O comércio em torno do jogo de búzios
(esse texto faz parte de um texto maior ainda em elaboração sobre o jogo de búzios)
E o que é isso?
Existem sacerdotes e feiticeiros. Existem pessoas dedicadas a sua
religião de fato, que se focam em orixá (Òrìṣà) e nas suas
liturgias, são pessoas com uma casa que tem atividade permanente
dedicada a orixá (Òrìṣà) e atuam de forma ética e sacerdotal
de fato.
Existem também os
feiticeiros, aqueles que por ego ou importância comercial dizem ter
uma casa de Candomblé (terreiro) mas que ali fazem uma prática
mista, com consultas de umbanda com exu e pombo-gira, às vezes giras
de Umbanda, porta aberta para fazer trabalhos de qualquer natureza
ética, incluindo o malefício a outros. Mantêm uma atividade de
Candomblé com Xirês voltados para atrair clientes e manter a sua
relação social dentro da comunidade de sacerdotes.
Essas pessoas colocam
sempre muito dinheiro na realização dos seus Xirês de Candomblé.
Suas casas são arrumadas, os orixá (Òrìṣà) bem vestidos,
muitos Ogans e um serviço farto de comida após o xirê.
A presença de outros
sacerdotes é importante, para mostrar a sua inserção e relevância
no meio, aliás essa troca de gentilezas, de sacerdotes frequentando
a casa de outros, é assunto a parte para a psicologia. Existe um
círculo próprio desses sacerdotes que devem convidar e serem
convidados para os xirês dos outros. Nesses eventos, eles são
recebidos com pompa e circunstância, se tornam vistos pela
assistência e têm o seu ego inflado, porque são tratados como
autoridades.
Mas isso é,
majoritariamente, um jogo comercial porque esses grandes eventos nos
quais existe um xirê (toque para os orixá (Òrìṣà) são sempre
acompanhados de um serviço de comida para toda a assistência. Isso
ocorre em dias festivos ou não, na verdade em dias festivos o
aspecto laico é maior e, o foco, é a festa e não o orixá (Òrìṣà).
Esses eventos,
pequenos ou grandes servem para mostrar à assistência a grandeza e
poder do dono da casa. Uma casa próspera é a do sacerdote que
trabalha mais, tem mais clientes, ganha mais dinheiro com o que faz e
dessa forma sendo o mais bem sucedido será a melhor pessoa para se
consultar. Se você tiver um problema para resolver a indicação é
ir na casa da pessoa mais bem sucedida.
Os “eventos-Xirês”
não existem para manter o axé da casa em atividades, trazendo os
orixá (Òrìṣà) para abençoar as pessoas e a casa com sua
presença, renovando o axé da casa. Eles existem como obrigação
para o atendimento comercial do sacerdote e seus clientes de jogo,
são parte da atividade comercial do jogo de búzios.
Esses Xirês são
dessa maneira um evento feito para atender aos clientes do dirigente.
Não dá para uma casa de Candomblé com foco religioso sustentar uma
atividade como a que essas pessoas sustentam.
Um dos componentes,
como já citei, desse complexo espetáculo de horrores é a presença
de sacerdotes convidados, pessoas igualmente conhecidas, que mostram
para a assistência que o dono da casa é conhecido e tem prestígio
para trazer outros conhecidos e “famosos”. Os famosos podem
também ser os clientes famosos. Tudo isso é parte do espetáculo
comercial.
Os espetáculos
legitimam o dono da casa, como legítimo e prestigioso sacerdote e
também os convidados da mesma forma. Ao ir, os convidados, estão,
na verdade, legitimando tudo o que o dono da casa faz. Mas, ao ir, os
convidados, também estão se expondo para os consumidores de jogo de
búzios. Esse é um círculo vicioso onde você convida e é
convidado.
Para essas pessoas,
ao se falar de fazer o Orixá (Òrìṣà) de alguém a primeira
coisa que tratam é do tamanho da festa, porque a casa tem um padrão
e se quiser fazer lá vai ter que pagar uma festa do porte que a casa
faz. Essas casa estão continuamente em festa.
O principal objetivo
dos feiticeiros é de fato vender obrigações e adquirir filhos de
santo. Uma obrigação é muito mais cara do que um jogo e alguns
ebós e além disso transforma a pessoa em cliente para o resto da
vida.
