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sábado, janeiro 08, 2022

Por que tantos deuses? Não podemos ter apenas 1?

Por que tantos deuses? Não podemos ter apenas 1?

 

 ( este texto foi feito para ser o roteiro de um vídeo do canal e por esta razão tem referências ao canal)

 

Existe mesmo no meio de pessoas que dizem que fazem parte dessa religião, sejam sacerdotes ou crentes, o entendimento de que existe nela um culto a diversos DEUSES.


As pessoas chamam Orixá (Òrìṣà) de deuses como se isso fosse uma originalidade, mas, isso, é uma falta de entendimento sobre esta religião e, principalmente, o que significa ter muitos deuses em uma religião. E é isso o que eu vou explicar aqui.


Tenho um vídeo longo no qual explico politeísmo isso em muitos detalhes e vou lembrar de colocar um card aqui para vocês acessarem


No canal tem várias playlist organizadas por tema, não deixe consultar os temas das playlist e também vocês podem sugerir temas para uma playlist e para um vídeo


Mas, Já endereçando a pergunta principal, de termos ou não muitos deuses: POR QUE É NECESSÁRIO SABER ISSO?


Por que isso faz toda a diferença na forma como você entende sua relação com o divino e com deus. Se você não compreende como é o divino com o qual vai se relacionar, você vai se perder em meio a dogmas, práticas e rituais sem fim e sem razão. Você vai direcionar seus esforços e tempo para práticas desnecessários e crendices inúteis, porque acredita que têm que atender ou cultuar um monte de deuses e se faltar com algum será penalizada.


Além disso, esse assunto faz parte da sua relação em sociedade com as pessoas que convivem em torno de você. Ninguém é uma ilha e é sim importante as pessoas entenderem suas crenças assim como você entende as delas. Principalmente na sua relação com as pessoas que não respeitam a sua crença religiosa. Repito, você não pode ser uma bolha isolada do mundo.


Mas, voltando ao tema, não é verdade que essa religião cultue vários DEUSES. Nesta religião nós cultuamos apenas 1 deus. Se você tiver um pouco de interesse em conhecer esta religião vai ver que ela é bastante normal, bastante simples, bastante devocional e não é baseada em fetichismo e animismo.


Tudo depende da sua vontade de conhecer fatos e sair dessa bolha de desinformação e preconceito.


Mas antes de iniciar de verdade esse tema, vamos definir sobre o que estamos falando. Isso é sempre chato e toma minutos, mas, é necessário, vou falar rápido. Estamos falando sobre a religião afro-brasileira de origem Yorùbá, cuja teologia eu trato aqui nesse canal baseado em Ifá.


Nesse vídeo que está no card eu explico sobre essas tradições religiosas, recomendo muito ver para poder entender o contexto.


Essa religião afro-brasileira compreende o Candomblé Nago e o Ifá. Em termos de religião também deve ou deveria , cobrir outras tradições religiosas de matriz afro-brasileira, como o Batuque do Sul e o Xangô (Ṣàngó) do Nordeste, mas a confirmação disso, somente o pessoal destas tradições pode dar.


Outro aviso importante é que eu não falo sobre o Candomblé Jeje, somente sobre o Candomblé ketu, porque o Jeje é outra religião.

Nesse Card eu explico isso, que Candomblé não é apenas um culto ou uma religião.


Toda essa introdução que já falei uma 10 vezes é por causa desta última frase, o nome Candomblé designa coisas bem diferentes. Se você não entende isso veja os meus vídeos sobre o candomblé.


Por fim, lembro a todos que o correto é falar religião de matriz afro-brasileira. Esse termo “matriz africana” é incorreto, matriz implica em 2 dimensões que se encontram e unem. Assim a matriz é afro-brasileira.


Feito esse preâmbulo quase que protolocar vamos ao que importa, finalmente.


Nesta religião – Candomblé e Ifá – não temos muitos deuses. Lamento decepcionar.


Na verdade, nós só temos 1 deus, o maior, Olódùmarè, o deus criador de tudo, o único que tem a capacidade de gerar vida e o único que sustenta toda a existência no mundo. Isso, hoje, é um conceito simples e consolidado. Tenho longos textos no Blog explicando isso em detalhes.


A supremacia deste deus está facilmente documentada, não é necessário eu perder tempo aqui justificando isso. Procurem no BLOG um dos textos sobre isso. Eu tenho um texto no qual eu explico o que são os Orixá (Òrìṣà) e no qual eu também explico porque Olódùmarè é o deus maior.


