Odù – A energia de Olódùmarè
O que é Odù?
Revisão 3
O significado Legado
Primeiro,
a palavra não significa caminho. Pessoas que não sabem o que é Odù
dizem isso. Odù também não é destino. Destino, se existir nessa
religião, é explicado por outras palavras e por outro conceito
bastante profundo e complexo, no qual o Orí esta inserido, mas,
sendo este, o Orí, apenas uma parte do conceito teológico do que se
pode chamar de “destino”.
Assim,
pode parecer estranho, mas, para entender o que é Odù a primeira
coisa que se deva fazer é esquecer tudo que se diz por ai,
principalmente no Candomblé.
O
Candomblé é uma tradição religiosa incrível, muito cativante e
fechada e talvez por isso mesmo, por ser fechada demais, permitiu que
a ignorância se alastrasse nas coisas mais simples. Definitivamente
Odù não é uma coisa que faz parte do Candomblé. Faz parte da
religião Yorùbá, mas, não do Candomblé.
Isso,
entretanto não fez o Candomblé fechado à teologia que envolve Odù.
Odù não é desconhecido pelo Candomblé. O que estou dizendo é que
não fez parte de sua espinha dorsal. Muitos cresceram no Candomblé
apenas ouvindo sobre isso sem que esse conceito fizesse alguma
diferença prática em sua vida.
O
Candomblé fez o Orixaísmo como a sua estrutura e tudo no Candomblé
sempre foi baseado em Orixá. Com o passar do tempo, alguns antigos
conhecimentos foram sendo resgatados e se tornaram mais comuns,
entretanto o Candomblé jamais perdeu a sua característica de ser um
culto de Orixá.
O
significado da palavra Yorùbá “Odù” é o de uma coisa grande
para conter algo dentro, como um contêiner ou uma grande cabaça.
Esta palavra, Odù, como outras palavras Yorùbá (como axé (aṣẹ́),
por exemplo), pode ser usada com mais de um significado na prática,
mas, dizer que Odù significa caminho ou destino é apenas falta de
conhecimento.
Odù,
é a base da comunicação de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) com as
pessoas. São os sacerdotes de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que
aprendem durante toda a sua vida a entender Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
através dos Odù.
Para
entender o que é Odù a gente tem que examinar 3 aspectos
fundamentais que estão ligados a ele: a sua formação gráfica, as
suas mensagens e a sua energia. Odù envolve esses 3 aspectos
simultaneamente e se não entendermos os 3 ao mesmo tempo podemos nos
perder no seu sentido.
Quando
você entender essas 3 coisas vai entender que ele não significa
caminho...
Odù e as marcas gráficas
Odù
são representados no nosso mundo através de marcas gráficas que
representam um símbolo. Nas religiões mais antigas, no hermetismo,
nós encontramos a mesma ideia representada pelos selos, assinaturas
e marcas de espíritos.
A
ideia de ligar um poder ou uma energia a uma representação gráfica
que o invoca junto com rezas sempre foi completamente presente no
misticismo judaico e cristão, na magia cabalística e na alquimia.
Centenas de livros são escritos até hoje sobre isso. Claro que a
cultura ocidental há muito abandonou esses conceitos e práticas,
mas esses elementos sempre foram muito explorados e por séculos
representaram o topo do conhecimento supernatural e religioso.
O
Odù nos remete a mesma ideia conceitual. A religião Yorùbá,
africana, tem os mesmos aspectos eruditos que são encontrados na
religião mística ocidental que foram estupendamente bem descritos
em obras a partir da idade média. Odù e axé (aṣẹ́) são
equivalentes aos conceitos de selos e quintessência, a força das
palavras nas rezas tem o mesmo valor e o princípio da alquimia e os
ebós e oferendas são equivalentes.
Em
termos quantitativos temos 256 Odù. Existe uma matemática muito
simples nesses números. São 16 figuras diferentes, feitas com a
combinação de traços duplos ou simples. Como cada Odù é formado
pela combinação de 2 figuras, então teremos 16 x 16 = 256 Odù.
Nessas 256 figuras diferentes, aquelas onde o mesmo símbolo aparece
repetido, são chamados dos Odù Méjì, ou duplos, os principais,
que são 16, ao todo.
Assim
temos 16 Odù Méjì e os demais 240, que são chamados de Omo (Ọmọ)
Odù ou Odù filho. A razão disso é porque os demais são
combinações nas quais um dos 16 símbolos se fixam na primeira
posição e se combina com os demais 16, conforme veremos nos
desenhos a seguir.
Cada
desenho é composto de duas colunas formadas por uma combinação de
traços duplos e simples, cada coluna, ou perna, tem 4 marcas.
