Imọlẹ̀ OLÓÒKUN
Qual a relevência do assunto?
O Imọlẹ̀ Olóòkun, no contexto do Candomblé, faz parte dos orixá (Òrìṣà) que são conhecidos mas que seu culto não foi trazido pela diáspora e depois dela na construção do Candomblé.
No Candomblé temos vários desses casos e, aqui, esse tipo de orixá (Òrìṣà), na verdade um inrumolé (Irúnmọlẹ̀), normalmente não recebe culto, isto é, oferendas, sacrifícios ou Xirê. Repito, as pessoas conhecem sabem que existe, mas, não faz parte da tradição o seu culto.
Minha ilação indica que sua citação se tornou mais comum a partir da década de 90, quando o Candomblé tomou conhecimento da literatura estrangeira sobre orixá (Òrìṣà), sendo assim sua referência sutilmente incluída. Pierre Verger sequer menciona esse orixá (Òrìṣà).
Aqui a referência mais popular diz respeito a Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà), ou simplesmente Ajé, tratada como filha de Olóòkun e orixá (Òrìṣà) da prosperidade, da riqueza. Igualmente, não citada por Verger mas conhecida pelas pessoas e que recebe oferendas para prosperidade.
Mas, devo dizer que, minha opinião é que, o conhecimento de Olóòkun assim como de Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) são simultâneos, como disse, posterior a década de 90, uma atualização do Candomblé, sendo que Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) se espalhou um pouco mais devido a ser associada em trazer a prosperidade, enquanto que a identidade de Olóòkun com o mar ficou sem utilidade, visto o culto bem estabelecido aqui ao orixá (Òrìṣà) Iemanjá (Yemọjá).
No Brasil, assim como em todo o novo mundo, o orixá (Òrìṣà) Iemanjá (Yemọjá) é quem foi trazido e passou a ser identificado com o mar de forma geral. Na região Yorùbá, Iemanjá (Yemọjá) era, assim como Óxun (Ọ̀ṣun) e Oiá (Ọya) um orixá (Òrìṣà) identificado com o rio, assim como outros, visto que existe um aspecto de regionalismo no culto a orixá (Òrìṣà) Yorùbá, diferente do nosso aqui no Candomblé, diáspora, que reuniu debaixo de uma mesma casa, orixá (Òrìṣà) de regiões diferentes.
Em função desta fusão de cultos na mesma casa, adaptações fora necessárias e uma delas foi a separação da identificação do orixá (Òrìṣà) com o meio natural, assim, aqui Iemanjá (Yemọjá) ficou ligada ao mar, Óxun (Ọ̀ṣun) ficaram ligadas as águas e rios e Óiá (Ọya) ficou como o orixá (Òrìṣà) de ventos e tempestades.
Note a adaptação de Óiá (Ọya) a tempestade, visto que não temos aqui os redemoinhos de ventos e assim não poderíamos associar Óiá (Ọya) a isso.
Eu não posso deixar de citar esse aspecto de associação de orixá (Òrìṣà) com esses elementos naturais, mas, também não posso deixar de afirmar a todos que, orixá (Òrìṣà), não é o elemento da natureza, orixá (Òrìṣà) são divindades ligas às pessoas, a maior parte deles ancestres divinizados e eles não são os elementos da natureza. Essa minha afirmação é facilmente confirmada pelos versos de Ifá e mitos da religião e cito apenas um, o verso do Odù Oxé-Otuwa, que mostra que Olódùmarè enviou os orixá (Òrìṣà) para cuidarem das pessoas.
Voltando a Olóòkun, da forma como a diáspora se organizou não sobrou espaço para Olóòkun, apesar de sua relevância no contexto Yorùbá. Iemanjá (Yemọjá) foi associado com o mar de uma forma geral e somente recentemente, no processo de reafricanização, é que Olóòkun aparece e passam a dizer que Olóòkun está no mar aberto e profundo e Iemanjá (Yemọjá) está na beira do mar, sendo que alguns a associam a praia.
Certo ou errado é isso que se estabeleceu.
