Entendendo a religião do Candomblé - pt 5B
O equilíbrio e a conciliação entre o bem e o mal teológico
Nosso
modelo de cosmo têm as duas forças, positivas e negativas em
contínuo conflito. Essas 2 forças opostas participam de um
princípio importante da filosofia Yorùbá, no qual, nada é tão
bom que não tenha alguma coisa ruim e vice e versa.
No
ponto de visa dos Yorùbá, mesmo o lado esquerdo têm aspectos
positivos em suas forças e o direito, negativos.
Ajé
(Àjẹ́), a dita força intermediária trabalha no sentido de
desequilibrar essa balança, assim se algo vai muito bem, em excesso,
é ajé (Àjẹ́) que vai mudar o equilíbrio da balança, fazendo
com que busca do equilíbrio seja um processo contínuo.
O
que Olódùmarè faz é dar poder para as divindades Exú (Èṣù) e
Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
para que possam reconciliar essas duas forças na forma de opostos
que se complementam, trazendo o significado e experiência que
buscamos em nossa vida natural.
A
religião
yorùbá não é baseada em um destino fixado, é baseado em uma vida
com objetivos
estabelecidos com Olódùmarè.
Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
nos provê os conselhos mais adequados e remédios para inverter os
problemas que temos.
Por
outro lado Exú
(Èṣù),
a divindade que trabalha
com Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà),
mensageiro entre os orixá (Òrìṣà)
e
Olódùmarè,
portador do axé de Olódùmarè,
trabalha através dos sacrifícios
(da
energia do axé
(àṣẹ)
tirada dos sacrifícios) para
promover a ordem e harmonia, conciliando e equilibrando os opostos, o
bem e o mal. Exú
(Èṣù)
media as forças
opostas trazendo o equilíbrio. Uma
explicação mais detalhada sobre essa atuação de exu está no
apendice 2, no fim deste texto.
Estão
enganados os iludidos e mal ensinados que acham que seja Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
a divindade toda poderosa, acima de tudo e de todos, incluindo os
orixá (Òrìṣà). Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
é quem traz a conciliação, ele descobre e trabalha no equilíbrio,
mas seus instrumentos são os orixá (Òrìṣà) os detentores do
poder positivo e de Exú
(Èṣù)
o conciliador e portador do axé
(àṣẹ)
de Olódùmarè.
Essa
é a equação teológica desta “matriz”. Não existe um fonte do
mal, não existe o conceito de um demônio, promovendo e capturando
almas livres, o mal existe no mundo através do ajogun em
oposição ao bem, mas, agindo como um complemento, uma consequência.
O
que a religião promove é a busca do equilíbrio e a harmonia e
conciliação, seja entre as pessoas ou entre as forças opostas. Exú
(Èṣù) não é o mal ou o demônio porque isso não existe nesta
religião. Ele transporta o axé (àṣẹ) de Olódùmarè e busca
a conciliação entre as forças.
Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
nos ajuda a achar a solução para esse conflitos e buscar o suporte
para nossa vida.
Nesse
modelo ficamos
então, com os orixás, ministros de Olódùmarè
e representantes de seu poder como forças positivas, os ajogun
como as forças negativas e Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
e Exú
(Èṣù)
como os intermediários que buscam o equilíbrio e a harmonia.
Ajé
(Àjẹ́) nesse modelo, na minha interpretação, levando em
consideração e as informações que Verger trouxe em seu importante
e definitivo trabalho sobre o culto de Iyami Osoronga, atua como o
elemento de desequilíbrio nesta equação, como um “Neo” (de
matrix) as avessas, o gatilho que, através de mãos humanas, é
disparado ação de reequilíbrio da equação, trazendo desordem ao
que está correto.
Muitos
sobre valorizam a divindade Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
como
sendo superior as demais e detentora de poderes definitivos sobre
todas as vidas. Isso é errado. Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
representa a sabedoria de Olódùmarè
e é encarregado de determinar o desequilíbrio das forças
positivas e negativas e buscar a sua conciliação.
Isso
é feito junto e através de Exú (Èṣù). Contudo, como está no
modelo são os orixá (Òrìṣà) a fonte a positividade. Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
é o elemento que trabalha na busca do equilíbrio e conciliação
entre o bem e o mal.
O modelo de Ifá é o mesmo, o do equilíbrio e o do complemento, isto está descrito no Odù Odí Méjì (ver apendice 5), em um longo verso que explica porque o Bàbáláwo vê um ikin e faz 2 traços e vê 2 ikin e faz 1 traço.
O Bàbáláwo sempre lida com um Odù positivo e com um Odù negativo, ao mesmo tempo, isso é ciência, a equação da energia têm sempre que dar zero, +1 de um lado, e -1 de outro, a soma é zero. Para cada condição positiva que estamos existe o oposto negativo que temos que cuidar.
A
palavra que define esta religião é EQUILÍBRIO.
Na
nossa existência no Àiyé, nós nos equilibramos entre essas
duas coisas como parte normal de nossa existência, contando com isso
com as forças da direita, através de orixá (Òrìṣà) e Egúngún
e com Órunmila
(Ọ̀rúnmìlà)
e Exú (Èṣù) para diagnosticar e buscar a conciliação.
Esse
é um modelo totalmente distinto em termos teológico do modelo
cristão que todos estão acostumados.
PROXIMO TEXTO:
- A RELIGIÃO E A SOCIEDADE
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