Os
exemplos a seguir mostram a relação das 16 configuração de marcas
que formarão em dupla os 16 Odù Méjì:
I
II
II
I
I
II
I
II
I
II
I
II
I
II
II
I
Ogbe
Oyeku
Iwori
Odi
I
II
I
II
II
II
I
II
II
II
II
I
II
I
II
I
Obara
Okanran Irosun
Owonrin
I
II
I
I
I
I
I
II
I
I
II
I
II
I
I
I
Ogunda
Osa
Irete
Otuwa
II
II
I
II
II
I
II
I
I
II
I
II
II
II
II
I
Oturupon
Ika
Ose
Ofun
Essas
são as marcas originais. Um Odù é formado por um desenho com um
total de 8 marcas em 2 sequências verticais ou pernas.
Observem
que existe uma certa simetria nas formas, um certo equilíbrio. As
quatro primeiras formas, são únicas, elas vão representar, em
dupla, os 4 principais Odù Méjì. As demais, quando rodadas em
torno do seu eixo vertical, formam o Odù do seu par.
Os
Odù são considerados em pares. Assim os pares são:
Ogbé Ọ̀yẹ̀kú
I
II
I
II
I
II
I
II
ìwòrì Òdí
II
I
I
II
I
II
II
I
Ọ̀bàrà Ọ̀kànràn
I
I
II
II
II
II
II
II
ìròsùn Ọ̀wọ́rín
I
II
I
II
II
I
II
I
ògúndá Ọ̀sá
I
II
I
I
I
I
II
I
Ìrẹ̀tẹ̀ Otùwá
I
I
I
II
II
I
I
I
Òtúrúpọ̀n ìka
II
II
II
I
I
II
II
II
Ọ̀ṣẹ́ òfún
I
II
I
II
I
II
I
II
Observem
que nas 2 primeiras duplas, os símbolos se complementam, assim, onde
em um é 1 traço no outro são 2 traços. Para as demais duplas, um
simbola é a rotação do outro no eixo vertical.
Ifá
é baseado totalmente no conceito de equilíbrio. Trabalhamos com o
equilíbrio do axé (aṣẹ́), marcamos 1 traço quando sobram 2
ikins e os símbolos dos odù também representam graficamente esse
conceito de equilíbrio de complementariedade.
Voltando
a formação dos Odù, eles são também formados por pares de
traços. Assim cada Odù sempre será um par de traços. Os Odù Méjì
serão 2 traços iguais e os Omo (Ọmọ) 2 traços diferentes
Os
Odù são chamados de méjì porque méjì significa (2).O numero 2 é
èjì, mas em Yoruba quando o número é colocado depois do
substantivo, ou seja, quando ele é usado para contar alguma coisa
adiciona-se o M na frente. Assim, èjì é o número 2 e ogbe mèjì
é traduzido como 2 ogbe, ou 2 Odù ogbe:
I I
I I
I I
I I
Dessa
maneira o Odù acima é o ogbè méjì, porque seria ogbè-ogbè mas
não se fala assim, a gente fala ogbè méjì de maneira que
ogbè-ogbè e ogbè méjì são a mesma coisa.
Os
primeiros 16 Odù são os Odù meji, indo de ogbe meji até orangun
meji. Depois disso é feita uma combinação entre cada Odù e os
conseguintes, formando de ogbe-oyeku (ogbè-ọ̀yẹ̀kú) até
ogbè-òfún e depois indo para oyeku-ogbe (ọ̀yẹ̀kú- ogbè) na
mesma lógica.
A
figura abaixo corresponde ao Odù ogbe-oyeku (ogbè-ọ̀yẹ̀kú) e
esse é o décimo sétimo Odù. antes dele estão os Odù méjì.
II I
II I
II I
II I
A
partir desse Odù as figuras são formadas fixando-se a figura da
direita e variando somente a da esquerda. Serão formadas então 15
figuras, formando de ogbe-oyeku (ogbè-ọ̀yẹ̀kú), mostrado acima,
até ogbè-òfún. Depois disso vamos para oyeku-ogbe (ọ̀yẹ̀kú-
ogbè) e na mesma lógica, mas 15 figuras e dessa maneira até
completar todos os 256 Odù.
Atenção,
os signos são lidos da direita para a esquerda.
Vejam
que podemos perceber a simplicidade e profundidade da estrutura dos
Odù. A primeira coisa explicada é que os 4 primeiros Odù Méjì
são os mais importantes e representam todos os demais. Eles são
formados por símbolos únicos. Os Odù se agrupam em pares e cada
par tem um símbolo que completa o outro.
