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terça-feira, março 31, 2020

Órun (Ọ̀run), o mundo espiritual [ Entendendo a religião do Candomblé - Pt. 10]

Órun (Ọ̀run), o mundo espiritual


Olódùmarè é concebido como o criador da existência, sem identidade sexual e distante da vida diária as pessoas, ele é representado pelas divindades e ele é a fonte do axé (àṣẹ), a energia vital que possibilita toda a existência.

É o axé (àṣẹ) a força que faz o sol iluminar, a lua e as estrelas brilharem, o vento soprar, a chuva cair e os rios fluírem. Ela dá forma ao disforme, movimento ao imóvel e vida as coisas vivas.


É Olódùmarè que mantêm as coisas funcionando, o mundo vivo. Não são os orixás a personificação das forças da natureza como querem alguns, essa tese é absolutamente contrariada pelo conceito de axé (àṣẹ) originado unicamente de Olódùmarè, além de existirem versos que justificam essa posição de não serem a natureza.


Olódùmarè não atua diretamente na humanidade, ele faz isso através de espíritos, divindades conhecidas como orixá (Òrìṣà). Cada orixá (Òrìṣà) personifica um axé (àṣẹ), um poder e, para alguns orixá (Òrìṣà) esse poder está em harmonia com forças naturais.
Cada criatura viva tem o seu próprio axé (àṣẹ), seja como ser vivo seja como um poder recebido de Olódùmarè, é esse axé (àṣẹ) única que dá, a cada elemento, um poder que poder ser compartilhado aqui no Àiyé.


Olódùmarè é o único que tem o poder de gerar o axé (àṣẹ), essa energia vital e para obtermos o axé (àṣẹ) temos que recorrer as coias que existem no Àiyé.


O orixá (Òrìṣà) Xangô (Ṣàngó), por exemplo é dito ter controle sobre raios e fogo, mas, ter o controle não o faz ser o próprio raio ou o próprio fogo. O orixá (Òrìṣà) Óxun (Ọ̀ṣun) tem muitos poderes de axé (àṣẹ), a prosperidade, a fertilidade a beleza, mas, outros orixá (Òrìṣà) feminino tem também os mesmos poderes. Mesma a associação com água, também Iemanjá (Yemọjá) está associada, Olóòkun está associado e vários outros.


Os orixá (Òrìṣà) são muitos e regionais., Eles não são os mesmos em todo o lugar da terra yorùbá, que, por sinal, é um lugar bem geograficamente contido. Aqui no Brasil ou no novo mundo, nós tivemos uma certa padronização de orixá (Òrìṣà) e as pessoas passaram a “viajar” nesse conceito de associar orixá (Òrìṣà) a uma finalidade ou especialidade ou mesmo a natureza.


Mas isso foi algo situacional, esse modelo não é refletido na origem. Essa especialização funcional de orixá (Òrìṣà) é apenas uma tentativa ruim de espelhar o modelo de divindades greco-romanas nos orixá (Òrìṣà). Os antropólogos eram preguiçosos e em vez de entender de fato a religião acharam mais fácil dizer que era igual à outra que já conheciam.


Dessa forma, devemos separar o poder dado por Olódùmarè aos orixá (Òrìṣà), como ministros dele, que tem a função de representá-lo e atuar com seus poderes junto a humanidade, com serem o poder da natureza em si. O controle do mundo e das forças naturais está na força do axé (àṣẹ) que emana de Olódùmarè, ele é o deus maior que tudo controla. Isso não é conclusão minha está em versos de Ifá.


Órun (Ọ̀run), a residência do sagrado, é populado por incontáveis forças tais como os orixá (Òrìṣà), ara órun (Ọ̀run) (ancestres), Oro, iwin, Ajogun (forças malévolas) e diversos outros espíritos. Essas forças são próximas aos humanos e frequentemente se envolvem em situações.


