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quinta-feira, março 05, 2020

Entendendo a religião do Candomblé e Ifá - pt 5B - O equilíbrio e a conciliação entre o bem e o mal teológico

  Entendendo a religião do Candomblé - pt 5B

O equilíbrio e a conciliação entre o bem e o mal teológico

 


Nosso modelo de cosmo têm as duas forças, positivas e negativas em contínuo conflito. Essas 2 forças opostas participam de um princípio importante da filosofia Yorùbá, no qual, nada é tão bom que não tenha alguma coisa ruim e vice e versa.


No ponto de visa dos Yorùbá, mesmo o lado esquerdo têm aspectos positivos em suas forças e o direito, negativos.


Ajé (Àjẹ́), a dita força intermediária trabalha no sentido de desequilibrar essa balança, assim se algo vai muito bem, em excesso, é ajé (Àjẹ́) que vai mudar o equilíbrio da balança, fazendo com que busca do equilíbrio seja um processo contínuo.


O que Olódùmarè faz é dar poder para as divindades Exú (Èṣù) e Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) para que possam reconciliar essas duas forças na forma de opostos que se complementam, trazendo o significado e experiência que buscamos em nossa vida natural.

O trabalho da divindade Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) através de seus sacerdotes, os Bàbáláwo é permitir aos humanos, diagnosticar e procurar os problemas trazidos pelo desequilíbrio. Eles também projetam o futuro baseado nas ações correntes, lembrando que o futuro é desenhado por nossas ações posteriores, o futuro tem infinitas linhas e possibilidades e o trabalho que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) faz é nos dar uma projeção baseada na situação atual e nos comportamentos que podemos ou devemos ter. O futuro se abre em linhas muito complexas e nós é que escrevemos a linha que vamos seguir.


A religião yorùbá não é baseada em um destino fixado, é baseado em uma vida com objetivos estabelecidos com Olódùmarè.


Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) nos provê os conselhos mais adequados e remédios para inverter os problemas que temos.


Por outro lado Exú (Èṣù), a divindade que trabalha com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà), mensageiro entre os orixá (Òrìṣà) e Olódùmarè, portador do axé de Olódùmarè, trabalha através dos sacrifícios (da energia do axé (àṣẹ) tirada dos sacrifícios) para promover a ordem e harmonia, conciliando e equilibrando os opostos, o bem e o mal. Exú (Èṣù) media as forças opostas trazendo o equilíbrio. Uma explicação mais detalhada sobre essa atuação de exu está no apendice 2, no fim deste texto.

Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) trabalha através dos orixá, que é quem são as forças positivas e de Exú (Èṣù) para, desta maneira, conciliar os opostos e reestabelecer o equilíbrio.

Estão enganados os iludidos e mal ensinados que acham que seja Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) a divindade toda poderosa, acima de tudo e de todos, incluindo os orixá (Òrìṣà). Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) é quem traz a conciliação, ele descobre e trabalha no equilíbrio, mas seus instrumentos são os orixá (Òrìṣà) os detentores do poder positivo e de Exú (Èṣù) o conciliador e portador do axé (àṣẹ) de Olódùmarè.


Essa é a equação teológica desta “matriz”. Não existe um fonte do mal, não existe o conceito de um demônio, promovendo e capturando almas livres, o mal existe no mundo através do ajogun em oposição ao bem, mas, agindo como um complemento, uma consequência.


O que a religião promove é a busca do equilíbrio e a harmonia e conciliação, seja entre as pessoas ou entre as forças opostas. Exú (Èṣù) não é o mal ou o demônio porque isso não existe nesta religião. Ele transporta o axé (àṣẹ) de Olódùmarè e busca a conciliação entre as forças.


Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) nos ajuda a achar a solução para esse conflitos e buscar o suporte para nossa vida.


Nesse modelo ficamos então, com os orixás, ministros de Olódùmarè e representantes de seu poder como forças positivas, os ajogun como as forças negativas e Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e Exú (Èṣù) como os intermediários que buscam o equilíbrio e a harmonia.

Ajé (Àjẹ́) nesse modelo, na minha interpretação, levando em consideração e as informações que Verger trouxe em seu importante e definitivo trabalho sobre o culto de Iyami Osoronga, atua como o elemento de desequilíbrio nesta equação, como um “Neo” (de matrix) as avessas, o gatilho que, através de mãos humanas, é disparado ação de reequilíbrio da equação, trazendo desordem ao que está correto.


Muitos sobre valorizam a divindade Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) como sendo superior as demais e detentora de poderes definitivos sobre todas as vidas. Isso é errado. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) representa a sabedoria de Olódùmarè e é encarregado de determinar o desequilíbrio das forças positivas e negativas e buscar a sua conciliação.


Isso é feito junto e através de Exú (Èṣù). Contudo, como está no modelo são os orixá (Òrìṣà) a fonte a positividade. Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) é o elemento que trabalha na busca do equilíbrio e conciliação entre o bem e o mal.

Não existe nesse modelo o mal como uma presença inadequada, as forças da esquerda, assim traduzidas como o “mal” existem e sempre vão existir, elas são parte do mundo, assim como as forças benevolentes da direita.

O modelo de Ifá é o mesmo, o do equilíbrio e o do complemento, isto está descrito no Odù Odí Méjì (ver apendice 5), em um longo verso que explica porque o Bàbáláwo vê um ikin e faz 2 traços e vê 2 ikin e faz 1 traço.

O Bàbáláwo sempre lida com um Odù positivo e com um Odù negativo, ao mesmo tempo, isso é ciência, a equação da energia têm sempre que dar zero, +1 de um lado, e -1 de outro, a soma é zero. Para cada condição positiva que estamos existe o oposto negativo que temos que cuidar.


A palavra que define esta religião é EQUILÍBRIO.


Na nossa existência no Àiyé, nós nos equilibramos entre essas duas coisas como parte normal de nossa existência, contando com isso com as forças da direita, através de orixá (Òrìṣà) e Egúngún e com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e Exú (Èṣù) para diagnosticar e buscar a conciliação.


Esse é um modelo totalmente distinto em termos teológico do modelo cristão que todos estão acostumados. 


PROXIMO TEXTO:

- A RELIGIÃO E A SOCIEDADE 

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