Porque considero que Iyanifá ou outras neologias são invenções ilegítimas para africanos ganharem dinheiro?
O
texto a seguir é parte do texto sobre a mulher em ifá, mas como o
texto ficou quase completo, mas, muito longo, resolvi publicar apenas
minhas conclusões. O objetivo das longas e inúmeras histórias é
justamente fundamentar essas minhas conclusões, assim, quem quiser
leia o texto todo.
As
histórias relatadas estão longe de cobrirem todas as existentes mas
foram destacadas por terem alguma relevância ao entendimento ou por
trazerem informações importantes.
Esta
é a religião do equilíbrio e Ifá tem isso em suas entranhas. Eu
não coloco Ifá acima de nenhum outro culto, todos que leem o que eu
escrevo sabem disso, mas, a realidade é que a noção do equilíbrio
esta contida em tudo que Ifá faz e nos versos de Odù.
No
Odù Òdí Méjì temos a
história principal sobre o equilíbrio de Ifá, quando Ifá explica
porque se marca um ou dois traços quando se consulta com Ikin. Isso
é perene em tudo de Ifá. Dessa maneira, Ifá é um culto masculino,
mas todo o poder do Bàbáláwo para interferir no mundo
físico, no Àiyé vem da mulher, de Odù
sua esposa mítica.
Também
são muito especiais as histórias onde Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) se encontra
com as ajé (Àjẹ́) e obtêm delas cooperação, mostrando sempre
que não ha forma de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà), ou
qualquer um, superar o poder de ajé (Àjẹ́). A
atuação masculina de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) se une ao
poder feminino, que foi dado a elas por Olódùmarè
para atuar no mundo.
Para
eu cobrir todo o fundamento teológico disso precisaria destacar mais
um Odù com a história de Òdí
Méjì (que não vou relatar aqui, porque é bem longo e não está
ligado a figura feminina) e o mito que está em Ọ̀sá Méjì, o
qual narra o momento em que Olódùmarè
dá para Odù a cabaça com o
pássaro com poder absoluto e depois ela se entende com Eégún e dá
para ele o seu poder através do pássaro que ficará empoleirado no
seu ombro.
Vejam
um trecho final do verso:
ela
diz, grita, eis Eégún eis Eégún.
Ela
diz, eles gritam por causa dele.
Ela
diz, ele arrasta seu chicote no chão, ela diz, a honra cabe a ele.
Ela
diz, a partir de hoje,
ela
diz, ela concede Eégún ao homem.
Ela
diz, por causa dela,
ela
diz, mulher alguma nunca mais ousará entrar na roupa deEégún.
Ela
diz, por causa de Òrisàlá, ela diz, ela dá Eégún ao homem.
Ela
diz, mas se ele deve sair,
ela
diz, ela tem o poder que ele utiliza.
O
motivo se deve à amizade entre Eégún e eleye.
No
lugar de onde vem Eégún, as eleye (também) vêm.
Todo
o poder utilizado por Eégún é o poder de eleye.
Odú
diz, mulher alguma jamais entrará na (roupa) de Eégún. mas ela
poderá dançar, ir ao encontro de Eégún,
Quer
dizer que se Eégún sair,
ela
dançará diante dele,
ela
dançará na estrada, ao encontro de Eégún.
Ela
diz, a mulher fará isto unicamente.
Ela
diz, a mulher não ousará nunca mais entrar de novo no pátio dos
fundos. Ela diz, a partir de hoje é o homem que levará Eégún para
fora.
Ela
diz, ninguém, nem os netos, nem os velhos poderão zombar da mulher.
Ela diz, a mulher tem mais poder sobre a terra.
Ela
diz, além do mais, a mulher nos pôs no mundo.
Ela
diz, todo mundo nasceu da mulher.
Ela
diz, todas as coisas que as pessoas quiserem fazer, se não forem
ajudadas pelas mulheres, ela diz, não podem fazer.
(É
por este) motivo que os homens nada podem fazer na terra, se não o
obtiverem das mãos das mulheres.
