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O que são os Orixás?
Uma das questões mais comuns nesta religião é a das pessoas definirem os orixá (Òrìṣà). É bastante constrangedor. Enquanto no catolicismo as pessoas sabem dizer facilmente quem é deus, Jesus, anjos e santos e entendem a diferença entre eles, nesta religião existe uma grande dificuldade em explicar sua principal divindade, sob o ponto de vista da vida humana no Àiyé, os orixá (Òrìṣà).
O grande problema, na minha avaliação é que esta é uma outra religião e as pessoas carecem de entender sua teologia e cosmogonia. Elas aprendem a religião católica, entram para o Candomblé e Ifá e se preocupam em fazer ebó (Ẹbọ), não se preocupam em entender em que religião estão;
Estou, chovendo no molhado, a finalidade deste longo texto é isso, explicar, mas, nada é mais evidente do que quando tratamos de orixá (Òrìṣà). Em capítulo anterior eu já expliquei o posicionamento de orixá (Òrìṣà) no cosmo yorùbá, agora, neste capítulo, vou explicar a essência do orixá (Òrìṣà), a principal divindade para a vida humana, aquela que realmente nos interessa.
A sguir vocês terão dois capítulos longos, mas, interessantes. Sugiro ler com calma e entender o que estão lendo. Eu lamento apenas esse ser um capítulo longo, mas, em vista da enorme quantidade de pré-conceitos existentes, é necessário um trabalho mais minucioso.
A natureza dos Orixás
Este capítulo é um pouco extenso, mas, trata de um assunto importante que principia o entendimento desta religião. Apesar de extenso ele tem muita informação, da forma como foi estruturado, quando mais você ler, mais você vai saber sobre o assunto, mas em qualquer ponto que parar você já vai ter entendido a minha posição.
A motivação de eu escrever, longamente, sobre este assunto é que existe um conceito generalizado que associa os òrìṣà (orixá) a elementos da natureza no sentido literal (e não figurado) de forma que cada òrìṣà (orixá) é dito ser um elemento da natureza.
Esta, é uma bobagem que está sendo repetida milhares de vezes e que com isso acabou virando uma verdade para muitos, principalmente aqui nas tradições da diáspora. Estou aqui dando minha contribuição para acabar com isso, porque, depois de me debruçar sobre esse assunto, analisando referências teológicas e, mais ainda, versos de Odù, eu tenho uma opinião completamente divergente e gostaria de apresentar aqui.
Parece um início esquisito, porque, em vez de explicar o que são os orixá (Òrìṣà) eu tenho que explicar o que eles não são. Sim, bem estranho. O que são os orixá (Òrìṣà) já está explicado no capítulo sobre o cosmo metafísico e no capítulo seguinte, sobre o Odù oxé-otua, isso será concluído. Se você tem inteligência e capacidade de interpretar texto, ao ler o Odù oxé-otua e minhas explicações terá entendido o que são os orixá (Òrìṣà) e seu papel. Contudo, eu preciso iniciar com esse longo texto para desconstruir o pré-conceito dominante.
Assim principiando, pessoas quando questionadas sobre a religião ou mesmo sobre òrìṣà (orixá) iniciam afirmando que o Candomblé é uma religião ligada da natureza e que os òrìṣà (orixá) são a própria natureza ou, elementos grandioso desta natureza, como água, terra, pedra, fogo, trovão, vento, etc….
Isto está errado. De fato não são muitas pessoas que conhecem bem a religião e essa tem sido a saída mais fácil para as pessoas responderem aquilo que não sabem. Não precisa fazer muito esforço, vai ser muito fácil encontrar este ideário em livros ruins e na internet em textos copiados e mal produzidos.
Mas, existem também pesquisadores que falam dessa forma, de modo que, esse meu texto é longo porque tem que endereçar esses dois grupos, seja os das pessoas que não conhecem e repetem, seja os das que conhecem e repetem da mesma forma.
Assim, o posicionamento deste texto é o de que as pessoas descrevem para outras que os òrìṣà (orixá) são os elementos da natureza, mas, isso é um engano. Esta é minha posição e vou explicar detalhadamente aqui neste texto.