No caso cubano vemos alguma presença de Olóòkun, que foi levada para a ilha, mas cujo culto estava incompleto e acabou se perdendo ou enfraquecendo. Lá como cá, Iemanjá (Yemọjá) foi o orixá (Òrìṣà) predominante, mas, Olóòkun era, sim, associado ao mar aberto e profundo. Meu entendimento é que esse culto foi estabelecido em cuba, mas como as pessoas não tinham informação adequada, ele foi tratado como um orixá (Òrìṣà) que os cubanos dizem que é de mesa, eles oferecem comida mas não tem ritos de iniciação.
Aliás essa é uma diferença muito marcante entre as 2 tradições de orixá (Òrìṣà), a cubana e a brasileira. Aqui, orixá (Òrìṣà) sã aqueles que temos os ritos, se não temos ritos viram uma qualidade não cultuada de algum orixá (Òrìṣà) ou mesmo não são referenciados. Ou sabemos e cultuamos ou não cultuamos. Os cubanos têm um conjunto maior de divindades, mas, na minha opinião eles inventam muito, criam coisas deles, geram conhecimento, mudam cultos, mudam entendimentos, criam mitos para se justificarem. A distância deles da tradição yorùbá é muito maior do que a nossa.
Finalizando, a relevância de Olóòkun é no sentido de reafricanização, de restauração do conhecimento sem que isso signifique utilidade real, visto que nossa tradição do Candomblé se resolveu sem isso. Não sei o cenário nas demais tradições, como o Batuque e o Nago.
Para mim esse orixá (Òrìṣà) tem relevância, estou ligado ao culto de ifá ha muito tempo e ele sempre aparece em consultas como destinatário de oferendas. Sem dúvida nenhuma o orixá (Òrìṣà) derivado, Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) tem relevância para pessoas que precisam de ajuda.
O
gênero do orixá (Òrìṣà) Olóòkun
Sem dúvida a primeira questão que surge quando se fala de
Olóòkun é seu gênero, visto que é tratado como masculino ou
feminino. A origem desta confusão está na própria região yorùbá.
Em Ilé-Ifẹ̀ e em alguns poucos lugares ele é tratado como
feminino e no resto do território yorùbá como masculino e isso já
é suficiente para trazer confusão aqui.Minha opinião é que deve ser tratado como masculino.
Origem do orixá (Òrìṣà)
Eu trato no início do texto Olóòkun como um inrumolé (Irúnmọlẹ̀) devido a convenção de que orixá (Òrìṣà) é aquele que fazemos “na cabeça” das pessoas, divindade que tem pessoas iniciadas para ela.
No Candomblé não iniciamos as pessoas para Olóòkun e assim prefiro me referenciar a ele como inrumolé (Irúnmọlẹ̀).
Mas, neste texto vou tratar ele genericamente de orixá (Òrìṣà).
Sobre essa questão de iniciação, como estou vez por outra citando os cubanos, chamo a atenção de que o que chamamos de iniciação é bem diferente do que os cubanos e nigerianos chamam. O termo correto para a nossa liturgia é feitura, porque eles usam o termo iniciação para um processo bastante superficial. Assim, para nós iniciação e feitura são sinônimos, mas, isso não vale para outras tradições religiosas. O que fazemos é feitura, a iniciação deles é um processo bem mais ou menos.
É amplamente aceito que o culto ao orixá (Òrìṣà) Olóòkun se difundiu do Bini para os Yorùbá. Bini é uma região a leste da região yorùbá, onde fica a cidade de Benin (não o território do Dahomey, que fica a oeste). No Bini fica o povo Ẹ̀dó e esses 2 povos, o yorùbá e o Ẹ̀dó apesar de distintos culturalmente tem muita ligação e, também claro, proximidade.
Olóòkun é a mais popular e amplamente cultuada divindade no Benin. Sua importância é maior do a do seu pai, Osanuoba, como veremos, a grande divindade dos Ẹ̀dó. Olóòkun é identificado com o grande oceano da terra que cerca toda as porções de terra e para onde fluem todos os rios.
Observem que essa associação entre o oceano e os rios eu ainda não tinha percebido. Todos os rios fluem para o oceano e dessa maneira a divindade que está associada com oceanos passa também a estender sua influência aos rios.
Olóòkun é dito, desta forma, a ter o controle de todas as fontes de água do mundo, incluindo rio e mar. Considerando a proporção da água no nosso planeta Olóòkun é muito poderoso e rico, visto que a água está associada com a prosperidade.
