Ifá, Candomblé e Umbanda
A diferença entre eles
A Umbanda
Este
texto inicia pela Umbanda porque ela, sem dúvida ainda é a
manifestação mais importante e disseminada na sociedade brasileira.
Ela sofre muitos problemas de autoestima e é necessário
desconstruir algumas certezas e pensamentos antes de comparar ela com
as outras 2.
Matriz
religiosa
Em
primeiro lugar, não posso deixar de fazer uma qualificação
religiosa. Ifá e Candomblé fazem parte da mesma religião.
Se referem a mesma teogonia, a mesma cosmogonia e a mesma teologia.
São cultos diferentes da mesma religião, mas, se dedicam a dar
maior importância a aspectos distintos, entretanto, tem muita coisa
em comum, claro, afinal são parte da mesma religião.
E
que religião é essa? Não tem um nome específico. È chamada de
religião Yorùbá, ou religião tradicional Yorùbá. Ela teve
origem junto ao povo Yorùbá, que é uma região da África que hoje
não tem um país separado, ela ocupa parte do Benin e parte da
Nigéria. Lembro que fronteiras civis estabelecidas pelos europeus
quando ocuparam a África, não tem relação direta com as
fronteiras étnicas e tribais.
Esta
religião foi trazida para o novo mundo (Américas) em função da
diáspora negra.
A
Umbanda é outra religião. Não tem nada em comum com o
Candomblé e muito menos com Ifá. Eu fiz um longo texto sobre a
Umbanda neste site que explica isso, e vou reeditá-lo, mas o que
importa aqui é que se trata de outra religião. O crescimento da
Umbanda a partir do Rio de Janeiro (teve origem em Niterói) acabou
com os cultos de macumba bantu que haviam no Rio de Janeiro, o
baixo-espiritismo, que eram muito ruins em todos os aspectos. Eles
acabaram posteriormente se transformaram em Umbandas, agregando a
eles a estética afro. A estética afro na Umbanda, com tambores foi
tardia e não é uma generalização.
A
Umbanda iniciou sem ligação com as práticas africanas dos Bantu,
essa estética foi incorporada a ela tardiamente e podem existir até
hoje casas que não as adotem. Foi uma adoção seletiva e sem
vínculo com teologia. Isso fez com que as pessoas pensassem que a
Umbanda era afro-brasileira - Não é.
Encontramos
de forma consistente uma ligação da Umbanda com a religião
católica em relação a teologia, isso é inequívoco e com traços
do Kardecismo. Esses traços não tornam a Umbanda uma continuação
do Kardecismo, pelo contrário, o Kardecismo em sua literatura recusa
a Umbanda, basta ler com atenção os livros de Kardec para perceber
que a prática que a Umbanda faz é condenada com veemência por Alan
Kardec. Qualquer tolerância ou ligação de um com o outro é apenas
por iniciativa humana, se você se focar na obra de Kardec a Umbanda
é inaceitável.
A
Umbanda não é espiritismo, é Umbanda mesmo.
O
uso da teologia católica é bem comum na Umbanda. Como eu citei a
Umbanda se adapta facilmente a muitas religiões, como a teologia
católica é muito conhecida e por isso mesmo a mais facilmente
adotada. |Muitos podem achar estranho essa flexibilidade da prática
da Umbanda se adaptar a mais de uma religião, contudo a essência da
Umbanda é a assistência às pessoas, a chamada caridade e não a
educação religiosa.
Como
o espírito criador da Umbanda explicou quando lhe perguntaram o que
era a Umbanda, ele resumiu bem “A Umbanda são os espíritos em
terra fazendo caridade”. A frase é de uma grande simplicidade
mas resume bem o objetivo da Umbanda.
Umbanda
x africanos
Assim,
revisando, além de minha informação inicial de que a Umbanda é
apenas brasileira e não afro-brasileira, baseando isso na história
da própria Umbanda, eu expliquei que não existem elementos reais
que liguem a Umbanda a uma origem afro-brasileira. A única coisa que
traz isso foi que, como eu já citei, casas e pessoas que no Rio de
janeiro da primeira metade do século passada praticavam a tal
macumba carioca e o baixo-espiritismo e acabaram tendo que se
transformar em “umbanda”.