A principal divindade para os seres viventes no Àiyé, são os orixá (Òrìṣà) que foram as divindades designadas por Olódùmarè para cuidar da vida deles no Àiyé. A vida no mundo natural é bastante difícil, existem muitas dificuldades e o mal reside entre os viventes. Os orixá (Òrìṣà) dão apoio aos viventes para que estes possam ter uma vida prazerosa e atinjam os objetivos que traçaram junto a Olódùmarè.


A religião tem foco no culto aos orixá (Òrìṣà) porque foram eles os designados a nos ajudarem e nossa vida e são por isso os legítimos intermediários entre nós e Olódùmarè.


Esta é a razão de não nos preocuparmos com as demais divindades que podem existir no órun (Ọ̀run), elas não interessam. A divindade Exú (Èṣù), considerada um orixá (Òrìṣà), ocupa um papel importante porque é o único inrumolé (Irúnmọlẹ̀) que tem acesso a Olódùmarè, ele é o mensageiro e portador do axé (àṣẹ).

Existem várias tradições que fazem Exú (Èṣù) como orixá (Òrìṣà) nas pessoas, isso cabe a elas, sempre, mas eu não vejo sentido teológico nisso.


Os orixás não são caracterizados entre o bem e o mal. Todos as divindades, assim como os ara Àiyé, os viventes na terra, tem aspectos positivos ou negativos, forças e fraquezas. Os orixá (Òrìṣà) são caracterizados como uma representação humana de deus. Os orixá (Òrìṣà) nos aproximam de Olódùmarè porque vemos neles refletida a nossa natureza humana, em muitos aspectos. É o que é chamado de “analogia entis”, nós não temos uma bíblia, nós entendemos Olódùmarè e o que eles nos passa através de nossa identificação com os orixá (Òrìṣà) que se portam como nós em seus mitos.


O que diferencia cada orixá (Òrìṣà) e seu axé (àṣẹ) é sua natureza ou personalidade (ìwà). É o mesmo com a gente e, desta maneira, os orixá (Òrìṣà) são na verdade a manifestação mais humana de deus.


Não existe hierarquia entre os orixá (Òrìṣà), a sua importância é relativa e reflete a preferência da população local, tradição, familiaridade e outros fatores naturais. A importância de cada orixá (Òrìṣà) é relativa dependendo da região Yorùbá. Mesmo aqui, no novo mundo, também é assim, cada tradição escolheu aqueles que mas se identificava.


A vinda dos orixá (Òrìṣà) para o mundo natural somente pode ocorrer através dos seus seguidores que foram devidamente preparados para isso. A sua manifestação física é feita somente através dos seus iniciados, seus elégùn. A iniciação é um processo longo, mais de 30 dias que gradualmente prepara o seguidor para poder ser o receptáculo do orixá (Òrìṣà).


O processo iniciático apenas é concluído depois de 12 meses, neste período o elégùn estará sendo acompanhado. Contudo, o ciclo iniciático dura na verdade 7 anos, no mínimo. Claro que esse tempo é no Candomblé, outras tradições religiosas fazem essa iniciação em 7 dias, mas, não existe obrigação de o elégùn trabalhar com o orixá (Òrìṣà). O processo do Candomblé é para preparar elégùn de fato.


A capacidade de ser o hospedeiro do orixá (Òrìṣà) é um assunto polêmico e tratado de forma diferente pelas tradições religiosas. Os cubanos não entendem que qualquer pessoa possa receber um orixá (Òrìṣà), para eles quem incorpora nos seus elégùn  são santeros falecidos, os mortos.


Lá o culto a um “morto” faz parte do processo de iniciação, o iniciado além do orixá (Òrìṣà) tem que incluir algum “morto” no seu culto. Isso é o modo deles entenderem e é, possivelmente, devido a acharem que os orixá (Òrìṣà) sejam forças na natureza. Desta forma como poderia a água incorporar em alguém? Como poderia o fogo incorporar em alguém?