Paula Ben-Amos, assim como John Mason (na minha opinião, John Mason cita exatamente o que Paula Ben-Amos escreveu), citam que Olóòkun é associado diretamente a um rio etíope chamado Olóòkun, que ficaria na região a sudeste do reino, o território Bini. Não localizei esse rio, com esse nome. Geograficamente e por tamanho encontrei o Rio Niger, mas, que está longe de ser um rio da Etiópia, que está muito distante da cidade do Benin.
Olóòkun também controla o reino que os espíritos humanos devem atravessar para nascer ou depois que morrem para ir ao órun (Ọ̀run). O caminho que os espíritos que partem do Àiyé para o órun (Ọ̀run) reside em atravessar o mar e todas as almas, sejam as que morreram ou as que nascem, devem passar sobre a água do mar.
Esta última associação, dos espíritos que nascem e devem passar pelos domínios de Olóòkun é que faz esse orixá (Òrìṣà) ser considerado o provedor das crianças para os Ẹ̀dó, para os quais, grandes famílias são fonte de prosperidade e prestígio.
Segundo John Mason, esta conexão de Olóòkun com os espíritos dos mortos é feita através de uma grande caixa decorada com espelhos e panos brancos, usadas em ritos mortuários para simbolizar o status e a prosperidade do morto. Não sei se isso esta associado aos cubanos ou também aos Yorùbá.
Em Ifá, no Odù Ìworì Méjì, na história que Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) volta ao órun (Ọ̀run) deixando a terra, no Àiyé para sempre, a história cita que ele vai ao órun (Ọ̀run) através dos domínios de Olóòkun.
A associação de Olóòkun com o mar existe tanto na cultura Yorùbá como Bini, sem dúvida, mas a ligação com os espíritos mortos não ficou clara para mim. Isso existe, sem dúvida, no Odù Odù Ìworì Méjì e outros, mas a origem disso eu não entendi. Pode ser que os corpos humanos fossem jogados no Rio ou mar após mortos, ou o fato de as pessoas afogarem nas águas indo assim para o órun (Ọ̀run).
A associação com a riqueza é em função do mar, principalmente ser uma fonte de riqueza. O dinheiro Yorùbá era feito com búzios, os corais eram objetos caros de adorno, a pesca alimentava as pessoas.
Em sua genesis, os Bini acreditam que Òsànóbùa, sua divindade principal, e Anume, sua esposa, tiveram 3 filhos, chamados, Òblẹ́mwẹ̀n, Olóòkun e Òglùwú. O costume Bini estabelece a superioridade de machos sobre as fêmeas e desta forma Olóòkun assumiu uma posição de superioridade em relação a sua irmã Òblẹ́mwẹ̀n. Um dia Òsànóbùa enviou seus 3 filhos com o poder e a missão de criar o mundo. Naquele tempo o mundo era uma imensidão sem fim de água, que tinha apenas uma árvore Ikhinmwin (igual a um Akoko).
No alto desta árvore vivia um pássaro chamado Ọ̀wọ̀nwọ̀n
A cada uma dos filhos foi dado a opção de escolher um presente para ir com eles junto com a canoa que eles deveriam tomar. Os dois mais velhos escolheram a prosperidade e ferramentas de trabalho. O mais novo se preparou para escolher suas ferramente quando o pássaro pediu para ele levar com ele uma conha.
Quando a canoa chegou ao centro das águas, o mais jovem virou a concha e uma quantidade sem fim de areia saiu dela. Dessa maneira a terra começou a se espalhar sobre as águas. Eles ficaram com receio de sair da canoa e mandarem um camaleão examinar se a terra era firme. O lugar onde a terra emergiu foi chamado de Agbon, “o mundo”, um nome que foi trocado para a Agbor, hoje uma cidade a lesta da cidade do Benin.
Òsànóbùa, desceu por uma corrente até o mundo recém-estabelecido e demarcou o mundo. Foi de lá que as pessoas foram enviadas para os 4 cantos do mundo, para cada país e cada geografia. Ele fez então o seu filho mais novo como o responsável por Benin, dono da terra e estabeleceu o seu próprio reino como sendo o mundo espiritual, através das águas onde o céu se encontra com o mundo.
