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quinta-feira, janeiro 31, 2019

Os excessos do babalawo

Os excessos do babalawo


Todo Bàbáláwo sabe ou deveria saber que seu maior atributo é ser o mensageiro de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà). É ele quem transmite as mensagens de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) para as pessoas.
Isso é uma coisa nobre e importante.
Um Bàbáláwo não é um fazedor de ebó ou matador de galinhas. O trabalho de um Bàbáláwo é ajudar as pessoas e não coletar o seu dinheiro.
Nesse sentido, o Bàbáláwo não pode perder de vista que o mais importante em uma consulta de Ifá é o que ele fala com o consulente. É sua fala, palavra, orientações que profundamente mudarão o consulente. É para isso que servem as muitas histórias e o estudo dos textos.
Uma consulta em Ifá não é para ser rápida. O jogo de búzios é rápido e bem objetivo, nele o consulente vai direto ao problema, questões e soluções.
Este Odù também vai mostrar a seguir que o jogo de búzios ou merindinlogun (owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún) recebeu o seu axé (Àṣẹ) do próprio Olódùmàrè:

A cada 16 anos
Olódùmàrè usava chamar os adivinhos da terra para um teste.
Para saber se eles estavam dizendo mentiras para os habitantes da terra.
Ou se eles estava dizendo a verdade
Este teste consistia em chamar Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e outros olhadores da terra
Olódùmàrè diria o que ele ira ver neles.
Quando eles chegaram
Olódùmàrè pediu para eles consultarem o oráculo para ele.
Quando Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) terminou a consulta
Olódùmàrè perguntou: Quem é o próximo?
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) disse que a próxima pessoa vinha a ser sua companheira
O qual era uma mulher
Olódùmàrè então perguntou:
Ela também é uma advinha, uma olhadora?
O qual Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) respondeu, “Sim, isto é verdade”
Olódùmàrè então pediu a ela para consultar o oráculo para ele
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) examinou Olódùmàrè,
ela viu tudo em sua mente
Mas ela não disse para ele tudo o que viu
Ela mencionou a essência
Mas ela não disse as raízes do problema assim como faz Ifá
Olódùmàrè então perguntou a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) o que era aquilo?
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) então explicou a Olódùmàrè
como ele honrou Oxun (Ọ̀ṣun) com o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
Olódùmàrè disse, “Esta tudo certo”
Ele disse que mesmo sabendo que ela não lhe contara tudo o que sabia
Ele daria a sua autoridade para ela
Ele adicionou “De hoje para sempre,
até mesmo quando o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
não disse tudo detalhadamente
Qualquer um que desacreditar dele
sofrerá as consequencias imediatamente
Isso não precisará esperar até o dia seguinte
Este é o motivo pelo qual as previsões do owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún ocorrem rapidamente
Esta foi a forma como o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún recebeu o seu Àṣẹ diretamente de Olódùmàrè

A transcrição desse Odù esta no artigo "The Bag of wisdom - osun and the origin of ifá divination" de Wande Abimbola.
Como está nesse Odù, o jogo de búzios conhece os mesmos problemas das pessoas mas não diz tudo o que deve ser dito. É nesse sentido que eu digo que o Jogo de Búzios é um ótimo oráculo, vai nos problemas das pessoas e os resolve mas é Ifá que vai mais fundo, é através dele que você conhece tudo da pessoa.
Dessa forma se for para fazer uma consulta de 20 ou 40 minutos e gastar a maior parte do tempo explicando o que fazer, procure o Jogo de Búzios.
De outro lado se o Bàbáláwo quer atender com rapidez várias pessoas no dia, tipo com consultas de 1 hora, você está indo no oráculo errado. Você ou o Bàbáláwo deviam consultar os búzios.
Ifá dá ao Bàbáláwo a oportunidade de conversar e interagir com o consulente de forma completa para entender de fato o que leva aquela pessoa lá e, mais ainda, o que Ifá tem para dizer àquela pessoa.
Não se iludam, problemas que se resolvem com ebós são os mais simples. Se você tem um problema que apenas um ebó vai resolver, primeiro, ótimo sua vida está muito tranquila, segundo, podia ter ido a um bom jogo de búzios.
Vejam, não estou aqui desaconselhando a irem em um Bàbáláwo, não se trata disso, vamos mais à frente que vão entender o meu ponto.
Os problemas de verdade que a pessoa tem não se resolvem com bolas de farinha e sim com mudanças na vida da pessoa, de suas ações, da forma como ela conduz sua vida e do entorno dessa pessoa.
Os problemas de fato exigem que a pessoa reconheça quais são eles e que essa pessoa acima de tudo mude sua atitude para com ela, para com a sociedade e para com a vida, esses são os problemas reais. Eles envolvem entendimento e mudanças profundas nas próprias pessoas.
Para atingir isso o Bàbáláwo deve conversar com a pessoa. É através do aconselhamento, da análise e do incentivo a auto-análise do consulente, que o Bàbáláwo estará de fato fazendo o que Ifá dá para ele como trabalho.
O que é sagrado em Ifá é a palavra. Esta é minha visão.
As rezas são importantes e os versos de Odù também, mas, é a palavra do Bàbáláwo que é sagrada porque deve refletir o que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) dá ao Bàbáláwo para ele falar. As palavras são do axé (Àṣẹ) do Bàbáláwo.
O Bàbáláwo Ayo Salami (The worship, pag. 420) vai direto a este ponto emitindo a mesma opinião que eu tenho e dessa forma vou transcrever o que ele diz.
Os elementos do ébó (Ẹbọ) podem não ser elementos físicos, podem ser apenas palavras e conselhos, assim como foram dados para Mágbágbéọlá desistir de casar com uma mulher no verso de Ọ́yẹ̀kú Ọ̀kànràn (Ifa complete divination – Ayo Salami, 79). Ou também como Itu foi instruído em não viajar com ninguém, fosse para qualquer lugar e em qualquer tempo de forma que isso não resultasse em sua morte como pode ser visto no Odù Òtùrúpọ̀n Ọ́bàrà. Esta pode ser somente uma situação para nenhum conselho e nenhum sacrifício, uma vez que a sitação será resolvida, como na consulta para Oòduá em um verso em Ọ́yẹ̀kú méjì (Sixteen great poems of Ifá, Abimbola)
A alma dos anciãos é eterna
a agua dentro de uma canoa em movimento bate de um lado a outro persistentemente
A agua dentro de uma canoa espirra
ela não é desperdiçada
Ifa foi feito para Oduduwa que desceu do alto pelas corrente de ferro
Eles disseram que se ele fizesse o sacrifício
haveria um ano particular no qual ele ascenderia o trono de seu pai
se ele não fizesse o sacrificio
haveria um ano particular no qual ele ascenderia o trono de seu pai