Partindo de explicações documentadas em versos de Ifá, é importante que vocês entendam que não é possível classificar os Orixá (Òrìṣà) como deuses. Eles são divindades originadas de Olódùmarè e dependentes dele e, desta forma, não deuses autônomos. Além disso, antes que alguém fale algo, não podemos ter deuses dependentes de outro deus. Ou são deuses ou não. Se quer me contestar procure primeiro conhecer as religiões politeistas (gregos, romanos, egípcios)


Orixá (Òrìṣà) não são deuses. Não repita isso, não é engraçadinho, é ruim.


A origem da expressão deuses vem do politeísmo greco, onde haviam deuses (divindades maiores) que competiam entre si pelo controle do mundo, na verdade o controle das forças naturais do mundo e que eram, de alguma forma, coordenados por Zeus, que não era um deus superior e que podia ser contrariado e até combatido, tudo era uma questão de força e poder. A teogonia greco-romana é muito distinta do que tratamos hoje nas religiões, esse modelo já foi amplamente superado.


A construção da expressão Deuses é inadequada porque, deuses não diz respeito a quantidade de divindades e sim da qualidade da relação entre elas. Deuses implica em independência e autonomia, ausência de soberania e não é isso o que ocorre nesta religião e nas demais religiões do mundo que tem várias divindades.


Quando você tem deuses você não tem um deus superior. Todos são igualmente deuses, uns mais fortes ou mais influentes, mas são todos deuses e dividem o poder.


O que isso muda para você? Simples se você tem diversos deuses que dividem poderes você passa sua vida cultuando todos ou diversos deles, porque cada um pode interferir de forma diferente em sua vida. Essa estrutura não é só uma questão de entendimento teológico, ela muda toda a prática religiosa de recorrer ao divino por suas causas.


Com múltiplos deuses advém a necessidade de múltiplos cultos. Você vai se perder em devoções. Se você têm 1 deus a organização das demais divindades é verticalizada e seu culto se concentra sempre nesse deus e as divindades são uma forma de você recorrer ou de ele o suportar e interferir na sua vida. Ou seja, isso muda tudo.


Assim se você não entende como esta religião é, você facilmente se perderá em complexidades artificiais criadas por pessoas que pretendem vender facilidades, favores dos deuses. Você estará em um ciclo doido de ritos sem fim e falta de entendimento do que realmente você faz de certo ou errado. Você vai buscar ou cair em explicações artificiais de problemas e estará mais preocupado em gastar dinheiro mais em ritos do que em refletir sobre você mesma.


A religião não é uma estrutura criada para o culto a divindades. Entendam isso. Deus e os Orixá (Òrìṣà) não precisam de rezas e oferendas, não precisam ser bajulados e adorados.


A religião é uma estrutura criada por deus, sempre pelo próprio deus, para te oferecer um caminho de orientação e entendimento sobre você, sua vida e sobre a vida em sociedade. Também é uma estrutura que o ensina como recorrer ao supernatural, a deus, para obter ajuda e explica a você quais as condições em que isso poderá ocorrer e em que medida.


A religião é uma estrutura de apoio a sua vida e não ao contrário. Você é o foco da religião e não deus. Essa é a grande distinção que deve ser feita. O homem é o centro da religião.


Entenderam porque faz absoluta diferença entender qual é o real modelo metafísico da sua religião?


Sinceramente eu não conheço mais, na atualidade, nenhuma outra religião que seja politeísta, a religião com muitos deuses, esse foi um modelo que acabou, por si só.


Essa questão de não termos deuses no Candomblé é entendida até mesmo por teólogos católicos. O padre paulo ricardo fez ha muitos anos atrás um vídeo sobre o Candomblé no qual ele reconhece claramente o modelo religioso correto. Ele tem alguns erros de entendimento teológico, que são normais visto a baixa qualidade de informação que ele devia ter acesso quando fez o vídeo e, sobre os quais, os erros, eu vou fazer um vídeo de resposta.


Mas, qualquer pessoa que entenda um mínimo de teologia, tipo teologia de jardim de infância, reconhece que nesta religião temos um deus superior, a religião não é politeísta e os orixás não representam deuses menores.


Assim, se algum católico ou evangélico lhe chamar de politeísta, ele é que é o ignorante, mas, bastante ignorante.


Se um evangélico ou católico lhe chamar de pagão, isso pode ter 2 tratamentos. O primeiro é que pagão é um termo que significa, apenas, não católico. Assim se você não é católico, você é sim pagão. Todos não católicos são pagãos. Será que os católicos chamam os evangélicos de pagãos? E aos muçulmanos?


O segundo uso é como um pejorativo, vindo de gente ignorante que acha que pagão é ausência de religiosidade e de crença em deus, como se ele católico fosse uma pessoa melhor.


Veja esse vídeo neste Card onde eu abordo sobre isso.