Os
símbolos duplos, formados por 2 figuras iguais são os Odù Méjì,
e são 16 (4+12) e são os mais importantes. Os demais símbolos são
os Omo (Ọmọ) e são formados pela combinação de cada um do 16
principais com os demais.
Por
fim existe uma hierarquia entre os Odù. Os Odù formam uma sequência
dos mais antigos para os mais novos e essa ordenação é usada para
tomar decisões. Um Odù mais sênior tem mais valor do que um menos
sênior quando temos que escolher entre um e outro.
Atenção
os Odù são igualmente importantes, não existe Odù melhor do que
outro, mas, em Ifá temos que tomar decisões, fazer escolhas e assim
os Odù recebem uma hierarquia para que possamos fazer escolhas
através dessa hierarquia.
Não
existe somente uma hierarquia. Escolas diferentes de Ifá usam
hierarquias levemente diferentes. O importante que todos devem
observar é que a hierarquia não é o mais importante e pode mudar.
A hierarquia é um instrumento para fazer uma escolha.
Para
finalizar a questão gráfica eu coloco que a questão da
representação gráfica é muito importante, junto com o nome. Os
Babaláwo são muito cuidados em não riscar um Odù e muito menos
falar o seu nome sem necessidade. Eles consideram que ao fazer uma
dessas 2 coisas invocarão aquele Odù e não se invoca essa energia
sem que ela seja a indicada ou necessária para a situação.
Similarmente
é o mesmo tratamento que era dado no ocultismo. Um selo ou talismã
jamais eram usados sem objetivo. A Umbanda tem um elemento similar
que são os pontos riscados. Como os selos eles trazem para o
ambiente uma determinada energia e existem pontos de trabalho para
diversas situações.
No
caso do nome os Yorùbá criam apelidos para os Odù. Assim eles se
referenciam a um Odù sem que citar o seu nome, pelo memso motivo
anterior, falar o nome de algo, o invoca.
Não
sei se observaram que em nenhum momento eu citei a palavra número.
Aliás eu não mostrei nenhum número.
Não existe nenhuma relação entre Odù e números.
Isso
é uma invenção do sincretismo.
Como
extensivamente vimos, Odù são representados exclusivamente por
marcas gráficas. Um Odù somente é representado por uma marca
gráfica e jamais por um número.
O
relacionamento de Odù com números não tem nenhum fundamento. Isso
é outra bobagem do Candomblé e de outras tradições que usam o
jogo de búzios. Trata-se apenas de um fruto de sincretismo com a
cultura árabe que foi exportada para a Europa, provavelmente. É um
vínculo entre numerologia e Ifá e não existe motivo ou fundamento
para isso.
A
associação de Odù com números ocorre somente no uso dos búzios,
porque, por uma característica da ferramenta, os búzios, é feita
uma associação de quantidade de búzios abertos com Odù. Mas isso
é uma particularidade do uso dos búzios. Em Ifá, com seus
instrumentos oficiais, opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀) e os ikins, não
existe como fazer essa associação.
Além
do mais a aritmética não existia nas terras Yorùbá. Não faziam
contas, isso era coisa de árabes. Os Yorùbá não tinham nem língua
escrita muito menos aritmética. Os números eram palavras
substantivas. Em um ambiente como esse como poderia existir um
processo de cálculo para apurar Odù como se faz largamente no
Candomblé?
Além
do que, mesmo no Candomblé a relação de Odù e número é recente.
Ou alguém imagina há 50 anos atrás alguém de Candomblé, fazendo
continha e cruzinha para determinar Odù?
Em
Ifá, o culto de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), que trabalha com
Odù, tem 2 instrumentos para poder determinar um Odù. Os ikins, o
principal, determina-se o odu fazendo uma manipulação para cada
traço do Odù. Assim 8 manipulações determinam um Odù. Um
processo bem lento mas que tem apenas a capacidade de determinar se é
1 traço ou 1 traços que serão desenhados.
O
segundo instrumento é o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀). A cada caída
do opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀), em função do lado que caem as
sementes definirmos se é 1 ou 2 traços. Ou seja, 8 semente
determinam um Odù, dependendo do lado que caem, em um processo bem
rápido.
Mas
é só isto. Não existe outra forma em Ifá de se determinar um Odù
e nenhuma delas usa qualquer número. O mais próximo que Ifá se
aproxima de matemática é porque existe uma hierarquia e
sinceramente eu não consigo considerar isso matemática.
Assim,
repassando, Os Yorùbá não tinham algarismos arábicos como
números, os números eram como com os Hebreu, eram palavras,
substantivos. Eles não faziam aritimética e Ifá desde o seu início
até hoje não usa número para nada.