A minha conclusão, após avaliar esta situação, é que este erro ocorre por diversos fatores. O principal é que é fruto de um sincretismo religioso, equivocado, entre religiões que não guardam semelhança. É uma forma equivocada de comparar ou tornar equivalentes, diferentes religiões, feito por pessoas levianas. Por fim, e mais importante ainda, é uma parte do grande processo que houve, inclusive entre os ditos estudiosos, de desprezar a religião Yorùbá em função da dificuldade ou do preconceito para entendê-la de fato.
Podemos encontrar e ter que aceitar uma posição, por exemplo, de que os òrìṣà (orixá) seriam ancestres, pessoas que foram divinizadas e desta forma pais da nação Yorùbá. Podemos também entender que mesmo em vida eram pessoas poderosas dotadas de forte poder mágico e que os permita manipular alguns elementos primários da natureza, mas, jamais, podemos confundir os òrìṣà (orixá) com elementos da natureza.
Alguns podem neste momento questionar: Por que estou eu aqui querendo questionar isso? Minha resposta é simples, para que se possa, de fato, entender o que é esta religião e entender a sua proposta para tornar melhor a vida das pessoas.
É importante entenderem que na religião Yorùbá existe uma divindade suprema, que esta acima de tudo e de quem vem toda a criação e manutenção dos seres viventes, ela é Olódùmarè, o deus Yorùbá. Abaixo dele existe todo um mundo espiritual com divindades de diversos tipos e hierarquias. Um tipo muito especial e que nos interessa são os òrìṣà (orixá). Estas divindades têm como objetivo nos ajudar em nossa vida no mundo natural.
Nossa ligação com os òrìṣà (orixá) é muito íntima e todos temos na formação do nosso corpo espiritual um pedaço de um òrìṣà (orixá (Òrìṣà)), uma essência dele, que se torna então o nosso òrìṣà (orixá) e um dos nossos protetores, através desta ligação espiritual. Temos, todos, um protetor principal, que é uma divindade pessoal que, aqui no Candomblé, chamamos de Ori. De fato, como muitas palavras Yorùbá, Ori serve para muitos significados, mas, entendamos que um dos significados é de uma divindade pessoal e nossa protetora maior, o chamado enikeji.
Em relação aos òrìṣà (orixá) existem 2 tipos principais. Existem os que são os òrìṣà (orixá) da criação, que já existiam antes do mundo natural ser criado por Olódùmarè (da Gênese). Existem também os òrìṣà (orixá) filho, ou eborá, que surgiram depois e que normalmente são seres humanos divinizados. Sim, é muito importante entender isso. O ser humano por suas obras e importância para sociedade pode ser divinizado e se transformar em um òrìṣà (orixá), com mesmo status dos òrìṣà (orixá) da criação.
Ao se transformar em òrìṣà (orixá) ele irá também fazer parte do corpo das pessoas que nascem no mundo natural.
Aqui temos mais um conceito para entender, os Yorùbá entendem que existe um mundo espiritual que é um reflexo no mundo natural. As pessoas vivem no mundo espiritual e ciclicamente nascem (encarnam) no mundo natural. Ao nascer aqui elas necessitam de um corpo, esse corpo é produzido por um òrìṣà (orixá) e recebe elementos que vai individualizá-lo tornando cada indivíduo único.
Nesse processo de individualização o òrìṣà (orixá) fará parte. Assim, nosso espírito vive no mundo espiritual de forma independente de òrìṣà (orixá), mas, quando nascemos aqui no mundo natural um deles fará parte íntima de nossa existência e de nossa proteção para que possamos viver e atingir os nossos objetivos para essa vida.
Esses elementos que são agregados ao nosso corpo físico (orixá, Odù, Ori, alma, caráter e ancestralidade) nos transformam na pessoa que somos.
Nesta concepção errada que fazem de òrìṣà (orixá), Xangô virou o fogo e o trovão. Oyá virou o vento e o raio. Óxun virou a água. Os demais não sei bem o que viraram, essa criatividade, sem pé nem cabeça, para mais ou menos por ai. Vejam, alguns orixá (Òrìṣà) são associados com a natureza mas outros não ou nem tanto. Mas a correspondência que essas pessoas fazem de òrìṣà (orixá) e elemento da natureza é falha e confusa por si só.