Essa questão de designar orixá (Òrìṣà) como sendo uma força na natureza, que é errada, eles são ministros de Olódùmarè, pode levar naturalmente a esse tratamento de desconsiderar a possibilidade de incorporação. Isso é uma consequência natural.


É assim com os cubanos e aqui no Brasil é assim com a Umbanda que fala a mesma coisa. A umbanda está sendo citada apenas porque vem dela o mesmo tipo de consideração, mas, lembro que e Umbanda não faz parte da matriz religiosa afro-brasileira e não tem nada a ver com orixá (Òrìṣà) ela é apenas muito parecida com os Lukumi. A tradição cubana criou uma teogonia própria e eles colocam isso dessa forma, orixá (Òrìṣà) não pode incorporar nas pessoas.


Na tradição deles, eles iniciam pessoas em 7 dias e não existe a obrigação de incorporar ninguém ao fim desse processo. A incorporação lá é uma situação rara e já vi muitos cubanos desacreditando de incorporações aqui no Brasil, para eles é tudo mímica, mas esse preconceito, é gerado pela forma como eles fazem lá. Eles dizem isso porque estão acostumados com as enganações deles lá, com os processos de 7 dias para iniciação.


O entendimento disso muda quando se entende que, em primeiro lugar orixá (Òrìṣà) não é elemento da natureza é uma divindade com axé (àṣẹ) dado por Olódùmarè  para ter controle sobre algumas coisas e forças, são poderes que Olódùmarè os deu. Além disso, orixá (Òrìṣà) são, acima de tudo, divindades humanizadas, são o reflexo da humanidade de Olódùmarè.


Cubanos acham que Aganju é um orixá (Òrìṣà) separado, nós aqui entendemos como uma qualidade (um sub-tipo) de Xangô (Ṣàngó). Mais à frente vou voltar nesse conceito de qualidade, mas, o Aganju cubano é o orixá (Òrìṣà) identificado com o vulcão. Contudo, na terra yorùbá não tem vulcão. Não tem nenhum vulcão nem perto de lá. Como os yorùbá iam inventar um orixá-vulcão? Já perto de cuba existem….


Eu vou sempre fazer essas referências de Cuba e Nigéria porque estou falando da religião, do cosmo e como as tradições fazem interpretações próprias da religião, tenho que citar para chamar a atenção para determinadas coisas, principalmente porque em cuba a religião tomou um desvio bastante maior, criando coisas próprias.


Não posso também desconsiderar que, atualmente, estamos cheios de cubanos e nigerianos falando e fazendo suas besteiras aqui, trazendo confusão, com as maluquices deles.


Uma dessas, é essa questão de orixá (Òrìṣà) que incorpora nas pessoas.
No candomblé entendemos que sim isso ocorre, como disse as pessoas são preparadas para isso e a pessoa iniciada, o elégùn, é a ponte que permite ao orixá (Òrìṣà) de manifestar aqui. Como eu disse, isso é importante e parte da religião, a humanidade de Olódùmarè se expressa através de nossa identificação com seus ministros, os orixá (Òrìṣà).


A questão do arquétipo comportamental, tão discutida e comentada envolve isso, a nossa identificação com o orixá (Òrìṣà), pessoas que são ligadas a um orixá (Òrìṣà) por nascimento, esperam que aspectos do arquétipo deste orixá (Òrìṣà) (personalidade) se manifestem nele também.


Uma das frases mais importantes que a gente ouve nos terreiros é, “o meu orixá (Òrìṣà)...”, “o meu Xangô (Ṣàngó)...”, “a minha Óxun (Ọ̀ṣun)...”. Porque isso é importante para as pessoas falarem assim, na primeira pessoa?  Porque existe um processo de individualização, que vou abordar mais tarde, no qual cada pessoa personifica uma divindade única e pessoal, não existe um orixá (Òrìṣà) igual para todo mundo, em cada pessoa aquela manifestação é diferente.