Mas
de tudo isso, o pior mesmo, o mais ridículo, é o conhecido processo
de determinar odu de nascimento através da data de nascimento,
fazendo uma cruz.... é uma bobagem. Isso não existe em Ifá. Não
existe Odù determinado por soma de números ou mesmo considerar que
essa idiotice seja um Odù de nascimento.
As mensagens dos Odù
As marcas gráficas dos Odù, suas assinaturas, representam um símbolo. A este símbolo estão associadas histórias na forma de versos que formam a famosa, mas pouco conhecida literatura de Ifá, poemas de Ifá, que eram transmitidos oralmente.
Assim,
Odù também é o nome dados aos poemas de Ifá, ou corpo literário
de Ifá. Os poemas estão agrupados em conjuntos por Odù e cada um
dos 256 Odù podem ter, dizem, até 16 conjuntos de versos. No mundo
real essa quantidade é variável, porque não se possui todos os
versos e muito menos os versos são os mesmos sempre.
Cada
escola de Ifá pode ter variações no seu conjunto de versos, a
maior parte são comuns, algumas fontes podem ter versões maiores ou
menores da mesma história e existirão algumas variações no
conjunto.
Considera-se
que mesmo em uma mesma escola, em cada Odù, existe um início que é
padrão. O desenrolar da história pode variar de acordo com o
Bàbáláwo, não existe a obrigatoriedade de ser exatamente igual.
A
natureza da linguá Yorùbá e a estrutura dos versos dos Odù tornou
o seu estudo um aspecto bastante conhecido por sua dificuldade. A
língua Yorùbá não é fácil. O povo é por demais simples para
construir uma língua bem estruturada e assim existe uma grande
complexa devido a forma como ela é implementada e regionalizada.
Hoje
já os encontramos escritos em muitas versões. Esse conjunto de
versos que representa a sabedoria da religião, não é completo para
os próprios Yorùbá, muita coisa se perdeu em função das guerras
e do processo de cristianização e Islamização que avassalaram com
a cultura religiosa original.
O
Ifá cubano usa uma forma alternativa de expressar o corpo literário
Yorùbá, que são os Pataki. Pataki são histórias que tem a mesma
função do corpo literário original de Ifá. Contudo enquanto que o
corpo de Ifá são versos elegantes, com “bricandeiras” com o uso
de palavras com pronúncias similares e tem uma estrutura formal de
construção, conforme documentada por Abimbola, Os pataki são
apenas histórias feias.
São
muito mal feitas. Diferente de Ifá onde os Orixás raramente
aparecem em um verso, nos Pataki os personagem são sempre os Orixás.
Eles são colocados em situações horríveis e tomando atitudes
feias, etc.. Tem muita história que é incompreensível.
Não
admira os cubanos não usarem essas histórias nas consultas.
Mas,
seguindo o tema, lembramos que toda a comunicação entre Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) e nós e feita através dos babaláwo usando
Odù. Odù é a únicar forma de comunicação entre Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà) a divindade que conhece o nosso destino e
nós.
Mas
essa não é uma comunicação direta. Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
não incorpora em uma Babaláwo e fala o que queremos saber. Ele
responde com o envio de um Odù que é materializado no Aiye
através dos instrumentos do Bàbáláwo e das marcas gráficas
que o representam.
A
mensagem estará contida nas histórias que compões os versos do Odù
que saiu. É através da interpretação dessas histórias que podem
estar na forma de mitos ou de poemas é que vem o significado de um
Odù. A mensagem que um Odù traz para nossa vida esta contida nas
histórias que são associadas a ele.
O
entendimento da mensagem será um processo interativo entre o
Babaláwo e o consulente. O Babaláwo deve recitar os versos que sabe
e o consulente deverá escolher a história ou histórias que entenda
que dizem respeito ao seu problema. O próprio consulente deverá
interpretar o significado da história e o babaláwo usar essa
interpretação para entender o problema e interagir com o
consulente.
Esse
é o processo. Não existe consulta a Ifá sem histórias e sem
interpretação.
Complementarmente
a isso o Babaláwo pode conhecer significados desse Odù, situações
que ele representa e isso auxilia a própria interação com o
consulente. Mas uma consulta não pode se resumir a isso.
No
Candomblé a consulta de búzios se resume a um conjunto muito pobre
de interpretações pré-formatadas. As pessoas que dizem jogar por
Odù se limitam a saber meia dúzia de significados associados a cada
Odù, significados que em grande parte das vezes se repetem entre
Odùs, transformando um processo rico e interativo em uma coisa
pobre.
Não.
