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segunda-feira, agosto 05, 2013

Cerimônias de Nascimento Yorùbá Parte 3 de 3

Cerimônias de Nascimento Yorùbá

Parte 3 de 3

A cerimônia de Imori


Esta cerimônia significa “conhecendo o Ori”. É um complemento da primeira cerimônia o Ikoxewaye e não tem ligação com a segunda, a cerimônia de nome.

Vamos revisar esses conceitos. A primeira cerimônia descrita, o Ikoxewaye é o momento que se conhece o Odù de nascimento do recém-nascido. É realizada entre o terceiro e o oitavo dia de nascido. Esta cerimônia não é exclusiva de adeptos da religião. Pode ser feita pelo Bàbáláwo para qualquer criança de qualquer religião.

A segunda cerimônia, a de nome esta ligada a religião da criança, não tem sentido ela ser feita pelo rito Yorùbá se a criança é católica ou muçulmana. Assim a criança pode passar pela primeira cerimônia e depois seguir os ritos de sua religião.

A terceira cerimônia, o Imori, esta ligada a religião Yorùbá. Não vejo muito sentido ela ser feita para crianças de outra religião.

Depois da criança pisar no mundo e receber o seu nome, chega a vez dela colocar a cabeça no mundo. Os Yorùbá entendem que até o terceiro mês aquela alma ainda está entrando nesse mundo e naquele Ori. Existe um processo de adaptação a este mundo em curso e a alma ainda neste momento tem muita informação da sua origem para passar. Quando ela se unir definitivamente com o seu Orì interior vai esquecer do Órun (ọ̀run) será impossível resgatar as informações sobre suas origens. Esta é a razão que leva essas cerimônias serem realizadas tão cedo e serem impossíveis de serem realizadas mais tarde.

A cerimônia se inicia novamente com a presença da criança e da mãe na esteira. A cerimônia será feita no início da manhã. Na noite anterior a criança deve dormir com uma fita preta e branca colocada nos seus pulsos, cotovelo, calcanhar, joelho e pescoço. Isto é um sinal para preparar o espírito da criança para o ritual do dia seguinte.

O ritual inicia nas primeiras horas da manhã, com uma oferenda de Gin e dendê no assentamento dos ancestres do Bàbáláwo, usando um Obì para determinar se isso foi aceito. A mãe também pode trazer oferendas, como canjica, Cará ou peixe seco. O pai da criança pode estar ou não presente e pode também trazer alguma oferenda para seus ancestres.

As oferendas são colocadas de cada lado do ópón (ọpọ́n). No lado direito o da família do pai e no lado esquerdo o da família da mãe.

O Bàbáláwo fará a abertura do seu Ifá e ao terminar riscará e rezará no seu ópón (ọpọ́n) o odì Ogbè Méjì. Ele vai pegar a criança da mãe, como fez na primeira cerimônia e vai tocar a cabeça dela no chão e depois no ópón (ọpọ́n). Dessa forma a cabeça entrará no mundo.

A cabeça da criança deve ser aspergida com água. A água deve ser jogada no chão e a criança deve beber também um gole de água. Depois dela o Bàbáláwo, a mãe, o pai (se presente) e todos os demais.

O Bàbáláwo tomará 2 pequenos gravetos feitos com árvores especiais. O graveto da família do pai, chamado de Ixémokurin (Iṣẹmọkurin) será de Akoko, uma árvore intimamente ligada com a ancestralidade masculina. O da família da mãe, chamado de ixémobirin (iṣẹmobirin) será de uma árvore de frutos doces e com muitas sementes. Na áfrica é feito de uma árvore chamada de maçã de estrela branca (chrysophyllum albidum, sapotaceae), de fruto doce e com uma semente vem negra. Esta semente é um importante instrumento de ìbò em Ifá, usado para perguntas a Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà).

Claro que não vamos encontrar aqui a African white star apple, mas deve ser usada uma árvore de frutos doces, pode ser de uma laranjeira.

Cada um dos gravetos fica do seu lado da família.

O Bàbáláwo, como é tradicional em Ifá deve explicar o propósito da cerimônia e desejar as bençãos para a criança. Pega então os 2 gravetos, toca no Ikins, na testa da criança. No chão e os circula no ar 3 vezes.

Ifá não será usado para tirar um Odù. O Odù que prevalece é o Odù do nascimento que pode ser riscado e rezado.

Ifá será tirado em uma consulta múltipla para definir de qual lado da família vem o espírito da criança. Ele pode vir do lado da família da mãe, do pai ou vir de orixá (Òrìṣà) e nesse caso será um espírito novo na família. São traçados 3 Odù um para cada parte, sendo o mais à direita a família do pai, o do meio o orixá (Òrìṣà) e o da esquerda a família da mãe.

Depois de definido isso pode ser feita ou não exploração adicional para determina que ancestre específico estase manifestando na criança, se ela é um bàbá tunde ou uma iyabode.

