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A causa das mortes
A morte pode ser causada aos seres humanos por eles mesmos, mas, envolvendo o supernatural, temos quatro em especial para relacionar:Causada por feitiçaria
É um ponto básico nessa religião a
morte ser causada por ação de feitiçaria e malefício. Não existe
ninguém no Àiyé que esteja imune a isso. A crença da
feitiçaria como um ato decisivo e acima de qualquer tipo de proteção
é questão pacificada na religião, o que se pode fazer é reagir a
isso.
Quando uma pessoa morre de repente, ir
a uma Bàbáláwo
e determinar se foi morte por feitiçaria é uma prática feita antes
mesmos deles tocarem no corpo para este ser preparado para o enterro.
Também é parte da crença que
existem espíritos livres, fantasmas e esse podem causar a morte de
pessoas. Mais à frente vou abordar a questão dos fantasmas.
A maldição é diferente de
feitiçaria. Maldição é uma coisa mais ampla e pode transcender
gerações, uma pessoa pode nascer com uma maldição ancestral e se
não se livrar disso pode vir a morrer por causa dela.
Podemos entender como proporções, a
feitiçaria são ações diretas e imediatas e as maldições ações
com efeitos maiores e de longo prazo.
Podem entender isso como superstição
ou excesso de misticismo, essas palavras são apenas usadas para
expressar preconceito, mas, o entendimento dos yorùbá é que a
morte natural ocorre em idade avançada e que pais não morrem antes
de seus filhos.
Qualquer coisa diferente disso, seja
causada por acidentes, fenômenos da natureza ou doenças é
considerado não natural e deve ser investigada em relação as
causas anteriores. Doenças e acidentes são provocados por feitiços,
maldições e espíritos.
Se um jovem morresse subitamente,
todos choravam muito, e procuravam descobrir o motivo, chamando até
o espírito do morto para dizer se fora ele mesmo (espírito) quem
havia levado a pessoa, ou se fora um trabalho feito por alguém.
O corpo era enterrado dentro de
casa, e a família fazia muitos trabalhos espirituais, para que o
mesmo não acontecesse com outros membros.
Se morresse uma pessoa pobre, sem
parentes para pagar o enterro, os conhecidos enrolavam o morto em
suas roupas, e cavavam um buraco, fazendo o enterro sem nenhuma
despesa. No caso de um mendigo ou um leproso, era enterrado no mato,
longe da cidade.
Se uma pessoa morresse ao visitar
alguém, deveria ser enterrado na casa onde morreu, pelo dono da
casa, que mandava avisar a família do morto.
Uma morte muito triste era a de
mulher grávida. A criança deveria ser tirada da barriga, e a
mulher, em algumas localidades, era levada para o mato, e encostada a
uma árvore.
O corpo de um corcunda (abuké)
também não podia ser enterrado dentro de casa. Devia ser levado
para o mato, e feito um ritual.
Já os presidiários não eram
enterrados. O corpo ficava jogado para os animais comerem. Por causa
disso as pessoas evitavam fazer coisas erradas, com medo de morrer na
prisão.
Quando uma pessoa morria de sarampo
- que era considerado o Orisa Sonponno - a família não podia
chorar, para não aumentar a força dele. Todos vestiam roupa de
festa, bebiam e dançavam. Não se podia dizer do que a pessoa tinha
morrido, só “Baba gbe e lo” (o pai o levou), ou “Baba ti gbe e
ni iyawo” (o pai casou com ele). O enterro era feito pelas pessoas
que cuidavam do Orisa, e o corpo era enterrado fora de casa, num
local que só essas pessoas conheciam.
Quando um raio matava uma pessoa,
os filhos de Sango levavam o corpo para um lugar chamado áró,
deitavam-no junto ao fogo, e faziam um ritual para tirar o raio e
tentar acordar o morto. Conta-se que havia casos em que a pessoa
acordava, mas se o raio fosse fulminante, o corpo era enterrado num
local desconhecido da família, com todos os pertences do morto e
algumas oferendas.
Se alguém caía de cima de uma
palmeira, era enterrado no local onde caiu.
Quem morria afogado devia ser
enterrado na beira de um rio.
Os caçadores famosos eram
enterrados no mato pelos outros caçadores. Eles pegavam todos os
pertences de caça do morto, e colocavam-nos numa árvore próxima ao
local, arrumados como se fosse uma pessoa, com o chapéu, a bolsa e a
arma presos nos galhos da árvore. Ali eram feitas oferendas para o
morto.
Ao morrer um rei, ninguém podia
comentar o assunto. Só depois de serem feitos os rituais era dado um
toque num tambor especial, anunciando à cidade que o rei havia
morrido. Em Oyo o corpo do rei era levado para um lugar chamado bara,
e até chegar lá o cortejo parava em onze locais diferentes para
fazer rituais.
Antigamente o rei era enterrado com
doze pessoas: quatro mulheres em baixo, quatro em cima, e dois homens
de cada lado do caixão. Eles seriam os empregados do rei no outro
mundo. Algumas dessas pessoas chegavam a tomar veneno para serem
enterradas com o rei e servi-lo no outro mundo.
Em termos de religião, a informação
mais importante é de que devemos investigar através do oráculo a
origem de uma morte não natural, para que a família possa fazer
ebós para se proteger.
Morte natural é aquela que ocorre em idade avançada, de forma suave e os filhos enterram os pais. Pais não devem enterrar os filhos.
Para atingir isso existe o oráculo, existem os ebós e existem as folhas. A coisa que mais encontrei em casa de Candomblé foram pessoas com doenças crônicas sérias, hipertensas, cardíacas e outras. A minha opinião ante esse cenário era bastante óbvia, aquelas pessoas se iniciaram e se mantinham na religião tendo como principal benefício o prolongamento da vida. Não foi um caso, foram inúmeros.
Assim, quando vejo uma pessoa da religião, um Babalorixá (Bàbálórìṣà), Iyalorixá (Ìyálòrìṣà), esses principalmente e os iniciados que morrem cedo, o que me vem à mente é simples, essas pessoas falharam em sua vida, não seguiram sua religião como era esperado, possivelmente caíram para o lado “negro”.
Considerando o grande instrumental que a religião tem e o amor dos orixá (Òrìṣà), ter um iniciado morrendo cedo significa que certo ele não estava. Babalorixá (Bàbálórìṣà), Iyalorixá (Ìyálòrìṣà) e Bàbáláwo, se fizeram a coisa certa, tem que morrer velhos e de causas naturais, mais do que isso, tem que ter uma morte suave.
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