Consultar Ifá através de búzios não tem nada a ver com essa
fórmula pobre que é adotada por pessoas que não sabem o que é Ifá
e não tem a menor ideia do que é Odù.
Mas
isso não ocorre apenas no Candomblé. Em Ifá mesmo existem
Bàbáláwos mal formados e preguiçosos que resumem uma consulta a
falar os significados associados a um Odù. Eles não se dão o
trabalho de contar as histórias e interagir através delas com o
consulente.
Essas
pessoas não representam a religião. São aproveitadores
infiltrados.
É
importante mencionar que os versos de Ifá, em geral, representam a
ética religiosa e o conhecimento da religião. Se existe uma
escritura sagrada na religião Yorùbá esta são os versos de Odù.
Dessa
maneira uma consulta através de Ifá sempre traz a ética e a visão
da religião Yorùbá para o assunto. Mesmo o consulente sendo uma
pessoa que não faz parte da religião ele terá como resposta uma
visão religiosa de sua situação ou seja uma interpretação
religiosa.
Não
poderia deixar de ser, um oráculo associado a uma religião tem que
necessariamente trazer as mensagens da religião que esta associada.
Este aspecto se torna inexorável quando a gente lembra ou informa
que o conhecimento da religião esta contido nos versos ou nas
histórias dos Odù.
Assim
apesar de muitos quererem dar uma visão mundana ou comum a Ifá,
como se fosse um instrumento de videntes, este nunca o será. Ifá é
e sempre será um Oraculo com o qual falamos com Deus.
A energia divina
Mas
Odù não são somente marcas ou histórias. Odù é principalmente a
energia divina que vem de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) para
nós, em resposta à consulta ao oráculo de Ifá.
Assim,
além de ser um símbolo gráfico, além de conter através de suas
histórias significados e orientações para nossa vida, um Odù
também é a resposta à nossa aflição. Essa energia primária vem
através do oráculo e será utilizada pelo Bàbáláwo, também
através dos orixa (Òrìṣà), para nos ajudar.
Os
Odù são como mandalas transcendentais que marcam as energias ativas
e inativas que estão presente em uma determinada situação com um
determinado indivíduo com grande precisão. Em termos metafísicos,
Odù são os símbolos sagrados que contêm o axé (aṣẹ́)
(àṣẹ- força. força vital) de tudo na existência. Eles
são em sua representação gráfica mapas que traduzem o movimento
dinâmico de energia e se identificam com as forças primárias do
mundo.
Se
o Odù contêm o axé (aṣẹ́) ele então vem de Olódùmarè.
Odù
é ao mesmo tempo o diagnóstico para os problemas que temos e a
resposta para corrigí-los. A consulta a Ifá materializa nas marcas
gráficas e através do Babaláwo, o mensageiro de Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà), a chave para movimentar a energia do mundo,
o Odù.
Alguns
associam o Odù a causa dos seus problemas. Não é verdade, ele é o
espelho que reflete a sua situação de desequilíbrio de axé
(aṣẹ́). O Odù será de fato o remédio para a situação,
ou seja, ele não é um símbolo que somente traduz uma situação,
ele é também a energia que se manifestará na vida da pessoa
equilibrando axé (aṣẹ́) para que a pessoa possa corrigir
os seus problemas. Dessa maneira o reflexo ou tradução do mal é o
que também vai curá-lo.
Considerar
que Odù seja o mal que o aflige é uma mostra da ignorância da
pessoa que você consulta. O que vem de Olódùmarè jamais
será o mal. O remédio resolve o seu mal e ao mesmo tempo indica o
problema que você tem, isso é muito simples de entender.
Tudo
o que existe ou existirá nasce através de um Odù, a energia
primária de Olódùmarè, incluindo os orixá (òrìṣà)
e seus axé (aṣẹ́). Odù é como uma cabaça de energia
cósmica que é enviada por Olódùmarè e que será transformada
através dos orixá (òrìṣà) no axé (aṣẹ́) que
vai mudar nossa vida ou que vai repor o que perdemos. É através do
Odù que os orixá (òrìṣà) e nossa ancestralidade, falam
e se expressam. Ele é a linguagem e o poder original que o mundo
espiritual se manifesta sobre nós e que vem em resposta a nossas
questões de vida.
Um
Odù é a resposta de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) a sua
situação e dependendo do seu objetivo de vida e com a ajuda dos
orixá (òrìṣà) vai socorre-lo. Essa energia primária vai
ser manipulada pelo Babaláwo através dos ebó
(ẹbọ) de Ifá, que são diferentes dos de candomblé, e
através do orixá (òrìṣà) que responderão naquele
momento em seu auxílio, irão te ajudar.
