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segunda-feira, outubro 31, 2011

A importancia que devemos dar às liturgias

A importancia que devemos dar às liturgias


Uma das questões mais importantes e mais renegadas pelas pessoas que desejam participar de Ifá ou do Candomblé é a questão da importância da seleção de quem faz ou onde se faz as liturgias. Escolhas erradas vão trazer consequencias para o resto da vida daquela pessoa.

Mas para não trazer confusão ao tema vou tentar abordar isso de forma estruturada.

O primeiro elemento que todos devem ter atenção é a questão da religião iniciática. Existem religiões que não exigem iniciações, basta você entrar no tempo e rezar e sair a hora que quiser. Muitas religiões são assim. A religião católica é uma misto. Claro que você pode entrar na igreja a hora em que quiser, mas para participar da religião você passa por iniciações. A religião católica é iniciática. O islamismo, outra religião da mesma raiz e do mesmo Deus, tem uma pratica comum e uma iniciática. Os sufistas representam a parte profundamente mistica da religião.

No caso das religiões africanas que conhecemos elas são iniciáticas, assim, existem liturgias que são feitas para a pessoa iniciar sua participação. Essa liturgias visam a estabelecer ligações da pessoa com as divindades e também com a casa em que elas participam. Tudo isso é feito através de um sacerdote de maneira que a pessoa estará ligado à divindade ou a casa através de um sacerdote ou iniciador.

Este é o primeiro aspecto a ser observado. Ifa e Candomblé são religiões iniciáticas. Esta é a realidade de hoje. A pessoa não pode usar o mesmo modelo mental que usa para o catolicismo no qual todo mundo se batiza e depois faz da vida o que quer. Não se sente ligado a nada e a ninguém. Apenas acha que cumpriu uma obrigação social.

Essas religiões africanas não são assim, você não entra e sai como quiser sem que isso tenha consequencias para você. A coisa é muito séria.

As pessoas tomam a decisão de se iniciar por diversos motivos, nenhum deles os corretos ou nenhum deles no momento correto. Acho que no fundo existe uma vaidade muito grande, porque só isso explica uma pessoa decidir de iniciar com uma pessoa, em uma casa ou em uma religião que mal conheceu.

Mas do lado do sacerdote também existe muita imposição. O participante é empurrado para uma iniciação.

No meu pensamento, isso deveria ser diferente. As casas deveriam ter formatos para permitir a participação de pessoas com diversos níveis de envolvimento. A pessoa deveria poder ser um membro da casa com privilégios distintos. O formato hoje é muito restritivo e a pessoa pu é cliente ou é filho de santo, sendo abian (noviço, não iniciado) uma condição temporária que rapidamente deve ser mudada.

A existência da condição "cliente" é péssima. Nenhuma religião merece isso e somente tendo muita cara de pau você consegue achar que é normal um babalorixá chamar pessoas de clientes dele.

Os simpatizantes deveriam ser em grande número e incentivados. Eles deveriam ter acesso a atividades da casa, públicas que não fossem apenas festas e Xirês. Eles deveriam ter informação e ter contato com os Orixás.

Hoje em dia assistir a um Xire é ótimo, o axé esta em movimento, mas, poucos entendem o que esta ocorrendo lá. Poucos compreendem o formato, as musicas e as danças.

O status de uma pessoa na religião deveria evoluir com sua participação. Cada degrau deveria ser natural e ninguém tem que ser motivado a trocar de degrau. A cada degrau corresponderia um nível de envolvimento om a religião e com a casa.


Hoje já existem alguns tipos de iniciação. A feitura de Orixá é a mais definitiva e profunda, mas outras liturgias podem ser feitas sem gerar um vínculo tão extremo como a feitura. Isso pode ir de uma lavagem de contas a um bori e ainda com variações incrementais, assentamentos, sem que se faça uma feitura.

Mas tenham cuidado, ao se envolver com o Candomblé você será levado a uma iniciação e muitas pessoas nem entendem o que isso significa.

Cada tipo de liturgia determina o tipo de ligação que a pessoa estabelece com a religião. Como eu citei a feitura é a mais radical delas e NUNCA deve ser a primeira opção de ninguém. Uma pessoa deve passar por outros tipos de liturgia antes de decidir fazer uma feitura. Uma feitura é uma violência se feita para uma pessoa que nunca fez nada antes. Ninguém deveria sair da rua pisar em um terreiro e decidir ou ser decidido a fazer uma feitura.

