Qual o significado de um Igbá?
Revisão 2
Na
religião Yorùbá, Igbás (awọn igbá) são
assentamentos de orixá (òrìṣà). Um assentamento é uma
representação do orixá (òrìṣà) no espaço físico, no
mundo, no aìyé. Sob o ponto de vista sacro não existem
representações humanas de orixá (òrìṣà) as famosas
imagens.
A
religião Yorùbá não tem imagens para representar suas
divindades, o que representa uma divindade é o seu Igbá, ao
olharmos um Igbá é como se estivéssemos olhando para a divindade.
Secularmente existem representações em forma de desenhos e
esculturas mas que são frutos apenas de criatividade de artistas e
não tem uso sacro.
Os
Orixá (awọn òrìṣà) são adequadamente representados
por símbolos e grafismos próprios de cada um e por extensão por
outros elementos como folhas, árvores, favas e contas. Mas o Igbá
é a sua representação mais adequada.
Vale
refazer a afirmação, já explicada em outro material, de que o
orixá (òrìṣà) não são elementos da natureza, assim
“olhar” o vento não significa olhar para oya, olhar uma pedra
não significa olhar para Xango (ṣàngó), olhar para o mar
não significa olhar para yemoja, etc..
O
mesmo sentimento que um católico tem ao olhar para uma imagem de um
santo em sua igreja e altar, o povo de santo tem ao olhar para um
igbá. É muito comum as pessoas, nos seus quartos de santo,
“vestirem” seus Igbá com suas roupas de orixá (òrìṣà)
como se fosse o próprio orixá (òrìṣà). Contudo, igbá
são de acesso muito restrito, de uso exclusivamente sacro e
ritualístico, não tem visibilidade pública e ficam guardados dos
olhos de todos.
Dessa
maneira, cada Igbá representa uma divindade através de um
continente (Vaso, invólucro, recipiente) e seu conteúdo, e esse
conjunto, continente e conteúdo é específico de cada divindade.
Esses continentes podem ser de porcelana (substituindo cabaças),
barro ou madeira e serão empregados distintamente para cada
divindade que ele representa. São usados elementos físicos comuns,
como tigelas, sopeiras, pratos, bacias e alguidares.
O
iniciado no seu processo de feitura (que é distinto de uma iniciação
mas muitas vezes essas expressões se confundem) poderá receber um
ou vários Igbá, dependendo do seu status na religião e
da própria tradição da casa em conduzir este ritual.
Mas
o igbá não é o orixá (òrìṣà) no aìyé. Essa
religião não coloca um orixá (òrìṣà) dentro de uma
sopeira, não é uma religião animista. O igbá representa
apenas a ligação entre os 2 espaços, o espaço físico – aìyé
e o espaço espiritual o Orun (ọ̀run). É uma “ponte”
entre os 2 espaços. Sua função não é trazer o orixá (òrìṣà)
para o aìyé porque os orixá (òrìṣà) já estão
presentes em nossa vida o tempo todo, não existe secularismo na
religião. Sua função é completamente ritualística.
O
igbá é, de fato, dentro de toda a religião Yorùbá uma
dos elementos mais importantes e significativos por traduzir a
contínua relação entre o Orun (ọ̀run) e o aìyé.
Ele representa o reconhecimento da existência do espaço espiritual,
o Orun (ọ̀run), e a ligação perene que existe entre os 2
espaços (ọ̀run-aìyé) na forma de um contínuo duplamente
alimentado e da circulação, transformação e reposição de axé
(àṣẹ). Dessa maneira o seu valor não esta somente na sua
existência como instrumento ritualístico, como foi ressaltado no
início, mas também no que ele representa.
Toda
religião tem símbolos e simbolismos. Uma cruz para os católicos
representa muito também: todo o significado da paixão e do
sacrifício de Jesus. Assim esse símbolo traduz em sí muito mais do
que somente a lembrança da crucificação de Jesus e sim um todo da
sua doutrina, poderíamos falar muito apenas olhando para uma cruz. O
mesmo vale para um Igbá. Nada é mais sagrado por sí só
pelo seu uso e nada pode traduzir tanto da doutrina que cobre a
religião Yorùbá como o entendimento da sua função.
O
Igbá é uma manifestação de Fé, e por isso um
reconhecimento de nossa Fé na religião. De acordo com a metafísica
Yorùbá, para tudo que existe no aìyé existe um
duplo no Orun (ọ̀run). O Igbá é um elemento de
ligação entre essas 2 porções e um instrumento de concentração
de energia. É usado para nos ligarmos às divindades, liga o físico
à dimensão espiritual, a dimensão aìyé à dimensão Orun
(ọ̀run).
