Os cursos de Ifá e teologia Yoruba
Atualmente podemos observar muitas, ou algumas, depende do ponto de vista, iniciativas de pessoas, promovendo cursos para ensinar Ifá ou mais ambiciosamente teologia. Tenho certeza que muitos vão estar tentados a procurar esses cursos ou apostilas.
São promovidas por Babalawos, todos com pomposos nomes em Yoruba, e que posam em vistosos alakas. Como resistir a isso se Ifá desperta a sua curiosidade?
Fácil responder a isso: Ignorando.
Essas coisas não levam a lugar algum. Isso sempre existiu nesta religião, principalmente no Candomblé. São programadores de rádio que se anunciam, vendendo o seu produto, prometendo ensinar tudo. A web agora é um campo vasto para isso, tem rádios, programas via streaming e YouTube. O produto sempre é o mesmo: conhecimento. Sim, aquele conhecimento que você busca da religião que já esta ou que quer estar e que é difícil obter. Ai surge uma boa alma oferecendo a solução dos seus problemas.
O que esta ocorrendo em Ifá é o mesmo que já aconteceu com o Candomblé, repito isso, não se trata de nenhuma novidade.
Todos devem imaginar a esta altura: sou contra? Eu que escrevo um blog sou contra quem quer ensinar a religião, a teologia?
Sim, claro. Isso não tem nenhuma utilidade a não ser captar o seu dinheiro.
Vejam esse blog aqui é livre. Não tem nem propaganda. Não ofereço nada, não vendo nada. Dessa maneira posso falar isso confortavelmente. Vou explicar com calma minha posição, depois disso cada um faça sua avaliação.
O sentido de uma religião
A primeira coisa que todos devem ter atenção é para a base disso tudo. Para que as pessoas precisam de uma religião? O que as pessoas esperam de uma religião ou em uma religião?
O que as pessoas procuram quando vão ao Candomblé ou a Ifá é uma busca muito simples, elas querem uma religião. Uma religião é o que todos precisam na sua vida. A religiosidade não é uma invenção humana, ela é real, nasce de dentro de nós. O motivo disso é que apesar de termos milênios de civilização humana, a religiosidade sempre se renova. As religiões se sucedem, abrem-se alternativas, algumas desaparecem, mas, a religiosidade esta SEMPRE presente com a natureza humana.
Ela nasce de dentro das pessoas, naturalmente. O mundo já teve muitos modismos e hábitos. Todos começam e acabam. A religiosidade se mantêm perene. Mesmo a pessoa mais afastada, mais incrédula, em seu momento de aflição busca à deus, sob alguma forma.
A religião é o meio ou método que nos leva a deus. Mas, mais do que isso ela também traz junto de si uma visão para a forma como devemos viver, como devemos ser e como devemos conduzir nossa existência na terra. A religião não é apenas uma formatação de deus, não é apenas a ligação com do homem com deus é, também, a mensagem de deus para que os homens possam viver bem.
Acreditar em deus é simples. Estar aberto para, além de reconhecer que ele existe, adotar um modo de vida com valores, ética e moral voltados para a vida em sociedade é outra coisa.
Temos que reconhecer que existem muitas opções para se exercer a religiosidade através da religião, varias delas são muito boas outras nem tanto, mas, não tem propósito eu declarar aqui que qualquer uma delas seja a definitiva ou soberana. Essa afirmação é idiota demais.
A religião tem como objetivo nos fazer pessoas melhores. SIM, É ISSO MESMO!
Muito mais do que nos ligar com deus, ela nos da uma visão da vida baseada em valores individuais e coletivos que devem ser harmonizados, ela nos oferece uma filosofia de vida que nos guia para felicidade comunitaria e uma visao de continuidade e consequencia de nossas ações que nos motivam a sermos pessoas boas.
São esses valores e ética, contido dentro das religiões, que nos motivam a sermos pessoas boas para com a sociedade que nos cerca. Não tenho a pretensão de afirmar que sem a religião as pessoas não desenvolverão boas qualidades. O que eu digo é que a religião é uma fonte de inspiração, exemplo e orientação para também se atingir a esses benefícios.
O que torna a religião uma fonte poderosa é a inspiração divina, a associação com a fé e com deus. A nossa fé em deus nos conforta e nos motiva. Fazemos o que fazemos na religião inspirados na Fé de que deus e seus ministros nos assistem e protegem.
É isso o que as pessoas procuram em uma religião. Elas não querem se sentir sozinhas no mundo. Justamente é isso o que a religião deve oferecer para as pessoas.
A religião, no contexto da Fé, é o meio que contem essa filosofia. Ela nos dá a visão da proteção de deus para nós, nos dá uma filosofia para guiar nossos passos desde o dia em nascemos até o dia em morremos e nos transmite valores para que sejamos pessoas boas com a gente mesmo, com nossa família e com a sociedade que nos cerca. A religião não poda a vida das pessoas, ela não limita a forma como vivemos, pelo contrário, ela dá uma dimensão muito maior para isso.
É o contexto global, a visão do todo, da continuidade, do propósito maior que nos motiva a viver sendo uma pessoa exemplar.
Muitas pessoas criticam as religiões pelos motivos errados. Seria mais produtivo elas analisarem o que uma religião deve fazer. Eu vejo em redes sociais pessoa publicando frases de pessoas que dizem que uma pessoa não pode precisar de uma religião para ser melhor. São 2 idiotas, a pessoa que falou a frase e a que publicou.
