Quem é o errado?
inicialmente, para a meia dúzia de seguidores deste blog, lamento minha ausência, mas, nessa época a gente resolver ficar um pouco à toa. Vou tentar recuperar um pouco o tempo mas o mês de Janeiro já se foi.
Existem alguns assuntos preferidos pelos candomblecistas, um deles é reclamar de outros candomblecistas. É uma mistura de pura fofoca, inveja, falta do que falar e um pouco de justificativa.
O caso é que problemas existem, mas, o que mais existe é apenas a mesquinharia e falta de educação e ética mesmo.
Assim, a palavra marmoteiro é presença fácil na boca de candomblecistas. Essa é uma palavrinha fácil e inconsequente.
O discurso contra marmoteiros é o discurso fácil. A pessoa que fala, normalmente, posa de inteligente e de ético. É impressionante ver as pessoas se acusarem de marmoteiros. Porque todo mundo ve a marmotagem no procedimento do outro mas se acha o totalmente certo.
Me impressiona a felicidade como as pessoas ouvem ou lêem as críticas aos marmoteiros. Elas festejam os críticos como heróis e todos sáo unânimes em acharem tudo um absurdo e todo mundo errado mesmo. Contudo, é muito simples se imaginar que, se todo mundo é contra os marmoteiros, como podem existir marmoteiros?
Não estou aqui defendendo pessoas erradas, pelo contrário, estou afirmando que em muitos casos o sujo fala do mal lavado. No Candomblé o dificil mesmo é ser certo. Falar que o outro é marmoteiro pode sair da boca de uma pessoa que sabe o que esta dizendo, mas, também pode ser de qualquer idiota fingindo que é sabido.
Vejam, pessoas corretas e éticas podem se aborrecer com essa minha visão simplista. Mas elas tem também que compreender que elas estão fazendo fileira com todo tipo de pessoa.
Esses dias, em um grupo de candomblé no Yahoo eu me deparei com uma dessas situações insólitas. Um pessoa se auto nomeando como Tata nkise qualquer coisa, como se fosse um respeitável e tradiconal sacerdote de angola, postou uma mensagem falando mal de marmoteiros, aquele discurso cheio de adjetivos, mas, sem nenhum sujeito e nenhum substantivo. Mas, ao fim da mensagem a pessoa diz que na verdade, ele, o tata qualquer coisa, era também, ou de fato, fulano de tal de Oxossi, feito de Orixá por uma sacerdote de Angola, em uma casa dita de Angola e se justificando dizendo que essa pessoa, que o tinha feito, era o tal e que tinha o conhecimento para fazer isso.
Vocës tem idéia do absurdo disso?
Observem, não estou chamando ninguém de marmoteiro, nem o feito nem o fazedor, aliás, não uso essa expressão. O que estou chamando a atenção é para essa cena insólita!
A pessoa feita de orixá por uma pessoa de angola? - Erro. Feito em uma casa de angola para um Orixá? - Erro. Usando oye de angola mas tendo sido feito, como ele mesmo disse, em Orixá? - Erro. Falando mal de marmoteiros? - Erro, primeiro seja certo depois fale dos outros.
E não faltou depois gente para bater palma e elogiar....
O que existe de fato é um monte de gente despreparada, que não sabe em que religião está, o que esta religião significa, por que estão nessa religião e que na maior parte das vezes querem: pular etapas; ter um cargo; ter uma casa só sua para fazer o que quiser. As pessoas querem levar o Candomblé como se levava um madureza ginasial.
Ao invés de ficar acusando uns aos outros de marmoteiros, o que elas devem fazer é ensinar o certo e aprender o que é certo. A realidade que vivemos é que as pessoas não gostam, não querem ou não sabem explicar o que é o certo. Se perdem em detalhes de feitura e esquecem qual o sentido da religião na vida delas, ai, caro, viram evangélicos.
As pessoas que conhecem a religião, que conhecem o Candomblé deveriam se dedicar dia e noite a ensinar outras pessoas. Esta é uma forma melhor de combater o errado. Esta é a abordagem positiva para os mal-feitos que corroem esta religião.