O
objetivo de um Igbá é potencializar a ligação Orun-aìyé
(ọ̀run-aìyé) sendo o instrumento que no aìyé
representa o duplo do Orun (ọ̀run). O Igbá está
vinculado diretamente a uma pessoa no aìyé mas não a
representa e sim ao duplo do Orun (ọ̀run). Como já foi dito
ele não armazena um orixá (òrìṣà), ele não é uma
lâmpada mágica que esfregamos para dali sair um orixá (òrìṣà).
Ele é a ponte de ligação direta entre o aìyé e o Orun
(ọ̀run) entre o iniciado no aìyé e suas energias e
divindades no Orun (ọ̀run).
Um
dos principais usos que se dá a ele é receber os Ebós (ẹbọ),
que são sacrifícios de todo o tipo, entendendo que o sentido de
sacrifício na religião não envolve o uso de sangue em sí. Um
sacrifício por ser qualquer oferenda que vai se converter em axé
(àṣẹ). Um Obi é um sacrificio, um Acaça é um
sacrifício e pode substituir um boi.
Esse
aspecto de participar ativamente de Ebós (ẹbọ) é uma
finalidade muito importante, mas não imprescindível. Não se
precisa de um Igbá para fazer uma oferenda, mas, todo
sacerdote tem e usa os seus para isso. Isso tem todo o sentido, sendo
o Igbá um elemento de ligação ou de potencialização dessa
ligação como está sendo dito realizar isso junto a eles é fazer
esse instrumento funcionar.
Em
outro material está muito bem explicado essa questão do Ebós (ẹbọ)
mas é importante lembrar que um Ebós (ẹbọ), uma oferenda
é uma parte de um processo de transmissão e reposição de axé
(àṣẹ) e os elementos utilizados são transmutados em energia, em
axé (àṣẹ).
Dessa
maneira ao se fazer isso através de um Igbá está se fazendo chegar
ao duplo do Orun (ọ̀run) referenciado por aquele Igbá a
transmutação da energia dos elementos afins a ele que foram usados
no sacrifício.
O
ponto que está sendo ressaltado é que o Igbá em um Ebó (ẹbọ)
é o instrumento que direciona, potencializa e agiliza a este ase
chegar ao Orun (ọ̀run). O Igbá não é um instrumento para
“alimentar” o iniciado no aìyé.
O
Igbá pode ser coletivo ou individual. Quando coletiva
chama-se Ajobó (ajọbọ) e liga uma comunidade a sua
comunidade espiritual, ao coletivo que ela representa e a divindade
que a protege. Quando individual liga a pessoa ao seu reflexo no Orun
(ọ̀run).
Do que é feito um Igbá?
O
Igbá é feito usando materiais que estão ligados à
divindade que ele representa. Assim o material e o seu conteúdo
ajudam a estabelecer a relação, devendo ser utilizados sempre
elementos completamente afins com a divindade e que traduzem a
matéria original do Orun (ọ̀run). Conhecer essas relações
e afinidades é parte do aprendizado de um iniciado durante sua vida
e somente aqueles que as conhecem terão verdadeiro sucesso no seu
trabalho ritualístico.
O
principal elemento dentro de um Igbá é a pedra, o okuta.
Acima de os demais componentes ela receberá todo o trabalho ritual
de preparação e por essa razão muitos dizem que é a única coisa
importante, todo os demais é apenas decorativo. A pedra para os
Yorùbá significa a longevidade a existência perene. Os
demais elementos fazem parte do enredo do orixá (òrìṣà)
de maneira que não são apenas decorativos. Entretanto muitos itens
que são colocados em um igbá pode ser meramente decorativos.
Os
demais elementos em um Igbá variam entre metais, favas, folhas e
outros materiais que remetem ao orixá (òrìṣà) original.
O elemento escolhido para o continente do Igbá também terá
relação direta com ele. Tudo dentro de um Igbá é feito
para traduzir a matéria original do Orun (ọ̀run) que foi
materializada no aìyé através do iniciado ou da comunidade
que o Igbá representará.
A
escolha de cada elemento depende de para quem será feita a ligação.
Cada orixá (òrìṣà) tem os seus elementos correspondentes
no aìyé. Adornos e enfeites exteriores que apenas agradam ao
ego de quem faz não ajudam nisso. O importante é as folhas, as
favas, os metais e outros elementos genéricos como os búzios.
