O conceito de axé (aṣẹ́)
Axé (àṣẹ) é um dos elementos de base desta religião, um dos
seus pilares, na minha opinião o principal conceito para se entender
toda a religião. A religião entende que Olódùmarè quando
nos cria coloca uma centelha de seu poder dentro de nós, o Axé
(àṣẹ).
Axé
(àṣẹ) é a energia que todos temos é a nossa quintessência e
tem origem em Olódùmarè, o deus supremo segundo a religião
yorùbá. Axé (àṣẹ) nos liga a Olódùmarè e
torna esse a divindade suprema por excelência.
O
axé (àṣẹ) é dado por Olódùmarè para todas as coisas:
As divindades, os ancestrais, os espíritos, humanos, animais,
plantas, pedras, rios, palavras ditas em canções, rezas e pragas.
Axé (àṣẹ) é o poder que todos temos, ou mais amplamente, o
poder que tudo no àiyé possui.
O
que vou fazer a seguir é explicar o que é axé (àṣẹ) de uma
forma que você nunca ouviu.
O que é axé (àṣẹ)?
A
definição que o uso da palavra axé (àṣẹ) recebe dentro da
religião é bastante ampla e, no estilo Yorùbá, uma mesma palavra
é usada para descrever muita coisa, coisas importante e menos
importantes.
Em
primeiro lugar e mais comum, é um adjetivo
muito usado por todas as pessoas no sentido de votos de sucesso e
agradecimento. É como se você transmitisse para a pessoa que você
fala que ela o axé (àṣẹ) na forma de agradecimento ou que
desejasse que aquela situação tivesse o axé (àṣẹ) nela, etc..
Além
desse uso coloquial, que não
posso deixar de citar, axé
(àṣẹ) é acima de tudo
um pilar da religião e é isso que inclusive justifica o seu uso de
forma coloquial. As palavras
têm axé (àṣẹ) de
forma que desejar axé (àṣẹ) para alguém é como se você
dividisse o seu axé (àṣẹ) com essa pessoa.
Mas
afinal, então, o que é Axé (àṣẹ) de verdade?
Axé
(àṣẹ) é força da vida, a energia vital, que nos faz viver. A
força que nos dá vida, todo ser vivo tem axé (àṣẹ).
Axé (àṣẹ) é a força vital ou poder que permite que o sol
ilumine, que a lua e as estrelas brilhem, que o vento sopre, que a
chuva caia e que o rios corram. Ele dá forma ao que não tem forma,
movimento ao que não tem movimento, e vida as coisas vivas. (Rowlnad
Abiodun, Understanding Yorùbá art and aesthetics – the concept of
àṣẹ)
Também
é a força que nos faz ter a capacidade de interceder no mundo
através de poderes supernaturais. É o axé (àṣẹ) nos que nos
permite interceder no mundo e nas pessoas.
Para
não complicar vamos resumir o que axé (àṣẹ) como energia ele
traduz:
- A energia básica que todo ser tem e precisa para viver, a força do nosso corpo.
- A “virtude única” que Olódùmarè nos dá
- A força que nos dá a capacidade de interceder no mundo através de poderes supernaturais.
Podemos
entender que, vendo de outra maneira, que existe uma parte comum e
uma parte especial no axé (àṣẹ). A parte comum é o aspecto de
ser uma energia vital presente em todos os seres e que nos dá a
vida. Neste ponto, axé (àṣẹ) é um elemento básico e comum.
A
parte especial do axé (àṣẹ) é que ele também é a virtude que
recebemos de Olódùmarè a força que temos e a quintessência que
nos permite transmitir isso.
Tudo
no àiyé é um “ser”, não importa se animal, humano,
vegetal ou mineral. O que existe no mundo tem o axé (àṣẹ) que
foi dado por Olódùmarè. O axé (àṣẹ) é uma força diferente
dos quatro elementos, por isso podemos de chamá-lo de
“quintessência”.
Cada
ser no Àiyé, que é o mundo que vivemos, possui uma composição
única de axé (àṣẹ) que lhe foi dada por Olódùmarè. Axé
(àṣẹ) é uma qualidade, uma virtude dada por Olódùmarè de
maneira que cada elemento do Àiyé tem uma propriedade ou poder
distinto. No caso dos humanos entendemos que essa virtude original
varia e as pessoas podem ter virtudes, ou capacidades distintas. O
axé (àṣẹ) que recebemos é distinto.
A
palavra “virtude” é usada por mim aqui para descrever esse poder
mágico congênito, a propriedade particular ou comum a indivíduos
ou materiais.
O
que vamos ver nesse texto? Que o entendimento de axé (àṣẹ)
explica porque nesta religião:
- Fazemos liturgias e ritos para resolver as coisas
- Por selecionamos materiais específicos para serem usados
- Por que são feitas iniciações
- Por temos rezas e símbolos
Como
eu disse, entender axé (àṣẹ) explica muita coisa da estrutura
da religião, você passa a entender que não é apenas um animismo
ou superstição e que tudo tem uma razão dentro de um princípio e
de uma lógica.
O Conceito de quintessência
Este
termo, quintessência, pode não ser do conhecimento de todos, mas, o
conceito de axé (àṣẹ) nos remete exatamente ao conceito de
quintessência que foi largamente estudada e documentada no século
XIX por famosos alquimistas como Francis Barret, Agrippa e Paracelso.
