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sábado, fevereiro 06, 2021

Como é a composição do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) - [ Entendendo a religião Yoruba - Pt. 45]

 TEXTO ANTERIOR: Onde fica a sociedade egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)?

 

Como é a composição do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) 

 

Uma vez que tratamos dá, extremamente importante, questão da localização do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) no Ìrònà e não no órun (Ọ̀run), o próximo assunto importante é tratar é o de sua composição, quem faz parte do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)? Esses 2 temas, sua localização e sua composição, que estão ligados, determinam tudo no entendimento do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).

Os mitos sobre o assunto mostram que o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) está associado a uma sociedade de almas juvenis (vou explicar a razão de serem juvenis, mais adiante) que se associam em uma comunidade e na qual os Àbíkú, são uma parte desse grupo, sendo esta, a dos Àbíkú, a sua face mais conhecida entre nós, mas o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) não se limita eles. Essas almas são de crianças e jovens que morreram de forma não natural, antes do seu tempo prevista e assim sua vida foi interrompida. Em função das razões que levaram a sua morte, as almas, ainda no estágio juvenil não vão para o órun (Ọ̀run), ela ficam no Ìrònà e neste espaço metafísico se associam formando a sociedade do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Elas permanecem juntas até um renascimento ou por sua volta definitiva ao órun (Ọ̀run).

Para falar, mais profundamente, de sua composição eu tenho que voltar a falar de sua localização, porque a composição está diretamente definida à localização. Ao localizarmos o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) no Ìrònà nós trazemos simplicidade, realidade e consistência a esse assunto. Todo os incidentes que envolvem o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) ficarão fáceis de serem entendidos e explicados. Deixaremos de ter a necessidade de criar um modelo mirabolante e intrincado para explicar seus atos e efeitos.

A localização no Ìrònà, como já explicado, é que a faz mais sentido metafísico e ela permite definirmos e restringirmos um escopo de membros, que podemos explicar, enquanto que, se usarmos a localização no órun (Ọ̀run) a composição do que é chamado egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) fica infinita.

A visão, alegórica, de que o grupo de companheiros espirituais é formado no órun (Ọ̀run) e que esse grupo interfere, a seu bel prazer, na vida dos renascidos, cria um escopo ilimitado para sua composição, visto que, qualquer espírito que está no órun (Ọ̀run) poderia pertencer a essa turma.

Qual será o escopo do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) se esta expressão significar órun (Ọ̀run) de fato? TUDO, todas as divindades e todos as almas que não estão no Àiyé passam a fazer parte do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Isso não faz sentido! É como se estivéssemos definindo uma teologia paralela, que é o que ocorre na prática como vou justificar adiante.

Este modelo ruim, baseado no órun (Ọ̀run), estabelece, literalmente a possibilidade de o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) ser a sua turma de amigos, tipo os amigos do futebol, do bar, da escola, etc.. A composição seria ilimitada. Se juntarmos a isso funcionalidade real do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) de interferir na vida do Àiyé, mas devido a localização considerarmos que, existe a livre interação entre os espíritos Ara órun (Ọ̀run), viventes no órun (Ọ̀run), com os Ara Àiyé, viventes do Àiyé, temos uma confusão infinita estabelecida. Essa visão teológica não explicaria nada para nós no Àiyé, não justificaria problemas porque criaria uma dimensão muito ampla para a origem de problemas que afligem os Ara Àiyé. Isso, até certo ponto, seria muito conveniente para as pessoas, porque tudo o que não está bom na vida dela, tudo o que ela não consegue realizar porque não se comporta direito ou não faz as coisas direito, poderia ser associado ao egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). É um modelo bastante indulgente e também conveniente para os Bàbáláwo, Babalorixá (Bàbálórìṣà) e Iyalorixá (ÌyálÒrìṣà), sacerdotes desta religião, interessados em comercializar soluções mágicas. Eles poderiam inventar um sem número de causas, artificiais e inexistentes, para justificar problemas e cobrar por trabalhos que não resolvem nada.

