O que é Odù?
Primeiro, a palavra não significa destino. O significado desta palavra Yoruba é o de uma coisa grande para conter algo dentro, como um container ou uma grande cabaça. Esta, como outras palavras Yoruba, como àṣẹ (axé), pode ser usado com mais de um significado na prática.
Não existe nenhuma relação entre odù e números.
Isso é uma invenção, um sincretismo. Eu não vou tratar disso aqui, para mais detalhes:
http://olodumare-orunmila.blogspot.com/2008/04/rndnlgn-if-uma-questo-que-sempre-tenho.html
O primeiro é que são marcas gráficas, formadas por traços verticais. assim cada odu é formado por uma seqüência de traços duplos e simples ordenados verticalmente em 2 colunas. Um odù somente é representado por uma marca gráfica e jamais por um número.
Odù também é o nome dos poemas de Ifá, ou corpo literário de Ifá. Os poemas estão agrupados em conjuntos por cada Odù e cada um dos 256 odù pode ter até 16 conjuntos de versos. No mundo real essa quantidade é variável, porque não se possui todos os versos e muito menos os versos são os mesmo sempre, cada escola de Ifá pode ter seu conjunto próprio de versos. Assim quando alguém cita tal verso do odù tal, huuuum......, isso pode ser só do conhecimento dele rsrrs.
Por fim em termos metafísicos, odù são os símbolos sagrados que contêm o axé ( àṣẹ - força. força vital) de tudo na existência. Nas religiões e no mundo místico em geral existe uma similaridade em relação ao uso de grafismo ou de selos e signos para invocar poderes divinos forças sobre-naturais. Seu significado parece se assemelhar aos signos e selos cabalísticos, para quem os conhece. Eles são em sua representação gráfica mapas que traduzem o movimento dinâmico de energia e se identificam com forças primárias do mundo. Os Odù são como mandalas trancedentais que marcam as energias ativas e inativas que estão presente em uma determinada situação com um determinado indivíduo com grande precisão.
Tudo o que existe ou existirá nasce através de um Odù, a energia primária, incluindo os orixá (òrìṣà) e seus axé (àṣẹ). Odù é como uma cabaça de energia cósmica que é enviada por Olódùmarè e que será transformada através dos orixá (òrìṣà) no axé (àṣẹ) que vai transformar nossa vida ou que vai repor o que perdemos. É através do Odù que os orixá (òrìṣà) e nossa ancestralidade fala e se expressa. Ele é a linguagem e o poder original que o mundo espiritual se manifesta sobre nós e que vem em resposta a nossas questões de vida.
Odù é ao mesmo tempo o diagnóstico para os problemas que temos e a resposta para corrigí-los. A consulta a Ifá materializa as marcas gráficas através do babalawo, o mensageiro de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e essa é a chaves para movimentar a energia do mundo.
O Odù é igual a homeopatia, por ser um diagnóstico da situação que você esta a tradução da usas mensagens ou significados pode representar o mal, ou como melhor chamamos a situação de desequilíbrio que o consulente esta passando, assim alguns associam o Odù a causa dos seus problemas. Não é verdade, ele é o espelho que reflete a sua situação de desequilíbrio de axé (àṣẹ). Ao mesmo tempo o Odù é o remédio para essa situação, ou seja, ele não é somente um símbolo que traduz uma informação ele é também a energia que se manifestará na vida da pessoa corrigindo os seus problemas. Dessa maneira o reflexo ou tradução do mal é o que também vai curá-lo. Você como uma pessoa culta conhece o princípio da homeopatia e vai entender esse minha metáfora de ponto de ônibus.
Como eu disse um odù é a resposta de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) a sua situação e dependendo do seu objetivo de vida e com a ajuda dos orixá (òrìṣà) vai socorre-lo. Essa energia primária vai ser usada pelo babalawo através dos ebó (ẹbọ) de ifa, que são diferentes dos de candomblé, e através do orixá (òrìṣà) que responderão naquele momento em seu auxilio, irão te ajudar.
Mas, MUITO mais do que ebó (ẹbọ) você tem que entender o que o odù diz o que esta errado em sua vida. Por isso que existem histórias, mitos, patakis, ésé para mostrar isso. O babalawo acima de tudo tem que trabalhar esse aspecto em você, fazer você entender o que esta acontecendo e a origem dos problemas para que você se ajude.