Se os Orixá (Òrìṣà) não são deuses, então o que eles são?


Eles são manifestações teândricas de deus.


O que isso significa? - teândrico – que eu canso de repetir aqui


Teândrico significa a manifestação humanizada de deus, os Orixá (Òrìṣà),conforme está no Odù estrutural oxé (Ọ̀ṣẹ́) Òtúwá vem até nós um uma forma humanizada de modo que possamos nos identificar com ele e nos entendermos com ele através da humanidade de deus.


Os Orixá (Òrìṣà) está para nós assim como Jesus está para os católicos, jesus e os Orixá (Òrìṣà) são o mesmo tipo de manifestação de deus junto a humanidade. Não fique chocado com isso, deixe os católicos ficarem chocados.


Cada religião constrói sua mitologia da forma como deus escolheu para as pessoas entenderem sua mensagem. Jesus faz parte da mitologia católica e de sua teogonia. Não existe dúvida que o catolicismo foi uma criação de deus e nesse modelo de comunicação com as pessoas, no modelo católico, deus escolheu ter 1 divindade, Jesus.


Mas em outra religião, para se comunicar com outras pessoas deus pode escolher se manifestar teandricamente em mais formas, ou seja, em mais “Jesuses”.


Não podemos, nós que, cremos em deus e somos teístas, ficarmos discutindo e brigando por causa da importância e do valor das manifestações teândricas de deus. Não podemos ficar discutindo qual manifestação é a mais forte, verdadeira ou relevante, isso é idiotice, é um humanismo bobo.


Vamos lembrar que os católicos se concentram na manifestação teândrica de deus através de Jesus, mas no cânon da bíblia nós podemos encontrar outros profetas de deus e os católicos disfarçam a devoção deles a infindáveis divindades, como anjos e santos devido a égide do monoteísmo, mas, esse monoteísmo é bastante relativo no caso deles.


Qual a diferença de um anjo para um irunmolé ou de um santo para um Orixá? Não se pode esconder essa devoção a dezenas e centenas de divindades debaixo do tapete para se dizer, monoteísta.


Ficar discutindo as manifestações teândricas de deus é se perder em mesquinharia humana e esquecer que o mais importante é o que nos une frente a toda a humanidade que é que nós, todos, religiosos teístas, cremos em deus.


Eu poderia avançar muito em conceitos aqui, mas vou ficar só até esse neste vídeo.


Católicos podem dizer que o que eu estou dizendo é blasfêmia ou heresia, claro, que se danem os que acham isso. Toda vez que você contraria eles você vira herege de maneira que, esse é mais um adjetivo que não me importa ou interessa, estou falando aqui de deus e de religião


Não temos muitos deuses, temos 1 só deus.


Os Orixá (Òrìṣà) são o próprio deus junto de nós, não são sub-deuses.


Os católicos herdaram dos Judeus o entendimento de que falam diretamente com deus e que deus os atende e os ouve e é assim que devemos proceder. Quando através de um concílio eles estabeleceram o entendimento que Jesus não era um profeta normal e sim o próprio deus eles colocaram essa relação em outro patamar.


No máximo podemos rezar a Jesus que na verdade é o próprio deus. E os santos? Não rezamos aos santos? Sim, mas os santos são uma forma de chegarmos a deus e não os santos em si.


Isso é o entendimento deles. Mas apesar desse entendimento, deus nunca falou com qualquer pessoa, falava somente com os escolhidos dele.


Com o tempo você vai entender a complexa teologia, mas complexa mesma, com explicações mirabolantes que os católicos criaram para justificar suas teses.


Deus atendia a esse escolhido, era com esse escolhido que ele tinha relação, os profetas de deus. Esses escolhidos é quem falavam com as pessoas e muitos desses profetas tiveram reputações péssimas.


As pessoas reconheciam este escolhido devido a deus dar a ele em momentos especiais poderes especiais que mostravam que aquela não era uma pessoa comum.


Jesus foi quem falou as pessoas, igualmente como um homem e como um profeta, como ele mesmo se definia, uma manifestação teândrica de deus, uma forma humanizada que em nada, nada mesmo, lembra o deus mesquinho, agressivo, raivoso e ciumento da Torá.


Qual a diferença de Jesus para um Moisés por, exemplo? Talvez a quantidade de milagres e a missão messiânica que o fez cumprir um objetivo de curto prazo enquanto Moisés teve um desgastante objetivo de longo prazo.


Não estou diminuindo Jesus, sem dúvida, Jesus era uma manifestação teândrica de deus, investido com muitos poderes e que conseguiu em muito pouco tempo mudar o mundo todo.


