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segunda-feira, dezembro 19, 2011

A comemoração do Natal e o Candomblé

Este texto foi publicado em janeiro de 2011.  Estou republicando o texto revisado, uma nova versão.  O momento é oportuno para as pessoas refletirem que opção elas fizeram.

Eu gostaria de colocar algumas posições sobre a questão do Natal e do Candomblé.

A chegada do Natal traz um certo dilema para os religiosos mais conscientes. Certamente não traz nenhum problema para aqueles alienados e inconsequentes. 

Mas, uma pessoa que durante todo o ano abre a boca cheia de dentes para se dizer sacerdote de uma religião como Candomblé deveria pensar muito em como se portar nesse período do ano. Afinal não pode existir nada mais rizível e sem cabimento do que pessoas que se chamam de sacerdotes do Candomblé, falando em menino jesus, presépio, louvando o nascimento do messias e salvador, citando a biblia, se dizendo espíritas, etc... 

Coisas que cabem muito bem a um católico praticante, a um padre mas não a uma pessoa que representa uma outra religião.

E não me venham com argumentos de ecumenismo, ou que respeita muito Jesus, ou que seus orixas estão baixo de Deus e Jesus, ou que já foi batizado naquela religião e por isso tem que respeitar pelo resto da vida. Isso, é no mínimo, ridículo. Todo sacerdote inteligente respeita as demais religiões, deve até se informar sobre elas, mas, jamais, por mais que conheça ou tenha conhecido se manifesta por elas.

A pessoa que é sacerdote de uma religião tem por dever transmitir e viver de acordo com a Fé que ela representa. Um sacerdote não é apenas um simpatizante ou um frequentador. Ele é um pilar da religião. Se ele tem Fé naquilo que representa ele deve viver a sua vida com os elementos de sua fé. Isso não significa que as demais religiões sejam ruins, significa apenas que em algum momento aquela pessoa fez uma opção por um modo de vida muito especial e por uma forma específica de compreender a sua existência.

Se enquadram na categoria de sacerdotes, os babalorixás, as iyalorixás, os egbon, os ogans e ekeji e todos os iyawos. Essas pessoas se iniciaram em ritos que as transformou em portadores de axé e dessa maneira sacerdotes, que de acordo com a estrutura clerical do Candomblé, tem funções específicas.

Para esses iniciados minha palavra é: dignifiquem a opção religiosa que fizeram. Transmitam a sua religião.  Se não conhecem a sua religião então, procurem aprender. Parem de citar a biblia e Jesus. Parem de citar Kardec. Isto é ridículo. Procurem na sua religião a fonte de inspiração para o que querem transmitir. Procurem na sua religião os exemplos que tem que dar.

Dessa maneira a primeira coisa que eu estou chamando a atenção é que sim, sacerdotes do Candomblé devem observar um respeito e uma distância de ritos natalinos católicos. Devem observar o que falam e se manter distantes dos acontecimentos religiosos. Nada de missas, novenas, e discursos falando de Jesus, Maria e toda a família. Devem se dar ao respeito e transmitir esse respeito.

O comportamento do Candomblecista não deve ser diferente das pessoas de outras religiões como Judeus, Hinduistas, Budistas, etc... Lembrem-se, existem muitas religiões no mundo e todos passam pela mesma situação. Eu não vejo Rabinos falando de Jesus e do nascimento do salvador, mas, vejo candomblecistas  falando isso.

Assim a primeira coisa é respeito e distância. Se você já foi católico e montou presépio, esqueça! Isso não te pertence mais. A gente não deve misturar nossas questões pessoais, origens e preferências com a prática do sacerdócio que deve servir de exemplo para outras pessoas.

Eu não vejo problema nos Candomblecistas incorporarem o Natal como uma comemoração de integração da família e de fraternidade. Existe na prática muito mais no natal de ser uma comemoração da fraternidade do que do catolicismo. Já é assim no nosso dia a dia.

Para a religião Yorùbá, a família é o núcleo mais importante. Tudo o que valoriza a família e exalta as relações familiares e fortalece os seus lações esta completamente alinhado com a religião Yorùbá. No Candomblé infelizmente isso é muito esquisito, por isso que eu em muitas coisas menciona e religião Yorùbá e não o Candomblé.

Religião é uma coisa para se cultivar em família, com toda a família. O templo religioso, o espaço religioso e suas cerimônias é uma lugar para ser frequentado pela família toda, todos juntos. A maior parte da casas transformou o terreiro em um lugar tão esquisito e tão ruim que muita gente não tem coragem nem de recomendar nem de levar sua família.

Esta errado o babalorixá que não respeita seus yawos como mães ou pais de família. Esta errado o babalorixá que faz com que a família religiosa seja mais importante que a carnal ou que as obrigações religiosas sejam mais importantes do que as obrigações, deveres e lazer familiar. A família é o núcleo mais importante na religião Yorùbá.

O Natal é assim uma excelente oportunidade para as pessoas de uma religião que valoriza a família e a descendência comemore e exalte isso. O Candomblecista deve se integrar ao Natal como a sua celebração da família e da fraternidade, porque um outro valor muito importante é o da sociedade. Uma pessoa é parte de uma sociedade e não existe sentido em uma vida sem que essa pessoa seja útil para sua sociedade.

O Candomblecista pode dessa maneira se integrar completamente ao período natalino, como uma oportunidade também sua, não deixando os seus seguidores perdidos entre a omissão e a adoção de ritos de outra religião. Deve se posicionar e ter apenas o cuidado de não se integrar aos católicos com a comemoração religiosa deles, que é apenas uma parte do Natal. Nada de referências a Jesus, aos Reis magos, etc... Se a pessoa não sabe o que dizer nesse período, procure primeiro aprender ou ficar de boca calada.

Festas, presentes, amigos ocultos, jantares familiares são bem vindos. Comemore seus amigos.

Quero lembrar a todos que Deus é uma palavra de todos, não significa Deus dos católicos. O Deus católico é Javé, ou Jeová. O dos candomblecistas é Olódùmarè.

E para os Umbandistas?  Fácil o Natal é uma festa também para eles. A Umbanda não é uma religião afro-brasileira, é uma religião brasileira e tem base católica. O Natal é um elemento perfeitamente absorvível por ela e seus sacerdotes podem se posicionar como quiser.


Contudo lembro a todos que o Natal não é uma festa católica em sua essência. O Natal é e sempre foi uma festa pagã, ou seja, não cristã. Montar arvore de natal, papai noel em trenó e com saco de presentes nas costas, não faz parte do catolicismo.


Quem quiser conhecer a origem do natal basta da uma googada e ver que o Natal não é uma festa católica é apenas uma festa que os católicos se apossaram, aqui alguns exemplos:




Ma, não vou falar aqui sobre sua origem e sim sobre o processo de como se apossaram dessa data, porque isso é importante.

A Igreja católica tomou conta do mundo ocidental, não somente pelo poder da palavra, competindo com outras correntes religiosas, mas, principalmente pelo poder da espada e da opressão. Isso não tira o brilho de sua mensagem ou de sua importância para formar pessoas melhores, mas, apenas foi um caminho sujo que baniu religiões e obrigou as pessoas à adotarem. Sempre existiram muitas religiões, várias delas com mensagens igualmente boas. Mas o catolicismo corrompeu o processo natural da história e competiu deslealmente. Nem mesmo o Islã fez isso. O Jihad é uma guerra interior, o Islã quer conquistar o coração das pessoas e por isso nunca proibiu o culto das demais religiões em lugares que foram conquistados por povos que eram mulçumanos (mesmo sendo essa religião oficial do estado).

Mas existiam tradições que eram muitos fortes no povo e não adiantava a imposição para acabar com isso. Nesses casos a Igreja usava a estratégia do sincretismo. Assim nas datas especiais de outras religiões eram criadas datas e comemorações católicas que se realizavam concomitantemente com os festejos concorrentes, com o tempo (dezenas e centenas de anos) e com a imposição em paralelo do catolicismo, as pessoas acabavam esquecendo da razão original e se fixavam somente na comemoração católica.