A solução de tudo vai depender de ações suas no sentido de corrigir comportamentos, forma de vida, decisões que você tomou, pessoas que você afetou, lugares que você vai, pessoas que você convive, etc... É claro que energias negativas que estão com você, omo arayie (obsessores), feitiços (ajé, oxo..) , etc. vão ser neutralizados, mas você deve ficar longe da fonte disso senão vai ser uma coisa interminável.
Assim, essa negatividade ou positividade que pode se traduzida pelo Odù, não ficam flutuando ai e te pegam por acaso. Esta é uma questão que as pessoas perguntam sempre, como aquele Odù pegou elas, ou quem andou aquele Odù para elas. Não é assim. Os seus atos e omissões, suas ações e forma de viver vão te trazer uma situação que será representada por um Odù naquele binômio causa-solução que eu expliquei. O Odù é a linguagem de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) para falar com a gente.
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) se manifesta através do odù, ele é o meio de comunicação e ao ser obtido por um babalawo ele já esta disponível e atuando sobre a vida de quem o consulta. Cabe ao babalawo através dos ẹbọ (ebó) e sacrifícios direcionar e controlar essa energia para que ela se manifesta da forma positiva que é sempre enviada. o Odù é sempre uma força básica, primária e sempre necessita ser direcionado através do babalawo e dos orixá (òrìṣà) que nos assistem.
Ao se sentar em oráculo e consultar Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) se recebe um odù e a influência na nossa vida já é imediata. Este é o motivo que os babalawo dizem para se ter muito cuidado ao se lidar com odù. Não se deve invocar essa energia sem saber como manipulá-la, não se deve grafá-la sem o devido conhecimento, não se deve cantá-la sem saber o que se faz depois.
Para isso a pessoa que trabalha através de odù deve ter acumulado o axé (àṣẹ) para isso. Mas se estamos tratando de uma mesma religião de um mesmo olodumare e de uma mesmo Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), qualquer sacerdote pode receber um odù porque esta é a forma de trabalho de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) .
Como ele influencia a nossa vida?
Primeiro, a figura teológica de nos colocarmos diante de Olódùmarè para escolhermos nosso destino, ou objetivo de vida, como se queira chamar, sendo que podemos ser atendidos ou não e recebermos dele outros objetivos, tendo Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) como testemunha, é menos controversa e mais aceita.
Assim como também é pouco controverso o processo de escolhermos nós mesmos o nosso Ori na casa de ajala e essa escolha depender não da sorte mas sim do cuidado dos nossos ancestrais conosco. Mas, 2 pontos podem apresentar distintos entendimentos que é o caso do Odù & orixá (òrìṣà), vamos então voltar nisso.
Em relação ao orixá (òrìṣà) existem algumas visões sobre como se define que orixá (òrìṣà) você terá na sua vida. Eu acredito que seja um ponto não discordante o conceito de que o orixá (òrìṣà) faz parte do nosso Ori e temos apenas um.
Essa coisa de que a data de nascimento, tipo o dia da semana definir o nosso orixá (òrìṣà), é uma bobagem muito conhecida, assim como nós possuirmos um pai e uma mãe orixá (òrìṣà) ser outra bobagem. Esses 2 conceitos são enganos que são repetidos por muitas pessoas e tradições religiosas e muita gente os tem como verdade. Atenção, não são verdades. Outro mito que também vamos desconsiderar a visão de que seja por acaso, isto é, o orixá (òrìṣà) nos escolhe aleatoriamente, ou por simpatia ao nascermos.
Minha opinião é que podemos orbitar entre 2 visões. A primeira é que o orixá (òrìṣà) seria nos designado em função do objetivo que que escolhemos para nossa vida e que Olodumare aceitou. O orixá (òrìṣà) seria assim um elemento facilitador na nossa vida e as características do orixá (òrìṣà) virão a nos ajudar em nosso objetivo.
Outra visão é o orixá (òrìṣà) ser um reflexo de ancestralidade, ser uma herança hereditária. Assim se somos filhos de um Orí de um orixá (òrìṣà) com um Orí de outro orixá (òrìṣà) nossos filhos seriam também ligados a um ou outro orixá (òrìṣà). Essa cadeia de vinculo poderia se estender um pouco mais distante nas ancestralidade mas o orixá (òrìṣà) dos descendentes seriam o reflexo dos seus predecessores. Como uma herança genética. Esta visão não cria uma repetição contínua do mesmo orixá (Òrìṣà), pelo contrário em função da sua ancestralidade pode haver uma variação significativa nos orixá (Òrìṣà) de cada novo Orí.