Isso então significa que a humanização da relação orixá-humano é completa, não, temos, nessa religião, signos de horóscopo, temos divindades que se moldam a nossa humanidade.


Os orixá (Òrìṣà) são representados nos mitos como humanos, como viventes no nosso mundo, no Àiyé. Os versos de Ifá e, principalmente, os mitos da religião, mostram os orixás se comportando, dando exemplo, tendo atitudes extremadas, por vezes se enganando e se corrigindo.


O orixá (Òrìṣà) é uma divindade humanizada que nos mostra através de seus contos épicos e mitos, como devemos proceder, que valores devemos ter, que erros não devemos cometer, que pessoas nós devemos ser para ser pessoas melhores.


Nós como todos os seres vivos temos o axé (àṣẹ) de Olódùmarè, mas os orixá (Òrìṣà), que são seus ministros, também, como nós, têm o seu axé (àṣẹ). Mas, têm isso amplificado, eles tem o poder de Olódùmarè para, através da magia do supernatural, mudar sutilmente nossa vida e o mundo.


Esse é meu entendimento para esta questão das divindades e nesse meu modo de ver não existe espaço nenhum para considerações de orixás serem a natureza ou seus elementos, como fogo, vento, ar, água, lama e outros que inventam.


Eu tenho um longo texto, que vou reproduzir à frente, que mostro que não existe na teologia da religião, nos versos de Ifá ou nos mitos, nada, absolutamente nada que justifique colocarem orixá (Òrìṣà) como elemento de natureza.


De outro lado tenho essa análise teológica aqui, que faço baseado nas fontes que usei (e estão citadas no fim) e na minha análise teológica do assunto.


Os orixás têm para nós uma importância muito maior do que serem apenas elementos da natureza, isso não bate com a teologia e com a liturgia. Tudo o que fazemos de iniciação e de individualização do ser humano vai contra esse tipo de conceito.
Assim, no Candomblé, uma de nossas tradições afro-brasileiras de orixá (Òrìṣà), nós entendemos que o orixá (Òrìṣà) se manifesta nos elégùn e isso é importante. É através dessa manifestação que o orixá (Òrìṣà) pode atuar no nosso mudo. Entendam isso, a incorporação não é apenas uma mímica desnecessária, uma coisa decorativa.


Tolos são os que acham que podem fazer coisas através de orixá (Òrìṣà) sem que você tenha um elégùn, que basta cantar ou rezar que eles aparecem. No Candomblé se vamos fazer alguma coisa para algum orixá (Òrìṣà) ou através de um orixá (Òrìṣà), a primeira coisa que fazemos é convocar um elégùn daquele orixá (Òrìṣà), uma pessoa iniciada e em 100% dos casos, bons, o orixá (Òrìṣà) se manifesta na liturgia.


Quando em uma casa temos um novo elégùn de algum orixá (Òrìṣà), começam a aparecer casos e situações para aquele orixá (Òrìṣà) resolver. Isso é automaticamente incrível. A gente é demandado para fazer o assentamento, ter as coisas do orixá (Òrìṣà) e ai os casos começam a aparecer para nós. É assim na prática.


Isso é o certo, é por isso que iniciamos pessoas, é por isso que precisamos de pessoas iniciadas, é por isso que essas pessoas são preparadas para que o orixá (Òrìṣà) se manifeste através delas.


Vamos aqui pensar um pouco, para que precisamos fazer feitura nas pessoas se não precisamos que o orixá (Òrìṣà) se manifeste? Se basta rezar para ele ou cantar para ele ou riscar um signo que ele estará presente? Então, para que pessoas são iniciadas, longamente, para poderem incorporar o orixá (Òrìṣà)?


As pessoas pensam que orixá (Òrìṣà) é igual demônio? Que você risca um ponto no chão, pinta umas cores, bota uma bandeirinha, risca um signo em uma tábua ou pano e o orixá (Òrìṣà) aparace no ar? É isso mesmo? Igual se chama demônios e espíritos ruins que vagam no nosso plano energético? Tipo feitiçaria ou quimbanda?