Esse
conflito entre a Umbanda que se formava e esses macumbeiros Bantu
(que faziam um trabalho da pior espécie) foi o grande conflito ou
tema que dominou o segundo congresso de Umbanda no Rio de Janeiro. O
Congresso acabou com um acordo de pacificação no meio para chamar
todo mundo de Umbanda e não usar mais as expressões “umbanda
pura” ou “umbanda branca” para distinguir as casas que não
seguiam essa linha Bantu.
Absorver
o grupo o baixo-espiritismo bantu foi um mal necessário, foi ótimo
acabar com esse tipo de prática, mas trazer eles para a Umbanda foi
complicado, eles trouxeram muita coisa ruim junto, incluindo os “sem
trabalho” e “sem instrução” que vivem de feitiços e
enganações. O grupo étnico Bantu, apesar de numeroso na África
não tem e não teve nada a adicionar a sociedade ocidental. No
processo da diáspora negra, eles foram os primeiros a vir mas foram
literalmente esquecidos. Eram considerados pouco inteligentes, pouco
hábeis, baixa evolução social e cultural e com a chegada dos
Yorùbá foram totalmente superados.
Os
Bantu acabaram deixando de lado a sua fraca cultura e absorveram a
dos Yorùbá. Os Bantu é o grupo que mais pode ser associado e
animismo e fetichismo. Mais uma vez, lamento às pessoas que se
aborrecem com esses comentários, mas, eu não invento nada. O grupo
Bantu despertou pouco ou nenhum interesse de antropólogos e
pesquisadores, simplesmente porque tem pouco adicionar.
Lembro
também que o primeiro congresso de Umbanda definiu que a origem da
Umbanda não era africana, de forma que não existe nenhum sentido em
classificar a Umbanda como uma religião afro-brasileira. Isso já
foi alvo de polêmica e acusações de preconceito, a mim pareceu
inicialmente preconceito, mas, quando eu fui obtendo mais informações
sobre o contexto histórico e social eu entendi. A África que eles
não queriam se relacionar como origem é a África Bantu, eles não
tinham a menor ideia do que era o Candomblé e o grupo Yorùbá.
O
que ocorreu posteriormente foi o contrário, o grupo Yorùbá passou
a influenciar a prática da Umbanda. São duas correntes muitos
fortes, uma é a Umbanda que tem uma força incrível e a outra o
grupo Yorùbá que em todo lugar que foi se tornou preponderante e
principal. Pode até ser a junção da Umbanda e da tradição do
grupo Yorùbá resulte em uma coisa boa.
Para
entender a Umbanda, o mais importante é entender a história da
Umbanda, entendendo a história a gente compreende o que era e como
chegou ao que é hoje.
Nesta
altura muitos devem estar se perguntando: qual o objetivo dessa
avaliação Umbanda x africanismo? Simples, é importante para quem
se interessa pela Umbanda ou quer entender ela, que em primeiro lugar
entenda o que ela é. Isso passa também por entender o que ela não
é, a Umbanda é uma religião brasileira, não é uma religião
afro-brasileira.
Alguns podem se decepcionar outros ficar mais tranquilos, existe reação e gosto para tudo. O importante é entender os fatos e a verdade.
Alguns podem se decepcionar outros ficar mais tranquilos, existe reação e gosto para tudo. O importante é entender os fatos e a verdade.
A
Umbanda é a Umbanda. Ela não é o espiritismo Kardecista e muito
menos tem vínculo com ele. Ela não é afro-brasileira. Tenho
certeza que essas 2 afirmações causam o mesmo espanto. Para
entender isso melhor leia o texto sobre Umbanda nesse BLOG.
Assim
se você se interessar ou procurar a Umbanda, não entenda-a através
desses 2 rótulos. Esses rótulos fazem mal a Umbanda. Por que?
Simples, as pessoas que acham que ela tem relação com o espiritismo
Kardecista vão se assustar com as diferenças e podem não entender.
As pessoas que acham que ela é relacionada com o Candomblé vão se
decepcionar com as diferenças. Em ambos os casos vão esperar uma
coisa e encontrar outra, a decepção é certa.
O
Supernatural – Os Guias
O
processo de “incorporação de espíritos”, que caracteriza a
Umbanda, não é africano, e muito menos espírita, é algo que
ocorre de vários aspectos e formas em todo o mundo. Além disso,
como todos devem saber a Umbanda é centrada na figura do Caboclo, o
índio brasileiro, em muitos lugares eles são os personagens
principais e os “donos” das casas. Esses caboclos não são
personagens africanos.