Òsànóbùa, ficou estabelecido em seu palácio no mundo espiritual e para a humanidade é um deus remoto, primariamente preocupado com o mundo espiritual, tendo delegado a seus filhos o cuidado do mundo físico, ou natural. Não existe culto a Òsànóbùa. Òsànóbùa é apelado somente em última instância, quando tudo o mais já falhou. Ele nunca demanda oferendas.
Existe um assentamento para Òsànóbùa, ele é composto apenas de um longo poste ficando em um monte de areia e no alto uma roupa branca que tremula no vento como uma bandeira.
Para Òblẹ́mwẹ̀n foi dado o controle sobre o nascimento e a agricultura, ela é chamada a esposa da terra, mãe de todos os seres humanos e seres vivos. Olóòkun recebeu o poder de doar a prosperidade e Òglùwú o poder da morte. Òsànóbùa então enviou Olóòkun para ser o rei da mar.
Como podem observar o mito da criação dos Bini é bastante parecido com o mito Yorùbá da gênese e apesar de existirem variações nos personagens Yorùbá, o contexto é muito similar e em algumas versões Olóòkun também está presente, sendo um dos orixá (Òrìṣà) da criação.
A versão relatada por Osamaro Ibie coloca Olóòkun e Ògún como personagens importantes, apesar de a criação do mundo ser uma obra de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) nesta versão.
Olóòkun aparece em muitos pataki cubanos. Pataki são mitos associados a Odù de Ifá que os cubanos inventaram, baseados em sua mitologia própria e também em versos verdadeiros. A mistura é muito grande.
O que caracteriza ao Pataki é que os personagens sempre são os orixá (Òrìṣà). Eles assumem atitudes ruins e boas, representando normalmente um péssimo exemplo de caráter e comportamento.
No caso dos versos de Ifá, os personagens sempre são Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e Exú (Èṣù). Os demais são sempre personagens comuns.
Nos Pataki cubanos Olóòkun se confronta muito com Obatalá, os cubanos estabelecem que Obatalá domina a terra e o Olóòkun o mar e o conflito entre os dois é uma constante.
Os significados associados ao orixá (Òrìṣà)
O nome Olóòkun significa o senhor do mar. A palavra yorùbá para mar é Òkun e o prefixo “Ol” significa o senhor de, assim, Olóòkun o senhor do mar.
Esse nome deixa um pouco para trás a definição dos Ẹ̀dó de ser o senhor de todas as águas, assim no contexto Yorùbá, Olóòkun é a divindade associada ao mar, sendo as demais já citadas ligadas a águas de rio. No novo mundo, como já expliquei Iemanjá (Yemọjá) foi ligada ao mar e o arranjo mais moderno liga Iemanjá (Yemọjá) as águas costeiras e Olóòkun ao mar profundo. Sugiro ficarmos com essa.
Olóòkun é associado à prosperidade, é considerado a fonte de riqueza e de boa fortuna uma vez que, as almas são abençoadas por ele, garantindo sorte, prosperidade e sucesso. É sugerido que esta associação de Olóòkun com a prosperidade possa ser devido a vinda dos comerciantes europeus em navios através do mar.
Ao oferecer filhos, saúde e prosperidade aos seus seguidores, Olóòkun difere um pouco, mas, não muito de outras divindades dos Ẹ̀dó, visto que essas são características bem comuns que se espera de divindades. Mas uma área no qual ele difere muito de qualque outra é a demanda da beleza em todas as formas. Movimentos graciosos em dança, canções doces, decorações bem elaboradas, ricos tecidos e, mais do que tudo, lindas mulheres. Em especial, mulheres maravilhosas são citadas como tendo sido enviadas ao
Àiyé por Olóòkun aos seus seguidores especiais.
Embora homens e mulheres são cultuadores de Olóòkun, ele é amplamente considerado no Benin como de especial interesse das mulheres por causa de sua função de prover filhos. Os pais de filhas mulheres instalam um pequeno altar em honra a Olóòkun para sua proteção e futuro bem-estar. Depois de casada a mulher transfere esse altar para a casa do marido onde ele assume ainda mais importância devido ao seu novo estado de casada.
O altar é composto de uma base feita com argila branca em cima do qual são colocadas peças de Efun, um símbolo de pureza e boa sorte, e um pote ritual especial (bem decorado e bem feito), onde é colocado água fresca do rio.
Observem que esta não é uma religião de imagens e sim de símbolos de axé (àṣẹ).