Eu não creio nisso.


Religião tem que fazer sentido, tem que ter uma lógica de lidar com o supernatural, tem que ter consistência, seguir uma coerência de ações litúrgicas, as coisas têm que se encaixar. Não é apenas mágica.


Assim, voltando, no Candomblé, sim os orixás incorporam nos elégùn. Existe um facilitador para isso que são os espíritos de Eré, que são considerados uma manifestação infantil do orixá (Òrìṣà), mas,na minha visão, não são nada disso, isso é só uma explicação ingênua.
Esse tema de Eré é um dos grandes mistérios ou segredos do Candomblé. Quem sabe não fala, quem não sabe inventa para não dizer que não sabe.


Não existe orixá (Òrìṣà) sem Eré. A casa pode não gostar de ter Eré e não aceitar sua manifestação, mas, Eré e orixá (Òrìṣà) caminham juntos no Àiyé. Os Eré são espíritos do Ẹgbẹ́ (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) uma sociedade de espíritos que fica em um espaço espiritual entre o Àiyé e o órun (Ọ̀run) e que, desta forma, tem facilidade de transitar entre esses reinos. O Ẹgbẹ́ (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é uma sociedade que requer mais espaço para ser descrita e vou abordar mais à frente.


Os yorùbá descrevem o local deles como a floresta mágica de Awaiye, como citei, é um espaço do órun (Ọ̀run) no limiar entre o órun (Ọ̀run) e o Àiyé. Esta sociedade de espíritos infantis são a causa de vários problemas pelos quais as pessoas passam no Àiyé, seja simples ou graves. Muitos transtornos psicológicos e comportamentais que são tratados com remédios pesados têm origem nesta causa espiritual.


Este é um espaço de espíritos que se desgarraram das suas famílias, como vou explicar, vivemos em família seja no Àiyé como no órun (Ọ̀run), mas por diversos motivos que não cabem aqui, neste momento do texto, os espíritos se desgarram dessas relações familiares e ficam juntos na floresta de Awaiye formando uma sociedade. Como ficam muito próximo ao plano do Àiyé se metem demais na vida das pessoas, exercem influências.


Mas, esses espíritos, ainda estão sob os olhos dos orixá (Òrìṣà) e eles são pinçados para fazer uma ponte entre o orixá (Òrìṣà) no órun (Ọ̀run) e o elégùn aqui no Àiyé. Atenção, mantendo a isenção e honestidade, essa é uma tese minha. Assim se forem usar uma fonte, eu sou a fonte dessa afirmação, desse modelo cósmico e metafísico.


Mas, não estou inventando, eu junto informações que obtenho das fontes que cito e incluo minhas análises baseadas em observações e conversa com pessoas. Sobre esse tema conversei com muita gente, o conhecimento disso é parte da famosa cultura oral, aquela que a gente apenas descobre convivendo.


Desta maneira, os Eré são um elemento importante no processo de incorporação, é através deles que o orixá (Òrìṣà) vai até o elégùn e quando sai é o Eré que fica. Mesmo que isso ocorra de forma rápida, quase imperceptível, mas, o espírito Eré do Ẹgbẹ́ (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é que viabiliza a presença do orixá (Òrìṣà) no corpo do elégùn.


O Eré é assim um degrau intermediário que permite ao orixá (Òrìṣà) incorporar no elégùn. Ele faz a ponte energética.


E quando não existe o Eré no meio do caminho? Isso é a beleza desta explicação, no caso da Umbanda, não existe Eré, aliás, existem crianças, beijadas, que são espíritos independentes de outros, apenas mais um tipo de espírito. As beijadas são bem diferentes dos Eré em seu comportamento e postura, mas, muuuito diferente mesmo, seja pelo comportamento como pelas preferências de atividades e do que comem quando incorporados. As beijadas são a comprovação de minha tese.