O importante para
esses feiticeiros travestidos de sacerdotes é ter esta atividade
vistosa de Candomblé para justificar sua posição. Para eles o
importante é atrair clientes e transformar clientes em filhos de
santo, na verdade, é o comércio de feituras de orixá (Òrìṣà)
que concorre com o comércio principal que é o do jogo de búzios e
das consultas com guias de umbanda, normalmente exu e pombo-gira.
Não existe nenhuma
razão para uma casa de Candomblé ter dentro de suas atividades o
trabalho com essas entidades de Umbanda. Isso não faz parte e apenas
mostra que o foco da atividade da casa é comercial. As consultas
estarão associadas ao uso de um oráculo de búzios rasteiro, feito
para, mais uma vez, dar legitimidade de Candomblé a atividade
comercial do sacerdote.
O que ocorre é
sempre uma dobradinha, ao consultar o guia de umbanda, ele as vezes
pede algum trabalho ou faz alguma coisa ali presente, mas,
normalmente indica que a pessoa deve procurar o pai-de-santo em outro
horário para ele fazer um jogo de búzios, permitindo ao
pai-de-santo cobrar duas vezes (ou uma, as vezes a consulta é de
graça ou de baixo valor, sob a alegação de que a Umbanda é
caridade), uma pela consulta ao exú e outra pelo jogo de búzios que
é de onde vão sair os trabalhos a serem feitos.
O jogo de búzios
vira então apenas um complemento da consulta que foi feita pela
entidade de Umbanda, sendo usado para indicar os trabalhos cobrados a
serem feitos. Esse é um formato muito comum e ruim, é orientado
para o comércio.
Todos os sacerdotes
que vi serem questionados em porque mantinham consultas e trabalhos
com exu e pombo-gira junto com sua dita atividade de Candomblé
alegaram a mesma coisa, um discurso comum, que eram muito gratos com
aquelas entidades e que não poderiam abandoná-las.
Isso é uma total
bobagem.
Elas já teriam
virado as costas para elas no momento em que decidiram ir para o
Candomblé, onde não existe o trabalho com esses guias.
Eles mantêm os guias
por alguns motivos. O primeiro deles é puramente comercial, ganham
dinheiro através desse guias de forma muito mais simples do que com
uma casa de Candomblé. Além disso dinheiro sem ética porque esses
guias são usados para trabalhos sem finalidade ética.
Outro é despreparo.
Nada ou pouco sabem de Candomblé e se não tiverem esses guias de
Umbanda não vão ter nada para fazer. Outro é porque dizer que são
de Candomblé é apenas alegórico, eles gostam de poder dizer que
são de Candomblé mas que amam a Umbanda e querem ter e usar todo o
aparato decorativo que o Candomblé pode oferecer e que não
encontram na Umbanda.
Essas pessoas não
amam e nunca amaram a Umbanda. Elas amam o dinheiro.
As indicações da
baixa qualidade da relação do sacerdote com o divino passam por
isso que expliquei. Esses xirês realizados com muita opulência,
seja para festas ou saídas de orixá (Òrìṣà), com muita
aparência sempre são uma indicação forte de que aquilo é palco
para a casa atrair pessoas. Pessoas que fazem trabalhos de qualquer
natureza ética são apenas feiticeiros. Pessoas que anunciam em
jornal, gastando assim muito dinheiro na sua promoção terão
obrigatoriamente a necessidade de ganhar dinheiro com o que fazem.
Não vou entrar aqui
no mérito das dificuldades em ter uma casa de Candomblé funcionando
junto com guias de Umbanda, dificuldades do ponto de vista do
supernatural.
Os fatores que
indicam um bom ou mal lugar para consultar búzios são muito
evidentes e simples, alguns podem não saber do que eu disse ou não
terem prestado atenção, mas, podem se perguntar, se isso é assim
evidente porque as pessoas continuam a ir nessas pessoas? Simples, se
merecem, elas estão em busca também da falta de ética.
Não se pode falar de
Jogo de Búzios no Candomblé sem falar sobre esse contexto comercial
e esse é o motivo de eu citar isso tudo.
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