Vou repetir. A visão da localização do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) no órun (Ọ̀run) e não no Ìrònà, associada com a visão, que vem junto, de que espíritos do órun (Ọ̀run) vão livremente para o Àiyé, na forma de espíritos e interferem na nossa vida aqui, representa uma desordem teológica, é uma maluquice, que não contribui para ninguém, dentro da religião, que não sejam os sacerdotes, que usam isso para aumentar bastante o seu comércio religioso de favores, inventados e de placebos.

A questão da composição, é uma das partes fundamentais desta questão do entendimento e do tratamento do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), mas, ela é consequência da localização do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Não adotar a tese do Ìrònà possibilita um modelo maluco e idiota e, desta forma, é mais uma das razões pela qual o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) não pode estar ligado realmente ao órun (Ọ̀run), porque isso afeta a questão da composição do mesmo, criando uma legião infernal de membros e uma complexidade indescritível.

Para comprovar esta minha afirmação de complexidade eu vou propor 2 coisas. A primeira é entender o modelo teológico que estou explicando aqui, que não é autoral, é exclusivamente baseado no que está na religião. A segunda é indicar que procurem outras fontes, livros e vídeos que tratam sobre o tema egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) baseado nesse modelo que eu digo ser o errado, o ligado ao órun (Ọ̀run).

Tomando como referência a livraria Amazon, verificaremos que não tem muita gente falando sobre esse tema. Uma parte um pouco maior fala sobre os Àbíkú, que é o assunto mais popular e tradicional e, destes, a maior parte na forma de novela, ficção. Em livros sobre Ifá ou sobre a religião, geralmente são reservadas apenas algumas páginas, com pouca informação, sendo que, as melhores referências eu citei no início do texto. Eu encontrei apenas uma publicação falando de egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) na Amazon, cujo autor é Ifayemisi Elebuibon. Na verdade trata-se de uma autora, Ifayemisi é mulher e bem nova. Ela não é Bàbáláwo e desta forma falta-lhe prática de oráculo ou mesmo de Ifá para tratar do tema. Neste livro ela usa, ao extremo, este contexto órun (Ọ̀run) para desenvolver o assunto, mas, faz uma obra, como eu previ, alucinada, misturando coisas diferentes da religião e criando figuras novas. Ele multiplica divindades ligadas ao egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), associa divindades regionais existentes como se fossem parte do todo comum, cria novos nomes para elas e finalidades de atuação. Lembro que o estabelecimento de áreas de atuação especializada não faz parte desta religião. Ela chega ao ponto, absurdo, de dizer que, se temos esposa no órun (Ọ̀run) esta interferirá em nosso destino no Àiyé, justificando com isso nossa dificuldade em encontrar a felicidade, devido a atuação e ciúmes desse espírito. Este livro é um festival de besteiras, mais do que seria normal, e que tem origem, como eu digo, no entendimento que o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) está ligado ao órun (Ọ̀run).

No Youtube o panorama não é diferente. Pouca gente consegue escrever mas todo mundo sabe falar. A quantidade de pessoas falando sobre o tema se multiplica e o objetivo disso parece o mesmo. Nos vídeos eles conseguem definir bem os problemas que os espíritos do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) trazem para os Ara Àiyé, afinal, isso está na religião, mas eles estabelecem em suas explicações uma complexidade, e amplitude enormes que permitem um oferta ampla de soluções pagas para resolver os problemas. Nos vídeos fica bem claro a complexidade da explicação quando tratamos de órun (Ọ̀run).

Para aceitar isso é necessário, como expliquei anteriormente, criar uma teologia paralela à religião yorùbá, teologia esse que endereça muito bem apenas uma coisa, um comércio de iniciações, assentamentos e trabalhos orientados a resolver os problemas que não existem.

Essas referências que fiz, do livro e dos vídeos, não tem como foco criticar os autores, mas elas são necessárias para comprovar a minha afirmação de que a composição do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) baseada no órun (Ọ̀run) torna esse tema complexo além do limite.