A quintessência era a base da alquimia que unia ciência à
religião, uma vez que os alquimistas eram religiosos e tinham o
conceito de deus na base de tudo o que faziam. Muitos hoje dizem que
ciência e religião são opostos, os alquimistas não entendiam
dessa maneira.
O seguinte texto é retirado da obra Magus de Francis Barret.
O seguinte texto é retirado da obra Magus de Francis Barret.
“A alma é a forma essencial, inteligente e imperecível, o primeiro moto do corpo, e move-se por si mesma. O corpo, ou matéria, não consegue ou não se presta a mover-se por si só, e perde muito das qualidades primitivas da alma. Assim, torna-se necessário um meio mais aperfeiçoado. Este meio, entende-se, que seja o espírito do mundo, ou aquilo que alguns chamam de quintessência porque não é formada pelos quatro elementos, mas por uma certa coisa primeira, superior e além deles. Há portanto a necessidade de um meio pelo qual as almas celestes possam unir-se aos corpos densos, agraciando-os com dádivas prodigiosas. …. este espírito transmite todas as propriedades ocultas para as ervas, as pedras, os metais e os animais... este espírito pode nos ser útil se soubermos separá-lo dos elementos ou ao menos usar principalmente as coisas em que abunda...”
Este
conceito é a base da alquimia. Axé (àṣẹ) é exatamente isto e,
atenção, não estou fazendo um sincretismo. Não gosto de
sincretismo e não gosto de comparações, mas, não posso nessa
explicação fugir disso. Muito pouca gente estudou esse conceito de
supernatural nas 2 religiões para poder fazer essas comparações
que estou fazendo.
Não
estou trazendo para dentro dessa religião o conceito de outra, estou
apenas fazendo um paralelo porque se trata do mesmo conceito e tenho
um propósito positivo com isso.
Religiões
diferentes, sociedades diferentes e tempos diferentes. Ambas possuem
o mesmo entendimento de uma parte do supernatural. Não estamos aqui
fazendo equiparações teológicas. A religião Yorùbá usa
exatamente o mesmo princípio da alquimia quando trata de axé (àṣẹ)
e dos famosos ébó (ẹbọ), que são liturgias que distribuem,
repõem e transmitem o axé (àṣẹ)..
Eu,
pessoalmente, como já disse, odeio explicar alguns conceitos fazendo
comparações, tenho como opinião que toda a explicação deve ser
original, mas nesse caso estou fazendo isso para acabar com o
preconceito em relação a esta religião Yorùbá.
Por
que preconceito? Por que apesar de ser uma religião originada em
uma pequena região da áfrica, no golfo do Benin, a religião yorùbá
tem conceitos bem consistentes e elevados que podem ser comparados a
conceitos teológicos ou místicos de religiões ocidentais.
Olódùmarè,
o deus supremo, dá a cada elemento um poder original que tem origem
nele. Esse poder torna cada elemento único, distinto e útil. O
momento em que isso ocorre é aquele onde ele transmite o Emi
e já foi descrito anteriormente. A liturgia que ele executa é mais
do que apenas dar vida ao corpo é dar o axé (àṣẹ) ao corpo.
Por
essa razão Orixá-nlá (Òrìṣà-nlá) não pode sozinho fazer
todo o trabalho, é necessário que Olódùmarè, após
Orixá-nlá (Òrìṣà-nlá) concluir o corpo, dê o sopro de vida
ao que era apenas barro como também, e principalmente, transmita sua
centelha divina às suas criações o axé (àṣẹ). Isso não pode
ser feito por Orixá-nlá (Òrìṣà-nlá), somente Olódùmarè
pode transmitir o axé (àṣẹ) e isso mais uma vez explica porque
ele, Olódùmarè pode ter o título de ser a divindade
suprema da religião Yorùbá.
Dessa
forma o sopro divino não é apenas uma operação para dar vida ao
corpo, é também para transmitir o axé (àṣẹ́).
O
momento em que ele faz o mesmo com as demais formas, vivas ou não,
não é explicado. Apenas a criação dos homens é definida, mas,
devemos supor, por ilação que de alguma forma cada elemento vivo no
àiyé recebe de Olódùmarè o seu axé (àṣẹ).
Vejam
o seguinte texto feito por mim por há muitos anos baseado nas ideias
da alquimia:
Assim as pedras, metais, animais e ervas tem cada uma sua própria virtude que é herdada das inteligências ordenadoras e este é o ponto que nos interessa. De acordo com este princípio os elementos têm suas características criadas por deus, controladas pelas inteligências e que lhes são transmitidas pelos elementos e astros. Há portanto, uma virtude e um funcionamento em cada uma delas, mas são maiores no astro que as governa ou no elemento que a compõe.
As virtudes são justamente as características mágicas que buscamos nestes elementos de segunda ordem para podermos obter através da transferência destas virtudes para as pessoas nas quais trabalhamos. Assim virtudes não são as características físico-química dos elementos que lhes atribuem a aparência, beleza e valor, mas, sim a sua força mágica que foi designada por deus.
A alma é a forma original e essencial, mas esta precisa ter os seus poderes atribuídos às coisas, e isto se dá através do quinto elemento, ou quintessência, que é transmitido às pedras e cristais através do sol, da lua e dos atros e emprestam a estas as suas propriedades ocultas.