Eu
faço sempre um comentário, que não é no sentido pejorativo, de
que a Umbanda é muito “teatral” no que diz respeito a seus
guias, incorporações, formas de se vestirem e falarem. Isso é
muito característico em algumas casas sendo que outras buscam uma
linha mais natural, eliminando isso. Não vejo problema em nada
disso, ser mais um menos teatral, é uma opção da casa,
pessoalmente prefiro um trabalho mais limpo e menos teatral, que
valorize mais o conteúdo do que as aparências, os guias devem se
valorizar pelo que falam e não como se vestem e portam.
Essa
questão de formato e teatralidade não deve assustar as pessoas ou
mesmo impressionar, são questões humanas. As pessoas devem prestar
atenção é no conteúdo, significado e utilidade do que eles falam
e não como se apresentam. Isso não é uma regra da Umbanda e cada
casa tem seu padrão.
A
Umbanda tem um amplo conjunto de guias. Esse conjunto não tem
limite, pode crescer ou diminuir e os guias podem ser vistos,
entendidos e agrupados de formas distintas. A Umbanda tem uma
conceito de linhas e falanges que é bem flexível, houveram algumas
iniciativas de estabelecer um padrão e uma codificação mas não
foi amplamente aceite. Foi parcialmente aceite e amplamente
customizada.
Nesse
conjunto de guias, apenas um deles de fato faz referência a origem
africana, que são os pretos velhos, contudo, observem, não são
africanos, são pessoas que nasceram no Brasil e viveram aqui, não
lembro em muitos anos de Umbanda de ter conhecido algum preto velho
que fosse “africano”. Apesar deste tipo de guia remeter a uma
memória africana, quando falam eles apenas se referenciam a sua vida
no Brasil, isso é absoluto, não existe África na Umbanda.
Além disso existem inúmeros outros tipos de guias e nenhum deles
tem qualquer vínculo.
Também
encontramos na Umbanda os ditos “orixás” que seriam associados
aos ORIXAS originais africanos, presentes no Candomblé. Essa é uma
associação teatral. Esses orixás na Umbanda não tem nenhuma
similaridade com os do Candomblé. São diferentes em tudo, inclusive
na incorporação, são essências totalmente distintas. Eu vejo essa
associação como uma infelicidade, não era necessária e tira a
identidade da Umbanda, mas, sem dúvida, ela existe de fato. A maior
parte dos participantes não tem a menor ideia do que são os Orixás
ou o Candomblé.
Os
guias da Umbanda não são nem santos da igreja católica e nem
Orixás do Candomblé. Essa associação é estética e sincrética e
não deve ser levada a sério. Existem pessoas que juram que os guias
de Umbanda são os tais santos da igreja católica assim como outros
juram que são os orixás do Candomblé. Esses 2 grupos estão
igualmente errados, são igualmente ignorantes e não podem ser
levados a sério.
As
pessoas que entendem de Umbanda mesmo sabem e explicam que esses
guias chamados de “orixá” são na verdade CABOCLOS. São um tipo
de caboclo de um nível hierárquico superior, mas, são caboclos, se
comportam como caboclos, falam e dançam como caboclos.
O
que vamos encontrar na Umbanda, como explicado, são espíritos,
chamados de guias que incorporam em médiuns para que, manifestados
desta forma, conversem com os frequentadores dando lhes orientação
psicológica e se comprometendo a resolver alguns problemas que essas
pessoas tenham e venham trazer a eles. O contato dos frequentadores
com os guias é direto.
A prática da Umbanda
Após
falar longamente sobre o que não é a Umbanda finalmente vamos falar
do que é a Umbanda.
O
guia na Umbanda é o núcleo de tudo. Ele é o sentido de toda a
prática. As pessoas vão na Umbanda para conversar com guias, esses
guias trazem as informações e orientações que as pessoas buscam.
São eles que se comprometem em socorrer as pessoas. Quando se vai a
uma Umbanda vai-se para conversar com os guias. A qualidade ou
utilidade de uma casa de Umbanda é diretamente ligada a qualidade
dos guias que trabalham nela.
Este
é um modelo muito diferente do Candomblé onde o núcleo é a figura
do Babalorixá ou Iyalorixá. Os demais membros da comunidade do
Candomblé giram em torno dele em funções colaterais. Não se vai
em um Candomblé para falar com um Orixá de algum médium, aliás
nem existe a palavra médium, são eleguns.