Outra consulta múltipla deve ser definido através dos Ìbò qual caminho de benção deve a criança vem abençoada na sua vida:



Ìbò
Representa
Significado
apaadì
vitória e sucesso
Diz respeito a vitória na vida sobre os seus inimigos e podemos aqui incluir as relações de trabalho e negócios
Egun
saúde
Indica que o Odù se refere a saúde do consulente ou de sua família, ou seja, mulher e filhos.
Irú
fartura e felicidade
Filhos, felicidade e fartura
okoto
mulher
Representa os relacionamentos, a casa ou o casamento
owó-ẹyọ
dinheiro
Indica que o Odù se refere a questões de negócios
okúta
destino e a vida
Indica que o Odù se refere a questões da vida do consulente



O Bàbáláwo poderá então perguntar sobre o orixá (Òrìṣà) da criança e qual o orixá (Òrìṣà) de família que ela deverá também prestar homenagem. Essa parte é muito especial porque envolve o Bàbáláwo conhecer bem o culto de orixá (Òrìṣà) e Orì o que não é comum.

Cada pessoa vem apenas com um único orixá (Òrìṣà) de Ori. Existe um segundo orixá (Òrìṣà) de proteção que complementa o orixá (Òrìṣà) de Orì que pode ser de qualquer gênero, não existe regra de que é um orixá (Òrìṣà) de cada gênero. Isso é falta de conhecimento.

Adicionalmente a criança pode ter um orixá (Òrìṣà) de família e também um orixá (Òrìṣà) de ancestralidade, de herança que vem com este espírito. Estes orixá (Òrìṣà) adicionais não são o orixá (Òrìṣà) de Orì mas complementam a vida espiritual da criança.

Por último, o Bàbáláwo pega 3 folhas de Akoko e coloca em cima delas um pouco de cada elemento que foi usado como sacrifício. Antes de colocar nas folhas ele deve tocar o elemento nos ikin, na testa da criança e na sua boca. Cola então nas folhas. Quando todos os elementos já estiverem representados, ele joga em cima o pó de yerosun (Yẹ̀ròsùn) e fecha as folhas formando um pacote bem amarrado com as fitas que foram colocadas na criança para ela dormir.

Esse pacote será colocado em um prato branco no meio do opon (ọpọ́n) e girado primeiro no sentido do relógio e depois no sentido contrário. Ele então pergunta a todos:

“- a criança veio ao mundo ou a criança não veio o mundo?”

Os pais devem responder: “- a criança veio ao mundo!”

Ele então rodando o prato deve dizer “- A criança veio ao mundo para ser feliz e aproveitar de todas as coisas boas do mundo”.

Ele pega o prato com o pacote e o entrega para a mãe. Ele vai rezar agora pela felicidade da criança. Após concluir ele pega de novo o pó de yerosun (Yẹ̀ròsùn) e joga sobre o prato de pacote. Nesse momento o pó se torna a manifestação material das preces.

Esse pacote deve ser guardado pela mãe com todo o cuidado e será uma proteção para a criança e poderá ser usado com a orientação do Bàbáláwo.

Conclusão


As 3 cerimônias são muitos importantes sob o ponto de vista desta religião como de qualquer outra. Coo explicado algumas delas podem ser feitas para qualquer criança, independente da religião dos pais. Mesmo no caso de pais que tem religiões diferentes as cerimônias podem ser aplicadas.

Claro que a criança deve ser batizada apenas através de uma religião. Não existe sentido em batizar a mesma criança em várias religiões. A primeira água é aquela que abençoa e não existe necessidade de mais nenhuma outra.

A cerimônia de Imori, poder aplicada com algumas reduções para crianças de outras religiões, no que pese no meu entender ela ser mais aplicada às crianças de pais ou de um dos pais da religião Yorùbá.

Num ponto em que o Candomblé carece de cerimônias autênticas, estas cerimônias através de Ifá são importantes para a afirmação de uma religião plena e autônoma. Já basta o Candomblé ficar copiando cerimônias católicas ou submetendo seus seguidores às cerimônias católicas.

Minha posição é que nenhum Babalorixá deveria fazer qualquer batizado ou casamento se a família submeteu a criança a um batizado católico ou pretende submeter. De fato não dá para saber o que será feito depois, mas, perguntar se a criança já foi batizada antes sem dúvida é mais fácil.

Por último, faço a mesmo recomendação de sempre. Essa cerimônia deve ser feita por um Bàbáláwo mesmo que junto com o Babalorixá ( Bàbálórìṣà) da família. Mas tome muito cuidado com ambos os sacerdotes. Não escolha gente que vende sua mão para fazer feitiços e amarrações, que vende qualquer favor por dinheiro e que não tenha reputação ilibada. Você não vai colocar uma mão suja para fazer isso para seu filho.

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