Desta maneira o poder dos elementos é um desígnio divino, criado por deus que é armazenado nestes através do elemento que os influenciam. Sempre será maior no astro que a rege e isto é muito importante e deve ser observado ao se analisar quando e como algo deve ser feito, porque tanto maior será o efeito mágico da pedra quanto intenso for o astro ou elemento que lhe dá a sua virtude.
Por esta explicação de origem alquímica, nós entendemos que os poderes dos elementos lhes são inerentes e dados por deus sendo assim importante sua permissão e autorização antes de serem operados. O operador como parte deste sistema de energia e sendo também em seu corpo um armazenador de virtudes e também do quinto elemento, usa a essência deste último canalizando-o para transmitir as virtudes destas para quem recebe. A pessoa que recebe esta energia vai através da sua própria quintessência transmitir a seu corpo as virtudes recebidas sendo então beneficiado por elas.
É uma explicação complexa mas que unifica as verdades das anteriores bem como estabelece a importância de se entender o papel dos atros e elementos no entendimento da magia das pedras.
Baseado no que já foi dito eu posso dizer simplesmente que os elementos são como baterias que armazenam e concentram a energia da Terra, onde entende-se Terra como o espírito do mundo.
Eu
não teria, hoje, uma forma melhor para explicar o que é axé (àṣẹ).
Os
alquimistas foram mundanamente conhecidos por buscar transformar
chumbo em ouro. Eles o faziam, mas não compensava, porque para
transformar um metal em outro você precisava primeiro capturar as
propriedades do material original, através do processo alquímico
que eles desenvolveram e depois transmitir para o outro metal. Mas o
processo não compensava a quantidade resultante era equivalente a
inicial, assim não compensava fazer isso.
Mas
a alquimia não se resumia a isso, transformar metal, e sim capturar
as propriedades dos materiais e transmitir para outros. O foco da
alquimia era a pedra filosofal que servia para muitas coisas
inclusive trazer saúde e vida.
Alquimia
era a ciência de entender como deus criou o mundo e usar o poder que
deus deu às coisas para trazer benefícios para a humanidade. Um
alquimista era um cientista de deus, assim como o é um Bàbáláwo.
Na
religião Yorùbá fazemos o mesmo processo. Entendemos as
criações de deus, de Olódùmarè, capturamos o axé (àṣẹ)
das coisas e transmitimos para os seres que necessitam dele. Esta é
a essência do que fazemos nas liturgias reparadoras.
Dessa
maneira um Bàbáláwo
ou um Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
trabalham com a mesma ciência e o mesmo supernatural que os
alquimistas e herméticos trabalham, não tem invenção ou mágia, é
o mesmo supernatural, o que existe é magia.
Mas
vamos deixar os alquimistas para trás, já serviram para ajudar na
explicação que interessa aqui e nos aprofundar na forma como usamos
o axé (àṣẹ).
Nesse
ponto suponho que todos já tenham entendido que axé (àṣẹ) é a
energia vital que temos.
O objetivo das liturgias
A
ideia de axé (àṣẹ), repito sem exageros, é o núcleo desta
religião. Todo elemento da terra tem axé (àṣẹ), ele é um
elemento necessário para a vida e a sua falta, ou excesso é o que
nos traz problemas, sejam eles de saúde, mentais e mesmo de sorte na
nossa vida.
É
fácil entender que, o que nos traz desequilíbrio é aquilo que nos
prejudica. Trazer de volta o equilibro para nossa energia e por
consequência para nossa vida, é o que e as liturgias da religião
Yorùbá fazem através de suas operações, os Ebó (ẹbọ) e as
oferendas votivas.
Fica
assim desvendado o primeiro mistério sobre as liturgias do
Candomblé. Todos eles, sem exceção, são voltados para trazer o
equilíbrio ao axé (àṣẹ). O resto necessário para solucionar
os seus problemas, você faz sozinho. Qualquer objetivo que as
pessoas se disponham a realizar, através das liturgias, além deste
não é mais religião é uma pratica qualquer.
O
que permite as liturgias atingirem esse objetivo é porque o axé
(àṣẹ) como força mágico e sagrada tem muitas algumas
propriedades importantes que vou explicar aqui. A primeira delas é
que ele pode fluir entre os elementos, de maneira que você pode
transmitir ou repor.
Ele
pode ser coletado de uma fonte e aproveitado em outra, repondo a
energia vital de quem necessita ou utilizando a virtude divina, que
traz uma propriedade adicional e necessária para a pessoa que
recebe, e que o elemento cedente possui. Folhas, por exemplo, são
conhecidas por suas propriedades terapêuticas.
Todos
os elementos, dos minerais aos animais, são fonte de axé (àṣẹ)
de diversas naturezas e tipos de uso. Em alguns casos precisamos
deles como fonte da energia vital em outros precisamos da virtude
especial que eles tem, que lhes dá um caráter terapêutico único,
seja para questões naturais como supernaturais.
Vejam,
essa última frase é simples, pode ter passado despercebida, mas é
muito importante. Através das liturgias podemos endereçar tanto as
questões ligadas a problemas naturais, como doenças, como também
problemas ligados a alma e espírito que pertencem ao supernatural. A
religião vê o ser humano de uma forma holística e tem uma
concepção mais ampla do que por exemplo a medicina e outras
ciências têm que
somente conseguem ver as questões naturais. Lembro que muitas
culturas orientais, ligadas ou não a religiões, também tem uma
visão mais holística do nosso ser.
