O mundo natural, o Àiyé
Ayél’ojà;
òrun’ilé
O mundo físico é um mercado e o órun
(Ọ̀run) é nossa casa, essa frase sumariza a
visão para a relação orun-aiye e nossa vida.
A crença é baseada na existência temporal e da
alma em um corpo humano que permite a essa alma trocar de dimensão,
trocar o mundo supernatural pelo natural.
O corpo é um envelopamento temporário para a alma e
permite a ela participar da vida no Àiyé que termina com o
desencorpamento da alma, a morte, quando a alma se livra do corpo
inútil e desgastado e retorna para casa, o seu lugar permanente.
A morte sob o ponto de vista Yorùbá não é nada
trágico, é uma passagem de retorno para o órun
(Ọ̀run), uma passagem assim como o
renascimento. Uma sociedade cuja religião entende que estamos aqui
de passagem não pode transformar a morte em nada mais do que uma
partida. Nos versos de Ifá a situação de alguém morrer ou ser
condenado a morte como consequência de erros é lugar-comum.
Nesse aspecto é muito importante destacar a
participação do culto de Egúngún na sociedade Yorùbá. Os
Egúngún representa a alma dos nossos ancestres que retornam do
depois-da-vida, do além-vida, para interagir com seus descendentes
vivos.
Os Egúngún são os espíritos que se preocupam com
a comunidade. Eles aconselham e são usados para a solução de
problemas comunitários.
Entre os Yorùbá existe a consciência de que tudo
que vive irá eventualmente morrer, de maneira que os Yorùbá
aceitam a morte como um preço que pagamos por viver.
Existe um ditado popular que diz que “Não existe
nada que viva sem morrer” e ainda “A morte é uma dívida”.
Os Egúngún ajudam os Yorùbá a minimizar o medo da
morte, ao lembrar a todos que a alma é eterna e que a vida se renova
com um renascimento. Dessa maneira eles podem se concentrar nos seus
negócios e em viver.
Vou mais adiante falar sobre a morte no ponto de
vista Yorùbá.
O Àiyé é o mundo natural, onde vivemos e o
que existe para ser explicado pela religião é o importante conceito
do Axé (àṣẹ) que é o elemento de ligação entre o órun
(Ọ̀run) e o Àiyé.
Axé (aṣẹ́) é um dos elementos de base desta
religião, um dos seus pilares na vida no Àiyé.
A religião
entende que Olódùmarè quando nos cria coloca uma centelha de seu
poder dentro de nós. Axé (aṣẹ́) é a energia que todos temos é
a nossa quintessência e tem origem em Olódùmarè. Axé (aṣẹ́)
nos liga a Olódùmarè e torna esse a divindade suprema por
excelência.
O axé (aṣẹ́) é dado por Olódùmarè para todas
as coisas: As divindades, os ancestrais, os espíritos, humanos,
animais, plantas, pedras, rios, palavras ditas em canções, rezas e
pragas. Axé (aṣẹ́) é o poder que todos temos, ou mais
amplamente, o poder que tudo no àiyé possui.
Além desse uso coloquial axé (aṣẹ́) é acima de tudo um pilar da religião e é isso que inclusive justifica o seu uso de forma coloquial. As palavras têm axé (aṣẹ́) de forma que desejar axé (aṣẹ́) para alguém é como se você dividisse o seu axé (aṣẹ́) com essa pessoa.
Cada ser no Àiyé, que é o mundo que vivemos, possui uma composição única de axé (aṣẹ́). Axé (aṣẹ́) é uma qualidade, uma virtude, dada por Olódùmarè de maneira que cada elemento do Àiyé tem uma propriedade ou poder distinto. No caso dos humanos entendemos que essa virtude original varia e as pessoas podem ter virtudes, ou capacidades distintas. O axé (aṣẹ́) que recebemos é distinto.
A palavra “virtude” é usada por mim aqui para descrever esse poder mágico congênito, a propriedade particular ou comum a indivíduos ou materiais.
Axé (aṣẹ́) é também a força da vida, a energia vital, que nos faz viver. Também é a força que nos faz ter a capacidade de interceder no mundo através de poderes supernaturais.
Para não complicar vamos resumir que axé (aṣẹ́) como energia ele traduz:
- A “virtude única” que Olódùmarè nos dá
- A energia básica que todo ser tem e precisa para viver, a força do nosso corpo.
- A força que nos dá a capacidade de interceder no mundo através de poderes supernaturais.
Podemos entender que, vendo de outra maneira, que
existe uma parte comum e uma parte especial no axé (aṣẹ́). A
parte comum é o aspecto de ser uma energia vital presente em todos
os seres e que nos dá a vida. Neste ponto, axé (aṣẹ́) é um
elemento básico e comum.
A parte especial é a virtude que recebemos de
Olódùmarè a força que temos e a a quintessência que nos permite
transmitir isso.
CONTINUAÇÃO: O axé e o conceito de quintessência
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