A magia como parte da religião
Magia é transformação; Transformação é
magia; Toda magia é mudança; Toda a mudança é magia. (Scott
Cunningham)
As soluções de magia, através do axé (aṣẹ́)
são possíveis, mas, não são o foco da religião, são um efeito
colateral da manipulação do axé (aṣẹ́).
Magia é um processo natural de se lidar e trabalhar
com elementos e energias naturais. Podemos considerar que uma magia é
realizada quando efetuamos uma modificação de qualquer condição
no mundo através de um ritual. Isto não é nada mais do que você
focar o seu desejo na intenção de alguém ou alguma coisa e
mobilizar o supernatural para isso.
Essa religião acredita em magia como um poder
inerente de todos nós, como uma capacidade dos orixá (Òrìṣà) e
um instrumento legítimo de uso. É algo que Olódùmarè nos deu e
devemos usar para ter uma vida melhor.
Não existe nada de engraçado e pequeno nisso.
Pequeno é quem não acredita em magia, quem acha que o mundo é
apenas o natural e que a razão e física dirigem o mundo. Essas sim
são pessoas pequenas ante a grandiosidade do mundo criado por
Olódùmarè. Não entenderam onde vivem.
O uso da magia é um processo legítimo de nos
socorrer em nossas necessidades. Ela é feita através da manipulação
do axé (aṣẹ́) e do poder dos orixá (Òrìṣà). Lembro a todos
que esta religião estabelece que vivemos no àiyé porque queremos.
A gente vive para ser feliz e não para sofrer. O divino nos assiste
nessa caminhada de vida nos ajudando a ser felizes. A magia é parte
disso.
Através do processo de aquisição e manipulação
do axé (aṣẹ́) podemos obter resultados que modifiquem a
realidade. Isso é feito para o nosso bem. As liturgias além de
buscarem o equilíbrio da pessoa também buscam sua felicidade. A
felicidade é o objetivo final os demais são meios e insumos para
isso. Neste sentido restaurar a capacidade do indivíduo viver e
autonomamente é uma prioridade e também o uso da magia como forma
de remover obstáculos e situações negativas.
A ética da religião e dos orixá (Òrìṣà)
determinam o que pode ou não ser resolvido por magia. Existem coisas
que nos mesmos plantamos e trouxemos para a nossa vida. Essas coisas
vamos ter bastante trabalho para nos livrar porque boas ou más elas
nos pertencem. Passamos anos criando aquela situação ou aquele
problema e depois queremos que umas bolas de farinha resolvam? - “Nem
a pau”
Outros problemas ou situações não nos pertencem,
foram trazidas por outras pessoas ou por situações normais da vida.
Essas serão mais facilmente resolvidas pela Magia.
Atentem que desde tempo muito antigos a magia sempre
esteve presente na civilização humana. Magia não significa
malefício. O Malefício é quando você traz o mal ou o prejuízo de
outra pessoa. Na Inglaterra pre-inquisição, antes do século XV, a
magia era uma prática corrente e visava a saúde das pessoas e o seu
bem. Nunca foi um crime. O crime residia no malefício causado a
outras pessoas. As feiticeiras poderiam ser processadas e presas por
causa do malefício causado pela sua magia.
No caso da religião Yorùbá temos a mesma coisa.
Temos o processo visando o bem, mas, podemos ter pessoas que usam dos
mesmos elementos e instrumentos para causar o mal a outros ou fazer
atalhos na vida das pessoas que os pedem causando para isso problema
para outros. Essa é a prática que é usada pelas pessoas que
transformam em comércio a sua religião.
O malefício não é objetivo ou parte desta
religião. Se ele ocorre é por desvio de ética de quem se propõe a
fazê-lo e o desvio existe em quem faz e em quem pede, de forma
igual. Os dois são pessoas ruins.
A energia nuclear, por exemplo, pode ser usada para o
bem, gerando perenemente energia para alimentar cidades, mas, também
pode ser usado como elemento destrutivo. Assim foi com outros
elementos como a pólvora, nitroglicerina, combustíveis, etc..
Tudo o que aprendi nesta religião foi para ser uma pessoa melhor. As bençãos que ganhamos são por merecimento e temos aquilo que trabalhamos e a que fomos destinados. Rezamos para ter ajuda em realizar as coisas para as quais nos esforçamos, sem atalhos.
Tudo o que aprendi nesta religião foi para ser uma pessoa melhor. As bençãos que ganhamos são por merecimento e temos aquilo que trabalhamos e a que fomos destinados. Rezamos para ter ajuda em realizar as coisas para as quais nos esforçamos, sem atalhos.
Um desvio negativo ocorre quando o crente ou
sacerdote passam a ver isso como a única coisa que fazem dentro da
religião. Sem dúvida a prática destas pessoas deverá, sim, ser
considerada fetichista e animista. Sempre será assim quando a pessoa
não se ligar aos elementos de mais alta ordem e ficarem apenas com
só elementos menores.
Nesse caso podemos esquecer a prática da religião e
considerarmos que existe ali apenas a comum, corriqueira e baixa
feitiçaria. As casas de Candomblé abrem suas portas para ajudar
pessoas que não sejam membros no sentido de obterem dessa atividade
uma fonte de renda e subsistência para suas atividades e membros.
Mas o que ela deve oferecer é a ajuda, o bem, a saúde e a
recuperação da esperança na vida.
Em princípio uma casa de orixá (Òrìṣà) deve se
focar nos seus membros e no bem deles. Os membros devem sustentar a
casa e mantê-la funcionando e a casa deve presar pelo bem dos seus
membros. Em alguma escala e alguns casos a abertura da casa para não
seguidores é necessária, mas, isso não deve ser a regra.
Nos dias de hoje as pessoas têm acesso à educação
e formação e normalmente terão um emprego para mantê-las sem que
a religião seja a sua única fonte de receita. Pessoas que se dizem
Babalorixá e não tenham sido capazes de ter uma profissão para
mantê-las e a casa que construíram devem ser vistas com muito
cuidado, porque podem apenas ter uma fachada de religião para
sustentar os seus feitiços.
O caso do Bàbáláwo é bem distinto. Eles não são
do culto de orixá (Òrìṣà) e seu objetivo a atender às pessoas
comuns.
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