Mas,
MUITO mais do que ebó (ẹbọ) você tem que entender o que
o Odù diz o que esta errado em sua vida. Por isso que existem
histórias, mitos, patakis e ésé para mostrar
isso. O Babaláwo acima de tudo tem que trabalhar esse aspecto em
você, fazer você entender o que esta acontecendo e a origem dos
problemas para que você se ajude. Nem tudo em Ifá é ebó (ẹbọ),
a palavra é uma das coisas mais importantes na religião Yorùbá e
o Babaláwo é a pessoa que traz para o consulente a sabedoria de
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà).
A
solução de tudo vai depender de ações suas no sentido de corrigir
comportamentos, forma de vida, decisões que você tomou, pessoas que
você afetou, lugares que você vai, pessoas que você convive,
etc... É claro que energias negativas que estão com você, omo
arayie (obsessores), feitiços (ajé, oxo..) , etc. vão ser
neutralizados, mas você deve ficar longe da fonte disso senão vai
ser uma coisa interminável.
Assim,
essa negatividade ou positividade que pode se traduzida pelo Odù,
não ficam flutuando ai e te pegam por acaso. Esta é uma questão
que as pessoas perguntam sempre, como aquele Odù pegou elas, ou quem
andou aquele Odù para elas. Não é assim.
Os
seus atos e omissões, suas ações e forma de viver vão te trazer
uma situação. Esta situação que você ou a vida criou para você,
será re-equilibrada por um Odù naquele binômio causa-solução que
eu expliquei. O Odù é a linguagem de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) para
falar com a gente.
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) se
manifesta através do Odù, ele é o meio de comunicação e ao ser
obtido por um Babaláwo ele já esta disponível e atuando sobre a
vida de quem o consulta. Cabe ao Babaláwo através dos ẹbọ e
sacrifícios direcionar e controlar essa energia para que ela se
manifesta da forma positiva que é sempre enviada. o Odù é sempre
uma força básica, primária e sempre necessita ser direcionado
através do Babaláwo e dos orixá (òrìṣà) que nos
assistem.
Ao
se sentar em oráculo e consultar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
se recebe um Odù e a influência na nossa vida já é imediata. Este
é o motivo que os Babaláwo dizem para se ter muito cuidado ao se
lidar com Odù. Não se deve invocar essa energia sem saber como
manipulá-la, não se deve grafá-la sem o devido conhecimento, não
se deve cantá-la sem saber o que se faz depois.
Para
isso a pessoa que trabalha através de Odù deve ter acumulado o axé
(aṣẹ́) para isso. Mas se estamos tratando de uma mesma
religião de um mesmo Olódùmarè e de um mesmo Órunmilá
(Ọ̀rúnmìlà), qualquer sacerdote pode receber um Odù
porque esta é a forma de trabalho de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
.
Como ele influencia a nossa vida?
Primeiro,
a figura teológica de nos colocarmos diante de Olódùmarè para
escolhermos nosso destino, ou objetivo de vida, como se queira
chamar, sendo que podemos ser atendidos ou não e recebermos dele
outros objetivos, tendo Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) como testemunha,
é menos controversa e mais aceita.
Assim
como também é pouco controverso o processo de escolhermos nós
mesmos o nosso Ori na casa de ajala e essa escolha depender não da
sorte mas sim do cuidado dos nossos ancestrais conosco. Mas, 2 pontos
podem apresentar distintos entendimentos que é o caso do Odù e orixá (òrìṣà), vamos então voltar nisso.
Em
relação ao orixá (òrìṣà) existem algumas visões sobre
como se define que orixá (òrìṣà) você terá na sua
vida. Eu acredito que seja um ponto não discordante o conceito de
que o orixá (òrìṣà) faz parte do nosso Ori e temos
apenas um.
Essa
coisa de que a data de nascimento, tipo o dia da semana definir o
nosso orixá (òrìṣà), é uma bobagem muito conhecida,
assim como nós possuirmos um pai e uma mãe orixá (òrìṣà)
ser outra bobagem. Esses 2 conceitos são enganos que são repetidos
por muitas pessoas e tradições religiosas e muita gente os tem como
verdade. Atenção, não são verdades. Outro mito que também vamos
desconsiderar a visão de que seja por acaso, isto é, o orixá
(òrìṣà) nos escolhe aleatoriamente, ou por simpatia ao
nascermos.
Minha
opinião é que podemos orbitar entre 2 visões. A primeira é que o
orixá (òrìṣà) seria nos designado em função do
objetivo que escolhemos para nossa vida e que Olódùmarè aceitou. O
orixá (òrìṣà) seria assim um elemento facilitador na
nossa vida e as características do orixá (òrìṣà) virão
a nos ajudar em nosso objetivo.