Então veja, quem entende alguma coisa de òrìṣà (orixá), sabe que Ṣàngó (Xango) é um eborá, um òrìṣà (orixá) divinizado e não um dos òrìṣà (orixá) originais assim (apesar dessa posição ter uma outra vertente diferente). Como ele poderia ser o fogo, o trovão ou um vulcão, que são elementos que existem desde o início dos tempos? O vento é Oyá? Mas ela também é divinizada, assim, o vento já existia antes dela, e ela não poderia ser o vento, uma força da natureza. Na Nigéria a sua história esta associada com um Rio. Óxun (Ọ̀ṣun) é uma irúnmalẹ̀ (irunmalé) um òrìṣà (orixá) original da criação e poderia sim estar ligada com a água, mas ser a água?
Para os yorùbá existem muito orixá (Òrìṣà), muito mais do que podemos conhecer. Lá não existe apenas uma dezena, existem centenas e, por exemplo, vários estão associados a água, na verdade, existe uma categoria comum, que é o de orixá (Òrìṣà) associado a água. Por fim, sem exaurir o estoque de bobagens, as pessoas dizem que Oxalá (Òṣàlá) é o ar, por que?
Nunca encontrei isso nos versos de Odu. Não existe nenhum lugar em versos que eu tenha lido, e já li muitos, que faça uma mínima correlação disso.
Isso, na verdade, mais parece uma brincadeira de ligar coisas da coluna da direita com a da esquerda, assim coloque os òrìṣà (orixá) que você conhece na esquerda e os elementos da natureza que você conhece na direita, ligue agora um com o outro. Provavelmente vão faltar coisas de um lado e de outro ou mais de um estará ligado a mesma coisa. O que estou dizendo em palavras bem simples é, isso é uma bobagem.
Uma outra forma de ver òrìṣà (orixá) é através de uma divisão no qual existe 401 orixás da direita, que são forças boas e 201 da esquerda que seriam forças malévolas. O que significa essa frase? Vamos em partes. Primeiro, entender Yorùbá não é apenas pegar um dicionário e traduzir. Existem muitas expressões e situações que fazem parte do povo e da cultura e que não se traduz, se explica.
Os Yorùbá não tem aritmética, números são substantivos. Para eles 200 não significa o número 200. O número 200 nesta frase significa o mesmo que “muita coisa” isso porque 200 é uma quantidade muito grande de coisas para se ter ou contar. Os Yorùbá não estão dizendo que existem 200 òrìṣà (orixá), eles estão dizendo que são muitos.
O número 400 quer dizer que existem muito mais divindades do bem do que do mal. Dessa forma, repetindo eles querem dizer que existem muitas “da esquerda” e muito mais ainda “da direita”. Dessa maneira existem muito mais forças do bem do que do mal.
E o número 1? O que significa? Ele quer dizer que esta quantidade não é precisa e que sempre está aumentando, sempre pode ter mais um, pelo processo de divinização.
Feita essa introdução vou ao ponto de dizer que na religião Yorùbá não existe um “Panteão” de deuses. Não é igual à religião grega que existem uma quantidade e qualidade específica de deuses com finalidades definidas. A religião grega e seu “panteão” significam isso, um conjunto bem definido de divindades, todas elas com um propósito e uma função e sem uma divindade maior.
Na religião yorùbá, a quantidade de òrìṣà (orixá) varia e mais, é indefinida. O número é indeterminado pela simples razão que não faz a menor diferença a quantidade ou quais são. Neste contexto, como podemos associar a religião yorùbá a um panteão? Como podemos associar orixá (Òrìṣà) a finalidade específica?
Não existe, originalmente, esta definição usada aqui no Brasil de seriam 16. Por algum motivo histórico qualquer se estabeleceu que seriam 16, o que não é verdade, e que eles seriam fixos, todas as pessoas estariam relacionadas a um desses 16.
Veja, a diáspora foi muito importante e o formato de nossas tradições religiosas afro-brasileiras deve ser respeitado e eu estou muito distante de ser favorável a africanização, mas, não podemos deixar de compreender a religião como ela é. E a existência de apenas 16 orixá (Òrìṣà), não é uma verdade nesta religião! Não existe esta regra ou dogma para isso.
Eu sempre tento separar muito bem o que seja a religião Yorùbá e o Candomblé, respeitando que nossa tradição pode ter tomado rumos distintos na sua prática e formato, mas, existe uma teogonia e teologia básica e dogmas que devem ser respeitados, senão isso não é uma religião é uma coisa qualquer.