Entendo que moedas, muito presentes, deveriam ser representadas
apenas pelos búzios, que eram dinheiro, mas muita gente coloca mais
como um desejo de prosperidade do que um elemento de ligação de
fato.
O
material do recipiente externo é escolhido entre algumas opções. A
cabaça é substituída pela porcelana branca para os orixá (òrìṣà)
fun fun, o barro e excepcionalmente a madeira para um orixá (òrìṣà)
específico. As cores desses materiais e elementos decorativos vão
compor esse conjunto de forma harmoniosa. Para o caso das cores
existe muita criatividade. Os Yorùbá reconhecem apenas 3
cores, o branco, o vermelho e o preto. As demais cores são elementos
de uma dessas 2 famílias e as representam da mesma maneira. Assim o
verde e o azul são elementos da cor preta. O amarelo do vermelho e
por assim vai.
Todo
Igbá individualizado é composto de um recipiente com tampa
(continente) contendo a pedra, okuta, o núcleo do Igbá e os demais
elementos com água, óleos e outros elementos líquidos. O igbá sem
tampa são usados em assentos coletivos, não individualizados,
eventualmente casas e axé (àṣẹ) podem fazer variações
disso.
O vínculo Ọrun-aìyé
Uma
questão importante quando falamos de Igbá é o que ele
traduz de fato e a questão de a quem pertence e o que ele traduz .
Como explicado, já extensivamente, é um elemento de ligação e
pode ser coletivo ou individualizado, mas, como explicado nunca é o
orixá (òrìṣà) no aìyé.
O
aspecto coletivo-indivíduo também é uma das características
marcantes da ritualística da religião. Estamos todo o tempo lidando
com essas 2 faces do divino que é coletivo como todo o divino, mas,
para os iniciados, os sacerdotes individualizadas em sua
manifestação.
O
exemplo mais individualizado possível do divino é o do Igbá
ori. Nada é mais próprio, pessoa e individualizado do que um
Igbá Ori. Seguindo o que repetimos a exaustão, o Igbá é
a representação no aìyé do duplo no Orun (ọ̀run), o ori
no Orun (ọ̀run) a divindade pessoal, que está no Orun (ọ̀run)
e nos protege, guia nossos passos, abre e fecha nossos caminhos e
esta acima de qualquer orixá (òrìṣà) em nossa vida. Não
representa o Orì que está no aìyé uma vez que esta
resida na própria pessoa. Usamos o Igbá orì para chegar ao
Ori no Orun (ọ̀run) o duplo por excelência. No processo que
chamamos de Bori a oferenda ao Ori, o processo de reposição
de axé (àṣẹ), duas entidades serão alimentadas com axé (àṣẹ)
o duplo do Orun (ọ̀run) e o Ori que está no aìyé.
O
Igbá Orì nesse processo e durante o processo, é criado e é
por excelência o elemento fundamental na execução de um Bori mas
pode não mais existir após a sua execução. Uma vez realizado o
Bori ele pode ser desfeito, despachado junto com os demais elementos
utilizados e oferecidos. Contudo nada impede, como provavelmente na
maior parte das vezes, ele ser preservado tornando mais perene e
forte o vínculo Orun-aìyé (ọ̀run-aìyé) .
É
claro que esse vínculo não se perde quando despachamos o Igbá,
da mesma forma que nenhum vínculo de desfaz quando despachamos um
Igbá ou não o temos. O Igbá é um instrumento de
intensificação disso a ser criado e usado por que sabe o que está
fazendo.
Na
tradição do Candomblé onde o culto ao Orì se manteve
sempre presente e importante não se faz um Bori sem que seja criada
a representação no aìyé do Ori. Não me interessa tratar
aqui da forma como outras tradições religiosas da mesma base fazem
isso porque muitas delas não o faziam e adotaram tardiamente
copiando o que viam ou ouviam falar e muito menos o que tradições
africanas que perderam a sua origem no processo de cristianização e
islamização tendo que buscar em literaturas suas origens. No
Candomblé sempre foi feito assim.
Dessa
maneira o Igbá Orì é um exemplo vivo, conhecido e forte do
que foi dito aqui sobre o que é um Igbá, sua finalidade, seu
uso e aplicação prática.