Outra
visão é o orixá (òrìṣà) ser um reflexo de
ancestralidade, ser uma herança hereditária. Assim se somos filhos
de um Orí de um orixá (òrìṣà) com um Orí de outro
orixá (òrìṣà) nossos filhos seriam também ligados a um
ou outro orixá (òrìṣà). Essa cadeia de vinculo poderia
se estender um pouco mais distante na ancestralidade mas o orixá
(òrìṣà) dos descendentes seriam o reflexo dos seus
predecessores. Como uma herança genética. Esta visão não cria uma
repetição contínua do mesmo orixá (Òrìṣà), pelo
contrário em função da sua ancestralidade pode haver uma variação
significativa nos orixá (Òrìṣà) de cada novo Orí.
Eu
não tenho ainda uma opinião mais firme sobre isso, prefiro a
segunda apenas pelo aspecto de poder preservar a característica de o
orixá (Òrìṣà) ser um facilitador na nossa vida mas
também reforçar a família e a linhagem familiar, mas, nenhuma
dessas visões implica em nenhum problema ou atrapalha qualquer
coisa.
Tanto
podemos ter um orixá (òrìṣà) que nos ajude como qualquer
orixá (òrìṣà) de família iria nos ser tão útil em
qualquer missão de vida quanto outro, porque, essa coisa de
especialização de orixá (òrìṣà) em funções, não é
bem assim na prática e que também podemos sempre a recorrer a
qualquer orixá (òrìṣà) independente de qual seja o nosso
orixá (òrìṣà) original.
Temos
que lembrar que o orixá (òrìṣà) mais importante é o
nosso ORI, é ele que esta antes de qualquer orixá (òrìṣà)
e para nós é mais importante do que qualquer orixá (òrìṣà)
inclusive o nosso próprio, aquele que faz parte do nosso Orí.
Um
outro ponto novo é a inclusão do Odù nesse processo. Isso pode ser
menos concensual. Como existe um Odù de nascimento, que raramente
conhecemos porque ele só será verificado no nascimento, nós temos
que reconhecer que temos uma influência de um Odù em nossa vida, um
Odù nato.
Se
vamos nos iniciar religiosamente nós receberemos outros Odù. Assim
na iniciação do Iyawo se determina qual o Odù daquele iyawo. Dessa
forma como a iniciação é um novo nascimento, ganha-se um novo Odù
de nascimento. Será sempre um Odù meji porque é assim que o
Candomblé o faz. Essa informação acaba sendo pouco usada mas é
uma informação relevante e somente irá aparecer no processo da
feitura do iyawo.
Para
o Babaláwo é a mesma coisa. Ele irá ter um Odù como Awo e o mesmo
ou outro como um Babaláwo. Ai pode surgir a questão, mas para que
tanto Odù? Afinal qual é o Odù?
A
resposta é muito simples: Estamos em todos esses casos lidando com a
mesma coisa e com a mesma finalidade. No caso do Babaláwo o Odù é
o signo divino que marcará a sua vida como awo, como sacerdote,
ressaltando as suas qualidades e defeitos, as coisas que fará melhor
e também as coisas que não deverá fazer, ou seja, as coisas que
vão trazer axé (aṣẹ́) para ele ou vão tirar axé (aṣẹ́)
dele.
Um
sacerdote de ogbe-ogunda estará alinhado com o seu Odù, ou seja,
atraindo axé (aṣẹ́) quando estiver ajudando o ori de
outras pessoas a encontrarem o seu rumo de vida, ou quando estiver
ajudando essas pessoas a a afastar ou a controlar a influencia das
ajé que forem invocadas contra ela, etc..
Fazendo
isso ele vai estar realizando aquilo para o qual o seu Odù foi
destinado. Se procurar fazer outras coisas ela vai estar trabalhando
em áreas ou atividades menos afins à energia do seu Odù e talvez
assim perca mais axé (aṣẹ́) do que ganhe.
Os
Odù se incorporam na vida das pessoas para então ajudar na condução
dos seus objetivos de vida. Dessa maneira um Awo de Ifa recebe um Odù
porque essa energia, essa marca lhe será util na condução de sua
vida religiosa, vai ajudá-lo.
Observe
que foi o mesmo motivo que levou o Odù a ser designado para o nosso
Orí antes de virmos ao mundo. É devido a esse paralelo que eu acho
que sim, recebemos um Odù antes de nascermos e esse Odù é para
ajudar a realizarmos os nosso objetivos de vida.
