A impossível migração da Umbanda para o Candomblé
Este
título é feito desafiador de forma premeditada para que as pessoas
acordem e reajam para esta tema bastante antigo no meio das religiões
brasileiras.
Todos
sabem que uma multidão migra da Umbanda para o Candomblé todos os
anos como se isso fosse uma coisa simples ou possível. Essas
migrações trazem na sua maior parte prejuízo prático para ambas
religiões, porque são feitos da forma como as pessoas querem que
seja feito.
O
lugar-comum ha muitos anos é ouvir dirigentes e iniciados usando os
mesmos argumentos de sempre, os quais falam com sua certeza ingênua
ou de reconhecida cara de pau.
Quando,
justamente provocados, diretamente ou participando de alguma
discussão, sobre a manutenção do trabalho de Umbanda com
Candomblé, eles repetem a ladainha: trabalhei anos com esses
espíritos como posso agora abandoná-los? Não posso e assim
continuo com eles.
As
respostas para isso são bem simples:
1. Se gostava tanto deles e achava que
eles úteis por que decidiu trocar de religião e ir para o Candomblé
onde existe Orixá?
Se essas pessoas gostassem de fato
delas não as teriam trocado pelo trabalho om orixá. O que elas
esperam fazer com orixá que não poderiam fazer através dos guias
de Umbanda?
Uma casa de Candomblé toca Xirê de
Candomblé, não toca Umbanda. Candomblé não tem exu e pombo-gira
bebendo, fumando e dando consulta.
Se o seu caboclo te ajudou tanto,
porque ele não serve mais?
2. Não os abandona apenas por motivo
comercial. Essas pessoas normalmente ganham dinheiro dando consultas
e fazendo trabalho com os guias e no Candomblé, outra religião tudo
é muito mais difícil, caro e demorado.
Não errarei errando nada se disser
que todos que procuram o Candomblé estando na Umbanda o fazem por
vaidade. Se Babalorixá ou Iyalorixá significa mais ostentação e
poder do que a simples Umbanda.
Se
você pensa desta mesma forma, lamento, pode ser a sua razão, mas
não é a forma que outras pessoas veem esta questão. Esta forma de
ver é como você justifica a sua ação, afinal você tem que se
explicar e falar isso acima é ha muitos anos a única coisa a
declarar.
Se
a Umbanda era maravilhosa, se seu caboclo era maravilhoso e ajudou na
sua vida, se seu exu te ajuda a ganhar dinheiro, então, simples,
fique com eles!
A
Umbanda é de fato ótima.
Quem
não é ótimo são as pessoas que trocam anos de Umbanda por um
título social de babalorixá ou Iyalorixá, trocam ela para poderem
usar roupas espalhafatosas e cinematográficas, trocam ela para
poderem ser recebidos como autoridade na casa de outros e receber os
outros na sua, em uma corrente de troca de vaidades.
Não
tem nada, nada mesmo que você vai fazer no Candomblé que não possa
fazer na “umbandinha” no que diz respeito a ajudar pessoas.
O
que todos tem que ter atenção é que a Umbanda é uma religião
brasileira, não é afro-brasileira. Oops, não sabe disso? Simples,
procure ler sobre a história a Umbanda, aliás procure entender a
Umbanda, ai vai entender como que essa africanização entrou nela
pela porta dos fundos ou do lado.
Qualquer
pessoa minimamente informada, sincera e honesta sabe que:
- Umbanda e Candomblé são religiões diferentes
- O Candomblé não é uma continuidade da Umbanda
- O Candomblé não é uma evolução natural para o médium de Umbanda
- Não tem espaço para os guias de Umbanda no Candomblé
Por
que eu digo que essa migração é impossível?
Primeiro
porque falta sinceridade e honestidade nessa migração. Achou
ofensivo isso? É de fato, mas, antes de me achincalhar, em qual
grupo que você está no que trocou a Umbanda pelo Candomblé (não
me importa o motivo) ou no que trouxe a Umbanda para o Candomblé
porque você tem eterna gratidão com esses guias?
Se
tiver no primeiro grupo então de fato esse texto não tem a ver com
você.
A
migração é impossível ou muito difícil por vários motivos, bem
simples de entender:
A
pessoa que decide sair da Umbanda para o Candomblé geralmente é
dirigente de casa ou tem status de pessoa antiga na Umbanda, é muito
raro os casos de noviços que decidem mudar.
Essas
pessoas com casa, seguidores, status, clientes ou frequentadores não
vai de jeito nenhum se conformar em entrar para uma casa de Candomblé
onde ele durante 7 a 10 anos não será ninguém, será um
subalterno.
Como
ele fica com a comunidade dele? Como ele para o que está fazendo ha
anos?
Não
existe caminho no Candomblé para uma pessoa de Umbanda que seja
dirigente virar dirigente no Candomblé. Como eu disse é outra
religião tudo o que ele tem na Umbanda vira poeira. Ele era general
e vira soldado.
Um
noviço no Candomblé não vai poder manter sua casa de Umbanda
funcionando. Se ele se inicia no Candomblé, tudo vai parar na
Umbanda seja porque ele vai virar subordinado de alguém e esse
alguém não vai permitir que ele como Iyawo mantenha uma casa de
Umbanda, seja porque na condição de recém-iniciado ele deve se
submeter a muitas restrições.
Sendo
ou não dirigente, estar no Candomblé como Iyawo e continuar a
trabalhar com guias de Umbanda não é certo e não deve ocorrer.
Um
noviço tem em cima da cabeça dele uma tonelada de restrições, ao
decidir se iniciar em Orixá ele abre mão do controle da vida
espiritual dele e se submete ao dirigente da casa de Candomblé até
cantar (atenção cantar, não é fazer) os seus 7 anos. Depois disso
vira um mais velho e ai passa a ter liberdades.
A
relação do Candomblé com seus frequentadores é a de controle
absoluto.
Na
Umbanda qualquer médium tem pouco controle e muita autonomia, claro
que depende de casa para casa, mas não é da tradição da Umbanda
submeter os médiuns a controles e regras como existe no Candomblé.
Essa
é outra barreira, a pessoa era autônoma na Umbanda, vai para o
Candomblé para ser controlado? Não poder fazer nada e ter que pedir
tudo para outro?
Então,
a pessoa vai para o Candomblé e nada disso ai ocorre? Então assim é
fácil, no mundo da enganação tudo pode.
Ok,
vamos lá sem muita agressividade.
Baseado
em todos os motivos acima explicados, migrar da Umbanda para o
Candomblé é bem complicado, você passa uma borracha na sua vida e
começa outra. Muitas pessoas fizeram isso com sucesso, muita gente,
mas muita gente mesmo de Candomblé já esteve na Umbanda.
Você
tem que entender os seus motivos e começar de novo.
Quanto
mais novo na Umbanda isso é mais fácil, quando menor sua posição
hierárquica na Umbanda mais certo será esse processo.
A
coisa não dá certo para as situações que eu descrevi.
Para
finalizar quero fazer umas afirmações:
Não
tem espaço no Candomblé para guias de Umbanda. Não tem espaço na
liturgia e não espaço no local físico do Candomblé. No Candomblé
tudo é dedicado a Orixá e tudo feito através de orixá.
Não
tem condições de uma pessoa participar de uma casa de candomblé e
participar de uma casa de Umbanda.
Não
existe a condição de um dirigente tocar Candomblé no fim de semana
e durante semana ele trabalhar com guias de Umbanda, isso não é
casa de Candomblé. Não existe a pessoa tocar Candomblé em uma
semana e na semana seguinte tocar Umbanda.
Ja
vi pessoas que mantêm 2 casas separadas, 2 espaços físicos
distintos e não ligados, uma casa de Umbanda e um terreiro de
Candomblé. Se a pessoa faz isso com médiuns diferentes é até
possível.
Já
vi gente que tem casa de Candomblé e escolhe umas datas por ano para
tocar Umbanda em homenagem a seus tempos de Umbanda, assim como casa
de Candomblé que toca anualmente para caboclo. Se forem poucas datas
de Umbanda isso será possível.
Qualquer
uma dessas religiões exige dedicação, preparação e trabalho.
A
prática de pessoas que tocam essas coisas simultaneamente é uma
prática comercial, essas pessoas visam dinheiro, essa é minha
opinião. Todos os casos que conheci eram porque a pessoa usava a
Umbanda como fonte fiel de dinheiro e porque sabiam pouco de
Candomblé. Quando você não conhece a religião, não tem as
folhas, não tem o oráculo e não conhece a liturgia o que resta é
apelar para a Umbanda.
Como
disse já vi vários modelos de convivência e várias experiências
de migração e é quase impossível escrever sobre isso sem arrumar
alguma confusão, mas, essas coisas têm que ser ditas.
Se
você é um curioso ou iniciante e está procurando uma casa tem que
saber dessas coisas.
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