Jesus falava o que as pessoas entendiam e queriam ouvir e se anunciava como o messias, o enviado de deus.


Posteriormente, Jesus, que exerceu por um tempo muito curto o seu papel, foi substituído pelos seus profetas e santos que trataram de espalhar as palavras desta nova religião, porque o que os católicos espalharam pelo mundo não tinha nada ou pouco a ver com o que havia antes através dos judeus.


Mais uma vez deus falou as pessoas através das pessoas.


Mas, apesar disso tudo, de toda a história que está registrada por eles mesmos, os católicos têm essa presunção de que falam diretamente com deus, que o criador de tudo o mantenedor de tudo, o supremo sem o qual nada funcionaria fica ali disponível para suas preces noturnas e matinais.


Por isso é que eu tive que fazer essa longa volta.


Os católicos rezam a deus e a resposta é: o silêncio. Mas eles acham que falam com deus.


Mas apesar de acharem isso, que devem rezar a deus, as igrejas estão cheias de santos e eles rezam de fato para os santos e a virgem maria. Rezam e fazem novenas e promessas. Até onde me lembro todo mundo tem seu santo de devoção, acho difícil um católico que não está ligado a um ou mais santos e santos eram pessoas.


Mas, porque estou falando tanto sobre isso? Porque é importante estabelecer contexto.


Na nossa religião, nós cremos no mesmo deus, mas esse deus escolheu uma outra forma de se comunicar e se fazer entendido pelas pessoas, no seu objetivo primário de fazer as pessoas melhores e fazer um mundo melhor.


Nossa religião nos diz que deus nos ama e nos dá todo o suporte para a nossa vida aqui. Eu não estou inventando palavras, não estou inventando dogmas como os católicos fazem nos concílios onde criam a sua própria teologia. Estou falando o que está nos versos de Ifá.


Não preciso inventar nada.


Desta maneira nós falamos com deus através dos Orixá (Òrìṣà). Nós rezamos a deus através dos Orixá (Òrìṣà). E mais importante, deus responde a nós, se comunica com a gente através dos Orixá (Òrìṣà).


Os Orixá (Òrìṣà) são deus e não deuses.


Nós não ficamos orando ao vazio, sempre, nós temos a oportunidade de ver nossas preces manifestarem. Não precisamos fazer nenhum grande esforço para crer em deus.


Porque da mesma forma como nós rezamos a deus através dos orixá os orixá se manifestam para nós, na nossa frente, transmitindo as bençãos de deus e nos mostrando que deus existe de fato, ele nos ouve e responde a nós.


Eles acreditam que falam todo dia com deus, mas, deus não responde e nunca respondeu, segundo o canon deles. Nós não temos essa pretensão, a religião não nos direciona a deus, nos direciona a nos relacionar com deus através dos Orixá (Òrìṣà), uma relação bilateral. Foi assim que nesta religião deus orientou o seu culto. Nessa religião deus não estavam preocupado com a concorrência de bezerros de ouro.


Devido a forma como nos relacionamos com deus e como ele nos responde nós enfrentamos a ira dos cristãos. O problema que enfrentamos é a ignorância e a inveja.


Nós temos uma fé prática e divinamente humana, uma fé que nos acompanha no dia a dia. Eles se recolhem em silêncio nas igrejas.


O que esta envolvido aqui não é fé e sim a visão humana da prática religiosa. As pessoas não estão preocupadas com deus e sim em comparar a forma como umas procedem em relação a outras. É apenas isso que está envolvido nessa questão de 1 deus e de criminalização de divindades.


Não existe objetivo nesta fala em criticar os católicos ou judeus, eu apenas usei-os como referência, afinal eles são a religião dominante. Só que essa questão de 1 deus ou de vários deuses é apenas uma derivação humana deste tema.


Eu vou encerrar por aqui, já cheguei no meu ponto, como já disse teria muita coisa para tratar e ainda vou falar como animismo, fetichismo, imagens e sacerdócio, mas, fica para outros vídeos.


Vou encerrar com a fala final:


Não temos muitos deuses, temos apenas 1 o mesmo deus de todos o mesmo deus que criou e mantêm tudo. Mas na nossa religião, deus se humaniza através dos Orixá (Òrìṣà), que não são deuses, são uma visão humana do próprio deus.


Esta não é uma religião que tem imagens, ídolos, fetiches e animismos. Católicos e umbandistas tem imagens. Fetiches e animismos pertencem a humanidade desde que ela existe e nesta religião não é baseada em fetiches.


Deus fala com todas as pessoas do mundo. Ele escolhe a melhor forma para cada povo. Quem respeita deus de fato, não fica preocupado em dizer que só ele fala com deus.


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