A vida religiosa deve ser uma evolução. A pessoa deve frequentar uma casa, se envolver com a religião, aprender o que ela tem a transmitir, sentir que aquilo muda a vida dela e naturalmente dar um ou outro passo em algum tipo de iniciação. Os passos devem sempre ser pequenos e cuidadosos. A pessoa inteligente deve preservar a capacidade de se mover de lugares caso não goste da casa ou das pessoas da casa que decidiu frequentar.

A primeira coisa que se busca em uma religião é conforto e orientação. Você busca uma forma de ver a vida. Para isso é preciso informação, orientação e ternura. Todo mundo quer ser bem tratado.

O que menos se encontra em uma casa de Candomblé é informação, educação e ternura. O que mais se encontra é arrogancia, ignorância e pedantismo. Assim pense bem antes de entrar em um "quartel do mal". A religião é ótima e os Orixás são puro amor. Mas a natureza humana é a mesma e alguma coisas são exacerbadas ali dentro, assim, avalie bem se o ambiente que você esta frequentando faz bem para você.
Não bastam os Orixás. Eles estão em todo o lugar. Avalie as pessoas, a educação delas e o respeito ao próximo que elas demonstram. Essa tem que ser a primeira avaliação.

A seguir vem a questão do axé. O que ser recebe em uma casa além do que já falei é axé. Axé é a energia de vida que esta em tudo que nos rodeia e em todo o ser vivo. Em uma casa temos a oportunidade de equilibrar o axé e de recebermos o axé que necessitamos para compensar o que perdemos.

O fato de estarmos na casa participando de liturgias e Xires já nos permite isso. Claro que uma casa para preservar o seu Axé a proteger seus membros estabelece algumas barreiras para entrantes e não é qualquer pessoa que poderá participar de suas liturgias. Para você se habilitar deverá então dar os passos de iniciação.

Essa exigência é natural, as casa querem pessoas que se comprometam com ela e que estebeleçam uma frequencia contínua. Fora o Xirê, no qual todos podem participar, as demais liturgias serão restritas aos membros da casa.

Através dos passos iniciáticos você deverá estabelecer os vínculos com a casa e assim poder participar das liturgias de louvação a orixás mais profundas.

Nesse momento começa as suas grandes preocupações. 

No meu modo de ver, como já disse,  deveriam existir passos menores de iniciação e uma hierarquização de participação em liturgias baseado nesses passos. Isso não ocorre. Os babalorixás só pensam em si mesmos. Com passos menores a pessoa terá tempo para se acostumar a casa, as pessoas, as regras e à própria religião e seu estilo de vida.

Sim a religião vai implicar na mudança do estilo de vida da pessoa.

Essa é a primeira parte desse texto. Eu espero que as pessoas entendam que o Candomblé é uma religião iniciática e que elas devem tomar muuuito cuidado com iniciações. Tudo deve ser muito devagar e lento. E elas tem que estar atento ao ambiente e a pratica da religião que decidiram participar.

Iniciações e liturgias não são coisas bobas. Estamos lidando com o super-natural. Iniciações e liturgias geram ligações da pessoa com a casa e com o iniciador. Esqueçam a parte do Orixá. O grande problema é a ligação que é feita com a casa. Uma vez que passa por essas liturgias suas energias e sua vida passa a ser influenciada pela casa e pelo iniciador. Ignorar isso é a primeira bobagem que as pessoas fazem.

Tomem muito cuidado, as pessoas acham que  tudo é simples e artificial  não é. Essa ligação pode te ajudar como também pode te afundar. Ninguém esta acima disso e não ha força que vai impedir essa ligação depois de feita.

Pessoas gastam muito tempo e dinheiro desfazendo ligações que fizeram e se arrependeram. Isso é como uma tatuagem. Dolorosa de fazer e quase impossível de desfazer.

A segunda parte do texto é para aqueles que já conhecem algo de liturgias.

No mundo real as pessoas são levadas muito rápido a fazer um Bori que é uma liturgia muito bonita e profunda, não gera vínculo e traz um bem muito grande a pessoas sendo muito indicada para todos.

O problema é que o Bori é uma liturgia muito séria. Se uma pessoa tem um desequilíbrio de axé, existe muita coisa para se fazer antes. Em Ifá é assim. Muita coisa é feita antes de se indicar um Bori e este fica como ultimo caso para os casos mais sérios.

