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segunda-feira, abril 29, 2013

Teologia Yorùbá O Cosmo Yoruba - Parte 6

Teologia Yorùbá

O Cosmo Yoruba - Parte 6


Olódùmarè – A divindade suprema Yorùbá

 

Olódùmarè é o nome da divindade suprema Yorùbá. Não existe gênero definido para Olódùmarè, ele é deus. Assim, nos referimos a ele como a divindade suprema ou como o deus supremo.

Como o deus supremo, ele foi o responsável por criar tudo o que existe e é quem mantêm o Órun (ọ̀run) e o Àiyé funcionando. O poder ordenador das coisas naturais e supernaturais esta nas suas mãos. Ele é o senhor absoluto do Órun (ọ̀run).


Anteriormente no trecho do verso do Odù Óxé Otua (Ọ̀ṣẹ́-Otùwá) ficou demonstrado que Olódùmarè enviou os orixá (Òrìṣà) para o Àiyé para nos suportar. No trecho a seguir, também retirado desse verso confiável, o mundo perde seu controle, a prosperidade desaparece e os orixá (Òrìṣà) são incapazes de resolver, tendo que recorrer a Olódùmarè para que este reestabeleça o funcionamento do Àiyé.



Sobreveio uma seca na terra.
Tudo estava seco!
Não havia orvalho!
Fazia três anos que tinha chovido pela última vez.
O mundo entrou em decadência.
Foi então que eles voltaram a consultar Ifá,
Ifá àjàlàiyé”.
Quando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) consultou Ifá àjàlàiyé disse que deveriam fazer uma oferenda, um sacrifício, e preparar a oferenda de maneira que chegasse a Olódúmarè,
para que Olódúmarè pudesse ter piedade da terra
e se ocupasse dela para eles.
Porque Olódúmarè não se ocupava mais da terra.
Se isso continuasse a destruição seria inevitável;
era iminente.
Somente se pudessem fazer a oferenda,
Olódúmarè teria sempre misericórdia deles.
Ele se lembraria deles e zelaria pelo mundo.
Foi assim que prepararam a oferenda.
Eles colocaram:
uma cabra,
uma ovelha,
um cachorro e uma galinha,
um pombo,
uma preá,
um peixe,
um ser humano, e
um touro selvagem,
um pássaro da floresta,
um pássaro da savana,
um animal doméstico.
Todas as oferendas,
e ainda dezesseis pequenas quartinhas cheias de azeite de dendê
que eles juntaram nesse dia.
E ovos de galinha, e
dezesseis pedaços de pano branco puro.
Prepararam as oferendas apropriadas usando folhas de Ifá,
que toda oferenda deve conter.
Fizeram um grande carrego com todas as coisas.
Disseram então, que o próprio Èjì-Ogbè deveria levar essa oferenda a Olódúmarè.
Este trecho foi retirado do livro “Olodumare – God in Yorùbá belief” do Abolaji Idowu.

Na continuação do verso, todos falham em conseguir ir até Olódùmarè, eles encontram os portões do Órun (ọ̀run) fechados para eles. Somente Oxé tua (Ọ̀ṣẹ́tùwá) após consultar Ifá e com a ajuda de Exú (Èṣù) e de Ajé consegue ser bem sucedido em entregar a oferenda a Olódùmarè.



...Quando chegaram lá,
as portas já se encontravam abertas;
encontraram as portas abertas. Quando levaram a oferenda a Olódùmarè e Ele (Olódùmarè) a examinou,
Olódùmarè disse: "Haaa!
Você viu qual foi o último dia que choveu na terra?!
Eu me pergunto se o mundo não foi completamente destruído.
Que pode ser encontrado lá?"
Oxé tua (Ọ̀ṣẹ́tùwá) não podia nem abrir a boca para dizer qualquer coisa.
Olódùmarè lhe deu alguns "feixes" de chuva.
Reuniu, como outrora, as coisas de valor do Órun (ọ̀run),
todas as coisas necessárias para a sobrevivência do mundo, e deu-lhes.
Disse que ele, Oxé tua (Ọ̀ṣẹ́tùwá), deveria retornar...
Este trecho foi retirado do livro “Olodumare – God in Yorùbá belief” do Abolaji Idowu.

A prosperidade no mundo retornou após isso. Fica claro que Olódùmarè exercia acima de todas as demais divindades o controle sobre o mundo. As divindades eram impotentes sozinhas para trazer a prosperidade para o mundo natural e também as divindades não tinham acesso direto a Olódùmarè, somente Exú (Èṣù) tem esse acesso e neste verso Oxé tua (Ọ̀ṣẹ́tùwá).


A narrativa a seguir, também é encontrada no livro de Idowu. Segundo ele existe nos versos do Odù Ìròsùn Osó, mostra os orixás tentando obter o controle do mundo das mãos de Olódùmarè e falhando.


É uma narrativa muito interessante, mas, não tenho certeza de ter encontrado em outro autor além de Idowu. Creio que já vi, mas, nesse momento a obra de Idowu é a única fonte que posso citar.



“... Olódùmarè controla as estações e é claro os eventos. Ele é dessa forma o senhor do dia, isto é, cada dia deve sua existência a ele.
Ele é supremo sobre tudo no sentido absoluto...
... Ìròsùn Osó diz como as divindades – 1.700 fortes – uma vez conspiraram contra Olódùmarè. O assunto da disputa dizia respeito ao aspecto absoluto de sua autoridade e controle sobre tudo.
Eles cobiçaram seu status e questionaram seus direitos de tê-los.
Assim eles foram até ele, Olódùmarè, e solicitaram que ele deveria se afastar de sua alta posição.
Ele deveria em um primeiro momento, se afastar por 16 anos enquanto que eles, as divindade, teriam total e completo controle sobre o Àiyé e todos os seus assuntos.
Olódùmarè sabiam que eles eram tolos, mas concordou com a proposta deles.
Mas, disse que primeiro eles deveriam passar por um período de teste de 16 dias. Se fossem bem sucedidos eles ficariam com 16 anos de controle, como queriam. Todos concordaram.
Saíram da presença de Olódùmarè satisfeitos e foram se incumbir de suas novas responsabilidades. Tão logo eles deixaram a sua presença Olódùmarè desligou todos os seus mecanismos de controle e deixou o mundo natural na responsabilidade das divindades, assim como elas haviam solicitados.
Passados 8 dias, as divindades se deram conta da sua incapacidade. Tudo aquilo que eles tinham feito não dava certo. A chuva não caia, os rios secaram, as colheitas não brotavam, as folhas morriam.
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) foi consultado mas seu oráculo parou de responder.
A terra toda estava indo sucumbir.
Não restou nada às divindades que não fosse retornar a Olódùmarè e confessar a ele sua estupidez, reconhecendo sua força superior sobre tudo.
As divindades então cantaram:
Existem 1.400 divindade de casa
existem 1.200 divindades do mercado
contudo não existe uma divindade que se compare com Olódùmarè
Olódùmarè é o rei absoluto
Na nossa recente disputa
Èdùmarè foi quem venceu
sim, Èdùmàrè
... Nos versos de Odù, existem muitos dizeres que suportam essa afirmação, aqui esta um existente em Ìròsùn Òsá:
Ao senhor do Ori deve ser dada sua responsabilidade
Esta é a designação do oraculo para as 1.700 divindades
as quais devem render tributos anuais a Olódùmarè.”
Este trecho foi retirado do livro “Olodumare – God in Yorùbá belief” do Abolaji Idowu.

A narrativa deixa bem claro a capacidade suprema de Olódùmarè em controlar o mundo natural e sua supremacia sobre as demais divindades. Isso me leva a concluir que o modelo teogônico que se confirma é o de Olódùmarè ser uma divindade suprema e gênese da existência, ao invés de ser apenas uma divindade dominadora.


Alguns podem estranhar o motivo desse esforço em afirmar e demonstrar isso, mas, existem em alguns meios o questionamento deste modelo. O objetivo deste texto não é acadêmico e não me interessa aqui ficar explorando e contradizendo as demais teses. O modelo que esta sendo descrito aqui é um modelo consistente e que tem referências como bases, não são somente ilações.

Alguns podem gostar ou não das fontes ou gostar ou não das ideias, assim como também podemos gostar ou não das ideias dessas pessoas. Mas a construção coerente do cosmo Yorùbá é feita com os elementos que eu estou explicando e isso tudo se fecha completamente quando falamos do homem e das questão do destino e Orí.



A SEGUIR:  CONTINUAÇÃO DA DIVINDADE SUPREMA

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