Essas pessoas que adoram apontar marmoteiros muitas vezes não sabem explicar sua religião para uma outra pessoa. Não sabem explicar o que fazem em um terreiro. Não sabem explicar com palavras simples o sentido de dogmas e ritos de sua religião. Não estou sendo elitista. Digo mesmo que existe uma cultura de desinformação atrás de um dogma de segredo e que esta pratica tem gerado mais malefício do que benefício.
Um outro exemplo foi um outro Tata qualquer coisa (esses "Tata", estão se especializando...), que foi dar uma entrevista no Jô Soares. Não sabia explicar a sua religião, não sabia explicar porque a sua religião era muito maior do que a preocupação das pessoas sobre sacrifícios de animais e não conseguiu justificar essa liturgia fundamental.
Este caso foi muito gritante para mim. Era uma pessoa esclarecida, desembaraçada mas que não conseguia desenvolver, e também não tinha a preocupação de fazê-lo, de maneira simples e objetiva os conceitos da sua religião de modo que a sociedade laica pudesse compreendê-la. Esta era a aspiração de muitas pessoas que haviam, inclusive, divulgado por e-mail a participação deste senhor no programa.
Essas pessoas, assim como muitas, gostariam de ver uma pessoa de posição e conhecimento na religião, tendo a oportunidade de estar em uma mídia importante e passar para as pessoas os aspectos positivos da religião fazendo frente aos mitos e críticas covardes que são feitas por evangélicos. Mas foi uma completa decepção.
Eu também conheci um babalorixá que se achava o máximo. Ele tem certeza que ele é o tal, que a casa dele é a melhor e que ninguém se compara a ele. Tudo dele é o bom, é o bem feito. O assunto preferido dele é falar mal de outros ou colocar defeito nas outras pessoas. Também apontar os absurdos dos outros. É muito chato porque esse é o assunto que ele gosta. Diz que senta na mesa de jogo dele e houve fofocas de arrepiar.
Mas essa pessoa ensina as pessoas da casa dele? NÃO. Iyawo lá varre quintal, limpa janela, etc... Ele não gasta o tempo dele transformando os Iyawo e Abian da casa dele nos expoentes da religião. Ele não se orgulha das pessoas que tem na casa dele. Gasta o tempo dele falando dos outros ao invés de ter na sua casa a elite do Candomblé, já que é assim que ele se considera.
Entendam que estou transcrevendo como ele se acha e não como ele é de fato, aliás, se enquadra bem mais na categoria do que falam dos defeitos dos outros e esquece dos dele. Dos defeitos e dos mal-feitos. Contudo a questão é que independente do que ele é, como ele se acha o máximo ele deveria estar formando pessoas assim.
Se você não é parte da solução de um problema, você é parte do problema!
Assim existe uma energia gasta falando mal de outros e apontando marmoteiros sem que seja gasto qualquer energia na pessoa mudar esta situação. Não existe esforço e vontade de ensinar, apenas de falar mal. Sou favorável que se mostrem pessoas sem ética ou com casa que não respeitam a religião. Sou favorável a um controle ético da religião.
Mas as pessoas tem que ser ensinadas. Você ensina na sua casa que vai evitar a criação de novos marmoteiros na boca de outros. Mas também sou favorável a uma abordagem ortodoxa à religião. Nada de tolerãncia com sincretismos. Nada de misturar Candombé e Umbanda em uma casa. Candomblé é nação e Candomblé é Candomblé. Assim a gente define o que é certo e o que é errado.
As pessoas de Candomblé, no dia a dia, não gostam é de cumprir os seus 7 anos de obrigações pagando cada ano devido. Inventam que cumpriram os seus anos, mudam de cidade, mudam de bairro e de casa para apagar seu passado.
As pessoas não gostam é de fazer o seu orixá em uma casa e terminar as suas obrigações na mesma casa. Mudam de casa como se troca de roupa. Não querem se submeter a disciplina e a hierarquia.
As pessoa não gostam é de se submeter e respeitar os mais velhos de uma casa, as pessoas não querem mais obedecer ordem assim como os mais velhos não querem saber de se dar o respeito e respeitar os mais novos.
As pessoas gostam é de receber e inventar cargos que não tem para não ter que obedecer regras.
As pessoa não gostam é de respeitar a sua nação fazendo misturas inaceitáveis.