Mas
religião não substitui medicina e muito menos concorre com ela.
Apenas podemos endereçar coisas naturais quando elas também tem
causa em questões supernaturais. Ao removermos a raiz do problema,
resolvemos ou ajudamos a resolver as consequências, que são as
manifestações visíveis.
A
intensidade dessa força vital, o axé (àṣẹ), nos seres vivos
pode variar, aumentando ou diminuindo. Ela é sujeita a erosão do
tempo e do seu uso contínuo e direcionado. Quando isso ocorre o
elemento que o contêm perde sua energia. No ser humano a perda de
axé (àṣẹ) poderá levar a enfraquecimento, doenças,
desequilíbrios emocionais e físicos.
Esses
desequilíbrios e doenças é que trazem os problemas e
desestabilizam a vida da pessoa. Eles são a causa raiz. Os problemas
que você passa advém das consequências da sua perda de axé (àṣẹ),
são sintomas. É como um dominó. Uma primeira pedra é derrubada e
esta pedra derruba a próximo e esta a próxima e assim vai.
que fazemos na religião e no nosso oráculo não é olhar para as
últimas pedras que foram derrubadas e sim para a primeira, a que
derrubou todas as demais.
Não
adianta nada você gastar esforço para colocar as últimas peças do
dominó em pé se o problema tem origem bem antes. Você coloca ela
em pé isso dura um tempo e logo depois elas vão cair de novo.
É
neste momento entra em ação o oráculo da religião, seja o de Ifá
como o eerindinlogun.
Na
religião Yorùbá é o oráculo que se encarrega de detectar o
problema que causa a perda ou excesso de axé (àṣẹ) e também de
indicar as liturgias que são necessárias para fazer o seu
equilíbrio.
O
oráculo religioso não é um instrumento de previsão do futuro ou
de solução de problemas. Essencialmente é um instrumento para
detectar e devolver o equilíbrio do axé (àṣẹ) das pessoas.
Lembre-se
que nesse momento trabalhamos com 2 princípios, o primeiro é a
reposição de energia vital ou o seu equilíbrio. O segundo é que
os materiais possuem as virtudes especiais, aquelas propriedades
divinas e que serão obtidas através da liturgia, transferindo elas
para a pessoa que precisa.
O
processo não é apenas uma operação de “ligar você na tomada”
para repor sua energia. Passa por mais coisas. A primeira é a
questão das virtudes e que determina por exemplo os materiais que
serão usados e o que processo será utilizado. Essas virtudes trazem
coisas que precisamos para resolver os problemas.
Se
você entendeu até aqui, ótimo, caso contrário reveja o texto para
ter certeza que está
compreendendo o que é
o axé (àṣẹ), o que eu chamo de virtude, como o axé (àṣẹ)
se caracteriza (os tipos) e como ele é obtido e usado.
As
liturgias, além de reporem a nossa energia e usar as virtudes
especiais dos materiais que fazem parte de cada procedimento, lançam
mão ainda 2 outras coisas, a primeira é a atuação do divino, ou
seja, das divindades, e a segunda é a ação da magia que pode mudar
coisas no mundo natural.
Um
sacerdote não é um médico. Ele é um religioso, mas, como já
disse a religião tem uma visão holística de nossa vida e corpo.
Entendemos que ao restabelecer o equilíbrio das energias do nosso
corpo, ao repormos o axé (àṣẹ) e ao eliminarmos as causas que
levam a essa perda, daremos
condições para que o próprio corpo se reestabeleça.
Isso
é feito com a ajuda divina, de Olódùmarè e também usando as
fontes de axé (àṣẹ) que Olódùmarè colocou no Àiyé, uma vez
que, como já expliquei, não podemos criar axé (àṣẹ) do nada,
temos que obtê-lo de uma fonte natural.
O
oráculo é o instrumento que o Bàbáláwo
usa para fazer isso. Esta é uma explicação bastante visceral de um
oráculo, mas, acreditem, é isso mesmo.
É
o entendimento desta religião que o axé (àṣẹ) deve ser
equilibrado. Tudo é feito para que este equilíbrio seja atingido e
que a pessoa possa desta maneira levar sua vida de forma normal,
superando com força, determinação, trabalho e persistência os
seus obstáculos e perseguindo os seus objetivos
Nas
liturgias e oferendas. Os materiais usados são a fonte do axé (àṣẹ)
que será transmutado e transmitido na forma da quintessência. As
divindades não comem as oferendas e muito menos precisam delas, nós
precisamos. A escolha dos materiais e elementos depende da finalidade
e também da divindade, cada divindade tem afinidade com determinados
tipos de elementos.
Quando
realizamos um Ebó (Ẹbọ) não estamos fazendo um processo
científico, tudo na religião é feito através das divindades, dos
orixá (Òrìṣà), que foram as divindades colocadas por Olódùmarè
para cuidar da gente aqui no àiyé. A realização da liturgia e a
conversão das oferendas votivas em axé (àṣẹ) depende da
intervenção do divino. São as divindades que intercederão por
isso.
Veja,
os próprios alquimistas também trabalhavam com o mesmo princípio.
No que pese uma aparente base científica no que eles faziam, de fato
nada aconteceria sem o divino, sem a intervenção de deus e dos
anjos.
