O Bàbáláwo como o único intermediário no uso de Odù.
Uma
vez que já expliquei, nos
textos anteriores, de
formas bastante ampla o que é Odù,
vou fazer agora
uma afirmação importante.
O
uso de Odù é uma
característica do oráculo de ifá. Isso é baseado no fato de que
Bàbáláwo é
iniciado para a divindade Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà),
passa pelos ritos iniciativos e sacralizatórios para ser um
intermediário entre o nosso mundo e esse supernatural, o Odù
é parte contínua
em sua iniciação, vai do
início até o fim, em Ifá
tudo é feito através da invocação de Odù
ou seja através dessa energia e, assim, o Bàbáláwo
é um sacerdote preparado para ser o intermediário entre
nosso mundo e Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà).
Negar
isso é rejeitar o processo iniciático especializado envolvido na
religião Yorùbá, onde existem iniciações especializadas, na
origem e, aqui no Brasil, uma iniciação consolidada através de
processos litúrgicos diferentes dos que existem na fonte onde a
iniciação original sofre adições ao longo de anos para capacitar
um sacerdote de orixá (Òrìṣà) de forma ampla.
Apesar
disso, cada sacerdote continua, ainda, sendo um sacerdote
especializado em seu orixá (Òrìṣà) e no seu contexto.
A
mesma retórica se aplica para a relação entre o Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
e os orixá (Òrìṣà). O Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
ou a Iyalorixá
(Ìyálòrìṣà)
são os únicos preparados para serem os intermediários entre nós e
nosso mundo e os orixá (Òrìṣà). Eles são iniciados em um longo
processo de preparação para serem esses intermediários e dessa
forma qualquer processo iniciático somente passa por um desses
sacerdotes.
Não
cabe a um Bàbáláwo
iniciar ninguém em orixá (Òrìṣà)
e não cabe a um Bàbáláwo
distribuir assentamentos de orixá (Òrìṣà). Esta tem sido uma
prática corrente de
um conjunto de pessoas,
mas é absurdo e um descalabro. A
mesma inadequação que existe em sacerdotes de orixá (Òrìṣà)
usarem Odù em suas atividades ou usarem, de forma plena, Odù em seu
oráculo existe no oposto, Bàbáláwo
que se apressam em fazer
atividades com iniciáticas ou litúrgicas com Orixá (Òrìṣà).
Atenção,
tem
muito Bàbáláwo
que afirma que orixá (Òrìṣà) nasce em Odù
e que ele chama orixá (Òrìṣà) através de Odù
específicos que são rezados. Alguns
chegam a ironizar e questionar a capacidade de um sacerdote de orixá
(Òrìṣà) da chamar um orixá (Òrìṣà) sem Odù,
afirmando que orixá (Òrìṣà) só nasce em Odù.
Essas
afirmações junto a sacerdotes de orixá (Òrìṣà) que veem orixá
(Òrìṣà) surgir junto a eles, se tornar presente através dos
seus eleguns, dos seus cantos, dos seus tambores, das suas rezas e
das suas oferendas, é tão idiota que eles nem se dão ao trabalho
de responder de
forma educada.
Como
um Bàbáláwo
que
não sabe o que é um orixá (Òrìṣà), não convive com essas
divindades no dia a dia, não vê suas manifestações e não vê o
seu surgimento no Àiyé
tem a coragem de fazer esse tipo de afirmação?
Um
sacerdote de orixá (Òrìṣà) tem
uma visão muito objetiva em relação a presença e a resposta do
orixá
(Òrìṣà), ele
vê o orixá (Òrìṣà) e
sente o orixá (Òrìṣà). Por
seu lado o
Bàbáláwo
diz que o orixá (Òrìṣà) se apresenta porque
ele risca um signo e faz uma reza, tipo, o aladin que esfrega a
lâmpada e aparece o gênio.
Para
um Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
chegar a condição de iniciar um elegun, ele passa por anos e anos
de aprendizado, iniciações e aquisição de axé
(àṣẹ́).
O
Bàbáláwo,
simplifica
isso tudo, nada de uns 14 anos de aprendizado e iniciações, ele
diz que chama orixá (Òrìṣà) com
um Odù
e
que faz assentamentos mas, quando
ele faz isso, esses trabalhos com orixá (Òrìṣà), nunca existe
uma
manifestação
de orixá (Òrìṣà), pelo contrário eles dizem que não é
necessário e muitos, principalmente nem dão valor ou acreditam em
incorporações (principalmente os cubanos e os que aprenderam com
cubanos).
Consideremos
o
exemplo dos
Bàbáláwo
cubanos que fazem rezas usando uma distorção incompreensível do
Yorùbá. Sim, porque os cubanos dizem que rezam em Yorùbá, mas
aquilo que eles rezam não é nada, são palavras, algumas
inventadas
e,
a maior parte, modificadas
e totalmente distorcidas que, se eles dependessem se cubanês, para
fazer alguma coisa nada seria feito. Nada do que eles falam remete
minimamente ao idioma.