Eles
cantam.
Por
essa razão
Òbàrisà
também canta.
Quando
é o quinto (dia), eles fazem (a festa) da semana.
Ele
diz que todos os cânticos que eles cantarão serão este aqui, vi
ndos do (odu de ifá) òsá méji.
Ele
diz, eles saúdam as mulheres,
Ele
diz, se eles saudarem as mulheres, a terra será tranquila.
Eles
cantam assim:
“Dobrai
o joelho, dobrai o joelho para as mulheres.
A
mulher nos pôs no mundo, assim somos seres humanos.
A
mulher é a inteligência da terra, dobrai o joelho para a mulher. A
mulher nos pôs no mundo, assim somos seres humanos”.
Creio
que esse Odù é bastante o
suficiente para colocar esse equilíbrio entre forças no qual o
poder de Olódùmarè dado a ajé (Àjẹ́)
se encontra com o poder do homem depositado em Eégún.
Eégún
é a representação do homem, o poder do homem, visto que a mulher
não é também representada em Eégún. Lembro a todos que a
figura de Eégún e do culto d Eégún é para mostrar
a todos que a vida é contínua, que a alma não morre, que vivemos
para sempre e podemos reencarnar. Esta é a razão da religião ter
Eégún, seja pelo sentido de valorizar o vínculo familiar
contínuo e perene como por demonstrar que vida e um ciclo sem fim.
Somente
Eégún pode conter o poder de ajé (Àjẹ́). Essa é uma
informação que poucos têm. Além disso existe um velho dito
popular que fala que somente Olódùmarè
pode salvar o homem de uma esposa vingativa. É a mulher que prepara
a comida, as oferendas e isso é o caminho para o orun
(Ọ̀run).
É
uma sociedade patriarcal e se engana quem acha que isso foi
diferente, mas, as mulheres são dotadas de capacidades especiais
para quebrar esse domínio.
Acredito
que isso ficou, também, claro nas histórias que mostrei.
O
assunto mulher não está restrito a teologia e Ifá e para falar
sobre ele é preciso entender alguns conceitos importantes sobre a
sociedade Yorùbá e outras estruturas da religião. Eu acredito que
a maior parte dos erros de entendimento aqui no Brasil e na diáspora
são advindos de nós não entendermos de forma ampla a sociedade e
valores e também outras estruturas religiosas que completam o todo.
O
equilíbrio do poder masculino-feminino na sociedade fica evidente
quando analisamos a estrutura dos cultos de Ògbóni e Geledé
(Gẹ̀lẹ̀dẹ́).
Ẹdan
é o símbolo máximo da sociedade e representa uma figura masculina
e ua feminina unidas por uma corrente.
Ilé
(Ilẹ̀) a terra, deve trazer paz, felicidade, estabilidade social e
sobrevivência, é a terra que dá poder a Ògbóni mas também
alimenta ajé (Àjẹ́) que é a ira de Ilé (Ilẹ̀). As sociedades
Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) estão unidas no seu aspecto
social, muito mais do que uma estrutura religiosa é uma estrutura da
sociedade yorùbá e por esta razão não foram transportadas pela
diáspora. O seu significado é a busca de equilíbrio e pacificação
do espírito feminino representado por Ilé (Ilẹ̀).
Mesmo
nas sociedades masculinas de Eégún e Orò a mulher tem
cargos.
Observe
que Eégún é o culto festivo e alegre e Orò representa
sempre o poder sombrio de Eégún, Orò é a manifestação de
Eégún no seu aspecto punitivo para a sociedade. É Orò que
executas as mulheres feiticeiras, ajé (Àjẹ́) que usam seu poder
para o malefício.
Ilé
(Ilẹ̀), a grande mãe Ògbóni em seu aspecto sombrio, se
transforma em Ọ̀gẹ́rẹ́, a manifestação irascível e
vitimizadora, que traz morte a seus filhos. Esta é a visão
ambivalente da sociedade frente a terra. Ela mostra o potencial
explosivo da relação homem-mulher em uma sociedade masculina e a
necessidade de exercer a diplomacia.