O
sacerdote é uma pessoa preparada para fazer o que faz, e vou falar
sobre isso mais adiante. Mas, mais do que somente ele, o divino atua
junto com ele e através dele para que as coisas funcionem.
Dessa
forma, mais do que estarmos repondo energia perdida e usando
virtudes, é o divino que a partir de nossas orações e de sua
presença constante faz com que isso funcione e atue da maneira
adequada, nós, somos intermediários entre o àiyé e o Órun
(ọ̀run).
É
importante lembrar, por fim, que Ebó (ẹbọ) é uma palavra meio
genérica, que é usada para mais de uma coisa (estilo Yorùbá...).
Assim pode ser uma oferenda ou uma liturgia. Oferendas sempre são
usadas para dar axé (àṣẹ) que será usada para a pessoa ou para
alguma ação de magia. Os Ebó (Ẹbọ) pode ser procedimentos para
retirar energias negativas, dar energias positivas, retirar excesso
de energia positiva ou usar as virtudes com objetivos terapêuticos
seja para o corpo ou para a alma.
O axé (àṣẹ) e os materiais
Não
conseguimos gerar axé (àṣẹ) do nada. Temos que obtê-lo de uma
fonte deste mundo. Axé (àṣẹ) é uma exclusividade de Olódùmarè.
Neste momento entra a nossa ética e sistema de valores para balizar
as escolhas. Como eu disse, tudo o que existe é criação de
Olódùmarè, somos mais uma delas e Olódùmarè não tem
preferências.
Não
é verdade que a religião Yorùbá seja baseada no uso de animais
como fonte de axé, isso é uma tolice. Animais são muito caros e
vida se trata com respeito, mesmo que seja para ajudar a outra vida.
O que se faz é de uma religião inteira, complexa e com conceitos
extremamente positivos pegar apenas um detalhe e usá-lo de forma
arbitrária e questionável. Isso, principalmente, vem de religiões
que são extremamente pobres na forma de ver a felicidade da vida das
pessoas na terra.
Os
materiais usados na religião Yorùbá são esmagadoramente grãos,
frutos, castanhas, raízes e principalmente folhas. Tudo isso nesta
religião é sacrifício. Sacrifício é o ato de usarmos uma coisa
com o objetivo de dar a outra. Assim sacrificamos folhas, sementes,
castanhas, vegetais, legumes e inúmeros outros materiais. Tudo isso
é sacrifício e é usado para obter energia vital e virtudes.
Seres
vivos também são portadores de axé (àṣẹ), um tipo bem
especial e intenso. Em alguns casos essa fonte é necessária. Mas
isso não é o comum, é bem especial e seu uso litúrgico ocorre em
casos especiais e para pessoas especiais. O seu uso como fonte de axé
(àṣẹ) é necessário, mas, por inúmeras razões deve ser
criterioso.
Muitos
podem, neste momento, dizer que estou diminuindo a proporção das
coisas e tapando o sol com a peneira. Não, não estou. O problema é
que existem coisas que a maior parte das pessoas desconhece ou não
quer ver.
A
primeira coisa é que não sendo você vegetariano, e existem muitos
poucos que o são, você consumirá diariamente bastante proteína
animal para viver. Milhões de animais são sacrificados diariamente
para atender a sua vontade ou preferência de consumir proteína
animal. Esses sacrifícios são feitos, então, porque você come
proteína animal. Animais são criado exclusivamente para serem
consumidos, vivem em condições desumanas e são sacrificados ainda
em procedimentos péssimos. O mercado de carnes especiais gera um
pocesso de tortura na criação dos animais.
As
pessoas fingem que isso não existe e cinicamente acham que os
frangos já nascem congelados ou o boi já nasce fatiado. Essas
pessoas são as primeiras a se levantar porque por acaso isso é
feito de forma muito mais decente dentro de uma religião. Se
levantam por nada, apenas por preconceito, porque elas não fazem
piquete na frente de um abatedouro de frango ou de animais.
Ja
ouvi gente dizendo que não se incomoda com isso porque ele não ve
os animais sendo mortos, somente vê eles prontos no supermercado.
Isso me parece hipocrisia. Não se preocupam com os animais que comem
mas se dão ao trabalho de se preocupar com uma religião que por
acaso abate os animais que consome.
Inúmeras
religiões incluem em seus rituais o uso de animais. Os judeus fazem
isso seja como liturgia ou no seu dia a dia. A comida kosher é
prepara liturgicamente por sacerdotes e os judeus as compram para o
seu dia a dia. Algumas tribos judaicas até hoje fazem sacríficos
litúrgicos a deus, a Jeová, o mesmo deus dos católicos. Chama-se
Holocausto. Somente as tribos que usavam o templo de salomão pararam
de fazer sacrifícios com regularidade, mas tribos como os
Samaritanos, nunca usaram o templo de Salomão e por isso nunca
interromperam. Os frangos abatidos no Brasil e exportados para os
árabes passam um por uma liturgia para que esse sacrifício seja
feito da forma como a religião requer. Os católicos sacrificaram
inúmeras pessoas acusadas de heresia ou bruxaria em nome de seu
deus. Dezenas de outras religiões usam as oferendas como forma de
compartilhar sua prosperidade com deus.