Eu não tenho ainda um opinião mais firme sobre isso, prefiro a segunda apenas pelo aspecto de poder preservar a característica de o orixá (Òrìṣà) ser uma facilitador na nossa vida mas também reforçar a família e a linhagem familiar, mas, nenhuma dessas visões implica em nenhum problema ou atrapalha qualquer coisa.
Tanto podemos ter um orixá (òrìṣà) que nos ajude como qualquer orixá (òrìṣà) de família iria nos ser tão útil em qualquer missão de vida quanto outro, porque, essa coisa de especialização de orixá (òrìṣà) em funções, não é bem assim na prática e que também podemos sempre a recorrer a qualquer orixá (òrìṣà) independente de qual seja o nosso orixá (òrìṣà) original.
Temos que lembrar que o orixá (òrìṣà) mais importante é o nosso ORI, é ele que esta antes de qualquer orixá (òrìṣà) e para nós é mais importante do que qualquer orixá (òrìṣà) inclusive o nosso próprio, aquele que faz parte do nosso Orí.
Um outro ponto novo é a inclusão do Odù nesse processo. Isso pode ser menos concensual. Como existe um Odù de nascimento, que raramente conhecemos porque ele só será verificado no nascimento, nós temos que reconhecer que temos uma influência de um Odù em nossa vida, um Odù nato.
Se vamos nos iniciar religiosamente nós receberemos outros Odù. Assim na iniciação do Iyawo se determina qual o odù daquele iyawo. Dessa forma como a iniciação é um novo nascimento, ganha-se um novo Odù de nascimento. Será sempre um odù meji porque é assim que o Candomblé o faz. Essa informação acaba sendo pouco usada mas é uma informação relevante e somente irá aparecer no processo da feitura do iyawo.
Para o Babalawo é a mesma coisa. Ele irá ter um Odù como Awo e o mesmo ou outro como Babalawo. Ai pode surgir a questão, mas para que tanto odù? Afinal qual é o odù?
A resposta é muito simples: Estamos em todos esses casos lidando com a mesma coisa e com a mesma finalidade. No caso do babalawo o odù é o signo divino que marcará a sua vida como awo, como sacerdote, ressaltando as suas qualidades e defeitos, as coisas que fará melhor e também as coisas que não deverá fazer, ou seja, as coisas que vão trazer axé (àṣẹ) para ele ou vão tirar axé (àṣẹ) dele.
Um sacerdote de ogbe-ogunda estará alinhado com o seu odù, ou seja, atraindo axé (àṣẹ) quando estiver ajudando o ori de outras pessoas a encontrarem o seu rumo de vida, ou quando estiver ajudando essas pessoas a a afastar ou a controlar a influencia das ajé que forem invocadas contra ela, etc..
Fazendo isso ela vai estar realizando aquilo para o qual o seu Odù foi destinado. Se procurar fazer outras coisas ela vai estar trabalhando em áreas ou atividades menos afins à energia do seu odù e talvez assim perca mais axé (àṣẹ) do que ganhe.
Os odù se incorporam na vida das pessoas para então ajudar na condução dos seus objetivos de vida. Dessa maneira um Awo de Ifa recebe um Odù porque essa energia, essa marca lhe será util na condução de sua vida religiosa, vai ajudá-lo.
Observe que foi o mesmo motivo que levou o Odù a ser designado para o nosso ori antes de virmos ao mundo. É devido a esse paralelo que eu acho que sim, recebemos um odù antes de nascermos e esse odù é para ajudar a realizarmos os nosso objetivos de vida.
O que faz uma explicação factível é ela ser coerente. Assim os processo são similares, o odù que recebemos antes de nascermos é como o odù que o sacerdote recebe. Enquanto o sacerdote recebe um Odù para ser sia marca espiritual ajudando-o e orientando-o nesse caminho, o Odù que recebemos ao nascermos é a mesma coisa para a nossa vida. Temos um objetivo a realizar e o Odù nos dará a mesma coisa.