Não existe no modelo religioso Yorùbá uma predefinição de quem são ou quantos são os òrìṣà (orixá). Podem ser mais ou menos, cada região que defina.
O Verger, que não era antropólogo e sim um fotógrafo francês rico, fez um grande trabalho para nós quando mostrou o que havia na África de fato e jogou por terra um monte de literatura ruim que era consumida aqui. Ele estudou e documentou muita coisa, mas, não quer dizer que tivesse a maior propriedade de tratar de todos os temas. Ele disse que a religião Yorùbá era um politeísmo, ele não reconhecia a posição de Olódùmarè. Estava errado. O tempo e os inúmeros pesquisadores mostraram isso. Ele poderia ter usados várias classificações, essa, sem dúvida, era muito ruim e ajudou essa questão de panteão Yorùbá.
Pesquisadores observaram que o modelo adotado na região Yorùbá era mais próximo do que se pode chamar de um “monoteísmo justaposto”. Luis Nicolau Parés no seu ótimo livro “A formação do Candomblé”, coloca que “baseado na análise de Orikis dos òrìṣà (orixá) e dos versos de Ifá, Mckenzie concluiu que, fora o caso de Xango, Obatalá e a tríade de Ifá (Esu-Orunmila-olodumare), os cultos de òrìṣà (orixá) não apresentam quase nenhuma alusão verbal a outras divindades, sugerindo um relativo separatismo entre eles e a ausência de um panteão fixo ou estabelecido”.
Bingo!
Os livros de Parés são muito bons e as pessoas ainda vão dar mais valor ao que ele escreve.
Assim, cada região ou aldeia praticamente tratava do culto de apenas 1 divindade, isso caracterizava um modelo quase de monoteísmos justapostos, no qual, vários “monoteísmos” se sucediam à medida que se caminhava pela geografia. Esta é uma explicação complexa e não definitiva, mas, serve para mostrar o tipo de prática que se encontrava lá.
Entender as sociedades não é simples. Entender as religiões também não. O pior que se pode fazer é adotar o caminho da simplificação buscando similaridades e comparações, evitando o trabalho de mergulhar na sociedade, seus valores e história para então entender seu contexto social e religioso. Ocorre que as pessoas não tem tempo, querem fazer tudo muito rápido.
Outra coisa, comentário meu, é que o ser humana evita a complexidade do mundo real. Tudo é reduzido a um maniqueísmo a um sistema binário.
Mckenzie foi muito preciso na sua observação, bem como na de que era Ifá quem trazia em seu corpo e prática a teogonia e teologia que dava estrutura à religião. O culto diário, a prática das pessoas era de fato a prática da religião de òrìṣà (orixá) e o modelo Yorùbá não se estruturava como montamos a nossa diáspora.
Quando buscamos outros autores sérios como Baba Tunde lawal podemos ver que apesar de diferenças nas práticas regionais, nos nomes e na forma, a estrutura religiosa Yorùbá se espalhava igualmente por toda a região Yorùbá. Cultos mudavam de nome, òrìṣà (orixá) trocavam de nome mas o espírito da coisa, a finalidade era a mesma e havia o Ifá unindo tudo isso. Ifá era uma das poucas coisas comuns e tinha a sua tríade principal.
Luiz Marins, pesquisador brasileiro fez sua tese classificando a religião de Orixaísmo evitando assim enquadrar a religião Yorùbá em uma das denominações existentes. Eu mesmo já abordei esse tema antes de ver essa definição de Mckenzie, fiquei feliz em ver que minhas observações e ilações não eram únicas e também divergentes do Verger e de outros, que se somam chamando a religião de politeísta, considero que essa é a pior definição. Não cheguei ao ponto do Luiz Marins mas coloquei minha visão.
O processo de agregação de òrìṣà (orixá) foi tardio, foi feito pela diáspora e retornou para a origem. Aqui no Brasil certamente houve uma grande influência do Jeje para esse modelo. O Jeje diferente do modelo Yorùbá possuía um panteão, ou melhor alguns panteões. Esses panteões se combinavam, uniam e incluíam divindades de fora. Uma casa combinavam muitos Voduns. Ortodoxia nunca foi o forte no Jeje mesmo na África.