O
que faz uma explicação factível é ela ser coerente. Assim os
processo são similares, o Odù que recebemos antes de nascermos é
como o Odù que o sacerdote recebe. Enquanto o sacerdote recebe um
Odù para ser sia marca espiritual ajudando-o e orientando-o nesse
caminho, o Odù que recebemos ao nascermos é a mesma coisa para a
nossa vida. Temos um objetivo a realizar e o Odù nos dará a mesma
coisa.
A
mesma coisa vale para o orixá (òrìṣà). O orixá (òrìṣà)
que temos é muito importante na vida religiosa que vamos levar. Mas
veja, uma coisa é o orixá (òrìṣà) para uma pessoa comum,
laica, outra para um sacerdote, uma pessoa que se iniciou para levar
a diante uma missão diferente da vida comum.
Todo
mundo que esta no meio sabe que o sacerdote de cada orixá (òrìṣà))
é diferente, a casa de cada tipo de orixá (òrìṣà) é distinta
e ao mesmo tempo semelhante entre si e o tipo de pessoas e problemas
que um sacerdote de um determinado orixá (òrìṣà) atrai para si
esta muito ligado ao próprio orixá (òrìṣà), ao axé (aṣẹ́)
desse orixá (òrìṣà).
Assim,
Odù é uma energia que recebemos para nos ajudar em algo.
No
caso de uma consulta a Ifa é a mesma coisa. Ao consultarmos Ifá
recebemos um Odù, aquele Odù ira temporariamente ajudar aquele
consulente nos problemas que ele tem, não necessariamente aqueles
que ele veio resolver, mas o que Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) entende
que ele tenha.
Dessa
maneira eu considero que o ciclo fecha e os fatos têm coerência com
o conceito. Isso pode voltar a uma questão que me pareceu presente
na sua postagem, o que é um Odù. Veja, de novo, Odù é uma energia
primária, elementar que Órunmilá, ou Olódùmarè que é quem tem
poder para gerar uma energia desse tipo nos envia através de
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà).
Odù
não é uma divindade adicional. Odù não é como Oxun, Xango,
Oxala, Ogun que são elementos ativos que manipulam axé (aṣẹ́).
Reforçando
o que já escrevi: Odù é uma energia primária que vem para o aiye
através de uma consulta a Ifa. Ela será conduzida e canalizada para
o benefício do consulente através dos orixá (òrìṣà) e através
dos procedimentos que o babalawo (babaláwo) realizará. Essa energia
para nos beneficiar de forma precisa, benéfica e rápida (no seu
tempo) precisa de um operador qualificado.
Os
orixá (òrìṣà) se utilizam dessa energia do Odù para atuarem
sobre nós de forma que o Odù vai ser então convertido nesse axé
(aṣẹ́) deles.
Por
essa razão eu não vejo como útil essa procura de que orixá
(òrìṣà) corresponde a que Odù. Muitos orixá (òrìṣà)
trabalham com muitos Odù. Em relação aos Odù meji, que são
apenas 16 então fica muito difícil dizer quem não pode trabalhar
com que Odù.
Okanran
é um Odù de Exu? E se eu disser que é através de Okanran meji que
nós chamamos Xango? Que Odù é o de Xango, ou diferente que Odù
Xango não se apresenta? A mesma coisa para Oxalá ou Oxun.... e
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) está em todos.
Assim
o meu entendimento é que Odù não é uma divindade uma agente ativa
de Olódùmarè. Os orixá (òrìṣà) e irunmoles o são. Eles
atuam sobre nossas vidas, seja nativamente ou seja porque precisamos.
Os orixá (òrìṣà) são os elementos que vão trabalhar e
canalizar a energia dos Odù para nós.
As pessoas devem se preocupar com orixá (òrìṣà). Eles é que são os importantes na nossa vida.
As pessoas devem se preocupar com orixá (òrìṣà). Eles é que são os importantes na nossa vida.
Eu
sou sempre muito cuidadoso em comparações, mas, não posso deixar
de informar que um conceito muito similar existe no ocultismo e na
Kabalah. Existem energias vindas de Deus, energias primárias que são
invocadas através de rezas e signos e que são trazidas para o nosso
benefício ou em nosso socorro, assim, não estamos lidando com algo
completamente sem referência. Esse é um conceito que é facilmente
aceito por outros estudiosos de ciências ocultas ou místicas. Por
isso que eu acho que tem sido tão popular mundialmente.
Mas
o pior deserviço tem sido feito por Babalorixás e curiosos que sem
saber do que estão falando, simplesmente porque não procuram saber
o mínimo, transformam Odù em problemas ou mesmo em divindades.
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