Mas deixando essa visão geral vamos ao que interessa.

Para entender a composição do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) os versos de Ifá ajudam muito mais que os mitos específicos que eu mostrei no início, porque os versos tratam, em dezenas de lugares, do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), de forma muito mais comum e prática em relação a nossa vida. Nos versos não encontraremos, de fato, explicações diretas sobre o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), mas, através dos versos percebemos como seus membros afetam a vida das pessoas e a partir dessa visão de efeitos, o bom observador monta o quebra-cabeça de sua composição e atuação.

Nesses versos, os membros do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), surgem trazendo muito mais tormento às pessoas do que apenas o grave caso dos Àbíkú. É interessante observar que, no Youtube, vi pessoas compreendendo bem a atuação do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) nas pessoas, mas, elas perdem o fio da meada da solução quando os localizam no órun (Ọ̀run). Entender a adequada composição muda a forma de você lidar com o problema e por isso que compreender bem a teologia é importante.

Em um Odù, Ogbè Ọ̀yẹ̀kú, Ifá diz que a pessoa para quem o signo saiu, é beneficiada no Àiyé com ajuda dos companheiros do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), devido a ter sido um membro importante, no passado, desta sociedade. Assim, neste Odù, essa pessoa será beneficiada com ajuda e muita prosperidade, sorte, trazida pelos companheiros do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Observem que seguindo o relato deste Odù, os membros do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) tem relação ou gratidão com essa pessoa e podem interferir no Àiyé a seu favor. Ogbè Ọ̀yẹ̀kú não menciona Àbíkú.

Assim como em Ogbè Ọ̀yẹ̀kú, existem muitos outros com histórias que mostram, pontualmente, a interferência que as pessoas no Àiyé sofre do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), nesse caso, a pessoa que consulta Ifá. O que vemos nas consultas de Ifá é que diversas pessoas são de alguma forma, ainda adultas assediadas pelo egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), como no grave caso do Odù oxé (Ọ̀ṣẹ́) irete (Ìrẹ̀tẹ̀) ou como em vários outros casos que passaram por mim crianças tem seu desenvolvimento infantil e juvenil prejudicado por seus companheiros espirituais, sem uma aparente vontade de prejudicá-los, como consequência e não eram casos de Àbíkú.

Em Ifá fica claro para nós Bàbáláwo que a interação com o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) não se restringe ao caso dos Àbíkú. Mas isso não é caso que você vai encontrar em literatura de antropólogos ou pesquisadores, a gente, como Bàbáláwo, encontra as histórias e os casos reais na prática. O erro que Bàbáláwo pode cometer, na prática, é não ter o conhecimento correto da teologia envolvida nisso e, desta forma, converter essa constatação, de que as pessoas são importunadas pelo egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), em busca de solução disso envolvendo o órun (Ọ̀run) ou, um pouco pior, usando o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) para justificar problemas que as pessoas têm na sua vida e que são causadas por ela mesma.

As pessoas que procuram Ifá, todas, tem algum problema para resolver ou uma frustração, as pessoas não vão a Ifá para bater papo sobre ética e conduta. É extremamente difícil para essas mesmas pessoas aceitar a análise do Bàbáláwo sobre sua vida e conduta. É mais difícil ainda para essas pessoas mudarem a forma como elas procedem de modo a corrigir os seus problemas. Todas elas vão lá querendo que a solução de suas decepções e dificuldades seja sempre atribuída a uma causa supernatural qualquer, fora do controle delas e que as exima de seus insucessos. Todas elas querem que a solução para seus problemas seja apenas um ebó (Ẹbọ), tipo 7 bolas de farinha de modo a não terem que se auto-avaliar e reconhecer o que devem mudar para que as coisas melhorem. As pessoas não vão atrás de conselhos e orientações elas querem soluções. Para esses casos, de quem busca a culpa nos outros, o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é uma ótima alternativa. Cria causas malucas e principalmente não associadas a Orixá (Òrìṣà) para explicar os problemas das pessoas.