Se comportam diferente e não tem ligação com orixá (Òrìṣà). As beijadas são como os demais espíritos de umbanda, são espíritos que têm um nível energético mais baixo, próximo do nosso e incorporam em pessoas com um tipo bem característico de incorporação.


A não existência de Eré na Umbanda, como ocorre no Candomblé, com a forte ligação Eré-Orixá explica para quem quiser entender que os tais “orixá” na Umbanda são de fato caboclos que se apresentam como orixá (Òrìṣà). Todos devem saber que esses espírito quando incorporam podem se apresentar como quiser, se ele quiser ser um preto velho será, se quiser ser um Exú (Èṣù) será, etc…


Como as pessoas que conhecem Umbanda de fato explicam, os “Orixá” da umbanda não são a mesma manifestação do Candomblé, aliás são completamente diferentes. Os “orixá” na Umbanda são caboclos se apresentando como “orixá”. Para isso não existe a figura do Eré, como eles já tem o nível energético adequado, esses espíritos não precisam do intermediário Eré.


Assim minha teoria se confirma de dois lados, primeiro eu explico a necessidade de ter o Eré para o Orixá (Òrìṣà) de verdade se manifestar no Candomblé e por conseguinte explico através da Umbanda que não existe relação com as beijadas e que os tais “orixá” de Umbanda não são os orixá (Òrìṣà) do Candomblé.


As pessoas sérias e experientes de Umbanda sabem disso, não estou falando nenhuma novidade. Só desavisados acham que a Umbanda é igual ao Candoemblé ou tem qualquer ligação.


A última confirmação de minha teoria vem através da incorporação. Os médiuns que trabalham ou já trabalharam na Umbanda e Candomblé são categóricos e enfáticos em afirmar que é totalmente diferente a incorporação de guias na Umbanda de orixá (Òrìṣà) de Candomblé. Essas pessoas, conheço inúmeras, descrevem como totalmente distinto e mais, dizem que a incorporação de Eré não tem nada a ver com a de Beijada na Umbanda.
Essas pessoas descrevem de forma bem distinta a forma como Orixá (Òrìṣà) de Candomblé incorpora e toma o seu controle e como os guias de Umbanda o fazem. É claro que estamos lidando com níveis energéticos distintos e divindades distintas. 


O mais interessante nesta religião é que a teoria se confirma na prática. Não precisamos ser cientistas e não precisamos fazer experiências. Não precisamos acreditar no impossível. Tudo o que falamos que deveria ser e como deveria ser ocorre no mundo real. É muito fácil ter fé.

Voltando ao Ẹgbẹ́ (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), além de causar uns problemas para nós também tem essa finalidade de ponte energética, tipo uma ponte de eistein-rosen, por estarem entre as 2 dimensões, em um nível energético intermediário os Eré permitem ao orixá (Òrìṣà) no órun (Ọ̀run) vir ao Àiyé e se manifestar, eles são os intermediários energéticos e de comunicação. Não são o próprio orixá (Òrìṣà) infantil. Mas, neste cosmo de 2 dimensões separadas, o órun (Ọ̀run) e o Àiyé, os Eré fazem esta ponte de ligação.


De fato o orixá (Òrìṣà) tem uma natureza divina mesmo, ele não é um espírito comum, nesse ponto todos têm razão, mas mesmo sendo divino ele se faz presente através do espírito Eré, este sim mais próximo de nós. A simbiose Eré-orixá é que possibilita a incorporação e a tríade elégùn-Eré-Orixá é quem nós vemos manifestadas nos terreiros.
Isso é minha análise e conclusão, tem consistência com tudo o que eu já disse e desta forma acredite quem quiser.



PRÓXIMO TEXTO

- O AIYE, O MUNDO NATURAL

Um comentário:

  1. texto com muitas informações uma beleza de texto...nao consigo para ler e reler....

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