A mera crença na existência de deus não torna as pessoas mais solidárias, caridosas, tolerantes, comunitárias, etc.. Isso é uma idiotice, uma estupidez. Pelo contrario, a crença em um deus pessoal pode levar as pessoas a desenvolverem um padrão ético que apenas sirva para justifica-las para confortá-la. A pessoa quer apenas a parte de deus que protege ela, seja ela como for. Ela não esta disposta a conhecer novos valores e ser crítica consigo mesma.
Essa é a diferença em apenas crer em deus, do seu jeito como muitos dizem de boca cheia, como se isso fosse o melhor, e seguir uma religião. Quem segue uma religião, além de deus, ganha uma filosofia para viver e também ganha valores e ética para seguir. Essa opção de ter um deus pessoal e uma religião própria, a mim é uma completa sandice, apenas um exercício de egoísmo.
O sacerdote de uma religião é aquele que tem a capacidade de dar as pessoas esta visão religiosa, a visão filosófica que a religião a que ele pertence propõe para a vida das pessoas. Ele é a pessoa que deverá ajudá-las a, elas mesmos, modificarem suas vidas e de acompanhar seu crescimento, esperando elas evoluírem.
O ensino e teologia e Ifá
A teologia é um instrumento do sacerdote para isso ela tem filosofia que a religião transmite às pessoas. O culto a que ele pertence lhe da o método e fazer e exercer isso.
Não é minha opinião que cobrar para ensinar teologia vai resolver a necessidade das pessoas ao buscarem uma religião. Teologia é conhecimento bruto, como eu disse um instrumento de trabalho para o sacerdote. Será usando a teologia que o sacerdote poderá conduzir as pessoas nessa busca por elas mesmas, pela identificação do papel delas no mundo e a absorverem os valores que aquela religião propõe.
O papel do sacerdote é junto à pessoas, é um papel de ensinamento e orientação. É principalmente um papel de respeito às individualidades e a busca da integração da individualidade ao coletivo.
Não é minha opinião que ensinar Ifá vá trazer nenhum benefício às pessoas. Não acho ensinar teologia a pessoas comuns seja o caminho para essa integração, seja o caminho da religião. O papel do sacerdote é necessário. Não penso também que todos querem ser sacerdortes, muito menos que estão todos preparados para serem sacerdotes. Qualquer pessoa pode ser um sacerdote, mas, todas as pessoas não nasceram ou tem a capacidade de ser um sacerdote.
Nao acho de fato que ensinar Ifá seja ensinsar religião, isso não vai ajudar a ninguém. As pessoas não vão chegar a lugar algum através disso. Voltem ao início deste texto, revisem o que as pessoas procuram em uma religião.
Esses cursos de teologia são aquilo o que sempre foram, um caça-níquel. Pessoas que se declaram sacerdortes sem entender de fato a religião e seu sentido na vida das pessoas, que não estão dispostas a se doarem para ninguém se alimentam da curiosidade das pessoas para fazer dinheiro. Não vou entrar no mérito do conteúdo ensinado, teria que conhecer os tais cursos, apenas me atenho ao aspecto de que esse não é o caminho do sacerdócio.
O caminho do mercador é simples, identifica uma demanda e a atende com um produto. É o que essas pessoas fazem. Elas não estão contribuindo com nada.
A pessoas também devem entender que o caminho da religião não é o caminho solitário, é um caminho comunitário. Ela tem que se integrar, aprender pela transmissão, pelo exemplo. A busca de conhecimento religioso, por pessoas comuns, em livros, tratados e cursos é somente um exercício da individualidade. É o mesmo que a pessoa dizer que ela acredita em deus do jeito dela. Ela busca então o conhecimento para formatar essa sua religião pessoal.
O caminho do sacerdócio esta aberto a todos. É um caminho muito longo. Serão muitos anos de estudo, acompanhados de uma grande capacidade de compreensão e também de uma enorme prática na relação com as pessoas. É um processo empírico de aprendizado e com muitas tentativas e erros.
Se você busca uma religião para sua vida, não é através dessa falta de honestidade que você vai encontrar.
O papel do sacerdote
Por fim e mais importante. Um sacerdote não é uma pessoa que rezas missas, faz batizados e casamentos, faz jogos e ebós. Isso é o que muitos fazem para ganhar dinheiro.
Ser um sacerdote é conduzir as pessoas pela religião, é ajudá-las e se encontrarem. Sacerdote é aquele que transmite a religião e não aquele que vive da Fé de quem os procura.
Existem muitas pessoas que enchem a boca para se dizer sacerdotes de uma religião. É muitos são de fato, mas, eles transmitem algo para alguém? No caso de Ifá e Candomblé certamente todos eles estão ai para ganhar dinheiro com você. Prometem uma vida melhor e solução de problemas.
Eles vendem axé.
Quantos de fato estão comprometidos com transmitir a religião de uma forma que as pessoas possam entender aquela religião?
Só é sacerdote de fato, no sentido que as pessoas esperam, aqueles que se dedicam a isso ou também a isso. O jogo, os ebós e oferendas fazem parte da religião, são a ajuda de deus para a vida de vocês. Mas esta religião não se resume a comprar axé.
Assim tenham cuidado com quem vocês se envolvem. Não olhem uma pessoa como representante de uma religião, de deus se ele apenas quer trocar axé por dinheiro.
Não existe nenhum problema você procurar as pessoas que vendem axé. Muitas vezes isso é bem vindo e necessário. Apenas cuidado com o envolvimento que vocês vão ter com essas pessoas.
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