Como eu falei, no início, existe muita névoa sobre o tema egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) até mesmo entre os Bàbáláwo e os próprios Yorùbá mais antigos. Muitos tentam descrever o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) como uma divindade para ser cultuada, como um Orixá (Òrìṣà). Essas pessoas criam então coisas que são inimagináveis que o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) como iniciações, assentamentos e até mesmo Exú (Èṣù) para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).

Como eu disse, minha análise é que isso tudo é baseado em mistificação do tema, não existe, nada, em histórias sobre o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) que mostre qualquer coisa diferente do que eu já relatei e relatarei aqui.

As pessoas que atribuem esse caráter de divindade ao egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) me geraram inicialmente uma razoável confusão e dúvida. Fui, de fato, atrás disto buscando em versos, mitos ou textos explicativos, alguma coisa, consistente, que trouxesse o entendimento sobre o que essas pessoas insinuavam estava certo. Mas, isso não se confirmou. Não podemos gerar conhecimento a partir de, apenas, opinião. Opiniões podem ser usadas na ausência de evidências, mas, se criamos uma afirmação teológica isso tem que ser confirmado por algum instrumento legítimo de fonte de informação da religião.

O Bàbáláwo Fálàdé, por exemplo, cita a existência desta sociedade, difusa ou pouco definida, de amigos, o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), como uma divindade que nos ajudaria e que, a pessoa ligada a eles, teria até um nome, seria um elegbe, um lider que é protegido por eles.

Essa visão de divindade associada ao egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é fantasiosa. O que está nos versos e nos mitos é que é uma sociedade de espíritos que se reúnem e habitam um lugar isolado das demais, esse lugar é o Ìrònà, o espaço intermediário entre o Àiyé e o órun (Ọ̀run). Os mitos descrevem a existência de um líder entre eles, um líder para os meninos e um líder para as meninas, mas nomes em yorùbá podem ser apenas cargos e os nomes associados a esses líderes são característicos de cargos.

Iyajanjàsá é o nome da mulher que é lider dos garotos e Olóìkó é o líder das meninas. Esses nomes são cargos, isso significa que alguém ocupa esse papel de líder, de cuidador, algum espírito mais velho. É isso que está referenciado no Odù Ogbè Ọ̀yẹ̀kú. Mesmo nos mitos descritos por Cuoco, existe um (8- Olóìkó goes into the world) que relata que o próprio Olóìkó decide em determinado momento renascer. Seus pais consultam um Bàbáláwo fazendo os ebó (ẹbọ) para que ele fique no mundo. Em função disso Olóìkó não é capaz de morrer e voltar para o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e acaba ficando no Àiyé vivendo com a nova família. Desta forma, usando nossa capacidade de interpretar, temos que concluir que Olóìkó não é o nome de uma divindade e sim um cargo que um dos espíritos do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) assume para ser guardião dos demais.

A necessidade de ter um líder ou de um cuidador é explicada com alguns argumentos bem simples. O primeiro é que é natural que, em um grupo, um ou alguns exerçam a função de liderar. Vamos lembrar que esses espíritos estão no Ìrònà, eles morreram e não foram para o órun (Ọ̀run), ficaram nesse espaço intermediário e desta maneira sendo eles, ainda, espíritos infantis será natural um espírito assumir o papel de líder e cuidador. O espaço Ìrònà está longe de ser uma região tranquila do supernatural, o Ìrònà é uma designação genérica para o espaço energético intermediário entre o Àiyé e o órun (Ọ̀run) e que além da sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) também serve de localização para outros espíritos e forças maléficas. Como Salami e Ibie descrevem, as ajé (Àjẹ́) estão nesse espaço e os Ajogun. Por ilação podemos concluir que os espíritos perdidos que a Umbanda acolhe, bem como os próprios guias de Umbanda estarão nesse mesmo espaço visto que as regras do supernatural tem que ser as mesmas para tudo e para poderem interferir na nossa vida, como a Umbanda preconiza e pratica, não poderão estar no órun (Ọ̀run) e sim no Ìrònà.