No Candomblé, vira e mexe o Babalorixá logo quer fazer um Bori. Claro, ele cobra caro por isso. Tudo é pago no Candomblé, o comercio esta na frente de tudo e Bori é algo valorizado e caro. Uma vergonha.

Tanto no Bori como em outras cerimonias, mas, muito forte no caso do Bori existe um problema muito sério que é a exposição que a pessoa tem. Claro que na feitura é muito maior, mas no Bori já é muito sério.

Um Bori é uma injeção de Axé na veia, bem radical e forte, mas para isso ocorrer a pessoa tem que baixar todas as suas defesas. Assim é como se a pessoa no Bori desativasse o seu sistema imunológico espiritual para que possa receber o axé. Se a pessoa que estiver fazendo o Bori, ou a casa ou mesmo as pessoas que estão presentes no Bori não estiverem muito bem preparadas e "limpas" essa pessoa com a sua cabeça no chão ao invés de receber coisas boas, axé, vai receber negatividade.

Além disso intencionalmente a pessoa que dá o Bori pode incluir elementos de ligação com ele e com a casa que não deveriam ser incluidos.

Muita gente sai de um Bori muito bem, outros desandam sua vida.

Dessa maneira muito cuidado com o que fazem. Toda liturgia é muito séria. Você pode estragar a sua vida se ligando a uma casa e a uma pessoa ruim ou se ligar a uma pessoa boa e quando decidir sair daquele lugar conhecer o lado negativo dessa pessoa.

Uma feitura é algo muito mais pesado e sério. è uma liturgia completamente intrusiva na sua vida e vai te afetar profundamente. O seu nível de exposição é muito grande. Sua vida literalmente pode desabar.

Sim, os Babalorixás são todos iguais. Raros, muito raros são os diferentes. A maior parte te enche de atenção enquanto você é um cliente interno. Quando decide sair por qualquer motivo aquilo vira uma ferida no ego dela e você vai pagar os seus pecados para se livrar dele.

Dependendo do tipo de iniciação você nunca vai se livrar. Assim se fizer uma feitura, jamais vai se livrar daquela mão.

Assim vou chamar muito a atenção disso. Não estamos lidando no Canmdomblé de liturgias que tem o famoso efeito placebo. Não são coisas que ou não te afetam ou te melhoram. Não são coisas que só vão funcionar se você tiver fé.  Você corre um RISCO.  O risco de dar certo ou de dar errado. No caso de dar certo você tem um benefício conforme esperado. Algo positivo ou sutilmente positivo. No caso de der errado é problema mesmo. Pode prejudicar sua vida fisica e espiritual, seu trabalho, seus relacionamentos e seu emocional.

Você esta preparado para esse risco real?

É como você colocar todo o seu dinheiro na bolsa. Você esta preparado para ganhar ou também perder todo o seu dinheiro?

Pessoas que fazem investimento de risco, esportes radicais e profissões de risco sabem o que estão correndo. Mas você sabe disso?

Tenham atenção. Existem boas casas e existem excelentes pessoas. Existe uma enormidade de casas ruins e pessoas despreparadas, mentirosas e fingidoras. Gente que nunca teve iniciação, nunca foi iyawo e nunca teve formação de Candomblé.

Tanto em Ifá como no Candomblé você esta lidando com o super-natural. Esta lidando com energias que existem nesse mundo e que você não ve. Você pode fazer uam coisa achando que vai melhorar ou então não ter efeito nenhum e pode acontecer o pior. Sua vida desandar e se você estava bem vai ficar mal. Se achava que estava ruim não sabia que podia ficar muito pior.

Valorizem o que é bom. Sejam críticos e atentos. É claro que para participar de uma casa a primeira coisa que a pessoa deve entender é humildade, hierarquia e respeito. Mas é a humildade do bem, a hierarquia do bem e o respeito do bem. Se habituar a seguir orientações e regras é uma coisa básica e ninguém entra em uma casa para dar ordens, mas, não sejam idiotas.

Não façam liturgia sem saberem o que estão fazendo e a consequencia para vocês daquilo. Se informem com mais de uma pessoa. É igual ir a um médico. Se alguém te recomenda uma cirugia você vai procurara opinião de outros até ter a certeza de que não tem outro jeito.



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