Foi assim com o hallowenn, o dias de ação de graças, o natal, etc...

Essa é a principal razão pela qual me oponho ao sincretismo. É um processo destrutivo. Não tem nada de riqueza cultural para a religião que perde. A cultura do povo pode se enriquecer com o sincretismo através da criação de novos movimentos e formatos, mas, nunca a religião.

domingo, dezembro 18, 2011

O oráculo e a Fé

O oráculo e a Fé


Os Oráculos permitem-nos dialogar diretamente com o divino através de suas divindades. 

Os oráculos serão empregados quando necessitamos da intervenção do divino em nossa vida e essa ajuda poderá ser feita através de perguntas e respostas diretas. Vamos exemplificar isso mais extensivamente adiante, mas, a base do oráculo esta na Fé de que o divino nos assiste.

Dentro do contexto religioso, um dos usos mais comuns desses oráculos é para a confirmação de tarefas e liturgias. Existem modelos, receitas e formulas pré-determinadas que são aplicadas para quase tudo o que se faz dentro da religião. 

As liturgias são aprendidas e repetidas conforme foram ensinadas. Os ebós (ẹbọ) são executados da forma e com os elementos que são tradicionais em cada segmento religioso ou casa. O aprendizado disso é parte do dia a dia do sacerdote na religião. Ele irá aprender na prática a forma de executar e empregar e isso irá compor a sua teoria, o seu conhecimento.

Como em todo ofício, existe um conjunto de conhecimentos que devem ser aprendidos e memorizados. Mas, nem tudo se resume a isso. Um sacerdote não é uma pessoa que segue receitas prontas determinadas somente por sua vontade. Sim, existem os métodos, formatos e fórmulas, mas, o divino participa do nosso dia a dia e o oráculo é a forma de dialogar com o divino para obter orientações do que deve ser feito para cada pessoa. 

Esta não é uma religião que tem um deus distante e que a Fé dos seus crentes deve se basear na esperança de ele o esteja ouvindo e na observação de sinais sutis de sua presença. Deus não existe porque os sacerdotes bradam para multidões suas palavras genéricas que são repetidas ä exaustão, estas sim velhas fórmulas que foram escritas por homens. 

A Fé nessa religião se baseia na presença contínua do divino na vida de seus crentes, na interação contínua de deus com eles e na certeza de suas intervenções e orientações individuais. O crente nos Orixá (òrìṣà) vive junto com eles, se dedica a essa crença, segue orientações de vida e também se submete a regras. Contudo junto essa sua demonstração de Fé ele recebe dos Orixá (òrìṣà) e de Olódúmarè.

O oráculo resume essa Fé de uma forma extraordinária e por isso é um dos símbolos maiores da religião dos Orixás (òrìṣà).

O oráculo significa a Fé do crente de que ele não esta sozinha e que é cuidado e acompanhado por seu Orixá (òrìṣà) e Orí. Revela o divino intervêm ativamente e de forma individualizada na sua vida. Revela que a Fé nisso esta cima de tudo e que ele acredita e segue as orientações que o oráculo traz para ele. Revela que ele acredita que as mudanças na sua vida ocorrida após essa consulta ocorrem através da intervenção do Orixá (òrìṣà) na sua vida.

O processo do Oráculo resume a Fé da religião.



sábado, novembro 19, 2011

Um novo dicionário e a Apetebi

Para a meia dúzia que le este blog, eu me lamento por não estar publicando com a frequencia que gostaria, mas, às vezes a gente se ve enrolado com trabalho, família e atividades demais. A melhor metáfora é aquele antigo malabarista de circo, que ficava girando pratos e mais pratos em cima de umas varas. Pois é, às vezes, a gente deixa cair uns pratos porque tem pratos demais rodando.

Mas, como eu já disse o conteúdo vai serguir com Obí. Enquanto isso tem alguns assuntos mais amenos para tratar.

Acredito que alguns podem ficar curiosos com o título desta publicação, mas isto é apenas uma cronica, ou pretende ser. Não sou nenhum fã do estilo, mas, sempre quis escrever uma, apesar de limitado pela minha restrita capacidade literária. Contudo, quem não tenta não erra. 

Ha alguns dias fui prestigiar o lançamento de um dicionário Yoruba-Português de uma pessoa que tenho muito apreço, poderia escrever muito sobre ele mas isso seria lugar comum, assim José Beniste não precisa de louvores. Foi um dia complicado, uma sexta, cinco da tarde, Cinelândia, sem dúvida me deu um pouco de trabalho estar lá, mas, nada que um pouco de boa vontade não resolvesse.

Sobre o dicionário posso dizer que é uma obra magnífica, de referência.Tenho alguns dicionários Yoruba, todos Yoruba-Inglês, e eu os uso. Eu sou uma pessoa que busco entender o que eu leio, o que rezo e o que canto. Assim, aprendi Yoruba, por vários meses, com ele e depois parti para o meu voo solo de tentar entender o que falo. 

Sem querer desestimular os neófitos é um trabalho muito dificil. Não é como se faz em outras linguas que basta um dicionário do lado ou um tradutor on-line. Você tem que de fato aprender a estrutura da lingua, a gramática dela e principalmente a forma de usar. Só depois disso consegue fazer alguma coisa. 

O Yoruba tem estruturas complicadas e esse é o motivo desse monte de tradução lixo que tem por ai, como as que o Sr. T'ogun fez para o José Flavio nos 2 livros deles, O banquete do Rei e a Fogueira de Xango. As traduções são péssimas, aliás uma pessoa que diz que fala Yoruba jamais colocaria no nome esse "T", significando "de".

O motivo é simples, não existe essa estrutura de dizer que Fulano Ti Ogun. Isso não existe na lingua, basta dizer, Fulano Ogun, esta implícito que a pessoa é de Ogun. Dessa forma toda essa legião de Pais de Santo que não sabem o que falam,  o que catam e o que rezam, ainda colocam esse Ti no nome, registrando assim a sua ignorancia.

Pois é, não acreditem que esse pessoal de candomblé tem idéia do que canta. Não tem. Mal sabem repetir o que ouvem.

Mas o Beniste é uma pessoa dedicada. Conhece muito o Candomblé e se especializou na lingua. O Dicionário dele é um legado fundamental de uma pessoa que sabe profundamente o assunto. Foi feito com dedicação, carinho e conhecimento. Já o usei algumas vezes e ele torna os demais obsoletos, incluindo os feitos pelos Nigerianos.... porque o dele vai direto para o Português.

Mas, voltando a minha cronica, estava eu lá no lançamento do livro e tive que cumprir uma daquelas missões impossíveis. A pedido de um amigo fui eu entrar na fila de autógrafos para que o Beniste fizesse uma dedicatória para esse meu amigo, que não havia ido ao lançamento, e tinha me dado a incumbência de obter isso.

Caraca, programa de indio, daqueles com carteirinha da Funai e tudo o mais. Então, lá fui eu para dentro daquela fila, que apesar de pequena simplesmente não andava. Claro, na frente, junto a mesa dele, aquele bolo de gente que acha que esta acima dos demais que ordeiramente formaram uma fila. Contudo, eu estava investido de uma missão maior, se não pegasse aquela dedicatória teria outros problemas de consciência, se bem que, tenho que confessar, quase sucumbi a racionalidade e ido embora. Mas, se tivesse desistido não teria chegado à Apetebi...

Sim, nesses momentos ficam aqueles 2 diabinhos no ouvido da gente, como nos desenhos do Tom e Jerry que eu assistia nas matinês de domingo de manhã (sim gente, não parece, mas isso eu vivi..), ou então a versão mais moderna, que vi no Piratas do Caribe 3, se não me engano, com os 2 mini Jack Sparrow falando no ouvido dele.