Mas, dessa maneira, se o Bàbáláwo continua a prescrever somente palavras e versos, então, como ele alimentará a ele e sua família? Não seria ele forçado a abandonar sua função primária (que é sentar em casa e aguardar os clientes) e ir para a fazenda?
Isso pode ser entendido como sendo o sacrifício sendo motivado por condições humanas e não a necessidade real.
Ocorre com os Bàbáláwo e sempre ocorreu com os Babalorixá (Bàbálórìṣà). Me lembro bem de uma amiga que dizia que quando ainda era Ìyàwó (uma noviça), que o Babalorixá (Bàbálórìṣà), antes de iniciar o atendimento do jogo de búzios, passava na dispensa do terreiro para ver o que faltava. O que ele ia pedir como material para as oferendas e ebós seria o que ele precisava na casa.
Isso parece uma coisa ruim? Sim, sem dúvida, você se consulta na confiança que aquela pessoa esta fazendo o que é certo e na verdade ela está mais interessada na dispensa dela.
Era assim antes e continua sendo agora.
Hoje em dia uma consulta a Ifá não é barato, eu não acho que seja, mas, o valor mais relevante não será essa consulta, isso é apenas o começo deste relação, o que pesa mesmo é o Bàbáláwo prescrever vários ebós e sacrifícios e quase sempre falar que aquela pessoa tem que ser iniciar em Ifá, enchendo o ego daquela pessoa.
Contudo, Ifá adverte que qualquer Bàbáláwo que recolhe mais do que é necessário dos clientes (seja dinheiro ou material) sofrerá um fim ruim de vida. O cliente nunca deve se preocupar com as coisas que ele dá para o Bàbáláwo. Ele está dando essas coisas para obter uma outra coisa boa do supernatural, é uma troca de elementos por energia.
Assim, se ele acha que o Bàbáláwo está pedindo coisas que não são normais, ele não deve se preocupar. Dando mais do que necessário estará assegurado que ele está trazendo para si mesmo uma recompensa dos seus ancestrais no Órun (Ọ̀run) (o espaço divino), mas, o Bàbáláwo ao contrário esta recolhendo problemas para ele mesmo no Àiyé ( espaço terrestre, onde vivemos) e no pós-vida.
Os sacrifícios oferecidos por qualquer pessoa não são perdidos. Todos os sacrifícios que uma pessoa oferece na vida não são perdidos, aguardarão por eles no Órun (Ọ̀run). O odù Òtúá Ìrẹtẹ̀ categoricamente menciona que não importa o que nós ofereçamos a Ifá, isso não será o suficiente para mensurar as coisas boas que Olódùmàrè faz para nós.
Tudo o que oferecemos é apenas um sinal de devoção e fé na disputa entre nós homens e as forças negativas que estarão em nosso caminho.
Dessa forma o Bàbáláwo que pede mais do que deveria está prejudicando a vida dele e sua recepção no pós-vida. Tem uma história muito interessante que procure o Odù mas não encontrei agora e diz respeito a 2 pessoas que eram irmãos e roubavam as pessoas. Um deles morreu e descobriu que todos aqueles roubos que traziam riqueza para eles no Àiyé, no Órun (Ọ̀run) se acumulavam como dívidas fazendo um pós-vida negativo a ser vivido e um dos Órun (Ọ̀run) ruins. Ele conseguiu de alguma forma avisar ao irmão que parou então de roubar as pessoas.
É uma história que eu havia usado para mostrar os valores e ética desta religião, mas, que serve adequadamente bem para esta situação. O Bàbáláwo que rouba as pessoas aqui no Àiyé esta trazendo para sí mesmo um péssimo destino.

Conclusão

Nem todo sacrifício é compostos de materiais, em Ifá o mais importante é a palavra,

O que ifá diz é que você não deve preocupar com as coisas que oferece a mais, elas se reverterão para você de qualquer maneira e seus ancestres no Órun (Ọ̀run) guardaram isso tudo para o seu bem e, não importa o que dê, Olódùmàrè sempre dará muito mais de volta a você.
Para o Bàbáláwo que comete os excessos o destino dele o aguarda.
Contudo fique atento porque nossa vida quem vive somos nós. Ser Bàbáláwo não dá atestado de honestidade ou sinceridade a ninguém, deus, Olódùmàrè, não vai interferir em sua vida, isso aqui é uma aventura para o bem e para o mal, para o certo e o errado.









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