Esta falta de ortodoxia tem uma explicação simples e histórica. Um dos reis do Dahomey, grande conquistador tinha como método absorver a religião dos povos conquistados, incorporando suas divindades às suas de modo a estabelecer um melhor controle cultural. Isso era um método de conquista que acabou mudando sua religião.
Na verdade, o modelo religioso do Dahomey era bem menos consistente, mais disperso e mais primitivo do que o modelo Yorùbá. O modelo Yorùbá foi importado no início do século XVIII e enxertou a religião deles com Ifá, com a divindade suprema e com Eégún, tudo isso ausente da religião Jeje e estabelecida tardiamente como parte do modelo.
Aqui no Brasil o modelo Jeje só se manteve porque ficou à sombrada teogonia e do modelo litúrgico Yorùbá, dificilmente iria ter uma relevância maior sozinho. As casas Jeje integram orixá (Òrìṣà) e a coisa mais difícil em uma casa Jeje da atualidade é encontrar um Vodun.
A junção e agregação de várias divindades no mesmo culto foi fruto da diáspora e da convivência do modelo yorùbá, através do Candomblé Ketu, com o Jeje que tinha uma abordagem completamente anárquica para tratar essa questão de divindades.
Na teogonia Yorùbá, quem traz a tríade Olodumarê-orunmila-esu é Ifá. É através dele que essa tríade passa a ser conhecida. No âmbito da vida das pessoas o que você via lá eram òrìṣà (orixá). Para se entender o modelo religioso tem que se olhar o conjunto, iniciando com a visão de Ifá que é quem estrutura o cosmo e a religião e buscando os cultos como de orixá e Eégún, além de manifestações adicionais como Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) e ajé (Àjẹ́) como aspectos colaterais.
Esta visão de conjunto monta o entendimento da religião, mas, se você analisa apenas o dia a dia das pessoas e comunidade, como Verger o fez, poderia entender que é um politeísmo. Mas essa é a apenas uma visão fragmentada do todo, Verger nunca viu o conjunto como uma religião ele nunca teve uma preocupação ou abordagem teológica.
Dessa forma o modelo Yorùbá não tem panteão e não suporta de forma alguma a designação de òrìṣà (orixá) como elementos da natureza. O agrupamento dos òrìṣà (orixá) em um mesmo espaço foi um fenômeno da diáspora e da formação da nossa tradição religiosa, o Candomblé.
Essa é uma visão muito onírica dos òrìṣà (orixá), um sincretismo com a religião greco-romana e com religiões europeias, como a bruxaria tradicional, wicca, etc….
O preconceito é a raiz disso tudo. As pessoas não esperavam encontrar uma religião complexa junto a um povo simples, como os Yòrúba, assim, elas avaliaram superficialmente a religião e fizeram associações dela com outras que eles conheciam.
Essa ligação de uma divindade com os elementos da natureza existe em algumas tradições religiosas, muitas delas politeístas puras de fato, que não é o caso da religião Yorùbá. A mim parece mais uma forma de sincretizar a religião africana com formas politeístas e animistas seja por preguiça ou preconceito.
Por esta razão, dizer que os òrìṣà (orixá) são as forças da natureza como eu canso de ouvir é o mesmo que dizer que Ṣàngó (Xango) é São Jerônimo, Ọya é Santa Barbara, Ògún é São jorge. É o mesmo que ouvir babalorixá explicando a vida e a reencarnação usando a doutrina espírita.
Além desta explicação inicial que já pode ser suficiente para muitas pessoas vamos aprofundar a análise desta questão dividindo o assunto em partes e explicando cada uma delas.
Primeiro, vamos falar sobre a responsabilidade do sincretismo nesse processo. Depois vamos tratar da influência do entendimento incorreto da cosmogonia da religião. Vamos comentar um pouco sobre o problema gerado por estudos ruins feitos por antropólogos e estudiosos e, por fim, vamos falar um pouco do cosmo Yorùbá para situar o entendimento de todos no modelo que eu considero adequado.
Quem leu até aqui já tem argumentos em quantidade e qualidade para desqualificar a relação de orixá (Òrìṣà) com elementos da natureza e quem seguir vai entender isso com mais detalhes.
Como sempre lembro que tudo o que é escrito aqui representa a minha opinião, representa a minha análise sobre o que eu estudei e vivencio e estou muito longe de me considerar o dono da verdade ou mesmo infalível.
CONTINUAÇÃO: A origem dos orixá segundo a religião Yoruba
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