Assim,
nesse mar de casos, quando se fala da religião Yorùbá, como o
Candomblé, a única coisa que as pessoas lembram é que também se
faz a mesma coisa que os outros fazem. Nada
mais interessa. Parece que as pessoas nesta religião vivem para
matar bichos.
Existem
um fator que poucos conhecem e é bem simples. Muitas casas incluem o
uso de animais em trabalhos apenas porque as pessoas precisam comer
carne. Só por isso.
Entenda
dessa maneira, consumir carne não é crime, somos onívoros e
comemos vegetais e carnes. Uma casa, as vezes sustenta muitas pessoas
e os trabalhos que são feitos, principalmente para clientes (pessoas
externas à casa) servem majoritariamente para repor a dispensa da
casa. Parece engraçado e é mesmo. Os não membros de uma casa pagam
para a subsistência das pessoas da casa, nem sempre com dinheiro,
também com dinheiro, mas principalmente com materiais que são
usados no que é pedido.
Uma
casa de candomblé, principalmente as mais antigas e tradicionais,
tem dentro delas uma grande comunidade de pessoas descendentes dos
fundadores. Essas pessoas vivem ali e as vezes somente se dedicam à
religião, como os monges e freiras. Essas pessoas precisam comer
diariamente. Um dos principais motivos de uma casa abrir suas portas
para atender, através do jogo de búzios, clientes, é para ter
dinheiro e alimento para essas pessoas.
As
pessoas então tem a impressão de que animais sempre são incluídos
ou fazem parte do Candomblé, não fazem, na maior parte dos casos
são acessórios colaterais, não seriam necessários.
Deixando
de lado essa questão dos animais, o axé (àṣẹ) será coletado
de folhas, sementes, castanhas e alimentos crus ou cozidos. Quase
tudo é fonte de axé (àṣẹ). A escolha de cada um desses
materiais e a sua combinação esta ligada a necessidade, a virtude
que eles tem e à divindade que intercederá pela pessoa.
Cada
divindade tem um conjunto de materiais que são parte da sua
afinidade e outros que não. A maior parte dos materiais é comum,
mas, existem tanto uma lista de preferência como de proibições.
As
folhas são um dos materiais mais importantes na retirada do axé
(àṣẹ) e também mais poderosos. Praticamente nada se faz sem
folhas ou sementes. Cada folha tem uma finalidade litúrgica que faz
com que elas sejam usadas na forma bruto ou através do seu sumo.
Existem
pessoas que defendem que tudo pode ser resolvido apenas com folhas.
Esse é uma questão antiga e em Ifá consideramos que o sacrifício
é mais forte do que as folhas e que sem o alimento do sacrifício as
pessoas perecem. A verdade é que sem folha não existe resultado
certo.
O axé (àṣẹ) e as Iniciações – O poder que se ganha
Além da questão de repor o axé
(àṣẹ), que eu já comentei muitas vezes, temos também as
virtudes, ou poderes, que podem ser transmitidos de um material para
outro. Não se trata de repor a energia perdida mas de ganhar um tipo
de energia e poder que a pessoa não tinha, vinda de outra pessoa ou
elemento dando a essa nova pessoa uma capacidade que ela não
possuía, trata-se do axé (àṣẹ) transmitido.
Liturgias
e iniciações tem esse efeito de transmitir axé (àṣẹ) e
qualidades. Um sacerdote passa por um longo processo iniciático onde
gradualmente irá receber poderes e capacidades que não tem. Esses
poderes serão as ferramentas de seu trabalho no seu dia a dia.
Toda
liturgia feita por um sacerdote é um processo complexo que envolve a
fonte de axé (àṣẹ), a sua capacidade de operar com isso (o axé
(àṣẹ) que ele possui) e a participação do divino que o suporta
e auxilia nesta tarefa.
A
capacidade de fazer determinadas liturgias e de ser este
intermediário na transmissão do axé (àṣẹ) enquanto energia, é
um axé (àṣẹ), uma virtude que se adquire através do processo
de iniciação e formação.
Da
mesma forma como se é intermediário na transmissão do axé (àṣẹ)
também o sacerdote, ou operador da liturgia, transmite o seu próprio
axé (àṣẹ). A pessoa que faz é também afetada pelo
procedimento. Isso vai requerer que ele também se submeta
regularmente a um processo de reposição e equilíbrio, essas
pessoas não estão acima da lei natural que rege todas as coisas. O
trabalho delas gera um desgasta continuo que deve ser corrigido sob
pena de esta própria pessoa se prejudicar.
Os
processos iniciáticos que existem dentro da religião Yorùbá tem
como objetivo preparar o iniciado e futuro sacerdote para poder atuar
como o intermediário entre o Órun (ọ̀run) e o àiyé, na
manipulação do axé (àṣẹ) e da energia dos Odù que é uma
outra forma de energia divina que é explicada em outro texto. Para
poder ser o intermediário dessas operações de magia, transmutação,
condução e transmissão de axé (àṣẹ) o operador necessita
algumas vezes receber capacidades e habilidades que são transmitidas
por outra pessoa.