No meu caso um dizia: "- mané vá embora, isso está ridículo, invente uma historia e acabe com essa tortura".  O outro dizia: "- Não! você se comprometeu a pegar isso, já esta aqui, então faça a sua parte, o que são esses minutos na sua vida!". E com esse conflito ficava eu imóvel, por dezenas de minutos sem que a fila avançasse um metro.

Tenho que confessar que o número 1 quase me convenceu, mas, foi um "quase", fiquei eu lá estático na fila. Sem ter muito o que fazer já que alguns conhecidos ficaram bem atrás. Assim na minha missão fraternal, eu não pude deixar de ouvir uma animada conversa atrás de mim. Pois é, sem ter o que fazer não pude deixar prestar atenção na conversa deles e de notar que falavam sobre uma situação ocorrida com uma pessoa do Candomblé. Eu não estava atento a conversa deles desde o início, mas o termo Apetebi me despertou a atenção porque foi falado diversas vezes incorretamente, chamaram de IyaPetebi.

Eles comentavam uma situação ruim, na qual uma pessoa antiga do Candomblé, não sei se Iyalorixá, Ekeji ou Egbon (não deveria ser uma Iyalorixa...), havia passado, uma coisa   constrangedora. Entendi que ela havia se iniciado como Apetebi e, em determinada ocasião, provavelmente uma festa ou  fim de um Xirê (entendi que ela estava em um evento social ou em um Candomblé), ela foi se sentar a mesa quando um Babalawo presente se dirigiu a ela, rispidamente e disse que ela não poderia sentar na mesa que ele estava. Ele era um babalawo e ela como Apetebi não poderia ficar lá.

Segundo os que conversavam, a senhora botou o galho no saco e se submeteu aquela descompostura saindo da mesa. Eles comentaram que não achavam que aquela pessoa já velha e com tanto tempo de Orixá não deveria ter se submetido aquilo.

Não pude saber quem era ou com quem foi porque a conversa deles mudou de caminho e a fila finalmente andava, o que e tirou a atenção, naquele momento estava mais preocupado que mais um mal educado, se metesse à frente, mas o fato relatado me chateou muito e não dá para eu ficar calado, aqui, já que lá eu não me manifestei. 

Gente, isso é um absurdo!. Claro que posso entender que o Babalawo esta fazendo aquilo da mesma forma que muitos Babalorixás fazem com Iyawos por ai, certamente gente que tem pouco a agregar como pessoas humanas e que devem ter sido inferiorizadas, se sentindo menor na vida e que precisam disso para achar que são alguém.

Contudo uma pessoa de Candomblé, que tenha sido feita, que seja Iyalorixá, Egbon,  Ekeji ou até mesmo Iyawo não tem motivos para querer ser uma Apetebi. Isso é ridículo! essa pessoa esta regredindo na sua religião. Elas estão fazendo uma opção por uma coisa menor do que elas já são, estão se metendo em um culto diferente do culto delas, um culto masculino, para terem um função menor. Sim MENOR.

Qualquer Iyawo que tenha sido de fato iniciado, que tenha passado por tudo o que passou e que esteja cumprindo os seus anos com esforço e dignidade será sempre muito mais do que uma Apetebi. Ser de Ifá não me faz pensar diferente, porque a gente tem que dar valor ao que sabe.

Além disso estão dando espaço para que uma pessoa de fora da sua sociedade e cultura as trate mal. Acima de cargos idiotas existe o respeito a uma pessoa de Orixá com anos de idade e de feitura. Isso esta acima de tudo. 

Assim, é lastimável para o Candomblé, que senhoras ou iniciados estejam procurando um outro culto que não seja o seu culto de Orixá. Somente uma pessoa mal informada faria uma coisa dessa. Somente uma pessoa que não tenha o carinho  a atenção do seu babalorixá faria uma coisa dessas. 

Os Babalorixás e Iyalorixás devem estar atentos porque se isso ocorre com uma pessoa da sua casa é porque essas pessoas estão fracassando na sua missão como sacerdotes desse culto. Eles devem entender que são ninguém, que não são nada.O que justificaria uma pessoa sair do seu culto para ter uma função inferior e outro, uma função que exige muito menos esforço e sacrificio?

O Candomblé tem que prestar atenção nisso. Se já não bastasse essa ridícula mistura de Candomblé com Umbanda, essa coisa menor e errada que esta acontecendo com casas de Candomblé recebendo debaixo de suas cumieiras Exu e Pombo-Gira, ainda vai ser necessário aturar migração de elegun para Ifá?

Outro aspecto da conversa que mostra como as pessoas do Candomblé precisam ter atenção na sua própria religião, é que essas pessoas que estavam conversando usavam a palavra Iyapetebi.  Ou seja elas nem sabiam que a palavra certa era Apetebi e que não tem nada de Iya nesse cargo.

Assim eu não sabia o que era pior. Se a história de uma pessoa velha de idade e de orixá ser desrespeitada por um Cubano ou dessas pessoas chamarem ela de Iyapetebi.


Assim o Candomblé com essa legião de gente sem formação de candomblé, com pessoas que ocultam conhecimentos simples como se fossem fundamento e que ensinam coisas erradas, esta se afundando. Sim, afundando, quando permite que debaixo de uma cumieira de orixá trabalhem Exus e Pombo-giras. Esta se afundando quando não consegue entender o mínimo de um outro culto. 


Ocultar informação e conhecimento não vai melhorar o Candomblé. O que vai ajudar o Candomblé é as pessoas saberem mais,

Nesse momento, minha salvação foi que finalmente cheguei ao Beniste e consegui a dedicatória.

Apesar de não poder dar nomes aos bois, porque não os sei de fato, fica aqui minha indignação e alerta.

sexta-feira, novembro 18, 2011

Livros sobre Obì

Livros sobre Obì

O oráculo de Obi é muito interessante e completo. É usado no dia a dia do Candomblé por qualquer pessoa e com diversas finalidades. Conhecer o uso desse oráculo é importante para qualquer pessoa no Candomblé e esse conhecimento não tem restrição de uso.

Vou relacionar a seguir os livros disponíveis sobre Obì e a minha opinião sobre eles:

1 - Awo Obi - Obi divination in theory an practice - Baba Osundiya

Sem dúvida um dos melhores livros sobre Obì. Um trabalho bem completo, com linguagem clara e conteúdo bastante extensivo. Explica sobre o uso do Obì e também sobre o oráculo em geral. Obra de referência e único livro que vale a pena ser comprado

Explora todos os aspectos de se consultar o Obi, em detalhes. Explica isso gradativamente adicionando mais detalhes e complexidade.

Ele coloca ainda explicações sobre outros aspectos ligados à consulta de Ifá que tem utilidade mais ampla, como a interpretação dos estados de Ire e Ibi e ebós. Ele inclui a melhor explicação sobre o uso do opon que eu conheço, muito diferente da coisa inutil e sem objetivo que o Epega faz.

O livro é bem editado e impresso. É um livro útil para quem quer entender também Ifá. Quem le o livro não só aprende bem a base da interpretação como aprende outras coisas ligadas a Ifá.

Todos os aspectos que uma pessoa precisa entender e que estão envolvidos em uma consulta com o Obì ele explica. Não é preciso perder muito tempo aqui elogiando, o livro é muito bom.

O único problema é que esta em Ingles.

2 - New World Obi Divination - Awodele Ifayemi

Livro em formato digital, um PDF. Pode ser adquirido diretamente no sítio do autor o Ileifa.org.

É apenas uma cópia descarada do livro do Baba Osundiya. Exatamente igual, mas, como menos detalhes em alguns pontos. Na maioria dos trechos é uma cópia literal. Eu não vejo problema em se produzir material usando outros autores como referência uma vez que o conhecimento da religião é o mesmo, mas, aqui é cópia mesmo.

Tem mais figuras o que facilita a explicação.  Não adiciona nada mas é um material bom porque copia o melhor livro.

Também em Inglês.

3 - Obì - Oracle of Cuban Santería - Ocha ni lele

Foi o primeiro livro que li. É um bom livro, bem voltado para a tradição Lukumi. as explicações são um pouco extensa e prolixas o que cansa (é o jeito do Ocha ni lele), parece mais para encher conteúdo, mas, a abordagem é decente.

É diferente do livro do Baba Osundiya, aqui ele e se limita a explicar as 5 posições básicas e o método de Apere ti que é a associação de resposta com a formação gráfica da caída.

A forma como ele explica, como eu disse, é bem voltado para a interpretação lukumi que é realizada com a casca de coco, por isso ele não explora Obi como Obi, é mais um livro voltado para usar as cascas de coco.

Também em Inglês.

4- Obi divination - Afolabi A. Epega

Sem dúvida o pior livro já feito sobre Obi. Uma enganação. Não explica nada, muito fechado com receitas prontas. Feito para idiotas. Esse é o tipo de livro que me faz pensar que esses Nigerianos acham que nós somos todos idiotas.

É um livrinho fino que não faz falta a ninguém. Aliás esse Epega é co-autor de outra pérola do mau gosto que é o livro que fez com o Newmark.

Também em Inglês.

5 - Obi, O Orixa da boa sorte - Orlando J. Santos

Primeiro livro em português sobre o assunto. Certamente qualquer coisa que eu escreva aqui que não seja um elogio vai me dar um trabalho danado depois.

O autor tem seu mérito. Fez uma produção própria e bem-apresentada graficamente. Acompanha um CD com catingas e rezas. Isso torna um livro mais caro.

Ele fez um bom trabalho de organização e estruturação. Reuniu os mitos e conduziu o assunto de forma adequada. Ele tem a característica de ser muito autoral e encher o livro com seus comentários pessoais sobre situações do dia a dia da religião e até pessoas (não nomeadas) o que nada tem a ver com ensinar o oráculo, mas, é o jeito dele. Tanto aqui como no outro livro sobre Ori, estão cheios de "opiniões".

Ele se deu ao trabalho de reunir as rezas que considera adequadas e suas traduções fazendo um bom trabalho nisso. O livro também tem fotografias que facilitam o entendimento do texto.

Na minha opinião ele se engana em 2 pontos. O primeiro foi basear o seu livro no do Epega (nesse mundo nada se cria), que é uma referência ruim. Sim, ele pegou o livro ruim do Epega, que é uma referência conhecida deste assunto (antigo) e fez uma tradução e reorganização.

Se tivesse feito isso usando o livro do Baba Osundiya como base (como fez o Ifaiyemu) teria feito um trabalho muito melhor porque o Epega fez um trabalho muito ruim.

Assim ele não explora alguns aspectos relevantes do uso do Obì que o Epega não o faz.

O segundo foi ter focado muito em relacionar as caídas com Ifá, como o Epega faz também, com igual importância como o Epega fez. Ou seja, ele segue o que o Epega fez. Existe de fato a indicação de que se pode tirar Odù através do Obì, mas, Obì não foi feito para ser usado com Odù. É justamente o contrário é para ser usado sem invocar Odù e por pessoas que não sejam de Ifá, pessoas comuns mesmo. Para mim essa é uma abordagem inadequada.

Ele dedica metade do livro a essa abordagem enquanto deveria ter se concentrado no que é comum e simples e que qualquer pessoa teria a propriedade de fazer. Não entende que se distribua como sendo de uso comum coisas que fazem parte da atribuição do Bàbáláwo.

Se um babalawo precisar de usar Odù vai usar o seu Opele. Não vai usar Obì para definir um Odu. Uma pessoa que não seja de Ifá não tem sentido em interpretar como se fosse Odù. 

O Osundiya foi muito mais cuidadoso em explorar o assunto Obì com a finalidade de explicar e incluiu a questão do Odù sem dar nenhuma enfase a isso e fez um livro ótimo.

Para quem não sabe ler Inglês sem dúvida esse livro, esse livro é uma opção de compra porque é a única em portugues, mas eu não usaria ele livro para aprender nada.

6 – Oráculos Yorùbá, dos búzios a Obì – Bàbáláwo Marcos Arino

Pois é, esse é o meu livro sobre esse assunto.

Foram muitas anos de pesquisa sobre o tema para desvendar tudo que envolve o uso do Obi. Também conversei com pessoas e pratiquei isso meses a fio. Cada coisa que tem no livro representa algo que foi longamente testado na vida real.

O livro mostra a forma como Ifá faz a leitura e mais explora todas as formas de consultar o oráculo. Além disso também explica outros oráculos de confirmação.

Apesar de eu ser o autor, não tenho problema em afirmar que esse é o melhor trabalho sobre esse tema. É o mais claro e mais explicado.

Esta em português e é melhor do que todos os anteriores.

quinta-feira, novembro 17, 2011

Mitos de Obì II

Mitos de Obì II

Continuando a falar sobre o Ibì, a seguir mais alguns mitos, incluindo versos de Ifá, de Origem Nigeriana.  É importante insistir nos mitos porque eles são a forma de transmissão de conhecimento desta religião.

O mito seguinte é mais um Pataki, o último que considero relevante sobre o Obi. Ele é um pouco confuso como todo pataki o é (incompleto e mal escrito). A gente tem que usar muito criatividade para transcrever.


A associação de Obì com Oxé Ireté

Certa vez Olófin, Odudua e Órunmilá vieram ao mundo para ver como andavam as coisas por aqui. depois de muito andar viram uma choça, à qual chegaram para pedir água, tocaram à porta e abriu-lhes o morador da aquela choça, que não era outro senão Oxé Bile ao qual pediram água.

O homem trouxe-lhes a água em uma cabaça e o ultimo em tomar foi Olófin, mas por meio de seus poderes, quando devolveu a cabaça esta estava cheia de água outra vez. 

Então, Olófin disse-lhe, você quer que lhe conceda um poder? 

Mas, nesse momento Órunmilá disse: só que para ter este poder, você tem que se associar a outra pessoa. 

Então Olófin perguntou-lhe: qual é teu desejo?

Oxé Bile respondeu: eu quero ter o poder de me comunicar com você e o que eu peça a você seja atendido. Concedido este desejo os três caminhantes prosseguiram o seu caminho.

Seguiram caminhando e encontraram-se com Obì e Olófin pergunto-lhe: O queque ocorre com você? 

Obì disse que, ninguém se preocupa comigo, eu quero ser útil!
Então Órunmilá lhe disse: mas alguma coisa lhe faltará. Olófin lhe disse para saudar Exu (èṣù) e eles se foram.

Pouco tempo depois eles voltaram a terra para ver como seguiam as coisas. Foram à choça ver se Oxé Bile, o homem, seguiam sem fazer nada. Seguiram caminhando e foram ver Obì, o qual seguia orgulhoso mas triste e sem fazer nada.

Passou o tempo e Obì decidiu ir ver a Órunmilá o qual lhe disse: Olófin deu-me um poder, mas não o vejo.

Então Órunmilá voltou a dizer, é que lhe falta algo.

E Obì lhe respondeu: como você pode saber mais que Olófin? E se afastou aborrecido.

Passado algum tempo Obì voltou onde estava Órunmilá outra vez e lhe disse: Órunmilá, Olófin enganou-me, pois sigo igual que antes, Órunmilá lhe respondeu: Olófin não te enganou, é que em realidade te falta algo. 

Obì disse: O que é o que me falta? 

Órunmilá lhe respondeu por aqui precisamente devias ter começado, vai por esse caminho e ao final encontrará uma choça, toca a porta e se une ao dono para que possa chegar a este mundo o que Olófin o concedeu.

Obì partiu para a choça, tocou a porta e perguntaram, quem é?
Obì respondeu, sou eu, Obì. 

Entre (lhe respondeu o morador). quando entrou Oxé Bile lhe perguntou: O que é que o senhor deseja ? 

Obì lhe respondeu, Órunmilá mando-me aqui para que eu me associasse com você e venho buscá-lo. Estão nos esperando na terra de Ifá para que você vá comigo.
Oxé Bile respondeu. eu não posso caminhar, mas se você me levar carregado, eu vou contigo.

Então Obí jogou-o em cima e partiu. Quando chegaram havia uma grande epidemia, então Obì começou a adivinhar e no que Obì falava ou explicava como curar as doenças, Oxé Bile falava com o céu onde Olófin o escutava e assim foi como o povo se salvou.

Em agradecimento fizeram-lhe uma grande festa a Obì, onde ele comeu e bebeu sem se ocupar do homem, Oxé Bile, que havia deixado atirado no solo.

Depois disso Obì se foi para outra terra onde Ogun governava e mantinha uma grande guerra com seus inimigos. quando chego ali Ogun lhe perguntou: eu vou ganhar a batalha ?

Obì lhe respondeu, pode ir com confiança e sem problemas, que a vitória sera sua.
Ogun foi à guerra confiando na palavra de Obì e perdeu a batalha, quando regressou a primeira coisa que fez foi ir buscar a Obì e o surrou de tal maneira que quase o destroça.

Foi nesse momento que Obì se lembrou de Oxé Bile e voltou para ir buscá-lo. Quando o encontrou lhe disse, perdoe-me o esquecimento mas como é que você caiu? 

Oxé Bile lhe respondeu: enquanto você se divertia e se fartava eu estava passando fome.

Então Obì voltou a pedir perdão e Oxé Bile disse: vamos fazer um pacto, antes de você falar tem que me chamar, para que o que você fale aconteça e assim não se esqueça mais de mim. Assim Obì lhe respondeu, aceito, assim sera até o final do mundo.

            Versos de Ifá sobre Obì

 

Saindo um pouco da tradição cubana e indo para a tradição Nigeriana de Ifá, podemos recorrer aos versos de Odù ao invés dos Patakis. Encontramos versos igualmente ricos e afirmativos sobre a importância e natureza do uso do Obì.
Retirado de Ọ̀ṣẹ́ Ìretè

O cachorro latiu e latiu
O cão não poderia fazer Obì sua comida
Os ancestrais dos cães não comem nozes de cola
Qual seria uso do Obì para o cão?
Òṣébì sílẹ́
Seu Babaláwo em Ìṣébìrún
Consultou Ifá para eles na cidade de Ìṣébìrún
A criança é quem usa um grande número de noz de cola como oferenda para Ọlọ́fin
Ifá diz que é uma questão de cortar as nozes de cola em pedaços
Eu também digo que é uma questão de cortá-las em muitos pedaços
Ifá diz que sempre que nós acordamos
Devemos usar Obì para oferecer aos nossos antepassados
O poliglota disse sempre que nós acordamos
Devemos usar noz de cola como sacrifício ao Ọ̀run para o inevitável
Porque quando os pedaços de Obì alcançam o Ọ̀run
Quando os pedaços de Obì tomam o caminho eles se tornam um todo
Quando os pedaços de Obì alcançam o Ọ̀run, eles se tornam um só
Ifá foi consultado para Abítulà
Abítulà o filho de Agbonniregun
No dia em que refletiu sobre sua vida
Ele estava chorando por causa da falta de ter todas as coisas boas da vida
Um sacrifício foi prescrito como a solução, para ele executar
Abítulà ouviu sobre o sacrifício
Ele ofereceu com presteza
Portanto Abítulà é o filho de Ikin
Isso foi quando ele dividiu o Obì que ele se tornou rico
Abítulà é o filho de Ikin
Foi quando ele dividiu Obì que ele teve uma esposa para se casar
Abítulà é o filho de Ikin
Foi quando ele dividiu Obì que ele teve um filho
Abítulà é o filho de Ikin
Foi quando ele dividiu Obì que ele construiu uma casa
Abítulà é o filho de Ikin
Foi quando ele dividiu Obì que ele teve todas as boas coisas da vida
Abítulà é o filho de Ikin
Foi quando ele dividiu Obì que ele não morreu de novo
Abítulà é o filho de Ikin

O que Ifá diz aqui é que tudo aquilo que falta a um homem ele poderá, através de uma oferenda diária de um Obì para os seus ancestrais, pedir pela ajuda destes para ajudá-lo a obter e ter uma vida melhor.

Esse verso mostra como é importante a presença e participação dos ancestrais, egun, na vida e no culto religioso dos Yoruba. Aqui na diáspora, isso ficou abandonado e substituído pelos Orixá (òrìṣà). Em parte esta atitude é justificada porque os laços ancestrais foram quebrados no diáspora, as famílias e aldeias separadas. Por outro lado também é um aspecto da religião que se perdeu.

Retirado de Ọ̀ṣẹ́ Ìretè
Adegúnjú é o Babaláwo de Aláràán
Ìtámùjẹ́ é o sacerdote de Ìtàmupo
Ọ̀kọ́ é a que trouxe Obì para o mundo
Gbagi é a que encontrou Obì no caminho
Ifá foi consultado para centenas de divindades
No dia em que todos resolveram enviar Obì em uma missão
Portanto Adegúnjú saltou e configurou-se em quatro
Obì também saltou para formar um formato de quatro
Aláràán saltou e formou ele mesmo em quatro
Obì também saltou e se formou em um formato de quatro
Mas é somente Obì que irá transmitir a mensagem corretamente
Daí a missão que enviaram Obì
Deixe Obì contá-la bem
A mensagem que enviamos através de Obì

Tanto os Pataki da tradição cubana como os versos de Ifá da tradição Nigeriana caracterizam muito bem o papel único e especial de Obi na transmissão de mensagens das divindades. 

O papel de mensageiro da verdade cabe apenas a ele. Não será uma Cebola ou um coco que irá substituí-lo. Assim, que perdoem aqueles que acreditam que pedaços de coco, cebolas ou búzios colados em casca de coco podem substituir um Obì

Para acreditar nisso a gente tem que ignorar essas histórias e versos e se isso pode ser relativizado qualquer outra coisa pode.

Somente Obì  tem a missão de trazer a verdade absoluta. Somente nele é que podemos confiar que a verdade esta sendo dita. No que diz respeito ao Candomblé usando a cebola eu tenho certeza disso, porque qualquer pessoa pode manipular ela para obter o que quer.

Outro aspecto que as pessoas de Ifá devem ter atenção é o vínculo entre Obì e o Odù Oxé Irete (Ọ̀ṣẹ́ Ìrẹ̀tẹ̀). Ele sempre deve ser invocado antes do uso do Obì. Existem outros Odù que também o devem e explicarei mais adiante.


Para os que estão acompanhando essa série, no próximo texto vou fazer uma avaliação de cada livro sobre o assunto.


segunda-feira, outubro 31, 2011

A importancia que devemos dar às liturgias

A importancia que devemos dar às liturgias


Uma das questões mais importantes e mais renegadas pelas pessoas que desejam participar de Ifá ou do Candomblé é a questão da importância da seleção de quem faz ou onde se faz as liturgias. Escolhas erradas vão trazer consequencias para o resto da vida daquela pessoa.

Mas para não trazer confusão ao tema vou tentar abordar isso de forma estruturada.

O primeiro elemento que todos devem ter atenção é a questão da religião iniciática. Existem religiões que não exigem iniciações, basta você entrar no tempo e rezar e sair a hora que quiser. Muitas religiões são assim. A religião católica é uma misto. Claro que você pode entrar na igreja a hora em que quiser, mas para participar da religião você passa por iniciações. A religião católica é iniciática. O islamismo, outra religião da mesma raiz e do mesmo Deus, tem uma pratica comum e uma iniciática. Os sufistas representam a parte profundamente mistica da religião.

No caso das religiões africanas que conhecemos elas são iniciáticas, assim, existem liturgias que são feitas para a pessoa iniciar sua participação. Essa liturgias visam a estabelecer ligações da pessoa com as divindades e também com a casa em que elas participam. Tudo isso é feito através de um sacerdote de maneira que a pessoa estará ligado à divindade ou a casa através de um sacerdote ou iniciador.

Este é o primeiro aspecto a ser observado. Ifa e Candomblé são religiões iniciáticas. Esta é a realidade de hoje. A pessoa não pode usar o mesmo modelo mental que usa para o catolicismo no qual todo mundo se batiza e depois faz da vida o que quer. Não se sente ligado a nada e a ninguém. Apenas acha que cumpriu uma obrigação social.

Essas religiões africanas não são assim, você não entra e sai como quiser sem que isso tenha consequencias para você. A coisa é muito séria.

As pessoas tomam a decisão de se iniciar por diversos motivos, nenhum deles os corretos ou nenhum deles no momento correto. Acho que no fundo existe uma vaidade muito grande, porque só isso explica uma pessoa decidir de iniciar com uma pessoa, em uma casa ou em uma religião que mal conheceu.

Mas do lado do sacerdote também existe muita imposição. O participante é empurrado para uma iniciação.

No meu pensamento, isso deveria ser diferente. As casas deveriam ter formatos para permitir a participação de pessoas com diversos níveis de envolvimento. A pessoa deveria poder ser um membro da casa com privilégios distintos. O formato hoje é muito restritivo e a pessoa pu é cliente ou é filho de santo, sendo abian (noviço, não iniciado) uma condição temporária que rapidamente deve ser mudada.

A existência da condição "cliente" é péssima. Nenhuma religião merece isso e somente tendo muita cara de pau você consegue achar que é normal um babalorixá chamar pessoas de clientes dele.

Os simpatizantes deveriam ser em grande número e incentivados. Eles deveriam ter acesso a atividades da casa, públicas que não fossem apenas festas e Xirês. Eles deveriam ter informação e ter contato com os Orixás.

Hoje em dia assistir a um Xire é ótimo, o axé esta em movimento, mas, poucos entendem o que esta ocorrendo lá. Poucos compreendem o formato, as musicas e as danças.

O status de uma pessoa na religião deveria evoluir com sua participação. Cada degrau deveria ser natural e ninguém tem que ser motivado a trocar de degrau. A cada degrau corresponderia um nível de envolvimento om a religião e com a casa.


Hoje já existem alguns tipos de iniciação. A feitura de Orixá é a mais definitiva e profunda, mas outras liturgias podem ser feitas sem gerar um vínculo tão extremo como a feitura. Isso pode ir de uma lavagem de contas a um bori e ainda com variações incrementais, assentamentos, sem que se faça uma feitura.

Mas tenham cuidado, ao se envolver com o Candomblé você será levado a uma iniciação e muitas pessoas nem entendem o que isso significa.

Cada tipo de liturgia determina o tipo de ligação que a pessoa estabelece com a religião. Como eu citei a feitura é a mais radical delas e NUNCA deve ser a primeira opção de ninguém. Uma pessoa deve passar por outros tipos de liturgia antes de decidir fazer uma feitura. Uma feitura é uma violência se feita para uma pessoa que nunca fez nada antes. Ninguém deveria sair da rua pisar em um terreiro e decidir ou ser decidido a fazer uma feitura.

A vida religiosa deve ser uma evolução. A pessoa deve frequentar uma casa, se envolver com a religião, aprender o que ela tem a transmitir, sentir que aquilo muda a vida dela e naturalmente dar um ou outro passo em algum tipo de iniciação. Os passos devem sempre ser pequenos e cuidadosos. A pessoa inteligente deve preservar a capacidade de se mover de lugares caso não goste da casa ou das pessoas da casa que decidiu frequentar.

A primeira coisa que se busca em uma religião é conforto e orientação. Você busca uma forma de ver a vida. Para isso é preciso informação, orientação e ternura. Todo mundo quer ser bem tratado.

O que menos se encontra em uma casa de Candomblé é informação, educação e ternura. O que mais se encontra é arrogancia, ignorância e pedantismo. Assim pense bem antes de entrar em um "quartel do mal". A religião é ótima e os Orixás são puro amor. Mas a natureza humana é a mesma e alguma coisas são exacerbadas ali dentro, assim, avalie bem se o ambiente que você esta frequentando faz bem para você.
Não bastam os Orixás. Eles estão em todo o lugar. Avalie as pessoas, a educação delas e o respeito ao próximo que elas demonstram. Essa tem que ser a primeira avaliação.

A seguir vem a questão do axé. O que ser recebe em uma casa além do que já falei é axé. Axé é a energia de vida que esta em tudo que nos rodeia e em todo o ser vivo. Em uma casa temos a oportunidade de equilibrar o axé e de recebermos o axé que necessitamos para compensar o que perdemos.

O fato de estarmos na casa participando de liturgias e Xires já nos permite isso. Claro que uma casa para preservar o seu Axé a proteger seus membros estabelece algumas barreiras para entrantes e não é qualquer pessoa que poderá participar de suas liturgias. Para você se habilitar deverá então dar os passos de iniciação.

Essa exigência é natural, as casa querem pessoas que se comprometam com ela e que estebeleçam uma frequencia contínua. Fora o Xirê, no qual todos podem participar, as demais liturgias serão restritas aos membros da casa.

Através dos passos iniciáticos você deverá estabelecer os vínculos com a casa e assim poder participar das liturgias de louvação a orixás mais profundas.

Nesse momento começa as suas grandes preocupações. 

No meu modo de ver, como já disse,  deveriam existir passos menores de iniciação e uma hierarquização de participação em liturgias baseado nesses passos. Isso não ocorre. Os babalorixás só pensam em si mesmos. Com passos menores a pessoa terá tempo para se acostumar a casa, as pessoas, as regras e à própria religião e seu estilo de vida.

Sim a religião vai implicar na mudança do estilo de vida da pessoa.

Essa é a primeira parte desse texto. Eu espero que as pessoas entendam que o Candomblé é uma religião iniciática e que elas devem tomar muuuito cuidado com iniciações. Tudo deve ser muito devagar e lento. E elas tem que estar atento ao ambiente e a pratica da religião que decidiram participar.

Iniciações e liturgias não são coisas bobas. Estamos lidando com o super-natural. Iniciações e liturgias geram ligações da pessoa com a casa e com o iniciador. Esqueçam a parte do Orixá. O grande problema é a ligação que é feita com a casa. Uma vez que passa por essas liturgias suas energias e sua vida passa a ser influenciada pela casa e pelo iniciador. Ignorar isso é a primeira bobagem que as pessoas fazem.

Tomem muito cuidado, as pessoas acham que  tudo é simples e artificial  não é. Essa ligação pode te ajudar como também pode te afundar. Ninguém esta acima disso e não ha força que vai impedir essa ligação depois de feita.

Pessoas gastam muito tempo e dinheiro desfazendo ligações que fizeram e se arrependeram. Isso é como uma tatuagem. Dolorosa de fazer e quase impossível de desfazer.

A segunda parte do texto é para aqueles que já conhecem algo de liturgias.

No mundo real as pessoas são levadas muito rápido a fazer um Bori que é uma liturgia muito bonita e profunda, não gera vínculo e traz um bem muito grande a pessoas sendo muito indicada para todos.

O problema é que o Bori é uma liturgia muito séria. Se uma pessoa tem um desequilíbrio de axé, existe muita coisa para se fazer antes. Em Ifá é assim. Muita coisa é feita antes de se indicar um Bori e este fica como ultimo caso para os casos mais sérios.

No Candomblé, vira e mexe o Babalorixá logo quer fazer um Bori. Claro, ele cobra caro por isso. Tudo é pago no Candomblé, o comercio esta na frente de tudo e Bori é algo valorizado e caro. Uma vergonha.

Tanto no Bori como em outras cerimonias, mas, muito forte no caso do Bori existe um problema muito sério que é a exposição que a pessoa tem. Claro que na feitura é muito maior, mas no Bori já é muito sério.

Um Bori é uma injeção de Axé na veia, bem radical e forte, mas para isso ocorrer a pessoa tem que baixar todas as suas defesas. Assim é como se a pessoa no Bori desativasse o seu sistema imunológico espiritual para que possa receber o axé. Se a pessoa que estiver fazendo o Bori, ou a casa ou mesmo as pessoas que estão presentes no Bori não estiverem muito bem preparadas e "limpas" essa pessoa com a sua cabeça no chão ao invés de receber coisas boas, axé, vai receber negatividade.

Além disso intencionalmente a pessoa que dá o Bori pode incluir elementos de ligação com ele e com a casa que não deveriam ser incluidos.

Muita gente sai de um Bori muito bem, outros desandam sua vida.

Dessa maneira muito cuidado com o que fazem. Toda liturgia é muito séria. Você pode estragar a sua vida se ligando a uma casa e a uma pessoa ruim ou se ligar a uma pessoa boa e quando decidir sair daquele lugar conhecer o lado negativo dessa pessoa.

Uma feitura é algo muito mais pesado e sério. è uma liturgia completamente intrusiva na sua vida e vai te afetar profundamente. O seu nível de exposição é muito grande. Sua vida literalmente pode desabar.

Sim, os Babalorixás são todos iguais. Raros, muito raros são os diferentes. A maior parte te enche de atenção enquanto você é um cliente interno. Quando decide sair por qualquer motivo aquilo vira uma ferida no ego dela e você vai pagar os seus pecados para se livrar dele.

Dependendo do tipo de iniciação você nunca vai se livrar. Assim se fizer uma feitura, jamais vai se livrar daquela mão.

Assim vou chamar muito a atenção disso. Não estamos lidando no Canmdomblé de liturgias que tem o famoso efeito placebo. Não são coisas que ou não te afetam ou te melhoram. Não são coisas que só vão funcionar se você tiver fé.  Você corre um RISCO.  O risco de dar certo ou de dar errado. No caso de dar certo você tem um benefício conforme esperado. Algo positivo ou sutilmente positivo. No caso de der errado é problema mesmo. Pode prejudicar sua vida fisica e espiritual, seu trabalho, seus relacionamentos e seu emocional.

Você esta preparado para esse risco real?

É como você colocar todo o seu dinheiro na bolsa. Você esta preparado para ganhar ou também perder todo o seu dinheiro?

Pessoas que fazem investimento de risco, esportes radicais e profissões de risco sabem o que estão correndo. Mas você sabe disso?

Tenham atenção. Existem boas casas e existem excelentes pessoas. Existe uma enormidade de casas ruins e pessoas despreparadas, mentirosas e fingidoras. Gente que nunca teve iniciação, nunca foi iyawo e nunca teve formação de Candomblé.

Tanto em Ifá como no Candomblé você esta lidando com o super-natural. Esta lidando com energias que existem nesse mundo e que você não ve. Você pode fazer uam coisa achando que vai melhorar ou então não ter efeito nenhum e pode acontecer o pior. Sua vida desandar e se você estava bem vai ficar mal. Se achava que estava ruim não sabia que podia ficar muito pior.

Valorizem o que é bom. Sejam críticos e atentos. É claro que para participar de uma casa a primeira coisa que a pessoa deve entender é humildade, hierarquia e respeito. Mas é a humildade do bem, a hierarquia do bem e o respeito do bem. Se habituar a seguir orientações e regras é uma coisa básica e ninguém entra em uma casa para dar ordens, mas, não sejam idiotas.

Não façam liturgia sem saberem o que estão fazendo e a consequencia para vocês daquilo. Se informem com mais de uma pessoa. É igual ir a um médico. Se alguém te recomenda uma cirugia você vai procurara opinião de outros até ter a certeza de que não tem outro jeito.



sexta-feira, outubro 21, 2011

A ética na prática de babalorixás e Iyalorixás que atuam mesmo estando doentes

A ética na pratica de sacerdotes com enfermidades


Para pessoas que não pertencem ao meio o assunto pode parecer estranho, aliás como muitos assuntos nesse blog.  Fazendo um parenteses, é bastante dificil estabelecer um padrão de conteúdo considerando os diversos níveis de conhecimento que as pessoas podem ter da religião.

Assim, na medida do possível os assuntos são tratados da forma mais claro e objetiva possível, mas determinadas questões poderão parecer estranhas para muitas pessoas que leem. Não são. São assuntos e temas que fazem parte do dia a dia.

Estamos lidando aqui com o caso de sacerdotes doentes que tenham doenças de diversos tipos, sejam contagiosas ou não seja cancer, aids, lupus, etc...  O conjunto de doenças é bastante amplo e pode variar de uma simples gripe a uma doença séria que o acompanhe por longo período e possa até mesmo levar para uma faze terminal.


O que muitos perguntam é se esses sacerdotes não deveriam interromper suas atividades em função dessas doenças. Novamente, pode parecer estranho essa colocação mas, sacerdotes de Ifá ou Candomblé lidam com liturgias, obrigações, troca de energias e limpezas energéticas (ebós).

Um babalawo ou babalorixá é muito diferente de um sacerdote cristão que usa o seu tempo para pregar e convenser pessoas. infelizmente falta aos sacerdotes de Ifá e Candomblé essa vocação para falar. São muito ruins nisso, porque como em qualquer atividade é a pratica que leva a perfeição e sem pratica não existe desenvolvimento.

Mas Babalawo e babalorixá lidam com outro tipo de atividade.

A ética envolvida nesse tema é que se a pessoas esta com uma doença, esta debilitado ou tem dentro de si um "mal" não deveria ele interromper a atividade de atender outras pessoas?  Não deveria ele resolver sua situação primeiro?  Não estaria ele pondo em risco ou comprometendo outras pessoas?

Sim, todas essas questões são justas, mas, não são simples.

Vamos sair do discurso idiota de dizer que não tem nada haver, e que a pessoa é um ser humano, que tem que ser respeitado, que não pode haver preconceito. PARADO! Isso é conversa fiada, como eu disse, coisa de gente idiota. Claro que essas questões tem que ser avaliadas e pensadas. Não vamos ficar nos perdendo em falsa moral ou sentimentalismo.

Como sempre digo, estamos lidando com ilações e opiniões. Cada um que escreva um blog e coloque a sua.

Vamos pelo be-a-ba. Um sacerdote é uma pessoa que manipula Axé.  isso já foi abordado aqui em outros textos. Existe um extenso texto sobre o que é um ebó que explica bem isso de maneira que não vou voltar a isso em detalhes.

Manipular axé significa lidar com essa energia de vida, significa recebê-la do Orun e transmiti-la. Também significa fazê-la movimentar, retirar energia negativa da pessoa e trazê-la para si. Significa também e principalmente a transmissão de axé, do axé do sacerdote.

Essa é a questão que as pessoas levantam: Se a pessoa esta doente, como pode ela transmitir axé para outros?


Eu não suponho que pelo fato de uma pessoa ter uma doença que requer um
tratamento contínuo e grave que ela vá transmitir essa doença ou seu mal através do seu axé.

Mas é importante que a gente entenda que ao realizarmos uma liturgia, um bori, uma feitura, uma ebó, uma matança, estamos realizando um operação de transmissão de axé. O Axé não fica no ar e a gente respira ele, ele é transmitido por quem realiza a liturgia, flui através dessa pessoa.

Assim a pessoa que executa algo é sempre uma pessoa de confiança do zelador se
não o próprio. Tem que haver a certeza da preparação da pessoa e de sua intenção. Não é só uma questão de a pessoas ter as famososas obrigações, tempo ou cargo. As pessoas que realizam liturgias, de ebó a bori, tem que ser pessoas boas, éticas, corretas, de coreção limpo.

Todo o processo de transmissão, além do axé que é direcionado através da pessoa que faz para a pessoa que irá receber, vai incluir majoritariamente a transmissão do próprio axé de quem faz, esse é o princípio básico dessa religião. O zelador ou a pessoa que trabalha no momento, cede o seu axé e recebe sim a carga negativa que retira do outro. Existem atividades que são estafantes além da própria carga física.

Sacerdotes e seus auxiliares devem o tempo todo estar se cuidando. Elas recebem negatividade e transmitem sua própria energia. Claro que existe também um processo de renovação, dependendo da liturgia que se faz, assim, ao se dar um bori ou uma obrigação que vai repor axé, o axé circula através de você fazendo você mesmo ficar melhor com isso, ou seja, repetindo, isso pode até fazer bem para você.


Mas,  pessoas que estejam debilitadas por doenças sofrerão um processo de prejuízo a si mesmo e isso deve ser evitado. Dependendo da doença que a pessoa tem e do seu estado, essa pessoa pode estar debilitada e usando o seu próprio axé para se manter bem. Passar para outros o que tem poderá fazer falta a si mesma.

Participar do processo poderá trazer um agravamento para ela, um desgaste adicional. Tem muita gente que conheço que quando esta com um gripe ou virose forte e ela se sente debilitada que não participa de ebó, não passa ebó e nem dá obrigação. Ela faz isso por ela mesma.


Outro aspecto além dessa perda é o quanto o que ela faz não é influenciado pelo seu estado. Esquecendo a doença, quando vamos fazer essas liturgias temos a recomendação de nos prepararmos para isso. Isso significa nos abstermos em dia precendentes de atividades e hábitos que não são recomendados para que estejamos de "corpo" limpo.

Em Ifá existe o odu otuwa ofun que diz sobre a recomendação de se preparar, de se limpar antes de uma liturgia para que ela seja aceita. Em oxéotuwa, Oxeotuwa só foi aceito no orun quando recebeu esse conselho de uma velha e teve sucesso onde todos os orixás anteriores haviam falhado (transcrito em Os nago e a morte).

Esquecendo a literatura, e indo para a prática, a gente tem a recomendação de ter muito cuidado com quem permitimos que faça os sacrificios. É um cargo dado a uma pessoa de estrita confiança visto que uma pessoa mal intencionada pode trazer prejuízo ao
processo e a quem recebe aquilo.


Quero aproveitar para lembrar que sacrificios é uma liturgia muito importante e rara nessa religião. Não faz parte do dia a dia e somente é feito em ocasiões e com motivos muitos especiais. É uma cerimonia simples mas muito significativa de confraternização com os Orixás, uma festa.

Continuando, se tomamos cuidado com a preparação do corpo e espirito e também com a intenção ou insenção de quem "opera" liturgias é porque existe mais coisas a considerar. O axé da pessoa, que é divino, é alterado ou sofre influencia de fatores da própria pessoa que o opera.

O caso de algumas doenças debilitantes podem se aplicar aqui e por isso mesmo requerem cuidado.

Se não houvesse nenhuma orientação de preparação para as liturgias, se a gente não se preocupasse tanto com a limpeza física e espiritual como fazemos eu diria que tanto faz, que a nossa atenção deveria ser somente para o caso se a pessoa se sente bem para transmitir axé.

Em Ifá uma coisa que a gente aprende a fazer é consultar o oráculo antes de iniciar um trabalho. Uma resposta negativa indica o nosso estado e não o do consulente, já disse isso aqui. A negativa pode requerer que você faça alguma coisa para se preparar ou se limpar.

Nós em nosso próprio dia a dia ou com alguma doença podemos estar com uma negatividade ou um espirito e que ou não devemos fazer ou que devemos nos limpar.


Dessa maneira sim é relevante a preocupação para todos os envolvidos da condição de saúde do sacerdote.

Muitos tolos minimiza essa questão, dizendo que o próprio orixá intervem nisso permitindo ou impedindo. O Orixás inclusive iria consertar algo feito errado. Eu vejo isso com restrições, uma grande bobagem.

Se o orixá intevisse em tudo o que fosse errado a gente não precisava ficar preocupado com os descalabros e marmotagens que vemos por ai. Era apenas esperar Xango mandar um raio ou uma pedra e estaria tudo acabado. Mas não é assim que acontece. Não existe intervenção divina e imediata na nossa vida. A vida é nossa aqui e cabe a nós viver. Os orixá nos ajudam, mas vivemos e depois prestamos conta do que foi nossa vida, mas, isso não impede ninguem de ser injustiçado, de ser roubado, de ser assassinado ou enganado.

Assim é uma argumentação muito simples e ingênua a gente achar que orixá resolve tudo ou que se Ori permite esta tudo certo, etc... Esta intervenção não existe dessa maneira e se estivermos fazendo algo errado vamos fazer mesmo.

Igualmente se uma pessoa não deveria estar trabalhando em sua casa em liturgias contra o bom senso ou o que é razoável,  porque iria o orixá intervir?

É nossa vida, nossos acertos e erros, eles não vão viver nossa vida. Por essa razão eu não coloco a espera dessa definição na mão deles. É na nossa mão que esta e nós que devemos pensar e agir.

As cruzadas foram feitas em nome do Deus Jeová, God wills it! era o lema, se lembram, Deus queria aquilo.... Dificilmente queria. Ou então para o julgamento das bruxas, inocentes eram queimados ou afogados, e nenhum anjo aparecia. Milhões de africanos foram acorrentados e sofreram em cativeiro, não lembro de nenhum caso de intervenção do orixá deles.

O que significa isso? Que o divino não existe? Claro que não, convivemos com a prova viva de que ele existe, mas, a vida é nossa e podemos fazer o que quisermos para o nosso bem ou nosso mal, senão não teria a menor graça.

Assim essas questões não ficam nas mãos deles e sim na nossa. O certo é o certo e mais a pessoa deve ter o conhecimento do que e o certo.


Se você faz o errado e incorreto, você e muitos outros vão sofrer com isso. O Divino dá recursos para você não errar, desde que você procure saber e aceite isso. Poucos assim o fazem.

Existe outro aspecto envolvido na atuação dos sacerdotes que são as doenças contagiosas. Isso não tem nada haver com axé e sim com saúde pública. Esses sacerdote não deveriam lidar com qualquer situação que leve ao contágio de outros. Para isso basta ele ter meio neurônio.


Sacerdotes que tenham AIDS passam a ter bastante restrição na sua atividade. Um sistema imunológico abalado o deixa vulnerável, um coquetel de remédios o deixa medicado todo o tempo e sempre vai existir o risco de contágio. Não se pode ignorar isso.

E se o sacerdote tiver hanseniase? Não vai ter que interromper para se tratar? ou as pessoas vão achar que isso é axé?

Se tem cancer? Esta fazendo quimio? Então ela vai ter muita restrição no que faz porque nesse momento sua vida esta sob controle, mas se esta fora de tratamento e se sente em condições de trabalhar, não acho que vá transmitir axé ruim para alguém.

Temos que pesar o bom senso, a questão do contágio e a questão da própria resistencia pessoal, porque, como eu disse quem executa uma liturgia não só movimenta axé como também energias negativas para si mesmo

Vou voltar em um ponto que já disse para encerrar esse texto. Muita gente foge desse assunto dizendo que o Orixá resolve ou que o Ori resolve. Não é assim. Ilusão acreditar nisso ou acreditar que essas pessoas procuram sinceramente esse caminho para se orientar.