Geledé
(Gẹ̀lẹ̀dẹ́) surge da visão Ògbóni de omón iya (Ọmọ
ìyá), os filhos da mesma mãe e tem o objetivo de sensibilizar a
mãe natureza Ìyá Nlá aos problemas dos filhos e da sua
responsabilidade maternal.
O
objetivo é fazer os membros da comunidade a amarem e interagirem um
com o outro como filhos da mesma mãe. A manifestação de Geledé
(Gẹ̀lẹ̀dẹ́) através do seu festival é feita para pedir saúde,
vida longa, prosperidade, muitos filhos, evitar doenças, mortalidade
infantil e evitar desastres. O objetivo do culto que pode ser através
de uma grande festival ou de eventos menores e até mesmo para apenas
uma família, tem a finalidade de promover a paz e o bem estar
social. Pessoas de todos os cultos de orixá (Òrìṣà) participam.
Os
cultos de Ògbóni e Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) são assim mais uma
manifestação do equilíbrio dos poderes masculino e feminino.
Muitos
aqui se questionam porque as pessoas dos cultos de orixá (Òrìṣà)
e demais segmentos desta religião não são unidas. A razão é que
trouxeram apenas o culto de divindades e não o entendimento de
equilíbrio da sociedade integrado coma religião.
Ninguém
entende aqui o que é ajé (Àjẹ́) porque para entende ajé (Àjẹ́)
tem que se compreender uma dimensão muito maior de sua atuação.
Não se trata apenas de feiticeiras e sim do poder feminino no
equilíbrio do mundo.
A
feitiçaria em sí, o malefício, é combatido pela sociedade.
Para
finalizar isso eu digo que não existe sentido no culto de Ifá da
presença da mulher como sacerdotiza.
Essa
posição de mulher-sacerdote é uma violação do princípio básico
de equilíbrio da religião. A Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) foi dado o
poder do oráculo e à sua união com Odù
foi trazido o poder feminino.
Apesar
do tudo o que foi dado a Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà), ao ser o
intermediário com Olódùmarè, junto
com Exú (Èṣù) as únicas divindades que podem ir ao deus supremo
e também a bolsa da sabedoria, o axé (àṣẹ) para fazer coisas,
transformações é dado a Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) por Odù, a
figura feminina que recebeu esse axé (àṣẹ), esse poder de
Olódùmarè.
É
o casamento de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) com Odù que
traz isso a Ifá, e por favor entendam essa casamento como uma
metáfora. Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) também se
casa com Iwa (o caráter) e com Aje (a prosperidade), mas, essas 2
histórias eu ainda vou incluir no texto.
O
importante é entendermos que em Ifá permanece o grande equilíbrio
entre o poder masculino de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) e de Odù o
seu símbolo mais importante. É o receptáculo de Odù que é a
ferramenta maior de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà) , seu maior
símbolo de poder.
Não
se trata apenas de ficar interpretando versos ou aceitar a história
que está em Orangun méjì. Trata-se de entender que não é
possível sob o ponto de vista teológico se reunir em uma única
pessoa as duas coisas, uma mulher em atividade fértil feminina não
pode ser detentora de 2 poderes isso é romper com os princípios da
religião e da própria sociedade.
Para
aceitar a iniciação de mulheres um Bàbáláwo teria que
fazer 2 coisas. A primeira é jogar no lixo o que está escrito em
Orangun Méjì. A segunda é ignorar um princípio que norteia a
sociedade e a religião. Entender o equilíbrio masculino e feminino
é tão importante quanto entender o que é axé (àṣẹ).
Dessa
forma não acredito e não aceito em iniciações para Ìyánifá ou
qualquer outro neologismo que se invente. Para mim isso é
desonestidade. Não reconheço Iyanifas.
Assim, não seja tola, não jogue seu dinheiro fora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário