O Candomblé versus os Cubanos e Nigerianos
Parte 1
Estamos vendo no dia a dia a chegada de nigerianos e cubanos, muitos ligados a Ifá, mas, também ligados aos cutos de Orixá dos seus respectivos países. Essas pessoas aportaram aqui no Brasil para resolver a sua vida pessoal e financeira, trazendo para cá a sua prática religiosa.Em todos os casos essas pessoas são sacerdotes profissionais. Vem para cá tendo a sua prática religiosa como profissão. Não são pessoas que vieram para o Brasil viver e trouxeram junto a sua prática religiosa. É o contrário, eles trouxeram a sua pratica religiosa para viver aqui. Bom, nem sempre viver, muitos fazem incursões periódicas trazendo os seus, valiosos, serviços.
No caso do culto de Ifá, considerando que nunca o tivemos aqui, qualquer coisa que se traga, esta valendo. Eu acredito que Ifá no Brasil vai desenvolver uma tradição própria, mas, isso leva tempo. Nesse momento o que temos disponível é a prática trazida por Nigerianos ou Cubanos, bem distintas entre si.
Estamos em um mundo globalizado, com fronteiras fracas, no qual é muito difícil se manter conceitos de regionalismo. Tudo se comunica. Eu me lembro que ha muitos anos atrás lendo um livro sobre aqueles tapetes orientais, feitos em diferentes regiões e países, o autor disse que no passado você poderia distinguir a origem de um tapete pelo seu desenho. Cada região tinha os seus padrões, mas, que isso já tinha acabado porque um via o trabalho do outro e incorporava novos desenhos aos seus.
O mesmo ocorre com a religião. Claro que religião esta ligada a sociedade que a gera, mas, muitas religiões estão se universalizando e junto com isso trazem conceitos originais da sociedade que as criaram para uma nova sociedade.
No caso da religião Yorùbá o processo é o mesmo. Existe um conceito que me refiro aqui que é o de Tradição religiosa. O Candomblé é uma tradição religiosa. Essa expressão "tradição" é uma colocação técnica e não coloquial.
Uma tradição religiosa é uma vertente de uma religião original que se especializa, que melhora, para se adaptar a uma nova situação. No caso Yòrúba a diáspora negra exportou pessoas com sua religião para outros continentes. Essa diáspora gerou 3 novas tradições religiosas, o Candomblé no Brasil, O lukumi em Cuba e o Voodoo no Haiti. Todas as 3 tradições voltadas para o culto de Orixá e muito similares entre si.
Essas tradições são expressões da mesma religião original mas que sofreram adaptações para a nova sociedade onde se estabeleceram. As tradições estão ligadas aos dogmas e teologia da religião original mas tem no seu dia a dia variações. Elas não desvios. Pelo contrário. Elas são especializações, melhorias voltadas para a nova sociedade onde se estabelecem.
Uma nova sociedade tem outros valores, outra ética e moral. Existem aspectos da sociedade geradora da religião que não poderão se refletir na nova sociedade Existem também aspectos liturgicos da religião que devem ser adaptados à nova terra.
É neste contexto que surgem as tradições religiosas.
O Candomblé é uma tradição e é a melhor expressão que a religião Yòrúba poderá ter aqui no Brasil. O mesmo vale para as demais nos outros países.
Assim é lastimável brasileiros que acham que faz algum sentido eles adotarem as praticas dos Lukumi que vem junto com os cubanos ou pior ainda a religião tradicional Yoruba trazida pelos Nigerianos.
No caso dos Nigerianos o que eles trazem é a chamada YTR ou Yoruba Traditional Religion - Religião tradicional Yoruba. A YTR é mais uma tradição. Lá na Nigéria ela representa o que sobrou da religião deles ou o que eles ainda lembram. Ela não tem nada de ser A PROPRIA religião original, é mais uma tradição assim como o Candomblé e o Lukumi o são.
Os africanos estão reaprendendo coisas à partir das tradições da diáspora.
Eu, como outros, tenho a opinião foi a forma como os Orixás tiveram para se preservar. Ao se estabelecerem no novo mundo a tradição dos Orixás se preservou. Se dependesse de ficar so na Nigéria a religião teria acabado, como, por exemplo, acabou a religiao Havaiana.
A diáspora representou assim uma estratégia dos Orixás preservarem a religião
Não se iludam, na Nigéria, é todo mundo cristão ou mulçumano. A YTR é a minoria da minoria. Essas pessoas que vem para cá não são nem os mais tradicionais ou conhecedores da religião. Esses, os tradicionais, os antigos, ficam lá tomando conta do seu povo. O que vem para cá ou não sabem nada ou sabem pouco e inventam o que não sabem.
Assim quem esta se associando com essa tal YTR esta adotando uma tradição que não foi adaptada para a sua sociedade e terra e ainda acreditando em pessoas que formação duvidosa.
Eu vejo como a expoência da ignorancia as pessoas que se ligam a YTR e acham que estão se ligando a religião original. Acham o máximo. Muitos entendem que por ser a tradição da Nigéria representa o que tem de melhor. NÃO É.
Não tem garantia de conhecimento. Não tem garantia de seriedade. Ninguém pode garantir que essas pessoas desconhecidas que aportam aqui trazem algo que de fato represente a pratica religiosa deles. Não acreditem que esta tradição trazida represente melhor a religião do que a tradição que já existe aqui.
Possivelmente essas pessoas não chegaram a conhecer o Candomblé, ou se conheceram não entenderam. Também tem o caso muito comum de pessoas que não querem se submeter ao período de formação do Candomblé, ao rigor das regras, à hierarquia e assim procuram essa alternativa que não tem nada haver com nossa sociedade e país.
Eu não tenho dúvidas que a YTR será a melhor opção na Nigéria para os Nigerianos, assim como o Candomblé e o Lukumi será a pior opção para os Nigerianos.
No caso dos Lukumi é um pouco diferente. Ele tem um padrão de formação e as pessoas são bem formadas nesse padrâo. Contudo o Lukumi será uma excelente opção religiosa para os Cubanos e lá em Cuba. Não para os brasileiros. É uma tradição que floresceu lá. Ela é muito sincrética, uma coisa que a gente aqui no Candomblé esta abandonando. Para os Lukumi é mais difícil, não é a toa que eles são chamados de santeiros.
No caso das cantigas o Yoruba dele é péssimo, inexistente. Eles misturam o Yoruba com a pronúncia do espanhol deles e criaram uma coisa ininteligível. Aqui no Brasil conseguimos no Candomblé preservar muito as cantigas e a lingua original.
Mas existem outros aspectos mais profundos e que diferenciam essas tradições.Minha opinião é que o culto de Orixá no Brasil é a melhor tradição de Orixá que alguém pode encontrar. Ir atrás do Lukumi é atraso de vida para brasileiros.
A coisa de fora NÃO é melhor do que a nossa.
Mas, é um fato a concorrência que o Candomblé vem sofrendo dos Nigerianos e Cubanos. O pior é se pessoas desavisadas e descompreendidas misturarem coisas das tradições como se fosse tudo a mesma coisa. NÃO É. Ainda esta em pequena escala mas alguns Ogan idiotas já ficam querendo cantar cantigas Lukumi em Xire como se estivesse fazendo algo de especial. Não estão, estão apenas prejudicando o Candomblé.
O que enfraquece o Candomblé são apenas questões internas que se originaram do processo de crescimento sem ordenação que a religião sofre. Sim tem muita coisa torta e isso impressiona mal as pessoas levando elas a achar que vão encontar alguma coisa melhor em outra tradição.
Uma das piores fontes de coisas tortas, mal feitas e desajustadas no Candomblé e devido a invasão de Umbandistas que não entendem de Umbanda e se metem dentro do Candomblé. É o pior tipo de pessoas. Sincrético por natureza e ainda achando que o que ele fazia na Umbanda era parte de uma religião afro-brasileira. Nem isso eles sabem, a Umbanda é uma religião brasileira e não afro-brasileira.
Essas pessoas sem conhecimento, regras e paciência tem trazido apenas porcaria para o Candomblé. Isso inclui sua presença e seus hábitos. Qualquer pessoa pode adotar o Cadomblé como religião. O que não se pode fazer é o que essas pessoas fazem querendo misturar a Umbanda dele como Candomblé. Eles não procuram uma outra religião, eles procuram incorporar mais uma coisa à pratica deles. Essas são um dos grupos de pessoas que enfraquece o Candomblé.
Eu vou transcrever no post a seguir um trecho do livro do José Beniste chamado Mitos Yoruba. É um capítulo final do livro no qual ele comenta sobre o assunto da introdução no Candomblé e também faz criticas aos rumos que a prática esta tomando
Eu recomendo que leiam o livro, é muito bom como tudo o que o Beniste escreve. O trecho que eu vou colocar aqui explica como foi que a tradição do Candomblé surgiu no Brasil e a partir dessa informação eu vou fazer mais comentários.
Ola companheiro, como vai ?
ResponderExcluirEsse post é pertinente e de muita importância, compartilho 100% com sua opinião.
Vamos esperar os próximos capítulos.
Um outro tema que muito me interessa é saber qual foi e o tamanho da influencia de ifa na evolução da tradição lukumi e/ou vice-versa.
Abraços,
Anderson.
Anderson,
ResponderExcluira posição do Beniste e muito interessante. Sim, Ifa e os Lukumi se misturaram...