Voltando
ao ponto do coletivo individual, no caso dos orixá (òrìṣà),
na feitura de um olorixá o processo de ritual é todo voltado para a
individualização. Assim, se inicia com o genérico que é o orixá
(òrìṣà) e se faz a individualização deste através da
ligação Orun-aìyé (ọ̀run-aìyé) para a pessoa, e isso é
realizado no momento em que se cria a ligação Orun-aìyé
(ọ̀run-aìyé) através do Igbá. Os animais que
serão usados, os elementos colocados e dispostos, a ritualística de
elaboração. Uma determinada qualidade será feita com o okuta indo
ao fogo, etc... A individualização nascerá nesse momento e o Igbá
por excelência é a marcação desse caminho, distinguindo assim
um assento coletivo de um assento individual através da ligação
Ori-okuta. O processo de individualização passará pela
ritualística e também por materiais, metais, favas e folhas,
específicos daquele orixá (òrìṣà) para aquela pessoa.
Já
o orixá (òrìṣà) genérico será ligado através do Igbá
genérico aquele que não passará pelo processo de individualização.
Dito
isso voltamos ao ponto de que um Igbá òrìṣà criado
dentro do processo de feitura não é um Igbá genérico ou
coletivo, ele foi individualizado através da ligação Ori-okuta e
sempre estará ligado aquele Ori.
Dentro
da ritualística devemos lembrar que a pessoa é preparada para ser
ele próprio o receptáculo do orixá (òrìṣà), o seu Igbá
vivo. Um Ìyawó é um Igbá vivo do seu orixá
(òrìṣà). O Igbá físico complementa isso ligando
não mais o orixá (òrìṣà) genérico mas sim o orixá
(òrìṣà) individualizado no Ìyawó ao orixá
(òrìṣà) origem no Orun (ọ̀run) através de uma
ligação individualizada, do Igbá individualizado.
Esse
aparato físico ritualizado na iniciação deixa de ser matéria
ordinária, barro, metal, ou fava e passa a constituir o caminho
metafísico para o orixá (òrìṣà). Mas também não é mais uma
ponte para o axé (àṣẹ) genérico do orixá (òrìṣà)
e sim a sua fisicalização individualida naquele Ìyawó.
Assim temos 2 caminhos, o caminho coletivo e genérico e o caminho
individualizado. Os Igbá são os instrumentos de amplificação
dessa relação entre os 2 espaços e o acesso ao ase de cada orixá
(òrìṣà). Todo o processo de equilíbrio e restituição
de axé (àṣẹ) passara por eles para ir ao duplo no Orun
(ọ̀run) e retornar no aìyé para quem necessita.
Uma
pessoa não será dependente de seus Igbá. Acima de tudo a
relação desses espaços sempre existirá e jamais estamos não
assistidos. Podemos não ter o instrumento de amplificação mas
sempre teremos nosso ori e todos os orixá (òrìṣà).
A quem pertence um Igbá?
Um
Igbá orì é tão pessoal que jamais deveria ser mantido no
Ile, longe de seu dono. Esse Igbá é individualizado uma vez
que não encontraremos no Orun (ọ̀run) um Ori coletivo mas
sempre individual de forma que ele e só tem sentido e utilidade pelo
seu próprio dono. Deveria assim estar junto da pessoa na sua casa.
Nos casos em que essa pessoa não tem condições de mantê-lo em
casa o Ilê Axé (Ilé àṣẹ) é o lugar natural.
O
problema sempre surge em relação aos Igbá de orixá (òrìṣà)
que despertam grandes paixões. Esta é uma religião praticada em
torno dos orixá (òrìṣà) e seu culto assume demais
importância. Deveria ser um culto ao Ori, a família e a
ancestralidade mas o culto ao orixá (òrìṣà) assume
proporções muito grandes.
Uma
pessoa durante o seu processo de iniciação poderá receber um ou
muitos Igbás, tudo depende da tradição da casa. Eu entendo
que o mínimo que uma pessoa deve ter após sua iniciação seria, o
seu igbá orì (que já deveria existir bem antes, muito antes
da pessoa se iniciar), o Igbá do seu orixá (òrìṣà)
e o Igbá ou assentamento do Exu bara (èṣù bara) do
seu orixá (òrìṣà). Este conjunto Igbá Orixá +
Exu bara é básico e imprescindível.
A
este conjunto básicos outros elementos podem ser adicionados como o
Igbá do seu juntó que é o seu segundo orixá (òrìṣà),
e os Igbá do seu enredo de orixá (òrìṣà). Deve se
entender por enredo o conjunto de orixá (òrìṣà) que
formam sua energia no aìyé e isto esta diretamente ligado ao
processo de individualização. Assim a quantidade e qualidade dos
Igbá que uma pessoa terá como parte do seu “enredo”
depende da sua qualidade de orixá (òrìṣà) e de seu
próprio caminho na religião, coisa que só é determinado durante o
processo de feitura e consultas ao Oráculo.