Os yorùbá tem muitas divindades e todas regionais, existem muito poucas divindades gerais, aceitas por todos (como Xangô (Ṣàngó) Oxalá (Òṣàlá), Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e Exú (Èṣù)), a maior parte é regionalizada. Isso faz com que um mesmo tipo de divindade ou manifestação, ocorra com nomes diferentes dependendo do local, mas, isso não faz elas serem divindades diferentes. Se ainda lembrarem, eu citei isso quando falei dos nomes de Olódùmarè. Os pesquisadores europeus acharam que haviam vários deuses entre os yorùbá, mas o que eles não perceberam é que eram nomes diferentes para um mesmo deus.

A diversidade de divindades, seja a mesma com muitos nomes ou sejam várias, não faz diferença nesta religião. A quantidade de divindades não é relevante. Existem divindades que são orientadas para cuidar de crianças, as crianças são muito importantes para os yorùbá e proteger o seu crescimento é uma preocupação importante. Dessa forma é natural que existam divindades orientadas a elas.

Ibéjì é uma dessas divindades, ela está ligada aos gêmeos, que são um tema especial nesta religião. Regionalmente encontraremos divindades associadas a crianças: Ẹgbẹ́, Ẹgbẹ́run, Arágbó, Ẹgbẹ́ Ọ̀gbà, Koóri, Kónkóto, dàda e Elérìkò. Não tem relevância falar sobre cada uma delas ou sua origem para nós da diáspora. Aqui nesse tema elas estão sendo mencionadas porque são divindades do órun (Ọ̀run), não são espíritos que fazem parte do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). São divindades que se recorre para proteger as crianças, seu nascimento e desenvolvimento.

Em Ibadan, existe uma divindade chamada Elérìkò, uma divindade feminina, ambivalente, ligada a esses espíritos. Ela ajuda ou atrapalha, traz doenças para unir os Aràgbó. Elérìkò é imprevisível. Quando aplacada dá filhos e brinca com as crianças na luz do dia. Quando desagradada assedia crianças no seu sono, aflige com doenças, as mata e leva suas almas para o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).

Existem outros nomes que são sinônimos da mesma coisa. Arágbó – Espírito de crianças, seres das florestas; Ẹgbẹ́ ou Ẹgbẹ́run – Vivem na água ou madeira; Elére – Donos as imagens de madeira; são nomes diferentes para a mesma coisa, para designar os membros do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), não são nomes de divindades diferentes ou de espíritos especiais do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).

Na cidade de Ọ̀wọ não tem Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) mas tem um festival de mascarados chamados Àghòbí (aquilo que olha para dar nascimento a crianças). O objetivo dos dançarinos mascarados, sejam homens ou mulheres jovens, é torna o homem viril, a mulher fértil e as crianças saudáveis e bem nascidas. Àghòbí é o nome dos mascarados e não uma divindade.

Existe ainda um tipo de Egúngún chamado Egúngún Ọlọmọyọyọ, que é um espírito ancestral de pequenas crianças. Desta maneira Ọlọmọyọyọ, não faz parte do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), faz parte do órun (Ọ̀run) é um Egúngún.

Existem outros nomes específicos como Èkìnẹ̀, Èlekìnẹ̀, Ọmọlókun ou mọlókun que é o nome que se dá as crianças nascidas pela interferência do Orixá (Òrìṣà) Olóòkun. Inclusive existe uma designação geral para os Orixá (Òrìṣà) que interferem no nascimento de crianças.

Essa lista de nomes é bastante ampla, no final eu faço uma coletânea disso. O objetivo de eu citar isso aqui é para acabar com a confusão causada por usarem esses nomes para mostrar complexidade e diversidade do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Sim, eu já vi vários Babalorixá (Bàbálórìṣà) e Bàbáláwo citando esses nomes como se fossem uma diversidade do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e com isso querendo mostrar conhecimento e complexidade.

Egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é simples, é uma sociedade ou grupo que reúne espírito de crianças mortas. Não é uma divindade do órun (Ọ̀run). A composição do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é simples usar esses nomes que se referem a coisas diferentes e de regiões diferentes, juntando isso tudo como se fosse um conjunto único e exclusivo é uma manifestação de desconhecimento ou de vontade em confundir.

Uma vez que não são uma divindade e não estão no órun (Ọ̀run), não existe sentido em pessoas ignorantes ou não honestas, venderem iniciações para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Não cabe uma pessoa ser iniciada para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Se você não está ligado a eles (vou explicar isso adiante) não faz sentido se ligar. Se já está ligado não necessita de iniciação. A iniciação é um processo litúrgico para despertar poderes e capacidades não cabe fazer isso para estabelecer uma ligação com o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Igualmente não cabem para eles um assentamento, assentamento ou Igbà é um objeto litúrgico para ligar o Àiyé ao órun (Ọ̀run), não existe razão para ter esse objeto para ligar o Àiyé ao Ìrònà, esses espaços já estão ligados, o Ìrònà é parte do Àiyé. O Ìrònà não é o mundo físico mas o Àiyé compreende o mundo físico e o supernatural que acompanha o mundo físico.

O que encontramos nos mitos é que egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) são esses espíritos que podem ou não se tornar um Àbíkú e que vivem junto, tem fortes laços de amizade. Os mitos direcionam egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) como sendo uma reunião de possíveis Àbíkú ou que já foram ou se tornarão. Eles se tornam um Àbíkú quando renascem, isso é óbvio, afinal o nome Àbíkú significa aquele que nasce para morrer. Assim, um Àbíkú é alguém que nasce e respira. Apesar de todos sermos, em teoria, Àbíkú porque nascemos para morrer, os Àbíkú são as almas de ciclo curto de vida e nós, pessoas comuns, somos de ciclo longo de vida. Conforme vou teorizar, à frente, é importante ressaltar essa questão de ciclo curto e longo, mais do que vocês podem imagina agora.

Entretanto, o que mais me incomodou neste tema de egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e Àbíkú não foram esses aspectos que citei, o mais problemático foi sempre não haver nenhuma explicação teológica para isso. Não havia causa ou razão. Nos cabia dizer que o que era, dizer como resolver mas, jamais, ter qualquer tipo de informação sobre a razão.

Antes de iniciar minha explicação completa quero transcrever aqui um pequeno trecho que está no livro do Cuoco, que como disse, recomendo muito. Esse trecho é a semente do meu entendimento e que vai de encontro (contra) o que muitos africanos e Bàbáláwo Nigerianos (yorùbá, como o Salami) pensam sobre os Àbíkú.

Ao contrário do que muitos autores escreveram sobre o personagem Àbíkú, insisto em afirmar que eles ”não" são seres malévolos cuja única missão é causar sofrimento a seus pais e familiares. Acredito que sejam seres de luta, que em puro estado de inocência passando de um reino para outro - em suas constantes mortes e renascimentos - carregando dentro de si o peso da morte Iku). Sua verdadeira inocência reside no fato de que são seres, que estão divididos à força entre o desejo de ficar na terra com suas famílias e o desejo de estar com seus espíritos companheiros em Orun, bem como a obrigação que têm de cumprir suas promessas de retornar à sua Sociedade Egbe Ara Orun, independentemente dos esforços de seus pais para mantê-los no mundo.”

A seguir vou relatar o meu entendimento sobre os egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e Àbíkú, de forma bastante ampla. O conhecimento que vou descrever foi reunido em anos de pesquisa em diversos autores. Vou dar muita informação e buscarei justificar tudo aquilo que eu disser.

Eu vou evitar aquelas longas abordagens acadêmicas (não sou acadêmico) com extensos relatos para somente no fim apresentar suas conclusões. Vou iniciar por eles e depois dar as explicações.

 

TEXTO SEGUINTE: http://www.orunmila-ifa.com.br/2021/02/como-e-composicao-do-egbe-egbe-orun-orun.html

 

 

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