Nesses altares os objetos são de latão ou bronze e as pinturas feitas com chumbo.
Segundo eles, o cumbo nunca apodrece e o latão nunca enferruja, o elemento tem muita importância na religião devido as suas características próprias porque, Olódùmarè colocou axé (àṣẹ) em cada coisa e as coisas são usadas pelo axé (àṣẹ) que Olódùmarè colocou nelas.
Enquanto que mulheres tradicionais no Benin tem altares de Olóòkun em suas casas, algumas delas se tornam particularmente envolvidas no culto devido a problemas de saúde ou sexo, dificuldades em engravidar ou mesmo “chamado” para estados de possessão.
Segundo Paula Ben-Amos, homens com problemas similares poderiam se consultar, mas raramente se tornam envolvidos com o culto.
Esta referência mostram 2 coisas que chamo a atenção . A primeira é que o envolvimento com o culto religioso, com a religião, não obriga a pessoa pertencer a uma casa e se iniciar. A religião faz parte da sociedade, as pessoas tem sua fé, usam a manipulação do supernatural, frequentam e não tem que se transformar em iniciados.
O maior envolvimento ocorre por situações específicas. Uma delas é a pessoa ter sido escolhida como Elegun, como um escolhido no orixá (Òrìṣà) e ai, sim, terá que se preparar para esse papel. Outra é a natureza do seu problema exigir uma participação direta na religião para que possa receber o axé (àṣẹ) que precisa.
Dessa forma, as 2 razões que levariam uma pessoa a se iniciar seriam essas. É o que penso. O modelo que se adota aqui de obrigar a todas as pessoas que se aproximam da religião a pertencerem a uma casa e dentro dela sofrerem uma enorme pressão para se iniciarem, não sendo a manutenção como Abian uma coisa simpática, é errada, afasta as pessoas da religião. Esse modelo está errado.
Seguindo Paula Ben-Amos, “Na área de Iyekorhionmwon, próximo ao rio Etíope de Olóòkun (que não localizei) o culto a Olóòkun é organizado por vila. Todos os membros de uma vila, homem ou mulher, participam, com o homem mais velho sendo frequentemente designado como sacerdote principal. Em muitos destes vilarejos, existem elaboradas capelas de argila, com até quarenta imagem de tamanho real. Este conjunto reflete o palácio de Olóòkun no fundo do mar, um lugar paradisíaco de pureza, beleza, prazer e prosperidade. Todas a mulheres maravilhosas e crianças estão lá, para serem enviadas por deus para seus devotos na terra. Também existe um armazém de todas as riquezas no mundo, incluindo as mais notáveis contas de corais que adornam os reis do Benin e lhes dão autoridade.”
Esta é a imagem de Olóòkun em toda a religião independente do local. A descrição de Paula Ben-Amos é para a região do Benin (leste da região yorùbá) onde o culto tem sua origem, mas, no restante da religião Yorùbá é a mesma imagem. Olóòkun está associado a beleza, a riqueza e prosperidade. Encontrar Olóòkun significa encontrar a riqueza. Essa figura está amplamente documentada em versos de Ifá.
Lembro que, no Benin e na maior parte da terra Yorùbá, Olóòkun é uma divindade masculina, somente em Ifé que é considerado feminino. Lembro também que como esta nos relatos anteriores o culto é feito por mulheres.
Em ifá as melhores referências a Olóòkun surgem através de sua filha, Ajé, cuja palavra yorùbá significa riqueza. Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) é a filha de Olóòkun e quem traz a prosperidade e riqueza a quem se casa com ela. Em mais de um Odù Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) se casa com ela, para simbolizar o encontro com a riqueza, aliás falar sobre as esposas de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) seria um tema religioso interessante.
Neste aspecto não podemos deixar se lembrar que aqui no Brasil é Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) quem recebe o tratamento da busca da prosperidade, bem mais do que Olóòkun que é pouco conhecido.
Os versos de Ifá contêm muitas referências a Olóòkun e sua filha Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà). Eu procurarei reunir essas referências que já li e ir atualizando este texto com elas, enriquecendo esse entendimento com os versos. No mento não reuni essas histórias ainda, vou compilar à medida que encontro elas.
O que posso dizer aqui é o que eu li. Nos versos de ifá Olóòkun e Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) aparecem muito mais que qualquer outro orixá (Òrìṣà). Os encontros de Olóòkun com Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) e com os demais personagens é bem comum, assim como é comum o casamento de Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) com Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) para esta ter prosperidade.