Este
é outro conceito muito importante na religião o do axé (àṣẹ)
transmitido. O axé (àṣẹ) enquanto virtude e capacidade
litúrgica para lidar com o divino deve ser transmitido de pessoa a
pessoa. Um sacerdote pode ter nativamente algumas capacidades, isso
esta ligado a sua herança pessoal e familiar, ao seu orixá (Òrìṣà)
e ao seu destino na vida. Mas, outras capacidades necessárias para
lidar com essas energias divinas devem ser transmitidas de outra
pessoa que já as possui. Isso é necessário devido a estarmos
lidando com forças supernaturais poderosas e para segurança das
pessoas que recebem o que ele faz e eficácia do que ele faz é
necessário que a pessoa receba o axé (àṣẹ) para poder
trabalhar.
O que estou dizendo é que uma pessoa
para poder operar com o divino, ser o operador, seja Bàbálorixá ou
Bàbáláwo, deve ter o axé (àṣẹ) necessário para isso, e isso
é parte de um processo iniciático e hereditário. O sacerdote fará
parte de todo uma linhagem de outros sacerdotes. Essa herança na
forma de axé (àṣẹ) é a virtude de Olódùmarè que ele deve
possuir para poder operar com as energias de axé (àṣẹ) e de
Odù.
Não
se pode dar o que não se recebeu.
Essa
é uma frase muito simples mas que resume extremamente bem o que
estou explicando. A pessoa precisar receber o axé (àṣẹ) que vai
transmitir. No caso do sacerdote que vai fazer liturgias mais
complexas do que as oferendas votivas, ele precisa ter recebido o axé
(àṣẹ) para proceder aos Ebó (Ẹbọ) e sacrifícios. Ele não
pode se autodoar esta capacidade. Na maior parte dos casos ele mesmo
erá que ter passado pelas liturgias que vai executar.
É verdade que algumas pessoas já
nascem com algumas capacidades, mas isso não cobre tudo o que é
necessário. É a iniciação que molda e complementa esta capacidade
dando a essa pessoa a virtude divina na forma de axé (àṣẹ).
Além disso a pessoa precisa adquirir conhecimento para fazer as
liturgias.
Se submeter a liturgias e Ebó (Ẹbọ)
com pessoas que não tenham recebido isso, que não tenha ganhado o
axé (àṣẹ) para fazer isso é se submeter a um processo instável
com uma pessoa que pode não ter nem o conhecimento nem a capacidade
de fazer o que se propõe. Você se arrisca a jogar tempo ou dinheiro
fora e pior, piorar sua situação.
O axé (àṣẹ) nas palavras e símbolos
Como
na alquimia, a religião Yorùbá deposita axé (àṣẹ) nas
palavras orações e selos.
O
processo de Ifá é baseado em versos que invocam forças primordiais
do supernatural. As palavras têm axé (àṣẹ) e devem ser faladas
e voz alta. Nomes são importantes e as orações são fundamentais
para a ligação Órun (ọ̀run) e àiyé.
Esse
princípio de que palavras e orações tem poderes mágicos existem
em muitas religiões. Os mantras são baseados nisso, os
encantamentos são baseados nisso também. Os Yorùbá entendem que
palavras são pronunciadas por nós e transportam nelas o nosso axé
(àṣẹ).
Outro
aspecto são os símbolos ou selos. Eles estão presentes em Ifá e
não no culto de orixá (Òrìṣà). Ifá baseia o seu processo de
magia e energético nas orações, palavras na forma de versos e
também nos símbolos gráficos dos Odù. Esses símbolos são
“selos” que invocam a força divina. Nesse caso não podemos
dizer que seja axé (àṣẹ) eu prefiro qualificar como um outro
conceito de energia divina que não vou explorar aqui.
Veja
o axé (àṣẹ) está
presente em nós, seres
e objetos, sua fonte e uso é como já foi descrito, mas, existe uma
força adicional que é o poder divino, o poder que tem os orixá
(Òrìṣà) para interferirem no nosso mundo e que vem junto com os
Odù e invocados através das marcas de Ifá.
A magia como parte da religião
Magia é transformação; Transformação é magia; Toda magia é mudança; Toda a mudança é magia. (Scott Cunningham)
As
soluções de magia, através do axé (àṣẹ) são possíveis,
mas, não são o foco da religião, são um efeito colateral da
manipulação do axé (àṣẹ).
Magia
é um processo natural de se lidar e trabalhar com elementos e
energias naturais. Podemos considerar que uma magia é realizada
quando efetuamos uma modificação de qualquer condição no mundo
através de um ritual. Isto não é nada mais do que você focar o
seu desejo na intenção de alguém ou alguma coisa e mobilizar o
supernatural para isso.
Essa
religião acredita em magia como um poder inerente de todos nós,
como uma capacidade dos orixá (Òrìṣà) e um instrumento legítimo
de uso. É algo que Olódùmarè nos deu e devemos usar para ter uma
vida melhor.
Não
existe nada de engraçado e pequeno nisso. Pequeno é quem não
acredita em magia, quem acha que o mundo é apenas o natural e que a
razão e física dirigem o mundo. Essas sim, são pessoas pequenas
ante a grandiosidade do mundo criado por Olódùmarè. Não
entenderam onde vivem.
O
uso da magia é um processo legítimo de nos socorrer em nossas
necessidades. Ela é feita através da manipulação do axé (àṣẹ)
e do poder dos orixá (Òrìṣà). Lembro a todos que esta religião
estabelece que vivemos no àiyé porque queremos. A gente vive para
ser feliz e não para sofrer. O divino nos assiste nessa caminhada de
vida nos ajudando a ser felizes. A magia é parte disso.
