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terça-feira, junho 09, 2020

O que são os Orixá? - O reflexo disso no Brasil e no Candomblé [ Entendendo a religião Yoruba - Pt. 26]

ANTERIOR: Os católicos e o conceito de paganismo

O que são os Orixá?

O reflexo disso no Brasil e no Candomblé

Em função deste contexto, a religião africana, no geral, e no nosso caso o Candomblé, ganhou o cunho de paganismo e seus Deuses, tipicamente ancestres na sua origem, viraram forças da natureza.

Entretanto, não existe nada que dê valor a isso. No caso do Brasil, para piorar, o kardecismo francês criou toda uma visão espiritual própria que posteriormente a Umbanda se ligou a ela. Como a Umbanda erroneamente (tão errada como usa nomes de santos para seus guias ela usa nome de Orixás do Candomblé. Ambos sem nenhuma relação) se ligou a Orixás, essa mistura confundiu mais ainda as pessoas.

Assim, o Candomblé virou pagão e politeísta. A Umbanda que é uma religião brasileira e não tem vínculo nenhum com a religião Yorùbá, virou parte da tal matriz afro -brasileira e misturou o kardecismo na sua bagunça teológica. Por fim, o Candomblé passou a ser tratado pelas próprias Iyalorixá (Ìyálòrìṣà) como uma seita enquanto elas passavam a pertencer a irmandades católicas, a religião verdadeira, nas palavras delas.

O mal entendimento do Candomblé passou por essa associação histórica de coisas malucas, e, também, por pessoas como Nina Rodrigues que contribuíram para a confusão. Tudo isso acabou colocando as religiões não cristãs, no Brasil, em um mesmo saco, furado, de ideologia espírita.

Em função da lastimável e miserável formação religiosa dentro do Candomblé, estes conceitos de força da natureza, espiritismo e seita, se estabeleceram dentro do próprio Candomblé. Os Babalorixá (Bàbálórìṣà) e Iyalorixá (Ìyálòrìṣà), apesar de terem a propriedade para falar, mas, sem qualquer capacitação, passaram a repetir esses conceitos que lhes eram impingidos pela sociedade culta.

Os que não gostam de ver eu dizer que a formação religiosa do Candomblé é deficiente, devem observar que, o acesso a mitos ou poemas de Ifa, é restrito ou inexistente. O hábito de discutir teologia no Candomblé não existe. Você não consegue juntar 3 Babalorixá (Bàbálórìṣà) sem que seja para eles rasgarem seda entre eles ou brigarem entre si. Poucos estão dispostos a colocar em questão o que sabem ou o que pensam, exceto se for uma cátedra onde ele fala e outros ouvem.

Essas pessoas normalmente não são preparadas para falar em público, discutir suas teses, dirigir pessoas, lidar com desafios verbais e até mesmo orientar o aprendizado de pessoas. São muitas vezes pessoas muito boas, agradáveis e com conhecimento das suas liturgias.

Existe uma dificuldade na formação de sucessores. Pior, as pessoas não se preparam e se capacitam para ter uma casa. Existe uma legião de pessoas com pouco ou nenhum acesso a conhecimento que mesmo assim, sem legitimidade ou capacidade abrem casas e passam a ser autointitular de sacerdotes e representantes da religião.

É claro que essas pessoas, sem terem aprendidos com os seus mais velhos, tem que se virar com algo ou com o que tem. É neste campo que essas concepções idiotas florescem. O que mais vemos é pai de santo, metido a besta, que responde perguntas usando os conceitos do catolicismo misturado com o kardecismo-espirita. Mas, afinal, eles vão dizer o que? Que não sabem? Eles falam o que aprenderam e fazem a famosa “enrolação”.

É claro que a vertente conhecimento não é o forte do Candomblé. A vertente forte é a devocional, a fé. Para isso você não precisa saber o que é, você sente o que é e você também acredita porque sente e vê. A resposta mais comum para quando se pergunta uma coisa do tipo o que é o Candomblé ou o que é o òrìṣà (orixá) ou qualquer coisa de aspecto mais teológico será algo que começa com “…..eu amo meu òrìṣà (orixá)...” e por ai vai uma torrente de expressões de sentimento e fé. Isso reflete de fato o que eles sabem e eles sabem na verdade o que sentem.

Esse é o jeito pelo qual esse tipo de sincretismo é aceito e prolifera. Assim como os africanos fizeram no passado com os antropólogos, as pessoas sabem o que é, elas sentem o que é, e se esta definição, de elemento da natureza satisfaz o inquisidor, que o seja. Isso não impede entretanto que em espaços ou oportunidades como essa a gente possa visitar ou revisitar questões como essa, ou a reencarnação ou o conceito de nascimento e destino, as proibições, etc... evitando assim que da nossa própria boca saia coisas como o Karma.

É claro que saber ou não o que parece certo não faz uma pessoa fazer melhor um santo do que outro. àṣẹ (axé) e roncó é outra coisa, mas, não tem nada demais a gente poder tratar dos assuntos com outra base.


CONTINUAÇÃO: A questão do politeismo e monoteismo

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