Algumas
casas fazem todos esses Igbá durante o processo de iniciação,
outras vão adicionando isso ao longo das obrigações de 1, 3 e 7
anos. Se a pessoa terá Oye de babalorixá (babalórìṣà)
ou dependendo o oye que essa pessoa venha a ter, o conjunto de Igbás
(awọn igbá) será distinto de pessoas que não terão oye –
cargo sacerdotal. Observe que nem todo mundo que é iniciado nessa
religião será um babalorixá (babalórìṣà) ou iyalorixá
(ìyalórìṣà). A maior parte sera formada de egbons, mais
velhos.
Um
iniciado em uma casa terá então uma quantidade significativa de
Igbás. Mas, a quem pertence isso, a quem pertencem esses
Igbás? Digo isso porque todos devem ter conhecimento do problema
envolvido na posse de Igbá orixá. Muitas casas não permitem que
nunca a pessoa retire os Igbá de dentro dela, nem mesmo
quando seria natural que é quando a pessoa completa seus 7 anos.
O
mais comum é que após desavenças durante o seu período de Ìyawó
a pessoa quera deixar o Ilê Axé (Ilé àṣẹ) e
naturalmente queira levar consigo os seus Igbás. Muitos as vezes nem
conseguem mais entrar e ficam preocupados tendo deixado para trás
seus Igbás devido a eles representarem um ponto de vulnerabilidade.
De
fato, todos tem razão. Um Igbá sempre será um ponto de
vulnerabilidade, principalmente o igbá ori. Esse jamais
deveria estar em um Ilê Axé (Ilé àṣẹ). Mas a primeira
coisa que tenho a dizer é tome cuidado com o que faz da sua vida.
Nunca entre em nada sem avaliar tudo antes. Tem que conhecer primeiro
a casa, o dirigente e as pessoas que frequentam a casa. As pessoas se
dão mal porque se precipitam, colocam a vaidade na frente. Assim se
a decisão de iniciação for mais consciente os problema serão
menores. Segundo não se sai de um Ilê Axé (Ilé àṣẹ)
por qualquer motivo fútil. Se foi seu orixá (òrìṣà) que
escolheu aquela casa (essa é a tradição, é o orixá (òrìṣà)
que escolhe onde quer ser iniciado e não a pessoa) então se submeta
aos caprichos de outros. Mantenha o seu respeito e sua
individualidade mas vaidade por vaidade a sua deve ser a menor.
Durante
uma feitura não existe apenas um processo de individualização
existe também um processo de ligação com o axé (àṣẹ)
da casa e do iniciador. Um Ìyawó está fortemente ligado a
casa e a pessoa que o iniciou. O processo ritualístico leva
componentes que criam essa ligação, assim o iniciador considera que
aqueles igbá não são independentes, eles adicionaram axé
casa e receberam axé da casa. Foram parte de um conjunto. É
entendido que seu sentido de existir é dentro daquela casa.
Se
a pessoa sair, que faça seus Igbá na sua próxima casa. De
maneira que não estamos discutindo a propriedade de louças e barro
e sim de asé. Isso é verdade. Se você deixa para trás os seus
Igbás, não se preocupe, faça outros no próximo lugar que vai, o
orixá (òrìṣà) vai com você.
Eu
entendo que o ninguém segura ou fixa um orixá (òrìṣà)
na sua casa mantendo o Igbá de um iniciado que se foi. O Igbá
é uma individualização e só tem sentido, só tem função
junto ao próprio iniciado. Se quiser manter um orixá (òrìṣà)
em casa que trate melhor as pessoas.
O Igbá e a morte
Com
a morte do iniciado o Igbá deixa de ter sentido. A ligação
não mais existe e se você não quer conviver com um egun atrás de
você é recomendado que despache tudo junto. Existem pessoas que
entendem que se deve consultar o Oráculo para saber se o orixá
(òrìṣà) quer ir embora ou não, ou seja, se o Igbá
vai ou não no carrego e em vitude dessa consulta muitos Igbá
ficam no Ilê Axé (Ilé àṣẹ). Entendo que é um
forma de ver isso. Acho mais natural que tudo se vá, não há motivo
para se manter um vínculo Orun-aìyé (ọ̀run-aìyé) com um
orì que não mais existe no aìyé isso vai contra o
fundamento do axexe (aṣeṣe), mas, cada um siga sua
consciência e o que aprendeu.
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