O sentido do envolvimento deste Imọlẹ̀, Olóòkun é sempre por ele representar a prosperidade e o poder, nos versos esta sempre no mar e sua prosperidade é sempre transmitida por sua filha, Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà).
Olóòkun e Osanobua, seu pai, são considerados deuses calmos, isto é eles representam os aspectos positivos da experiência: pureza ritual, boa sorte, saúde, vida longa, prosperidade e felicidade, tudo isso simbolizado pela cor BRANCA.
Os cubanos têm um ditado que eles repetem muito e que diz “ninguém sabe o que está no fundo do mar”. O sentido disso normalmente é que grandes feitiços são feitos e jogados no oceano, assim você pode estar sofrendo de algo que fizeram contra você, um ebó (Ẹbọ) e colocaram no fundo do mar.
Não temos o ditado, mas, sim, quando alguém quer fazer alguma coisa muito forte contra outra pessoa, faz o ebó (Ẹbọ), aluga um barco e joga isso mar a dentro. É uma prática conhecida.
Não sei a origem disso, creio que não pode estar associado a Olóòkun, não devido ao que eu aprendi sobre esse Imolé (Imọlẹ̀), não lembro de ter lido nada com esse tipo de negatividade. Acredito que isso possa ser algo relacionado a almas mortas e perdidas que ficam no oceano, existe aquela referência de Olóòkun ser dono do domínio que as almas vido ou indo para o órun (Ọ̀run) tem que passar, assim, quem sabe esses ebós não têm o sentido de encontrar essas almas.
Oferendas para o Imolé (Imọlẹ̀)
Eu, devido a Ifá, já fiz muitas oferendas para Olóòkun e Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) e inclusive fiz um assentamento, isso não me faz nenhum especialista, apenas isso cruzou meu caminho e tive que lidar com o assunto.
As oferendas de comida que fiz eram baseadas em frutos do mar, cozidos, sempre e oferecidas em praias oceânicas de mar aberto. Não confundir com as oferentes feitas a Iemanjá.
Oferendas para Ajé Xalugá (Ajé Ṣàlúgà) são variadas mas o que sempre foi importante é, oferecidas nas mesmas praias oceânicas, de mar aberto, nas primeiras horas da manhã quando o sol começa a brilhar no mar e nas ondas. Esse é o horário.
Em cuba as oferendas a Olóòkun são baseadas em tudo o que a boca come. Eles tem ou tinham uma oferenda anual feita com animais e comidas. Tudo era levado para alto-mar em um barco e os sacrifícios feitos no mar. Os animais usados eram carneiro, galo, pombo, galinha dangola, tartaruga e pato. As comidas eram, melado, canjica, milho refogado com cebola, feijão fradinho, banana frita, porco com melado e cará. Os bichos devem ser todos brancos.
Os relatos dessas cerimônias dizem que os animais eram sacrificados no mar e jogados nele, logo depois as comidas e dizem que tudo afundava ao mesmo tempo. Nunca fiz essa cerimônia, espero um dia fazer, mas o que fiz é bem sinistro mesmo, o que a gente oferece some nas águas de uma vez, Olóòkun é uma coisa bem forte.
Atenção carneiro é um bicho de Olóòkun mas somente pode ser oferecido no mar.
Existe uma outra cerimônia que se faz em casa. Envolve sacrifício e comidas. Os animais são, Pato, galo, galinha dangola e pombo. O sangue do galo é colocado em volta do pote, já o da galinha dangola e do pombo, dentro do jarro. Os animais são sacrificados no pote (já falarei sobre isso) e não podem ser comidos.
É colocado um cesto vermelho com fitas azuis, o cesto é colocado na frente do jarro e s pratos de comida ficam em volta. As comidas podem ser porco frito, banana frita, porco com melado, ekuru, abará, acaça com mel, milho cozido e refogado, mas isso podia variar, conforme disse, qualquer coisa que a boca come.
Eles pegavam a comida e se limpavam com ela, como fazemos no Olubajé e sem comer jogam no cesto (um ebó (Ẹbọ) mesmo), jogam também azeite e vinagre.