Através
do processo de aquisição e manipulação do axé (àṣẹ) podemos
obter resultados que modifiquem a realidade. Isso é feito para o
nosso bem. As liturgias além de buscarem o equilíbrio da pessoa
também buscam sua felicidade. A felicidade é o objetivo final os
demais são meios e insumos para isso. Neste sentido restaurar a
capacidade do indivíduo viver e autonomamente é uma prioridade e
também o uso da magia como forma de remover obstáculos e situações
negativas.
A
ética da religião e dos orixá (Òrìṣà) determinam o que pode
ou não ser resolvido por magia. Existem coisas que nos mesmos
plantamos e trouxemos para a nossa vida. Essas coisas vamos ter
bastante trabalho para nos livrar porque boas ou más elas nos
pertencem. Passamos anos criando aquela situação ou aquele problema
e depois queremos que umas bolas de farinha resolvam? “Nem a pau”
Outros
problemas ou situações não nos pertencem, foram trazidas por
outras pessoas ou por situações normais da vida. Essas serão mais
facilmente resolvidas pela Magia.
Atentem
que desde tempo muito antigos a magia sempre esteve presente na
civilização humana. Magia não significa malefício. O Malefício é
quando você traz o mal ou o prejuízo de outra pessoa. Na Inglaterra
pre-inquisição, antes do século XV, a magia era uma pratica
corrente e visava a saúde das pessoas e o seu bem. Nunca foi um
crime. O crime residia no malefício causado a outras pessoas. As
feiticeiras poderiam ser processadas e presas por causa do malefício
causado pela sua magia.
No
caso da religião Yorùbá temos a mesma coisa. Temos o processo
visando o bem, mas, podemos ter pessoas que usam dos mesmos elementos
e instrumentos para causar o mal a outros ou fazer atalhos na vida
das pessoas que os pedem causando para isso problema para outros.
Essa é a prática que é usada pelas pessoas que transformam em
comércio a sua religião.
O
malefício não é objetivo ou parte desta religião. Se ele ocorre é
por desvio de ética de quem se propõe a fazê-lo e o desvio existe
em quem faz e em quem pede, de forma igual. Os 2 são pessoas ruins.
A
energia nuclear, por exemplo, pode ser usada para o bem, gerando
perenemente energia para alimentar cidades, mas, também pode ser
usado como elemento destrutivo. Assim foi com outros elementos como a
pólvora, nitroglicerina, combustíveis, etc..
Um
desvio negativo ocorre quando o crente ou sacerdote passam a ver isso
como a única coisa que fazem dentro da religião. Sem dúvida a
prática desta pessoas deverá, sim, ser considerada fetichista e
animista. Sempre será assim quando a pessoa não se ligar aos
elementos de mais alta ordem e ficarem apenas com só elementos
menores.
Nesse
caso podemos esquecer a pratica da religião e considerarmos que
existe ali apenas a comum, corriqueira e baixa feitiçaria. As casas
de Candomblé abrem suas portas para ajudar pessoas que não sejam
membros no sentido de obterem dessa atividade uma fonte de renda e
subsistência para suas atividades e membros. Mas o que ela deve
oferecer é a ajuda, o bem, a saúde e a recuperação da esperança
na vida.
Em
princípio uma casa de orixá (Òrìṣà) deve se focar nos seus
membros e no bem deles. Os membros devem sustentar a casa e mantê-la
funcionando e a casa deve presar pelo bem dos seus membros. Em alguma
escala e alguns casos a abertura da casa para não seguidores é
necessária, mas, isso não deve ser a regra.
Nos
dias de hoje as pessoas
têm acesso a educação
e formação e normalmente terão um emprego para mantê-las sem que
a religião seja a sua única fonte de receita. Pessoas que se dizem
Babalorixá e não tenham sido capazes de ter uma profissão para
mantê-las e a casa que construíram devem ser vistas com muito
cuidado, porque podem apenas ter uma fachada de religião para
sustentar os seus feitiços.
No
caso de Bàbáláwo é bem distinto. Eles não são do culto de orixá
(Òrìṣà) e seu objetivo a atender às pessoas comuns.
Conclusão
Depois
dessas longas e pouco ortodoxas explicações eu espero que acreditem,
é isso o que é axé (àṣẹ).
Axé
(àṣẹ) representa em primeiro lugar o que todo mundo conhece, que
é essa energia vital que todos ser vivo, animal ou vegetal tem. Mas
isso é apenas o básico.
Ele
é a virtude que Olódùmarè, o deus
supremo, nos deu e cada ser vivo tem uma “virtude” (uma energia
com característica especial).
É
essa energia especial e particular que é usada para ser transmitida
entre os seus vivos. Cada ser tem uma energia especial e isso é a
base do sistema de oferendas e ebó (Ẹbọ). Liturgias,
ebó (Ẹbọ) e oferendas, são feitos para transmitir o axé
(àṣẹ) de um ser para outro e consideram as coisas que o axé
(àṣẹ) de um ser vivo tem de especial e que o receptor necessita.
Sem
esse conceito de que o axé (àṣẹ) é especial e que ele pode ser
transmitido entre os seres vivos, 100% das liturgias desta religião
perderiam sentido de existir. Existem ritos e existem liturgias
porque, existe a capacidade de transmissão de axé (àṣẹ).
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