Teologia Yorùbá
O Cosmo Yoruba - Parte 8
A presença de Olódùmarè
Sei que essa afirmação vai incomodar muita gente. Inúmeros são os que repetem isso principalmente porque essa afirmação estava contida em obras dos primeiros autores sobre a religião Yoruba, fossem eles europeus ou mesmo africanso, mas, o que eu afirmo é baseado no que eu observei por eu mesmo e não o que eu copiei de outros.
Olódùmarè toma conhecimento e partido das coisas a partir da informação que recebe das divindades que encarrega disso, notadamente Exú (Èṣù) e Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà). Os assuntos são levados a ele.
Apesar disso, Olódùmarè não é um deus distante, como muitos gostam de afirmar. Existe uma densa e consistente teogonia que nos assiste e acompanha nossa vida, como veremos mais adiante. De forma alguma somos desassistidos pelo divino. O que existe é um modelo diferente e que reflete a sociedade tradicional Yorùbá e que cria em torno de nós, de fato, o contrário, uma camada de superproteção.
Essa qualificação, de deus distante foi dada por ocidentais que encontraram um modelo cosmogônico distinto do que eles estão acostumados, visto que, eles, consideram o deus cristão, Jeová, é onipresente, onisciente e rezam diretamente para ele. Essa onipresença e onisciência é uma visão romântica visto que, o cristianismo, por exemplo, não tem nenhum instrumento que demonstre a real preocupação do divino com eles e que os permita interagir com esse divino.
O que eles tem é um modelo passivo no qual você ora e aguarda, acreditando que deus vai agir por você. No modelo cristão o mal, pode interagir diretamente na vida deles, é uma presença constante, mas o divino não tem essa obrigação. Basicamente eles tem que se conformar com a afirmação de que no fim da vida deles, quando morrerem vão encontrar com deus e ter a sua paz eterna.
A religião Yorùbá pensa diferente, precisamos ser felizes aqui e agora. Olódùmarè se preocupa com isso e coloca ao nosso redor um vasto conjunto de divindade, meios de comunicação e meios de correção de problemas. Assim, Olódùmarè pode ser tudo, menos um deus distante. Esta teia de proteção vai ficar clara mais à frente.
Os yorubanos, explicam, que assim é a sociedade deles. Existe em todos os níveis uma larga cadeia de hierarquia que funciona e deve ser respeitada. Desta forma, como eles explicam, você quando tem um problema não vai diretamente ao Rei reclamar ou pedir por você. Você tem uma hierarquia de pessoas a quem recorrer. O Rei assiste sua população através de seus representantes e ministros.
Olódùmarè colocou os orixá (Òrìṣà) para cuidarem de nossa vida no àiyé. Somos protegidos e assistidos por seus ministros, os orixá (Òrìṣà). São eles que cuidam da gente e é usando os orixá (Òrìṣà), Exú (Èṣù) e Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que Olódùmarè sabe o que ocorre com a gente e passa aos seus ministros o poder para nos ajudar.
Quando os assuntos são levados a Olódùmarè este tem como saber a verdade que esta envolvida em tudo o que é dito e feito. Mesmo não sendo onisciente, Olódùmarè é quem pode saber o que reside em nosso coração, ele sabe exatamente quem somos, o que pensamos e o que queremos.
Entre Olódùmarè e os habitantes do Órun (ọ̀run) e do àiyé existem intermediários. São esses intermediários que, quando necessário trazem os assuntos a Olódùmarè. Todo o nosso relacionamento dentro desta religião é feito através das divindade que representam Olódùmarè.
Este modelo reflete o modelo da própria sociedade Yorùbá. Quanto mais importante e mais velho, menos pessoas tem acesso e mais esse acesso é feito por intermediários. Assim o modelo do cosmo não é diferente do próprio modelo da sociedade.
Todo o culto religioso às divindades é feito às divindades que Olódùmarè colocou para representá-lo. Nesta e em qualquer religião são cultuadas as divindades a quem podemos recorrer. Nenhum liturgia ou oferenda é feita a Olódùmarè, ele não precisa e nem intercede. Quem intercede são os seus ministros.
Olódùmarè esta sempre presente em nossa lembrança e rezas, sabemos que ele é o poder supremo, mas, nunca o tememos. Olódùmarè e seus ministros são puro amor.
Longe de ser um deus distante, Olódùmarè cria todas as condições para que sejamos felizes nesta vida. O compromisso de Olódùmarè é com a nossa felicidade e com o nosso destino em cada momento de nossa vida.
Olódùmarè é o único responsável por nos dar a vida. É ele quem unicamente tem o poder de dar o sopro da vida à nossa forma humana que é moldada por Orixá nla (Òrìṣà nla). Além disso ele nos da o nosso axé (aṣẹ́) e nossa centelha divina, nossa virtude divina, o pedaço único que Olódùmarè coloca em todos nós.
Não existe a referência que somos feitos sua imagem e semelhança. Quem constrói nossa aparência é Orixá nla (Òrìṣà nla) – Ọ̀ṣàlá. Ele constrói nosso corpo Ajalá constrói nossa cabeça.
A SEGUIR: OLODUMARE, O NOME
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