Terminado a cesta é amarrada com uma trouxa de 2 cores, azul e branca. A procissão sai com uma pessoa jogando água à frente e outra tocando adjá. O cesto é colocado no mar, e na volta, quem jogou o cesto toma banho de erva.
Essas são cerimônias cubanas.
Ferramentas do Imolé (Imọlẹ̀)
O assentamento de Olóòkun é feito em um grande jarro de barro que é pintado de branco e azul ou apenas de branco.
As folhas usadas para Olóòkun são Oxibatá, Ojuorô e tétéregun.
Dentro do pote que será cheio de agua, é colocado, 32 búzios, pedras do fundo do mar e da montanha, pedras de rio, estrela do mar, conchas, coral, chumbo e principalmente um coral cérebro. Algumas penas são colocadas, de agua pescadora e ekodide, penas branca e vermelha.
Existem 2 tipos de penas colocadas no assentamento de Olóòkun, a penas branca de uma águia pescadora, que simboliza a pureza e a pena vermelha do ekodide, que simboliza o poder.
Do lado de fora são colocadas muitas pedras de efun, no pé do pote. O pote é normalmente pintado de branco e contêm agua fresca, agua de rio.
Um dos elementos importantes de Olóòkun é uma cabeça de carneiro, normalmente de madeira. A cabeça de carneiro, animal de Olóòkun representa egungun.
Nos altares de egungun são encontradas imagens de madeira de cabeças de carneiro, chamadas de osanmasinmi. Em alguns casos esta escultura pode ter a forma humana com chifres ou cabeças de mulheres com tranças, que tem o mesmo sentido, as tranças são os chifres do carneiro.
Existem referências que colocam imagens de madeiras, imagens de sereias, bonecos de chumbo. Isso é apenas decorativo. Um remo pode ser um elemento do assentamento.
Os fio de conta são feitos com contas brancas e azuis, podem incluir corais vermelhos, cristais e búzios. O padrão de cores usa 7 contas brancas + 2 contas azuis escuro, total de 9.
Já vi algumas fotos de assentamentos de Olóòkun, todas muito coloridas e decoradas. Isso não é necessário, o que importa é o que colocamos dentro do jarro.
A maior parte das pessoas não tem necessidade de ter qualquer tipo de assentamento de Olóòkun, é uma divindade para quando vier se fazer as oferendas no mar. Contudo não vejo como um Bàbáláwo pode ter uma casa e trabalhar sem ter Olóòkun.
Os cubanos dão valor a coisas irrelevantes e placebos, como os assentamentos de Oko, Odudua, placebos, enquanto não tem ou não conseguem nem ter acesso os que realmente são importantes como Olóòkun, Osumare, Óiá (Ọya) e Eegun, este último eegun de fato não aquilo que fazem.
Ligação com Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́)
O festival Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) está associado a algumas coisas, principalmente a orixá (Òrìṣà) feminino. É uma reverência, principalmente a Iya Nla, um aplacamento e busca de pedidos.
Neste aspecto incluir Olóòkun em um festival Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) somente teria sentido em Ile Ifé, onde é visto como orixá (Òrìṣà) feminino, mas, um aspecto muito relevante de Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) é a busca pelas mulheres de fertilidade e filhos e nesse sentido isso esta ligado a Olóòkun.
Dessa maneira existe uma ligação de Olóòkun e o festival Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́). Para entender isso procure o texto sobre Geledé (Gẹ̀lẹ̀dẹ́).
É importante lembrar que o culto a Olóòkun no Benin, onde é sua origem pode variar em relação ao restante da área yorùbá, mas esta justaposição de orixá (Òrìṣà) e axé (àṣẹ) é bem comum nesta religião, não é nenhuma confusão, o caráter regional permite que isso seja natural. A quantidade de orixá (Òrìṣà) e suas funções não são relevantes na religião.
A única coisa que encontrei sobre Olóòkun foi o livro Olóòkun: owner of rivers and seas de John Mason, que é um autor confiável. Ele mostra um retrato interessante com conteúdo yorùbá e cubano, recomendo a leitura para quem quer um pouco mais de informação.
O segundo livro com bastante informação foi The Art of Benin de Paula Ben-Amos. Eu usei extensamente trechos e informações desses 2 livros. Nesta religião não tem muito o que inventar assim, creio que John Mason citou Paula e eu os dois, mas adicionei minha experiência e análise.
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