A mesma coisa vale para o orixá (òrìṣà). O orixá (òrìṣà) que temos é muito importante na vida religiosa que vamos levar. Mas veja, uma coisa é o orixá (òrìṣà) para uma pessoa comum, laica, outra para um sacerdote, uma pessoa que se iniciou para levar a diante uma missão diferente da vida comum.
Todo mundo que esta no meio sabe que o sacerdote de cada orixá (òrìṣà)) é diferente, a casa de cada tipo de orixá (òrìṣà) é distinta e ao mesmo tempo semelhante entre si e o tipo de pessoas e problemas que um sacerdote de um determinado orixá (òrìṣà) atrai para si esta muito ligado ao próprio orixá (òrìṣà), ao axé (àṣẹ) desse orixá (òrìṣà).
Assim, Odù é uma energia que recebemos para nos ajudar em algo.
No caso de uma consulta a Ifa é a mesma coisa. Ao consultarmos Ifá recebemos um Odù, aquele odù ira temporariamente ajudar aquele consulente nos problemas que ele tem, não necessariamente aqueles que ele veio resolver, mas o que Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) entende que ele tenha.
Dessa maneira eu considero que o ciclo fecha e os fatos tem coerência com o conceito. Isso pode voltar a uma questão que me pareceu presente na sua postagem, o que é um Odù. Veja, de novo, Odù é uma energia primária, elementar que orunmila, ou olodumare que é quem tem poder para gerar uma energia desse tipo nos envia através de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà).
Odù não é uma divindade adicional. Odù não é como Oxun, Xango, Oxala, Ogun que são elementos ativos que manipulam àṣẹ (axé).
Reforçando o que já escrevi: Odù é uma energia primária que vem para o aiye através de uma consulta a Ifa. Ela será conduzida e canalizada para o benefício do consulente através dos orixá (òrìṣà) e através dos procedimentos que o Babalawo irá realizar. Essa energia para nos beneficiar de forma precisa, benéfica e rápida (no seu tempo) precisa de um operador qualificado.
Os orixá (òrìṣà) se utilizam dessa energia do Odù para atuarem sobre nós de forma que o odù vai ser então convertido nesse axé (àṣẹ)) deles.
Por essa razão eu não vejo como útil essa procura de que orixá (òrìṣà) corresponde a que odù. Muitos orixá (òrìṣà) trabalham com muitos Odù. Em relação aos Odù meji, que são apenas 16 então fica muito difícil dizer quem não pode trabalhar com que odù.
Okanran é um odù de Exu? E se eu disser que é através de Okanran meji que nós chamamos Xango? Que odù é o de Xango, ou diferente que Odù Xango não se apresenta? A mesma coisa para Oxalá ou Oxun.... E Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) esta em todos.
Assim o meu entendimento é esse Odù não é uma divindade uma agente ativo de olodumare. Os orixá (òrìṣà) e irunmoles o são. Eles atuam sobre nossas vidas, seja nativamente ou seja porque precisamos. Os orixá (òrìṣà) são os elementos que vão trabalhar e canalizar a energia dos Odù para nós.
Eu sou sempre muito cuidadoso em comparações, mas, não posso deixar de informar que um conceito muito similar existe no ocultismo e na Kabalah. Existem energias vindas de Deus, energias primárias que são invocadas através de rezas e signos e que são trazidas para o nosso benefício ou em nosso socorro, assim, não estamos lidando com algo completamente sem referência. Esse é um conceito que é facilmente aceito por outros estudiosos de ciências ocultas ou místicas. Por isso que eu acho que tem sido tão popular mundialmente.
Seu ultimo paragafo mostra um certo tipo de sincretismo e que voce nomia de comparativo. O que me faz pensar: Se de fato o sincretismo é nocivo (essa é minha opinião tambem)ou uma forma (rapida)de entendermos em nossa religião o que ja conseguiram entnder em outra. Veja, stu desconciderando neste meu comentario exageros do tipo "santo do pau oco" e afins, onde por ser ou estar submisso, tais, subterfugios teriam de ser usados.
ResponderExcluirEu fiz uma analogia não um sincretismo.
ResponderExcluirÉ muito diferente.
Todo sincretismo é ruim.
Explicar uma coisa fazendo metáforas, comparações ou analogias é apenas utilizar recursos para tornar claro algum conceito novo.
O meu comentário é para mostrar que o que existe nessa religião não é uma coisa tão inédita ou unica. Pelo contrário o fato de encontrarmos elementos similares mostra que estamos lidando com a mesma coisa.