Na
Umbanda existe uma descentralização do trabalho e da importância,
cada guia pode fazer a diferença, dependendo apenas da experiência
do médium, do tempo de prática dele, da dedicação e outros
comportamentos positivos. Podemos ter até mesmo guias e médiuns que
tenham tanta importância quanto o dirigente da casa.
O
dirigente da casa sempre será importante pela sua experiência e
conhecimento e seus guias poderão ser sempre muito procurados e
lembrados, mas, a prática da Umbanda é descentraliza. A casa
estabelece um formato, valores, ética e rumo mas guias poderão
evoluir e ganhar importância.
Esse
modelo é impensável no Candomblé. Em uma casa de Candomblé, só o
dirigente fala, só ele dá ordens, só ele atende pessoas e ele
sempre tem a razão em tudo que faz e diz.
Não
entendo como um médium com anos de prática na Umbanda e com guias
experientes e respeitados jamais vai conseguir se adaptar a uma casa
de Candomblé. Não encontro jeito disso acontecer.
Mas
a principal questão que todos devem querer saber é, o que as
pessoas procuram ou obtêm em uma casa de Umbanda através desses
guias?
-
Tudo o que você pode obter também no Candomblé e em Ifá.
É
isso mesmo.
Veja,
a Umbanda é uma religião, de forma que, a visão religiosa do mundo
a visão transcendente também é encontrada nela, assim como pode
ser encontrada no Candomblé. Os guias têm como objetivo ajudar às
pessoas com orientações e também gradativamente mudando a forma de
pensar e de reagir. A Umbanda faz mudanças profundas nas pessoas.
O
mesmo tipo de orientação que você pode encontrar no oráculo do
Candomblé você também vai encontrar através dos guias. Os guias
de Umbanda, de Caboclo a Exu não estão ali para fazer trabalhos a
troco de dinheiro. Esta é uma visão equivocada.
Na
Umbanda, você encontra religião nas palavras dos guias. Na Umbanda
você encontra informação, orientação e conselhos nas palavras
dos guias. Na Umbanda o oráculo são os guias, eles falam o que você
vai encontrar em uma mesa de búzios ou de cartas e te dão a
oportunidade de perguntar e entender. Na Umbanda os guias não dizem
o que você deve fazer, eles te ajudam a escolher.
Para
aquelas pessoas que preferem conversar sobre os problemas, que tem
dúvidas amplas que precisam ser esclarecidas, que preferem tratar
diretamente dos problemas sem intermediários que ficam
interpretando, a Umbanda é a opção.
Os
guias estão no centro de tudo.
Tenha
certeza de que na Umbanda você poderá contar com ajuda para
resolver problemas da mesma forma que encontra no Candomblé ou Ifá.
Na
Umbanda você encontra ética e respeito. Você encontra valores
elevados. Tudo isso esta a seu alcance basta procurar uma boa casa,
assim como no Candomblé e em Ifá. Em nenhuma dessas 3 opções
existe garantia de qualidade, você tem que procurar.
Mas
a Umbanda tem limitações. Existem informações que somente Ifá
pode dar à pessoa. Existem certos tipos de trabalhos e liturgias que
também são mais indicados para Candomblé ou Ifá. Quando isso
ocorrer, a própria Umbanda te orienta, mas, observem, o mesmo vale
para as demais, existem coisas e informações que a Umbanda traz
melhor e com mais precisão e elas deveriam te recomendar a ir a uma
casa de Umbanda.
Por
que ir a Umbanda e não ao Candomblé e a Ifá?
Não
é difícil responder, afinal a Umbanda fala a sua língua, lá
ninguém fica o tempo todo te confundindo com bobagens e palavras que
eles nem mesmo sabem o que significa. A questão é, porque você
procura uma religião? Isso fica em primeiro lugar. Você não deve
ir a uma religião para comprar soluções. Se você acha que Umbanda
é uma casa de trabalhos e de ebós esta indo ao ligar errado, é
acima de tudo um lugar de transformação pessoal.
LINKS PARA UMBANDA
A Umbanda salvou o Candomblé
As diferenças entre Umbanda e Candomblé
Profissão Pai de Santo
Nenhum comentário:
Postar um comentário