A
tese Yorùbá
é
que
as palavras têm
axé
(àṣẹ́)
e que rezar invoca as energias divinas. Isso é assim em todas as
religiões. Certo, mas falar tudo errado como os cubanos falam teria
utilidade para alguma coisa?
Dessa
maneira esperar que eles rezando esse
cubanês
deles vai trazer um orixá (Òrìṣà) é o máximo do otimismo. Sim
estou dizendo que na minha opinião esses
Bàbáláwo
que dizem fazer “santo” nos outros e fazer assentamento de orixá
(Òrìṣà) para outros estão produzindo placebo.
Essa
afirmação do Bàbáláwo,
sobre trazer orixá (Òrìṣà) através de um Odù,
que
para um Bàbáláwo
é muito natural, aos olhos de um
Babalorixá
(Bàbálórìṣà) poderá
parecer ridícula e pretensiosa. Igualmente quando
um Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
fala que trabalha com Odù através do seu jogo de búzios ou
Bàbáláwo
ira ter a mesma opinião.
Temos
que ser justos com os dois lados.
Usei
extremos nessa minha abordagem para que todos entendam o que estamos
tratando, não dá para explicar isso com meias palavras.
Um
Odù
é invocado pelo Bàbáláwo
que é o sacerdote que foi iniciado para isso. Essa invocação
começa
com
o desenho do Odù no opon (Ọpọ́n Ifá) e
fica plena com
ele
rezando os versos do Odù.
O
Bàbáláwo
é o intermediário qualificado e usa os seus instrumentos
sacralizados. Dessa maneira o uso pleno de Odù
ocorre através das mãos desses sacerdotes
e quando me refiro a uso pleno me refiro a mensagens e energia.
Eu
vou um pouco mais além, o uso pleno de Odù
em
Ifá ocorre quando o Bàbáláwo
faz uso de Ikin e
simultaneamente ele
risca (tefa) no opon (Ọpọ́n Ifá) o Odù.
Este ato, de usar o ikin que é o instrumento de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà),
é
o ato de invocar Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà).
Na
verdade para o Bàbáláwo
os ikins
são Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
no mundo e riscar o opon (Ọpọ́n Ifá) a marca gráfica é o que
baixa
o
Odù
na terra.
Dessa
forma o uso de consultas através do opele (Ọ̀pẹ̀lẹ̀), que
é um outro instrumento de consulta do Bàbáláwo,
é
um modo simplificado
no qual você tem acesso as mensagens de Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
para a pessoa mas você não risca o Odù no opon (Ọpọ́n Ifá).
Assim,
consultar Ifá com o opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀)
é igual consultar Odù
com búzios.
Esta
foi uma afirmação forte que eu vou defender,
mas, antes vamos fechar esse assunto.
O
uso pleno de Odù,
com mensagens e
energia
só é obtido através de Ifá,
essa é a grande diferença do oráculo de Ifá
para o uso de búzios como oráculo. Para usar o instrumento Odù
na
sua integralidade você precisa do Bàbáláwo
e seus instrumentos.
A
discussão sobre o uso de Odù com búzios é o propósito de todo
esse texto e até o fim dele vamos ter abordado tudo o que esta neste
contexto.
Mas
isso não significa que demais sacerdotes da religião não possam
ter acesso ao uso de Odù
na sua parcialidade, como mensagem, afinal estamos lidando com uma
mesma religião. Essa afirmação também
é pesada
e corajosa, mas
é minha opinião.
Então,
eu como Bàbáláwo
que convivo com Odù
diariamente que passei e conheço o processo iniciático, que já
conheci e usei búzios por muito tempo antes de ser Bàbáláwo
e conheço os instrumentos
oraculares
do
Bàbáláwo,
de forma que tenho
essa opinião aseado
em teoria e prática.
Apesar
dessa opinião, é importante colocarmos as coisas no lugar, Odù
é o instrumento do Bàbáláwo,
considerar que é o instrumento de todo mundo é ignorar a relevância
de ritos iniciáticos que são fundamentos básicos desta religião.
Igualmente
ignorar os ritos iniciáticos dos sacerdotes de orixá (Òrìṣà) e
achar que faz tudo igual a eles é bastante falta de senso crítico.
Existem
2 tipos de pessoas que devem ser colocadas em dúvidas de sua
sanidade, Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
que diz que trabalha com Odù
e consulta Ifá e Bàbáláwo
que diz que faz o mesmo que um Babalorixá
(Bàbálórìṣà)
leva a vida toda se preparando para fazer.
Essa
questão de uso de opele
(Ọ̀pẹ̀lẹ̀)
e ikin vou abordar agora.
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