advindos de nós não entendermos de forma ampla a sociedade e valores e também outras estruturas religiosas que completam o todo.
O equilíbrio do poder masculino-feminino na sociedade fica evidente quando analisamos a estrutura dos cultos de Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́).
Ẹdan é o símbolo máximo da sociedade e representa uma figura masculina e ua feminina unidas por uma corrente.
Ilé (Ilẹ̀) a terra, deve trazer paz, felicidade, estabilidade social e sobrevivência, é a terra que dá poder a Ògbóni mas também alimenta ajé (Àjẹ́) que é a ira de Ilé (Ilẹ̀). As sociedades Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) estão unidas no seu aspecto social, muito mais do que uma estrutura religiosa é uma estrutura da sociedade yorùbá e por esta razão não foram transportadas pela diáspora. O seu significado é a busca de equilíbrio e pacificação do espírito feminino representado por Ilé (Ilẹ̀).
Mesmo nas sociedades masculinas de Eégún e Orò a mulher tem cargos.
Observe que Eégún é o culto festivo e alegre e Orò representa sempre o poder sombrio de Eégún, Orò é a manifestação de Eégún no seu aspecto punitivo para a sociedade. É Orò que executas as mulheres feiticeiras, ajé (Àjẹ́) que usam seu poder para o malefício.
Ilé (Ilẹ̀), a grande mãe Ògbóni em seu aspecto sombrio, se transforma em Ọ̀gẹ́rẹ́, a manifestação irascível e vitimizadora, que traz morte a seus filhos. Esta é a visão ambivalente da sociedade frente a terra. Ela mostra o potencial explosivo da relação homem-mulher em uma sociedade masculina e a necessidade de exercer a diplomacia.
Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) surge da visão Ògbóni de omón iya (Ọmọ ìyá), os filhos da mesma mãe e tem o objetivo de sensibilizar a mãe natureza Ìyá Nlá aos problemas dos filhos e da sua responsabilidade maternal.
O objetivo é fazer os membros da comunidade a amarem e interagirem um com o outro como filhos da mesma mãe. A manifestação de Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) através do seu festival é feita para pedir saúde, vida longa, prosperidade, muitos filhos, evitar doenças, mortalidade infantil e evitar desastres. O objetivo do culto que pode ser através de uma grande festival ou de eventos menores e até mesmo para apenas uma família, tem a finalidade de promover a paz e o bem estar social. Pessoas de todos os cultos de orixá (Òrìṣà) participam.
Os cultos de Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) são assim mais uma manifestação do equilíbrio dos poderes masculino e feminino.
Muitos aqui se questionam porque as pessoas dos cultos de orixá (Òrìṣà) e demais segmentos desta religião não são unidas. A razão é que trouxeram apenas o culto de divindades e não o entendimento de equilíbrio da sociedade integrado coma religião.
Ninguém entende aqui o que é ajé (Àjẹ́) porque para entende ajé (Àjẹ́) tem que se compreender uma dimensão muito maior de sua atuação. Não se trata apenas de feiticeiras e sim do poder feminino no equilíbrio do mundo.
A feitiçaria em sí, o malefício, é combatido pela sociedade.
Para finalizar isso eu digo que não existe sentido no culto de Ifá da presença da mulher como sacerdotiza.
Essa posição de mulher-sacerdote é uma violação do princípio básico de equilíbrio da religião. A Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) foi dado o poder do oráculo e à sua união com Odù foi trazido o poder feminino.
Apesar do tudo o que foi dado a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), ao ser o intermediário com Olódùmarè, junto com Exú (Èṣù) as únicas divindades que podem ir ao deus supremo e também a bolsa da sabedoria, o axé (àṣẹ) para fazer coisas, transformações é dado a Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) por Odù, a figura feminina que recebeu esse axé (àṣẹ), esse poder de Olódùmarè.
É o casamento de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) com Odù que traz isso a Ifá, e por favor entendam essa casamento como uma metáfora. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) também se casa com Iwa (o caráter) e com Aje (a prosperidade), mas, essas 2 histórias eu ainda vou incluir no texto.
O importante é entendermos que em Ifá permanece o grande equilíbrio entre o poder masculino de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e de Odù o seu símbolo mais importante. É o receptáculo de Odù que é a ferramenta maior de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) , seu maior símbolo de poder.
Não se trata apenas de ficar interpretando versos ou aceitar a história que está em Orangun méjì. Trata-se de entender que não é possível sob o ponto de vista teológico se reunir em uma única pessoa as duas coisas, uma mulher em atividade fértil feminina não pode ser detentora de 2 poderes isso é romper com os princípios da religião e da própria sociedade.
Para aceitar a iniciação de mulheres um Bàbáláwo teria que fazer 2 coisas. A primeira é jogar no lixo o que está escrito em Orangun Méjì. A segunda é ignorar um princípio que norteia a sociedade e a religião. Entender o equilíbrio masculino e feminino é tão importante quanto entender o que é axé (àṣẹ).
Dessa forma não acredito e não aceito em iniciações para Ìyánifá ou qualquer outro neologismo que se invente. Para mim isso é desonestidade. Não reconheço Iyanifas.

Assim, não seja tola, não jogue seu dinheiro fora.

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