Assim, na minha visão, as pessoas deveriam se preocupar em fazer o certo, ensinar o certo e cobrar o certo.
Se você ve algo errado DIGA para essa pessoa que ela esta errada, mas diga PORQUE esta errada. Ensine para outros o que entende que é o certo para evitar que as pessoas se enganem. Esta com medo de se expor? Então vá aprender. As pessoas tem com razão uma grande insegurança na religião. Somente os Babalorixá e Iyalorixá é que se pronunciam porque eles tem a prerrogativa de sempre estarem certos na sua casa. Isso mesmo, a maior parte apenas covardes.
Antes de abrir a boca para chamar alguém de marmoteiro, tenha certeza absoluta que você é O CERTO sob qualquer aspecto que o vejam. Sendo dessa maneira, uma pessoa correta e seguidora da sua religião, vai poder não só dizer quem está errado como também explicar o que é o certo.
Ser o CERTO é ser uma pessoa ética, dedicada e empenhada em aprender. É uma religião com muito detalhes e não estou tratando de detalhes meio secretos ou secretos. Estou tratando do básico de toda a religião.
Tem pessoa que gostam de se aproveitar de festas em casa de Candomblé. Mas elas não vão lá pelo Orixá. Vão para comer e lamentavelmente beber. Digo lamentável porque bebida é para ocasiões sociais e laicas. Não lembro de ver isso em eventos religiosos.
Mas, que direito tem uma pessoa que vai em uma casa, como da comida da pessoa e depois sai falando mal dela? NENHUM
Se você vai em um lugar e não gosta do que ve, vire as costas e vá embora, não fica lá batendo palma para maluco, usufruindo da hospitalidade dele e comendo da comida dele.
Chamar os outros de marmoteiros é muito fácil. Dificil é estar disposto para mudar essa situação, colocar a cara na janela, se arriscar, a acima de tudo aprender primeiro.
Vou voltar ao ponto que comecei. Pessoa com pouco conhecimento enchem a boca para chamar os outros de marmoteiros, mas, só para parecerem inteligente e conhecedoras. Duvida que tenham gasto o seu tempo para aprender e se dediquem para mudar esse estado de coisas.
As pessoas deveriam aprender e ensinar deixando então o adjetivo de marmoteiro para os poucos que vão restar.
Mudar o errado passa por ignorar o errado e desprezar o errado. Ignorar não é fingir não ver o errado e sim não aceitar o errado. Você não deve ir lá para ver o errado em função, fazendo presença, número e batendo palma para ele.
Tenha ética
Marcos, tem um texto filosófico de autor desconhecido que deveria ser usado como critério para evitarmos este disse-me-disse:
ResponderExcluir"Na antiga Grécia, Sócrates tornou-se famoso pela sua sabedoria e pelo grande respeito que manifestava por todos. Um dia, veio ao encontro do filósofo um homem, seu conhecido, que lhe disse:
- Sabes o que me disseram de um teu amigo?
- Espera um pouco - respondeu Sócrates. Antes de me diseres alguma coisa, queria que passasses por um pequeno exame. Chamo-lhe o exame do triplo filtro.
- Triplo filtro?
- Isso mesmo - continuou Sócrates. Antes de me falares sobre o meu amigo, pode ser um boa ideia filtrares três vezes o que me vais dizer. É por isso que lhe chamo o exame de triplo filtro.
O primeiro filtro é a verdade. Estás bem seguro de que aquilo que me vais dizer é verdade?
- Não - disse o homem. Realmente só ouvi falar sobre isso e ...
- Bem! - disse Sócrates. Então, na realidade, não sabes se é verdadeiro ou falso.
Agora, deixa-me aplicar o segundo filtro, o filtro da bondade. O que me vais dizer sobre o meu amigo, é uma coisa boa?
- Não. Pelo contrário...
- Então, queres dizer-me uma coisa má e que não estás seguro que seja verdadeira. Mas posso ainda ouvir-te, porque falta um filtro, o da utilidade. Vai servir-me para alguma coisa saber aquilo que me vais dizer sobre o meu amigo?
- Não. De verdade, não...
- Bem - concluiu Sócrates. Se o que me queres dizer pode nem sequer ser verdadeiro, nem bom e nem me é útil, para que é que o queria saber?"
excelente....
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